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A abordagem evolucionista – Vasconcellos et alii

Artigo de revisão

A abordagem evolucionista do transtorno


de personalidade anti-social

Silvio José Lemos Vasconcellos*


Gabriel José Chittó Gauer**

INTRODUÇÃO uma série de artigos indexados no PsycINFO,


publicados entre 1984 e 2003 sobre tal temáti-
O estudo do Transtorno de Personalidade ca, bem como de algumas obras já traduzidas
Anti-Social, também conhecido como sociopa- para a Língua Portuguesa. Procura, de forma
tia ou ainda psicopatia, tem, conforme salienta sintética, elucidar alguns aspectos essenciais
Salekin1, sido objeto de um grande número de que caracterizam esse novo paradigma científi-
considerações teóricas e empíricas desde que co no campo das investigações psicológicas,
Phillippe Pinel introduziu o termo há aproxima- explicitando o modo como tais aspectos estão
damente duzentos anos. Nas últimas décadas, sendo relacionados com diferentes pesquisas
entretanto, um considerável número de pesqui- voltadas para o TPAS. Também faz parte do
sas vem contemplando suas variáveis fisiológi- objetivo do presente artigo tecer comentários
cas, cognitivas, além de uma possível base sobre o valor explanatório desse modelo que,
genética para a sua ocorrência. Achados re- por sua vez, vem alcançando uma progressiva
centes têm possibilitado o surgimento de novas repercussão diante dos diferentes estudos que
concepções etiológicas relacionadas à mani- contemplam o transtorno analisado.
festação do transtorno, bem como alguns en- Com base em outros estudos sobre o
tendimentos sobre a sua filogênese. TPAS, o artigo procura problematizar os princi-
De um modo bastante específico, este arti- pais pontos enfatizados pela Psicologia Evolu-
go contempla a compreensão filogenética do cionista a respeito dos aspectos filogenéticos
TPAS. Parte de uma revisão sistemática de relativos à manifestação do próprio transtorno.
* Psicólogo, Mestre em Ciências Criminais pela PUCRS e Doutorando em
Uma abordagem desse tipo pode contribuir para
Psicologia do Desenvolvimento e da Personalidade pela UFRGS. Bolsista o avanço das pesquisas sobre o TPAS, que têm
da Fundação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior – CAPES. evidenciado, cada vez mais, a necessidade de
** Professor Adjunto do Departamento de Psiquiatria e Medicina Legal da uma convergência de análises para melhor ex-
FAMED/PUCRS e do Programa de Mestrado em Ciências Criminais da
Faculdade de Direito da PUCRS. Pós-Doutor pela University of Maryland at plicar os aspectos etiológicos e clínicos do mes-
College Park. mo.

