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Anderson Ferrari (UFJF) | Roney Polato de Castro (UFJF)
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2017
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Sobre o ebook
PÔSTER . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 1404
APRESENTAÇÃO
Anderson Ferrari
Roney Polato de Castro
ISBN 978-85-61702-44-1
ABEH e a construção de um campo de Pesquisa e Conhecimento:
desafios e potencialidades de nos re-inventarmos
SUMÁRIO
Resumo
Introdução
Este artigo é uma escrita do doutorado no qual tenho a construção das mas-
culinidades como análise e questionamento como, por exemplo: Quais são os
elementos que constituem a masculinidade hegemônica? É uma indagação que
penso ser parcialmente contemplada pelos autores elencados para este artigo.
Além disso, Connell (1995), diz que um dos elementos que contribuiu
para o rompimento do essencialismo da masculinidade foi o fato de investiga-
dores encontrarem a masculinidade em corpos femininos, ou seja, traços de
masculinidade presente no gênero feminino. Por esta razão:
A masculinidade não é uma entidade fixa encarnada no corpo ou
nos traços da personalidade dos indivíduos. As masculinidades
são configurações de práticas que são realizadas na ação social e,
dessa forma, podem se diferenciar de acordo com as relações de
gênero em um cenário social particular. (CONNELL, 1995, p.250).
quais o homem pode sair vitorioso e ser admirado na vitória por uma nação,
salvando o mundo das agruras do inimigo.
A representação do heróis cotidianos os heróis de guerra como, por
exemplo, foram os (pracinhas brasileiros) ou os fictícios super-heróis (símbolos
do americanismo liberal) possuindo em comuns elementos necessários para a
construção da masculinidade hegemônica. Por isso, é importante quando se
pensa na construção da masculinidade, lembrar que este modelo ideal repre-
senta o capitalismo estadunidense e que, antes mesmo dos Comics de 40, e até
antes da I Guerra Mundial, já havia aparecido no campo da literatura juvenil
norte americana. Personagens voltados à construção masculina, respondiam
ao dilema da virilidade moderna após o sufrágio feminino. (BANDITER, 1993).
Esses heróis reforçavam uma identidade masculina de virilidade como Tarzan
e os Cowboys, personagens que carregam uma generosa carga de virilidade e
aventura em seus corpos fortes. Ambos os heróis são apresentados em ima-
gens por estética da masculinidade essência, uma relação de simbiose entre
o humano e a natureza, de dominação dos animais no dia a dia de trabalho
(Cowboy) e da natureza selvagem (Tarzan).
Por outro lado, Connell (2013) destaca que, as masculinidades cowboys
de fronteiras tem desafiado o modelo de masculinidade racionalizante, eco-
nômico e industrial capitalista norte americanas, a masculinidade fascista,
desafiante e violenta das metrópoles é chamada pelo autor de masculinidades
tipo “cowboys” de fronteiras.
O Tarzan e os cowboys foram alguns dos primeiros heróis a se destacar
em filmes e revistinhas cómics. Eles exaltam a virilidade e relação entre o ser
humano, o animal e a natureza selvagem domada, um exemplo talvez de como
o homem pode e deve ter domínio de seus sentimentos “naturalmente” violen-
tos. Com o Superman, se introduz a dupla identidade clássica, um super-herói
que desabrocha de Clark Kent, sujeito comum que trabalha como repórter na
redação do Planeta Diário. Clark é o homem comum que se tornam um ícone
dos atributos para os homens do mundo, tendo em vista que ele representa
o homem branco, bonito, heterossexual, discreto e de caráter politicamente
versado pela nobreza. Segundo Cortés (2004) “es un dios hecho hombre, un
extraterrestre que tiene en un reportero del Daily Planet, Clark Kent, a su alter
ego”. (p.166).
Clark Kent incorpora a característica interclassista que Guash (2006)
aponta como fazendo parte da masculinidade heroica em nossa sociedade,
pois, o herói pode bem ser o soldado, o guerreiro mítico, mas também o obreiro,
o tipógrafo, o investigador, o redator de um jornal estudantil, o pai, o homem
comum em seu cotidiano que sempre está disposto a ajudar e a contribuir
socialmente pela liberdade, pela paz mundial e cidadania agindo dentro dos
valores sociais em comunidade.
Lembrando que o interclassismo como elemento da masculinidade heroica
já fora percebido em outros momentos de nossa sociedade como na socie-
dade nazista, sendo um traço importante deste regime, no qual, Cortés (2006),
aponta que, analisando as pinturas e esculturas da época dessa sociedade, é
possível identificar que os personagens fundamentalmente representados eram,
“el obrero, el agricultor y el soldado” (CORTÉS, 2006, p.114), estes seriam as
colunas do estado nazi e uniam os elementos da terra e sangue.
Considerações finais
Referências
Resumo
Introdução
1 http://www.administradores.com.br/noticias/entretenimento/spotlight-ganha-o-oscar-de-melhor-fil-
me-em-noite-marcada-por-polemica-racial/108642/
Considerações finais
De modo geral, como aponta Ellsworth (2001), “(...) falta emoção na edu-
cação, falta suspense, romance, sedução, prazer visual, música, enredo, humor,
dança (...)” (p.10), de fato, a escola sem a magia do cinema e das problemáticas
que ele pode propiciar se torna a instituição menos atrativa em tempos de curio-
sidades e de uma enxurrada de informações, o cinema veio para ficar e para
denunciar verdades intocadas, escondidas e contribuir para o desvelamento
histórico das instituições milenares, mexendo com as estruturas cristalizadas e
acomodadas de pensamento. O cinema denúncia surge como possibilidade de
nos tirar de nossa “zona de conforto” trazendo temas ainda invisibilizados ou
pouco explorados em nossa sociedade.
Referências
LOURO, Guacira. O Cinema e Sexualidade. In: Lopes, Eliana e outros (Orgs). 500
Anos de Educação no Brasil. Belo horizonte: Autêntica, 2000.
Edson Vasconcelos
Doutor em Sociologia (UFPB)
Professor adjunto da Universidade Estadual da Paraíba
edsonpxt@yahoo.com.br
Resumo
Este trabalho tem como foco notas sobre uma investigação no Sexlog. Uma
rede social que se autointitula como “a maior rede social de sexo e de swing
do Brasil”. Trazer alguns registros da observação do percurso de casais, homens
e mulheres na busca pela realização de suas fantasias sexuais no comparti-
lhamento de fotos, vídeos e textos na web. Esses pontos tiveram como base
uma parte do trabalho desenvolvido na tese intitulada “De olhos bem fecha-
dos: sexualidade, subjetividades e conjugalidades no swing”. Pesquisa de
Doutorado defendida no ano de 2015 no Programa de Pós-Graduação em
Sociologia da Universidade Federal da Paraíba e que teve como órgão financia-
dor a Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes).
Palavras-chave: mídias digitais; sexlog; sexualidade.
Introdução
2 Dogging é um termo em inglês que significa atos sexuais em público ou parcialmente em público,
onde outras pessoas possam ver. Geralmente feito por mais de duas pessoas. Sexo grupal, ou mesmo
o sexo de uma mulher com vários homens pode ser incluído. A observação é encorajada. O exibi-
cionismo e o voyeurismo geralmente são associados ao dogging.
3 Prática que consiste na inserção, no ânus ou na vagina, da mão, até a altura do punho.
comprometimento. Só o fato de poder colocar ali aquilo que gostaria que outras
pessoas vissem. Da mesma forma se deleitam vendo os outros. Márcia me disse
que mantém o mesmo nível de interação com outros usuários que tem perfis
com as mesmas configurações que o dela. Quando muito, comenta nas fotos
que gostou em outros perfis o que gostaria de ver publicado nas próximas vezes
que esses usuários publicarem material novo. Isso alimenta as suas fantasias e
faz com que ela crie situações das mais diversos em sua imaginação, o que a
inspira não só a produzir imagens inspiradas no que vê na rede, mas também
em se excitar no dia a dia.
Isso é mais comum do que imaginamos. Muitos perfis nas redes sociais
servem simplesmente para seguir ou observar pessoas. A prática do stalking4 é
muito comum. Construir perfis só para seguir ou acompanhar amigos, colegas
ou pessoas próximas pode chegar ao exagero quando esses mesmos usuários
chegam ao ponto de fazer disso uma obsessão e um problema, pois em alguns
casos o observador começa a interferir na vida de quem ele observa. Aqui a
minha atenção reside no usuário comum: o que publica informações com o
intuito de ser observado e o que usa as redes (no caso, as redes de sexo) para
observar o outro. No entanto, é preciso salientar que há todo esse espectro de
comportamentos quando o assunto é ser voyeur na interação com o outro. Há
aqueles perfis mais quietos, que produzem e consomem material erótico, assim
como os que chegam as vias de seguir o outro ao ponto de prejudicá-lo de
alguma forma.
Um terceiro tipo de perfil que pude acompanhar são aqueles usuários que
estão nas redes sociais e usam o espaço para trabalho com sexo. Muitos perfis
são dedicados a casais, homens, mulheres e trans que criam uma conta para
intermediar encontros. Nas ferramentas de busca é muito comum encontrar
apelidos e descrições de perfis deixando claro qual é o seu objetivo no Sexlog.
Conversei com um desses perfis, a Dior. Ela já utilizava o Sexlog para serviços
sexuais há um ano e gostava muito de fazer isso. Disse que apesar de ser proi-
bido o uso da rede para prostituição não se sentia inibida em fazer isso.
4 Palavra em inglês que representa a obsessão de algumas pessoas em seguir ou observar a vida das
pessoas nas redes sociais.
Considerações finais
para a identidade do usuário, mas o lugar que só será revelado a quem merecer
tal intento. Gesto de intimidade.
Por outro lado o corpo. Mas não é qualquer corpo. Nos homens, boa
parte das imagens retrata o seu pênis. Nas mulheres, os seios, a bunda e a
sua vagina. Não é incomum encontrar no Sexlog perfis onde o avatar do per-
fil – ou seja, a foto principal do usuário – é um pênis ou uma bunda. O pênis
ou a bunda se erigidos como regiões chave na compreensão da sexualidade
desses perfis. Os homens-pênis e as mulheres-bunda são matrizes de um ramo
comum: a elevação do sexual ao nível subjetivo, enquanto erotização da iden-
tidade e supervalorização do sexual e de tudo que pode ser vinculado a ele, ou
seja, as fantasias, os desejos e as práticas que orbitam nesse meio.
Resumo
Introdução
Após a fala inicial de Mário, que parece estar lendo uma redação em sala
de aula, há o corte para a entrada da escola, onde vários alunos estão se movi-
mentando e, ao mesmo tempo, alguém anuncia pelo alto-falante que na parte
da tarde haverá carnaval na escola e todos os alunos devem trazer suas fantasias
dentro da mochila. As crianças vão entrando para a sala de aula e a professora
pergunta se todos se lembraram de trazer suas fantasias. Neste momento, o
espectador fica sabendo que o tema do carnaval da escola é 101 Dálmatas,
portanto, todas as fantasias serão iguais.
É interessante ressaltar que, em sua ingênua subversão, Mário recupera o
sentido de carnavalização, ao inverter papéis cotidianos e romper as amarras
das atribuições sociais. Esse fator já havia sido perdido na normatização escolar,
segundo a qual até mesmo o tipo de fantasia já havia sido pré-determinado e
moldado a partir de uma única produção cinematográfica.
Mário levanta-se, vai para um canto da sala e veste um vestido rosa que
está dentro de sua mochila, assim como solicitado através do alto-falante. Logo
em seguida, ele é repreendido pela professora que diz: “Mário, o que está
fazendo? Mário, eu estou falando... Você está vestido como uma menina.” A
cada fala da professora, há um suspense e a câmera corta para Mário, que con-
tinua sentado, mexendo em seu material escolar. Logo em seguida, um aluno
chamado Santos começa a chamá-lo de viadinho, boneca e menina. A pro-
fessora briga com Santos, lembrando que ele está numa sala de aula, porém
chama Mário e pede para que ele a acompanhe.
A professora conversa com Mário fora da sala e diz que a fantasia deve-
ria ser de 101 Dálmatas, não de garota. Enquanto isso, dentro da sala de aula,
Santos continua gritando e imitando o colega de maneira debochada. Santos
também é retirado de sala, pois causa indisciplina, além de praticar bullying
contra o colega. A professora deixa Mário e Santos na antessala da direção,
enquanto fala com o diretor o que aconteceu. Enquanto isso, a secretária escolar
olha com ar de deboche para Mário que espera a conversa entre a professora e
o diretor. A professora diz que ligou para o pai do menino vir buscá-lo.
A conversa entre professora e diretor é cheia de reticências e a questão
da indisciplina de Santos e o bullying contra Mário não é discutida, apenas o
vestido de Mário é tema da conversa. O pai de Mário chega à escola e pergunta
ao menino por que ele está com o vestido da irmã dele, o diretor recebe o pai
do garoto e enfatiza que ele está com a fantasia errada e no horário errado. O
pai escuta o diretor, pede desculpas e fala muito pouco sobre o ocorrido, mas
enfatiza que o menino gosta de vestir-se daquela maneira.
Enquanto espera o pai conversar com o diretor, Mário recebe o apoio de
Elenita, uma colega de sala, a única deficiente física e ela o incentiva a não usar
determinadas roupas e ter determinadas atitudes em público.
O filme termina numa cena em que o pai dá o terno para Mário, pega o
filho no colo e o leva para casa, como se quisesse protegê-lo do mundo e dos
preconceitos dos colegas e de todos na escola. Ainda, ao passar por Santos,
mesmo na presença do pai e com toda a proteção dele, o menino escuta, mais
uma vez o colega de sala chamá-lo de “Viadinho”.
É no colo do pai que Mário relaxa e vai despedindo-se da escola com
uma sensação de alívio. É como se a escola fosse para o menino o lugar em
que o carnaval, a diversão e a folia fossem impossíveis, visto que ali é necessário
usar a farda obrigatória, no horário estipulado e sem possibilidade de ser quem
ele quer ser. É preciso vestir-se como todos esperam que ele se vista.
Neste sentido, o filme ilustra bem o ambiente escolar como um espaço de
manutenção da ordem e do padrão, ou nas palavras de Ferrari, ao referir-se ao
status discursivo da instituição escolar:
O mais grave disso é que a Escola não apenas produz e transmite
conhecimento mas também contribui para produzir sujeitos e iden-
tidades, para reforçar divisões dos gêneros e das classes. Neste
sentido, a manutenção e/ou reprodução das diferenças e desigual-
dades se torna mais reveladora, pois corresponde à garantia de
continuidade de uma sociedade dividida, desigual e hierarquizada
(FERRARI, 2000, p. 90).
Referências
FERREIRA, Aurélio B. de Hollanda. Mini Aurélio. 4. ed. Rio de Janeiro: Nova Fronteira,
2001.
SOARES, Welington. Precisamos falar sobre Romeo... IN: Revista Nova Escola. Ano
30. no.279, Ed.Abril. Fev. 2015.p. 25-32.
VESTIDO Nuevo. Direção de Sergi Pérez. Produção de Sergi Pérez. Escândalo Films,
2007. Duração 13min 42. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=ktCXZg-
-HxGA. Acesso em 13 de jun. 2016.
Resumo
Introdução
Queering
Identidades e imaginários
virtual é, na maioria das vezes, inferiorizante, é esperado que, por parte deles,
haja interesse em desmantelar esse pré-construído negativo e torná-lo positivo.
Sobre o termo “imaginário”, Charaudeau (2015, p. 04) explica que se trata
de um “modo de apreensão do mundo”, vindo de um mecanismo de repre-
sentações sociais que constroem significações dos objetos, dos seres humanos
e seus comportamentos. Portanto, o imaginário viria como algo de dimensão
mais variável. Se o discurso constrói dimensões do real, que só fazem sentido
a partir de apreensões que o sujeito faz do mundo empírico (realidade a signi-
ficar), realmente não caberia um julgamento fixo, do tipo verdadeiro ou falso.
Pensando ainda no lado prático desse estudo, percebemos que os ima-
ginários que circulam sobre usuários de aplicativos de encontros gays são de
axiológico sobretudo negativo. Dentro dessa prática, quem está inscrito nesse
domínio enxerga com maus olhos os homens que lançam mão da tecnologia
para fins de relacionamentos e de encontros. Em outras palavras, há um julga-
mento negativo de algo de que o próprio julgador participa.
É o que encontramos nas coletas nos meses de janeiro e março de 2016
na cidade de Belo Horizonte (MG). Muitos usuários demonstraram discursiva-
mente em suas descrições de perfil como estavam insatisfeitos com a situação
de estarem na condição de usar um aplicativo de encontro. Outros ainda afir-
maram ser algo passageiro e, por essa razão, querem encontrar alguém o mais
rápido possível para sair daquela situação “ruim”.
Considerações finais
Referências
DIDIER, Eribon. Reflexões sobre a questão gay. Trad. Procópio Abreu. Rio de Janeiro:
Companhia de Freud, 2008.
MISKOLCI, Richard. Discreto e fora do meio – Notas sobre a visibilidade sexual con-
temporânea. Dossiê: Percursos digitais: corpos, desejos, visibilidades. Caderno pagu
(44), janeiro-junho de 2015: 61-90.
Resumo
O presente artigo traz algumas reflexões sobre os estereótipos que são cos-
tumeiramente relacionados à comunidade gay, baseadas em uma análise do
discurso do vídeo Não é por ser gay que eu..., produzido pelo canal do youtube
Põe na Roda. Para promover esta discussão, valeremo-nos das contribuições
teóricas da análise do discurso desenvolvida por Charaudeau (2008), por abor-
dagens discursivas sobre estereótipos no trabalho de Lysardo-Dias (2006) e por
discussões sobre identidade gay nos trabalhos de Almeida (2016) e Lau (2016).
A partir de nossas análises, acreditamos que o produto se propõe a desmitificar
alguns destes estereótipos, mas pode, na contramão, acabar reforçando-os por
meio das estratégias discursivas utilizadas.
Palavras-chave: gays; estereótipos; análise do discurso; vídeo; Põe na Roda.
1. Introdução
sujeito em relação a um campo discursivo, aos valores que a ele podem ser
atribuídos. Ao se posicionar em determinado campo, o sujeito indicará a adesão
a determinados valores e estes passarão a compor sua identidade. Por exemplo,
um sujeito que dentro do campo discursivo religioso se enuncia como cristão
ou como ateu, terá tais qualificações (e os valores a elas associados) relaciona-
dos à sua identidade.
Nesse processo de produção de um ato de linguagem (e, por conseguinte,
na apresentação e construção das identidades), somos levados, de modo invo-
luntário ou não, a nos basear em representações sociais, numa tentativa de
conferir maior legibilidade para nosso discurso. Conforme Moscovici (2003),
as representações sociais têm o objetivo maior de familiarizar aquilo que ainda
não é familiar, trazendo para o universo consensual, aquilo que é largamente
difundido.
Dentre as formas de representações sociais, acreditamos que os estere-
ótipos costumam ser mais facilmente desidentificáveis. Segundo Lysardo-Dias
(2006, p.27) “o estereótipo é uma representação fixada e partilhada por uma
coletividade que depende dele para interagir”. É possível perceber que os
estereótipos funcionam como um modo de conhecimento da realidade e de
identidade social, possibilitando uma visão compartilhada que favorece a inter-
compreensão. Todavia, Procópio-Xavier nos alerta:
Nessa perspectiva, o estereótipo é percebido como uma imagem
pré-estabelecida e cristalizada, construída a partir da influência
e dinâmica dos diversos grupos sociais. O recurso ao estereótipo
pode auxiliar na construção das identidades sociais, bem como
fomentar impressões preconceituosas e discriminatórias em função
de uma identificação pejorativa do outro. Vale ressaltar, contudo,
que estes estereótipos irão variar de grupo para grupo, de um con-
texto a outro. (PROCÓPIO-XAVIER, 2012, p.64)
5 De acordo com entrevista dada por Vampeta no programa Roberto Justus Mais, exibido pela Rede
Record em setembro de 2012.
4. Considerações Finais
Por meio de nossas análises, foi possível perceber que o uso do estereó-
tipo como estratégia linguístico-discursiva parece ser de grande validade para
a elaboração de atos de linguagem em que se pretende problematizar algumas
questões e convencer o outro de determinadas posições. Adotar imagens cris-
talizadas na sociedade como recurso linguístico-discursivo tende a fazer com
que o público compreenda sobre o quê se está falando para, num segundo
momento, a partir da articulação texto e imagem e pela repetição do ato elocu-
tivo proposto no vídeo possamos desconstruir a própria imagem estereotipada.
De todo modo, ao recorrermos aos estereótipos como forma de tematizar,
de ilustrar um determinado propósito discursivo, corremos o risco de, mesmo
sem intenção, reforçar o próprio modelo cristalizado. Quando articulamos dife-
rentes estereótipos e estes se referenciam numa tentativa de demarcação de
identidade de posicionamento, podemos incorrer numa valoração depreciativa
da representação que se apresenta como diferente.
Destacamos aqui que o trabalho do canal tenta valorizar a alteridade e a
diferença, mas é possível que esteja contribuindo para o reforço da estereotipia,
principalmente por causa do humor. É preciso ressaltar, entretanto, que estas
são análises iniciais e, como o projeto ainda está sendo desenvolvido, precisa-
mos, pois, de mais estudos e articulação entre referenciais teóricos e o material
empírico, no que se refere à discussão de estereótipos, para obter resultados
conclusivos.
5. Referências bibliográficas
LAU, H. D. Que “gay” é esse na comunidade gay? Revista Temática, ano XII, n. 02.
NAMID/UFPB, fevereiro de 2016. Disponível em:
http://www.ies.ufpb.br/ojs/index.php/tematica/article/view/27810/14943. Data de
acesso: 10 de julho de 2016.
Resumo
Introdução
Dessa maneira, o gênero dramático pode ser visto, então, como uma fer-
ramenta para evidenciar as intencionalidades dessas representações nos filmes,
pois, por se tratar de um gênero eivado de emoções e sensações, a legitimidade
do discurso pode ser imediata.
Sabemos que durante esses 121 anos de existência do cinema, muitos
filmes sobre temáticas LGBTT estrearam no mundo inteiro; muitos com per-
sonagens homossexuais (bem representados ou não) e muitos produzidos por
produtores e diretores publicamente assumidos. Com essa perspectiva, os crité-
rios usados para a escolha do filme a ser analisado e a metodologia empregada
neste trabalho foram: i) película que tivesse personagens LGBTT como protago-
nistas; ii) que a produção fosse nacional.
seu entorno. Nesse sentido, Moreno (2001) confirma que, além de pouco explí-
cita, a homossexualidade era todo o tempo associada ao domínio do risível,
realçado por um toque efeminado nos trejeitos e vozes dos personagens, o que,
para este autor, faria parte de um modelo severo e preconceituoso.
Complementando o pensamento de Moreno (2001), que diz respeito à
tendência majoritária dos longas-metragens nacionais, por ser vulgar, a perso-
nagem homossexual, associada a doenças, prostituições, vícios e crimes, é uma
trivialidade imposta frontalmente na vida cotidiana e, com isso, as opressões
ganharam espaços. E não podemos esquecer a problemática de raças e etnias
apresentadas nos filmes, nos quais as personagens homossexuais – protagonis-
tas ou não – usualmente são brancas e de condições financeiras elevadas.
Considerações finais
Referências
MARTINO, Malu. Como esquecer. Produção de Elisa Tolomelli. Europa Filmes, 2010.
online.
Raquel Pinho
Doutoranda em Educação (PUC-Rio) Pontifícia
Universidade Católica do Rio de Janeiro - Educação
raquel.aps@gmail.com
Rachel Pulcino
Doutoranda em Educação (PUC-Rio) Pontifícia
Universidade Católica do Rio de Janeiro - Educação
rachelpulcino@gmail.com
Felipe Bastos
Doutorando em Educação (PUC-Rio)
UFJF/Colégio de Aplicação João XXIII - Ensino de Biologia
bastos.fe@gmail.com
Resumo
Introdução
Metodologia
1 Optamos por referenciar autoras e autores com nome e sobrenome. Consideramos esta opção uma
tentativa de evidenciar os gêneros de pesquisadoras e pesquisadores e, por consequência, as mu-
lheres na pesquisa, o que pode contribuir com o reconhecimento e a valorização da identidade
feminina no campo e de forma mais ampla (Raquel PINHO; Rachel PULCINO, 2016).
2 https://www.google.com.br/
2014/2 0 7 20,00
2015/1 5 83,33 15 42,86
2015/2 0 10 28,57
Somatório 6 35
3 A regra gramatical da língua portuguesa que define o masculino como elemento neutro em subs-
tantivos e adjetivos foi deliberadamente invertida para o feminino, independentemente do sexo dos
sujeitos ao qual o termo se refere. Seguindo esta lógica, os substantivos e adjetivos usados no mas-
culino neste texto ocorrem somente em referência específicas a sujeitos masculinos (Felipe BASTOS,
2015). “É, pra mim, estranho que pessoas sofisticadas em questões de poder, política e linguagem
continuem isentando a gramática de qualquer cumplicidade na perpetuação de relações de de-
sigualdade. (...) Apesar das dificuldades de lidar com essa questão em uma língua extremamente
flexionada como o Português, continuo achando que vale a pena tentar encontrar soluções (N. do
T.)” (Elizabeth ELLSWORTH, 2001, p. 75)
Somatório 7 38
Biológica 0 2 5,71
Sociocultural 5 83,33 23 65,71
Abordagem
Criminalista 0 5 14,29
Psicológica 1 16,67 7 20,00
Ética 0 6 17,14
Pedagógica 3 50,00 20 57,14
Somatório 9 63
Resultados e Discussão
Sobre o gênero das autoras, apesar de nos dois veículos de notícias haver
uma maior quantidade de autores, acreditamos não ser possível traçar muitas
considerações, uma vez que também há uma alta taxa de artigo não assinados.
O período principal de publicação das notícias ficou em torno do pri-
meiro semestre de 2015. Isso parece ocorrer devido ao momento dedicado à
formulação dos planos estaduais e municipais de educação, de acordo com o
Plano Nacional da Educação (PNE), sancionado em junho de 2014 (BRASIL,
2014), no qual o debate das temáticas de gênero e sexualidade enfrenta retro-
cessos, porque as discussões sobre tais temáticas promovidas pelas 1ª e 2ª
Conferência Nacional de Educação (CONAE), em 2010 e 2014, foram vetadas
no documento.
Se o gênero das autoras não nos permite concluir muito sobre os tex-
tos, a localidade das reportagens traz dados mais interessantes. A revista Nova
Escola é uma revista voltada para o Brasil, não tem correspondentes externos e
não indica em qual região do país a matéria foi escrita. Porém, é editada pela
Fundação Victor Civita, cuja sede fica na cidade de São Paulo. Ou seja, por
mais que não esteja explícito, isso localiza preocupações e interesses, isso diz
Considerações Finais
Bibliografia
Resumo
Introdução
1 Safo viveu na cidade de Mitilene entre os século VII e VI a.C., na ilha grega de Lesbos. É considerada
uma das maiores poetisas líricas da antiguidade. Seus poemas falavam sobre amor e beleza, e em
sua maioria eram dirigidos às mulheres. Por abordar a temática homoerotica, boa parte da sua obra
foi queimada durante a Idade Média, restando da sua produção literária apenas um poema completo
e alguns fragmentos. A partir do século XIX o relacionamento sexual entre mulheres começou a ser
denominado de lesbianismo ou safismo, termos que fazem referência à autora. (MONTEMAYOR,
1986.).
de receber diversas indicações ao Oscar, foi também eleito pelo American Film
Institute, um dos 10 melhores filmes de 20153.
Considerações Finais
Referencias
HIGHSMITH, Patricia. Carol. Porto Alegre: L&PM, 2015. Tradução de Roberto Grey.
Resumo
Introdução
O gênero submisso
De acordo com Scott (1995, pág.86), gênero é uma categoria útil de aná-
lise para compreender diversas esferas de nossa sociedade, sendo um aspecto
relacional e que não deve ser utilizado como sinônimo de mulher, sendo com-
preendido como “[...] um elemento constitutivo de relações sociais baseado
nas diferenças percebidas entre os sexos, e o gênero é uma forma primeira de
significar as relações de poder. [...]”.
Nesse sentido, a representação e os valores referentes ao feminino são
construídos em uma relação diametralmente oposta à representação e aos valo-
res referentes ao masculino, de maneira a expressar relações desiguais de poder,
no qual o feminino surge como elemento submisso e dominado pelo masculino.
De Lauretis (1987), leva até o cinema a perspectiva exposta acima, quando
diz que este coloca-se como uma tecnologia de gênero, no sentido de que o
Um dos desenhos que Vera pinta nas paredes é uma mulher que, no lugar
da cabeça, tem uma casa. Isso nos leva a refletir: não será uma representação
de que sua real morada, a morada de Vicente, o lugar onde ele realmente vive,
é em sua cabeça, em sua mente? Pois o corpo feminino não pode abrigar o
corpo de Vicente, então ele só pode existir na mente de Vera. Isso também se
mostra no interesse de Vera pela yoga, a partir do momento em que a instrutora
fala que os exercícios permitem ter a existência que cada um quiser ter, que os
exercícios libertam a mente para sermos quem quisermos ser. É também, em
sua cabeça/casa que se dá a resistência da identidade real de Vicente e a nega-
ção a aquela imposta. Da mesma maneira que travestis e transexuais negam
o corpo masculino apesar de toda a agressão que sofrem nas várias instâncias
da sociedade e resistem se vestindo e se maquiando conforme ao gênero que
corresponde ao íntimo de seu ser.
Em outra cena, Vera demonstra tristeza ao afirmar, frente a um colega de
Robert, que chegou ali pelos próprios pés e que sempre foi uma mulher, olhando
uma antiga foto sua estampada nos jornais, na seção de desaparecidos. Por fim,
Vera mata Robert e consegue voltar para encontrar sua mãe. E como explicar
para ela que agora Vicente habita outra pele? Como explicar a si mesmo que
Vicente deverá habitar a pele de Vera? Com essa reflexão, conseguimos alcan-
çar toda a crueldade do ato empregado por Robert: além de utilizar o corpo de
Vicente, transformado em Vera, como mero instrumento da satisfação de seus
desejos, de utiliza-lo como cobaia para seus experimentos científicos, ele ainda
obriga Vicente a habitar uma pele que não é a sua, talvez para sempre.
Considerações finais
Referências
SCOTT, Joan Wallach. Gênero: uma categoria útil de análise histórica. Educação &
Realidade. Porto Alegre: vol. 20, n.02, jul/dez. 1995, págs. 71-99.
Filmografia
- Os olhos sem rosto (1960) – Direção: Georges Franju/Roteiro: Pierre Boileau, Thomas
Narcejac, Jean Redon, Claude Sautet e Pierre Gascar
Bruno de Freitas
Doutorando, Programa de Pós-graduação em Geografia, IG/UFU.
freitasbrunode@gmail.com
Resumo
Introdução
2 O aplicativo usa a geolocalização do smartphone para mostrar indivíduos com interesses em co-
mum, em uma determinada área, podendo ela ser local ou global.
Figura 10: Grindr: Imagens da página oficial do aplicativo, 2015. Fonte: GRINDR, 2015.
Figura 11: Scruff: Imagens da página oficial do aplicativo, 2015. Fonte: SCRUFF, 2015.
Por meio das figuras acima, é possível observar que além dos usuários
estabelecerem contato com quem esteja na proximidade, podem encontrar
rapazes em diversos locais do globo, pois o aplicativo apresenta pessoas dis-
poníveis para sociabilização em diferentes escalas. Os indíviduos estabelecem
comunicação por meio de mensagens de texto, fotos, vídeos e localização.
Além disto, podem estabelecer suas preferências de busca, pois o aplicativo
filtra e apresenta apenas os perfis de acordo com o estilo procurado.
Considerações
Por meio das análises realizadas neste trabalho, é possível afirmar que
existem diversos tipos de sociabilização LGBT, além disto, foi possível perce-
ber que, em sua grande maioria, os acessos e “inclusão” a indivíduos pode
se dar por meio do acesso às tecnologias. No entanto, todas estas formas de
“inclusão”, não são suficientes para garantir a aquisição de direitos de todas as
pessoas pertencentes ao grupo LGBT.
Por meio das análises realizadas, é possível afirmar que com o surgimento
da internet, o ciberespaço se caracteriza como um novo meio de comunicação,
que possibilitou também novas formas de sociabilidade LGBT, por meio das
redes sociais e/ou virtuais.
Tratando dos aplicativos apresentados, é possível afirmar que as manifes-
tações vinculadas à sexualidade ocorrem no âmbito virtual se materializando
(ou não) no âmbito real. É possível afirmar que as redes sociais LGBT foram
fundamentais para a alteração de práticas socioespaciais deste grupo, que ocor-
riam apenas no âmbito das espacialidades fixas, tais como os guetos e/ou as
boates gays, por exemplo.
Referências
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Cartografia e Tecnologias de Informação em Geografia. In Actas do XII Colóquio
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Out. 2015.
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play.google.com/store/apps/details?id=com.appspot.scruffapp&hl=pt> Acesso em 20
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Resumo
Introdução
A tolerância em xeque
Considerações finais
Referências
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SOUZA, Tedson da Silva. Fazer banheirão: as dinâmicas das interações homoeróticas nos
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Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas, Universidade Federal da Bahia, 2012.
AS CIBERTECNOLOGIAS DA SEXUALIDADE NA
SOCIABILIDADE ONLINE DAS JOVENS ESTUDANTES
NA CONTEMPORANEIDADE
Resumo
Introdução
Tecnologias do Poder
1 The Nu Project é um projeto de origem estadunidense que fotografa mulheres de todo o mundo. Nas
informações do site as idealizadoras Matt e Katy explicam que não há modelos, nem maquiagem, as
mulheres tiram as fotos nos espaços da sua própria casa em que se sente o mais confortável possível.
Desde 2005 elas fotografaram 250 mil mulheres na America do Sul, America do Norte e Europa.
2 O projeto sem fins lucrativos tem o objetivo de ser uma fonte das vozes femininas presentes nos cor-
pos de mulheres fotografadas. O site agrega imagens, podcasts, vídeos e ensaios escritos para falar
das diferentes realidades de mulheres pelo mundo.
3 Projeto pessoal da fotógrafa Camila Cornelsen que pretende empoderar mulheres para ver e admirar
outras mulheres e a se identificar com o corpo alheio.
Cibertecnologias de Sexualidade
Referências
BELELI, Iara. O Imperativo das Imagens: construção de afinidades nas mídias digitais.
Cadernos Pagu (44), jan-jun, p. 91 – 114, 2015.
SIBILIA, Paula. O Show do Eu: a intimidade como espetáculo. Rio de Janeiro, Nova
Fronteira, 2008.
Resumo
Este trabalho busca refletir sobre a importância das questões cotidianas para o
debate político sobre as desigualdades sociais. Como eleger questões do dia a
dia para pautas dos debates públicos? Quais são as dificuldades que a popula-
ção LGBT encontra para tornar seus desafios diários em tema de lutas sociais?
O que separa o privado do público? Essas questões nortearão o diálogo com a
obra Milk – A voz da Igualdade (2009). Este filme proporciona o levantamento
de questões sobre a militância de gays, a visibilidade dos homossexuais e as
dificuldades encontradas com a repressão da sociedade e dos representantes
políticos. Neste artigo, resolvemos nos deter a analisar a problematização feita
por Milk sobre a politização do cotidiano para que diferentes formas de mascu-
linidades tornem-se visíveis.
Palavras-chave: politização; masculinidades; LGBT; poder; privado.
