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INATIVIDADE FÍSICA, DOENÇAS CRÔNICAS, IMUNIDADE

E COVID-19
PHYSICAL INACTIVITY, CHRONIC DISEASES, IMMUNITY AND COVID-19 Artigo especial
Special article
INACTIVIDAD FÍSICA, ENFERMEDADES CRÓNICAS, INMUNIDAD Y COVID-19 Articulo especial

Thiago Teixeira Guimarães1 RESUMO


(Profissional de Educação Física)
Henrique Mariano Brito dos
As complicações decorrentes da COVID-19 refletem uma resposta imune irregular em pessoas previamente
Santos1 acometidas por doenças crônicas não transmissíveis (DCNT), como por exemplo, cardiovasculares, metabólicas
(Profissional de Educação Física) e pulmonares. A inatividade física é reconhecidamente uma condição que impacta o desenvolvimento de
Rodrigo Terra Mattos Sanctos1,2 inflamação crônica de baixo grau, DCNT e suscetibilidade a infecções celulares. Ansiedade e estresse mental,
(Profissional de Educação Física)
estado nutricional deficiente, consumo de drogas e ritmo circadiano perturbado podem agravar ainda mais
1. Grupo de Pesquisa Excesso de os prejuízos da inatividade física. Sendo assim, o objetivo da revisão é convidar profissionais da área da saúde,
Exercício (GPEEx), Rio de Janeiro, seus respectivos conselhos regulatórios, universidades, fundações de amparo à pesquisa, mídia, autoridades
RJ, Brasil. políticas e cidadãos leigos para a conscientização sobre imunidade e saúde no controle em médio a longo
2. Colégio Brigadeiro Newton prazo da atual pandemia. Nível de evidência V; Opinião do especialista.
Braga (CBNB), Diretoria de Ensino,
Força Aérea Brasileira (DIRENS/FAB), Descritores: Pandemia; Exercício físico; Inflamação; SARS-CoV-2.
Rio de Janeiro, RJ, Brasil.
ABSTRACT
Correspondência:
Thiago Teixeira Guimarães Complications arising from COVID-19 reflect an abnormal immune response in people previously diagnosed with
Av. Lucio Costa, 3550, Barra da chronic, non-communicable diseases (NCD), such as cardiovascular, metabolic and pulmonary conditions. Physical
Tijuca, Rio de Janeiro, RJ, Brasil. inactivity is recognized as a condition that affects the development of chronic low-grade inflammation, NCD, and
22630-010. susceptibility to cell infections. Anxiety and mental stress, poor nutritional status, drug use and circadian rhythm
thiagotguimaraes@yahoo.com.br disturbances can further aggravate the harm caused by physical inactivity. Therefore, the purpose of the review is to
invite health professionals, their respective regulatory boards, universities, research promotion foundations, media,
political authorities and lay citizens to raise awareness of immunity and health in the medium- to long-term control
of the current pandemic. Level of evidence V; Expert opinion.

Keywords: Pandemic; Physical exercise; Inflammation; SARS-CoV-2.

RESUMEN
Las complicaciones derivadas del COVID-19 reflejan una respuesta inmune irregular en personas previamente
afectadas por enfermedades crónicas no transmisibles (ECNT) como, por ejemplo, cardiovasculares, metabólicas y
pulmonares. La inactividad física es reconocidamente una condición que impacta en el desarrollo de inflamación
crónica de bajo grado, ECNT y susceptibilidad a infecciones celulares. La ansiedad y el estrés mental, el estado nutri-
cional deficiente, el consumo de drogas y el ritmo circadiano alterado pueden agravar aún más los perjuicios de la
inactividad física. Por lo tanto, el objetivo de la revisión es invitar a profesionales del área de la salud, a sus respectivos
consejos reguladores, universidades, fundaciones de apoyo a la investigación, medios de comunicación, autoridades
políticas y ciudadanos laicos para la concienciación sobre inmunidad y salud en el control a mediano y largo plazo
de la actual pandemia. Nivel de evidencia V; Opinión del especialista.

Descriptores: Pandemias; Ejercicio físico; Inflamación; SRAG-CoV-2.