78 Recebido em 30/01/2004. Revisado em 09/03/2004. Aprovado em 14/04/2004.

R. Psiquiatr. RS, 26'(1): 78-85, jan./abr. 2004


A abordagem evolucionista – Vasconcellos et alii

PRINCIPAIS CARACTERÍSTICAS DO e 70. Em termos gerais, esse novo paradigma


TRANSTORNO DE PERSONALIDADE ANTI- propõe-se a rever alguns achados da Sociobio-
SOCIAL (TPAS) logia, bem como postular sobre os diferentes
mecanismos psíquicos que podem ser entendi-
De acordo com o DSM-IV-TR2, a caracte- dos como resultantes das pressões ambientais
rística essencial do TPAS é um padrão invasivo encontradas pelos nossos ancestrais num am-
de desrespeito e violação dos direitos alheios, biente primitivo. Nesses termos, uma determi-
que inicia na infância ou começo da adolescên- nada tendência psíquica pode muito bem ser
cia e continua na idade adulta. O referido ma- explicada com base na sofisticação de algorit-
nual explicita também o fato de que o diagnósti- mos que operam dentro de um caráter modular
co para esse transtorno deve levar em em nosso cérebro, sendo que a sua existência
consideração a existência de pelo menos três estaria vinculada a um tipo específico de de-
critérios que, de forma sintética, podem ser manda ambiental7-9. Em outras palavras, a men-
descritos como um fracasso em conformar-se te humana seria um design complexo e seus
às normas legais, uma propensão para enga- padrões funcionais são, em última análise, res-
nar, impulsividade, agressividade, desrespeito postas selecionadas pela evolução.
pela segurança própria ou alheia, irresponsabi- Dentro dessa perspectiva, não somente as
lidade que pode estar vinculada ao trabalho ou emoções humanas são respostas adaptativas,
as finanças, bem como uma ausência de remor- mas também as próprias faculdades cognitivas
so. que perfazem o nosso pensar estariam atrela-
De um modo geral, percebe-se que o trans- das a uma diversidade de mecanismos que
torno está diretamente vinculado aos padrões foram sendo selecionados ao longo da nossa
comumente aceitos na sociedade em que vive- história10,11. Ressalta-se ainda, o fato de que,
mos, sendo que é justamente a manifestação para a Psicologia Evolucionista, as adaptações
de comportamentos que estão em desacordo estão essencialmente atreladas a mecanismos
com esses padrões que perfaz o tipo de sinto- de propagação genética, ou seja, vinculam-se
matologia que o caracteriza. Uma sintomatolo- sempre à manutenção do próprio código que
gia que pode também ser compreendida pelo viabiliza a vida. Nesse sentido, as diferentes
fato de vincular-se a uma ausência de ansieda- tendências psíquicas são, em última instância,
de e depressão, que costuma estar presente explicadas em termos das vantagens e desvan-
nos demais indivíduos quando do cometimento tagens no que diz respeito àquilo que, a grosso
de atitudes anti-sociais. modo, poderia ser entendido como uma espé-
A prevalência do TPAS é baixa na popula- cie de “interesse genético”12. Conforme ressalta
ção geral, sendo que as pesquisas apontam Wright13 servindo-se das palavras de Tooby e
uma incidência de 3% em homens e 1% em Cosmides, somos “executores de adaptações e
mulheres. No que se refere ao seu prognóstico, não maximizadores de aptidões”. Em outras
alguns estudos ressaltam o fato de que o auge palavras, o psiquismo seria tão somente o re-
do comportamento anti-social costuma ocorrer sultado de mudanças fortuitas protagonizadas
no final da adolescência e os sintomas mos- por um “bioprograma” cujo objetivo maior é a
tram-se propensos a diminuir com o decorrer da propagação genética.
idade3. Um entendimento desse tipo apregoa, por-
Embora uma meta-análise realizada por tanto, que um mecanismo psíquico torna-se
Salekin1 ressalte o fato de que há consideráveis manifesto quando se mostra bem sucedido em
possibilidades de que se consolidem tratamen- termos seletivos. Desse modo, uma das áreas
tos eficazes no tocante à manifestação dos sin- que vem ganhando respaldo no campo da Psi-
tomas, inúmeros autores4,5 concordam com o cologia Evolucionista é a chamada Psicopato-
fato de que os indivíduos portadores do trans- logia Evolucionista14, que estuda o modo pelo
torno são, em geral, pouco responsivos aos qual determinados mecanismos tornaram-se
diferentes tipos de tratamentos. disfuncionais na sociedade em que vivemos e
considera também o fato de que esses mesmos
PRESSUPOSTOS ESSENCIAIS DA mecanismos possam ter cumprido um papel
PSICOLOGIA EVOLUCIONISTA verdadeiramente adaptativo num outro contex-
to. Um bom exemplo disso é verificável no caso
Conforme ressalta Pinker6, a Psicologia das fobias específicas. Embora também ocor-
Evolucionista reúne duas revoluções científi- ram fobias relacionadas a situações e objetos
cas, a revolução cognitiva das décadas de 50 e de baixo potencial ofensivo para a espécie hu-
60 e a biologia evolucionista das décadas de 60 mana, a ocorrência de fobias relacionadas a 79

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insetos, fenômenos da natureza e animais é, paradigma evolucionista.