Introdução
Essa tensão entre privado e coletivo pode ser verificada na história das
mulheres na sociedade. Até os anos 40, enquanto o lugar do homem branco era
a cena pública, algumas mulheres estavam destinadas apenas à cena privada,
ao espaço da família e dos filhos. O que era considerado de interesse público
e político deveria estar representado apenas pelos homens, em sua maioria
homens brancos.
O questionamento sobre a definição destas fronteiras entre o público e o
privado pode ser observado nas lutas das mulheres por igualdade e equidade.
Na primeira onda feminista, acontecida entre os séculos XIX e XX, as principais
reivindicações eram o direito ao voto, à propriedade, à educação e ao fim do
casamento arranjado. Uma referência cinematográfica sobre esse período é o
filme “As Sufragistas”, que apresenta a luta das mulheres pelo acesso ao voto,
entre outras coisas. Para exemplificar a referência do filme temos a cena em
que uma das mulheres faz a defesa do direito ao voto diante de um parlamento
representado somente por homens e a reação do parlamento foi a de total
incompreensão da reinvindicação porque elas se já eram representadas por
seus maridos e filhos. O filme também aborda a questão da fragilidade entre a
cena privada e pública com a personagem Maud Watts que se envolve com o
movimento das sufragistas.
Na segunda onda feminista, as reinvindicações eram em torno dos movi-
mentos de liberação feminina, entre os anos 60 e 70. Após a conquista de
alguns direitos, as mulheres se viram na necessidade de questionar desta vez
as condições de vida e trabalho das mulheres, o olhar sobre as diferenças na
sexualidade de homens e mulheres, a construção da imagem de mãe e dona de
casa, a violência doméstica e criminalização do aborto.
Interessante é observar que as mulheres começaram a revelar suas vidas
pessoais a fim de questionarem as regras de convivência na sociedade divididas
entre homens e mulheres, conforme afirma Lins, 2016.
“O pessoal é político” foi o principal lema da segunda onda femi-
nista. As militantes encorajavam as mulheres a compreenderem
O Político e o Público
De acordo com o autor, os estudos feministas foi uma das rupturas teó-
ricas decisivas que alterou uma prática acumulada em Estudos Culturais (Hall,
2003). De que forma a história de Milk também não representa esse tipo de
proposta de ruptura e de tensão entre o público e o pessoal?
Milk liderou um movimento de luta pelos direitos das minorias sexuais
e contra a onda de conservadorismo, principalmente cristão, que se afirmava
no cenário político. “Estamos saindo para lutar contra as mentiras, os mitos, as
distorções. Estamos saindo para dizer as verdades sobre os gays, porque estou
cansado da conspiração do silêncio” (Harvey Milk). Como forma de resistência,
ele convocou todos os homossexuais a se assumirem publicamente a fim de
Considerações Finais
Referências Bibliográficas
HABERMAS, Jürgen. Direito e democracia: entre facticidade e validade. Vol. II. Rio de
Janeiro: Tempo Brasileiro, 1997.
Raquel Quirino
Pós-Doutora em Educação
Centro Federal de Educação Tecnológica de Minas Gerais - CEFET-MG
Departamento de Educação
Programa de Pós-Graduação em Educação Tecnológica
quirinoraquel@hotmail.com
Resumo
Introdução
Até o final do século XIX, leis em todo o mundo impediam que mulheres
possuíssem propriedade em seus nomes, inclusive intelectual. Mesmo com a
mudança nas leis, a sociedade dá pouca ênfase nas contribuições femininas na
ciência e tecnologia (VASCOUTO 2015).
Matsura (2016) alerta que projetos recentes tentam recolocar na histó-
ria nomes de programadoras que criaram o sistema do primeiro computador
eletrônico digital. Elas são minoria na indústria de tecnologia, mas, sem seu
trabalho, provavelmente os computadores não existiriam como são hoje. Foi
pelas mãos femininas que o primeiro algoritmo para computador foi escrito, no
século 19. Mulheres como Ada Lovelace e Grace Hopper foram fundamentais
para o avanço dos softwares. O sistema que serviu como base para o celular
foi criação de uma atriz de Hollywood. Seis programadoras do projeto ENIAC
criaram o sistema do primeiro computador eletrônico digital, e ficaram relega-
das a segundo plano.
Segundo Lindamir Casagrande, citada por Matsura (2016) a história da
participação das mulheres na Ciência e Tecnologia na ainda não foi escrita. Ada
Lovelace e Grace Hopper até conseguiram algum reconhecimento, mas elas
não foram as únicas que produziram ciência e tecnologia na área de TI.
Assim, na tentativa de resgatar as contribuições dessas mulheres e dar
visibilidade aos seus trabalhos na área de TI, segue-se um breve histórico de
cada uma delas.
de redes sem fio conhecidas hoje em dia, tais como: Bluetooth, GPS e Wi-Fi.
Usando os princípios de notas musicais no piano, Hedy e Antheil criaram um
sofisticado aparelho que causava interferência em rádios para despistar radares
nazistas. Em 1940, patentearam o projeto “frequency hopping” e Hedy usou o
seu verdadeiro nome: Hedwig Eva Maria Kiesler.
CARDOSO (2007) escreveu sobre Grace Murray Hopper Formada em
Física e Matemática, enfrentou difícil situação nos EUA por querer ir mais além
do que casar e ser dona de casa, o que era comum para mulheres da época.
Em 1934 já era Ph.D. em matemática e uma carreira sólida como professora.
Com a 2ª Guerra Mundial se alistou na Waves, divisão criada espe-
cialmente para mulheres, que cuidariam das áreas burocráticas, enquanto os
homens lutavam nas linhas de frente. Conquistou o 1º lugar na turma, se for-
mando Tenente e sendo designada para o projeto de computação de Harvard,
programando o Mark I, um dos primeiros computadores do mundo.
Com o fim da guerra, continuou em Harvard trabalhando para a Marinha
até 1949, depois de ter ido para a Reserva Naval. Desenvolveu o Univac I
modelo mais próximo de um computador de verdade e criou o compilador, que
mudou o mundo da informática. Sua ideia não foi levada a sério, computadores
eram máquinas que calculavam, não “compilavam”. A ideia de um programa
que interpretasse uma linguagem mais próxima do inglês do que código de
máquina era alienígena para os profissionais e cientistas da época. Em 1959 seu
trabalho já era reconhecido, resultando em boa parte das especificações do
Cobol.
Nos anos 1960/1970 pesquisou e definiu conceitos como padrões e
certificações para homologação de softwares, implementando o uso e a padro-
nização do Cobol na Marinha. Deu baixa em 1986, aos 79 anos, no posto de
Contra-Almirante. Imediatamente contratada pela empresa “Digital” como con-
sultora sênior, uma das maiores mentes femininas da Ciência da Informação,
faleceu em 1992 aos 85 anos. (CARDOSO, 2007).
Alcantara (2008) escreveu sobre As seis programadoras do ENIAC também
conhecidas como as pioneiras do ENIAC. O primeiro computador eletrônico
Eniac (Electronic Numerical Integrator and Computer) foi criado em 1946 e
projetado para fazer cálculos de artilharia para o exército americano e sua pro-
gramação foi feita por mulheres. Foi utilizado pela primeira vez para calcular
trajetórias balísticas. Estrutura gigantesca: 18000 válvulas, pesando 27 toneladas
era a primeira máquina capaz de ser programada para execução de cálculos
Considerações finais
Referências
CARDOSO, Carlos. Grace Hopper, a Maior de todas as Geeks Site Meio Bit. 2007.
Disponível em < http://meiobit.com/97634/grace-hopper-a-maior-de-todas-as-geeks/
> Acesso em: 10 abr. 2016.
Resumo
Introdução
1 Tradução minha, assim como de todas as outras citações em “língua inglesa” utilizadas neste texto.
Nudes em movimento
2 http://www.cam4.com.br/.
Pensando a pós-modernidade
Considerações finais
Referências
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2001
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political consequences. Londres: Sage publications, 2001
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Routledge, 1999
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and image of computer-based pornography. History and Technology, v. 22, n. 1, p.
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PEIRCE, C. S. Semiótica. Trad. José Teixeira Coelho Neto. São Paulo: Perspectiva, 2005
VERTOVEC, S. Superdiversity and its implications. Ehtnic and racial studies, Londres,
v. 30, n. 6, p. 1024-1054, 2007
Resumo
Pensar os gays velhos é algo que quase sempre existe um silenciamento. Mesmo
assim, em alguns momentos esse silêncio é rompido quando aparecem, de
forma sucinta matérias sobre velhice e velhos sendo entrevistados em publica-
ções voltadas para o público gay. A partir desta premissa, este trabalho, versão
parcial de pesquisa desenvolvida no doutorado em História pelo PPGH/UFPE,
tem como objetivo debater qual o espaço que o periódico Lampião da esquina
(1978) e a revista Sui Generis (1995), ambos voltados para o público homosse-
xual, oferecerão em suas páginas para os gays velhos, em específico, e de que
forma a velhice será dita por essas publicações.
Palavras-chave: velhice; sexualidade; Lampião da esquina; Sui Generis.
Introdução
Acendendo o Lampião
1 http://grisalhos.wordpress.com
2 No ano de 1977 o presidente da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), Dom Aloísio
Lorscheider faz uma crítica ao que ele denominou de processo gradual de permissividade no Brasil
que, de acordo com ele, teria tido início “com o divórcio, agora foi a vez da pílula, amanhã será o
aborto e, depois, o homossexualismo. Aí, será o fim.” “INPS também fará controle familiar” - Estado
de São Paulo, 29 de julho de 1977, p.14. http://acervo.estadao.com.br/pagina/#!/19770729-31399-
nac-0014-999-14-not
A Sui Generis foi uma publicação que oficialmente surgiu em 1995, não
se dizia militante mas um espaço de “discernimentos sérios e futilidades chics
dirigidas para homens e mulheres gays” (SUI GENERIS, ed 01, p. 60). Segundo o
os gays que tem cabelos grisalhos e o rosto marcado pelos anos passam por
serem bichas velhas. Ele menciona os anúncios publicados em revistas e jornais
referentes à procura de parceiros. De acordo com Trevisan, 90% deles buscam
parceiros de até 40 anos. Aos velhos, restariam a solidão e a morte.
Se envelhecer é um processo implacável que aponta para um caminho
sem volta, entre os homossexuais o espectro da solidão, frequentemente, é mais
acentuado porque se vive sozinho e até mesmo longe da família. Por isso, no
chamado “mundo gay”, o olhar do outro pode ser um espelho feroz, pois há a
comprovação de que não se é mais desejado.
Como podemos perceber nesse fragmento do texto. “Outro dia, numa
boate gay, duas bichas riram na minha cara, surpresas por encontrar no banheiro
um velho que não se supunha estar ali” (p.55), relembra o articulista da revista.
O olhar que acusa, que reprova e que rejeita, fez com que Trevisan, e possi-
velmente outros gays velhos, fosse se afastando desses espaços de diversão
voltados para o público gay.
Mas o autor se mostra ciente das construções subjetivas veiculadas pelos
discursos e afirma que esses olhares acusadores nada mais são do que fruto
de “um ideário social de supremacia da juventude, tida como um dos valores
básicos no mundo moderno e decantada como um bem inestimável” (p.55).
E lembra ainda que grande parte da indústria de consumo vai se apoiar no
binômio casal heterossexual e jovem, sendo a juventude heterossexual um
importante nicho do capitalismo. Inclusive a própria revista Sui Generis vende
para os seus leitores um padrão de juventude como delata Trevisan. “Vejam-se
as revistas gay (inclusive a Sui Generis): só trazem fotos de rapazinhos boniti-
nhos e/ou musculosos” (p.55).
Ora, se ser jovem é ser possuidor de um importante bem, cabe proteger
o máximo possível esse bem para não o perder e passar a ser desprezado, ser
visto como uma pessoa abjeta entre os pares.
Apesar do choque que teve ao se perceber como velho e não mais pos-
suidor de um bem bastante cortejado e difícil de manter, que é a juventude,
o Trevisan passou a perceber o quanto se tornou desejado por rapazes mais
jovens. Aos poucos foi percebendo que o amor intergeracional é tão natural
quanto se pensava. Mas, apesar de ser natural, os casais sofrem preconceito,
principalmente o mais jovem da relação, pois têm que se impor em um meio
quase sempre hostil.
“Certa vez, presenciei uma árdua discussão entre dois amigos bichas,
quando um deles confessou que gostava de velhos e o outro, revoltado, acu-
sou-o de ser um ‘tarado e neurótico’, pois normal é gostar de ‘rapazes viris’”,
comenta Trevisan. As máquinas de produção de subjetividades, da qual falam
Guatarri e Rolnik (2005) mostram que o correto é desejar pessoas jovens, boni-
tas, malhadas, dado que representam vitalidade, saúde, possuem um corpo viril,
que pulsa desejo e que desejam. Logo, ir contra esses parâmetros é transgre-
dir a norma, visto que o que está sendo desejado são os refugos, os “restos
humanos”, os corpos sem potências. “Admiro particularmente esses caras que
cultivam o amor intergeracional, nadando contra a corrente do padrão global e
hollywoodiano de beleza. Claro que fico gratificado porque através deles des-
cobri o charme dos meus 50 anos” (p.56).
Buscando-se redefinir uma imagem positiva do envelhecimento, a pala-
vra “velho” é tida como agregador de preconceitos. Então outras terminologias
passaram a ser inventadas: idosos, terceira idade, melhor idade. Cada uma pos-
suindo uma grande variedade de significados e representações. Mesmo assim,
nas matérias das duas publicações aqui analisadas prevalecem o paradigma de
que ser velho é sinônimo de inatividade, inutilidade, impotência, fragilidade,
solidão. Não possuidor da vitalidade física, o corpo perde a virilidade, torna-se
opaco, sem vida. No mundo moderno, estar velho e, consequentemente, viven-
ciar a velhice é aproximar-se da morte (ALBUQUERQUE JR, 2010).
É interessante percebermos que não são apenas os gays velhos que sofrem
preconceitos por continuarem na ativa, vivos, desejando e sendo desejados.
Pessoas que namoram esses velhos também sofrem preconceito por tal prática.
Como se existisse uma idade limite para ser namorado, desejado e desejar. O
grupo que sofre discriminação e preconceito também discriminará, dentro do
próprio meio, aqueles que quebram as “regras” do que é permitido entre eles.
Mesmo assim, e apesar do preconceito, casais intergeracionais se formavam
mostrando que toda forma de amor é possível e que vale a pena ser vivenciada.
E os velhos gays os quais continuavam se relacionando e amando, resistiam em
aceitar a imagem de pessoas assexuadas, passivas e sem interesses pessoais.
Referências
Resumo
1 Primeira revista não pornográfica destinada ao público brasileiro. Circulou entre os anos de 1995 e
2000.
Se nos atentarmos bem para o modo como são elaborados inúmeros pro-
dutos midiáticos, dentre eles as revistas, há inúmeras técnicas através das quais
se propõe a todos nós que façamos minuciosas operações sobre nosso corpo,
sobre nossos modos de ser, sobre as atitudes a assumir. Estamos falando aqui
do governo de si pelo governo dos outros – tema exaustivamente tratado por
Foucault (Fischer, 2002).
Neste momento, alguns rastros vão se formando e me encaminhando a
debruçar-me de forma mais efetiva sobre alguns conceitos que dialogam com
os artefatos culturais, com as mídias e, especificamente, com o meu objeto de
pesquisa, a revista JUNIOR.
Referências
MELO, José Marques de; TOSTA, Sandra Pereira. Mídia & Educação. Belo Horizonte:
Autêntica, 2008.
SILVERSTONE, Roger. Por que estudar a mídia? Tradução: Milton Camargo Mote. São
Paulo: Loyola, 2002.
Resumo
Este trabalho tem como objetivo analisar as práticas discursivas (re) produzidas
pela revista G Magazine acerca de gênero, sexualidade, desejo, sexo e corpo.
Procura-se detectar a interferência dos sentidos e significados referentes aos afe-
tos, desejos e comportamentos, bem como à pornografia e ao prazer sexual na
construção das subjetividades dos gays brasileiros após a década de 1990, perí-
odo de profundas transformações nas relações sociais, políticas e culturais da
comunidade LGBT. As fontes para a pesquisa constituem-se os conteúdos edi-
toriais da G Magazine (1997-2008). Os referenciais teórico-metodológicos são
fundamentados nos Estudos Queer e na Nova História Cultural do Imaginário,
das Representações Sociais e da Análise do Discurso.
Palavras-chave: subjetividades; gênero; sexualidade; desejo; corpo.
Introdução
1 Seguindo a perspectiva de Beatriz Preciado (2010), a noção de pornografia nesta pesquisa não pre-
tende emitir um juízo moral ou estético, mas identificar novas práticas de consumo e da imagem,
suscitadas por novas técnicas de produção e distribuição, e codificar um conjunto de relações entre
imagens, prazer, publicidade, privacidade e produção de subjetividade.
2 Em resumo, por Nova História Cultural, entende-se aqui uma virada no campo historiográfico, em
que, a partir do diálogo interdisciplinar com as ciências sociais, a linguística, a psicologia, a filoso-
fia, a noção do documento como “espelho do real” é problematizada, assim, os documentos não
são considerados como reflexos transparentes do passado, mas ações simbólicas com significados
diferentes conforme a intenção de quem os elaborou. Caracteriza-se pelo rompimento da ideia de
cultura popular e cultura erudita, bem como pela reflexão das relações sociais e econômicas como
campos de produções culturais.
3 Foram distribuídas apenas quatro edições com o título de Bananalouca, a quinta edição teve como
título Bananalouca apresenta G Magazine, e em outubro de 1997 a revista recomeça com o número
um, já com o nome definitivo: G Magazine. (SILVA, 2010, p. 37).
4 Em 2008, devido a problemas financeiros, a revista é vendida para o grupo norte-americano Ultra
Friends International, que modificou o caráter das publicações, diminuindo o espaço para as maté-
rias e colunas de comportamento, e aumentando o número de ensaios.
5 Por sexualidades “abjetas”, seguindo as reflexões de Butler (2001), entende-se aqui o conjunto de
práticas sexuais que não se enquadram na norma naturalizada socialmente no binarismo heteros-
sexual, no qual os indivíduos com sexualidades fora do padrão de oposição entre sexo/desejo são
categorizados como “anormais” e inferiores.
6 Em síntese, o pós-estruturalismo é caracterizado pelos estudos de Michel Foucault, Jacques Lacan,
Jacques Derrida, Gilles Deleuze, Félix Guattarri, dentre outros. Miskolci (2009) destaca que as obras,
A história da sexualidade I: A Vontade de Saber, de Foucault, e Gramatologia, de Jacques Derrida,
publicadas em inglês em meados dos anos de 1970, são consideradas marcos para as formulações
queer.
7 Os Estudos culturais se originaram do marxismo, porém com uma critica às correntes ortodoxas que
não respondiam “às demandas de grupos sociais de sua época, inicialmente operários, aos quais se
somaram os imigrantes, negros, mulheres e homossexuais.” (MISKOLCI, 2009, p. 159).
como raça, etnia, nacionalidade, religião ou classe, que não se encontram des-
vinculados da sexualidade.
8 As considerações analíticas que apresentamos neste texto referem-se às edições da G Magazine: ed.
22, julho/ 1999; ed. 72, setembro/2003; ed. 77, fevereiro/2004.
Considerações finais
Referências
BUTLER, Judith. Corpos que pesam: sobre os limites discursivos do “sexo”. In: LOURO,
Guacira Lopes (Org.). O corpo educado: pedagogias da sexualidade. Belo Horizonte:
Autêntica, 2001, p. 151-172.
LOURO, Guacira Lopes. O “estranhamento” queer. In: STEVENS, Cristina M. T.; SWAIN,
Tania N. (orgs.). A construção dos corpos: perspectivas feministas. Florianópolis:
Mulheres, 2008.
SILVA, Fábio Ronaldo da. Ser ou não ser: a representação de virilidade nas capas da G
Magazine (1997-2007). Dissertação (Mestrado em História) – Universidade Federal de
Campina Grande/Paraíba, 2010.
SWAIN, Tânia Navarro. “Você disse imaginário?”. In: ________. (Org.). História no
Plural. Brasília: Edunb, 1994.
Resumen
A manera de introducción
Ángeles Caídos es una novela escrita por Carlos Alberto Soriano (1970-
2011) y fue la primera narrativa en formato de novela sobre hombres gays que
se dio a conocer al interior de El Salvador. La narración se contextualiza en la
ciudad de Guanacotlán (San Salvador). El contexto temporal se puede situar en
la década de 1990 y la trama se desenvuelve en el transcurso de 5 años aproxi-
madamente. El guion gira entorno a tres personajes principales.
ingresos económicos, ejercer trabajo sexual de calle como travestí, ser herido
por otra travestí, transformarse en un cuerpo a la defensiva para salvaguardar la
vida, padecer ataques homicidas por parte de las Maras (pandillas), hasta reve-
lar que también era un cuerpo que había padecido violencia sexual al interior
de su hogar por parte de su padre. De los tres personajes es el único que per-
manece vivo hasta el final de la novela.
sexual, lesbianas, entre los más sobresalientes, los que a excepción del acti-
vista Mendel Chicas, quedan retenidos-atrapados-secuestrados al interior de
la discoteca Kaliyuga por parte de cuerpos de seguridad y personal médico
(ORELLANA, 2011, p. 66, 107). Considero que esta es la mejor alegoría para des-
cribir el contexto salvadoreño y su relación con la sexualidad diversa: cuerpos
enclaustrados-vigilados por las normas y moralidades conservadoras (cuerpos
de seguridad) y por dispositivos de medicalización (cuerpos de salud), quienes
determinan hasta cuándo van a estar detenidos-presos-marginados adentro de
la discoteca silencio-armario-gueto.
Por otra parte estarían los discursos aliados, permitiéndome nombrarlos
de esa forma ya que no en más de una oportunidad pueden reproducir parte
de las prácticas y discursos hegemónicos (ORELLANA, 2011, p. 33, 404). Estos
estarían básicamente representados por el diputado Denis Farias –hombre,
heterosexual, blanco, clase media, ateo- y su quijotesca acción de promover
una reforma constitucional para que personas del mismo sexo puedan ejer-
cer el derecho constitucional de Igualdad para contraer matrimonio sí así lo
deseasen. Farías, retomando el guion judío-católico salvacionista, se transforma
en un nuevo cuerpo-cordero que es inmolado injustamente por un sociedad
de doble moral al tratar de hacer prevalecer el derecho a la Igualdad y la No
Discriminación (ORELLANA, 2011, p. 431), para luego resucitar tal cual neo-
cristo político redimido por medio del activismo al interior de una ONG de
diversidad sexual que planifica y realiza el rescate-salvación de los cuerpos-in-
fectados-diversos prisioneros en el silencio-armario -gueto de la Discoteca
Kaliyuga (ORELLANA, 2011, p. 443-446).
Palabras de cierre
Referencias
CHACÓN, René. La fiera de un ángel. San Salvador: Impresos Litográficos del Centro
América, 2005.
Resumo
Introdução
Considerações finais
Referências
CECCARELLI, Paulo Roberto. Prostituição – corpo como mercadoria. Mente & cérebro
– Sexo, v. 4, dez. 2008.
LUGARINHO, Mário César. Nasce a literatura gay no Brasil: reflexões para Luís
Capucho. In: SILVA, Antonio de Pádua Dias da. (Org.). Aspectos da literatura gay. Joao
Pessoa: Editora da UEPB, 2008.
______. Vicissitudes do michê. Temas IMESC, Soc. Dir. Saúde, São Paulo, 4(1), p.
57-71, 1987b.
SOUZA NETO, Epitacio Nunes. Entre boys e frangos: análise das performances de
gênero de homens que se prostituem em Recife. Dissertação de Mestrado. Programa
de Pós-Graduação em Psicologia. Recife, UFPE, 2009.
Luciana Freesz
Doutoranda em Letras: Estudos Literários
Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF)
lufreesz@gmail.com
Resumo
Introdução
Identidades em jogo
Memórias e autodescobertas
destino de retornar à pequena cidade onde nasceu para cuidar da casa funerá-
ria. Em vez de continuar em Nova York, onde estudou, ou na Europa, para onde
foi quando serviu ao exército, e poder exercer mais livremente sua sexualidade,
Bruce voltou à lama de onde veio (HAGANE, 2010), escondendo sua real iden-
tidade e seus desejos.
O pai se matou quando Alison estava na faculdade. Ao receber a notícia,
conta que pouco chorou, e ao reencontrar o irmão, a reação de ambos foi com-
partilhar um sorriso absurdo. Para se referir ao momento, Alison recorre a outro
livro de Camus, O mito de Sísifo, que precisou ler para uma matéria e que lhe
foi emprestado pelo pai. Nele, Bruce também havia grifado uma passagem: “O
tema deste ensaio é precisamente esta relação entre o absurdo e o suicídio, a
medida exata em que o suicídio é uma solução para o absurdo” (CAMUS apud
BECHDEL, 2007, p. 53).
A autora classifica a morte do pai como “queer”, ou seja, como estranha,
esquisita. No dicionário, há diversos significados para a palavra em questão; o
verbo estaria relacionado com “frustrar, arruinar, desconcertar (...)” (BECHDEL,
2007, p. 63), algo que o pai fez com a família ao forjar a própria morte. Porém,
o dicionário omite a provável razão do suicídio, que seria justamente o fato de
o pai ser “queer” – homo ou bissexual.
Os relacionamentos de Bruce com outros homens só foram revelados a
Alison pela mãe quando ela estava na faculdade, após enviar uma carta aos
pais em que ela mesma “saía do armário”. A autora sugere que o desenrolar dos
fatos poderia ter sido sua culpa:
Enquanto o pai sentia atração pelos homens, Alison, desde criança, admi-
rava a masculinidade por um motivo diverso, sua própria homossexualidade.
Assim, a autora e seu pai seriam “invertidos” um do outro – ela com sua pre-
ferência por uma estética “masculinizada” e ele com sua vaidade excessiva,
associada ao feminino: “Enquanto eu tentava compensar a parte efeminada
dele... Ele tentava expressar algo feminino através de mim” (BECHDEL, 2007, p.
104). Ao traçar essa comparação, Bechdel coloca a si e ao pai dentro de estere-
ótipos associados à homossexualidade, sendo ela pouco apegada às aparências
e mais voltada ao caráter prático das coisas.
Se antes o esforço narrativo se voltava mais para a demonstração de dis-
tanciamento, a característica que a autora e o pai compartilhavam, o desejo
homossexual, torna-se um ponto de partida para que sejam reveladas outras
semelhanças entre eles: “(...) de certa forma pode-se dizer que o fim do meu pai
foi meu início. Ou (...) que o fim da mentira dele foi o início da minha verdade”
(BECHDEL, 2007, p. 123).
Em mais de uma ocasião, a autora mostra, por meio de texto e dese-
nhos, como os livros foram importantes para sua “formação lésbica” e para
sua entrada no feminismo e atuação no movimento – que ela considera como
um “anestésico” após a descoberta da sexualidade do pai –, foi um período de
“despertar político e sexual” (BECHDEL, 2007, p. 87).
Considerações finais
Referências
BECHDEL, Alison. Fun Home – Uma tragicomédia em família. São Paulo: Conrad,
2007.
CRUZ, Eliel. “How a ‘Pornographic’ Lesbian Graphic Novel Ignited a Culture War at
Duke”. The Huffington Post. 28 de ago. 2015. Disponível em: <http://www.huffin-
gtonpost.com/the-daily-dot/fun-home-duke_b_8052014.html>. Último acesso: 26 de
mar. 2016.
Resumo
Escuridão ao sol
1 O conceito de escritura queer encontra-se mais longamente explicado no meu livro O devir-darkroom
e a literatura hispano-americana (2014), especialmente no capítulo Constelações Queer ou Por Uma
Escritura da Diferença.
das luzes, enxergarmos aquilo que sempre esteve ali, mas não nos era possível
ver. A luz, portanto, entendida como a metáfora de Georges Didi-Huberman,
em Sobrevivência dos Vagalumes (2011), enquanto a lei, a norma, o dogma, a
razão do Iluminismo ocidental, termina, além de nos docilizar, por não nos dei-
xar enxergar os escuros do nosso tempo.
Consequentemente, como o homem contemporâneo de Giorgio Agamben,
é somente no apagar dessas luzes (normativas e racionais) que passamos não
só a enxergar o que antes era invisível, mas também a enxergarmo-nos por
outras lógicas ou exatamente através da falta delas. Não se trata, portanto, de
jogar luz, razão, norma, lei, ao que está escuro, mas de ver, a partir de cor-
pos-sem-órgãos, as luzes do próprio escuro, as luzes que não são nem a nossa
razão e nem a nossa norma ocidental. Parafraseando Agamben, diríamos que
há nos personagens de Marcelino um desejo de, ao estarem mergulhados na
escuridão, perceber o presente em suas luzes e em seus escuros (2009:63). São,
portanto, narradores/personagens marginalizados e indisciplinados que pro-
põem um outro arranjo social, uma outra forma de enxergar a alteridade.
No conto, como vimos, o narrador desloca a narrativa tradicional do oci-
dente sobre esses suicidas, já que antes de se falar de morte, de suicídio e de
assassinatos, se fala de amor e de desejo, onde o ocidente só enxerga terrorismo
e violência. Nesse deslocamento, na forma de enxergar o outro, o que Marcelino
parece nos propor é que enxerguemos a “Escuridão ao sol” (2008:31), ou seja,
aquilo que nos fica invisibilisado pelas narrativas hegemônicas ocidentais, que
são usadas para demonizar esses homens, além de animalizá-los e distanciá-los
da racionalidade ocidental. Freire constrói, portanto, uma narrativa, que não
só enxerga essa alteridade de forma diferente, equiparando-os inclusive aos
cristãos em sua paixão religiosa, mas que também propõe um olhar deslocado,
uma linha de fuga, para as nossas racionalidades.
Marcelino opera, assim, um segundo deslocamento muito sutil que é ver
as semelhanças entre ocidente e oriente a partir do fundamentalismo religioso
e da paixão mística que organiza e estrutura a ambas as sociedades, para isso,
o narrador utiliza-se de uma forte intertextualidade bíblica, principalmente
nos nomes dos personagens e nos paralelismos das suas histórias. Como bem
resume Sônia Galvão,
a obra de Freire situa-se [...] na busca dos abismos que a regra
suprimiu, a fim de que tal estado de verdade emerja de seu estado
humilhado consegue operar milagres sem chorar, sem ter vergonha, sem perder
o controle.
Essa possibilidade desse Senhor assumir a figura fantasmática de Deus é
feita a partir da própria grafia da palavra, visto que, quando o policial pergunta
ao padre e quando o padre se pergunta se ele não tem vergonha, a palavra
senhor está sempre iniciada com uma minúscula, diferentemente da última
frase onde o senhor é escrito com a primeira letra em maiúscula.
Vejamos: no início, a pergunta do policial “O senhor não tem vergonha?”
(2010:105), depois o padre se pergunta: “O senhor não tem vergonha?” e a res-
posta, que sugere a própria comparação com a divindade é “Não, o Senhor não
tem vergonha” (2010:108).
Gostaríamos, então, de ler um trecho do conto a partir da ideia de terro-
rismo textual. Explico. Beatriz Preciado, teórica queer, primeiramente a partir
de Roland Barthes (1990) e depois de Guy Hocquenghem (2009), diz que são
terroristas todos os textos capazes de intervir socialmente, não graças a sua
popularidade ou êxito de vendas, mas graças à violência metonímica que per-
mite que o texto exceda as leis de uma sociedade, de uma ideologia ou de uma
filosofia, para criar a sua própria inteligibilidade histórica (2009:138).
Barthes chama de violência metonímica a justaposição num mesmo sin-
tagma de fragmentos heterogêneos pertencentes a esferas da linguagem que
estão geralmente separadas pelo tabu sócio-moral. Assim, se juntariam, por
exemplo, igreja, estilo rebuscado, pornografia, etc. (1990:34). Entendemos, por-
tanto, como terroristas aqueles textos que através dessa violência metonímica
barthesiana terminam por confrontar a linguagem da heteronormatividade.
Essa correlação criada no conto, que explicita a hierarquia da tradição
cristã entre Deus e Cristo, pode ser lida como terrorista através dos paralelismos
feitos entre as duas divindades e os dois pecadores. Na narrativa, através das
comparações, enxergamos um Deus egoísta, cujo milagre serve apenas para
escapar de uma situação criminosa, e soberbo, por sentir-se melhor do que os
humanos que se ajoelham diante dele na missa; ao mesmo tempo vemos um
Cristo frágil, que se envergonha diante da autoridade divina ao dizer que não
teria feito nada disso se soubesse que o outro era padre, mas também da auto-
ridade secular ao ser levado para a delegacia e chorar.
Contudo, é a humanidade de Cristo, a sua fraqueza e o seu corpo que
confere ao conto o seu caráter mais profanatório, mais terrorista, para além
da violência metonímica barthesiana que junta nesse texto, por exemplo, sexo
oral, bosta, santo e Deus. O poder erótico da imagem de Cristo preso na cruz,
transfigurada na imagem do adolescente de pernas abertas que se deixa chupar
por um padre, profana a imagem sacra do filho de Deus, conferindo-lhe uma
humanidade que é capaz de despertar em seus fiéis, através do seu corpo des-
nudo, desejos e tentações reprováveis para a doutrina cristã.
Ao mostrar, portanto, essa potência erótica de um corpo que deveria ser
lido exclusivamente como divino, Marcelino excede, através da profanação, a
ideologia cristã, para revelar, assim como no conto O meu homem-bomba, o
quanto há de erotismo na paixão religiosa. Confrontando, portanto, a linguagem
religiosa e a linguagem heteronormativa ao devolver a sexualidade das duas
divindades a um sexo casual (incestuoso) feito em um beco escuro entre um
homem e um adolescente. Vejamos, para finalizar, um trecho onde o padre-
Deus fala dessa relação erótica com o corpo do adolescente-Cristo:
Entrou na minha alma como um vampiro. Rezo. Como um Cristo,
Meu Deus, não posso. Certas imagens me ameaçam. Cristo e o seu
corpo. Quando pequeno, queria tocar o corpo de Cristo. Esconjuro.
O corpo perfeito. O corpo de braços aberto. Esconjuro (2010:107)
Referências
_______. Roland Barthes por Roland Barthes. São Paulo: Estação Liberdade, 2003.
_______. O Grau Zero da Escrita Seguido de Novos Ensaios Críticos. São Paulo:
Martins Fontes, 2004.
FREIRE, Marcelino. Rasif: mar que arrebenta. Rio de Janeiro: Record, 2008.
LOPES, Denilson. O homem que amava rapazes e outros ensaios. Rio de Janeiro:
Aeroplano, 2002.
SILVA, Mauricio; COUTO, Rita (Orgs.). A miséria é pornográfica: ensaios sobre a ficção
de Marcelino Freire. São Paulo: Terracota, 2013.
PERFORMATIVIDADE DE GÊNERO EM
O PRIMEIRO HOMEM MAU
Resumo
1 Tradução minha: Se alguém pensa que vê um homem vestido como uma mulher ou uma mulher
vestida como um homem, então esse alguém toma o primeiro termo de cada uma dessas percepções
como “realidade” de gênero: ao gênero que é introduzido através do simulacro falta “realidade”, e é
tomado como constituinte de uma aparência ilusória. Em tais percepções, nas quais uma realidade
ostensiva é pareada a uma não-realidade, nós pensamos saber o que é real, e tomamos a segunda
aparência do gênero como mero artifício, jogo, falsidade e ilusão. Mas o que é o senso de “realidade
do gênero” no qual tal percepção se funda desta maneira?
