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XVIII ENDIPE

Didática e Prática de Ensino no contexto político contemporâneo: cenas da Educação Brasileira

SEQUÊNCIA DIDÁTICA–PONDERAÇÕES TEÓRICO-METODOLÓGICAS

Rozilene da Costa Batista


Professora da Rede Estadual de Mato Grosso e Mestranda do Programa de Pós-
Graduação em Educação – PPGEdu/ICHS/CUR/UFMT
Grupo de Pesquisa Alfabetização e Letramento Escolar – ALFALE

Júlia Emanuelly de Oliveira


Mestranda do– PPGEdu/ICHS/CUR/UFMT e Bolsista CAPES
Grupo de Pesquisa Alfabetização e Letramento Escolar – ALFALE

Sílvia de Fátima Pilegi Rodrigues


Professora do Programa de Pós-Graduação em Educação – PPGEdu/ICHS/CUR/UFMT
Grupo de Pesquisa Alfabetização e Letramento Escolar – ALFALE

Resumo
A busca por uma educação de qualidade não tem sido tarefa fácil, principalmente no
que tange ao ensino e aprendizagem, que deve acontecer de maneira significativa
levando-se em consideração o contexto e o que a criança já sabe ao chegar à escola.
Este texto busca desenvolver uma discussão em torno dos conceitos e proposições sobre
sequência didática, que consiste em propostas metodológicas para a organização e
planejamento do ensino, com diferentes aspectos e ênfases. No Brasil, tais proposições
são relativamente recentes e têm sido objetos de estudos e trabalho didático desde a
publicação dos Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs), a partir de 1997,
especificamente o de língua portuguesa, que enfatizou a importância do ensino dos
gêneros textuais em sala de aula. Assim, esta pesquisa, de cunho bibliográfico, norteou-
se pela seguinte questão: quais são as distinções de acepção e desenvolvimento
metodológico relacionadas ao termo “sequência didática”? Neste ensaio busca-se
apresentar e comparar a proposta de sequência didática nas concepções de Zabala
(1998), Oliveira (2013) e Schneuwly, Dolz e colaboradores (2004). Tais estudiosos têm
se destacado na afirmação de que o trabalho organizado em sequências didáticas é um
dos caminhos mais indicados para a construção do conhecimento e o desenvolvimento
do trabalho pedagógico em sala de aula. Essa temática se vincula ao projeto de pesquisa
intitulado “Práticas e políticas públicas no ensino de língua materna: experiências
docentes e aprendizagens discentes”, articulado com a linha de pesquisa Linguagens,
Cultura e Construção do Conhecimento: perspectivas histórica e contemporânea, do
Programa de Pós-Graduação em Educação, do Campus Universitário de Rondonópolis-
MT, e ao grupo Alfabetização e Letramento Escolar – ALFALE.

Palavras-chave: Sequência Didática. Prática pedagógica. Aprendizagem.

Introdução
Este texto se propõe a discutir sobre sequência didáticaabordando osdiferentes
aspectos e ênfasesnasconcepções deZabala (1998), Oliveira (2013) e Schneuwly, Dolz e
colaboradores (2004).A questão norteadora é: quais são as distinções de acepção e
desenvolvimento metodológico relacionadas ao termo “sequência didática”? Para tanto,

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foi realizada uma pesquisa bibliográfica a partir do levantamento das referências


teóricasacima citadas. De acordo com Macedo (1994), esse tipo de pesquisa permite
conhecer o que já se estudou sobre o assunto. Desse modo, o presente estudo o integra o
projeto em desenvolvimento intitulado “Práticas e políticas públicas no ensino de língua
materna: experiências docentes e aprendizagens discentes”, articulado com a linha de
pesquisa Linguagens, Cultura e Construção do Conhecimento: perspectivas histórica e
contemporânea.