conforme salientam Siegert & Ward15, conside- Isso equivale a dizer que um entendimento
ravelmente maior. Dito de outro modo, essa baseado na Psicologia Evolucionista sobre o
elevada prevalência corresponderia a uma fun- TPAS sustenta-se, antes de tudo, na idéia de
ção adaptativa da espécie, ainda que, num grau que deve existir uma transmissibilidade genéti-
exacerbado, possa constituir-se numa patolo- ca para certos mecanismos que caracterizam o
gia específica. De um modo geral, a Psicologia transtorno. De um outro modo, tal como foi
Evolucionista abarca questões desse tipo e pro- explicitado anteriormente, a concepção evolu-
põe-se a investigar o psiquismo humano por cionista procura elucidar não apenas o substra-
intermédio de considerações sobre os diferen- to biológico para a ocorrência do TPAS, mas
tes mecanismos que podem ser entendidos também os pressupostos adaptativos que justi-
como respostas selecionadas4. Salienta-se ain- ficariam a sua manifestação em termos filoge-
da o fato de que compreensões como essa vêm néticos. Dito de outra forma, alguns autores26-29
sendo direcionadas para o TPAS, sendo que têm sustentado a idéia de que o próprio padrão
uma análise mais ampla sobre o tema será invasivo de desrespeito e violação aos direitos
melhor desenvolvida na seqüência deste arti- alheios que caracteriza o TPAS estaria atrelado
go. a uma série de funções adaptativas, ainda que
tais funções possam, em termos de seleção
CONCEPÇÕES EVOLUCIONISTAS SOBRE O natural, mostrarem-se dependentes da freqüên-
TRANSTORNO DE PERSONALIDADE ANTI- cia com que se manifestam29.
SOCIAL A seleção dependente de freqüência é per-
feitamente verificável em ambientes sociais
Existem hoje boas evidências de que o bem menos sofisticados do que aqueles em
TPAS esteja associado a uma série de regula- que os nossos ancestrais realizavam suas pri-
dores biológicos. Estudos desenvolvidos por meiras interações. Ela ocorre, por exemplo, no
Stalenheim e colaboradores16 encontraram uma caso dos peixes lepômis em que, por sua vez,
correlação significativa entre o TPAS e um ele- também há uma certa prevalência de lepômis
vado nível de testosterona em indivíduos porta- “anti-sociais”. Nesse sentido, conforme explici-
dores do citado transtorno. Algumas pesquisas ta Wright13, existem peixes lepômis que espa-
investigando a ação da monoamina oxidase lham uma enorme quantidade de ovos para
(MAO) têm demonstrado a possibilidade que serem fertilizados e mostram-se perfeitamente
esta possa servir como um marcador biológico responsáveis no que tange aos cuidados dirigi-
para uma série de traços anti-sociais da perso- dos à própria fertilização. De um outro modo, os
nalidade17,18. Ainda que, conforme Stalenheim lepômis “anti-sociais” apenas fazem uso da de-
et al17, seja necessário um maior número de dicação alheia, deixando seus próprios ovos
investigações envolvendo relação desta subs- para serem fertilizados pelos peixes mais cola-
tância com o TPAS propriamente dito, seria borativos e menos atentos às manobras dos
possível pensar na sua ação, em termos de um outros peixes. Numa organização social bas-
fator combinado no que diz respeito à própria tante simples como essa, a seleção dependen-
etiologia do transtorno. De um outro modo, um te de freqüência é perfeitamente verificável,
número significativo de pesquisas tem explici- uma vez que um considerável aumento na pro-
tado um funcionamento alterado em certas es- porção de lepômis “anti-sociais” corresponde-
truturas centrais que estariam diretamente en- ria a um abalo na própria organização geradora
volvidas na manifestação do TPAS. Estas e mantenedora desses peixes. De outro modo,
regiões incluem o córtex órbito-frontal19, o cór- entendimentos como esse mostram-se condi-
tex pré-frontal20, as diferentes estruturas do sis- zentes com a própria taxa de prevalência do
tema límbico21-23. Dentro dessa perspectiva, se- TPAS na sociedade atual que, conforme salien-
ria possível considerar que algumas tado, é baixa.
regularidades orgânicas observadas nos casos A questão do papel adaptativo que os sin-
de manifestação do TPAS podem estar também tomas anti-sociais poderiam desempenhar es-
atreladas a fatores genéticos, conforme indi- taria vinculada à própria função que o compor-
cam as pesquisas feitas por Cadoret et al24 e as tamento altruísta desempenha em termos de
asserções de McGuire et al 25. De um amplo interação social. Numa concepção evolucionis-
modo, evidências desse tipo mostram-se su- ta, o altruísmo emergiu em larga escala na es-
gestivas no tocante a uma hipótese biológica pécie humana diante do fato de que nossos
para a etiologia do TPAS. Uma hipótese que, ancestrais teriam protagonizado um jogo social
80 por seu turno, pode ir ao encontro do próprio com soma diferente de zero13,30. Ou seja, no