2 O texto “The technologies of gender” foi originalmente publicado em Technologies of gender. In-
diana University Press, 1987, p. 1-30. A versão utilizada neste trabalho foi retirada de Tendências e
Impasses: o feminismo como crítica da cultura. Rocco, 1994, p. 206-242.
Referências
ALTHUSSER, L. Aparelhos ideológicos de Estado. 10a. ed. São Paulo, SP: Graal, 2009.
FOUCAULT, M. História da Sexualidade 2: o uso dos prazeres. 13a. ed. São Paulo,
SP: Graal, 2012.
JULY, M. O primeiro homem mau. São Paulo, SP: Companhia das Letras, 2015.
SALIH, S. Judith Butler e a Teoria Queer. Belo Horizonte, MG: Autêntica, 2012.
Resumo
1 Este trabalho é um recorte de outro texto de minha autoria, intitulado “Da masculinidade hegemô-
nica às subalternas: a masculinidade lésbica em contos brasileiros contemporâneos.” In: Estação
Literária, v. 16, 2016, pp. 91-105.
2 Apesar de ter publicado Female masculinity como “Judith Halberstam” em 1998, hoje o autor iden-
tifica-se como “Jack”; por isso, ao longo desse texto, será tratado como “ele”, mesmo constando nas
referências como “Judith.”
3 É claro que existem muitas outras possibilidades de casais lésbicos, os quais podem não se identifi-
car de acordo com essas categorias. No entanto, o caso butch-femme é o enfoque de Butler.
Dois dos contos de Amora (2015), de Natália Borges Polesso, são inte-
ressantes para esta discussão. Em “Amora”, a jovem que dá nome à narrativa é
inicialmente uma menina “moleca”, que ganha todas as competições de xadrez
de que participa. Em certa passagem, ao ser convidada para ir no “flíper” com
amigos, “Amora avisou os pais, pegou a bicicleta do irmão e, antes de sair,
enrolou o cabelo para dentro do boné. Foram-se, três moleques” (POLESSO,
2015, p. 151). O comportamento de Amora parece o de uma típica tomboy, de
acordo com a definição de Halberstam: o ser tomboy “geralmente descreve um
período infantil estendido de masculinidade feminina”, e “tende a ser associado
com um desejo ‘natural’ de liberdades e mobilidades maiores, desfrutadas pelos
garotos” (HALBERSTAM, 1998, p. 5; p. 6, traduções minhas). Amora ainda é
uma criança, não vendo problema algum em ser “moleca”, assim como não
parecem ver seus pais. O infortúnio da menina começa quando ela se encontra
no “flíper” com Júnior, por quem tinha se apaixonado anteriormente: em um
segundo encontro, ele não a reconhece, pois pensa que ela é um menino. Após
passar por essa situação, Amora se observa com estranhamento no espelho:
O boné, o cabelo preso, a camiseta de banda comprida demais,
lisa, rente ao corpo, sem os relevos que outras meninas de sua
idade já tinham, a bermuda jeans rasgada, o joelho ostentando
casca de ferida, os chinelos preto emoldurando as unhas compri-
das, rachadas. Jogou o boné no chão e pensou que sem ele talvez
Júnior a tivesse reconhecido. (POLESSO, 2015, p. 152)
Referências
________. The end of sexual difference? In: ________. Undoing gender. New York:
Routledge, 2004, pp. 174-203.
EL-JAICK, Ana Paula. Faz duas semanas que meu amor e outros contos para mulheres.
São Paulo: Edições GLS, 2008.
IRIGARAY, Luce. Speculum de l’autre femme. Paris: Les Éditions de Minuit, 1974
(Collection Critique).
ENCENANDO A HOMOSSEXUALIDADE:
LEITURA DA FICCIONALIZAÇÃO DE SI EM
A SEPARAÇÃO DE DOIS ESPOSOS, DE QORPO SANTO
Renata Pimentel
Doutora em Teoria da Literatura/UFPE
Professora do Departamento de Letras da UFRPE
renatapimentel@gmail.com
Sherry Almeida
Doutora em Teoria da Literatura/UFPE
Professora do Departamento de Letras da UFRPE
sherry_almeida@yahoo.com.br
Resumo
A literatura, enquanto arte, constitui-se espaço privilegiado para a manifestação
de discursos transgressores ao discurso hegemônico de uma sociedade. Dessa
forma, ela assume importância fundamental na construção da criticidade, bem
como na sensibilização dos indivíduos. A partir dessas considerações, este tra-
balho apresenta uma leitura da homossexualidade na peça A Separação de Dois
Esposos de Qorpo Santo – dramaturgo que viveu e produziu sua obra durante o
século XIX; além de ter sido o primeiro a propor a encenação desse tema-tabu
no teatro brasileiro. Como base teórico-crítica de análise, este estudo vale-se
do conceito de ficcionalização de si de Renata Pimentel (2011), além do pen-
samento de Michel Foucault (1997) sobre a homossexualidade no século XIX.
Palavras-chave: Qorpo Santo; homossexualidade, ficcionalização de si
Introdução
1 Importante ressaltar que iremos nos deter a especular somente o texto dramtúrgico, e não sua mon-
tagem.
dramaturgia, é Qorpo Santo2. Esquecido até 1950, quando teve a obra drama-
túrgica – composta por dezessete peças, sendo uma inacabada – descoberta
pelo professor Aníbal Damasceno Ferreira, o escritor gaúcho tem até hoje uma
nuvem crítica turbulenta em torno de seu teatro: tomado inicialmente como
precursor do teatro do absurso; depois associado ao surrealismo e, por fim,
reconciliado à tradição teatral brasileira do século XIX3.
Qorpo Santo teve uma vida conflituosa: foi interditado pela própria
esposa, obrigado a viver separado dos filhos, pois a família o abandonou por
ser tomado como louco mesmo sem nunca se ter obtido diagnóstico conclusivo
sobre os seus distúrbios mentais. Viveu preso às condições sociais e morais da
sua época e às suas convicções de homem católico, viveu na oscilação entre a
necessidade de se manter fiel ao casamento e as exigências de seus impulsos
sexuais, sendo esse o conflito que se constitui um dos temas fundamentais de
seu teatro.
Em A Separação dos Dois Esposos, comédia em três atos, Qorpo Santo
parece falar, pela boca da personagem Esculápio, sobre esse dilema de manter-
se fiel ao casamento e a necessidade de buscar as “relações naturais”4:
“Estou sempre em luta com esses malvados, sempre a mais perfeita
moral está sendo o guia de meus passos! Os outros riem-se! Me
indigno, e nada faço. Parece que o que se quer é gozar; gozar e
mais gozar. Ninguém quer saber do modo: se lhe é lícito ou ilícito,
2 Nascido em 1829, em Triunfo (RS) fora batizado como José Joaquim de Campos Leão, além de
dramaturgo, foi poeta, jornalista, tipógrafo, professor, gramático; exerceu ainda as profissões de co-
merciante, vereador e delegado. O nome com que assina sua produção literária já aponta para uma
ironia transgressiva e já “encena” o paradoxo norteador de sua criação: santifica o que há de mais
carnal no humano, seu corpo – escrito “Qorpo” de acordo com sua proposta de reformulação orto-
gráfica da língua portuguesa. De per si, essa proposta linguística é também uma atitude trangressiva
às normas vigentes.
3 Ver Yan Michalski (1985); Eudinyr Fraga (1988) e Flávio Aguiar (1975), respectivamente.
4 Referência ao título de uma outra peça de Qorpo Santo: As Relações Naturais. Trata-se de uma co-
média em quatro atos cujos monólogos das personagens encaminham para que a ação dê lugar a di-
álogos sobre as relações humanas, sendo, por vezes, impossível estabelecer conexões convencionais
entre as personagens, significativamente dotadas de nomes que sugerem sua função na sociedade. A
peça parece intentar conciliar as relações naturais com a moral da época, mas acaba por evidenciar
as tantas contradições humanas típicas de moralismos e comportamentos que questionam o status
quo.
Qorpo Santo mostra, em suas peças, como o escritor diversas vezes dis-
tancia-se de seu “ser biográfico”, criando novas consciências, experimentando
novas “vivências”, até invertendo o papel dele esperado para se fazer parte
integrante do público e experimentar o “ver-se encenado”, o “ser lido”.
Nesse sentido, pensemos a “encenação” da homossexualidade em
A Separação de Dois Esposos a partir da ficcionalização de si efetuada por
Qorpo Santo. Encontramos, nessa peça, vários índices da representação da
homossexualidade.
Já no segundo ato, em que o conflito ainda se dá em torno do casal
Esculápio e Farmácia, é possível especular a encenação da homossexualidade.
Há aspectos lexicais curiosos na fala de Farmárcia ao interpelar duas de suas
três filhas sobre suas companhias:
“Sentem-se, minhas filhas. Vocês hão de estra muito cansadas, com
fome, com saudades da mamãe, não é? Conta-me, Lídia, como está
a tua camarada? E você, Idalina, há de me dizer como ficou o seu
namorado; pois eu sei que já vai gostando do primo Pedrinho! Esta
outra eu sei que não namora, nem é de muitas camaradagens, por
isso eu nada pergunto a ela.” (QORPO-SANTO, [s.d.]: 35)
de Idalina com homens. Corrobora essa hipótese o fato de Farmácia dizer que
não perguntará nada a Plínia, a terceira filha, por não ter ela nem “camaradas”
nem namorados.
Por sua vez, o terceiro ato traz mais claramente o tema da homossexuali-
dade, ou mais precisamente, vemos o casal homossexual discutindo sua relação
– Tatu e Tamanduá. A começar pela rubrica (“Note-se: estas figuras devem ser
as mais exóticas que se pode imaginar”), na qual se percebe a preocupação do
dramaturgo em caracterizar as personagens de maneira a causar estranheza aos
espectadores. Isso permite especular a marcação do estereórtipo da diferença
na estética homossexual – aqui próxima do que se pode nomear como queer,
“estranho”, “exótico”.
Há ainda os vários momentos de demonstrações de afeto (verbais e ges-
tuais) entre Tatu e Tamanduá:
TAMANDUÁ – (...)Agradecido, senhor Tatu, eu sou todo seu. Venha
de lá um abraço (abraçam-se).
Considerações Finais
Referências
FRAGA, Eudinyr, Qorpo Santo: Surrealismo ou Absurdo. São Paulo: Perspectiva, 1988.
GUÉNOUN, Denis. A exibição das palavras: Uma ideia (política) do teatro. Rio de
Janeiro: Teatro do Pequeno Gesto, 2003.
MICHALSKI, Yan. O teatro sob pressão: uma frente de resistência. Rio de Janeiro:
Jorge Zahar Editor, 1985. p. 36.
GT 26 - Literaturas e LGBTT’s.
Resumo
Introdução
Do espaço biográfico
Da homocultura
Com isso, o filósofo aponta para uma busca por lugares móveis de sen-
tido, em vez de enquadramentos ao que é predominantemente unicultural. Esse
processo demonstra-se fundamental, pois implica no abandono, por sujeitos
que estão à margem, de posturas e discursos daqueles que estão ao centro.
Também nesse viés, outro autor contribuiu para nossa pesquisa. Trata-se
de Didier Eribon (2000), quando ao tratar de identidade enquanto um espaço
de contestações e de conflitos políticos e culturais. Ele pontua:
A criação de uma identidade permite orientar a vida de pessoas
e grupos. […] As identidades gays e lésbicas são estratégias de
defesa destinadas a proteger os homossexuais da sociedade que
os ataca. Elas definem espaços sociais e simbólicos de interação,
além de serem guia para o desenvolvimento pessoal desses sujeitos
(ERIBON, 2000, p. 9, tradução nossa).
Grosso modo, o que Eribon nos comunica é que a ordem social determina
a esses indivíduos um status inferiorizado, o que interfere em profundidade
na sua personalidade e mesmo na sua identidade. É justamente aí que entra o
papel de processos culturais que abranjam, em suas relações, sistemas simbóli-
cos e significados referentes ao contexto homossexual.
Em suma, o que chamamos aqui de homocultura trata-se de um lócus
onde se estabelece uma rede de conversações e mobilizam-se o respeito e
os direitos das ditas minorias sexuais. É, na verdade, um enfrentamento, uma
subversão ao sistema hegemônico, a fim de dar voz às diferentes experiên-
cias sexuais, tanto na realidade, como na ficção (Cf. BENTO; GARCIA; LOPES,
2004).
Essa literatura, segundo o autor, não deve ser consolidada como “manifes-
tação ou registro de pessoas homoafetivas que se apropriam do ato de escrever
para relatar seu cotidiano” (SILVA, 2009, p. 103), mas como uma produção de
grande importância para a literatura contemporânea, que merece ser lida, estu-
dada e questionada.
Por fim, foi a partir das leituras e discussões acima destacadas que pude-
mos chegar ao conceito-chave da nossa pesquisa: biografema homocultural:
A noção de biografema se conjuga à ‘homocultura’ enquanto lócus
de estudo e representação de expressões culturais, produzidas por
sujeitos homossexuais e/ou a seu respeito, bem como das visões e
dos diálogos que proporcionam, a partir da ruptura com os discur-
sos hegemônicos e da crítica às heteronormatividades (MITIDIERI,
2015, p. 48).
Considerações finais
Referências
BARCELLOS, José Carlos. “Vejam o que fizeram com a Scarlett”: ícones femininos
no universo cultural gay. In:______. Literatura e homoerotismo em questão. Rio de
Janeiro: Dialogarts, 2006. p. 422-437.
BARTHES, Roland. Roland Barthes por Roland Barthes. São Paulo: Estação Liberdade,
2003.
BENTO, Berenice; GARCIA, Wilton; LOPES, Denilson; ABOUD, Sérgio (Orgs.). Imagem
& diversidade sexual: estudos da homocultura. São Paulo: Nojosa Edições, 2004.
DOSSE, François. A vidobra. In:______. O desafio biográfico: escrever uma vida. São
Paulo: EDUSP, 2009. p. 80-95.
FOUCAULT, Michel. O triunfo social do prazer sexual: uma conversação com Michel
Foucault. O sistema finito diante de um questionamento infinito. A escrita de si.
In:______. Ética, sexualidade e política. Org. Manoel Barros da Motta. Trad. Elisa
Monteiro, Inês Autran Dourado Barbosa. 2. ed. Rio de Janeiro: Forense Universitária,
2010. p. 119-125; p. 126-143; p. 144-162.
MITIDIERI, André Luis. Biografemas homoculturais de Eva Perón no romance Santa Evita,
de Tomás Eloy Martínez. In: MITIDIERI, André Luis; CAMARGO, Flavio Pereira (Org.).
Literatura, homoerotismo e expressões homoculturais. Ilhéus: Editus, 2015. p. 41-75.
PUIG, Manuel. A traição de Rita Hayworth. São Paulo: Círculo do Livro, 1968.
SILVA, Antonio de Pádua Dias da. Uma visada sobre a construção discursiva em
torno da literatura de temática homoerótica. In: ARANHA, Simone Dália de Gusmão;
PEREIRA, Tania Maria Augusto; ALMEIDA, Maria de Lourdes Leandro (Org.). Gêneros
e linguagens: diálogos abertos. João Pessoa: EduFPB, 2009. p. 95-107.
GT 26 - Literaturas e LGBTT’s.
Resumo
Introdução
Essa perspectiva de variação das identidades é feita por ele para os ideais
de nacionalidade, mas pode ser ampliada na medida em que alcança a forma-
ção do processo identitário não apenas pelas fronteiras geográficas, mas pelas
sociais, culturais, sexuais, dentre outras e que não se dão de maneiras iguais,
podendo, portanto, ser aplicado também aos sujeitos homoeróticos. Tal pro-
cesso pode ser entendido também como identificação:
Na linguagem do senso comum, a identificação é construída a
partir do reconhecimento de alguma origem comum, ou de carac-
terísticas que são partilhadas com outros grupos ou pessoas, ou
ainda a partir de um mesmo ideal. É em cima dessa fundação que
ocorre o natural fechamento que forma a base da solidariedade e
da fidelidade do grupo em questão. (HALL, 2014, p.106)
1 A Rebelião de Stonewall foi uma manifestação de resistência contra as ações policiais que agrediam
constantemente os homossexuais em suas ações. O nome se deu a partir do episódio ocorrido em ju-
nho de 1969 no qual várias travestis foram violentadas e presas no bar Stonewall Inn, em Manhattan,
Nova Iorque. Esse episódio marcou o início das lutas pela liberdade das diversidades sexuais devido
a sua repercussão e notoriedade.
ainda que positivas, privilegiavam algumas categorias, como é o caso dos gays
diante dos demais, tanto que por muitos anos e nos dias atuais ainda são usadas
expressões como “movimento gay” ou “luta gay”, desprezando os/as demais.
Isso influenciou na visão social sobre os sujeitos e internamente no movimento
de luta contra as opressões, tanto que várias pessoas se consideraram não inclu-
ídas e vêm questionando, constantemente, os privilégios e opressões.
Assim, verifica-se no processo de formação identitária pós-moderno a cria-
ção de diferenças muito maiores, nas quais o sujeito não se sente pertencente a
certo grupo a partir do momento que a sua vivência, opressão ou invisibilidade
são maiores ou menores.
Com tais construções, criam-se espaços e padrões normalizados, ou seja,
que vão se tornando normal à vista daqueles que são menos diferentes e mais
próximos do considerado ideal. Nascem, assim, os estranhos.
Os estranhos exalaram incerteza onde a certeza e a clareza deviam
ter imperado. Na ordem harmoniosa e racional prestes a ser consti-
tuída não havia nenhum espaço – não podia haver nenhum espaço
– para os “nem uma coisa, nem outra”, para os que se sentam
escarranchados, para os cognitivamente ambivalentes. (BAUMAN,
1998, p. 28)
dela, ele a delineia com ironia e desconfiança. Na primeira descrição, ele narra
com surpresa a imagem da travesti:
Por que as travestis se parecem comigo, pensei, Estrela era mais
velha do que eu tinha imaginado, cheguei a apostar que fosse ela
uma garota, sei lá, os peitos ainda estivessem no lugar, as roupas
fossem mais modernas, no entanto ela era uma dama, uma cantora
de rádio, enfeitada de plumas, subia as mãos ao céu, mostrava os
anéis, os colares magníficos, as falsas pérolas. (FREIRE, 2013, p. 48)
Ainda que ele reconheça semelhanças entre eles, pela idade, ele trata de
descaracterizá-la de alguma forma:
[...] e Estrela veio, antes chegou até mim o seu cheiro de perfume,
seguido do brilho do vestido, cafona, que a apertava por inteiro,
pus em sua mão uma ótima quantia e fui logo, firme, direto na veia,
sem arrodeios, eu sou amigo de Cícero. (FREIRE, 2013, p. 49)
Estrela não quis passar informações sobre Cícero enquanto estava traba-
lhando. Ela pede para ele voltar outro momento e exige dinheiro para troca de
suas próteses de silicone. A imagem que esse narrador esboça da personagem é
de uma pessoa interesseira e manipuladora. Desde as falas das personagens que
falam sobre Estrela até a observação do espaço e do corpo dela:
Estrela já estava chegando, tão cheirosa, saída de um anúncio de
shampoo, com uma toalha enrolada na cabeça, a rainha da beleza,
cheia de um palpérrimo glamour. [...] as unhas descascadas, pre-
cisavam renascer, o rosto também, sem maquiagem, chamava a
atenção, era mais másculo e a toalha, segurando os cabelos, dava
a Estrela um peso que ela, à noite, disfarçava, nos seus saltos altos
havia leveza, destreza, em se manter de pé, ali não, somente, incri-
velmente, era um homem brincando de ser mulher [...].
Mais uma vez é preciso segurar o olhar, não titubear, os gatos de porce-
lana, os diversos cinzeiros, os retratos e os cheiros foram feitos para testar até
onde pode chegar nossa criatividade, mesmo que eu imaginasse um cenário
assim, um personagem, seria difícil ele existir como, de fato, existe, real, de
turbante, entoalhado, os peitos que ela exibia, fazendo chantagem emocional
[...].(FREIRE, 2013, p. 61-62)
Considerações finais
A obra traz um narrador que marca, por meio de suas descrições, a sua
posição de sujeito e diferenciação dos outros que ele distancia ou considera
estranhos. Fora ele mesmo e Carlos, as outras personagens homoeróticas são
julgadas por um olhar normativo e social, marcando a sua posição de, apesar de
gay, bem sucedido profissionalmente, premiado, rico e cisgênero.
Ao final, já na ida para Pernambuco e prestes a descobrir que ele tam-
bém estava morto, Heleno observa nas areias das praias do Recife os garotos
e assume seu arrependimento sobre como tratou todos aqueles com quem se
relacionou:
Não há diferença entre mim e essa legião de alemães, espanhóis,
argentinos, pesado, de culpa, eu me ofendo e sujo, para isso a
morte de Cícero serviu, para que eu tomasse consciência do uso
que eu fiz, dorsos nus, jovens putos, à venda, como uma mercado-
ria, exposta, eu sinto pena de mim, diante da orla, anoitecendo, me
confesso e me arrebento [...].(FREIRE, 2013, p.112)
Entretanto, tal afirmação só reforça a visão social dos outros que Heleno
apresenta. E como objetos menos humanos que ele mesmo, com seu preço
marcado, reforçando a teoria:
Os estranhos são pessoas que você paga pelos serviços que elas
prestam e pelo direito de terminar com os serviços delas logo que
já não lhe tragam prazer. Em nenhum momento, realmente, os
estranhos comprometem a liberdade do consumidor de seus servi-
ços. Como o turista, o patrão, o cliente, o consumidor dos serviços
está sempre com a razão: ele ou ela exige, estabelece as normas
e, acima de tudo, resolve quando o combate principia, e quando
acaba. Inequivocadamente, os estranhos são fornecedores de pra-
zeres. (BAUMAN, 1998, p.41)
O que o narrador não deixa claro é que, ironicamente, tanto o boy quanto
a travesti são peças fundamentais para o desfecho de sua vida: o suicídio, o
reconhecimento de que sua vida estava sujeita a todas essas relações sociais e,
principalmente, de que o destino de todos ao final é o mesmo: os ossos.
Referências
___________ Quem precisa de identidade? In: SILVA, Thomaz Tadeu da; HALL,
Stuart; WOODWARD, Kathryn. Identidade e diferença: a perspectiva dos Estudos
Culturais. Petrópolis: Vozes, 2014.
Renata Pimentel
Doutoras em Teoria da Literatura/UFPE
Professoras do Departamento de Letras da UFRPE
renatapimentel@gmail.com
Sherry Almeida
Doutoras em Teoria da Literatura/UFPE
Professoras do Departamento de Letras da UFRPE
sherry_almeida@yahoo.com.br
GT 26 - Literaturas e LGBTT’s.
Resumo
Introdução
“Afinal, estamos num país onde o mais importante é freqüente-
mente o mais mascarado.” (João Silvério Trevisan)
Considerações finais
Referências
CARDOSO, Lúcio. Diário Completo. Rio de Janeiro, José Olympio, 1970. CHIAPPINI,
Lígia M. Leite. O Foco narrativo. São Paulo, Ática, 1991.
Resumo
Introdução
LGBTT, naquele país, conforme apontam Mauro Vieira e Rafael Porto (2015).
VIEIRA e PORTO (2015, 170) mencionam que, em maio de 2012, em sua cam-
panha à reeleição, o presidente Barack Obama tornou-se o primeiro presidente
dos Estados Unidos em exercício a posicionar-se favorável ao casamento civil
homoafetivo.
No Brasil, em 7 de junho de 2015, foi realizada a 19ª Parada do Orgulho
LGBTT em São Paulo (considerada uma das maiores manifestações do mundo
pelos direitos de lésbicas, gays, bissexuais, travestis, transexuais e transgêneros).
Cerca de dois milhões de pessoas participaram da passeata, segundo estimativa
de organizadores ( http://g1.globo.com – 07/06/2015). Durante a manifestação,
conforme reportagens, o primeiro trio elétrico circulava com uma faixa com
a mensagem “Fora Cunha”, em menção ao então presidente da Câmara dos
Deputados, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), que defende pautas conservadoras e
contra minorias, como a criação do Dia do Orgulho Heterossexual. Na vés-
pera, em 6 de junho de 2015, foi realizada, em São Paulo, a 13ª Caminhada das
Lésbicas e Bissexuais, que já protestaram contra a discriminação sexual.
Além de grandes manifestações como as paradas e caminhadas (não ape-
nas de São Paulo, mas de várias capitais e outras cidades do País), no Brasil, já
tivemos a realização do 8° Senale (Seminário Nacional de Lésbicas) – em 2004,
do 1° Encontro Nacional de Arte e Cultura LGBT - realizado em 2014 –, da 1ª,
da 2ª e da 3ª Conferência Nacional de Políticas Públicas de Direitos Humanos
para Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis e Transexuais – respectivamente, em
2008, 2011 e 2016, em Brasília. Essas ações, entretanto, não se traduziram em
lei contra a homofobia, em lei pelo casamento civil igualitário (em 2013, o País
passou a ter uma decisão do Supremo Tribunal Federal que garante o casa-
mento entre pessoas do mesmo sexo) ou em políticas públicas pela igualdade,
a partir da Comunicação e da Educação.
Em junho de 2015, a revista Cult publicou um Dossiê “Ditadura
Heteronormativa: A cultura que insiste em não reconhecer e aprender com as
diferenças sexuais e de gênero”. Nele, Leandro COLLING (2015: 22, 23) escreve
que “tomada como padrão na sociedade, a heterossexualidade promove não
apenas a violência física, mas também a violência simbólica contra os que se
desviam dessa norma”. O pesquisador lembra que “em geral, usamos o conceito
de homofobia para descrever qualquer atitude e/ou comportamento de repulsa,
medo ou preconceito contra os homossexuais. A homofobia não se restringe
apenas às violências físicas, mas também às variadas violências simbólicas”
Considerações finais
Referências
COLLING, Leandro. O que perdemos com os preconceitos? In: Cult. São Paulo,
Bregantini, junho de 2015, nº 202, ano 18, p. 22-25.
CULT – Revista Brasileira de Cultura. São Paulo, Bregantini, junho de 2015, nº 202,
ano 18.
JUNQUEIRA, Rogério Diniz. Pedagogia do armário. In: Cult. São Paulo, Bregantini,
junho de 2015, nº 202, ano 18, p.38-41.
VIEIRA, Mauro e PORTO, Rafael. Avanços na promoção, no âmbito federal, dos direitos
de pessoas LGBT nos Estados Unidos. In: MINISTÉRIO DAS RELAÇÕES EXTERIORES,
GOVERNO FEDERAL. Mundo Afora: Políticas de combate à violência e à discrimina-
ção contra pessoas LGBT. Brasília, 2015, n. 12, p. 170-184.
Resumo
Introdução
que está a sua volta. Em geral, “café com leite” é sempre o irmão caçula de
alguém da turma de brincantes.
Quando Lucas pede para Marcus fazer seu leite, o pedido é muito maior
do que um misturar de líquido, e sim uma necessidade de atenção, afeto que
se transferiu dos pais para o irmão. É neste momento que percebemos o quanto
Danilo não estava preparado para essa realidade. Ao esquentar o leite no micro-
-ondas, ele perde o ponto e o deixa quente demais. Esta é a deixa para uma
das cenas finais, em que Danilo experimenta vários níveis de temperaturas em
vários copos de leite até encontrar o que mais agrada ao irmão, apontando que
ele está se esforçando para compreender a nova realidade, a nova família.
Danilo não sabe a série que o irmão cursa, apontando um abismo na
relação entre os dois e reforçando o quão difícil está sendo para ambos lidarem
com a situação. O roteiro exclui Marcus de parte dos primeiros seis minutos do
curta. A ausência do namorado nos faz direcionar o olhar para relação entre os
irmãos, para que ao retornar para a trama percebamos como Danilo acredita
na possibilidade de uma relação em que os três convivam, revelando assim a
emergência de um novo núcleo familiar.
A passagem de tempo, representada pelo consumo de caixas de leite
dispostas na dispensa, traz Marcus de volta à trama e, já na primeira cena,
demonstra a fragilidade da relação entre ambos após a morte dos pais de
Danilo. Marcus tenta se adaptar, mas, por limitações óbvias, já que a ruptura
do estilo de vida que levava com o namorado é brusca, encontra dificuldades.
É neste ponto que percebemos que o diretor apresenta a homossexualidade
como coadjuvante, que faz parte dos indivíduos, e não faz disso um drama
principal, ou seja, seus dramas são outros que vão além da aceitação da pró-
pria sexualidade e dos estigmas sociais que isso representa. Daniel lança um
outro olhar sobre o cinema produzido com histórias que envolvem personagens
homossexuais.
A nova realidade de Danilo o faz abdicar de uma viagem que faria ao lado
do amado Marcus, planejada antes da tragédia. Ao perceber as dificuldades
que se apresentam, Marcus decide viajar sozinho. Com a viagem do namo-
rado, Danilo encontra na companhia do irmão o afeto familiar necessário em
momentos de ruptura, ainda que tal ruptura pareça temporária, já que Marcus
deve voltar.
Considerações finais
Referências
SILVA, Tomaz Tadeu da. A produção social da identidade e da diferença. In: SILVA,
Tomaz Tadeu da (org.). Identidade e diferença: a perspectiva dos estudos culturais.
Petrópolis, Rio de Janeiro: Vozes, 2000. p. 73-102.
1 Este artigo constitui um desdobramento de outro, mais amplo, intitulado “A sexualidade na poesia
diaspórica brasileira: tradução comentada de poemas selecionados de Natan Barreto”, concebido
como trabalho de pós-doutoramento, ainda inédito, sob a supervisão da profa. Else R. P. Vieira, do
Queen Mary College da Universidade de Londres, instituição com a qual o Programa de Pós-gra-
duação em Letras: Estudos Literários da Universidade Federal de Juiz de Fora mantém parceria de
colaboração em pesquisa acadêmica, através do projeto interinstitucional “Entre-lugares da literatura
da diáspora brasileira” (<http://pelomundobrasil.blogspot.com.br/>), patrocinado pela CAPES. Com
o corrente texto, porém, nos restringimos tão somente ao mote temático em pauta – sexualidade –,
por entendermos que a condição diaspórica do autor resulta irrelevante nesta oportunidade.
Referências
Resumo
Introdução
4 Por que a gente te incomoda? - Semana de Combate à LGBTTIfobia. Disponível em: <https://www.
facebook.com/souUFJF/photos/?tab=album&album_id=1172091196155566>. Acesso em 12 de jul
de 2016.
5 “Somos como você. Por que a gente te incomoda?”. Disponível em: <https://www.facebook.com/
souUFJF/videos/1172100262821326/>. Acesso em 12 de jul de 2016.
Considerações finais
Referências
HONNETH, Axel. Luta por reconhecimento: a gramática moral dos conflitos sociais.
Ed34, 2003.
HONNETH, Axel. Luta pelo Reconhecimento: para uma gramática moral dos con-
flitos sociais. Ed. 70, 2011.
SILVA, JP da. Teoria crítica na modernidade tardia: sobre a relação entre redistribuição
e reconhecimento (versão preliminar). Texto apresentado no GT25 Teoria Social e a
Multiplicidade da Modernidade do XXIX Encontro Anual da ANPOCS. Caxambu, 2005.
Resumo
O objetivo deste artigo é apresentar uma análise sobre o conto de Caio Fernando
Abreu, intitulado Terça-feira gorda (1982) e os alcances literários dessa vertente
homoerótica, bem como as problematizações que vem sendo apresentadas
na atualidade. Sabendo que a literatura se apresenta como fértil terreno para
pensar questões relacionados ao corpo, sexualidade e gênero, abordado será,
um conto contemporâneo e de vertente homoerótica. Através de leituras sobre
o conteúdo abordado e buscando auxilio teórico em escritores que tratam
homoerotismo, violência e literature, pretende-se analisar o conto e os aspectos
homoeróticos presentes na narrativa, bem uma análise comentada da obra em
questão.
Palavras-chave: Literatura; Caio Fernando Abreu; Terça-feira gorda;
Homoerotismo.
Introdução
Referências
ABREU, Caio Fernando. Morangos mofados. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2009.
BATAILLE, George. O erotismo. Trad. João Bérnard da Costa. Lisboa: edições
Antígona,1988.
CANDIDO, Antônio. Literatura e sociedade. Rio de Janeiro: Ouro sobre Azul. 2008.
204 p. COSTA, Jurandir Freire. Violência e psicanálise. Rio de Janeiro: Edições Graal.
2003. 249 p. JUNIOR, Arnaldo Franco. Intolerância Tropical: Homossexualidade e
violência em “Terça-feira gorda”, de Caio Fernando Abreu. Revista do Centro de Artes
e Letras. Santa Maria: UFSM, (1), jan/jun. 2000.
PORTO, Ana Paula Teixeira; PORTO, Luana Teixeira. Caio Fernando Abreu e uma
trajetória de crítica social. Revista Letras, Curitiba, n. 62, jan. /abr. 2004. Editora UFPR.
Resumo
O presente trabalho tem por objetivo analisar o filme Todo sobre mi madre
(1999), do cineasta espanhol Pedro Almodóvar, com foco principal na per-
sonagem travesti Agrado. Após percorrer o universo fílmico de Almodóvar,
observando suas características sempre buscando referências voltadas ao corpo
e gênero, permeamos os estudos feministas de gênero, a partir dessas teorias
levanta-se a discussão a respeito de gênero, corpo e construção do sujeito,
embasados na teoria feminista e teorias sobre o gênero. O artigo propõe uma
reflexão sobre a importância de se analisar essas experiências de margem para
que possam renovar as teorias feministas e de gênero.
Palavras-chave: diversidade; sexualidade; corpo; gênero; cinema; Pedro
Almodóvar; Todo sobre mi madre (1999).
1 Professora graduada pela Universidade Estadual do Mato Grosso do Sul, UEMS/Campo Grande,
tutora da Pós graduação a distância da Universidade Católica Dom Bosco, UCDB. E-mail:moraima.
vilela@gmail.com.
2 Professor adjunto da Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul, UEMS/Campo Grande, na área
de Língua e Literaturas de Língua Espanhola, na Graduação em Letras, bem como no Mestrado
Acadêmico em Letras. Tem experiência na área de Letras, com ênfase em literaturas de expressão
hispânica e literatura comparada assim como, também, tem interesse nos seguintes temas: questões
de gênero, subalternidade, homoerotismo e literatura gay.
Introdução
3 Os movimentos feministas são, sobretudo, movimentos políticos cuja meta é conquistar a igualdade
de direitos entre homens e mulheres, isto é, garantir a participação da mulher na sociedade de forma
equivalente à dos homens. Além disso, os movimentos feministas são movimentos intelectuais e
teóricos que procuram desnaturalizar a ideia de que há uma diferença entre os gêneros. No que se
refere aos seus direitos, não deve haver diferenciação entre os sexos. No entanto, a diferenciação
dos gêneros é naturalizada em praticamente todas as culturas humanas. http://www.infoescola.com/
sociologia/feminismo/.
alegrias, cada história vai tomando seu desfecho, às vezes interligados, aos pou-
cos Almodóvar traça princípios ligados ao corpo e gênero.
O filme conta a história de Manuela que trabalha no setor de doação de
órgãos em um hospital em Madri e mora com seu único filho que morreu no
dia em que completava dezoito anos. Manuela cai em uma profunda depres-
são, então resolve viajar de volta para Barcelona, cidade de onde partiu grávida.
