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HISTÓRIA CONTEMPORÂNEA I

A ERA VITORIANA

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Olá!
Ao final desta aula, você será capaz de:

1- Estabelecer as transformações ocorridas na Inglaterra do século XIX;

2- Relacionar argumentos para compreender a importância da Era Vitoriana;

3- Analisar as contradições da Era Vitoriana.

Introdução

Nesta aula, veremos o desenvolvimento do capitalismo na Inglaterra após a Revolução Industrial e o período

conhecido com Era Vitoriana e suas implicações na política imperialista.

1 Classe operária
Graças ao seu pioneirismo na Revolução Industrial, a Inglaterra chega ao século XIX como uma das mais

importantes potências mundiais.

O capitalismo sofre uma transformação à medida que se consolida enquanto sistema dominante nas relações

econômicas.

Saiba mais
As práticas do mercantilismo, que haviam sido postas em vigor durante a Idade Moderna e que
caracterizaram os antigos Estados nacionais irão dar lugar a uma economia monetária e
baseada não só no mercado, mas também em um sistema financeiro.

Neste contexto apresentado, a classe operária surge como motor e grupo social explorado pelas

necessidades de uma industrialização que embora cresça, não dá conta das necessidades básicas desta

população, como vimos anteriormente.

A classe operária compartilha, sobretudo, a noção de experiência, de que nos fala o autor, o que teria

impulsionado as crescentes reinvindicações por melhores condições de vida e pela regulamentação do trabalho.

As primeiras organizações trabalhistas inglesas eram ilegais, mas a partir de 1824 elas passaram a ser

legalizadas. A Inglaterra dava os primeiros passos na absorção dos trabalhadores.

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O conceito acerca de classe, defendido por Thompson, estabelece que:

“Não vejo a classe como estrutura, nem mesmo como uma categoria, mas como algo que ocorre

efetivamente e cuja ocorrência pode ser demonstrada nas relações humanas (...) a noção de classe

traz consigo a noção de relação histórica (...). A classe acontece quando alguns homens, como

resultado de experiências comuns (Herdadas ou partilhadas.), sentem e articulam a identidade de

seus interesses que diferem (Geralmente se opõem dos seus.).

2 Economia Inglesa
A partir dos anos 50, no século XIX, a economia inglesa ganha novo impulso e os grandes movimentos, como o

ludismo e o cartismo, que haviam abalado a sociedade inglesa, foram ficando, pouco a pouco para trás.

Em seu lugar surgem os sindicatos, atuando como um poderoso instrumento de negociação, utilizando,

sobretudo, da greve, como forma de pressão e mobilização.

A revolução proporcionara um crescente acúmulo de capital que, por sua vez, era investido na indústria.

Atenção

Embora esta pareça ser a relação lógica, já que estamos falando a respeito da mudança no modelo produtivo,

cabe lembrar que até meados deste século, grande parte do capital do país ainda estava ligada ao campo, pois a

posse de terras era considerada um investimento seguro.

O nascimento das fábricas

O nascimento das fábricas não foi uma tarefa simples. Era necessário recorrer à ajuda de bancos ou de sócios de

quisessem entrar com o capital necessário em um investimento que ainda parecia arriscado.

Os empresários ingleses ganharam fama de homens duros e de difícil negociação como aponta o escritor Charles

Dickens:

“Homem feito de material bruto, que parecia ter sido depois refinado para poder mexer-se (...) que

não podia nunca fartar-se de se gabar por ter-se feito por si, e que considerava seus operários força

bruta, dispondo deles como algarismos de uma soma, ou máquinas, sem amor e simpatia, sem

recordações e preferências, sem ter alma capaz de desespero e de esperança; tratando-os, quando

tranquilos, como se não tivessem nada de tudo isto, e explorando-os, quando agiam, de não terem

sentimento de humanidade para com os senhores.”

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Passagem do modelo artesanal para o industrial

Um dos grandes símbolos do desenvolvimento e do progresso trazido pela Revolução Industrial foi a ferrovia1.

O desenvolvimento comercial inglês foi alavancado e o transporte de mercadorias se tornou mais barato.
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A criação e a rápida expansão da malha ferroviária consumiu um enorme número de mão de obra, além de

demandar grandes quantidades de matéria-prima.

A Inglaterra chega aos anos 50 do século XIX como um país próspero, cuja imagem foi valorizada na exposição

de Londres de 18512.
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Esta exposição exibia as grandes novidades tecnológicas da época e para abrigá-la foi construído o Palácio de

Cristal, um dos grandes marcos da engenharia do período.

Atenção

É importante compreendermos que a passagem do modelo artesanal para o industrial não foi um processo sem

obstáculos e que mesmo as fábricas que se estabeleceram no país pioneiro desta revolução, sofreram vários

reveses para que se afirmassem.