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âmbito da Psicologia Evolucionista, a chamada ciais também executariam adaptações, ainda


Teoria do Jogos preconiza que as atitudes pró- que, em termos sociais, sua tendência compor-
sociais, embora impliquem custos individuais, tamental possa ser compreendida como uma
mostraram-se adaptativas na medida em que a disfunção.
inserção social fez-se necessária para a sobre- O aspecto salutar de um entendimento so-
vivência individual, gerando, dessa forma, um bre o papel adaptativo do TPAS sustenta-se no
ambiente onde a doação virou também sinôni- pressuposto de que os indivíduos portadores
mo de recebimento. No que se refere às trocas do citado transtorno não apresentariam um dé-
sociais, o comportamento altruísta acabou, por- ficit em termos de processamento das informa-
tanto, sendo favorecido pela lógica evolucionis- ções sociais. De outro modo, o que os portado-
ta e emergindo em estrutura cerebral que se res do transtorno conseguem fazer com êxito é
tornou apta a levar em conta os custos e bene- justamente manipular os estados mentais alhei-
fícios do seu emprego. Ceder algo em termos os, ainda que se mostrem indiferentes aos sen-
materiais, ou engajar-se em ações objetivando timentos que conseguem detectar nos outros.
o benefício alheio, tornou-se, de acordo com Ou seja, os indivíduos com TPAS, de acordo
esse entendimento, o mesmo que gerar uma com esse entendimento, diferem-se dos demais
possibilidade de ganhos futuros num jogo so- pelo fato de estarem, em termos adaptativos,
cial em que a soma é sempre diferente de zero. mais capacitados para um tipo de manipulação
Em função de uma dinâmica social desse tipo, voltada à obtenção de vantagens exclusiva-
foram então fomentados dispositivos neurocog- mente pessoais. Se por um lado o comporta-
nitivos capazes de engendrar o comportamento mento altruísta resulta, para alguns teóricos da
altruísta fundamentado, por sua vez, na capaci- Psicologia Evolucionista, de um mecanismo
dade de compreender e solidarizar-se com o evolutivamente desenhado visando à obtenção
outro. Tomando como base as palavras de de vantagens indiretas, por outro, a sintomato-
Wright13, o altruísmo seria, portanto, também logia anti-social resulta de um design mental
um tipo de adaptação que executamos. voltado tão somente à obtenção de vantagens
Por outro lado, os indivíduos portadores do diretas nos ambientes sociais em que os orga-
TPAS não se mostram responsivos aos senti- nismos humanos evoluíram29.
mentos alheios e tendem a não se engajar em
atitudes pró-sociais. De uma forma ou de outra, CONSIDERAÇÕES SOBRE A ABORDAGEM
tais indivíduos demonstram, em termos men- EVOLUCIONISTA DO TPAS
tais, não estarem aptos a contabilizar as vanta-
gens do comportamento altruísta, apresentan- Em termos gerais, pode-se dizer que os
do assim uma sintomatologia que se mostra estudos que vêm sendo sustentados pela Psi-
mais atrelada a um imediatismo e a uma dificul- cologia Evolucionista mostram-se fecundos no
dade em retardar a recompensa. Também de que diz respeito à explicação de uma diversida-
acordo com um entendimento evolucionista so- de de mecanismos mentais. De fato, uma com-
bre a manifestação do TPAS, esse conjunto de preensão ampla sobre o psiquismo humano
sintomas não chega a constituir-se numa dis- deve levar em conta, tal como salienta Pinker6,
função em termos adaptativos. Ou seja, levan- as pressões ambientas e o caráter emergente
do em consideração a idéia de uma “seleção de certos mecanismos psíquicos como uma res-
dependente de freqüência”, alguns autores en- posta selecionada diante dessas mesmas pres-
fatizam que a evolução permitiu que pudesse sões. Seria ingênuo pensarmos que todos os
ocorrer a transmissão de genes capazes de organismos vivos estiveram submetidos a uma
gerar “designs biológicos” propensos a não exe- lógica evolutiva, sendo que o ser humano teria
cutar uma dose razoável de comportamentos sido uma exceção nesse mesmo processo, sen-
altruístas. Nesse sentido, o TPAS manifestar- do que faz-se necessário considerar sempre as
se-ia por intermédio de uma série de regulari- alterações verificadas no próprio ambiente so-
dades orgânicas que podem representar uma cial ao longo da nossa história evolutiva.
disfunção no tocante aos padrões sociais acei- Por outro lado, os entendimentos sobre o
tos, no entanto, em termos evolutivos, encon- TPAS que estiveram fundamentados na Socio-
tram uma possibilidade de manifestação de- biologia e, mais recentemente, na Psicologia
pendente do próprio grau de ocorrência Evolucionista 26-29 deparam-se com questões
verificado na espécie. Nesses termos, o enten- que não podem ser elucidadas levando-se em
dimento vinculado à Psicologia Evolucionista e, conta apenas uma compreensão sobre o cará-
mais especificamente, à Psicopatologia Evolu- ter adaptativo do próprio transtorno. Em outras
cionista, estabelece que os indivíduos anti-so- palavras, uma coisa seria afirmar que alguns 81