Lá ela reencontra Agrado travesti que se prostituta na zona de meretrício da
cidade, ela tenta recomeçar sua vida sem o filho. Neste tempo, conhece a Irmã
Rosa, freira que trabalhava fazendo serviço social com portadores do vírus HIV,
no entanto a Irmã se descobre grávida e com vírus HIV. Manuela entra em
contato com uma, atriz de teatro de quem seu filho era fã, e que está ligada à
sua morte: o jovem morreu no dia de seu aniversário, ao ser atropelado quando
tentava conseguir um autógrafo de uma na saída do teatro. Uma encena uma
peça chamada Um bonde chamado desejo e vive um drama com sua parceira
de palco e amante que tem problemas com drogas. Em Barcelona, Manuela
reencontra o pai de seu filho que por ventura também é travesti e pai do filho
da Irmã Rosa, uma travesti doente debilitada quase no fim da vida.
Como a opção de personagens e temas é vasta, me delimitei apenas a
analisar apenas um, a travesti Agrado, observando sempre aspectos que reme-
tam ao corpo e gênero.
A personagem Agrado, de certa forma, acaba se sobressaindo no filme,
pois é muito divertida e gosta muito de falar sobre o seu corpo. “Todo lo que
tengo de real son mis sentimientos y litros de silicona que pesan toneladas’’.
O ponto auto de sua personagem é quando sobe ao palco para avisar que a
apresentação havia sido cancelada, sendo assim ela tomou o palco pra si e para
divertir a platéia começou a contar-lhes sua história que a fazia a mais autêntica
de todas. Prende a atenção do público falando do próprio corpo:
“Bona nit4. Por causa ajenas a su voluntad, dos de las actrices que,
diariamente triunfan sobre este escenario, hoy no pueden estar
aqui, ¡pobrecillas! Así que se suspende la función. A los que quie-
ram se les devolverá el dinero de la entrada. Pero los que no tengáis
nada mejor que hacer, PA una vez que venís AL teatro ES una pena
que os vayáis. Si os quedais yo prometo entreteneros contándoos
la historia de mi vida. Adiós, ló siento; Si les aburro hagan como
Ao contrário das travestis clássicas, Agrado, não busca ocultar sua iden-
tidade ou a de seu corpo. E ela não faz de conta que é mulher ou que sempre
foi; sua afirmação pública é feita pela exibição do seu corpo exatamente como
ele é: um corpo transformado, fabricado, que oferece se afirma como corpo
fabricado, não um corpo substantivo, objetificado, mas
corporalidade veículo e sentido da experiência. A autenticidade desse
corpo, segundo o próprio discurso de Agrado, é sua. Natureza estaria no pro-
cesso que o fabricou. Ao dizer que o que tem de mais autêntico é o silicone,
Agrado está revelando que o autêntico, nela, é justamente produto de sua cria-
ção, da intervenção de seu desejo, de uma agência própria. (MALUF, 2002,
p.145-146).
Ela não sente vergonha de ser uma travesti, pelo contrário, quando sobe
ao palco faz questão de afirmar que é autêntica por tudo o que pagou em seu
corpo, se chegou aonde está e com o corpo que tem, foi com o suor do seu tra-
balho, e não sente vergonha dele. Agrado não modificou seu corpo por querer
ser uma mulher perfeita ou uma simplesmente como as outras, apenas gosta de
ser genuína, sem copiar ninguém.
Considerações finais
Uma obra de Almodóvar não é uma tarefa muito fácil de ser analisar. Por
ser um cineasta de uma grande magnitude, seus filmes sempre trazem um cará-
ter cômico ou dramático, no entanto, sempre voltado por uma questão social
Referências
AMANN, Herausgegeben V.K. Pedro Almodóvar Todo sobre mi madre Guión origi-
nal. ISBN – 13:978-3-15-009135-7. p.207. 2005.
HAOULI, Janete El. A voz de Almodóvar. In: Urdiduras e Sigilos: Ensaios sobre o
cinema de Almodóvar. São Paulo. 2ª Edição Revisada. p.85-93. 1996.
MALUF, W.S. Corporalidade e desejo: Tudo sobre minha mãe e o gênero na mar-
gem. Florianópolis. p.148. 2002.
Resumo
Introdução
vez por semana, contra 59% da média mundial. Esses dados demonstram a
importância dessas redes para a comunicação de brasileiros e, evidenciaremos
sua importância também na metodologia de pesquisa.
Contextualizando as Pesquisas
primeira pesquisa apresentada, a busca por colaboradores foi iniciada por uma
rede de contatos pessoais, resultando no encontro dos sujeitos gay e lésbica,
que tiveram toda a comunicação durante o processo de apresentação da pes-
quisa e marcação da entrevista através do Whatsapp®, facilitando a troca de
informações e até o aceite em participar.
Desde o início desse estudo foram utilizados sites e redes sociais online
para discutir e conhecer mais sobre a diversidade sexual e de gênero. O acesso
aos sites destinados ao público LGBT elucidou perspectivas da dinâmica social
que a internet proporcionava a esse grupo. Muitas vezes, os sujeitos se coloca-
vam anonimamente nesses espaços virtuais, por temerem qualquer manifestação
de preconceito contra sua identidade. Deste modo, foi importante fazer parte
de vários grupos e páginas da rede social Facebook® para buscar mais informa-
ções correlacionadas à pesquisa.
As páginas são, comumente, perfis institucionais, ou seja, ligados a alguma
instituição acadêmica ou movimento social. Dentre elas, destacamos: “Eleições
HoJE - Homofobia Já Era”, “Una-se Contra a Homofobia”, “Gudds! - Grupo
Universitário em Defesa da Diversidade Sexual”, “Homofobia Não” e “Nuh
Educação Sem Homofobia”.
Esses perfis são importantes para difundir notícias tanto políticas, quanto
acadêmicas e sociais ligadas aos sujeitos LGBT. Além disso, é um espaço para
divulgar eventos, como: debates, manifestações e congressos sobre a identidade
de gênero e orientação sexual.
De forma semelhante os grupos do Facebook® também contribuíram
nesse processo, dentre eles o “ENUDS” – grupo pertencente aos participantes
do “Encontro Nacional Universitário de Diversidade Sexual” –, “LGBT Brasil”,
“Grupo de Estudos de gênero, feminismos e teorias queer”, “ABEH - Associação
Brasileira de Estudos da Homocultura”, “Ato Anti-Homofobia” e “RESPEITO
GAY”. Todos esses são visíveis ao público da rede social, porém alguns depen-
dem de um aceite do moderador para a participação.
A diferença das páginas para os grupos está na possibilidade de discus-
são de seus participantes. No primeiro, há um intuito informativo maior, já no
segundo o espaço de discussão por meio de postagens e comentários é mais
relevante, nos atualizando das informações ligadas à temática da pesquisa.
Esses grupos trouxeram a possibilidade de buscar pelos sujeitos transe-
xuais. Com mensagens explicativas sobre o motivo da pesquisa e a garantia
da preservação da identidade desses sujeitos, recebemos algumas repostas.
Considerações finais
Referências
ERICSSON. Ericsson: Brazilians Exchange more instant messages per week than the
global average. PRESS RELEASE. 2016. Disponível em: <http://www.ericsson.com/res/
region_RLAM/press-release/2016/2016-05-03-infocom-en.pdf>. Acesso em: 20 jun.
2016.
Rodrigo Cruz
Mestre em Ciências Sociais – Unifesp
Universidade de Lisboa; Acervo Bajubá
contatorodcruz@gmail.com
Resumo
1. Introdução:
apenas na Zona Sul do Rio de Janeiro, mas após ter causado burburinho na
grande mídia, a revista alcançou repercussão nacional, tornando-se a publica-
ção direcionada ao público homossexual de maior impacto desde o Lampião
da Esquina, tabloide editado na virada dos anos 1970 para os 1980. Lançada
no bojo da popularização do conceito mercadológico GLS (gays, lésbicas e
simpatizantes, idealizado pelo empresário André Fischer, do Mercado Mundo
Mix e do Festival de Cinema Mix Brasil), a Sui Generis se destacava por focar
na produção de conteúdo sobre cultura, moda e comportamento, fugindo da
pornografia predominante nas revistas homoeróticas em circulação. Outra novi-
dade era a aposta na valorização do sentimento de auto estima do leitor, com
artigos e reportagens que buscavam reforçar a necessidade de “sair do armário”,
tomar posição frente ao preconceito e mostrar-se orgulhoso em relação à pró-
pria homossexualidade.
Conforme frisa Monteiro (2002), a Sui Generis assumiu, nesse sentido,
uma certa “militância de mercado”, não apenas por trabalhar a autoestima dos
leitores e divulgar um certo “estilo de vida” gay que florescia no Brasil dos anos
1990, mas também por fazer o registro dessa nova etapa do movimento LGBT,
cuja expressão mais vibrante eram as Paradas do Orgulho que se disseminavam
pelo país. Este artigo propõe investigar, por meio de registros historiográficos da
comunidade LGBT, os diversos significados políticos das Paradas do Orgulho
entre os anos de 1995 e 2000. A pesquisa se apoia na análise de matérias
jornalísticas, entrevistas e artigos publicados na revista Sui Generis no período
supracitado.
Significado Político
Nome da Apresentação da Repor-
Edição Página da marcha, parada ou
Reportagem tagem
passeata
A Associação brasilei- A passeata é referencia-
ra de Gays, Lésbicas e Reportagem da coluna da como o ato político.
Travestis foi aprovada em contraponto com regis- As imagens mostram a
Ed. 3 8 e 9 meio à polêmica durante tros de fotos da passeata presença marcante de
o I Encontro Brasileiro que ocorreu em fevereiro organizações que traba-
de Gays e Lésbicas, em de 1995. lhavam na prevenção à
Curitiba. Aids.
Fala-se em um reflores-
cimento do movimento
A reportagem apresenta o
homossexual, que se
cenário no Rio de Janeiro
expressaria pelo número
Ed.4 20-22 Pride in Rio em meio a 17a Conferên-
de grupos organizados
cia Mundial da
no Brasil e na criação da
ILGA.
Associação Nacional de
Gays e Lésbicas.
A edição traz registros
A coluna contraponto fotográficos da Marcha
celebra o sucesso da 17a pela Cidadania Plena de
conferência da ILGA no Gays e Lésbicas. Neles
Visibilidade para quem quesito visibilidade. A observa-se a presença de
Ed. 5 8-9
precisa coluna também denúncia políticos como Fernando
a cobertura desigual dos Gabeira e Marta Suplicy,
quatro maiores jornais de além de faixas de mães
circulação nacional. e pais de gays e lésbicas
“saindo do armário”.
As imagens com diferen-
tes atores que compõem
a parada (pessoas com
Registros fotográficos da faixas, drag queens,
Parada nova-iorquina de pessoas fantasiadas,
1995 para convocação sadomasoquistas, mu-
da Parada em comemo- lheres lésbicas com seios
Ed. 13 40-41 Orgulho tem cara
ração ao dia do Orgu- desnudos) explicitam a
lho Gay e Lésbico que amplitude dos repertórios
ocorreria no dia 30/06 de ação coletiva, que
em Copacabana. podem variar entre ações
de protesto tradicionais
e performances mais
irreverentes.
A reportagem celebra a
maior receptividade das
A reportagem ressalta a
paradas por todo o país.
mobilização de setores
A parada de São Paulo
não-gays na parada. A
alcança a marca de 7 mil
Igualdade, liberdade e “pelada” (jogo de fute-
Ed. 34 40-41 participantes, conforme
festa bol) com drag queens
a organização. Há ainda
é apontada como uma
registros narrativos das
ação política de visibili-
paradas de Salvador,
dade.
Porto Alegre, Curitiba e
Brasília.
A estratégia da visibili-
Matéria debate a questão
dade é debatida: “Não
da visibilidade de gays e
Ed. 41 27-33 A invasão do bizarro podemos promover a
lésbicas na mídia, frente
visibilidade a qualquer
a difusão da cultura gay.
preço (...)”.
A matéria chama a aten-
ção para a pluralidade
de atividades realizadas
durante a celebração do
Programação nacional
Orgulho de Gays e Lés-
para celebração do Dia
30 anos, mas com corpi- bicas em várias cidades:
Ed. 45 40-41 Internacional do Orgulho
nho de 16, tá? beijaços, missas em ho-
de Gays e Lésbicas.
menagens às vítimas da
Aids, alas temáticas nas
Paradas, shows, passeios,
audiências públicas e
conferências.
O ensaio fala sobre a es-
tratégia por trás das para-
Ensaio crítico sobre a das: sem renunciar a mili-
Festa política e cidadania banda de Ipanema e a tância, mas incorporando
Ed. 46 66
GLT marcha pelos pela cida- a festividade e conjugan-
dania de gays e lésbicas. do ações de visibilidade
com a autoafirmação dos
sujeitos.
3. Considerações Finais:
A revista Sui Generis traz a cultura gay como nova forma de fazer política,
uma forma de afirmar uma comunidade com identidade, com aliados, com his-
tória, que produz cultura e que tem orgulho disso. A propagação das culturas
musicais da noite gay, como clubber e techno, aparece na revista como pano de
fundo do processo de expansão da comunidade. Em 1997, na semana seguinte à
primeira Parada de São Paulo, aconteceu também a primeira parada de música
eletrônica brasileira, intitulada “1ª Parada do Amor de São Paulo” (Fischer, 1997).
Diferente da Parada do Orgulho, a Parada do Amor não era organizada por ati-
vistas, mas por uma produtora que, em articulação com cenário nascente dos
clubes de música eletrônica e moda alternativa de São Paulo, tentava criar no
Brasil um evento semelhante à Love Parade alemã, que acontecia desde 1989.
Tal qual a Parada alemã, a versão brasileira se afirmava a partir de valores da
diversidade e cultura de paz, tanto que ano seguinte se uniu a uma campanha
de desarmamento promovida por movimentos estudantis e passou a se chamar
Parada da Paz. A afirmação da diversidade, a valorização da criatividade contra
Referências Bibliográficas
Fischer, André (1997). Paradas param tudo. Revista da Folha, 06 de julho de 1997, 60.
MONTEIRO, Marko. O homoerotismo nas Revistas Sui Generis e Homens. In: SANTOS,
Rick; GARCIA, Wilton. A Escrita de Adé: perspectivas teóricas dos estudos gays e les-
cic@s no Brasil. São Paulo: Xamã, 2002, p.275-290.
Resumo
Introdução
Nos últimos anos, pessoas transgênero têm tido mais espaço na mídia,
filmes, séries, debates políticos e na academia, com trabalhos científicos
acerca de como indivíduos trans problematizam e experenciam questões de
gênero (BORNSTEIN, 1995; BORNSTEIN & BERGMAN, 2010; BUTLER, 1990;
STRYKER, 2008; RAUN, 2014). Tais trabalhos acadêmicos trazem tanto o termo
transexuais quanto transgêneros, e autoras como Stryker (2008) apontam para
a popularização do termo transgênero nos Estados Unidos na década de 90,
pois entendia-se que tal terminologia “compreende todos os indivíduos cuja
identidade ou expressão de gênero diferem das normas sociais do gênero que
lhes foi atribuído no nascimento” (STRYKER, 2008. p.30), sendo recebido como
um termo mais inclusivo, que não limitava-se à questões de sexo biológico.
Jaqueline Gomes de Jesus (2012) também apresenta o termo transgênero em
sua publicação “Orientações sobre identidades de gênero: conceitos e termos”
e coloca que no Brasil não há concenso quanto à utilização de uma ou outra
terminologia, porém corrobora com a colocação de Stryker ao definir trans-
gênero como termo mais inclusivo e amplo, utilizado por pessoas que não se
identificam com o sexo atribuído ao nascer ou com qualquer gênero colocado.
Em outro momento, a autora coloca que mulher ou homem transexual é aquele
que não se identifica com o gênero que lhe foi atribuído ao nascer, se expres-
sando e identificando com o outro gênero binário colocado pela sociedade (ou
seja, fala-se de um binarismo de gênero, pois não inclui demais gêneros que
não masculino ou feminino). Neste trabalho os termos que serão utilizados são
homem transgênero e mulher transgênero e trans como abreviação de tais pes-
soas no plural, uma vez que compreende-se que transgênero é mais inclusivo e
não sugere necessariamente um binarismo de gêneros, conceito que traz uma
compreensão de gênero como estático e imutável, construído como unidade de
separação e identificação do inimigo, do “Outro” (BUTLER, 1990. p. 33).
O espaço da internet vem propiciando discussões a respeito de identida-
des e expressões de gênero, além de ser um dos locais onde as pessoas buscam
informações à respeito dessas temáticas. Os blogs, fóruns de discussão online,
redes sociais (como Facebook, Twitter, Instagram, Tumblr, entre outros) vem
ganhando cada vez mais espaço na troca de conteúdos, e sites como o Youtube
têm proporcionado um espaço onde o autor dos vídeos pode se colocar de
Método
1 Vlogs é a abreviação do termo video blogs, que são videoclipes geralmente curtos (de 2 a 10 mi-
nutos) protagonizados e produzidos por uma pessoa e compartilhado virtualmente (Raun, T., 2010
p.85).
2 Compreendido aqui como processo de mudanças físicas e emocionais pelas quais pessoas que se
identificam com outro gênero, que não o designado em seu nascimento, experienciam quando assu-
mem o gênero com o qual se identificam e as características sociais que este apresenta.
Considerações finais
Referências
BARDIN, Laurence. Análise de conteúdo (L. de A. Rego & A. Pinheiro, Trads.). Lisboa:
Edições 70, 2006. (Obra original publicada em 1977).
BORNSTEIN, Kate. Gender outlaw: On men, women, and the rest of us. New York:
Vintage Books, 1995.
BORNSTEIN, Kate, & BERGMAN S. Bear. Gender outlaws: The next generation.
Berkeley, CA: Seal Press, 2010.
Gray, David. Pesquisa no mundo real. 2. ed. Porto Alegre: Penso, 2012.
Fernando Henrique
Graduando em Ciências Sociais Aplicadas - Direito
Universidade Federal de Uberlândia (UFU)/FAPEMIG
fernando-.henrique@hotmail.com
Resumo
Introdução
1 Quando me referir, daqui para frente, ao Breviário de Pornografia Esquisotrans para as pessoas do
avesso, o farei de forma abreviada. Empregarei apenas o termo Breviário.
2 BORGES; BENSUSAN, 2010, p. 57
3 Ibidem, p. 13
4 BATAILLE, 2004, p. 91
5 BORGES; BENSUSAN, 2010, p. 13
6 BENSUSAN, 2013
7 Idem.
8 Essa noção de “denúncia” me foi apresentada pela Lila Monteiro, em uma de nossas conversas de
depois do almoço, nuns banquinhos próximos ao bloco 1B, da Universidade Federal de Uberlândia
(UFU), e entre os olhares dos meninos das engenharias e os ataques das abelhas.
9 DELEUZE; GUATTARI, 2010, p. 11
10 FOUCAULT, 2015, p. 16
A Teoria Queer se atenta a esses corpos. Ela surgiu no começo dos anos
1980, e aponta “para o fim dos conceitos de heteronormatividade, homoafe-
tividade, masculino e feminino, e abarca a excentricidade do sujeito em seu
modo mais radical. Queers querem o fim da divisão binária do gênero, o fim
da polaridade entre masculino e feminino”13. Essa teoria questiona as ontologias
da sexualidade; a naturalização do sexo heterossexual e do desejo pelo sexo
oposto; a correspondência entre os genitais e o gênero; e aponta a construção
histórica da masculinidade e da feminilidade.
Da noção de esquizo os autores constroem a ideia de esquizerda, que
fica tentando contrabandear energia erótica para dentro do que
é político enquanto procura, com a outra mão, escancarar os
semitons políticos do microerótico. [...] é proliferação, ao invés de
organização da produção e da distribuição. Não se trata de desviar
dos desejos que parecem implantados pela máquina de consumo
e de manutenção das coisas, mas de retorcê-los, metê-los em uma
paisagem de desejos [...]
Fica nítido que os autores não ocultam o aspecto político que seus textos
e discursos vinculam, ou seja, que eles têm uma determinada finalidade.
A criação do termo Esquisotrans, é um exemplo disso. Nele, como já apre-
sentado, os autores aglutinaram as noções de esquiso e trans; e, além disso,
criaram a noção de pessoa do avesso para se referir a ambos os elementos.
O Breviário fala sobre e é dedicado a essas pessoas do avesso, aos
desejos que transitam e que escapam, que nasceram fugidos e
vivem se deslocando. Aos que sabem que todo o dia é necessário
inventar-se, ser outra coisa, pois a última desconstrução engessou,
tornou-se rígida e o próprio desejo é cambiante. É dedicado aos
que nunca encontraram um centro e sempre foram periferia. Aos
que, no lixão, amaram. Aos que festejam sempre o lugar da costura,
das marcas, da diferença, da abjeção14
Borges e Bensusan não só falam sobre essas pessoas do avesso, com seus
corpos abjetos, como empregam os termos mais chulos possíveis na escrita de
suas historietas. Ao empregarem esses termos, os autores questionam a forma
que o sexo é falado, pois se engana quem acha que não se fala de sexo. O sexo
é sempre assunto, mas se fala de uma determinada forma e de um determinado
sexo: o heterossexual (porque o resto é putaria).
A partir do século XVIII o sexo heterossexual se torna objeto de estudo,
tanto pela medicina, pedagogia, e psiquiatria15 – para citar alguns –, quanto
pela literatura. Apesar do discurso do sodomita ser desautorizado, o “sexo se
tornou, de todo modo, algo que se deve dizer, e dizer exaustivamente, segundo
dispositivos discursivos diversos, mas todos constrangedores, cada um à sua
maneira”16.
Dessa forma, para se falar de sexo na literatura, era preciso circunscre-
vê-lo, tratá-lo metaforicamente, sempre de forma indireta, oblíqua. Era preciso
fazer dele um ritual, elevá-lo à transcendência. Palavras como cu17, caralho18,
19 Ibidem, p. 98.
20 Idem.
21 FOUCAULT, 2015, p. 30
22 DELEUZE; GUATTARI, 2010, p. 12
23 Idem.
24 Ibidem, p. 16
25 BORGES; BENSUSAN, 2010, p. 129
26 Ibidem, p. 37-40
27 Ibidem, p. 43-47
pau”28. Corpos que adoram “teta e pau juntos”29, ou que querem todos os ami-
gos do seu macho de uma vez30. Corpos que se perguntam: “É só pelo que eu
tenho entre as pernas que sou digno de amor?”. Corpos jogados para o canto,
que se cansaram de procurar pela essência das coisas, pois nunca foi atribuída
beleza à sua abjeção.
Considerações finais
Referências
BATAILLE, Georges. O erotismo. Trad. Cláudia Fares. São Paulo: Arx, 2004.
MUÑOZ, Alfonso Ceballos. Teoria raríta. In: CÓRDOBA, D.; SÁEZ, J.; VIDARTE, P.
(Org.). Teoría queer: políticas bolleras, maricas, trans, mestizas. Madri: Editorial Egales,
2005. p. 165-177.
Resumo
Introdução
1 Caracterizamos a Web 2.0 como um tipo de mindset, ou seja, um modo de pensar e conhecer o
mundo vivido (Lankshear e Knobel, 2008, p.31). Na Web 2.0, o mindset é orientado sob a lógica da
participação, da colaboração e a da inteligência coletiva.
2 Este trabalho desenvolve parte da pesquisa de doutoramento realizada por esta autora (Guimarães,
2014).
3 Neste trabalho, uso o conceito de ethos em associação à noção de ethos como hábitos locucio-
O post abaixo ilustra como Luan se dirigia a seus amigos virtuais, construindo
sua participação nessa rede social.
Na época, esse post lhe gerou algumas curtidas e comentários sobre suas
identificações de gênero, sexualidade e raça, no Facebook. Na publicação,
acima ilustrada, o jovem encena uma peformance que produz efeitos de uma
identificação específica. Aqui, Luan é um garoto negro e belo. Essa inter-relação
está fortemente presente nas suas interações. Ao promover seu corpo como
desejável e belo, suas publicações eram comentadas e curtidas por um grande
número de pessoas. Essa valorização do corpo corresponde às expectativas
próprias dos espaços on-line, em que há uma inclinação para valorização da
nais compartilhados por membros de uma comunidade, conforme C. Kerbrat-Orecchioni (1996). Tal
“ethos coletivo” constitui, para os locutores que o compartilham, um “perfil comunicativo”, ou seja,
a sua maneira de se comportar e de se apresentar nas interações (Kerbrat-Orecchioni, 1996).
aparência e da imagem do corpo, onde o que importa é ser visto, como bem
sintetizou Bauman “quanto maior é a frequência de minha imagem, quanto mais
pessoas visitam meu Twitter, mais chances terei de ingressar nas fileiras dos
famosos”. (Bauman, 2011, p.29).
Além disso, Luan utilizava quase todos os dias o MSN e o Skype para
manter/fazer contatos. Orgulhava-se de possuir mais de 2 mil amigos no Skype
e MSN, quase 2 mil amigos no Facebook e mais de 80 mil seguidores no Twitter.
Já na sala de aula, participava pouco. Gostava de ficar sentado no fundo. Era
constantemente alvo de críticas do professor de redação, que o posicionava
como tendo interesse somente pelo que acontecia nas redes sociais on-line.
Desde o inicio da referida pesquisa, Luan se aproximava de um ethos
interacional que privilegiava as práticas das interações on-line em detrimento
das práticas da escola. Tal aproximação era recorrente nas suas interações,
como aponto no seguinte fragmento de entrevista acerca de sua relação com
o professor de redação:
“[...] tipo ele acha que sou uma pessoa alienada. Ele fala de mim,
porque acha que na Internet não tem nada útil. Ele não me deixa
com raiva com esse tipo de pensamento, mas eu acho que não
sabe de nada do que se passa por lá. A vida lá é muito mais diver-
sificada, eu fico sabendo de tanta coisa que uma pessoa que não
tem contato com esse mundo não sabe. Eu acho que eles é que
são alienados de verdade” (Luan em entrevista à pesquisadora
- 10/09/2011).
Referências
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MARCUS, G.E. 1995. Ethnography in/of the world system. The emergence of multi-
sited ethnography. Annual Review of Anthropology, 24: 95 – 117.
MOITA LOPES, L.P. 2006. Uma Linguística aplicada mestiça e ideológica: interro-
gando o como linguista aplicado. In: MOITA LOPES, L.P. (Org.) Por uma linguística
aplicada indisciplinar. São Paulo, Parábola, p. 13-42.
Resumo
Introdução
1 Esta apresentação desenvolve parte da pesquisa de doutoramento realizada por um dos autores (cf.
Guimarães, 2014).
A cena abaixo foi retirada de uma interação entre Luan e Moreira. Moreira
estudava na mesma sala de Luan e, igualmente, era participante da pesquisa. O
jovem era visto com frequência comentando as postagens efetuadas por Luan.
A transcrição mostra Luan negociando sentidos sobre sua performance de raça,
a partir de um questionamento realizado por esse jovem. De acordo com as
observações etnográficas, era comum Moreira exercer fiscalização das perfor-
mances de raça de Luan nas redes sociais Twitter e Facebook, principalmente
com relação às fotos postadas por Luan (editas pelo software Photoshop), qua-
lificando-as como feias ou como tentativas de clarear a pele ou parecer branco
Em entrevista com a pesquisadora, a respeito dessa questão, Luan afirmara:
Pessoas conversam comigo na Internet e fala: olha o neguinho.
Fala/criticam minhas fotos porque acham que neguinho é essa
coisa que mostram na TV. Tipo o negro é pobre, feio, negro rouba.
Acham porque me visto bem, sei debater com eles, discutir que
quero parecer branco. Não sinto nenhuma ameaça sobre esse tipo
de atitude com relação a minha cor. Eu levo na brincadeira, mas
acho que ninguém esqueceu o tratamento dado aos negros de anti-
gamente, eles acham que ainda existe uma raça superior. (Luan em
entrevista à pesquisadora 14/10/2011) .
Tal declaração aponta o que Luan crê que sejam as racializações por
parte de seus amigos no Facebook, Twitter e Skype. Aqui ele convoca senti-
dos socioculturalmente sedimentados sobre diferenças entre raças e contesta os
significados racializados impostos nas nomeações e estereótipos. Nesta seção,
exploro um momento interacional em que Luan negocia sentidos válidos sobre
sua raça com Moreira. Apesar de o Twitter ter como objetivo ser uma conversa
aberta entre todos os usuários, com base no questionamento “o que você está
fazendo?”, Moreira faz uma pergunta direcionado a Luan. A interação ocorreu
dia 21 de junho de 2011 e deve ser analisada de baixo para cima, ou seja, do
tweet 1 ao 4.
Referências
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Londres: Routledge, 1999.
MELO, G. C.V.; MOITA LOPES, L.P. Ordens de indexicalidade mobilizadas nas perfor-
mances discursivas de um garoto de programa: ser negro e homoerótico. Linguagem
em (dis)curso, v. 14, n. 3, p. 653-685, 2014.
Silverstein, M.; Urban, G. (Eds.). Natural histories of discourse. Chicago: The University
of Chicago Press, 1996.
THOMAS, A. Youth online. Identity and literacy in the digital age. Nova York: Peter Lang, 2007.
Resumo
Introdução
Considerações finais
Assim, nós percebemos que estas obras estão repletas de hibridizações culturais
e corporais, que antes também eram intransmissíveis via outras formas midiáti-
cas. Elas estabelecem mapas de referências compartilhados, dentro de nossos
contornos pessoais, locais e globais, ao transformar estes paradoxos sociais.
Este é um exercício do pensamento/criação que nos oferece participação cole-
tiva na reconstrução de paisagens subjetivas para um mundo livre, igualitário e
diferente.
Referências
BUTLER, Judith. Bodies that Matter: on discursive limits of “sex”. New York/London:
Routledge, 1993. 288 p.
IRIGARAY, Lucy. Speculum of the Other Woman. Tradução: Gillian C. Gill. Ithaca:
Cornell University Press, 1985. 365 p.
POLLOCK, Griselda. Vision and Difference: feminism, femininity and the histories of
art. New York/London: Routledge, 1988. 320 p.
RISCA. Memória e Política das Mulheres nos Quadrinhos, n.1. Belo Horizonte: Coletivo
Lady’s Comics, Novembro, 2015. 82 p.
SMITH, Anna Marie. Laclau and Mouffe: the radical democratic imaginary. London/
New York: Routledge, 1998. 236 p.
Artigos
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Essays London: Penguin, 2009. P. 275-292.
SPIVAK, Gayatri C. “Can the Subaltern Speak?”, In: NELSON, Cary; GROSSBERG,
Lawrence (Ed.). Marxism and the Interpretation of Culture. London: Macmillan, 1988.
P. 24-28.
WU, Kylie. Trans Girl Next Door. Media: Tumblr, 2013-. Disponível em <http://trans-
girlnextdoor.tumblr.com/>. Acesso em: 10 jun. 2016.
Resumo
Introdução
Considerações Finais
Referências
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dito. Rio de Janeiro: Record, 1967, p. 253-268.
BOSI, Alfredo. História concisa da literatura brasileira. 43 ed. São Paulo: Cultrix, 2006.
CANABRAVA, Luís. O Anjo da Avenida Atlântica. In.: HONÓRIO, José Carlos (Org).
O amor com olhos de adeus. São Paulo: Transviatta, 1995, p. 155-164.
FEITOSA, Z.A. Rita Pavone não usa tubinho. In.: ____. Algolagnia. São Paulo: Econ
editorial, 1984, p. 103-112.
FONSECA, Rubem. Dia dos namorados. [1975] In.: RUFFATO, Luiz. (Org.) Entre nós.
Rio de Janeiro: Língua Geral, 2007, p. 125-136.
JERÔNYMO, Orlando. Mudanças. In.: HONÓRIO, José Carlos (Org). O amor com
olhos de adeus. São Paulo: Transviatta, 1995, p. 145-154.
MARTINS, Julio César Monteiro. Ruiva [1978]. In.: RUFFATO, Luiz. (Org.) Entre nós.
Rio de Janeiro: Língua geral, 2007, p. 241-256.
MOISÉS, Massaud. A literatura brasileira através dos textos. São Paulo: Cultrix, 2007.
PELÚCIO, Larissa. Abjeção e Desejo - uma etnografia travesti sobre o modelo preven-
tivo de AIDS. São Paulo: FAPESP, 2009.
RIOS, Cassandra. Uma mulher diferente. [1965]. São Paulo: Basiliense: 2005.
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leira de temática gay. In.: SILVA, A. P. D. (Org.) Aspectos da literatura gay. João Pessoa:
Editora Universitária/ UFPB, 2008, p. 25-49.
Resumo
efeito do poder, mas como espontânea. Não mais revelava o poder que coa-
gia. (p. 60). Para Foucault, os detalhes minuciosos, as precauções meticulosas
dos cientistas e teóricos, espalhadas em vários tipos de confissões (médicas,
psicológicas, pedagógicas), pelo menos até Freud, podem ser considerados pro-
cedimentos destinados a desviar a verdade perigosa do sexo: “De tanto falar
nele e descocri-lo reduzido, classificado e especificado, justamente lá onde o
inseriram procurar-, se-ia, no fundo mascarar o sexo: discurso-tela, discurso-es-
quivância” (FOUCAULT, 2003, p. 53).
um corpo não existe “per si”, como unidade, mas apenas em relação com seus
fragmentos internos e com outros corpos.
Abjeção digital
Resistência
mesmo tempo, por serem vídeos, são processos e veículos, e por serem digitais
são virtualizações, passagens e interfaces. Johnson (2001) argumenta que a sen-
sibilidade torna possível o trânsito de informação e, assim, esse tipo de vídeo
inspira outros vídeos, comentários, memes etc, cumprindo a função de gerar
visibilidade pela heterogênese, formas díspares que se tornam convergentes
(JENKINS, 2009) no universo em rede. Neste sentido, esse tipo de vídeo é como
filmes de guerra (VIRILIO, 2005, p. 27), “a partir do momento em que está apto
a criar a surpresa técnica e psicológica”. Diferentemente de Heidegger, Virilio
(1996) argumenta que o espaço encolhe e os lugares desaparecem em função
do progresso da velocidade. Devemos relativizar essa pressão do tempo sobre
o espaço, uma vez que as questões LGBT, embora afetadas pela esfera pública
internacional, encontra-se territorializadas: na Tailândia três homens se casaram
em cerimônia budista. No Brasil, filho de pais gays morre depois de espanca-
mento. No Irã, homem para escapar à morte e se relacionar sexualmente com
outro homem é obrigado a fazer cirurgia para mudar o sexo. Multiplicidades
que tornam uma identidade queer muito problemática, mas aponta para uma
inteligência coletiva (LEVY, 1996b), em que os pontos de vistas sobre discussões
locais são ampliados a partir de exemplos de uma esfera global.
O que Baudrillard (2004) chama de grau zero ético, de modo bastante
negativo, quando se refere aos realities shows, mesmo não duvidando da fluidez
entre o banal e o extraordinário, poderíamos aqui, diferentemente, considerar
um avanço democrático por liberar usuários de tecnologia digital do mundo
inteiro para a experimentação de uma alteridade de si, para a autopromoção
em celebridades instantâneas. Mesmo considerando o esforço teórico maravi-
lhoso de Baudrillard (1999, 2004) sobre o esvaziamento do signo imagético e a
impossibilidade do valor representativo da imagem, porque o real passou a ser
modelizado conforme um modelo que o precede (que é a própria imagem), há
que se fazer uma ressalva nesse pensamento quando o assunto é a militância.