Sequência didática/sequência de atividades


Com o propósito de comparar e analisar sinteticamente a proposta de sequência
didática nas concepções dos autores já citados, iniciaremos por Zabala (1998). De
acordo com ele, toda prática pedagógica exige uma organização metodológica para a
sua execução. A aprendizagem do aluno se concretiza a partir da intervenção do
professor no cotidiano da sala de aula. Antes dessa organização,Zabala(1998, p. 21)
afirma que é necessário ter em mente duas perguntas chave: “Para que educar?Para que
ensinar?”, denominadas pelo autor como perguntas capitais que justificam a prática
educativa. Esse seria o ponto de partida para a organização do trabalho pedagógico de
maneira reflexiva.
Sequência didática é definida por esse autor como “um conjunto de atividades
ordenadas, estruturadas e articuladas para a realização de certos objetivos
educacionais, que têm um princípio e um fim conhecidos tanto pelos professores como
pelos alunos.” (ZABALA, 1998, p.18 –grifos do autor).
Zabala (1998, p.54) descreve quatro fases de uma sequência didática de modelo
tradicional: “comunicação da lição; estudo individual sobre o livro didático; repetição
do conteúdo aprendido e julgamento (nota do professor ou professora)”. Descreve
também (Idem, p.55) as fases de uma sequência de modelo “estudo do meio”:
“atividade motivadora relacionada com uma situação conflitante da realidade
experiencial dos alunos; explicação das perguntas ou problemas; respostas intuitivas ou
hipóteses; seleção e esboço das fontes de informação e planejamento da investigação;
coleta, seleção e classificação dos dados; generalização das conclusões tiradas;
expressão e comunicação.” A partir desses exemplos, o autor acrescenta que o objetivo
da sequência didática deve ser de:
[...] introduzir nas diferentes formas de intervenção aquelas atividades que
possibilitem uma melhora de nossa atuação nas aulas, como resultado de um
conhecimento mais profundo das variáveis que intervême do papel que cada

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uma delas tem no processo de aprendizagem dos meninos e meninas.


(ZABALA 1998, p.54)

É importante considerar, ao planejar uma sequência didática, as relações


interativas entre professor/aluno, aluno/aluno e as influências dos conteúdos nessas
relações, o papel do professor e o papel do aluno, a organização para os agrupamentos, a
organização dos conteúdos,a organização do tempo e espaço, a organização dos
recursos didáticos e avaliação.
Oliveira (2013, p.39)define sequência didática como “um procedimento simples
que compreende um conjunto de atividades conectadas entre si, e prescinde de um
planejamento para delimitação de cada etapa e/ou atividade para trabalhar os conteúdos
disciplinares de forma integrada para uma melhor dinâmica no processo ensino-
aprendizagem.”
A autora apresenta como passos básicos da sequência didática: Escolha do tema
a ser trabalhado; questionamentos para problematização do assunto a ser trabalhado;
planejamento dos conteúdos;objetivos a serem atingidos no processo de ensino-
aprendizagem; delimitação da sequência de atividades, levando-se em consideração a
formação de grupos, material didático, cronograma, integração entre cada atividade
eetapas, e avaliação dos resultados (OLIVEIRA, 2013, p.40).
Surge, a partir dos estudos de Oliveira (2013), a denominada sequência didática
interativa (SDI) como uma nova proposta metodológica, considerada como
desdobramento da metodologia interativa cunhada pela mesma autora em 2012, que
utiliza a técnica do Círculo Hermenêutico-Dialético (CHD). Sequência didática
interativa é, portanto,
[...]uma proposta didático-metodológica que desenvolve uma série de
atividades, tendo como ponto de partida a aplicação do círculo hermenêutico-
dialético para identificação de conceitos/definições, que subsidiam os
componentes curriculares (temas), e, que são associados de forma interativa
com teoria (s) de aprendizagem e/ou propostas pedagógicas e metodologias,
visando à construção de novos conhecimentos e saberes. (OLIVEIRA, 2013,
p. 43)

O objetivo da SDI é a construção de um novo conhecimento, de um novo saber.


São apresentados alguns passos:Primeiro momento – sequência de atividades:1)definir o
tema e componente curricular a ser trabalhado, entregar uma ficha ao participante para
que escreva seu conhecimento inicial sobre o assunto; 2)dividir a classe/turma em
pequenos grupos para que sintetizem os conceitos surgidos em uma só frase; 3)eleger
um líder de cada grupo para formar um novo grupo onde também farão uma síntese
formando apenas uma frase do assunto; 4)conclui-se a primeira sequência de atividade

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com uma definição sobre o tema em estudo (OLIVEIRA, 2013, p. 44).Passa então, para
o segundo bloco de atividades: 1) o desenvolvimento do embasamento teórico sobre o
assunto; 2) depois da realização do embasamento teórico, o professor/coordenador
escolhe uma atividade para o fechamento do tema que pode ser um seminário,
confecção de pôsteres ou outras. (OLIVEIRA, 2013, p. 46)
Pode-se perceber, nas concepçõesde Zabala (1998) e Oliveira (2013), que uma
sequência didática deve ser desenvolvida na perspectiva do ensino de conteúdos através
de atividades sequenciadas, organizadas com objetivos bem definidos e esclarecidos
para os professores e alunos, que contribuirão para a aprendizagem e construção do
conhecimento e de novos saberes. Deve, também, servir para a reflexão sobre a prática
docente através da observação do seu processo de desenvolvimento e interação entre
todos os envolvidos.