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transtornos mentais podem decorrer de meca- em que os sintomas fazem-se presentes irá
nismos adaptativos que ocorrem num grau exa- depender da forma como tais fatores estão con-
cerbado, outra coisa seria dizer que todos os jugados?
transtornos psiquiátricos expressam adapta- A questão da “seleção dependente de fre-
ções que continuamos a executar no ambiente qüência” é um outro ponto problemático da teo-
atual. Indubitavelmente, esse parece ser um ria de Mealey29. Numa resposta ao artigo de
problema que merece melhores investigações Mealey, Wilson29 sustenta, por exemplo, o fato
no campo da chamada Psicopatologia Evoluci- de que o TPAS, mesmo decorrendo de fatores
onista. exclusivamente genéticos, poderia não ser
No caso específico do TPAS, é preciso con- adaptativo tal com apregoa Mealey (1995)29 e
siderar, por exemplo, o fato de que o transtorno outros autores26. Se considerarmos uma época
não decorre exclusivamente de fatores geneti- remota e pensarmos nas sociedades de coleta
camente determinados. Uma série de pesqui- e caça, é possível constatar que o fato de nos-
sas tem conseguido evidenciar a influência de sos ancestrais terem vivido em pequenos gru-
fatores ambientais no tocante à própria mani- pos fazia com que a manifestação de comporta-
festação do transtorno31. Mealey29, que propõe mentos anti-sociais fosse sinônimo de uma não
um modelo evolucionista integrado para o adaptação muito mais do que é hoje. Ou seja,
TPAS, também considera tais fatores como sen- num ambiente hostil, a coesão grupal mostra-
do importantes. A questão, entretanto, é que a va-se verdadeiramente imprescindível e uma
autora chega a postular a existência de dois reputação negativa tinha, num grupo pequeno,
tipos diferenciados de sociopatia, sendo que um preço bem mais alto que tendia a resultar
haveria um tipo primário e determinado em ter- em exclusão. Onde há exclusão há, com certe-
mos de genótipo e um tipo secundário resultan- za, menos possibilidades reprodutivas. A “sele-
te da influência ambiental. Ou seja, a sociopatia ção dependente de freqüência” é, no tocante a
primária poderia ser explicada dentro de uma muitas espécies, uma fato verificável, mas ela
lógica evolucionista e estaria sujeita a uma “se- só ocorre quando a manifestação de um dado
leção dependente de freqüência” e a sociopatia comportamento, em baixa freqüência, não afeta
secundária seria um quadro gerado por inter- a própria organização intra-grupo. No caso de
médio das interações e vivências que se mos- uma sintomatologia anti-social no ambiente pri-
tram propensas a influenciar a formação da mitivo, mesmo ocorrendo com baixa freqüên-
personalidade. cia, ela afetaria negativamente o mesmo. Por
Percebe-se, dessa forma, que a autora pro- outro lado, poderia ser adaptativa, mas em si-
cura, através de categorizações distintas, abar- tuações anteriores em que houvesse um indivi-
car o fato de que o TPAS não parece decorrer dualismo maior. A agressividade, a rapidez e o
de fatores exclusivamente genéticos. No entan- “sangue frio” do sociopata mostrar-se-iam, nes-
to, se considerarmos uma série de pesquisas se sentido, adequados para enfrentar a hostili-
vinculadas à mensuração do TPAS que vêm dade.
sendo sustentadas pela utilização do PCL-R De outro modo, como explicar a capacida-
(Psychopathy Checklist Revised)33,34, é possí- de que os indivíduos com TPAS possuem para
vel constatar que, de fato, ocorrem diferenças manipular os estados mentais alheios? De um
em termos da manifestação do transtorno, mas modo geral, desenvolveu-se na espécie huma-
são diferenças que se referem ao próprio grau na aquilo que se costuma chamar de “teoria da
em que os sintomas estão presentes. Dito de mente”34. Em outras palavras, uma capacidade
outro modo, uma avaliação mais criteriosa da para inferir sobre os estados mentais alheios
prevalência do TPAS leva-nos a perceber que o favorecida pela evolução. Ao contrário do que
transtorno manifesta-se muito mais em termos apregoam alguns modelos exclusivamente cog-
de um contínuo que abrange situações extre- nitivos que se voltam para o TPAS, os indiví-
mas, bem como situações limítrofes, do que duos com o citado transtorno estão realmente
propriamente em termos de categorias distin- aptos a inferir e manipular as expectativas
tas. Por que deveríamos pensar que existe, no alheias, e isso depende de uma capacidade
que diz respeito a essa distinção gradual, indi- para “teorizar” sobre a mente do outro. No en-
víduos cujos sintomas decorrem exclusivamen- tanto, a questão central vincula-se ao fato de
te de fatores genéticos e outros cujos sintomas que eles utilizam funções adaptativas com ob-
decorrem exclusivamente de fatores ambien- jetivos decorrentes de sintomas não adaptati-
tais? Não seria mais plausível pensarmos que o vos. A “teoria da mente” pode realmente ser
mesmo transtorno vincula-se a fatores tanto uma capacidade fomentada pela evolução, mas
82 ambientais como genéticos, sendo que o grau os indivíduos com TPAS diferem-se dos demais