Os argumentos de Nichols apresentados por Rezende (2013), ajudam a
pensar em que sentido a realidade perdeu sua antecedência em relação aos
signos que deveria representá-la. Nichols, ainda segundo Rezende (2013), sus-
tenta, contra Baudrillard, por exemplo, que mesmo a invasão de Granada sendo
comunicada como simulação, “os mortos e desastres de guerra seriam uma
prova de que ainda há um real...”
Referências
. Vida precaria - El poder del duelo y la violência. Buenos Aires, Paidós, 2009.
FOUCAULT, Michel. Genealogia da ética, subjetividade. Ditos e Escritos, Vol. IX. Rio
de Janeiro: Forense Universitária, 2006.
FREUD, Sigmund. O estranho. IN: Freud. Obras completas. Edição Standard Brasileira
V. XVII. Rio de Janeiro: Imago, 1986.
HEIDEGGER, Martin. Ser e tempo. Rio de Janeiro: Vozes, 2001. JENKINS, Henry.
Cultura da Convergência. São Paulo: Aleph, 2009.
Vivian Steinberg1
Resumo
3 De acordo com a edição de Poética, da Companhia das Letras, 2013. A edição da Brasiliense foi
editada com maiúsculas.
4 DOLAR, op. cit. p. 173.
6 BENVENISTE, E. “ a natureza dos pronomes” in: Problemas de Linguística Geral I. Campinas: Pontes,
1995.
7 VIVEIROS DE CASTRO, Eduardo. “Os pronomes cosmológicos e o perspectivismo ameríndio”. In:
Mana vol.2 no.2 Rio de Janeiro Oct. 1996
http://dx.doi.org/10.1590/S0104-93131996000200005
http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0104-93131996000200005. p. 126.
8 NANCY, Jean-Luc. “Vox clamans in deserto”. In: Gratuita - caderno de leituras- vol. 2.Belo Horizonte:
Chão da feira, 2015. p.11
Se voz é a relação com o outro, aqui é com o outro que não se vê, é a voz
que clama no deserto? “A voz grita no deserto porque ela própria é em primeiro
lugar este deserto desfraldado no meio do corpo, aquém das palavras”.11 “Não
se ouve...mas faz-se ouvir”.12
Derrida, em “Il faut bien manger”, pensa os textos como a construção
estrutural de uma multiplicidade de posições em uma mesma voz que poderia
ser ocupada por devires.
A segunda voz anunciada é a “...a voz/ do espelho dos meus olhos,/
negando-se a todas as viagens,”. Podemos refletir com Lacan
que gastou muito tempo, em seus dias de juventude, meditando
sobre outro recurso narcisista elementar, o espelho. Este deve pre-
encher a mesma função - conceder o mínimo apoio necessário
para se produzir o autorreconhecimento, a conclusão imaginária
oferecida ao corpo múltiplo, a blindagem imaginária que acom-
panha, a constituição de um ‘sujeito’, assim como a matriz de um
relacionamento entre iguais, a fonte ambígua de amor e agressão
- assim como a conhecida panóplia da notória fase do espelho”. 13
Então, “a voz do espelho dos meus olhos” é o Narciso cuja história envolve
tanto o olhar quanto a voz, de acordo com Dolar. Narciso é uma abertura para
o estranhamento e voz é sempre relação, tanto o oral, como o falado e o escrito.
O poema é visto como momento de uma escrita, assim a relação com o mundo
é transformada pelo poema. Como o espelho traz uma definição mesma que
ambígua, limita o espaço, o corpo, “negando-se todas as viagens” e aqui o
todas compartilha a casa toda; os papéis todos, de todas três, assim como o
negar está representado também em: “nunca mais; “mas seu corpo não” e as
viagens está implícito no título: travelling e em: “a câmera em rasante viajava”.
A terceira voz é “a voz rascante da velocidade”. É um decassílabo assim
como o verso: “A câmera em rasante viajava”. Podemos associar o rascante da
voz com o rasante da câmera pela sonoridade. Velocidade relacionaremos com
o cinema e com o modernismo e a relação com o estudo da poética porque
11 op.cit. p.15
12 op. cit. p.18
13 DOLAR. op.cit. p.174.
está justamente num verso decassílabo, marca de uma tradição da língua portu-
guesa, presente em Camões, então podemos relacionar a voz da velocidade, do
tempo presente, do modernismo, por um lado e, por outro, à tradição poética
anterior.
Com essas três vozes, que ainda não são linguagem, abre-se a via, e pro-
cura-se um fio, a escrita, a voz da voz desta existência, emitida por sua boca e
pela sua garganta. É a iminência da linguagem.
Assim, os versos vão diminuindo, e enquanto os verbos: recolocar, guar-
dar e confirmar, agora há o desalinho: “enquanto desalinho/ sem luxo/ sede/
agulhadas/”. Quatro versos curtos, sem pontuação, e termina com dois versos
longos: “os pareceres que ouvi num dia interminável:/ sem parecer mais com a
luz ofuscante desse mesmo dia interminável”. Enquanto nos primeiros versos há
a tentativa de organizar, no final do poema há o desalinho e a multiplicidade
de vozes nos pareceres escutados e o momento não é mais tarde da noite, mas
“num dia interminável” que se torna “desse mesmo dia interminável”. O signifi-
cado da palavra parecer é expandido no último verso e ganha uma iluminação
mesmo que negativa. A luz ofuscante desnorteia porque define demais, brilha
intensamente, leva à vertigem. O jogo com o olhar é entrelaçado ao som, às
vozes todas repercutindo no poema.
A antítese: “luz ofuscante” é o outro lado do poema - por um lado o ouvir,
as vozes - ouvido mãos - no falar de Valéry - e outro o ver - espelho, cinema -
imagens e luz ofuscante, invés de iluminar, ofusca. Precisamos de sombras para
ver, buracos para ouvir... e até para dormir. Para continuar a falar em cinema, o
filme Solaris, de Andrei Tarkóvski traz uma abordagem sobre o lugar espectral
num mundo iluminado, sem dia ou noite, ali a insônia é uma condição crônica,
assim como o dia interminável.
E assim a travessia chega ao fim, ou a “esse mesmo dia interminável”.
Resumo
Este trabalho tem como objetivo estabelecer uma discussão teórica acerca das
questões de corpo, gênero e performance no discurso heteronormativo através
da análise do conto Ruiva (1978), de Julio César Monteiro Martins, evidenciando
as experiências de opressão vividas pela personagem Gina, uma travesti que
busca a oportunidade de viver sua sexualidade na cidade de São Paulo. A dis-
cussão teórica pretende evidenciar através da narração ficcional os mecanismos
de opressão estabelecidos por um discurso binário baseado na heteronormati-
vidade e no controle dos corpos e suas sexualidades, tomando, em sua maioria,
as contribuições teóricas de Judith Butler apresentadas no capítulo Atos cor-
porais subversivos, presente em seu livro Problemas de gênero: feminismo e
subversão da identidade (2015).
Palavras-chave: travestilidade; heteronormatividade; corpo; gênero; literatura.
Introdução
2015, p. 201). Gina, certa de que era uma mulher, sente-se obrigada a explicar
sua performance, dar conta daquele corpo e daquele sexo que estão imbuídos
de um discurso opressor, e no qual a ruiva vê-se obrigada a participar, no caso,
revelando tratar-se de uma travesti.
Na verdade, o gênero seria uma espécie de ação cultural, corpo-
ral que exige um novo vocabulário, o qual institui e faz com que
proliferem particípios de vários tipos, categorias ressignificáveis e
expansíveis que resistem tanto ao binário como às restrições gra-
maticais substantivadoras que pesam sobre o gênero. (BUTLER,
2015, p. 195)
Na falta desse novo vocabulário apontado por Butler (o qual, hoje, pode
ser percebido através do uso ou omissão de artigos, por exemplo; ou ainda
no uso do “x” para a quebra do binarismo heteronormativo), Gina acaba por
participar do jogo de palavras que, na verdade, não são mais do que marcado-
res culturais que delimitam os corpos, os sexos, os gêneros, as performances
(homem, mulher, gay, travesti, lésbica...), e acabam por oprimir aqueles que,
de alguma forma, não se encaixam nas delimitações linguísticas e culturais que
perpetuam a opressão e o controle dos corpos e suas sexualidades.
O Fusca parou numa rua escura, que ele disse chamar-se Estrada
da Boiada. Deram longos beijos na boca, no pescoço, nos ombros,
e a mão do japonês ia se esticado pela coxa. Gina começou a ficar
apavorada, imaginando a reação do homem quando descobrisse
que ela era um travesti. Antes que ele fizesse a descoberta pelo
tato, ela resolveu contar. – Sabe, meu bem, pelo amor de Deus não
fica zangado comigo pelo que eu vou dizer procê, mas antes que
sua mão esbarre nos meus trens, eu quero que você saiba que eu
sou um travesti. (MARTINS; In: RUFFATO, 2007, p. 247)2
O japonês, por sua vez, ao deixar claro que já sabia de sua travestilidade,
deixa Gina quase que ofendida com a notícia, uma vez que a personagem
se via como uma mulher, e achava que os outros também a viriam como tal.
Mas, como bem ressalta Butler: “Quando a desorganização e desagregação
2 O conto foi incialmente publicado em 1978, o que justifica o uso inapropriado do artigo indefinido
“um”.
não se considerava uma travesti, mas uma mulher. Indignada com isso, Denise
é a responsável pelas piores ofensas sofridas por Gina no conto: “[...] sua vaga-
bunda de terceira! Sua bicha escrota caipira!” (MARTINS; In: RUFFATO, 2007,
p. 254).
[...] seu bicho do mato horroroso. É por causa de gente como você,
que não tem compostura e sai dando de graça pro primeiro que
aparece, que a gente não consegue se estabelecer. Sai do meu
caminho, vai. Com você eu não quero mais conversa. – Mas,
Denise... – Você é uma escrota, tá bom? Vai pro esgoto que lá é o
seu lugar. (MARTINS; In: RUFFATO, 2007, p. 254)
3 Publicado no ano de 2002, o que justifica o uso inapropriado do artigo indefinido “um”.
forma possível, já que não bastava a ela a simples transição, mas, também, o
reconhecimento. Como afirma Butler, e pelo que podemos perceber no triste
final do conto: “‘Interno’ e ‘externo’ só fazem sentido em referência a uma
fronteira mediadora que luta pela estabilidade” (BUTLER, 2015, p. 231); esta-
bilidade, essa, que Gina não consegue alcançar: “Só Deus sabe como estou
sofrendo com tanta desumanidade” (MARTINS; In: RUFFATO, 2007, p. 255).
Considerações finais
Referências
DANIEL, Herbert; MÍCOLIS, Leila. Jacarés e lobisomens: dois ensaios sobre a homos-
sexualidade. Rio de Janeiro: Achiamé, 1983.
MARTINS, Julio César Monteiro. A ruiva. In: RUFFATO, Luis (org.). Entre nós. Rio de
Janeiro: Língua Geral, 2007.
GT 04 -
Travestilidades, Transexualidades, Lesbianidades e Homosexualidades:
Transgressões e Resistências.
Resumo
1 Todas as informações verbais (transcrições literais, ou referências das falas dos participantes do do-
cumentário de gravata e unha vermelha) possuem indicativo do tempo em que aparecem no DVD.
O formato adotado é o de indicação de “hora:minuto:segundo”. Embora esta prática não seja usual
nós a adotamos como meio de facilitar possíveis busca no filme através do temporizador de tela.
Mel (00:58:28) explica que por não ter seu corpo redesignado, ela tem
muita dificuldade de “se relacionar com outro homem”. Salienta que enquanto
não tiver seu “corpo completo”, não vai conseguir se relacionar de corpo e
alma. É interessante perceber que ao dizer de sua relação, Candy Mel, mesmo
tendo afirmado que tem uma “cabeça de mulher”, fala como homem dizendo
de uma dificuldade de “se relacionar com outro homem”. O conflito evidente
na argumentação da cantora parece recair sobre a problemática do órgão geni-
tal. Sua completude atrelada à posse de uma vagina, isso lhe dará um corpo
completo. O corpo de mulher tem um crivo de verdade que ela deseja. Taís
Souza, também reafirma a importância da anatomia ao dizer:
“Para mim (a cirurgia) não é algo da cabeça é algo anatômico, é
como se eu tivesse seis dedos, cortou um dedo para mim tá resol-
vido”. (00:58:11)
seria algo “dado” pela natureza, inerente ao ser humano. Tal con-
cepção usualmente se ancora no corpo e na suposição de que
todos vivemos nossos corpos, universalmente, da mesma forma.
No entanto, podemos entender que a sexualidade envolve ritu-
ais, linguagens, fantasias, representações, símbolos, convenções...
Processos profundamente culturais e plurais. Nessa perspectiva,
nada há de exclusivamente “natural” nesse terreno, a começar pela
própria concepção de corpo, ou mesmo de natureza (LOURO,
2000, p.6).
Rogéria (01:14:35) também relata essa experiência de ser o que ser é para
além do que se espera. Sendo no início de sua carreira de cabeleireiro, maquia-
dor na extinta TV Rio, cercado de grandes atrizes ouvia constantemente dizerem
que ela deveria ir para o palco. Não queria ir como homem e por isso achava
que seria impossível esse processo. Até que descobriu que não tinha que ser
como homem, podia ser como mulher, ou como qualquer coisa porque a arte
independe de sexo, de gênero. Segundo Rogéria estar no palco, no cinema ou
na TV é viver outra realidade, outra vida, ser outra além de você mesma. E foi
ser Rogéria a vedete que manteve o nome de Astolfo, por que gosta de parecer
mulher, mas adora ser homem.
Letícia (00:12:25) tendo recebido atribuição masculina em seu nascimento
e o nome de Geraldo, se batizou “na pia da vida” com o nome de Letícia Lanz.
“Eles queriam que eu representasse um papel que não dava certo
comigo”. (00:16:23)
Referências
EDUCAÇÃO, POLÍTICAS,
DIVERSIDADE SEXUAL E DE
GÊNERO
ISBN 978-85-61702-44-1
SUMÁRIO
PERFORMATIVIDADE E INTERSECCIONALIDADE
NAS IDENTIFICAÇÕES DE GÊNERO ENTRE JOVENS
NO CONTEXTO ESCOLAR: ALGUMAS REFLEXÕES . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 561
Leandro Teofilo de Brito | Nayara Cristina Carneiro de Araújo
HOMOSSEXUALIDADE, SILENCIAMENTOS E
NORMATIZAÇÕES EM ESCOLA RELIGIOSA . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 674
Cristiano José de Oliveira
Resumo
Introdução
Sousa (2000, p. 75), nas suas discussões sobre essa temática, afirma que “a
burocratização da profissão e a consequente aversão ao trabalho docente tam-
bém contaminou professores, alimentando durante muito tempo o preconceito
contra o professor dos anos iniciais do Ensino Fundamental”, aquele designado
a trabalhar com crianças. Isso também reflete na inserção dos homens no Curso
de Pedagogia e, especialmente, na reação das pessoas pela escolha masculina.
Conclusões reflexivas
que o ingresso na escola foi sem grandes dificuldades, a maioria deles iniciou
a vida escolar além da idade própria ou teve interrupções no percurso. Estas
dificuldades se acentuaram entre o ensino médio e o ingresso na universidade,
principalmente em relação à escolha pela pedagogia.
Assim, pode-se concluir que os principais interlocutores deste trabalho
são homens com características diversas ou diferentes tipos de masculinidades,
pois embora movidas por situações e condições de vida diferenciadas, com-
partilham aspectos comuns em suas histórias de vida. Em primeiro lugar são
pessoas que sempre perseguiram o ideal de serem sujeitos de suas próprias
histórias enfrentando assim quaisquer barreiras em busca dos seus objetivos.
Em segundo lugar, todos eles, independentemente do tempo e dos obstáculos,
almejaram muito e conquistaram o ingresso em uma faculdade ou universidade
conquistando com êxito uma formação profissional.
Na realidade, nesta experiência identificou-se os homens como um
gênero pouco presente na pedagogia, mas com uma permanência resistente
como se os valores patriarcais ou matriarcais determinassem seus espaços, mas
não erguessem aí o seu trono. De certo, se a seletividade social surgiu com a
organização das sociedades, aprimorando-se com a complexidade das mesmas,
a seletividade escolar e o desrespeito à diversidade que se opera no interior da
escola, nasceram com a instituição escolar.
Referências
LIBÂNEO, José Carlos. Pedagogia e pedagogos, para quê? 10. ed. São Paulo: Cortez,
2005.
MELO, Patrícia Sara Lopes. O olhar dos discentes sobre o curso de Licenciatura em
PIMENTA, Selma Garrido (Coord.). Pedagogia: ciência da educação? 4ª Ed. São Paulo:
Cortez, 2001.
SOUSA, Maria Cecília Cortez Cristiano de. A escola e a memória. Bragança Paulista:
INFANCDAPH. Editora da Universidade São Francisco: EDUSF, 2000, 196 p.
João Batista Neto e Eliete Santiago. Recife: Editora Universitária da UFPE, 2009.
Fernando Seffner
Doutor em Educação - Universidade Federal do Rio Grande do Sul
fernandoseffner@gmail.com
Resumo
Primeiras sementes
com o cuidar, o cuidar maior, o homem não tem esse cuidado maior, essas
facilidades, as mulheres tem essa vocação.” O cuidar surge então como um
elemento que deve ser desenvolvido exclusivamente pelas mulheres? Ainda
prevalece a ideia da professora como uma extensão da mãe? Como esses dis-
cursos são reiterados na roça?
Nada está acabado e fechado. Queremos seguir viagem considerando
que “não importa o método que utilizemos para chegar ao conhecimento; o
que de fato faz a diferença são as interrogações que podem ser formuladas
dentro de uma ou outra maneira de conceber relações entre poder e saber.”
(COSTA 2000, p.16 apud CARDOSO, 2014, p.223). Estamos apenas no começo
das estradas da roça e há muito chão para percorrer!
Referências
FONSECA, Thomaz Spartacus Martins. Quem é o Professor Homem dos Anos Iniciais?
Discursos, representações e relações de gênero. Juiz de Fora: UFJF, 2011. Dissertação
(Mestrado em Educação)- Programa de Pós-Graduação em Educação, Universidade
Federal de Juiz de Fora, Juiz de Fora, 2011.
WEEKS, Jeffrey. O corpo e a sexualidade. In: Guacira Louro (org.) O corpo educado.
Pedagogias da sexualidade. Belo Horizonte: Autêntica, 2000.
Resumo
Introdução
A construção do vídeo
1 O vídeo pode ser visualizado na página do Empodere Duas Mulheres no Facebook, através do en-
dereço: https://www.facebook.com/empodereduasmulheres/videos/1084718574935463/.
Entendemos que, ao levar esta discussão para a sala de aula, esta se abre
para novas possibilidades, isso fica evidente pela reação das crianças no vídeo,
visto que, apesar de tão jovens, elas já têm algumas questões acerca de gênero
estabelecidas, porém, não cristalizadas, ou seja, à escola cabe o papel de dar
novos sentidos a velhos padrões culturais, nas palavras de Veiga-Neto:
É esse dar sentido que faz de nós uma espécie cultural. Nessa
perspectiva, a cultura não se restringe às práticas materiais; não
se restringe, por exemplo, à produção e ao uso de ferramentas
para realizar uma determinada tarefa. Cada vez mais a Etiologia
tem acumulado evidências de que muitas espécies de animais
usam “intencionalmente” objetos para realizar tarefas relacionadas
à sobrevivência; e mais: de que esse uso é, para várias espécies,
apreendido, isso é, de que se trata de um comportamento transmi-
tido socialmente, e não geneticamente. Na perspectiva que aqui
interessa, a questão, entretanto, é pensarmos a cultura para além
do domínio material – isso é, do domínio dos objetos e das práticas
envolvidas com esses objetos. A questão é pensarmos a cultura,
também e ao mesmo tempo, no domínio simbólico: como significa-
mos os objetos e as práticas e, ao fazermos isso, como abstraímos e
transferimos esses significados para outros contextos; e ao fazermos
essa transferência, como nos ressignificamos (VEIGA-NETO, 2004,
p. 57).
O autor nos faz pensar que, muitas vezes, entendemos como natural,
intencional e quase profético o fato de meninas brincarem de casinha e meni-
nos brincarem de carrinho, porém, temos de ter claro que essas brincadeiras
são culturais, são um domínio simbólico o qual podemos resistir, mudar e rede-
finir, a partir de atividades simples e corriqueiras, como a proposta no vídeo, e
que leva os meninos e as meninas da educação infantil a ressignificar os papeis
sociais, que eles tão prematuramente já conhecem e vão cristalizando ao longo
da vida.
Acreditamos que uma das funções principais da educação infantil, além
do brincar e da ludicidade, é abrir para as crianças vivenciarem outras possibi-
lidades de ser e estar no mundo e abrir-se para ressignificações, neste sentido,
conforme Ferrari (2000, p. 87):
[...] não se deve nem tampouco se pode pensar o contexto escolar
sem relacioná-lo ao social. E, isso se faz numa dupla direção. Ou
seja, como a escola recebe, reflete e reforça o que é socialmente
aceito e faz parte do senso comum, correndo o risco de cristalizar
preconceitos e também como a partir dela pode-se pensar formas
de alterar essa realidade, quando ela, escola, contribui para articu-
lar novas formas de práticas sociais.
Não há uma profissão certa, um só jeito de ser mulher ou homem, este é sem
dúvida o ponto de partida mais democrático e ético para a educação das crianças.
Considerações Finais
Referências
COSTA, Marisa Vorraber. Sobre as contribuições das análises culturais para a forma-
ção dos professores no início do século XXI. IN: Educar, Editora UFPR: Curitiba, n. 37,
maio/ago. 2010, p. 129-152.
Resumo
dos gêneros. Educação é algo que acontece para além das escolas, de maneira
que outros espaços também são educativos porque nos educam a ser o que
somos. Como nos lembra Guacira Louro (1997), este processo de educação dos
sujeitos vai criando as diferenças entre o que é ser menino e o que é ser menina.
É um processo de fabricação dos sujeitos generificados que é muito sutil e por
isso, muito eficaz, porque diz de uma certa continuidade imperceptível.
A mulher que foi produzida a partir do discurso do adolescente revela
sobre estruturas fortes e rígidas que culturalmente nos mostrou silenciamentos e
desqualificação das mulheres em uma forma eficiente de manutenção do poder
masculino. E como a escola, ao se deparar com um discurso que evidencia essa
estrutura, elabora suas estratégias de ação, considerando que uma de suas fun-
ções é justamente problematizar as formas de exclusão a que muitas minorias
foram submetidas?
Voltemos, pois, à nossa provocação inicial “minha mãe me criou e educou,
meu pai me ensinou a viver” e o quanto ela nos remete para questões relativas
ao público e ao privado, à formas de viver e estar no mundo, de uma maneira
bastante consolidada. As falas do menino não tiveram nenhum contraponto
entre os colegas, nem entre os demais meninos e tampouco das meninas, o que
nos incita supor que muitos dos adolescentes presentes naquela sala também
concorde com o que foi dito. Ou que pelo menos, este não era um pensamento
absolutamente desconhecido deles e delas. Neste sentido, a ação educativa e o
desafio desta aula estão em ultrapassar o diálogo com este aluno em especial e
atingir a todos. Socializar a fala do aluno para a partir dela, saber e colocar em
circulação outras formas de pensamento que possam advir dos demais alunos
e alunas. Assim, essa cena construída na sala é indispensável para questionar
não somente o que ensinamos (e ser capaz de introduzir a história das mulheres
no ensino de História), mas também o modo como ensinamos e que sentidos
nossos alunos e nossas alunas dão ao que dizemos, ao que propomos e ao que
aprendem.
Trazer os demais alunos e alunas para a discussão é fazer com que apa-
reça a diversidade que compõe cada gênero. Há uma concepção fortemente
construída entre os gêneros, algo que constitui uma polarização entre meninos
e meninas que esconde a pluralidade que está entre estes dois pólos. Isso causa
um certo temor em se afastar da forma de masculinidade hegemônica, sob pena
de ser classificado como “diferentes”, o que muitas vezes serve para acionar
discursos de homossexualidades. Assumir a masculinidade hegemônica dá um
certo poder e orgulho de se afirmar como homem. Não por acaso o menino
fala com segurança, autoridade e utilizando de aspectos discursivos de autori-
dade – “o meu pai me ensinou a viver” – o ser homem se aprende com outro
homem, o que é de conhecimento do senso comum e fornece autoridade ao
ato de ensinar e aprender.
No entanto, existem diferentes possibilidades de ser homem, o que
segundo Robert Connell (1995) constitui as “políticas de masculinidades”. Para
o autor existem narrativas convencionais a respeito de como as masculinidades
são construídas, o que nos leva a pensar por essas narrativas que “toda cultura
tem uma definição da conduta e dos sentimentos apropriados para os homens”
(CONNELL, 1995, p. 190). Os meninos vão “aprendendo” tais condutas e sen-
timentos construídos como domínio da masculinidade hegemônica e assim se
afastando do comportamento das mulheres. Para falar do que ser homem e
do aprendizado com o pai, o menino constrói um tipo de comportamento dos
pais com a irmã, o que ele já incorporou como o “certo” para ação sobre as
mulheres.
Pai, mãe, irmão e irmã são os sujeitos nomeados que nos são apresen-
tados no texto a que nos propusemos discutir. Por meio da fala do jovem
pertencente àquela família e ao nosso contexto escolar, foi possível perceber
Referências
VEIGA-NETO, Alfredo. Pensar a escola como uma instituição que pelo menos garanta
a manutenção das conquistas fundamentais da Modernidade. IN: COSTA, Marisa
Vorraber. A escola tem futuro? Rio de Janeiro: DP&A, 2003, p. 103-126.
Jaime Peixoto
Mestre em Educação – FAE/UFMG
jaimepeixotoufmg@gmail.com
GT 04 -
Travestilidades, Transexualidades, Lesbianidades e Homosexualidades:
Transgressões e Resistências.
Resumo
Introdução
Estratégia 2: o “ignorar”
Das estratégias identificadas nos relatos dos jovens pesquisados, houve
uma que foi mais recorrente entre os participantes. Esta se refere a capacidade
de “ignorar” as chacotas, piadas e “brincadeiras” de cunho pejorativo, como
vemos nos seguintes relatos: “eu ignorava sempre” (Sujeito 5), “eu realmente
não ligava, eu ria na cada deles e dizia: é só isso?” (Sujeito 1), “eu não ligo pra
ideia contrárias, não me importo” (Sujeito 5), “não ligar para quem tenta te atin-
gir, para o que os outros pensam” (Sujeito 6).
Diante de uma situação de discriminação, parece que os jovens desen-
volveram a habilidade de se recusar a dar validade ao discurso do agressor,
desconsiderando-o, fazendo pouco caso dele, demonstrando que o discurso
proferido tem pouco ou nenhum efeito sobre a forma como eles se veem e
vivenciam a sua sexualidade, como nos relatou Lucas
“Quando eles me confrontavam eu não recuava. Eu ria na cara
deles e dizia: é só isso? Tá, agora deixa eu ir aqui cuidar da minha
vida”. (Sujeito 1).
E também,
“O fato de uma pessoa ser ignorante significa que ela está fechada
para os conhecimentos. Quando uma pessoas ignorante me dis-
crimina eu desprezo. Mostro que, diferente dela, sou uma pessoa
evoluída, desapegada de idiotice e independente. Não me deixo
levar por qualquer devaneio de uma pessoa Neandertal mental-
mente”. (Sujeito 7).
Vemos nos relatos acima uma evidente disposição em não dar ao discurso
agressor demasiada atenção ou importância. Assim, a decisão tomada pelos
jovens foi a de desconsiderá-lo, não porque não cause incômodo, mas, porque
parecem ter assimilado a ideia de que, na realidade, são tais comportamentos
agressores e discriminatórios que deslegitimam os sujeitos que dele fazem uso.
Ocorre, assim, um deslocamento no jogo de forças vigente, já que tais jovens,
por fazerem frente às hostilidades que lhe são direcionadas, acabam por recon-
figurar o lugar da abjeção. Esta, agora, na lógica aqui analisada, representaria
o agressor que sustenta e faz circular um discurso “ignorante”, “atrasado”, “não
evoluído” e, não mais o comportamento homossexual.
Com isso, concluo dizendo que, evidenciar os movimentos de resistências
no contexto da escola de ensino médio, referente às vivências das ditas sexua-
lidades dissidentes, faz-se imprescindível, não só para nos ajudar a pensar em
formas de se alterar as relações de poder na escola, nos possibilitando questio-
nar conceitos e a forma como nos relacionamos com eles, mas, principalmente,
nos ajudando a construir uma nova imagem desses jovens, como sujeitos empo-
derados, nos ajudando a pensar em novas descontinuidades nesse debate.
Referências
CARVALHO, Marília Gomes de; TORTATO, Cíntia S.B. Gênero: considerações sobre
o conceito. In: LUZ, Nanci Stancki da; CARVALHO, Marilia Gomes de. Construindo
a igualdade na diversidade: gênero e sexualidade na escola. Editora UTFPR: Curitiba,
2009.
FERRARI, Anderson. Você já deve saber sobre minha “orientação sexual” (se não sabia,
ficou sabendo agora, hehe) – subjetividades e sujeitos em negociação. In: FERRARI,
Anderson. Sujeitos, subjetividades e educação. – Juiz de Fora: Editora UFJF, 2010.
FLICK, Uwe. Introdução à pesquisa qualitativa. 3º ed. Porto Alegre: Artmed, 2009.
FOUCAULT, Michel. Ditos e Escritos II: Arqueologia das Ciências e História dos sis-
temas de pensamento. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 2005.
LONGARAY, Deise Azevedo. “Eu já beijei um menino e não gostei, aí beijei uma
menina e me senti bem”: um estudo das narrativas de adolescentes sobre homofo-
bia, diversidade sexual e de gênero. (Mestrado em educação): FURG, 2010.
LOPES, Denilson. Por uma nova invisibilidade. In: JUNQUEIRA, Rogério Diniz (org.).
Diversidade Sexual na Educação: problematizações sobre a homofobia nas escolas.
– Brasília: Ministério da Educação, Secretaria de Educação Continuada, Alfabetização
e Diversidade, UNESCO, 2009.
WEINBERG, G. Society and the healthy Homosexual. New York: St. Martin’s, 1972.
Resumo
Introdução
Percebermos com a contra resposta da Escola Bom Pastor, que eles não
têm clareza do fato ocorrido. Para a escola é normal os pedidos dos brinquedos,
quando fala “...que os materiais fossem dispostos em quantidades equilibradas,
de modo a permitir a variedade necessária...”
Sendo a escola um ambiente de interação com diferentes culturas, faz-se
necessário uma reflexão sobre o ocorrido, visto que abordamos a instituição
escolar no período da pós-modernidade.
Fonte:http://oglobo.globo.com/cultura/megazine/sem-preconceito-menino-brinca-de-boneca-em-
catalogo-de-brinquedos-6951923.Retirado da web: O Globo,06/12/2011 5:46 Atualizado 06/12/2012
16:13.
Fonte:http://oglobo.globo.com/cultura/megazine/sem-preconceito-menino-brinca-de-boneca-em-
catalogo-de-brinquedos-6951923.Retirado da web: O Globo,06/12/2011 5:46 Atualizado 06/12/2012
16:13.
Fonte:http://oglobo.globo.com/cultura/megazine/sem-preconceito-menino-brinca-de-boneca-em-
catalogo-de-brinquedos-6951923.Retirado da web: O Globo,06/12/2011 5:46 Atualizado 06/12/2012
16:13.
Considerações finais
Referências bibliográficas
ARIÉS, Philippe. História Social da Criança. Rio de Janeiro: Editora Guanabara, 1981.
G1-MA22h04..http://g1.globo.com/ma/maranhao/noticia/2016/01/movimento-
feminista-divulga-repudio-escola-por-lista-de-materiais-no-ma.html Retirada da
Web: 11/01/2016 21h38 - Atualizado em 11/01/2016
O Globo Jornal.http:oglobo.globo.com/cultura/megazine/sem-preconceito-
menino- brinca-de-boneca-em-catalogo-de-brinquedos-6951923 Retirado da web:
O Globo,06/12/2011 5:46 Atualizado 06/12/2012 16:13.
Resumo
Introdução
1ª Cena
2ª Cena
3º Cena
Considerações finais
Referências
Resumo
Introdução
Desde o século XVIII se falou sobre sexo e sexualidade por meio de uma
educação sexual baseada no controle e na regulação dos discursos, assim até as
crianças deveriam proferir certo discurso limitado ao essencialismo, canônico
e ‘verdadeiro’ sobre sexualidade. Sobretudo, através de educadores, médicos,
pais eram produzidos e disseminados discursos que permitiam a intensificação
dos poderes. Desse modo, parece significativo conhecer como os discursos
acerca do sexo e de sexualidade foram (re)produzidos e suas condições de fun-
cionamento nas diversas instâncias sociais (FOUCAULT, 2007).
Os discursos pautados em determinismos biológicos e normatizações
contribuem para uma visão singular acerca de sexualidade e gênero que vem
sendo (re)produzida nos currículos acadêmicos e práticas escolares (inclusive
nos cursos de licenciatura). Embora se admita a existência de diversos modos
de vivenciar e expressar as sexualidades e os gêneros, parece consensual a ideia
de que a instância escolar deveria nortear suas ações por um padrão histórico
e socioculturalmente legitimado: um modo normal de masculinidade e feminili-
dade, e de sexualidade, nesse caso a heterossexualidade; assim os sujeitos que
se afastam desse padrão são considerados desviantes, tornam-se excêntricos,
por não se enquadrarem no modelo heteronormativo (LOURO, 2013).
Em contraposição, uma Educação Sexual que abranja as diversas dimen-
sões de sexualidade e gênero envolveria um processo contínuo, sistemático e
permanente, desenvolvido em todos os níveis de ensino, inclusive nos cursos de
formação docente, pois inúmeras informações veiculadas pela mídia e exclusões
sociais decorrentes do sexismo e da homofobia, entre outras formas de precon-
ceito e discriminação, são recebidas constantemente (de modo inquestionável),
por crianças, jovens (e pelos próprios adultos, futuros/as docentes). Destarte,
uma das principais tarefas de uma Educação Sexual, que se fundamente nos
principais pressupostos pós-estruturalistas, consiste em problematizar e des-
construir “verdades únicas” e modelos hegemônicos acerca de sexualidade e
gênero, por meio de ações que denunciem os jogos de poder envolvidos na
construção de tal hegemonia social; assim poderia contribuir para o reconheci-
mento e valorização das diferenças que marcam a vida sociocultural e política
(FURLANI, 2013).
Cabe informar que esse estudo teórico inclui algumas ‘cenas’ transcritas a
partir das minhas vivências (e observação participante) como docente em uma
escola de ensino médio localizada em um município sergipano. Essas cenas
escolares permitem problematizar discursos sobre sexualidades e gêneros vei-
culados nos distintos espaços educativos. Aprender a problematizar significa
tentar realizar um movimento de análise crítica, observando como foram cons-
truídos diferentes discursos e/ou soluções para um problema (FOUCAULT, 2004)
e assim esse modo de pesquisar não objetiva buscar uma “verdade absoluta” e
nem (re)produzir oposições binárias que remetem a pensamentos posicionados
contrários ou favoráveis! É ir além...
Considerações Finais
Referências
BUTLER, Judith. Corpos que pesam: sobre os limites discursivos do sexo. In: Guacira
Lopes Louro (org.) O corpo educado: Pedagogias da Sexualidade. 2. ed. Belo Horizonte:
Autêntica, 2000. p.151-174.