DOI: http://dx.doi.org/10.1590/1517-8692202026052019_0040 Fast tracking

INTRODUÇÃO A inatividade física figura como uma das principais causas atribuídas
Cada vez mais pessoas são acometidas por DCNT, como por exemplo, ao desenvolvimento de DCNT1,6 e o agravamento das condições clínicas
obesidade, doenças cardiovasculares, metabólicas, pulmonares, renais, por COVID-19 relaciona-se com o diagnóstico prévio de inflamação e
diversos tipos de câncer, transtornos mentais, dos ossos e articulações.1-4 DCNT.7 No Brasil, segundo levantamento publicado na página oficial do
Além de sofrimento, dependência funcional e investimentos intangíveis Ministério da Saúde, em meados de abril (2020), sete de cada 10 óbitos
nos sistemas de saúde, em 2016, estima-se que 41 milhões de mortes registrados por COVID-19 foram de pessoas acima dos 60 anos de idade
em adultos ocorreram devido a essas doenças, representando 71% do com pelo menos um fator de risco, como doença cardíaca, pulmonar
total para essa população no mundo.4 No Brasil, as DCNT correspondem e diabetes. Ainda segundo o Ministério da Saúde, pessoas de qualquer
algo em torno de 70% das causas de mortes em adultos e percentual idade com DCNT também se encontram no grupo de risco e precisam
semelhante em gastos no Sistema Único de Saúde.5 redobrar os cuidados com medidas de prevenção ao COVID-19.8
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Existem clássicas evidências epidemiológicas1,6 e biológicas9-12 a teciduais.15 Entretanto, em situações de estresse acumulado e/ou DCNT,
favor da prática moderada de atividades físicas. Seus potenciais bene- ou seja, quando a homeostase se encontra comprometida previamente
fícios incluem a regulação e promoção de sistemas orgânicos como, à infecção, a inflamação crônica e/ou desequilíbrio na imunidade pa-
por exemplo, o nervoso, cardiovascular, endócrino, respiratório, renal, recem favorecer a vulnerabilidade celular.15 De fato, a resposta imune é
digestório e imunológico.9-12 Embora as atividades físicas venham sendo extremamente complexa e numerosos são os seus mecanismos, mas
estimuladas durante a pandemia, um melhor entendimento sobre o seu para corroborar essa hipótese, dois exemplos são apresentados.
papel na modulação do sistema imune, enquanto estímulo estressor, A senescência do organismo é acompanhada por alterações no sis-
pode permitir uma divulgação mais sólida, contextualizada e permanente tema imunológico (imunosenescência).23 A inflamação crônica de baixo
de sua prática aliada a outros fatores ambientais (abordagem multifa- grau associada ao processo de envelhecimento (inflammaging) pode
torial). Afinal, os vírus, como o Sars-CoV-2, sofrem mutação genética ser explicada pelo declínio da função imune, alterações na imunidade
constantemente e dificultam ações remediadoras, sendo a prevenção inata e desequilíbrio entre a imunidade celular e humoral, impactando
contra o caos fisiológico e social, indiscutivelmente, a melhor solução. no maior risco de exposição a patógenos para essa população.24,25 Além
disso, a “janela aberta de oportunidades”, classicamente discutida nas
Considerações básicas sobre resposta imune e estresse
ciências do exercício e esporte há três décadas, tem sido associada ao
A função do sistema imunológico é reconhecer o que é próprio e não desequilíbrio entre a imunidade celular e humoral.15,26 Seguindo esse
próprio do organismo para reparar possíveis danos e preservar a homeos- racional teórico, o nível de estresse fisiológico e perturbação da homeos-
tase, em cooperação com outros sistemas fisiológicos.12-14 No desempenho tase parece determinante para a suscetibilidade celular.
de suas funções, o sistema imune pode ser dividido em duas categorias: O estresse é fundamental em processos adaptativos, sejam eles
imunidade natural ou a inata e imunidade adquirida ou adaptativa.12-14 físicos, químicos ou psicológicos. Ele pode ser considerado um conjunto
A resposta imune natural ou inata é imediata e inclui barreiras físicas amplo de eventos, consistindo em um estímulo estressor, uma reação
(ex. pele) e químicas (ex. lágrima, sistema complemento), assim como processada no sistema nervoso central, e respostas como, por exemplo,
a participação de células fagocíticas como os neutrófilos, macrófagos, de luta-fuga (ou congelamento).27 Para a preservação da homeostase
células dendríticas e natural killers (NK), além de moléculas microbicidas em situações de estresse, diversos mensageiros químicos são secretados
como o óxido nítrico (NO) e ânion superóxido.12-14 Possui especificidade e agem de forma autócrina, parácrina e endócrina, como as citocinas.
limitada e não desenvolve memória. Essas proteínas orquestram não somente a imunidade específica como
A resposta imune adquirida ou adaptativa possui alta especificidade, também integram os sistemas imunológico, nervoso, endócrino, cardio-