Sequência didática para o ensino-aprendizagem dos gêneros textuais


Em 2004, a partir da publicação da obra deSchneuwly, Dolz e colaboradores, o
ensino dos gêneros escritos e orais em sala de aula passou a receber destaque nas
proposições e discussões sobre o ensino da língua materna no Brasil. tal direcionamento
metodológico traz a questão: “como ensinar a expressão oral e escrita?”(DOLZ;
NOVERRAZ; SCHNEUWLY, 2004, p.95). Como resposta, os autores propõem o
planejamento do ensino a partir de sequência didática, entendidacomo
[...] um conjunto de atividades escolares organizadas, de maneira sistemática,
em torno de um gênero oral ou escrito, [...] com a finalidade de ajudar o
aluno a dominar melhor um gênero de texto, permitindo-lhe, assim, escrever
ou falar de maneira mais adequada numa dada situação de comunicação.
(2004, p. 97)

Percebe-se que, nessa concepção, a sequência didática tem um fim específico


que é o ensino e a aprendizagem do gênero textual. Essa proposta também apresenta
alguns passos denominados pelos autores de esquema da sequência didática, conforme
figura em anexo.
No entanto, há uma alerta para que a sequência didática não assuma a totalidade
do trabalho para o desenvolvimento da aprendizagem e domínio da língua e demais
conteúdos. Isto é, a gramática, a sintaxe e a ortografia, devem ter espaços para serem
trabalhados, não necessariamente deve ser dentro da sequência didática, porém, não
podem ser esquecidos.
Considerações

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As propostas de organização do trabalho pedagógico através das sequências


didáticas apresentadas podem ser desenvolvidas em todas as fases/ciclo do ensino,
desde a educação infantil até o ensino superior. Desde que sejam observados os critérios
já orientados pelos autores referenciados, como a adequação dos gêneros textuais,
tempo de desenvolvimento, conteúdos etc., pois o objetivo das sequências didáticas é o
de aprimorar o trabalho docente contribuindo para a aprendizagem significativa,
favorecer a interdisciplinaridade e a formação de leitores.
São propostas ricas para se desenvolver em sala de aula, onde uma sequência
didática bem planejada permitirá ao educador visualizar o conhecimento inicial do
aluno, seu desempenho e perceber o que ainda necessita ser trabalhado para que se
concretize a aprendizagem. Depende do educador se apropriar das propostas de
sequência didática, embora, sejam complexas principalmente no que se refere ao
trabalho com gêneros textuais, isso pode acontecer de forma gradativa e ir além das
propostas apresentadas.

Referências
BRASIL, Secretaria de Educação Fundamental. Parâmetros curriculares nacionais:
língua portuguesa. Brasília, 1997.

BRASIL, Secretaria de Educação Fundamental. Parâmetros Curriculares Nacionais:


terceiro e quarto ciclos do ensino fundamental: língua portuguesa. Brasília: MEC/SEF,
1998.

DOLZ, Joaquim; NOVERRAZ, Michèle; SCHNEUWLY, Bernard. Sequências


didáticas para o oral e a escrita. In:SCHNEUWLY, Bernard; DOLZ, Joaquim e
colaboradores.Gêneros orais e escritos na escola.Campinas, SP: Mercado de Letras,
2004, p.95-128).

MACEDO, N. D. Iniciação à pesquisa bibliográfica: um guia do estudante para a


fundamentação de pesquisa. São Paulo: Loyola, 1994.

OLIVEIRA, Maria Marly. Sequência didática interativa no processo de formação de


professores. Petrópolis, RJ: Vozes, 2013.

ZABALA, Antoni. A prática educativa: como ensinar. Porto Alegre: Artmed, 1998.

Esquema da sequência didática

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Fonte: Dolz,Noverraz eSchneuwly, 2004, p.98.

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