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pelo fato de utilizarem essa mesma capacidade sociedade em que nossos ancestrais passaram
de um modo que vai ao encontro do próprio a viver após o advento de uma maior capacida-
quadro disfuncional que neles está presente. de intelectual na espécie. De acordo com inú-
Ou seja, inferem sobre os estados mentais meros estudiosos da evolução do intelecto36, o
alheios com o propósito de obter ganhos exclu- seu desenvolvimento foi fomentado pela pró-
sivamente pessoais, tendo em vista que não pria conivência na esfera social. Uma convivên-
estão mentalmente propensos a contabilizar os cia que também esteve encarregada de sele-
ganhos sociais indiretos que o comportamento cionar repertórios comportamentais que se
altruísta pode gerar. Nesse sentido, alguns pos- mostraram mais adequados. O fato de que um
tulados da Psicologia Evolucionista podem ser repertório comportamental tenha sido privilegi-
elucidativos para uma melhor compreensão do ado ao longo do processo evolutivo não signifi-
TPAS; em contrapartida, isso não nos leva, ca, entretanto, que qualquer outro tenha sido
necessariamente, a acreditar que o transtorno extinto. A ocorrência do TPAS pode, nesse âm-
seja uma adaptação e, menos ainda, uma adap- bito, resultar de uma combinação de fatores
tação que se mostrou, ao longo da nossa histó- ambientais com genótipos que vêm sendo
ria evolutiva, dependente da sua freqüência. transmitidos ao longo da nossa história evoluti-
A questão de uma base genética para o va, ainda que os “designs psíquicos” por eles
TPAS realmente nos faz pensar que a sua ocor- sustentados nunca tenham representado uma
rência esteja atrelada a uma lógica evolutiva. O adaptação social no seu verdadeiro sentido.
problema é que essa lógica pode ter operado De outro modo, é também preciso conside-
muito antes de termos nos tornado o que so- rar o fato de que a abordagem evolucionista
mos. Os fatores biológicos propriamente ditos sobre o TPAS ainda poderá mostrar-se bastan-
podem, nesse sentido, ter sido bem mais atuan- te elucidativa, na medida em que os entendi-
tes do que são hoje. Dito de outro modo, desen- mentos sobre a função do comportamento al-
volveu-se, na espécie humana, uma ampla ca- truísta na esfera social forem ampliados. Nesse
pacidade representacional capaz de conferir sentido, revelar-se-ão pertinentes estudos que
novas orientações para tendências que outrora abordem a filogênese de alguns valores morais
foram o resultado exclusivo de regularidades e sociais amplamente sustentados ao longo da
endócrinas e fisiológicas. nossa história, ainda que, para tanto, seja sem-
Na medida em que acabamos desenvol- pre necessário levar em consideração as pró-
vendo uma sofisticação cognitiva largamente prias influências culturais. A Psicologia Evolu-
capacitada para processar informações am- cionista pode explicitar melhor as raízes de
bientais e alocá-las, gerando formas específi- alguns valores socialmente aceitos, sem que
cas de interagir, deixamos de ser aquilo que a isso signifique reduzi-los a uma compreensão
genética determina, ainda que nunca tenhamos exclusivamente biológica. Nesse sentido, faz-
deixado de receber as suas influências. Nesses se ainda necessário um maior entendimento
termos, o TPAS pode ter decorrido, num passa- sobre os indivíduos que se mostram propensos
do bastante remoto, exclusivamente de um de- a infringir as regras básicas de convivência e a
terminismo biológico e, nesse sentido, alguns agirem em desacordo com os próprios valores
entendimentos mencionados são válidos. Por referidos. Uma melhor compreensão dos mui-
outro lado, seria difícil designarmos a sua ocor- tos comportamentos que podem ou não ser
rência como um transtorno propriamente dito e considerados adaptativos ao longo da nossa
mais difícil ainda classificá-lo como “anti-so- história pode, por si só, vir a esclarecer uma
cial”. Em pesquisas realizadas, por exemplo, série de sintomas vinculados ao TPAS e, desse
com macacos Rhesus sabe-se que a simples modo, ainda que os estudos mencionados te-
alteração dos níveis de testosterona é, por si nham sustentado argumentos questionáveis, ti-
só, capaz de gerar comportamentos anti-so- veram o mérito de provocar reflexões oportu-
ciais35. No entanto, será que podemos dizer que nas.
esses animais e uma série de primatas não-
humanos, no pleno sentido do termo, vivem em CONCLUSÕES
sociedade?
De um modo geral, essa discussão mostra- Até o presente momento, a etiologia do
se bastante ampla. No entanto, a funcionalida- TPAS não foi devidamente esclarecida e uma
de do próprio comportamento altruísta sugere série de pesquisas tem mostrado a possibilida-
que a manifestação de comportamentos anti- de de que esta seja melhor explicada em ter-
sociais não pode ser considerada adaptativa, mos de uma combinação de fatores37. De outro
seja na sociedade em que vivemos, seja na modo, um entendimento sobre a filogênese do 83