Resumo
O/A docente carrega em sua fala, gestos e atitudes, marcas de sua história,
cultura e sociabilidade. São aspectos formativos que não estão inscritos no cur-
rículo formal, ou seja, é um dito que não é entendido como parte integrante
na formação do aluno/a, e, que, ao mesmo tempo, possui relevância, visto
que, uma fala, um gesto, uma atitude docente transforma, liberta, entusiasma,
mas, também, silencia e amedronta pensamentos, criatividades, dificultando as
1 Orientadores.
Introdução
2 Heteronormatividade, segundo Miskolci (2016, p. 15/46) seria a ordem sexual vigente, onde todos
são formados para ser heterossexual, ter família e reproduzir, ou, mesmo que tenha relações com o
mesmo sexo, adote o modelo da heterossexualidade. Nesse caso, gays e lésbicas também podem ser
normalizados, aderir ao modelo e ser agente da heteronormatividade.
É comum que na sala de aula (ou qualquer outro espaço de formação) o/a
docente converse, brinque, conte piada, dê sermões, conte histórias, para resol-
ver algo, ou para a descontração da aula. E, é nesse pequeno espaço formador
que segundo Louro (2014, p. 67):
“São, pois, as práticas rotineiras e comuns, os gestos e as palavras
banalizados que precisam se tornar alvos de atenção renovada,
de questionamento e, em especial, de desconfiança. A tarefa mais
urgente talvez seja exatamente essa: desconfiar do que é tomado
como ‘natural’”.
4 Entendendo gênero como uma construção sociocultural e linguístico, produto e efeito de relações
de poder, que histórico e culturalmente, dentro da norma construída, vem sendo definido pelo viés
biológico, numa lógica binária (MEYER, 2010).
a fala do professor. Mas, o que ficou evidente é que ainda existe discriminação
de gênero nos cursos de engenharia.
Essa experiência me fez pensar: que tipo de universidade estamos criando/
alimentando? Que tipo de sujeito é produzido neste curso (ou nas engenharias)?
E, para que profissionais está sendo dada a autorização para atuar na docência?
É importante pensarmos em fortalecer nossa profissão docente, lutando
pelo reconhecimento do/a licenciado/a como profissional habilitado para a
docência. A docência não é vocação, não é uma atividade que se aprende ape-
nas executando, pois, a ela exige habilidades e conhecimentos específicos (de
ensino, aprendizagem, didática, etc.), ou seja, preparação, requisitos de ingresso,
plano de carreira profissional para exercê-la (Zabalza, 2004). Além disso, preci-
samos pensar num “aprendizado pelas diferenças”, e/ou numa educação pelas
diferenças, onde os/as educadores/as possam se inspirar nos “anormais”, “estra-
nhos”, para o educar, fazendo o exercício da “ressignificação do estranho, do
anormal como veículo de mudança social e abertura para o futuro” (Miskolci,
2016, p.67).
Quanto à docência no ensino superior, temos grandes desafios. Um deles
é que nas licenciaturas pouco ou quase nada se fala em sexualidade, gênero e
diversidade sexual, por isso, um desafio é a inclusão dessas temáticas na for-
mação inicial e continuada de professores/as. Outra questão é que muitos/as
bacharéis estão lecionando sem formação pedagógica/didática, reproduzindo
em sala de aula o modelo de ensino aprendizagem que foram formados/as,
então é necessário que estes/as profissionais façam formações continuadas que
os dê condições de reflexão sobre sua prática, e os possibilite o reconhecimento
da identidade docente.
Considerações finais
Referências
Resumo
Introdução
a sua sexualidade, mas com a sua falta de postura ética em sala de aula que,
abertamente, favorecia aos homens com notas, em detrimento das mulheres.
“Nada, nada, nada. Para você ter uma ideia, tinha um aluno que
nunca apareceu pra atividade e ele deu 8.0, e ele nem estava na
aula, é muito gritante. Isso é a postura como professor? Mesmo se
ele não fosse homossexual, fosse hétero e desse em cima das meni-
nas, também seria errado” (ELIANE).
“Mas, também tem muito professor aqui que dá em cima da gente
né?” (BIA).
“Mas não é em sala de aula” (ELIANE).
[...]
“Mas esse professor do curso de vocês?” (PESQUISADORA).
“Agora o daqui, comigo, particularmente, nunca teve nada”
(CARLOS).
“Lógico” (com gozação e risos) (BIA E ELIANE).
“Ele nunca me deu nota, nem brincadeira, nem falta de respeito,
nada, mas com colegas a gente vê que ele soltava uma piadinha ou
outra” (CARLOS).
“Uma piadinha ou outra? Ele é terrível” (ELIANE).
“Mas isso tinha alguma ligação com a sexualidade dele?”
(PESQUISADORA).
“Tinha a ver com a questão da ética, a postura dele como profes-
sor” (ELIANE).
“Vocês percebiam que ele dava em cima dos alunos, é isso?”
(ORIENTADOR).
“Isso não é certo nem pra professor homem dar em cima de uma
menina ou de outro menino. Não importa, isso é errado” (ELIANE).
desassociar o desejo das relações escolares é uma das formas encontradas pela
Instituição para domar os corpos e mascarar uma dificuldade dos profissionais
de lidar com tais situações. Com o objetivo de doutrinar os corpos, moldando-
-os de acordo com suas aprendizagens sociais, dos costumes, da religião e da
tradição, para disciplinar a masculinidade e a feminilidade.
Mais uma vez, nota-se que o comportamento que foge à norma inco-
moda, tanto que passa a ser descrito como momento difícil durante a prática
de estágio, o fato de o garoto estar paquerando outro garoto atrapalha o ritmo
da aula, desconcerta a estagiária e a deixa em alerta com relação a algum tipo
de retaliação violenta. Eliane, assim como tantos/as outros/as profissionais da
educação, relata a experiência como se fosse igualitária, porém não se faz boa
educação só com intenção. Com frequência, “[...] colocamos nossas boas inten-
ções e nossa confiança em uma educação a serviço de um sistema sexista e
heterossexista de dominação que deve justamente a essas intenções e confiança
uma parte significativa de seu poder de conservação [...]” (JUNQUEIRA, 2009,
p. 14) contribuindo mais com o sistema de opressão que se quer combater.
Quanto ao medo da retaliação violenta, esse dado infelizmente é real o
que torna a preocupação genuína, visto que a violência contra homossexuais
é uma realidade, ao mesmo tempo em que a naturaliza, como se o rapaz esti-
vesse em seu direito de retaliar a uma cantada de um gay, com violência, visto
que, sua paquera passa a ser entendida como incômodo, dando permissão para
a violência como forma de demarcar sua própria masculinidade. Em pesquisa
realizada pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e
a Cultura (Unesco), em 13 capitais brasileiras e no Distrito Federal constatou-
se que entre os estudantes masculinos “bater em homossexuais” foi apontada
como ação menos violenta em uma lista de várias outras ações violentas (ati-
rar em alguém, estuprar, usar drogas, roubar e andar armado) (ABRAMOVAY;
CASTRO; SILVA, 2004).
Tal panorama de exclusão e violência se forma em decorrência da
heteronormatividade, pela compulsoriedade heterossexual que rejeita a homos-
sexualidade em vários espaços sociais, principalmente na escola, onde os
meninos são ensinados a serem machos, a deixarem qualquer comportamento
de aproximação com outros meninos, sob pena de serem taxados de afemina-
dos, de serem comparados com meninas que são sentimentais e têm permissão
para demonstrarem afeição.
Considerações finais
Referências
DIAS, A. F.. Educando Corpos, produzindo Diferenças: um debate sobre gênero nas
práticas pedagógicas. Tomo (UFS), v. 2, 2013. p. 237-256.
LOURO, G. L.. Pedagogias da sexualidade. In: LOURO, Guacira Lopes (org.) et al. O
Corpo educado: Pedagogias da sexualidade. 2. ed. – Belo Horizonte: Autêntica, p.
07-35, 2000.
LOURO, G. L.. Currículo, gênero e sexualidade. In: LOURO, G. L.; FELIPE, J.;
GOELLNER, S. V..(orgs.). Corpo, gênero e sexualidade: um debate contemporâneo na
educação. 5. ed. Petrópolis(RJ): Vozes, 2010.
SEFFNER, F.. Composições (com) e resistências (à) norma: pensando corpo, saúde, polí-
ticas e direitos LGBT. In: COLLING, Leandro (org.). Stonewall 40 + o que no Brasil?
Salvador: UDUFBA, 2011.
Resumo
Introdução
Metodologia
No artefato cultural “Era uma vez outra Maria”, há uma cena em que, com
muita tranquilidade, o irmão mais novo de Maria cruza com o pai ao passar
pela sala da casa tendo na mão uma revista em cuja capa ostentava uma foto
de mulher nua em posição sensual. O menino segue, desembaraçadamente, em
direção ao banheiro sendo acompanhado pelo olhar de aprovação e orgulho
do pai. Estando lá, abaixa as calças, senta-se no vaso sanitário, põe a revista
na frente das pernas e começa a se masturbar; não se vê o ato, mas é possível
ouvir sons e movimentos característicos, bem como, expressões de prazer no
rosto do garoto.
que ao passar pela sala com a revista em mãos o irmão de Maria deixa transpa-
recer que também estava “bem na dele”, talvez, ainda mais que Maria, que por
um momento se sentiu constrangida ao pensar em qual seria a reação do pai e
da mãe diante de sua prática.
Pensando sobre isso, me parece que os desejos sexuais de Maria, na con-
cepção da professora, deveriam constrangê-la e não deixá-la à vontade e, ao
mesmo tempo, o comportamento de seu irmão parece ser legitimado, uma vez
que, ele estava à vontade sob muitos aspectos e isso não foi questionado. A
ideia da existência de um ‘instinto masculino’ utilizado, dentre outras coisas,
para justificar que o homem, naturalmente, possui maior desejo sexual que a
mulher é construída historicamente e autoriza esse discurso. Felipe (2000, p.116)
ao falar sobre a distinção existente nos manuais de orientação para educação
do sexo de crianças e jovens dos séculos XVIII e XIX reitera que “o instinto
era utilizado freqüentemente como argumento explicativo para reafirmar as
diferenças entre os sexos”. Assim, não sendo o desejo sexual instintivamente
próprio da mulher, a prática da masturbação feminina torna-se antinatural e por
isso, não autorizada.
Outra questão que incomodou as professoras foi o maior tempo desti-
nado à cena de Maria que à do seu irmão. A cena decorreu dede o início do
ato até a satisfação total de Maria enquanto na do irmão houve um corte de
cena ficando subtendido. Contudo, a fala de Innana também demonstra que as
professoras compreenderam o intuito do vídeo no que diz respeito ao empode-
ramento feminino, mas ainda assim, para ela não justifica tal exposição enfática
e prolongada.
[...] “se passasse apenas a imagem, rapidinho e tal... mas, não né?!
Ela demora! até demais... acho que pra dar ênfase à questão que a
mulher, ela se masturba também e não é só o menino, entendeu”?!
(Innana)
Ou seja, se é preciso falar sobre o assunto incômodo que ele seja rápido.
Quem sabe até não passa despercebido pelos/as estudantes?
prazer, historicamente, lhes foi negado e, talvez por isso, ainda tenham tanta
dificuldade de lidar com o ele, especialmente, na masturbação em que a figura
masculina não se faz necessária ao prazer.
Sobre esses lugares atribuídos à sexualidade feminina e masculina, con-
cordo com Guacira Louro quando afirma que:
[...] pouco importa sob quais bases foi fundamentada essa repre-
sentação; o que importa é que ela teve, e ainda tem, efeitos na
produção de sujeitos masculinos e femininos. Essa representação
exerce um “efeito de verdade” e, portanto, pode interferir nas for-
mas de ser homem ou de ser mulher (LOURO, 1998, p. 45).
Considerações finais
Referências
FELIPE, J. Infância, gênero e sexualidade. Educação & Realidade. v. 25, n.1, p. 115-131,
Rio Grande do Sul, Jan/jun. 2000.
Resumo
Introdução
onde o corpo tem de ser anulado, tem que passar despercebido”, pois só assim
será possível um ambiente político democrático e desvinculado de preconceitos
(HOOKS, 2000, p.113).
A Educação Jurídica constituiu-se historicamente com certo desprezo pela
realidade social, convencida de que uma justiça universal deveria ser tecida
a partir de uma razão abstrata e apriorística. Ela estruturou todo o seu apa-
rato teórico sobre uma construção abstrata do sujeito de direito, isto é, sobre
uma definição de homem cujo corpo concreto e os seus marcadores sociais
não deveriam importar para atribuição de prerrogativas e poderes jurídicos e
políticos.
Todavia, o gênero e a sexualidade, bem como a classe e a raça - esses ele-
mentos concretos que se inscrevem nos corpos - nunca deixaram de ser levados
em consideração no momento do reconhecimento concreto de prerrogativas e
da fruição efetiva de direitos. O padrão social heterossexual e cisgênero conti-
nuou a se impor como condição para o empoderamento jurídico do sujeito. As
identidades consideradas dissidentes, para além de serem subvalorizadas, man-
tiveram-se à margem não só da vida social e do reconhecimento dos aparatos
jurídicos, mas também da educação em direito.
Em um campo como o direito, no qual os poderes repressivos e simbólicos
são especialmente relevantes, a formação de juristas, juízes, promotores, advo-
gados e agentes públicos tem um enorme impacto na capacidade efetiva dos
aparatos jurídicos de reconhecer e incluir minorias. Além disso, visto que seus
conceitos são relativamente abertos à significação doutrinária e jurisprudencial,
as quais perpassam pela interpretação subjetiva daqueles que a constroem, a
forma como serão conformadas essas interpretações e como será instrumenta-
lizado o direito dependem diretamente de como se estrutura o ensino jurídico.
O que se percebe atualmente é uma completa negligência nas formações
jurídicas em relação aos temas de gênero e sexualidade. O formalismo acrítico
que prevalece nas várias disciplinas do curso de direito colabora para que não
se coloque em cheque as proteções seletivas e soluções conservadoras que se
oferece ao estudante.
Não se questiona como o direitos civis da personalidade engessam a iden-
tidade de gênero; como são desiguais as relações contratuais entre homens e
mulheres; não são levantadas novas vias para o direito de família, que per-
manece estático frente a um cenário fluido em que não há mais uma única
formação familiar; não se discute o sintoma de violência social, o qual, mesmo
Considerações finais
Referências Bibliográficas
BORILLO, Daniel. O sexo e o Direito: a lógica binária dos gêneros e a matriz heteros-
sexual da Lei. Belo Horizonte: Meritum, v. 5, n. 2, 2010, pp. 289-321.
FERREIRA, Amanda Cristina de Souza; SANTOS, Ana Carla dos; SILVA, Thaíres Lima
da. Gênero e relações de opressão: breves reflexões. Periódico do Núcleo de Estudos
e Pesquisas sobre Gênero e Direito, Centro de Ciências Jurídicas - UFPB, n.1, pp.358-
370, 2015.
HOOKS, Bell. Eros, erotismo e o processo pedagógico. In: LOURO, Guacira Lopes
(org.). O corpo educado: pedagogias da sexualidade. 2ª edição, Belo Horizonte:
Autêntica, pp.113-124, 2000.
Rachel Pulcino
Doutoranda em Educação (PUC-Rio) Pontifícia Universidade
Católica do Rio de Janeiro - Educação
rachelpulcino@gmail.com
Raquel Pinho
Doutoranda em Educação (PUC-Rio) Pontifícia Universidade
Católica do Rio de Janeiro - Educação
raquel.aps@gmail.com
Felipe Bastos
Doutorando em Educação (PUC-Rio) UFJF/
Colégio de Aplicação João XXIII - Ensino de Biologia
bastos.fe@gmail.com
Resumo
Introdução
1 Movimento de repúdio às normas de gênero através da utilização por parte dos alunos das tradicio-
nais saias femininas do Colégio Pedro II.
2 Referenciar autoras com nome e sobrenome e não apenas sobrenome como feito usualmente é uma
forma de evidenciar os gêneros e, por consequência, as mulheres na pesquisa, o que contribui com
as lutas de reconhecimento e com valorização da identidade feminina de forma mais ampla (Raquel
PINHO; Rachel PULCINO, 2016).
Caminhos metodológicos
O presente ensaio foi elaborado como uma pesquisa qualitativa, cujo prin-
cipal objetivo é compreender como duas experiências que quebram a lógica do
cotidiano das relações de gênero na escola são expostas através de meios de
divulgação midiáticos no formato de reportagens.
Seguimos a metodologia da análise de conteúdos descrita por Roque
Moraes (1999), pois entendemos que o método contribui para a pesquisa na
medida em que auxilia na percepção de sentidos simbólicos que através de
uma simples leitura não seria possível, pois a leitura ficaria restrita ao comum.
Assim, nosso interesse está em ir além de uma leitura superficial das
reportagens, mas expor o quanto e como elas simbolizam e apresentam as
identidades de gênero presentes na escola hoje. Consideramos relevante tra-
zer as práticas desenvolvidas na escola por parte dos estudantes, evidenciando
que, apesar de existir uma forte cultura homogeneizadora dos gêneros, a escola
pode ser lugar e espaço de exercício de práticas de resistência à padronização
e à normatização.
3 As palavras transgênero e transexual são utilizadas para pessoas que não se enquadram no gênero
determinado a elas no nascimento, ou antes, dele, uma vez que durante a gestação já existe expec-
tativa em torno da criança quanto ao seu gênero. Os gêneros não-binários, além de transgredirem à
essa expectativa, ultrapassam os limites dos polos e se fixam ou fluem em diversos pontos do espec-
tro de gênero (Neilton DOS REIS; Raquel PINHO, 2016).
4 Segundo nota publicada pelo Retrato Colorido, coletivo LGBT do Colégio Pedro II, em seu Facebook,
o aluno não se identifica com a transexualidade, mas seria um aluno não-binário, ou seja, que não
se identifica na dualidade entre menino ou menina. Disponível em: <https://www.facebook.com/
retratocolorido/posts/ 492915740844988>.
por uma colega. Iana conta que sua postura de aceitação da sexualidade trouxe
outras questões, pois apesar do discurso escolar dizer que não havia nenhum
problema em ser homossexual, a recomendação era que não precisa se falar
sobre isso. Para ser homossexual era preciso estar calado.
“Entrei em depressão e tentei me matar três vezes. Decidi contar
para a minha mãe. Ela me apoiou muito e aí nada mais me impor-
tava. Cortei meu cabelo, joguei fora as roupas de menina que eu
não gostava, me libertei. Passei a falar abertamente sobre a minha
sexualidade, mesmo dentro da escola. Nesse momento, fui abor-
dada várias vezes por professores e pela coordenação” (Iana).
Emilson conta que na última aula do dia foi chamado a comparecer à sala da
gestão pela diretora adjunta e pelo coordenador pedagógico:
“Não fui obrigado, mas a presença dos dois me fez pensar: ou eu
tiro ou pode haver consequências ruins para mim. [...] Nós sempre
realizamos atividades, palestras e atos para discutir temas ligados
ao gênero e à sexualidade. Como protesto ao que tinha acontecido,
promovemos um “saiato” duas semanas depois. Mais de 30 alu-
nos, homens e mulheres, foram de saia à escola no dia marcado. O
caso repercutiu e saiu em diversos jornais. Infelizmente, a gestão da
escola decidiu não tocar no assunto” (Emilson).
Este estudante conta que, em conversa, a gestora disse que tinha contato
com as discussões de gênero desde a faculdade e que sabia que na Escócia
homens vestiam saias, mas que isso não acontecia no Brasil e, portanto, deveria
retirar a saia.
Considerações finais
presença dos dois gestores, apesar de não ter sido obrigado a tirar a saia por
eles.
Essas histórias nos contam sobre as práticas de interdição e as relações
de poder presentes no cotidiano escolar que insistem em silenciar e invisibilizar
as diferenças. Elas mostram o quanto à escola se configura como um espaço
de vigilância das sexualidades e das marcações de gênero, sistematizando prá-
ticas de controle e regulação dos corpos dos estudantes. Como aponta Rogério
Junqueira (2013), a instituição escolar pratica a pedagogia do armário, quando
seu discurso diz que não há problema em ser homossexual, que está tudo bem.
Mas, apesar disso, ainda pede para seus estudantes comportem-se adequada-
mente de acordo com o seu gênero.
Sobre a história de Emilson, vemos o quanto sua presença e a publici-
zação impactaram a vida em sua escola, quando um ano após o ocorrido, o
Colégio Pedro II, lança uma portaria no dia 14 de setembro de 2016, sobre uso
de saias por estudantes do sexo feminino e masculino.
(...) escola federal fundada em 1837, não tem mais uniformes mas-
culino e feminino. Na prática, o uso de saias está liberado para os
meninos. Em 2014, estudantes fizeram um “saiato”, depois que uma
aluna transexual vestiu a saia de uma colega e teve de trocar o uni-
forme. Desde maio deste ano, o Pedro II adota na lista de chamada
o nome social escolhido por alunos e alunas transexuais. (Clarissa
THOMÉ, 2016).
Referências
SOARES, W. Educação sexual: precisamos falar sobre Romeo... Nova Escola, edição
279, 2015. Disponível em: <http://novaescola.org.br/formacao/educacao-sexual-preci-
samos-falar- romeo-834861.shtml>. Acesso em: 12 jun. 2016.
SCOTT, J. W. “Gênero: uma categoria útil de análise histórica”. Educação & Realidade,
Porto Alegre, v. 20, n. 2, p. 71-99, 1995.
THOMÉ, C. Colégio Pedro II, no Rio, libera saia para meninos. O Estado de São Paulo, São
Paulo, 19 de setembro de 2016. Disponível em: <http://educacao.estadao.com.br/noticias/
geral,colegio-pedro-ii-no-rio-libera-saia-para-meninos,10000077010>. Acessado em
12 de dezembro de 2016.
Resumo
Elementos introdutórios
1 Da Matta relata que, naquela época, era costume dos jovens rapazes usar no bolso traseiro da calça,
além de uma carteira com dinheiro e documentos, um pente e um lenço, por isso nada mais legí-
timos e “natural” do que passar a mão na bunda do companheiro com a desculpa de solicitar um
pente.
não significa algo agradável, pois garotos que não possuíam jeito afeminado,
mas eram negros, também eram alvo de preconceito e discriminação.
O conjunto de ações produziu uma classificação e levou Renato à condi-
ção de desviante pelos próprios colegas, ou seja, aquele que não corresponde
à fixidez dos corpos conforme a norma prescrita, ao que Miskolci (2005, p. 28),
diz que essa classificação “resulta de uma variedade de contingências sociais
influenciadas por aqueles que detêm o poder de impor essa classificação”, e
nessa classe heterogênea parece que as outras crianças fazem parte do con-
junto normalizador hegemônico.
O comportamento desses alunos nos remete a pensar que sua postura é
o resultado de uma produção cultural se entendemos do ponto de vista de que
a cultura é uma construção social que engendra valores e posiciona sujeitos em
locais situados à margem ou no centro, de acordo com a valoração estabele-
cida pelas regras determinantes em um grupo social. Assim, no instante em que
os colegas de Renato se manifestam discriminando-o, eles estão anunciando
que naquele ambiente não é permitida a convivência com masculinidades dife-
rentes das propostas pela normatividade.
[...] aí ele começou a me zoar com essa música[...]
[...]a professora sempre arrumava a gente pra ver filme, tinha aque-
las sessões, era quarto ou quinto ano, por aí. [...]era uma coisa livre,
depois do almoço, aí levaram o DVD de Latino. Quando começou
a tocar essa música (Renata)2, tinha um menino chamado Emerson.
[...] aí ele começou a me zoar com essa música. Chegava na minha
cabeça e ficava batendo assim (faz o gesto batendo nos ouvidos) e
aí todo mundo começou a entrar na pilha dele, eu pedia pra parar,
ele não parava e a professora não estava na sala. Aí eu comecei a
chorar e saí correndo da sala e fui pra secretaria. Aí, nisso que não
se resolveu nada, voltaram pra sala e tiraram o DVD e todo mundo
voltou pra sala e ficou por isso mesmo.
2 Título de uma música do cantor Latino que fez muito sucesso no ano de 2005.
os dois primeiros. Quando Renato diz que “todo mundo entrou na pilha dele”,
referindo-se aos colegas, evidencia que eles se posicionaram a favor do sujeito
que humilha, ao mesmo tempo em que o potencializa, imputando-lhe superio-
ridade, enquanto que o segundo sujeito é identificado como inferior, não só em
relação ao autor da ação, como também ao grupo.
Quanto ao garoto que iniciou a agressão, ele se sentiu fortalecido com a
animação da classe, que nesse momento havia se tornado uma plateia para o
seu show. O interessante é observar também que Renato, embora não tenha
reagido às agressões, buscou uma saída para se defender, se consideraremos
que a sua fuga da sala de aula até a secretaria da escola é uma estratégia que
ele encontrou para a interrupção das agressões.
Ao dizer que o DVD foi tirado, todo mundo voltou para a sala e ficou
por isso mesmo, Renato denuncia que a escola silenciou mediante o fato. No
entanto, o silêncio, muito mais do que a ausência da fala, pode ter vários senti-
dos, conforme Marques e Ferreira (2011, p. 39) mencionam que “o silêncio põe
em jogo processos de significação”. Nessa situação, sem dialogar com a classe,
sem questionar quais incômodos existem com relação ao colega, a professora
abriu espaço para que as práticas de violência relacionadas à homossexualidade
continuem naquele espaço educativo e esse silenciamento nos faz suspeitar que
a escola esteja favorecendo a construção social hegemônica que hierarquiza,
classifica e empurra pessoas para a margem pelas suas subjetividades.
Todavia, as atitudes violentas de preconceito e discriminação nos desafia
a pensar que, enquanto espaço heterogêneo e que produz saberes, a escola não
deve silenciar. Assim, em situações semelhantes há alguns posicionamentos e
atitudes que podem ser mediadas como problematizar a situação fazendo com
que os alunos reflitam sobre suas ações relacionadas às diferenças, que estão
presentes em cada um, acrescentar ao planejamento pedagógico temas que
se refiram às performances de gêneros não-hegemônicas, às sexualidades, e
finalmente à homofobia, e inserir no planejamento a questão da violência com
vistas a evidenciar para os alunos que esse fenômeno traz consequências tanto
para o agredido quanto para o agressor e ainda se estende a outras pessoas
mesmo que não estejam envolvidas diretamente nos fatos.
Elementos conclusivos
Referências
ANDRADE, Sandra dos Santos. A entrevista narrativa ressignificada nas pesquisas edu-
cacionais pós-estruturalistas. In: MEYER, Dagmar Estermann e PARAÍSO, Marlucy Alves
(orgs.). Metodologias de pesquisas pós-críticas em educação. 2 ed. Belo Horizonte:
Maza Edições, 2014.
DaMatta, Roberto. Tem pente aí? Reflexões sobre a identidade masculina. Enfoques
- revista eletrônica dos alunos do PPGSA/IFCS/UFRJ. Volume 9, número 1, agosto
2010. Disponível em: http://www.enfoques.ifcs.ufrj.br/ojs/index.php/enfoques/article/
view/104/96. Acesso em 08 maio 2015, 8h.
FERRARI, Anderson. “Eles me chamam de feia, macaca, chata e gorda. Eu fico muito
triste” – classe, raça e gênero em narrativas de violência na escola. Instrumento:
Revista de Estudos e Pesquisa em Educação. Juiz de Fora, v. 12, nº 1, jan./jun. 2010.
p. 21-30.
FOUCAULT, Michel. História da Sexualidade I. 2 ed. São Paulo: Paz e Terra, 2015.
MISKOLCI, Richard. Do desvio às diferenças. Teoria & Pesquisa. Nº 47. Jul./dez. 2005.
p. 9-41.
Resumo
Introdução
1 Considero que o discurso contrário ao projeto tenha saído hegemônico no período que abarcou este
estudo não só porque a denominação “Kit Gay”, em tom pejorativo, ficou popularmente conhecida,
como também pela suspensão, por parte do Governo Federal, da continuidade do projeto.
Metodologia
O embate e o veto
2 Também foram analisados pronunciamentos públicos realizados por parlamentares nos plenários da
Câmara do Deputados e do Senado Federal que podem ser encontrados em seus sites oficiais.
Considerações finais
acontecimentos. Assim, reforçou-se a ideia que o poder político não está pre-
sente somente no nível macro mas em todas as arenas de disputas (FOUCAULT,
1981).
No entanto, novamente ressalto que a própria iniciativa do Governo
Federal que através do ESH buscou auxiliar xs profissionais da educação a pro-
blematizarem significações sobre as sexualidades que tradicionalmente estão
sedimentadas nas mais diversas práticas culturais brasileiras, pode ser conside-
ras por si só um avanço nas lutas dos movimentos LGBT. Além disso, estes e
quaisquer outros embates discursivos podem ser um convite às resignificações
da tradição cultural brasileira tão marcada pelo sexismo e homofobia.
Assim, por mais que as disputas de poderes na produção de significados
na escola tenham sido expostas em falas analisadas na dissertação, estes atos
de poder não conseguem fixar de forma definitiva qualquer significação, seja
os que são apontados como contribuindo para práticas tidas como homofó-
bicas ou para os que as combateriam. Como afirmam Lopes e Macedo (2011,
p. 40), podemos “entender os discursos pedagógicos e curriculares como atos
de poder, o poder de significar, de criar sentidos e hegemonizá-los”, mas estes
“saberes, sujeitos e antagonismos não são fixos e definidos para todo o sem-
pre” (LOPES E MACEDO, 2011, p.92). Mesmo que o desfecho destes embates
naquele momento tivesse sido favorável aos grupos que defendiam o projeto
Escola Sem Homofobia, não significa que se resolveria todos os problemas de
discriminação e preconceitos, já que o embate, a disputa por significados nunca
cessa. Isto não quer dizer que medidas como a criação deste projeto não sejam
importantes para este embates pela significação dos atos da população LGBT
nas escolas e nos mais diversos meios sociais, mas que não deveria ser anali-
sado como a solução final, a “medida-chave” para estas disputas. Esta disputa,
assim como as que ocorrem em relação a outros temas tidos como polêmicos
no âmbito escolar possuem desfechos contingentes instigando xs envolvidxs a
estarem sempre alertas seja para defender uma significação hegemônica, seja
para atacá-la.
Referências
______. História da sexualidade, v.1: A vontade de saber. Rio de Janeiro: Graal, 2001.
LOPES, Alice Casimiro; MACEDO, Elizabeth Fernandes de. Teorias de Currículo. São
Paulo: Cortez, 2011.
VITAL DA CUNHA, Christina; LOPES, Paulo Victor Leite. Religião e política: uma aná-
lise da atuação de parlamentares evangélicos sobre direitos das mulheres e de LGBTs
no Brasil. Rio de Janeiro : Fundação Heinrich Böll, 2012.
Felipe Bastos
Doutorando em Educação – PPGE/PUC-Rio
Colégio de Aplicação João XXIII – UFJF
bastos.fe@gmail.com
Raquel Pinho
Doutoranda em Educação – PPGE/PUC-Rio
Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro – Educação
raquel.aps@gmail.com
Rachel Pulcino
Doutoranda em Educação – PPGE/PUC-Rio
Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro – Educação
rachelpulcino@gmail.com
Resumo
Este artigo tem como objetivo principal compreender os dados sobre a per-
cepção de homofobia por parte de estudantes em relação às suas distâncias
sociais com indivíduos homossexuais, obtidos pela pesquisa Preconceito e
Discriminação no Ambiente Escolar, realizada em 2009 pela FIPE/INEP. Com o
universo de dados de estudantes da educação básica, geramos tabelas de refe-
rência cruzada para distância social com pessoas homossexuais e percepção de
atitudes preconceituosas específicas contra pessoas homossexuais. Observamos
a tendência em todas as análises de que estudantes socialmente distantes de
pessoas homossexuais enxergam menos práticas de preconceito contra homos-
sexuais quando comparados com estudantes socialmente próximos.
Palavras-chave: preconceito; homofobia; diversidade sexual; escola; distância
social.
Introdução
Metodologia
1 Diante da constante ocultação das mulheres na escrita de termos neutros, invertemos a regra grama-
tical da língua portuguesa que define o masculino como elemento neutro, de modo que o feminino
passa a compor deliberadamente os substantivos e adjetivos neutros neste texto.
Resultados e discussão
TABELA II
PRECONCEITO CONTRA PROFESSORA POR SER HOMOSSEXUAL
Grupos de distância social
Ação Percepção Baixa Média Alta Total
proximidade proximidade proximidade
Vi nesta escola 9,9% 9,3% 18,7% 9,9%
Humilhada
TABELA III
PRECONCEITO CONTRA FUNCIONÁRIA POR SER HOMOSSEXUAL
Grupos de distância social
Ação Percepção Baixa Média Alta Total
proximidade proximidade proximidade
Vi nesta escola 4,6% 4,5% 10,0% 4,7%
Humilhada
Considerações finais
Referências
LOURO, Guacira Lopes. A construção escolar das diferenças. In: Gênero, sexuali-
dade e educação: uma perspectiva pós-estruturalista. 6. ed. Petrópolis: Vozes, 2003.
p. 57-87.
Bruno Pereira
Mestrando em Psicologia - UNESP/Assis.
brunpy@hotmail.com
Resumo
Introdução
1 Já em 2011, a editora católica Katechesis publica no Brasil o livro “Ideologia de Gêneros: o neototali-
tarismo e a morte da família”, tradução do livro de nome homônimo escrito pelo advogado argentino
Jorge Scala, ou seja, não se trata de uma discussão recente.
2 Basta lembrarmos que em maio de 2011, a presidenta Dilma Rousseff vetou um conjunto de ma-
teriais que fazia parte do programa “Escola Sem Homofobia”. Na época, a presidente, cedendo às
pressões da bancada evangélica, afirmou que seu governo não faria “propaganda de orientação
sexual”.
3 Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=kkYrvt_jt_g. Acesso em 09/06/2016.
4 Os pânicos morais dizem respeito as resistências e aos medos sociais relacionados às mudanças,
principalmente quando estas são vistas com potencial de ameaçar a ordem social vigente (MISKOL-
CI, 2007).
Mesmo que tenha sido criado pelos fundamentalistas religiosos uma divi-
são que implique um nós (cristãos)/eles (defensores da ideologia de gênero),
como se esse “eles” fosse uma unidade coesa que compartilhasse das mesmas
visões acerca do gênero, este é um conceito em disputa que historicamente
obteve diversos usos em relação as suas significações. Tendo surgido em con-
textos médicos no início da segunda metade do século XX, o conceito gênero,
relacionado à análise das diferenças entre homens e mulheres, passa na década
de 805 a ser usado amplamente por teóricas feministas com o objetivo principal
de explicitar o caráter fundamentalmente social das diferenças entre homens
e mulheres. Neste momento, Joan Scott (1995) o apresenta como a forma pri-
meira de significar as relações de poder, como “um elemento constitutivo das
relações sociais fundadas sobre as diferenças percebidas entre os sexos” (p.21).
Com a emergência de discussões pós-estruturalistas, esta compreensão se
complexifica. Para Judith Butler (2003), é com fundamento na diferença sexual
que discursos tentam nos fazer acreditar que deve haver uma concordância
entre gênero, sexualidade e corpo. Em sua ótica, o sexo é “uma das normas
pelas quais ‘alguém’ simplesmente se torna viável, é aquilo que qualifica um
corpo para a vida no interior do domínio da inteligibilidade cultural” (p.155).
Estamos, portanto, desde sempre generificados com e para os outros.