além de desenvolver memória, e pode ser dividida em celular e humoral/ vascular, renal, digestório e hematopoiético.12-14
extracelular. A resposta imune celular é mediada, principalmente, por Curiosamente, em organismos previamente inflamados (ex. com
linfócitos T CD4+ auxiliares tipo 1 (Th1), linfócitos T CD8+ citotóxicos tipo DCNT) e mais vulneráveis ao Sars-CoV-2, sugere-se o desenvolvimento da
1 e citocinas (ex. IFN-γ, TNF, IL-1, IL-2, IL-12, IL-17).12-15 Ressalta-se ainda, “síndrome da tempestade de citocinas”.28 Se em condições de equilíbrio as
a participação de macrófagos e células dendríticas tanto na função citocinas atuam com eficiência em baixas concentrações, sua “tempestade”
fagocítica como em relação à produção de citocinas e apresentação de observada com frequência nos casos mais graves de COVID-19 reflete uma
antígenos aos linfócitos T virgens para sua diferenciação.12-14 O estímulo hiperinflamação,28 supostamente desencadeada por resposta exacerbada
mútuo das funções de macrófagos e linfócitos representa um importante à reação de alarme provocada pelo estresse (infecção). Prejuízos teciduais
mecanismo de amplificação da imunidade específica.12 e funcionais em sistemas como o respiratório são iminentes.
Na resposta imune humoral/extracelular, é possível destacar os
linfócitos B, anticorpos, linfócitos T CD4+ auxiliares tipo 2 (Th2), linfócitos Considerações básicas sobre resposta imune e exercício físico
T CD8+ citotóxicos tipo 2 e citocinas (ex. IL-4, IL-5, IL-10, IL-13).12-15 Uma Doses controladas de estímulos físicos, químicos ou ambientais, com
população importante na harmonia entre a imunidade celular e humoral, potencial lesivo em quantidades mais elevadas, parecem induzir efeitos
é a de células T regulatórias, ativadas por citocinas como IL-2, IL-10 e crônicos positivos às células, tecidos, órgãos e sistemas fisiológicos.29 É
TGF-β.14 Essas células são responsáveis pela inibição da proliferação de nesse contexto que se situa o exercício físico. Um dos diversos argu-
Linfócitos T efetores.14 Sua deficiência está relacionada com a inflamação mentos para o incentivo à sua prática moderada e periódica, refere-se
e o desenvolvimento de síndromes autoimunes severas.14 à proteção das células contra infecções causadas por microrganismos
Embora até a presente data não se tenha conhecimento de evidências intracelulares (ex. vírus), a partir do equilíbrio entre respostas imunes
consistentes sobre o bloqueio da reprodução do Sars-CoV-2, é importante celulares e humorais, com discreta prontidão para o perfil Th1.17-19
considerar o equilíbrio e integração entre a imunidade inata, celular e humoral Por exemplo, dados do nosso grupo revelaram que células de
contra os vírus. Há produção de interferons do tipo 1 (IFN alfa e beta), que linfonodos e sobrenadantes de macrófagos de camundongos, após
atuam inibindo a replicação viral, criando o chamado estado antiviral, bem 10 a 12 semanas de exercício moderado, expressaram mais citocinas
como há ação das NK destruindo células infectadas por vírus. Além disso, a pró-inflamatórias (ex. IFN-γ e TNF), enquanto a concentração de anti-
produção de anticorpos neutralizantes produzidos por linfócitos B, ainda na -inflamatórias (ex. IL-4 e IL-10) reduziu significativamente em relação
fase extracelular do vírus, bloqueia sua entrada na célula-alvo e o reconheci- ao grupo inativo fisicamente.17,18,30 A redução da razão IL-10/IFN-γ pós-
mento do antígeno viral, com posterior destruição da célula infectada pelos -intervenção convergiu com a hipótese da predisposição do perfil celular
linfócitos T CD8+ citotóxicos, constituindo importantes vias contra vírus pela protetor (Th1) com o exercício moderado.15,17-19,30 Além disso, macrófagos
imunidade adaptativa.13,4 Na infecção por Sars-CoV-2, quando o organismo de camundongos infectados pelo protozoário Leishmania major, pro-
não é capaz de desenvolver uma resposta adquirida adequada, a inflamação duziram mais IL-12 e NO em relação aos macrófagos do grupo controle
persistente induzida pela imunidade inata favorece a severidade da doença.16 sedentário.17,18 Destaca-se também uma maior atividade microbicida
A imunidade de um organismo assintomático e previamente “saudá- dessas células e redução dos índices de infecção e número de parasitos
vel” geralmente é capaz de solucionar infecções intracelulares17,18 Nessas isolados da pata dos animais infectados.17,18 O protocolo de treinamento
condições, uma possível explicação para o reparo eficiente é o equilíbrio físico moderado tem se mostrado capaz de controlar o desenvolvimento
entre as respostas celulares e humorais, com discreta predominância da doença,17,18 corroborando clássicas teorias do exercício e imunidade
do perfil celular,17-22 já que sua exacerbação pode resultar em danos na saúde, envelhecimento e qualidade de vida.15,31-33