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A abordagem evolucionista – Vasconcellos et alii

transtorno deve levar em conta o fato de que a 9. Ellis BJ, Ketelaar T. Clarifying the foundations of evoluti-
onary psychology: a reply to Lloyd an Felman. Psychol
manifestação do TPAS não decorre de um fator Inq 2002; 13: 157-164.
isolado. Sendo assim, não é passível de ser 10. Buss DM. Towards a biologically informed psychology of
explicada em termos de uma lógica evolutiva personality. J Personal 1990; 58: 1-16.
que apregoa o caráter adaptativo do transtorno. 11. Cervone D. Evolutionary psychology and explanation in
Muitos transtornos psiquiátricos podem ser personality psychology. Am Behav Sci 2000; 43: 1001-
1014.
entendidos como mecanismos adaptativos cujo
12. Nicholson N. Evolutionary psychology: toward a new view
grau em que estão presentes representa, no of human nature and organizational society. Hum Relat
ambiente atual, uma disfunção. Este, entretan- 1997; 50: 1053-1078.
to, não parece ser o caso do TPAS. O transtor- 13. Wright R. O Animal Moral – Por que somos como somos:
A nova ciência da psicologia evolucionista. Rio de Janei-
no não poderia, nesse sentido, ser explicado ro: Campus, 1996.
como um design biológico selecionado para
14. Gilbert, P. Evolutionary psychopathology: Why isn’t the
uma exclusiva obtenção de vantagens diretas, mind designed better than it is? Br J Med Psychology
uma vez que a própria socialização humana 1998; 71, 353-373.
sempre prescindiu de mecanismos mentais ca- 15. Siegert RJ, Ward T. Clinical psychology and evolutionary
psychology: Toward a Dialogue. Rev Gen Psychology
pazes de engendrar o comportamento colabo- 2002; 6: 235-259.
rativo. 16. Stalenheim EG, Eriksson E, Knorring LV, Wide, L. Tes-
Uma melhor compreensão sobre a funcio- tosterone as a biological marker in psychopathy and alco-
nalidade do comportamento altruísta e dos me- holism. Psychiatry Res 1998; 77: 79-88.
canismos neurocognitivos que lhe dão susten- 17. Stalenheim EG, von Knorring L, Oreland L. Platelet mo-
noamine oxidase activity as a biological marker in a Swe-
tação poderá, de outra forma, vir a ser dish forensic psychiatric population. Psychiatry Res 1997;
esclarecedora para uma série de sintomas do 69: 79-87.
TPAS. Nesses termos, poderá ser melhor com- 18. Von Knorring L, Orleand L, Winblad B. Personality traits
preendida a notória incapacidade que os indiví- related to monoamine oxidase (MAO) in platelets.
Psychiatry Res 1984; 12: 11-26.
duos portadores do transtorno possuem para 19. Damasio AR., Trandel D, Damásio H. Individuals with
gerar atitudes pró-sociais. Faz-se necessário, sociopathic behavior caused by frontal damage fail to
portanto, um maior esclarecimento evolutivo respond to autonomically to social stimuli. Behav Brain
Res 1990; 41: 81-94.
sobre o próprio caráter não adaptativo dos sin-
20. Bechara A, Damásio AR, Damásio H, Anderson SW.
