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Arte sem Nome
Publicado por Leonard Dewar em 20 de junho de 2017
Muitas vezes, enquanto Caminho por algum de meus trajetos comuns ou
quando decido subitamente mudar a direção ou experimentar outros
caminhos, sempre me pego observando as sutilezas de toda uma poesia
aparente na existência. Longe de ser apenas algum tipo de reflexão ou
devaneio acerca do tema que começo abordando nesta postagem (mas
também sendo tudo isso); também pretendo apontar a importância que
enxergo nas diferentes visões de mundo quando falamos de Bruxaria.
Muitas vezes pela manhã gosto de sentir o sol na minha pele, no meu
rosto. Algumas vezes, sinto como se fosse uma mão quente acalentando
meu rosto, como uma bênção do próprio sol. Algumas vezes, em dias de
calor, quando sinto uma maravilhosa brisa refrescante, costumo abrir os
braços e as mãos, para que o vento passe peloss meus braços e entre meus
dedos. Sinto o vento correndo e brincando, acariciando meus cabelos. Na
chuva em dias quentes, levanto meu rosto para o céu e sinto a chuva
banhando meu rosto, minha barba, meus cabelos e também abro meus
braços e sinto os pingos de água banhando meu corpo.
É um fato que vejo essas manifestações como seres e que não procuro
muitas explicações técnicas sobre isso. Sei que o vento são átomos em
movimento, mas também sei que isso não faz sentido na minha realidade
ou que seja o suficiente. Até porque, nós também seríamos um
aglomerado de átomos em movimento. Vejo os ventos como seres, sem me
limitar a definir de onde eles vem, como funcionam ou o que preferem.
Isso não faz sentido algum. Da mesma forma que vejo vida em toda a
existência e entendo minhas interações com essas forças, sem precisar
ficar definindo cada uma delas como se tudo fosse parte de um grande
catálogo ou definições contínuas como um livro de biologia onde pegamos
cada animal, planta ou ser e separamos suas características em reinos,
famílias, ordem, espécies, raças, etc. Não, o mundo é grande demais para
coisas tão limitadas. Talvez seja por isso que pessoas limitadas me fazem
pensar em como elas conseguem ser do jeito que são.
Acredito que na bruxaria em si, saber olhar, ouvir e sentir fazem total
diferença para aqueles que pretendem “Andar o Caminho”. As
mudanças tendem a ser dolorosas e difíceis, mas a recompensa realmente
transformadora para aqueles que tenham olhos para ver. Mudar nunca é
fácil. Nunca. E é um processo complicado, principalmente pela resistência
natural que apresentamos, nos agarrando a velhos hábitos e manias,
velhas visões do mundo e de nós mesmos.
O mais interessante é que eu não sei exatamente como não ser assim.
Como não fico levando tudo ao plano das definições racionais e sempre
evito de ficar pensando demais sobre algumas coisas que sempre estão
acontecendo, como certas visões, alguns sentidos como temperaturas, tato
e até mesmo vozes, isso acaba sendo parte da minha realidade. Não
descarto cem por cento a possibilidade de ser louco – afinal, o que é um
louco senão alguém que não é entendido pelos outros, tornando-se tão
diferente que incomoda? uma pessoa doente não é apenas alguém que
possua alguma doença, mas sim, alguém que evidentemente incomoda o
outro. Alguém que fala sozinho incomoda os outros, mas se essa pessoa
usar um celular, mesmo que desligado, não vai mais incomodar ninguém,
pois as pessoas irão deduzir algo que consideram aceitável. A pessoa
continua falando sozinha, só que não é mais notada.
As coisas são como elas são. Claro que podemos mudar as coisas – as
vezes aquilo que desejamos não possui o efeito que esperávamos (E é aí
que entra o Diabo, no centro da encruzilhada, girando a roda). Nas
primeiras vezes, nem mesmo entendemos – ou aceitamos – mas depois,
aprendemos a observar e a aprender mais sobre o movimento das coisas e
a lidar com seus resultados, influenciando e tirando proveito de tal
aprendizado, de tais experiências. Muitas vezes fazemos o papel do Diabo
de girar a roda com nossas próprias mãos e até mesmo, algumas vezes, de
fazermos outros girarem a roda sem nem mesmo saberem o que estão
fazendo.
(Arte de Timo Ketola, retirado do livro Hands of Aphostasy, Tree Hand
Press)
Penso nos Deuses como seres existentes ao invés da ideia gnóstica de que
são “forças” ou “uma força” sem forma que se expressa em formas
humanas. Ou ainda de que são meras analogias para forças naturais ou
ainda expressões de nossa própria psiquê. Não, vejo-os como seres e tento
tratá-los como tal. Não me preocupo, como citei, em limitar ou montar
um “esquema cósmico” onde ‘esse’ ou ‘aquele’ “possa” existir –
eliminando a possibilidade “do outro”, fora do contexto dos primeiros, de
existir. Isso não é problema meu, pois apenas lido com o que tenho que
lidar e ficar considerando ou desconsiderando a possibilidade disso ou
daquilo de existir não faz minha cabeça. Aliás, prefiro sempre deixar a
mente aberta, inclusive, para possibilidades absurdas ou improváveis,
pois tenho que lidar com aquilo que se apresenta ou com o que descubro
e, mesmo assim, sempre mantenho uma parte de mim mesmo vigilante
com aquilo que vejo e escuto, pois nada é absoluto e eu posso me enganar.
Pelo menos posso falar por mim – e mesmo assim a Caminhada sempre
continua.
O que realmente importa para você? observe sua existência e seus planos
e pergunte-se em seu âmago o que realmente importa para você. Depois
tome coragem e vá atrás, como o primeiro Arcano do Tarot – inocente,
sem saber dos perigos e nada mais do caminho a tua frente, sem nem
mesmo saber, que no final, alcançará o Mundo e, quando isso ocorrer, se
ver novamente no mesmo lugar onde começou: no centro da
Encruzilhada, onde todos os Caminhos começam e onde todos terminam,
onde jaz a Chama das Eras, a qual brilha imponente entre os sagrados
chifres de Azazel.
E seremos como Reis e Senhores de nós mesmos, para daí sermos Deuses
e Senhores de todos os Mundos.
Bênçãos e Maldições.
HDHM!
FFF
(Art by Valin Mattheis: Facebook Page and Strange Gods Website)
Notas: