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Ilê Ayê faz o primeiro desfile comemorativo de 45 anos

Que Bloco é esse?', a pergunta feita pela música de Camafeu de Oxossi há 45 anos
continua dando o tom da admiração e da surpresa daqueles que apreciam a passagem do
bloco afro Ilê Aiyê. O Mais Belo dos Belos realizou nesta noite de sábado, 0203, no Curuzu,
mais um ritual de saída, que envolve práticas da religiosidade africana, o forte toque da
percussão, a apresentação da Deusa do Ébano 2019 e o pedido de paz para o Carnaval de
Salvador. Depois é só subir a Ladeira do Curuzu e ocupar a cidade com sua beleza e nobreza,
elevando a auto estima da comunidade negra, como faz há 45 anos.

Essa autoestima era perceptível para quem lançava o olhar para a multidão que
aguardava o início da cerimônia religiosa presidida pela mãe de santo Hildelice Benta, ialorixá
do Terreiro Ilê Axé Jitolu. Em meio a aglomeração, estava o casal de aposentados Reginaldo
Gonçalves, 62 anos, e Evanildes Gonçalves, 52. Eles acompanham o Ilê Ayê desde a fundação,
mas começaram a sair no bloco no ano de 2014. “Quando estamos vestidos com a fantasia do
Ilê Aiyê nestes três dias é que sentimos nosso respeito. O Ilê sempre está progredindo em
defesa dos negros” disse Reginaldo. Logo em seguida a fala dele foi complementada pela da
esposa Evanildes que sentenciou “Essa roupa é um passaporte, quando chegamos com ela,
tudo de bom acontece”.

Fundador e presidente da entidade, Antônio Carlos Vovô, relata a satisfação em


ocupar as ruas de Salvador nesse aniversário: “Pra mim é muito gratificante colocar o bloco na
rua mais um ano. Somos o primeiro bloco afro e há 45 anos ininterruptos estamos desfilando
no Carnaval mesmo com toda dificuldade que a gente enfrenta, então é hora de celebrar as
conquistas que acompanham o surgimento do Ilê Aiyê, essa transformação que a cidade sofreu
na musicalidade, na estética, no resgate da autoestima do povo negro e, sobretudo, no
despertar desse sentimento de negritude, que fez com vários outros blocos afro surgissem na
Bahia, no Brasil e até no mundo”

Desde 1974 quando fez o primeiro desfile, responsável por ressignificar o Carnaval de
Salvador e possibilitando o acesso do povo negro a maior festa de rua do planeta, a atuação
do Ilê no combate ao racismo e compromisso para uma educação anti-racista mostram que a
agremiação extrapola os limites do Carnaval. “Eu sou professora alfabetizado e tive a honra de,
entre 1999 a 2003, fui capacitada pelo Ilê Aiyê, eles tinham um projeto de Extensão
Pedagógica. Durante o curso, tive como professores a Makota Valdina Pinto, Jorge Conceição,
Jonatas Conceição, Ana Celia Silva que me ensinaram a trabalhar com a história da África e da
Cultura Afro Brasileira antes mesmo da Lei 10639 existir. Sou eternamente grata ao Ilê Aiyê,
aos seus cadernos pedagógicos, que eu tenho todos.

ENCONTRO DE RAINHAS

Enquanto, Daniele Nobre, a Deusa do Ébano 2019 se preparava para adentrar a avenida, a
primeira Rainha do Ilê Ayê Maria de Lourdes Cruz, que reinou no desfile do bloco afro no
Carnaval de 1976 relembrou os tempos em que esteve com a coroa: “Emoção muito grande
em ser a primeira rainha, ainda mais que era em uma época diferente. Rainha sempre existiu,
mas rainha negra era difícil e o Ilê Aiyê abriu este espaço. Antigamente o negro não usava
vermelho (...) não achava que tinha uma roupa ou um cabelo adequado para ir para os lugares.
Hoje se chamarem: ‘vumbora ali’, você usa um torso ou uma trança africana e vai para
qualquer lugar e quando você chega ainda é destaque, na simplicidade que você está”, conta
Dona Mirinha ou Tia Rainha, como é respeitosamente chamada pelas deusas do ébano, título
dado às rainhas do bloco que a sucederam.

Nos minutos que antecediam a saída do bloco, no primeiro desfile de comemoração dos 45
anos do Ilê Ayê, Daniele Nobre, eleita Deusa do Ébano 2019 falou das suas expectativas: Estou
ansiosa para chegar na Avenida para dançar e para mostrar o porque eu fui eleita. Não só pela
minha beleza, mas também pela minha dança e pela minha simpatia”.

A IMPORTÂNCIA DO CARNAVAL OURO NEGRO - De acordo com a Secretária de Cultura do


Estado da Bahia, que estava presente na cerimônia e representou o Governador Rui Costa na
cerimônia, “Esta 12ª edição do programa Ouro Negro é extremamente vitoriosa e
comemorativa, porque diversos blocos fazem aniversário. Além do Ilê Aiyê, que está fazendo
45 anos, Olodum, 40 anos, Didá e A Mulherada, 25 anos e os Filhos de Gandhy, o afoxé mais
antigo do Brasil que faz 70 anos. Todos estes blocos são apoiados pelo Governo do Estado,
através do Ouro negro, e é motivo de muita alegria porque são esses os responsáveis pela
reafricanização do carnaval da Bahia e por esta diversidade do carnaval da Bahia. Eles
oferecem um caldeirão de multiplicidades para este carnaval”.

Antônio Carlos Vovô também ressaltou a importância do Ouro Negro, principalmente, para
viabilizar o desfile dos blocos menores. O Ilê Ayê desfila com o apoio do Carnaval Ouro Negro
2019, programa de fomento promovido pela Secretaria de Cultura do Estado da Bahia
(SecultBA).

E tem mais Ouro Negro

O Ilê Ayê desfila de novo na avenida na segunda (4/3) e na terça-feira (5/3) de Carnaval. O
“Charme da Liberdade” leva o seu espetáculo cênico-musical para o circuito Osmar.
Comandado pelo som marcante da Band’Aiyê, o bloco sai acompanhado de um cortejo
comemorativo ao tema do Carnaval com destaque para o carro que se transforma em um
verdadeiro altar para a recém eleita Deusa do Ébano 2019, Daniele Nobre, e para as princesas
Nana Sarah e Gleiciele Teixeira, eleitas no último dia 16 na 40ª Noite da Beleza Negra, festas
das mais concorridas e tradicionais do calendário de verão de Salvador.
“Eu sou professora alfabetizadora e tive a honra de, entre 1999 a 2003, ser capacitada
pelo Ilê Aiyê, eles tinham um projeto de Extensão Pedagógica. Eu tive como professora a
Makota Valdina Pinto, de Jorge Conceição, Jonatas Conceição, Ana Celia Silva que me
ensinaram a trabalhar com a história da África e da Cultura Afro Brasileira antes mesmo da Lei
10639 existir. Sou eternamente grata ao Ilê Aiyê, aos seus cadernos pedagógicos, que eu tenho
todos”. O depoimento da professora da rede pública de Salvador e do Estado da Bahia, Ivana
Cabral é um indicativo da importância do Ilê Ayê para a educação inclusiva e o combate ao
racismo no Brasil.

Desde a

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