tomas que perfazem o transtorno, tendo em Insensivity to future consequences folowing damage to
vista que este, ao contrário do que sustentam human prefrontal córtex. Cognition 1994; 50: 7-15.
alguns autores26-29, não demonstra ser um tipo 21. Bechara A, Damasio H, Damsio AR, Lee GP. Different
de adaptação com um grau específico de pre- contribuitions of the human amygdala and ventromedial
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A abordagem evolucionista – Vasconcellos et alii

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RESUMEN

El objetivo principal de este articulo es discutir el


RESUMO enfoque evolucionista del Trastorno de Personalidad
Anti-Social (TPAS). Se analizan los principales argu-
O principal objetivo do presente artigo é discutir mentos desarrollados por la Sicología Evolucionista
a abordagem evolucionista do Transtorno de Perso- que tratan de dejar en evidencia el carácter adaptati-
nalidade Anti-Social (TPAS). São abordados os prin- vo de este trastorno bajo un ambiente primitivo de
cipais argumentos desenvolvidos no âmbito da Psi- interacción social. A lo largo del artículo se enfocan
cologia Evolucionista que tentam evidenciar o caráter las principales suposiciones relacionadas con el pa-
adaptativo deste transtorno num ambiente primitivo radigma evolucionista y sus vínculos con la compren-
de interação social. Ao longo do artigo, são enfoca- sión filogenética de uno de los trastornos que más
dos os principais pressupostos vinculados ao para- demanda análisis en el ámbito de la Psiquiatria. Tam-
digma evolucionista e suas implicações na compre- bién se discuten algunas adecuaciones e inadecuaci-
ensão filogenética de um dos transtornos que mais ones del modelo evolucionista y su valor explanatorio
amplamente demanda análises e investigação na es- para entender la actual prevalencia de TPAS.
fera da Psiquiatria. São também discutidas algumas
adequações e inadequações do citado modelo e seu Palabras-clave: Trastorno de Personalidad Anti-So-
valor explanatório para a compreensão da atual pre- cial, Sicología Evolucionista, Filogénesis.
valência do TPAS.
Título: El enfoque evolucionista del Trastorno de Per-
Descritores: Transtornos de Personalidade Anti-So- sonalidad Anti-Social (TPAS)
cial, Psicologia Evolucionista, Filogênse.

Endereço para correspondência:


ABSTRACT
Silvio José Vasconcellos
The main purpose of this article is to discuss the Rua Gonçalves Dias, 443/02
90130-061 – Porto Alegre – RS
evolutionary approach to the Antisocial Personality
Disorder (ASPD). The main arguments developed in E-mail: silvv@pop.com.br
Evolutionary Psychology are discussed, which tend
to show the adaptive character of this disorder in a Copyright  Revista de Psiquiatria
primitive environment of social interaction. Throu- do Rio Grande do Sul – SPRS

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R. Psiquiatr. RS, 26'(1): 78-85, jan./abr. 2004

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