Em sua teorização, Butler (2003) nos apresenta a matriz heteronormativa6
de ordem compulsória, que pressupõe uma relação direta e causal entre sexo
5 Segundo Haraway (2004, p.221), a explosão do discurso das diferenças entre sexo/gênero na litera-
tura pode ser visualizada, por exemplo, “na ocorrência da palavra gênero como palavra-chave nos
resumos dos artigos registrados nos Sociological Abstracts [de nenhum registro entre 1966 e 1970, a
724 registros entre 1981 e 1985] e nos Psychological Abstracts [de 50 entradas como palavra chave
de resumos entre 1966 e 1970 a 1326 entradas de 1981 a 1985]”.
6 Heterornormatividade diz respeito a um conjunto de prescrições que regulam e controlam os corpos
de acordo com a matriz heteronormativa apresentada acima. Concordamos com Deborah Britzman
(1996) quando esta afirma que precisamos ir além do termo humanista “homofobia”. Este termo,
de acordo com ela, além de nos remeter a um “medo individual” dos homossexuais, não contém
A frase de Simone de Beauvoir de que não se nasce uma mulher, mas tor-
na-se uma, é uma das noções mais citadas pelo feminismo. Segundo Preciado
(2009), poderíamos dizer que também que não se nasce uma criança.
[O] sistema educativo é o dispositivo específico que produz a
criança, por meio de uma operação política singular: a des-sexu-
alização do corpo infantil e a desqualificação de seus afetos. A
queer? Uma pedagogia queer, mais do que uma proposição clara e estática
de ação educativa, nos oferece uma aposta na potência de se problematizar e
pluralizar as representações e os discursos da identidade e do conhecimento,
possibilitando que haja menos discursos normalizadores dos corpos, dos gêne-
ros, das relações sociais e do desejo (BRITZMAN, 1996).
Considerações finais
Ainda que a discussão realizada neste texto seja de fato um debate polí-
tico em curso de acirradas disputas político-idelógicas, concordamos com o
que escreveu o deputado Jean Wyllys (2016), ao abordar a “farsa da ideologia
de gênero”, que “há situações em que os esforços para invisibilizar ou deturpar
um assunto acabam por afirmá-lo e ampliar sua circulação”. Afinal, os emara-
nhados do poder e da resistência se tecem e se potencializam sob o mesmo
campo social. Deste modo, terminamos com uma citação de Preciado:
Eles defendem o poder de educar os filhos dentro da norma sexual
e de gênero, como se fossem supostamente heterossexuais. Eles
desfilam para conservar o direito de discriminar, castigar e corrigir
qualquer forma de dissidência ou desvio, mas também para lem-
brar aos pais dos filhos não-heterossexuais que o seu dever é ter
vergonha deles, rejeitá-los e corrigi-los. Nós defendemos o direito
das crianças a não serem educadas exclusivamente como força
de trabalho e de reprodução. Defendemos o direito das crianças
e adolescentes a não serem considerados futuros produtores de
esperma e futuros úteros. Defendemos o direito das crianças e dos
adolescentes a serem subjetividades políticas que não se reduzem
à identidade de gênero, sexo ou raça (PRECIADO, 2013, p.98).
Referências
SCOTT, Joan. Gênero: uma categoria útil para a análise histórica (1989). Publicação da
ONG S.O.S. Recife, 1995.
Resumo
Introdução
O campo de pesquisa
1 Nomes fictícios
Considerações finais
Referências
BUTLER, J. Gender Trouble: Feminism and the Subversion of Identity. Nova York:
Routledge, 1990.
FINCO, D. Faca sem ponta, galinha sem pé, homem com homem, mulher com
mulher: relações de gênero nas relações de meninos e meninas na pré-escola. 2004.
Dissertação (Mestrado) - Faculdade de Educação, Universidade Estadual de Campinas,
Campinas, 2004.
MEYER, D. E. Gênero e educação: teoria e política. In: LOURO, G. L.; FELIPE, J.;
GOELLNER, S. V. (Orgs.). Corpo, gênero e sexualidade: um debate contemporâneo
na educação. 8ª ed. Petrópolis, RJ: Vozes, 2003.
SALIH, S. Judith Butler e a teoria queer. Belo Horizonte: Autêntica, 2012. TEIXEIRA, F.
B. Meninas e meninos na escola: uma aquarela de possibilidades. 2001.
PERFORMATIVIDADE E INTERSECCIONALIDADE
NAS IDENTIFICAÇÕES DE GÊNERO ENTRE JOVENS
NO CONTEXTO ESCOLAR: ALGUMAS REFLEXÕES
Resumo
Introdução
1 A noção de quase conceito e/ou indecidível para Derrida (2001), busca responder à impossibilidade
do pensamento se organizar a partir de conceitos fixos, homogêneos e universais, desconstruindo
assim parte da lógica do pensamento metafísico – pensamento binário e hierarquizado, conforme já
discutido anteriormente. São noções que visam tratar da instabilidade dos significados e, coerente-
mente, não poderiam se estabilizar em algum conteúdo apriorístico ao seu uso.
Considerações
Referências
_____. Quadros de guerra: quando a vida é passível de luto. Rio de Janeiro: Civilização
Brasileira, 2015b.
SOUSA FILHO, A. “Ideologia de gênero”: quem pratica? Revista Bagoas, v.9, n.12,
2015, p. 9 – 14.
Resumo
Este artigo tem como objetivo apresentar as novas configurações da família con-
temporânea através das mudanças sociais e da evolução legislativa, assegurando
a inclusão das uniões homoafetivas como entidades familiares. A Constituição,
através do artigo 226, pretendeu demonstrar a amplitude do termo entidade
familiar, outorgando às uniões homoafetivas tratamento igual ao dispensado
às uniões estáveis por meio de analogia na falta de norma que as albergue,
independentemente de todos os preconceitos existentes em nossa sociedade.
Levaremos em conta a introdução dos novos costumes e valores e o respeito
ao ser humano no que tange à sua dignidade e aos direitos inerentes à sua
identidade para compreendermos estas novas modalidades de família formadas
declaradamente, nos dias atuais.
Palavras-chave: Afeto, Educação, Direitos, Família, Professores.
Introdução
Considerações finais
uma instituição repressiva; Áriés (2012) que discorreu sobre a criança desde a
antiguidade até a presente data; Paz (2013), a qual pesquisou gênero e sexu-
alidade em uma escola pública no DF, Paulo (2006) apresentou o desafio do
conceito da família na contemporaneidade, dentre outros, apresentam em
comum o conservadorismo da sociedade com relação às transformações das
relações sociais.
Faz-se mister trabalhar culturas, políticas e práticas (BOOTH E AINSCOW,
2011) para que mobilizem setores da sociedade civil que contribuam na elabo-
ração de políticas públicas que minimizem/eliminem a intolerância que ainda
persiste em vários locais, para que haja inclusão, através do respeito à pessoa
LGBT.
Preocupamo-nos em não sermos prescritivas indicando, contudo, pos-
sibilidades e urgência de se discutir mais amplamente, no cotidiano das
identidades, condutas e comportamentos humanos dentro das escolas e das
famílias, a questão do preconceito, sobre orientações sexuais diversas, para
relações homoafetivas mais sujeitos do que objetos, mais saudáveis na digni-
dade humana, onde o respeito à diversidade predomine no ambiente escolar.
As (os) gestoras (es) das escolas, as famílias, professores (as), demais pro-
fissionais que atuam na educação; e alunos (as) teriam assim a oportunidade de
compreender e cultivar projetos educacionais que requerem a ‘união da desu-
nião com a união’, uma metáfora proposta por Morin (2005) em uma das suas
falas em público sobre método.
Todas estas alternativas devem ser debatidas na instituição escola que
recebe e atua com as novas configurações de família.
Referências
ÀRIÉS, Philippe. A História social da criança e da família. Rio de Janeiro: Zahar, 2012.
BOOTH, Tony. AINSCOW, Mel. Índex para a Inclusão. Tradução de Mônica Pereira
dos Santos. Rio de Janeiro: LaPEADE/FE/UFRJ, 2011.
COSTA, Jurandir Freire. Ordem médica e norma familiar. Rio de Janeiro: Graal, 2004.
LOURO, Guacira Lopes. NECKEL, J. F. GOELLNER, S.V. (Orgs.). Corpo, gênero e sexu-
alidade: um debate contemporâneo na educação. Petrópolis, RJ: Vozes, 2003.
PAZ, Claudia Denis Alves da. Gênero e sexualidade: como trabalhar na escola?
Florianópolis: Fazendo gênero 10. Desafios atuais dos feminismos, 16-20/09/2013.
Resumo
Introdução
4 A noção de performatividade de gênero, teorização também desenvolvida por Judith Butler, diz
respeito à repetição de atos, gestos, atuações e encenações, que por meio de aspectos linguísticos-
discursivos-textuais, buscam normatizar gênero, sexo e sexualidade (BUTLER, 2015a).
5 “Esta afirmación vale tanto para las reivindicaciones de gays y lesbianas del derechos a la libertad se-
xual como para la reivindicación de transexuales y transgéneros del derecho a la autodeterminación,
así como para la reivindicación de intersexuales del derecho a no someterse a ninguna intervención
médica o psiquiátrica forzada. Vale tanto para el derecho a estar libre de ataques racistas, físicos y
verbales, como para la reivindicación feminista de la libertad reproductiva, así como vale también
para todos aquellos cuyos cuerpos trabajan bajo cacción, política y económica, bajo condiciones de
colonización y ocupación”
Cada dia a gente vai evoluindo até chegar o ponto certo. Mas todo
gay teve seu ponto fraco na sua infância. Hoje os professores perce-
bem que eu sou, mas não há nenhum problema.
Pesquisador: Então você acha que era mais afeminado quando
criança e se policiou mais quando foi crescendo. Mas você acha
que isso é certo? Você não acha que, não sei, você deveria ser
quem você é e não precisar ter que mudar?
Jovem 2: Pode ser sim, mas eu também faço o que eu bem entendo.
Hoje todo mundo me vê e percebe que eu sou, digamos que hoje
eu encaro mais as pessoas, mesmo ainda sendo afeminado. Mesmo
a gente tentando se modificar é difícil... eu pelo menos tentei de
alguma forma”.
Considerações finais
Referências
BUTLER, J. Vida precaria. El poder del duelo y la violencia. Argentina: Editorial Paidos,
2009a.
Resumo
Introdução
1 Projeto de extensão que tem como ações principais a sensibilização, formação e produção de mate-
riais para profissionais e estudantes da rede pública do Rio de Janeiro.
2 MEAD, 1913; COOLEY, 1956; 1992; BREWER, 1991; 1996; HOLSTEIN & GUBRIUM, 2000; PAPA-
CHARISSI, 2010.
Nesse sentido, aqueles que, por algum motivo, escaparem à essa norma
estarão sujeitos, em maior ou menor grau, à discriminação que, dentro do
espaço escolar, emerge sob a forma dos mais diversos tipos de bullying3.
3 Termo proposto por Dan Olweus, após o Massacre de Columbine, 1999, que é comumente utilizado
para descrever atos de violência física ou psicológica, intencionais e repetidos, praticados por um
indivíduo ou grupo de indivíduos, dentro de uma relação desigual de poder.
4 Segundo o autor, violência juvenil é um termo que se refere à violência cometida por pessoas com
idades entre 10 e 21 anos.
5 Disponível em: http://www2.ufscar.br/servicos/noticias.php?idNot=8317. Acesso em 08/07/2016 às
04:18.
6 Pesquisa Juventudes na Escola, Sentidos e Buscas: por que frequentam?, realizada pelo Ministério da
Educação em parceria com a SECADI, coordenada por Miriam Abramovay.
Para além dessa questão, está em jogo a homofobia. Nos idos do século
XIX, havia uma tentativa de consolidar uma masculinidade e virilidade hege-
mônicas, dada a “ameaça” de uma feminilidade inerente a alguns homens,
decorrente do medo de tornarem-se homossexuais. Tal preocupação obrigou
os homens a investirem e construírem para si diversos papéis e traços repre-
sentativos de sua condição masculina – o homem vitoriano – em contraste ao
seu oposto, a mulher, e, mais inadvertidamente, ao seu inverso, o homossexual
(SILVA, 2000).
Nesse sentido, e ainda se observa esse comportamento no homem con-
temporâneo, ser homem, no século XIX, significava não ser mulher, e, acima de
qualquer hipótese, jamais ser homossexual. A identidade sexual e de gênero do
7 Connell (2005).
8 A autora utiliza o adjetivo ‘hegemônica’, derivado de Gramsci, com o intuito de suscitar uma proble-
matização teórica, uma vez que o termo implica em luta constante de preponderância, poder.
Considerações Finais
Referências
CONNELL, Raewyn (Robert William). Masculinities. 2nd Edition. Berkely, CA: University
of California Press, 2005.
Resumo
Introdução
Desde tenra idade, meninos e meninas seguem normas que, para Scott
(1995) são histórico-sociais e tendem a favorecer as expectativas dos pais, dos
vizinhos, de parentes ou de amigos. Esses aspectos relacionais de gênero, que
constituem uma “[...] categoria social imposta sobre um corpo sexuado [...]”
(SCOTT, 1995, p.75), são percebidos com mais clareza nos relacionamentos
das crianças entre si, quando se formam grupos marcados por amizades “exclu-
sivas” (em geral do mesmo sexo) até chegar aos valores preconceituosos, que
pairam, sobretudo, no âmbito escolar.
Nessa perspectiva, o modelo reproduzido nas práticas corporais ou recre-
ativas favorece a formação de diferenciações, reunidas intimamente dentro e
fora da escola. Percebemos, então, que a construção social das masculinidades
é fruto dos valores e conceitos impostos em normas de conduta sócio históri-
cas, que interferem na construção dos corpos masculino e feminino.
Após os escritos, o objetivo deste estudo é comparar, entre alunos de
primeiro e oitavo períodos do curso de Licenciatura em Educação Física, as
representações de masculinidades na adequação de brinquedos às crianças do
sexo masculino. Buscamos responder a questão: Existem diferenças nas consi-
derações de alunos de primeiro e oitavo períodos sobre brinquedos adequados
ao sexo masculino?
Masculinidades
Masculinidade hegemônica
Metodologia
Análise e discussão
A única resposta que admitiu uma maior pluralidade nos sentidos atribuídos
aos brinquedos foi a de apenas um estudante, que afirmou: “meninos não tem
interesse nos brinquedos femininos, mas que isso depende da particularidade”.
Conclusão
Referências
CONNELL, R. The men and the boys. Berkeley: The University of California Press,
2000.
CONNELL, R. Corporate Masculinity and the global context: a case study of conserva-
tive gender dynamics. Cadernos Pagu, n. 40, p. 322-344, 2013.
CONNELL et. al. Por uma Teoria Social de Gênero do e para-o Sul Global: uma entre-
vista com Raewyn Connell. Revista Feminismos, v. 3, n. 1, 2015.
Raquel Quirino
Doutora em Educação Centro Federal de
Educação Tecnológica de Minas Gerais – CEFET-MG
quirinoraquel@hotmail.com
Resumo
1. Introdução
O relatório Gender and education for all the leap to equality: EFA global
monitoring report
2003/4 2divulgado pela Unesco já evidenciava a tendência mundial à
igualdade de acesso ao ensino pós-secundário, porém aponta os padrões de
escolha realizados pelas mulheres como uma questão fundamental a ser discu-
tida para que se possa alcançar a igualdade de gênero. Na realidade brasileira
apesar da mudança nos números gerais3 que caracteriza uma crescente femi-
nilização do ensino técnico de nível médio, anteriormente majoritariamente
masculino4, persiste a tendência das alunas de se concentrarem em determi-
nadas áreas do conhecimento em detrimento de outras5. As áreas gerais de
formação com maior concentração feminina são, segundo o IBGE (2014, p.107),
as com ocupações de menor remuneração média no mercado de trabalho e
que mais se afastam da visão do senso comum de Ciência e Tecnologia. Para
contribuir com o desvelamento das escolhas das alunas por essas áreas de atu-
ação em detrimento de outras mais “tecnologizadas” é necessário conhecer a
forma como essas mulheres se percebem e se relacionam com suas construções
sobre sua realidade, sua formação profissional, inserção e atuação no mundo
do trabalho.
Conforme esclarece Hirata (2002, p. 23) as pesquisas sobre o mundo
do trabalho, em sua grande maioria são realizadas sob uma perspectiva que
não leva em conta as relações de gênero e o sexismo presente nessas relações
sociais, tratam-se de pesquisas gender-blinded. A autora afirma ainda que essa
tendência das pesquisas, em realizar generalizações partindo de um ponto de
vista masculino, pode induzir ao erro, uma vez que ações de formação pro-
fissional não têm “a mesma amplitude nem o mesmo alcance, e tampouco a
mesma significação para as mulheres e para os homens” (HIRATA,2002, p. 224)
deixando de explorar a possibilidade de o espaço de formação contribuir para
a visão da “pseudo incompetência técnica feminina”
2 Disponível em <http://unesdoc.unesco.org/images/0013/001325/132550e.pdf>
3 Disponíveis em <http://portal.inep.gov.br/basica-levantamentos-acessar>
4 Disponível em <http://portal.inep.gov.br/educacao-profissional>
5 Disponíveis em <http://portal.inep.gov.br/basica-levantamentos-acessar>
Para uma análise mais clara é necessário desconstruir essa ideia da tec-
nologia como isenta das ideologias, para Marcuse (1999, p. 74) “a técnica por
si só pode promover tanto o autoritarismo quanto a liberdade, tanto a escassez
quanto a abundância, tanto o aumento quanto a abolição do trabalho árduo.”
Assim a tecnologia reflete os planos, propósitos e valores da sociedade em que
se desenvolve. (Veraszto, 2008, p.78)
A máscara de neutralidade leva à possibilidade de que aqueles que detêm
o poder direcionem as pesquisas e inovações aos seus propósitos.
Fazer tecnologia é, sem dúvida, fazer política e, dado que a polí-
tica é um assunto de interesse geral, deveríamos ter a oportunidade
de decidir que tipo de tecnologia desejamos. Mantendo o discurso
que a tecnologia é neutra favorece a intervenção de experts que
decidem o que é correto baseando-se em uma avaliação objetiva e
impede, por sua vez, a participação democrática na discussão sobre
planejamento e inovação tecnológica (GARCÍA et al, 2000, p. 132).
Gráfico 2 Porcentagem de alunos matriculados por sexo nos 10 cursos técnicos com maior
participação feminina em 2014
Gráfico 3 Porcentagem de alunos matriculados por sexo nos 10 cursos técnicos com menor
participação feminina em 2014
4. Considerações finais
5. Referências
HIRATA, Helena. Nova divisão sexual do trabalho?: um olhar voltado para a empresa
e a sociedade. Ed. 01, São Paulo. Boitempo, 2002. p. 336.
MARCUSE, Herbert. Tecnologia, guerra e fascismo, 1.ed, São Paulo, Fundação Editora
da UNESP, p.369, 1999.
STANCKI, Nanci. Divisão sexual do trabalho: a sua constante reprodução. Paper apre-
sentado no I Ciclo de Debates em Economia Industrial, Trabalho e Tecnologia, São
Paulo, 2003, PUC-SP Disponível em <http://www.pucsp.br/eitt/downloads/eitt2003_
nancistancki.pdf.> Acesso em 11 de maio de 2016.
Terezinha Richartz
Doutora em Ciências Sociais pela PUC/SP
Professora do Programa de Mestrado em Letras –Linguagem, Cultura e
Discurso da Universidade Vale do Rio Verde (UNINCOR)
terezinha@unincor.edu.br
Resumo
Introdução
1 Quando citadas as falas dos atores, são incluídos hora e minuto ou minuto e segundo das gravações
das sessões disponibilizadas no Youtube.
6 Nota da CNBB sobre a inclusão da ideologia de gênero nos Planos de Educação, datada de 19 de
junho de 2015: “A ideologia de gênero subverte o conceito de família, que tem seu fundamento
na união estável entre homem e mulher, ensinando que a união homossexual é igualmente núcleo
fundante da instituição familiar. ” (CNBB, 2015, p. 1).
7 (7min10s). Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=F6pXx0oWxsY> Acesso em: 20 jun.
2016.
8 (28min27s). Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=F6pXx0oWxsY> Acesso em: 20
jun. 2016.
Considerações finais
Referências
_______. Microfísica do poder. Tradução Roberto Machado. 10. ed. Rio de Janeiro:
Edições Graal, 1992.
Resumo
Introdução
Visto isso, pode-se aferir que se não há democracia sem laicidade e, tam-
bém, não há democracia sem direitos humanos logo, não há direitos humanos
sem laicidade. A grande importância da laicidade está em não desconsiderar as
minorias, sendo, nesse sentido, importante pontuar que o Brasil é majoritaria-
mente evangélico e católico e, nem por isso, outras religiões terão seus direitos
mitigados. E o debate não se restringe apenas á liberdade de crença e de culto,
a laicidade garante a igualdade de valoração das religiões, sem que uma seja
mais privilegiada que outra.
Nesse sentido, por ampla maioria dos votos, o PME, em sua redação
original, foi vetado pela Câmara Municipal. Assim, a referida Casa suprimiu a
expressão a redação do art. 1º, III, e acrescentou os parágrafos 1º e 2º ao artigo
1º, que assim determinava: “§1º Fica vedada a implantação, divulgação, estudo,
adoção de materiais didáticos e/ou qualquer forma de propagação pertinente à
ideologia de gênero no âmbito da rede municipal de ensino.” e “§2º A presente
Lei não será regulamentada em quaisquer aspectos que tendam a aplicar a ide-
ologia de gênero no âmbito das escolas públicas do Município de Governador
Valadares.”. O novo Projeto, com os referidos acréscimos, retornou para o Poder
Executivo municipal que, por sua vez, foi vetado, pela Prefeita Elisa Costa, que
defendeu a inconstitucionalidade das emendas propostas, bem como a incom-
petência do Legislativo para versar sobre a matéria, por se tratar de um assunto
interno da Administração Pública. O veto da Prefeita foi derrubado pela Câmara
Municipal, tendo sido aprovada as emendas.
Assim, é preciso que seja reiterado, que umas das principais críticas que
pode ser feita ao contexto que se desenvolveu em torno dos Planos Nacional,
Estaduais e Municipais de Educação, diz respeito à lacuna legislativa que foi
deixada. Após discussões acirradas no Congresso, a bancada evangélica conse-
guiu vetar os trechos do documento que faziam referência à diversidade sexual
e de gênero. Ocorre, no entanto, que o Ministério da Educação permaneceu
defendendo o respeito à diversidade sexual e de gênero, como diretriz do Plano
Nacional de Educação, mas facultando aos Estados e Municípios sua aplicação.
Por certo, esse é o principal cerne do problema que se discute no presente
trabalho, uma vez que se coloca a população LGBT à mercê do poder discri-
cionário das administrações, isto é, só teremos avanços em políticas públicas
e na legislação, em localidades que possuam governos progressistas. Ocorre,
todavia, que essa matéria é de competência nacional, e por se tratar de direitos
humanos e fundamentais, não é legal o tratamento de omissão que se verifica.
Considerações finais
Referências
ARENDT, Hannah.The crisis in Education. New York : Viking Press, 1961, pp. 173-196.
DIAS, Maria Berenice. Diversidade Sexual e Direito Homoafetivo. São Paulo: Editora
Revista dos Tribunais, 2011.
DIAS, Maria Berenice. União Homoafetiva. 5. ed. São Paulo: Editora Revista dos
Tribunais, 2011.
FISCHMANN, Roseli. Estado laico, educação, tolerância e cidania : para uma análise
da concordata Brasil-Santa Sé. São Paulo: Factash Editora, 2012
Resumo
O trabalho tem por objetivo geral analisar a percepção de alunos (as) do Instituto
Federal de Educação, Ciência e Tecnologia Baiano – Campus Itapetinga, insti-
tuição de educação profissional, sobre as manifestações de homofobia ocorrida
no ambiente escolar. Pretende-se analisar os relatos elaborados pelos discentes
com base na concepção de memória proposta por Paul Ricoeur. Ou seja, como
resultantes de um processo de construção histórica, social e cultural – que não
pode ser compreendido como a mera reprodução de experiências passadas,
mas como uma representação do passado feita a partir dessas experiências em
função da realidade presente, com sua base material ou ancoragem em recursos
proporcionados pelas relações sociais.
Palavras-chave: homofobia; percepção; memória; ambiente escolar.
Introdução
1 Neste trabalho, o termo será utilizado de acordo com a concepção teórica sobre a memória elabora-
da por Paul Ricoeur (2014), o qual retoma o conceito de anmnesis ou de reminiscência, e a ideia de
análise do reconhecimento das imagens como esforço intelectual, referindo-se às lembranças conce-
bidas pela ação laboriosa pertencente ao vasto conjunto dos fenômenos psíquicos que passam pela
tensão e pelo relaxamento, conforme preconizou Bergson (1999, p.156): “Distinguimos três termos:
a lembrança pura, a lembrança-imagem e a percepção, dos quais nenhum se produz, na realidade,
isoladamente. A percepção não é jamais um simples contato do espírito com o objeto presente; está
inteiramente impregnada das lembranças-imagens que a completam, interpretando-a. A lembrança-
-imagem, por sua vez, participa da lembrança pura que ela começa a materializar, e da percepção
na qual tende a se encarnar: considerada desse último ponto de vista, ela poderia ser definida como
uma percepção nascente”.
2 A Escola Média de Agropecuária da Região Cacaueira (Emarc) Itapetinga, desde sua formação, em
7 de maio de 1980, encontra-se situada numa área de 105 hectares, localizada no quilômetro 2 da
rodovia Itapetinga-Itororó, bairro Clerolândia, na cidade de Itapetinga.
3 <http://cidades.ibge.gov.br/xtras/perfil.php?lang=&codmun=291640&search=||infogr%E1ficos:in-
forma%E7%F5es-completas>. Acessado em 18/04/2016.
4 Esclarecemos que esse roteiro não foi utilizado de forma engessada, mas foi alterado quando neces-
sário, pois priorizamos seguir o fluxo dos momentos vividos por cada entrevistado (a). Tanto é que
Desta forma, tais conceitos serão bem caros à tentativa de discussão aqui
proposta: compreender a percepção de alunos (as) do IF Baiano – Campus
Itapetinga sobre as manifestações de violência conceituadas como homofobia.
Homofobia
Considerações finais
Referências
BERGSON, Henri. Matéria e memória: ensaio sobre a relação do corpo com o espí-
rito.Trad. Paulo Neves, 2ª Ed. São Paulo: Martins Fontes, 1999.
Resumo
Introdução
Desenvolvimento
Resultados
Brasil (IECLB); conta com depoimentos que retratam estes casos, no período
que vai de 1991 até 2003.
Faz um retrato histórico da diversidade de ministérios e das ordenações e
uma abordagem sobre a interpretação atualizada do “pecado de Sodoma”, que
discorre sobre a falta de hospitalidade e o individualismo, erroneamente inter-
pretado como se tratando das relações homo afetivas.
LEERS e TRASFERETTI (Homossexuais e ética cristã, 2002) abordam
questões relacionadas com a homofobia, debatem a relação entre heterosse-
xualidade e homossexualidade, assim como o tabu da homossexualidade nas
sociedades do passado e nas atuais, que impactam no núcleo religioso moral
de conflito entre a homossexualidade e a expressão de fé. Discorrem sobre
citações do Primeiro e Segundo Testamentos, desde a narrativa de Sodoma até
as cartas paulinas, finalizando com uma proposta de viver a liberdade, enxer-
gando “uma porta possível para o futuro”.
MOSER (O enigma da esfinge: a sexualidade, 2001), entre mitos e ciên-
cia, dá um suporte antropológico para uma teologia atualizada em busca de
novos parâmetros éticos. Destaca o momento “quando a linguagem é incapaz
de traduzir a realidade”, pois uma pessoa não pode ser considerada santa ou
pecadora simplesmente por sua orientação sexual.
Figura 1 – Capa do livro Amor Figura 2 – Capa do livro Figura 3 – Capa do livro Via(da)
sacralizado e amor banido: Homossexualidade: gens Teológicas: itinerários
gênero, orientação sexual e orientações formativas e para uma teologia queer no
espiritualidade. pastorais. Brasil.
Figura 4 – Capa do livro Fé além Figura 5 – Capa do livro O que Figura 6 – Capa do livro
do ressentimento: fragmentos a Bíblia realmente diz sobre a O enigma da esfinge: a
católicos em voz gay. homossexualidade. sexualidade.
2 Membro da Paróquia Santa Rosa de Lima, Diocese de São Miguel Paulista, SP. Foi integrante do Gru-
po de Ação Pastoral da Diversidade de São Paulo. Maiores informações disponíveis no sítio: https://
pt-br.facebook.com/DiversidadePastoralSP. Acesso em 02 de abril de 2016.
Considerações finais
no parágrafo 2359 (p. 611) diz que “As pessoas homossexuais são chamadas à
castidade [...]”.
Sem entender direito o que acontece, um número incalculável de ado-
lescentes descobre sua sexualidade em meio a uma sociedade perversa,
intransigente e ignorante, com um espaço enorme para a hipocrisia. Sem ter a
quem recorrer, muitos optam por abreviar seu sofrimento definitivamente, ape-
lando para o suicídio direto, procurando abreviar a vida e seu sofrimento, ou o
suicídio lento, baseado no consumismo, nas festas e no consumo de álcool e
entorpecentes.
O preconceito e a exclusão, frequentemente a partir de seus próprios lares,
constituem uma repressão à sexualidade. Pessoas de orientação homossexual
e mais profundamente com identidade de gênero diversa da sua genitalidade,
passam a ser consideradas como “um ser estranho” nas comunidades.
Esta questão merece uma interpretação bíblica em observação ao con-
texto do período no qual os textos sagrados foram escritos, assim como às
particularidades sócio antropológicas que norteiam as relações erótico-afetivas
da atualidade. Há um debate produtivo sobre a questão da diversidade sexual
e de gênero no âmbito da religiosidade, que necessita ser ouvido atentamente.
Há um desejo latente em poder viver “uma outra forma de ser e amar”,
reforçando a fé, sem que para isso corra-se o risco de perder a vida pelo sim-
ples fato de trocar afeto em público, como muitos casais heterossexuais fazem
diariamente.
Referências
LEERS, B.; TRASFERETTI, J. Homossexuais e ética cristã. Campinas: Átomo, 2002. 199
p. ISBN 85-87585-23-1.
V.A. Dom Paulo Evaristo cardal Arns: pastor das periferias, dos pobres e da jus-
tiça. 1ª. ed. São Paulo: Casa da Terceira Idade Tereza Bugolim, 2015. 479 p. ISBN
978-85-69707-00-4.
(Footnotes)
Resumo
Este texto resulta de pesquisa qualitativa sobre a homofobia vivida por alunos
LGBT de nível médio, em escolas públicas estaduais de Belém. Busca-se res-
ponder se os alunos LGBT dessas escolas são vítimas de bullying homofóbico
e se tais práticas influem negativamente na aprendizagem destes, impactando
na sua formação socioeducacional. Efetivou-se revisão de literatura, mediante
pesquisa bibliográfica e documental, para fundamentar teórico-filosoficamente
a pesquisa e auxiliar na análise. Como instrumentos técnicos, utilizam-se ques-
tionários e entrevistas, aplicados a docentes, discentes e outros, que cruzados
permitem analisar e proceder às considerações do investigado. Os resultados
parciais confirmam haver bullying homofóbico nas escolas, influindo negativa-
mente na formação dos LGBT.
Palavras-chave: Bullying homofóbico. Diversidade sexual. Identidade de gênero.
Exclusão educacional. Orientação sexual escolar.
Introdução
se encaixa nos padrões é tido como imoral ou amoral, sem buscar-se a iden-
tificação de suas origens orgânicas, sociais ou comportamentais (DIAS, 2016).
Mesmo nessa segunda década do século XXI, grupos LGBT ainda sofrem
com a discriminação social e a violência urbana, sendo nítida a rejeição social à
livre orientação sexual. Cotidianamente, a sociedade que se proclama defensora
da igualdade é a mesma que discrimina lésbicas, gays, bissexuais e transexu-
ais (LGBT), todos vítimas de situações de marginalização e exclusão social em
diversos ambientes brasileiros, inclusive nas escolas. Portanto, estudar a questão
da homofobia nas escolas significa reconhecer a existência de pessoas LGBT
nestas, a fim de denunciar essa prática discriminadora, excludente e criminosa.
No decorrer da atuação didático-pedagógica desta pesquisadora, per-
cebeu-se nas escolas investigadas elevado índice homofóbico. Observou-se
a presença de alto percentual de discriminação e preconceito contra pessoas
LGBT, em especial em uma escola pública estadual da região metropolitana de
Belém, com um contingente significativo de adolescentes homossexuais. Nela
observaram-se vários conflitos envolvendo adolescentes homossexuais que
vivenciavam bullying homofóbico ascendente e descendente, entre alunos e
funcionários da instituição, por meio de agressões verbais e físicas.
Na ocasião, chamou a atenção o fato da direção, gestores e outros profis-
sionais não buscarem solucionar ou intervir na problemática. Em contrapartida,
perceberam-se grupos LGBT que procuravam, de maneira peculiar, intervir nos
problemas e em concomitância buscavam aceitação pelo conjunto e inserção
na realidade da escola.
A partir dessa observação surgiu o interesse em investigar outras escolas
no intuito de examinar a realidade local, pois se entende a prática homofóbica
presente nas escolas como uma privação imposta ao sujeito LGBT, negando-lhe
os direitos presentes em nossa lei máxima – a Constituição Federal de 1988.
Nesse sentido, este estudo reveste-se de significativa importância, pois
demonstrará que o bullying homofóbico é discriminador, marginalizante e
inconstitucional, devendo ser combatido, seja na escola, seja em qualquer outro
lugar. Somente dessa forma, em uma perspectiva “inclusiva”, poder-se-á garan-
tir igualdade entre os indivíduos, independente de sua orientação sexual ou de
identidade de gênero (RIOS, 2009).
A investigação da questão é também relevante à medida que o preconceito
no interior da escola provoca a evasão escolar dos LGBT, vez que desconsidera
o direito previsto nos ordenamentos legais brasileiros e internacionais, os quais
Metodologia
Resultados e Discussão
Considerações Finais
Referências
______. Lei de Diretrizes e Bases e Educação: Lei nº 9394/96. Rio de Janeiro: DP&A
editora, 1998.
______. Manual de Direito das Famílias. 11. ed. São Paulo: Ed. Revistas dos Tribunais,
2016.
SEVERINO, A. J. Metodologia do trabalho científico. 23. ed. rev. e atual. São Paulo:
Cortez, 2007.
Resumo
Introdução
Procedimentos metodológicos
Considerações finais
Referências
FELIPE, J.; GUIZZO, B. S. Entre batons, esmaltes e fantasias. In: MEYER, D. E.; SOARES,
R. F. R. Corpo, gênero e sexualidade. Porto Alegre: Mediação, 2004.
________. Corpo, escola e identidade. Educação & Realidade. Porto Alegre, v.2, n.
25, p.59-75, jan/jun. 2000.
THORNE, B. Gender Play: girls and boys in school. Open University Press Buckingham,
1993.
______. Quarta aula: a questão do meio na pedologia. Psicologia USP, São Paulo,
v.21, n.4, p. 681-701, 2010. Tradução de Márcia Pileggi Vinha.
Resumo
Esse artigo visa contribuir para o debate de gênero na formação docente, pro-
blematizando o papel dessa temática nos currículos dos cursos de Pedagogia.