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De fato, ensaios clínicos randomizados e controlados podem permitir favorável à coevolução.39 Seria conveniente alertar sobre o seu uso consciente
maior robustez quanto à hierarquia de evidência científica. Entretanto, e moderado, aliado ao desenvolvimento da imunidade e saúde.
cabe ressaltar que experimentos com humanos devem proteger o • Pandemias mundiais estão se sobrepondo. A inabilidade do sistema
seu bem-estar físico e emocional, sendo imprescindível a utilização de imune na resposta ao estresse para preservar a homeostase parece estar
modelos animais para infecções in vivo e in vitro. Comitês de ética repro- associada à inflamação crônica, inatividade física e/ou aptidão cardiorres-
variam estudos mais robustos sobre o efeito do exercício na modulação piratória insatisfatória. Levando-se em consideração o risco elevado de
da resposta imune em pessoas contra diferentes patógenos (ex. vírus, contágio em ambientes fechados de uso coletivo e o assunto adesão ao
bactérias, protozoários e helmintos). exercício, talvez seja um momento apropriado para repensar o combate
Salienta-se, todavia, que qualquer programa de exercício físico por si ao sedentarismo. Por exemplo, pessoas que realizam caminhadas em
só não garante efeitos positivos permanentes.26 Um trabalho apresentado contato com a natureza reduzem significativamente a ativação de áreas
pelo nosso grupo em 2019, sobre excesso de estresse induzido pelo do cérebro responsáveis pelo pensamento ruminante (ex. induzido por
exercício crônico, verificou o comprometimento da imunidade celular ressentimentos e responsabilidades acumuladas), associadas ao esgota-
de macrófagos de camundongos nessas condições.30 O treinamento mento mental e depressão.40 Será que atividades físicas em ambientes
aeróbio de muito alto volume, além de prejudicar o desempenho físico naturais podem ajustar a produção de neurotransmissores como a dopa-
da amostra estudada, aumentou a suscetibilidade de infecções por mina, serotonina, anandamida, endorfina e ocitocina, ativando o sistema
protozoários em macrófagos, paralelamente à predominância de perfil límbico de recompensas do cérebro, promovendo o reforço intrínseco
Th2, condições semelhantemente observadas no grupo fisicamente ina- positivo, balanceando diferentes sistemas fisiológicos, conferindo mais
tivo.30 Já o treinamento moderado, mostrou-se protetor contra infecções qualidade às funções psíquicas, imunológicas e de respostas ao estresse?
celulares e apresentou predominância de perfil Th1.30 • A predisposição do organismo humano para inúmeras doenças, a
Parece haver um consenso de que as respostas imunes ao exercício partir da inatividade física ou ingerência da homeostase, é incompatível
refletem o estresse fisiológico e metabólico acumulado individualmente.26 com os valores e postulados de saúde pública. Profissionais da área,
A abordagem multifatorial é crucial para que se possa levar em considera- seus respectivos conselhos regulatórios, universidades, fundações de
ção fatores como o sono, ansiedade, fadiga mental, nutrição, histórico de amparo à pesquisa, mídia, autoridades políticas e cidadãos leigos estão
infecções, higiene pessoal, frequência de viagens e condições climáticas convidados para ações muito além do combate às doenças. É urgente a
(extremos ambientais).26 Sabe-se que a alimentação balanceada, dentre necessidade de se praticar imunidade e saúde. O "farol verde" da Figura 1
diversos benefícios, pode prevenir o desvio da rota metabólica de ami- deve ser estimulado, para reduzir o impacto do "farol amarelo" no de-
noácidos, cruciais à saúde dos macrófagos, durante situações de estresse senvolvimento do "farol vermelho".
prolongado ou inadequação no consumo de proteínas.34,35 Além disso,
restrições severas de carboidratos podem favorecer a elevação crônica
do cortisol e contribuir para o processo de imunossupressão celular.36
O sono regular é fundamental para o equilíbrio do sistema imune e da