3 Era Vitoriana
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O período de grande prosperidade inglesa é conhecido como Era Vitória, devido à Rainha Vitória , que

governou entre 1837 e 1901.


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Em sua gestão, a burguesia alcançou grande poder, fruto de suas realizações e o desenvolvimento desta classe

desde o século XVIII. Assim, a Câmara dos Comuns viu suas cadeiras serem ocupadas, principalmente, por dois

partidos, os liberais e os conservadores, também chamados de tories, as duas principais tendências defendidas

pela burguesia.

Saiba Mais

A Era Vitoriana caracterizou-se pela chamada Pax britanica, período de paz no qual o reino não se envolveu em

nenhum grande conflito que pudesse, de alguma forma, prejudicar sua política e economia internas.

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Figura 1 - A rainha Vitória (aqui mostrada na manhã de sua ascensão ao trono, em 20 de junho de 1837), deu o
nome para a era histórica.

De fato, na Europa da época, não havia nenhum rival a altura da poderosa Inglaterra. A França, que

historicamente havia entrado em diversos conflitos com os ingleses, estava abalada desde a derrota de Napoleão

em 1815. A armada britânica era considerada incomportável e conferia ao reino um importante papel militar.

Atenção

Devemos lembrar que embora estejamos nos referindo à Inglaterra, o reinado de Vitória incorporava também o

Reino Unido, formado por País de Gales, Escócia, Grã-Bretanha e Irlanda do Norte.

As Irlandas

A questão irlandesa constituía uma das maiores ameaças internas deste reino e seus problemas com relação ao

domínio inglês prosseguem até os dias atuais.

A região que forma a Irlanda havia sido ocupada e dominada pelos ingleses desde a Era Moderna. A maior parte

da população da Irlanda era marcadamente católica, o que contrastava com a religião adotada na Inglaterra, o

anglicanismo.

Atenção

Diferente da Inglaterra, a Irlanda não passara pela Revolução Industrial e sua economia ainda era fortemente

agrária.

A quebra das colheitas aumentou sobremaneira a miséria e a fome da população local e inflamou o espírito

nacionalista e o sentimento de independência.

Em 1800, foi emitido o Ato de União, que transferia para o parlamento britânico todas as questões de cunho

político concernentes à Irlanda.

A esse golpe na autonomia local soma-se a grande fome ocorrida em virtude de uma enorme quebra nas safras

agrícolas, ocorrida em meados dos anos 1940.

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Os movimentos nacionalistas4 irlandeses não eram exatamente uma novidade e haviam sido sempre

reprimidos com vigor pelos exércitos ingleses, como podemos perceber pela Revolução de 1798, liderada pela

sociedade secreta Irlandeses Unidos.


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Os movimentos nacionalistas que eclodiram na Irlanda garantiram alguns direitos, como a desobrigação do

pagamento de tributos à igreja anglicana e o pagamento de indenizações aos camponeses que fossem expulsos

de suas terras. Mas as medidas surtiram pouco efeito para neutralizar os movimentos, que aumentavam em

força e violência. Além disso, apesar da manutenção do voto censitário, em 1829 os irlandeses garantiram a

ocupação dos cargos públicos para os católicos, uma grande vitória já que na maioria das eleições estes cargos

eram ocupados pelos anglicanos.

Em meados da década de 1940, além da crise agrária, a Irlanda é assolada por uma epidemia de tifo5.
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Vitimou, aproximadamente, 800.000 pessoas, correspondendo a 10% da população do país.

A situação irlandesa estimulou a imigração em massa, e a maior parte destas pessoas tinha os Estados

Unidos como destino principal. Por isso, é possível notar hoje a intensa contribuição dos irlandeses para

a cultura e a economia norte-americanas.

No início do século XX, por volta de 1905, foi fundado o movimento nacionalista Sinn Fein6, que buscava lutar

pela independência da Irlanda de forma legítima e política.


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A atuação deste grupo foi responsável pela eleição da grande maioria de deputados irlandeses que ocupariam

as cadeiras do parlamento britânico.

Com seu fortalecimento, o Sinn Fein declarou a independência das Irlandas, em um conflito que se arrastou por

dois anos e teve como resultado a divisão do país.

De um lado, foi estabelecida a República da Irlanda, independente, reconhecida somente em 1937 e de outro, a

Irlanda do Norte, ainda submetida ao Reino Unido. Esta configuração motivou a criação de movimentos como o

grupo terrorista IRA.

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Em outros continentes

A Inglaterra vitoriana também se expandiu por outros continentes (Dominando, por exemplo, a Índia, assunto

que destacaremos ao falarmos sobre a política imperialista.).

Internamente, o desenvolvimento econômico alcançou índices até então inatingíveis e pode ser considerado o

apogeu do Império inglês.

