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UNIVERSIDADE EDUARDO MONDLANE

FACULDADE DE LETRAS E CIÊNCIAS SOCIAIS

DEPARTAMENTO DE ARQUEOLOGIA E ANTROPOLOGIA

LICENCIATURA EM ANTROPOLOGIA

CADEIRA: FORMAÇÃO DO PENSAMENTO ANTROPOLÓGICO

Docente:Dr. Jonas Mahumane

Discente: Carlitos Romão Tomé

Ficha de leitura n˚1

Referência bibliográfica

Castro, Eduardo Viveiros de. 2002. “O conceito de sociedade em antropologia: um


sobrevoo”. In: A Inconstância alma selvagem. São Paulo: Cosac e Naify. 207-219.

O conceito de sociedade em antropologia: um sobrevoo

O texto apresenta-nos dois sentidos que definem a sociedade: em sentido geral e em


sentido particular.

Segundo Castro (2002), “a sociedade em sentido geral é uma condição universal”. Esta
definição, o autor remete-nos a ideia de que a sociedade é uma construção necessária e
obrigatória do ser humano. É através das interacções sociais indispensáveis que visam
satisfazer suas necessidades do carácter normativo para o regulamento dos
comportamentos, de modo a desenvolver uma linguagem comum dos seus
comparticipantes” (Castro 2002: 207).

“A sociedade em sentido particular é uma colectividade humana constituída por um


território, com delimitações espaciais e capaz de auto-reproduzir se. Neste sentido, a
sociedade é um sistema político com relações de poder e formas de cooperação, com o
destacamento de um povo e com uma cultura própria” (Castro 2002: 208).

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“No entanto, estes dois sentidos são relacionados a partir dos estudos etnográficos de
antropologia, que procura perceber as diferenças partindo de um grupo mais pequeno
para perceber o mais complexo; e o método comparativo que formula proposições
sintácticas válidas e universais. Pois, a sociedade em sentido geral, subordina-se em
sentido particular ou plural” (Castro 2002: 210).

“A dicotomia dos dois sentidos particulares originados a partir das concepções


individualistas e holistas. A primeira funde-se no contrato entre átomos individuais
ontologicamente independentes, pois, a sociedade é uma construção racional, pelos
interesses que formam um conjunto de normas que convencionais. A segunda
concepção inspiração particularista e substantivista, diz respeito ao empirismo moral do
seu parentesco. Quer dizer, a sociedade é um universal concreto onde a natureza
humana se realiza; uma unidade corporada, orientada por um valor transcendente”
(Castro 2002: 210).

Segundo Castro (2002) “a imanência e transcendência, a sociedade a cultura marcaram


a diferenciação da dicotomia basilar das ciências humanas entre: natureza/cultura e
individuo/sociedade. Os cruzamentos entre as duas polaridades são complexos, pois,
enquanto a natureza diz respeito ao mundo físico, a ideia de sociocultural está de
alguma forma acima do individual/natural”.

Castro, afirma que “para alguns autores como Spencer, concebe a sociedade como uma
associação interactiva de indivíduos; ela constitui uma esfera supra-individual, mas não
supra-biologica de realidade.Ao passo que a cultura é uma realidade extra-somatica de
tipo ideacional, mas não constitui um domínio ontológico distinto” (Castro 2002: 216).

Segundo o autor, “as dicotomias acima podem a ser interpretadas nos termos
ontológicos que opõe a essências irredutíveis. Em antropologia, se elas arrastam consigo
a bagagem ideológica, não deixam ao mesmo tempo de sugerir uma série de diferenças
entre a maioria das sociedades tradicionalmente estudadas pela antropologia e a
sociedade capitalista moderna” (Castro 2002: 217).

“A posição alternativa, que enfatiza a diferença qualitativa entre os termos, tende a


privilegiar a universitas. Esta ultima é vista como a forma normal ou natural da
sociedade, a societas moderna revelando se uma singularidade histórica ou ilusão
ideológica. No entanto, a oposição entre os dois tipos de sociedade manifestaria
sobretudo a diferença entre duas concepções sociocosmologicas globais, e a ultima
destas, a holista revelar ia a verdadeira natureza do social ” (Castro 2002: 218).

“Todavia, a fixação na sociedade primitiva como objecto de estudo, legou à


antropologia uma quase identidade entre seu conceito de sociedade e o tema do
parentesco. Ao tomar o parentesco nexo constitutivo das unidades sociais primitivas, a
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antropologia recuperou de certa forma, a concepção aristotélica de uma continuidade
entre a polis, e a continuidade que havia sido nega pelos jusnaturalistas”(Castro 2002:
220).

Crítica e crise: declínio e queda do império sociedade

“Em seu sentido geral, a noção de sociedade vem igualmente perdendo terreno. A antropologia
contemporânea tende a recusar concepções essencialistas ou teológicas da sociedade como agente

transcendente aos indivíduos. No mesmo fôlego, o individuo vem deixando de ser um


dado irredutível quando ao mesmo tempo se opunha à sociedade e constituía como nada
mais que uma de indivíduos” (Castro 2002: 221).

A crítica contemporânea atinge a noção antropológica da sociedade por todos os lados:


a sociedade primitiva como tipo ideal, como objecto empiricamente delimitado, como
suporte objectivo das representações colectivas, entidade dotada de coerência estrutural
e de finalidade funcional.

Concluindo, o autor afirma que “o objecto ideal da antropologia, a sociedade primitiva


dissolveu se menos pela globalização objectiva dos mundos primitivos, ou pelo
progresso das luzes antropológicas e mais pela falência da noção de sociedade moderna
que lhe serviu de contra modelo” (Castro 2002: 223).

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