relação entre hormônios anabólicos e catabólicos.37 Ansiedade, medo -Inflamação crônica de
e preocupações gerais podem desencadear uma resposta de luta ou baixo grau;
fuga “permanente” e estresse mental crônico,38 desequilibrando com- -DCNT;
-Suscetibilidade à
pletamente o sistema imune e tornando-o mais vulnerável.
infecções celulares.
Sugestões para ações em saúde pública de médio a longo prazo
• Ações conjuntas para o estímulo de práticas promotoras da imunidade
e saúde podem amenizar a crise econômica, política e social no Brasil,
pois novos surtos têm sido reportados no mundo. Sugere-se o fomento
às atividades físicas paralelamente à conscientização sobre estratégias -Inatividade física;
para o controle do estresse mental e ansiedade, alimentação, ritmo cir- -Estresse acumulado
(ex. mental, fisiológico);
cadiano, utilização de drogas lícitas (ex. fármacos, tabaco, álcool, outras -Imunosenescência;
substâncias psicoativas como a cafeína) e ilícitas. -Desequilíbrio imunológico.
• Para que uma atividade física apresente benefícios potencializados e
riscos reduzidos, é importante considerar uma mínima estruturação e
contextualização com outros estímulos/fatores estressores. A orientação
profissional é relevante nesse sentindo, por transformar atividades físicas
em exercícios físicos. Princípios e conceitos básicos da prescrição devem
ser respeitados para que sedentários, atletas de elite, amadores e de re- -Doses moderadas de estímulos
creação desenvolvam ou mantenham o condicionamento físico e saúde, físicos e ambientais;
-Coevolução.
evitando o gatilho para a imunossupressão celular ou qualquer outro
tipo de efeito colateral ao movimento (ex. lesões, apatia, fadiga crônica,
descondicionamento paradoxal ou respostas biológicas exacerbadas à
reação de alarme decorrentes dos mais diferentes tipos de estresse).
• Sabe-se que saúde não é meramente a ausência de doenças. A utilização “Farol verde”: atividades físicas moderadas, preferencialmente estruturadas e contextualizadas, abordadas de
forma multifatorial, levando-se em consideração a cronicidade do sono, ansiedade, fadiga mental, nutrição,
de produtos químicos é uma prática extremamente importante durante a consumo de drogas, exposição à poluição e ao sol, higiene pessoal e histórico de infecções, por exemplo.
“Farol amarelo”: condições que merecem atenção especial por impactarem diretamente no desenvolvimento
pandemia, mas torna-se limitada de médio a longo prazo se a imunidade do “farol vermelho”. DCNT: doenças crônicas não transmissíveis.
celular e humoral desarmonizarem (ex. sedentarismo). Além disso, esses pro- Figura 1. Relação entre inatividade física, DCNT, estresse, imunidade, infecções e
dutos em excesso podem comprometer a microbiota e a relação simbiótica fatores associados.

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CONCLUSÃO estresse mental, imunidade e saúde para o controle de médio a longo
Espera-se que profissionais da área da saúde, seus respectivos conse- prazo da atual pandemia e prevenção de situações similares no futuro.
lhos regulatórios, universidades, fundações de amparo à pesquisa, mídia,
autoridades políticas e cidadãos leigos estimulem a conscientização Todos os autores declararam não haver qualquer potencial conflito
sobre a relação entre inatividade física, estado nutricional deficiente, de interesses referente a este artigo.

CONTRIBUIÇÕES DOS AUTORES: Cada autor contribuiu individual e significativamente para o desenvolvimento do manuscrito. TTG, HMBS e RTMS: contribuição substancial na
concepção ou desenho do trabalho, aquisição, análise ou interpretação dos dados, redação do trabalho. TTG, RTMS: revisão crítica do conteúdo intelectual e aprovação da versão
final do artigo. Todos os autores leram, concordam e se responsabilizam por todos os aspectos do trabalho, no sentido de garantir que qualquer questão relacionada à integridade
ou exatidão de qualquer de suas partes sejam devidamente investigadas e resolvidas.

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