A questão da Irlanda não foi o único conflito abrangendo a Inglaterra vitoriana. Em 1853, eclode a Guerra da

Criméia (Envolveu o Império russo, que lutou contra uma aliança formada pelo Reino Unido, o Império turco-

otomano, a França e a Sardenha.).

Guerra da Criméia

Esta guerra é fruto do projeto expansionista do Tsar russo Nicolau I.

A Rússia7 sempre esteve interessada em incorporar o território dos Balcãs, devido à importância estratégica da

região.

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O exército russo ocupou parte dos territórios que pertenciam então, ao Império turco-otomano, sob o pretexto

de proteger o acesso cristão aos lugares católicos, uma vez que a Rússia era católica ortodoxa. Diante da

ocupação, os otomanos declaram guerra à Rússia e são apoiados pelos demais países.

A Rainha Vitória temia que uma conquista russa prejudicasse o acesso dos ingleses as suas possessões asiáticas,

notadamente, a Índia, um dos territórios mais ricos do Império britânico.

O início efetivo dos conflitos armados8 ocorreu em 1854.


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A armada britânica foi decisiva para os rumos desta guerra, que, no entanto, cobrou um preço alto com a morte

de centenas de soldados no front, vitimados não só pelas batalhas, mas pelas diversas doenças que se

espalhavam pelas tropas.

Os aliados desembarcaram na Crimeia e forçaram o recuo russo valendo-se de um ostensivo cerco naval

A derrota da Rússia, após diversas batalhas, foi selada com a assinatura do Tratado de Paris em 1856.

Figura 2 - O Congresso de Paris, óleo de desconhecido, c. 1860, Museo nazionale del Risorgimento italiano,
Turim.

Você já ouviu falar em Florence Nightingale?

Cabe destacar a atuação da inglesa Florence Nightingale, cidadã britânica, embora tenha, na verdade, nascido

na Itália.

As mulheres não podiam servir ao exército, mas podiam auxiliar nos cuidados médicos aos feridos.

Florence ficou famosa por percorrer os fronts de batalha em busca destes feridos, inclusive à noite, quando

carregava uma lamparina para iluminar seu caminho.

Sua atuação fez com que esta fosse considerada uma das primeiras enfermeiras e abriu espaço para a

participação das mulheres em corpos médicos na guerra.

Atenção

Por essa razão, o dia Internacional da Enfermagem é comemorado na data de seu aniversário, 12 de maio.

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Incentivo às artes e à ciência

As artes e a ciência também foram incentivadas.

Em 1859, o inglês Charles Darwin publicou sua principal obra, A origem das espécies, contendo a Teoria da

Evolução, elaborada por ele.

Motivo de controvérsia, Darwin colocou em xeque toda a perspectiva criacionista, defendida pela Igreja e

estabeleceu o evolucionismo, uma das principais explicações para a evolução das espécies até os dias atuais.

As grandes obras arquitetônicas foram uma característica marcante deste período, como a construção do

Palácio de Westminster, cujo original foi destruído em um incêndio e posteriormente reconstruído, se

tornando, atualmente, um dos principais símbolos da capital londrina.

Na literatura, destacam-se nomes como Conan Doyle, o criador de Sherlock Holmes, Charles Dickens e Jane

Austen.

A obra de Dickens é particularmente emblemática, pois o autor, que escreveu sobre diversos aspectos da vida

inglesa, mostrou com clareza a situação de pobreza do operariado inglês, além dos problemas no sistema

judiciário e com relação aos orfanatos do Estado, tema de alguns de seus principais romances.

Mulheres marcantes

O curioso é que na história britânica, embora tenha havido um número muito maior de reis do que de rainhas

tendo de fato governado, foram elas que entraram para a história como sido regentes dos tempos áureos:

Elizabeth I, Vitória e Elizabeth II tiveram longos e prósperos reinados, em contraste com os reis que já

ocuparam a mesma posição.

De toda forma, a Era Vitoriana foi considerada a segunda era de ouro (A primeira havia sido no reinado de

Elizabeth I.) da Inglaterra e pela extensão com a política colonialista, a Inglaterra ganhou o titulo de Império

onde o sol nunca se põe.

Saiba mais
Assista ao trailer do filme A Jovem Rainha Vitória.

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O que vem na próxima aula
Na próxima aula, você vai estudar:
• A Segunda Revolução Industrial;
• As grandes transformações europeias;
• O início do imperialismo.

CONCLUSÃO
Nesta aula, você:
• Distinguiu as razões para o desenvolvimento inglês no século XIX;
• Estabeleceu a relação entre a industrialização e o fortalecimento burguês;
• Identificou os elementos que fazem deste período os anos de ouro da Inglaterra contemporânea.

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