Pretende-se apreender e analisar os discursos dos discentes do terceiro período
do Curso, desvelando em que medida tais discursos podem acarretar (ou não) a
feminilização da carreira docente e influenciar as relações do trabalho em sala
de aula. Os relatos resultam de entrevistas com 60 discentes. A metodologia da
análise de discurso de Bakhtin (2003) possibilitou desenvolver reflexões sobre
a temática, embasadas, também, pelas pesquisas de Quirino (2011), Villella
(2000), Louro (1986), Luz (2009), dentre outros pesquisadores. Os discursos
discentes confirmaram a importância dos estudos sobre gênero na formação
docente.
Palavras-chave: Formação Profissional Docente. Formação de Professores.
Currículo. Representações de Gênero. Relações de Gênero.
Introdução
“por outro lado, homens possam ser emotivos, sensíveis e afetivos, sem que
com isso sejam considerados mulheres”.
Percebe-se uma visão relacional de gênero nos dizeres discentes, e isso
representa um avanço nos estudos, pois leva em conta o contexto em que os
indivíduos estão inseridos, as relações de poder, as crenças, as etnias, e neste
sentido, conforme afirma Louro (1997, p. 23), “o conceito passa a exigir que se
pense de modo plural”, já que é no âmbito das relações sociais que se constroem
os gêneros. Nas respostas sobre a abordagem ou não dos/as seus formadores
sobre a temática de gênero nas aulas, os discentes consideraram que:
Considerações finais
Foi importante esta breve análise dos discursos discentes sobre as relações
de gênero na formação docente superior, considerando que esses estudos nem
sempre são trabalhados no currículo das universidades e nas práticas docen-
tes. Observou-se que todos os discentes ressaltaram a importância do estudo
de gênero para quebrar os paradigmas preconceituosos que ainda permeiam
as práticas da universidade, quer sejam no âmbito da diversidade, quer sejam
reflexões sobre as práticas de gênero que ainda existem na sociedade.
Constatou-se que, pela ótica dos/as discentes, o debate sobre a questão
de gênero promove o respeito às diferenças, na medida em que contribui para
compreender as relações de feminino e masculino na cultura e sociedade, e
neste sentido, possibilita a aprendizagem do respeito a todos e todas na convi-
vência social.
Por fim, pode-se considerar que os estudos sobre gênero precisam ser
incluídos nas práticas docentes durante a formação dos discentes, não sendo
apenas discussões isoladas, em dias de sábado, como relataram os /as estudan-
tes. Isso, possivelmente, fará com que o silenciamento ainda presente sobre as
relações de gênero no currículo do curso de Pedagogia dê lugar e voz a essa
temática, para que o diálogo, a reflexão e o desenvolvimento desses saberes
ainda negados sejam garantidos.
Referências
ALMEIDA, Jane S. de. Mulher e educação: a paixão pelo possível. São Paulo: Unesp,
1988.
BAKHTIN, M. Estética da criação verbal. São Paulo: Martins Fontes, 2003. Tradução
de: Maria Ermantina Galvão G. Pereira.
FERREIRA, Beatriz L.; LUZ, Nanci Stancki da. Sexualidade e gênero na escola. In: LUZ,
Nanci Stancki da; CARVALHO, Marília Gomes de; CASAGRANDE, Lindamir Salete
(Org.). Construindo a igualdade na diversidade: gênero e sexualidade na escola.
Curitiba: UTFPR, 2009. p. 33-46.
HOMOSSEXUALIDADE, SILENCIAMENTOS E
NORMATIZAÇÕES EM ESCOLA RELIGIOSA
Resumo
Introdução
A fala desse professor certamente traz a reflexão para aquilo que faz parte
do cotidiano do aluno/a, que de certa forma, é inviável um olhar silenciador em
meio ao debate em que a própria mídia levanta como discussão a todo instante.
Percebe-se nesse contexto que o silenciamento é também discursivo, e certa-
mente normatiza o que de fato corrobora como Louro (2004) quando indica
limites de legitimar e criar moralidade e coerência. Pensar as discussões sobre
homossexualidade requer acima de tudo um cuidado naquilo que é “novo”,
daquilo que estava até então escondido e hoje revela-se por perceber que a
equidade é uma causa social. Dessa forma, não discutir em escola religiosa
ganha de certa forma um silenciamento confirmando o discurso biológico/reli-
gioso, tal quais as narrativas apresentadas:
“Perguntaram-me o que a igreja achava da escolha sexual da pes-
soa de ser homossexual. Ai, falei o que a igreja pensa, que Deus
não aceita homem com homem, mulher com mulher. Também
porque eles não geram vidas. Deus colocou o homem e a mulher
porque geram vida” (professora de religião).
Nesse contexto, Foucault (2001, p.62) diz que: “a norma traz consigo ao
mesmo tempo um princípio de qualificação e um princípio de correção”. Assim,
pensa-se a homossexualidade a ser algo corrigível, numa deformidade a atribu-
tos não biológicos e de caráter não aceitável pela igreja, assim instituem a prática
de que “Deus ama o pecador” o que fortalece ainda mais um distanciamento
Considerações finais
Referências
______. Um corpo estranho: ensaios sobre sexualidade e teoria queer. Belo Horizonte:
Autêntica, 2004.
______. Foucault e os estudos queer. In: RAGO, M.; VEIGA-NETO, A. (orgs.). Para
uma vida não fascista. Belo Horizonte: Autêntica Editora, p.135-142.
Resumo
Este artigo propõe uma reflexão crítica sobre a política pública do nome social
de sujeitos travestis e transexuais na educação em interface com as áreas de
psicologia e direito. O nome social pode ser tomado como um dispositivo de
identificação de gênero, uma vez que produz inteligibilidade para as expres-
sões de gênero desviantes da normativa heterossexual. Propõe-se um breve
mapeamento de normativas legais do nome social em território nacional, com
destaque para a Rede Municipal de Educação de Belo Horizonte/MG, lócus
pesquisado. A investigação teve como metodologia a análise documental de
pareceres, resoluções e portarias brasileiras, revelando ressonâncias no coti-
diano escolar a partir de lacunas entre o texto prescrito a prática social.
Palavras Chave: Educação; Gênero; Nome Social; Travesti; Transexual.
4. Referenciais
ALVES, Cláudio Eduardo Resende Alves. Um nome suis generis: implicações subjeti-
vas e institucionais do nome (social) de estudantes travestis e transexuais em escolas
municipais de Belo Horizonte/MG. 2016 . (Tese de Doutorado). Programa de Pós
Graduação em Psicologia da PUC Minas, Belo Horizonte.
CÉSAR, Maria Rita de Assis. Um nome próprio: transexuais e travestis nas escolas bra-
sileira. In: Anais do XV Simpósio Nacional de História. Fortaleza, 2009.
LIMA, Maria Lúcia Chaves. O uso do nome social como estratégia de inclusão esco-
lar de transexuais e travestis. 2013. Tese (Doutorado em Psicologia Social). Programa
de Pós-Graduação em Psicologia da PUC-SP, São Paulo
PROSSER. Jay. Second Skins: the body narratives of sexuality. Columbia University
Press: New York, 1998.
Resumo
1. Introdução
2. Metodologia
5. Considerações finais
Referências
Resumo
Introdução
Considerações finais
Referências
FIGUEIRÓ, Mary Neide Damico. Formação em educadores sexuais: adiar não é mais
possível. Campinas, SP: Mercado de Letras ; Londrina: Paraná, PR : Eduel, 2006.
Marcos F. G. Maia
Mestrando em Educação - Universidade Federal do Tocantins
marcosmaia@uft.edu.br
Damião Rocha
Doutor em Educação - Universidade Federal do Tocantins
damião@uft.edu.br
Jocyléia Santana
Doutora em História - Universidade Federal do Tocantins
jocyleiasantana@gmail.com
Resumo
Introdução
A História oral narra outras versões para além das fontes dos cânones
sagrados da história positivista (BARROS, 2010). Não é uma metodologia de
construir biografias (AMADO; FERREIRA, 1998). Por outro lado, nos faz lembrar
que por entre estruturas e conjunturas “há pessoas que se movimentam, que
opinam, que reagem, que vivem” (ALBERTI, 2004, p. 14). É um reencontro com
a humanidade, com o ser, com o indivíduo muitas vezes homogeneizado em
dados estatísticos, ditos históricos. É um destacar a substancialidade e subjeti-
vidade daqueles que fazem A História, i.e., os seres humanos que dão sentido
às suas vivências.
A vivência da sexualidade não se dá unicamente no corpo do sujeito.
Dá-se também no social, na família. Tanto para Daniele quanto para João
Paulo a relação ser-homossexual-e-família foi invasiva, até mesmo forçando o
“ser-homossexual”.
“Eu sempre…1 via algo diferente em mim desde pequeno, enten-
deu, ai quando eu tava com a cabeça um pouco mais feita, entre
aspas, por volta dos 10, 11, 12 anos ai que eu descobri o que que
era isso, entendeu. [... ele só contou para a irmão, que não o respei-
tou e]contou pros meus pais. Eu tive que… eu neguei até a morte.
Mas ai quando eu falei assim, não tem jeito, ai minha vida tomou
um outro rumo. Isso ai eu já tinha terminado o terceiro ano. Já ia
entrar no cursinho, ai minha irmã falou e ai tomou outro rumo. O
antes e o depois. Tem suas coisas boas e ruins” (João Paulo).
1 Reticências significam pausas nas falas. Quando houver corte, ou interpolação, estamos usando
colchetes.
Apesar desse isolamento, fica evidente na fala de Daniele que ela con-
seguiu com mais facilidade lidar com a questão da sexualidade na escola,
diferentemente de João Paulo. Ela afirma que conseguiu namorar alguns meni-
nos para “disfarçar” e dai as pessoas não pegavam tanto no pé dela. Já no caso
de João Paulo não foi possível já que ele transparecia com mais facilidade:
“Alguns amigos de sala se percebiam enquanto homossexuais, mas
não declaravam, mas eles se “reconheciam” enquanto homosse-
xuais: “é aquela coisa, que nem eu falei pra você que de amigos,
tipo assim, ninguém falava pra ninguém, mas entre a gente, a gente
sabia, aquela coisa de identificação” (João Paulo).
Após essa vivência nas escolas de educação básica, tanto João Paulo
quanto Daniele Braga foram estudar na Universidade Federal do Tocantins
(UFT). Eles não estudaram na mesma época. Daniele já se formou e João ainda
está cursando. Porém, parece que os dois tiveram vivências positivas em rela-
ção à sexualidade no ambiente universitário. Fazendo referência a esse período
Daniele afirma que “na faculdade foi perfeito”.
Considerações finais
Referencias bibliográficas
ALBERTI, Verena. Manual de História Oral. Rio de Janeiro: Editora FGV, 2007.
ALBERTI, Verena. Ouvir contar: textos em história oral. Rio de Janeiro: Editora FGV,
2004.
AMADO, Janaina; FERREIRA, Marieta (Orgs.). Usos e abusos da história oral. Rio de
Janeiro: FGV, 1998. p. 183 à 192.
CALDAS, Alberto. Oralidade, texto e história: para ler a história oral. São Paulo:
Edições Loyola, 1999.
ERIBON, Didier. Reflexões sobre a questão gay. Rio de Janeiro: Companhia de Freud,
2008.
PORTELLI, Alessandro. O que faz a história oral diferente. Proj. História, São Paulo,
v. 14, fev., 1997.
SCOTT, Joan. Gênero: uma categoria útil de análise histórica. Educação & Realidade,
vol. 20, n. 2, jul./dez. Porto Alegre: UFRGS, Faculdade de Educação, 1995. p. 71-99.
Tradução de Guacira Lopes Louro.
Resumo
Introdução
que acham que isso não é normal. Deixa quieto que isso aqui eu
vou resolver com ela [olhando para Jovem 3] depois no particular.
(Re)existências queer
ocidental, como aponta Judith Butler (2003, p. 38). A ressignificação das iden-
tidades, das denominações assume também um caráter político de resistência.
O termo proposto por Jovem 7 aponta para essa resistência e ressignificação
das palavras. Viado, palavra associada pejorativamente aos homossexuais, é
associada a hétero, identidade dos/das principais responsáveis pelas violências.
Identificação e expressão, subjetividade e materialidade se misturam na palavra.
E mais, oprimido e opressor se interligam numa constituição identitária: indi-
cando que em toda identidade há a diferença – e vice-versa. Associar viado
ao hétero é questionar a norma estabelecida do que é ser homossexual e do
que é ser heterossexual, uma descontinuidade ao binário. As resistências pes-
soais, para (re)existir nos espaços, são ligadas às movimentações e resistências
coletivas:
Jovem 7: Eu sou viado-hétero. Então eu sinto prazer dos dois lados.
Eu fico com homem e com mulher.
Jovem 1: Então você é bi.
Jovem 7: Então, viado-hétero, mesma coisa. Não, eu não sou bi.
Eu sou viado, hétero. Gosto tanto de mulher quanto de homem.
Deixa eu diferenciar. Porque eu falo que sou viado-hétero: Porque
assim, viado que é viado, viado mesmo fala “ain amiga” “menina
você viu aquela bicha uó” “minha filha, nem fala”. Eu acho isso ridí-
culo. Porque assim , poxa, eu faço minhas paradas e ninguém fica
sabendo. Eu não me visto nem me vejo como viado. Eu me visto
como homem normal e faço minhas paradas.
Jovem 1: Isso eu respeito. Você gosta de homem, mas você não pre-
cisa. Você no caso é viado. Viado não, vamos falar correto, você é
gay. Gosta de homem, mas não precisa demonstrar exteriormente.
Jovem 6: Agora deixa eu defender as bichas. São as bichas que
botam a cara na rua pra você poder dar o cu em paz.
Jovem 4: É isso aí!
Jovem 7: Mas uma coisa que os viados tem é coragem pra peitar.
Vai bater de frente com um viado pra você ver.
Jovem 4: A bicha vai ser o que ela quiser, gente. Independente
do que for. O povo tá falando, vai pagar as contas dela? Não vai
colocar a comida dentro de casa. Não vai fazer merda nenhuma.
Eu sou assim. Eu sou viadinho, o povo fala. Pra mim é ser histérico
é mostrar pra todo mundo. Meu pai e minha mãe tão gostando de
mim. Se parar pra ouvir o que o povo tá falando, vou ficar lá atrás
ainda. Se minha mãe e meu pai tão aceitando.
Considerações finais
Referências
Resumo
Larrosa convida a olhar essa relação entre a palavra e esse sentido, essa
relação de pertencimento que se estabelece, com a vivência de seu significado,
com a experiência que esse processo produz. A ideia de um curso de formação
passa a estabelecer um novo olhar, começa a desconstruir a ideia de engessa-
mento tornando-se um local de abalo das certezas. Não um lugar de onde se
sai pronto e acabado.
E nesse aspecto, o curso de formação deveria ser construído de maneira
a se tornar algo significativo na vida de quem dele viesse a participar. As temá-
ticas ali desenvolvidas deveriam construir relações de pertencimento, trazer
novas vivências e produzir novas experiências. E nesse processo provocar o
estranhamento, propor que se dê um passo atrás na busca de novos ângulos de
olhar para uma dada situação. Era importante que se deixassem atravessar pelos
discursos, pelas imagens e pela metodologia desenvolvida, transformar o curso
1 As falas utilizadas neste artigo foram retiradas da ficha de avaliação que os/as participantes preen-
cheram fazendo a avaliação do curso e aparecerão em itálico.
“Agora sei um pouco mais como lidar com o tema, como ten-
tar resolver os conflitos que surgem na sala de aula. Dentre os
mais comuns estão o respeito às mulheres e aos homossexuais”.
(Participante B).
“Acho que vou ficar ‘mais chata’ na visão de alguns, porque o dis-
curso de não ficar problematizando, a atitude de dizer que não há
preconceito agora, mais do que nunca, não passarão ‘batidas’ por
mim. Meu olhar e meus ouvidos ficarão mais apurados a cada dia e
buscarei melhorar sempre”. (Fala do/a participante F).
Referências bibliográficas
MASCULINIDADES EM QUESTÃO
Resumo
Introdução
Sobre masculinidades
Os alunos que narraram suas histórias são oriundos de uma escola locali-
zada na Zona Norte do Rio de Janeiro. Por ser considerada por pais, comunidades
e mídia, em geral, como uma escola pública de qualidade recebe anualmente
uma grande procura. O noturno oferece o curso de aceleração destinado aos
aluno/as que apresentam grande diferença idade/série.
Devo ressaltar que o ato de coçar ou pegar a região peniana foi uma
constante naquela tarde. Principalmente durante a narrativa na hora que ele
queria falar sobre as meninas e como ele gosta “de mulher”. Este fato pode mos-
trar a estreita relação entre a masculinidade hegemônica negra, classe social
valorização do falo. Para se firmar e reforçar sua posição como homem, o nar-
rador precisou mostrar que estavam presentes naquela conversa: ele e o falo.
verdade “é homem” é seguida por uma série de razões que buscam afirmar
essas verdades. Todas as razões apresentadas pelos rapazes são destacadas nas
características legitimadas pela ideologia do senso comum.
Considerações finais
A questão que esteve implícita ao longo deste estudo foi como que dois
estudantes do ensino noturno constroem suas masculinidades baseados nos
discursos de masculinidades hegemônicas. Conhecer os discursos e as narra-
tivas de sexualidade dos/das estudantes pode contribuir para a construção de
um currículo que englobe discussões sobre sexualidade, que busque valorizar
e reconhecer as diversas identidades sexuais e principalmente problematizar
e desconstruir o discurso da masculinidade hegemônica. E assim, colocar em
xeque visões essencializadas e congelamentos identitários, trazendo o diferente
para a sala de aula e propondo o diálogo entre as diferenças. Fato que certa-
mente contribuirá para o fim da homofobia, do machismo, e do sexismo. No
entanto é necessário compreender que essas observações e pesquisa acontece-
ram em um contexto específico. Em outro contexto estes estudantes podem se
construir de outra maneira. Existe também a possibilidade de os adolescentes
participarem de outras experiências de vidas e então certamente, existe a possi-
bilidade de agência, de reinvenção de seus discursos e de suas masculinidades.
Referências
CONNELL, R. W. The men and the boys. Los Angeles: The University of California
Press, 2000.
Resumo
1. Introdução
3. Diferença e educação
Cumpre dizer que o livro didático (LD) traz consigo diversas repre-
sentações da realidade que costumam apontar para o senso comum e para
aquilo que é hegemonicamente normatizado e assimilado por um dado grupo
social, excluindo, assim, outras formas de expressões culturais socialmente
deslegitimadas.
Há não muito tempo, políticas e ações afirmativas foram conquistadas no
que diz respeito à inclusão das culturas afrodescendentes no currículo tradicio-
nal escolar, inclusive no LD. Embora ainda convivamos com a resistência de
grupos que lutam pela continuidade histórica da hegemonia branca e classista,
representa grande avanço ter estas culturas legitimadas no currículo. Mas ainda
são necessárias outras representações e outras visibilidades.
O LD é um significativo recurso instrumental, porém é necessário que ele
contemple não só os dispositivos acessórios úteis dentro da sala de aula, mas
também aqueles que transcendam a noção estrutural, considerando questões
transversais no ensino de um idioma.
5. Homoparentalidade na educação
normatizar datas comemorativas como o Dia das Mães e o Dia dos Pais para
muitas vezes incluir o Dia da Família, evitando o constrangimento dos sujeitos
de famílias multiparentais ou neoconfiguradas.
O Dicionário Houaiss, atendendo a campanha on-line de valorização à
diversidade, incluiu em 2016 uma nova definição para o verbete família em
reposta ao Estatuto da Família (PL 6583/13) aprovado na Câmara de Deputados
que reconhece como família apenas núcleo formado a partir da união entre
homem e mulher. Assim, segundo o Houaiss considera-se família “núcleo social
de pessoas unidas por laços afetivos, que geralmente compartilham o mesmo
espaço e mantêm entre si uma relação solidária”, opondo-se à definição tradi-
cional (grupo formado por pai, mãe e filho).
6. Metodologia
8. Conclusões
9. Referências
MOITA LOPES, Luiz Paulo da. Por uma linguística aplicada indisciplinar. Parábola
Editorial: São Paulo, 2008.
Deisi Noro
Mestranda em Educação em Ciências
Universidade Federal do Rio Grande do Sul - Educação
deisinoro@gmail.com
Vágner Peruzzo
Doutorando em Educação em Ciências
Universidade Federal do Rio Grande do Sul – Educação
vagnerperuzzo@hotmail.com
Márcia Finimundi
Doutora em Educação em Ciências
Universidade Federal do Rio Grande do Sul – Educação
marciafinimundi@gmail.com
Resumo
Introdução
Considerações finais
Referências
Beatriz Rodrigues
Especialista em Gênero e Diversidade na Escola (UFMG)
beatrizpedagogaempresarial@gmail.com
Resumo
Introdução
A escola desempenha um papel relevante na socialização dos saberes e
das práticas relacionadas à diversidade. Para tal, torna-se necessário a descons-
trução dos significados impostos aos indivíduos, seus corpos e suas práticas
(SILVÉRIO, et. al, 2010). Urge, no espaço escolar, instituir estratégias de enfren-
tamento e desconstrução das várias facetas do preconceito. Este trabalho tem
como objetivo analisar as relações institucionais e interinstitucionais que inter-
pelam e são interpeladas pelas relações de gênero e diversidade sexual no
cotidiano da escola, considerando as relações entre uma escola da rede pública
e as políticas públicas do município de Contagem/MG, que legitimam e dão
suporte técnico ao trabalho com essas temáticas.
Foram realizadas entrevistas semiestruturadas com dois funcionários da
Secretaria Municipal de Educação e analisados documentos sobre diversi-
dade sexual; e foi desenvolvido um trabalho etnográfico, complementado com
entrevistas com professores e funcionários, que contemplou a observação do
cotidiano e dos equipamentos escolares de uma instituição de ensino.
Referências
Resumo
Introdução
políticos, científico e outros, afim de contribuir com atos que se repetem para
naturalizar performances dimórficas de gênero e contribuir para perpetuação
de um poder masculino.
Nesse sentido cabe trazer que há verdades inventadas sobre os compor-
tamentos dos sujeitos que buscam estruturar o conhecimento e educá-los de
acordo com um sexo pré-discursivo e naturalizado, a partir daí características
são construídas e há um constante investimento em controlar, corrigir e vigiar
os corpos para que eles apresentem performances de acordo com as carac-
terísticas anatômicas natas. Nesse sentido, ao pensar gênero uma das ações
propostas é tencionar a valorização dessas características, como os discursos
que circulam constantemente sobre elas funcionam para manter uma ordem
dominante, marcadamente androcêntrica.
Reconhecer nessas construções um contexto histórico que por muito
tempo destinou a mulher o espaço do privado, à subordinação, a profissões
ligadas ao cuidado e como extensão as atividades que são exercidas no lar,
que inviabilizou sua participação como cidadã, privando-as de direitos políti-
cos e de participar ativamente dos processos da sociedade, que foi silenciada
no universo acadêmico e científico. Perceber também como os homens são
constantemente estimulados a exercer uma única forma de masculinidade, cor-
respondendo às expectativas de uma sociedade que também os oprime e os
vigiam constantemente.
Mas todas essas construções que permitem perceber o gênero como um
constituidor das identidades dos sujeitos, é um projeto de sociedade e como
todo projeto ele encontra barreiras e falhas que questionam seus pressupostos
e verdades, dessa forma uma diversidade de masculinidades e feminilidades
entram em cena para anunciar novos modos de ser homem e ser mulher ou
simplesmente em não se perceber dentro dessas categorias, hora transitando
por esses espaços, hora subvertendo-as totalmente, corrigindo o que antes era
um dado da natureza e um destino de vida, ou simplesmente não se impor-
tando com este dado exercendo livremente identidades que não cabem em
uma genitália.
Mesmo que o discurso da diversidade de gênero seja uma marca repre-
sentativa no enunciado da professora Ana, há ainda uma representação que
liga gênero a sexualidade, como essas construções são comumente difundidas
de forma atrelada. Mas há uma necessidade de perceber algumas distinções,
para superar a compreensão de uma sexualidade correspondente ao sexo de
Ainda que apareça um discurso que entende o gênero para além de uma
percepção polarizada entre masculino ou feminino, há uma vinculação de uma
constituição dada no nascimento o que acaba deixando de lado a percepção de
uma construção de gênero móvel, que é construída, que é submetida as sanções
normatizadoras de um projeto de sociedade heterossexista, de aprendizagens
Conclusões
Referências
Danilo Dias
(PPGREC/UESB)
Mestrando em Relações Étnicas e Contemporaneidade pela Universidade
Estadual do Sudoeste da Bahia
Atua na área de educação com ênfase nas discussões sobre gênero e sexualidades
daniloduesb@gmail.com
Resumo
Introdução
1 Transcrição das falas de duas professoras do quadro efetivo da escola. Os nomes para referi-las são
fictícios e o critério para a escolha foi a utilização de nomes de flores.
Considerações finais
Referências
BENEDETTI, Marcos Renato. Toda feita: o corpo e o gênero das travestis. Rio de
Janeiro: Garamond, 2005.
Anderson Ferrari
Professor Adjunto
Universidade Federal de Juiz de Fora – Faculdade de Educação
aferrari13@globo.com.br
Resumo
Este trabalho apresenta uma discussão acerca das possibilidades dos corpos de
atores da escola, e como esses corpos são construídos, significados e subjetiva-
dos nesses espaços. Parte de uma pesquisa de mestrado, em andamento, que
objetiva problematizar as abordagens utilizadas por professore/as para os temas
relações de gênero e sexualidades na educação, e um eixo dessa discussão se
faz através de variados significados dados ao corpo ao longo da história, como
parte dela, construindo saberes e sendo transformados através da cultura, da
disciplina escolar, dos discursos praticados na escola, enquanto parte ativa e
fundamental na construção das relações de gênero e vivência e expressão das
sexualidades.
Palavras-chave: corpo, relações de gênero, sexualidades, escola.
Introdução
Corpo e escola
Considerações finais
Inspirados pelas leituras feitas até agora e pelas respostas que recebemos
até o momento, que dizem do cotidiano de professoras e professores de 03
escolas da rede municipal de Juiz de Fora, podemos dizer que é importante
chamarmos a atenção para as reflexões a se fazer sobre questões relaciona-
das a representação de corpo e a constituição das identidades de gênero e da
sexualidade nas escolas. É relevante apresentarmos algumas das concepções de
corpo e suas configurações assumidas ao longo da história ocidental, até que
cheguemos às manifestações desse corpo na contemporaneidade, o que cha-
mamos o corpo pós-moderno. Os desafios a serem enfrentados pelos modelos
de educação contemporânea ainda são muitos, mas todos, em algum momento,
perpassam pelos corpos e por eles são atravessados.
Ao dizer que “a escola deve se preparar mais para essa discussão mas não
é fácil”, a/o docente nos leva a olhar para a escola como espaço de formação e
sociabilidade, e como estão se instaurando e desenvolvendo suas relações com
as/os docentes que a compõe, quando se dão os momentos de discussão e ava-
liação dos conteúdos e temas a serem ali abordados. Ao dizer dessa escola que
precisa se preparar, as/os docentes estão fazendo mais do que apenas sugerir
uma formação continuada, mas demonstrando que as discussões a respeito do
corpo e de todos os seus significados, passando diretamente pelas relações de
gênero e sexualidade precisam fazer parte incondicional dessa abordagem.
Temos Guacira Louro (2015) que fala do ensinamento que produziu um
modo de ser, e pensamos ser possível dizer um pouco mais, sugerindo que
a linguagem produz modos de ser, que foram transformados, desconstruídos
e reconstruídos ao longo da história, em atravessamentos com os processos
educacionais representados pela escola, pela família, pela religiosidade, pelos
campos políticos e sociais em ação. Felizmente, uma vez que somos feitos
no movimento e de movimento, tais aprendizados também não são perenes
(p.364).
Os corpos que circulam nos espaços escolares trazem, em suas forma e
performances, inúmeras possibilidades de ser sujeitos da educação e da histó-
ria, na construção de uma escola mais justa e igualitária para todas as formas
de ser e estar no mundo.
Referências bibliográficas:
CARLOTO, Cassia Maria. O conceito de gênero e sua importância para a análise das
relações sociais. Disponível em: http://www.uel.br/revistas/ssrevista/c_v3n2_genero.
htm. Acesso em 12/04/2016.
Resumo
Este texto apresenta dados iniciais de uma pesquisa com foco nos atra-
vessamentos entre educação, sexualidades, relações de gênero e discursos
religiosos. Partimos da hipótese de que o acirramento dos debates contem-
porâneos acerca desses temas ocorre, especialmente, com a problematização
das relações de sujeição a um código moral religioso, constituindo uma ética
de submissão às normas codificadas, mais que experiências religiosas que pro-
movem práticas de liberdade (FOUCAULT, 2006). Sendo assim, consideramos
relevante ampliar as análises acerca das relações de poder e dos processos de
subjetivação envolvidos nos modos como professoras e professores pensam e
lidam com os discursos religiosos e com a diversidade sexual e de gênero nas
escolas.
O recrudescimento de uma moral-religiosa pautada na manutenção da
heteronormatividade e dos binarismos de gênero vem se constituindo como
um desafio às discussões sobre as relações de gênero e sexualidades no campo
social contemporâneo. Tal “virada conservadora” se organiza em resposta às
transformações sociais e culturais que envolvem novos direitos e leis em prol da
erradicação de desigualdades e do reconhecimento público da legitimidade das
distintas ‘orientações sexuais’. Sujeitos, grupos e igrejas colocam-se contrários
à pluralização das sexualidades e gêneros, num cenário de embates, disputas
no campo das leis e políticas públicas, conflitos no que tange às iniciativas
que buscam discutir essas temáticas nas escolas, nas universidades e no plano
social mais geral. Recentemente, assistimos à polêmica1 em torno da aprovação
do Plano Nacional de Educação (PNE), quando deputados da bancada reli-
giosa se opuseram veementemente à redação do artigo 2º do então projeto de
lei, que se relacionava à superação das desigualdades educacionais, provendo
a igualdade racial, regional, de gênero e de orientação sexual. Os deputados
afirmavam que se tratava da imposição de uma “ideologia de gênero”, contrá-
ria aos “valores morais” e que, portanto, temiam pela “destruição da família”.
Consideramos que essa trama político-social atravessa os projetos educacionais
e de formação docente. Cabe, portanto, problematizar experiências e relações
que constituem essa trama discursiva, pensando que ela instaura certos modos
Podemos notar que os valores religiosos estão na base das relações sociais
familiares, algo que reverbera na formação dos sujeitos de modo heterogêneo.
Uma formação que pode ser “plural” ou “dentro de uma rigidez absurda”, que
envolve frequentar uma igreja ou não, que envolve reconhecer-se em uma
determinada confissão religiosa, dizer-se apenas cristão ou crer em uma “ener-
gia universal”. Formação que produz experiências religiosas, modos pelos quais
podemos ser subjetivados/as pelos discursos religiosos, que envolvem crenças
e certos modos de agir e viver, a sujeição a uma moral, e também os modos
como nos ocupamos de nós mesmos e nos conduzimos a partir dos códigos
morais associados a essas formações discursivas, ou seja, como nos constituí-
mos sujeitos dessa moral (FOUCAULT, 2006). Embora haja críticas aos preceitos
religiosos, aos dogmas, arriscamo-nos a pensar que as professoras e professores
conduzem-se por esses preceitos, de modo que suas práticas pedagógicas e
seus modos de lidar com as questões relativas aos gêneros e sexualidades nas
escolas serão atravessadas pelas experiências religiosas. Consideramos que as
respostas à outra questão do questionário nos dão pistas sobre essa relação. Ela
solicitava às/aos docentes: “Fale sobre a relação entre religiões e as questões
de gênero e sexualidade na sociedade em geral”. Entre as respostas é relevante
destacar a ênfase numa relação tensa, disputada e negociada, que poderia ser
resumida em: “As religiões não aceitam outras formas de sexualidade a não ser o
sexo entre homem e mulher”. Outras respostas, para falar dessa relação, traziam
em seu texto expressões como “problemática”, “tabu”, “polêmica”, “complexo”,
“as religiões não aceitam e recriminam”, “existe muito preconceito”. Destacamos
algumas delas:
“A identidade de gênero ainda é um tema pouco discutido no meio
religioso. Apesar de ser um assunto cada vez mais presente na
sociedade atual, para muitas religiões tratar de sexualidade e tran-
sexualidade ainda é um tabu.” (Escola B)
“A abordagem da relação entre religião e sexualidade ainda é
bastante problemática, visto que maior parte de nossos alunos assu-
mem se como cristã e essa vertente religiosa não abarca as questões
sobre homossexualismo.” (Escola B)
“Particularmente acho que se tornou um assunto muito polêmico,
principalmente em sala de aula. Devido a muitas crenças, falta de
informações e preconceitos. E isso na minha opinião é o reflexo de
como a sociedade trata o assunto.” (Escola B)
“Por muito tempo se divulgou o ‘ideal’ em relação a estas questões.
A religião é cercada pelo modelo de família com o pai, sendo um
homem, a mãe, sendo a mulher e esses dois papeis se consolidaram
na sociedade. Mediante estas ‘convenções’ ditadas vejo a dificuldade
da sociedade religiosa em aceitar a diversidade mesmo que tenha
esta diversidade aconteça também há muito tempo.” (Escola B)
“O que me vem agora, é que somos todos irmãos, Deus ama a
todos. Existe discriminação se a mulher gosta de mulher, se homem
gosta de homem, ou até mesmo dos dois, acho difícil entender, mas
respeito.” (Escola A)
“As religiões de modo geral são normativas, moralistas e principal-
mente hipócritas. Não conheço “alguma” que não seja, machista,
beirando a misoginia tanto no texto religioso quanto nas práticas
religiosas.” (Escola A)
“Mesmo a sociedade sendo considerada moderna e democrática, a
religião continua tendo um peso que condiciona muitas atitudes e
opiniões na sociedade.” (Escola A)
“A maioria das religiões prega o preconceito em relação às questões
de gênero e sexualidade, uma vez que não aceitam relacionamen-
tos que não sejam heterossexuais.” (Escola A)
“Acredito que, equivocadamente, alguns líderes religiosos incitam
a intolerância religiosa e a intolerância em relação à diversidade de
gênero.” (Escola A)
Referências
FOUCAULT, Michel. Ética, Sexualidade, Política. Ditos & Escritos V. 2 ed. Org.
Manoel Barros da Mota. Trad. Elisa Monteiro e Inês Autran Dourado Barbosa. Rio de
Janeiro: Forense Universitária, 2006.
Resumo
brasileiras, nas práticas docentes e/ou nos cursos de formação inicial e continu-
ada de professores/as” (p. 2). Os sentidos acerca da “ideologia de gênero” não
obtêm reconhecimento no campo dos estudos de gênero e sexualidade, mas
sim nos discursos de sujeitos e grupos que se colocam como “representantes”
de igrejas e religiões cristãs. Observamos, por exemplo, que, de acordo com a
“psicóloga cristã” Marisa Lobo, num vídeo2 publicado em sua página, a “ide-
ologia de gênero” propõe uma educação pautada na concepção de “gênero
neutro”, segundo a qual meninos e meninas seriam criados/as sem qualquer
configuração de identidade masculina ou feminina, de modo que apenas
quando atingirem certa idade poderão “escolher” a que gênero irão pertencer.
Assim, segundo Marisa Lobo, são ignorados os aspectos biológicos inerentes da
pessoa, negando a existência do que ela chama de “diferenças naturais” entre
homens e mulheres. De acordo com a psicóloga, existiria uma organização de
grupos, em sua maioria proveniente da população LGBTTI3, uma minoria social,
trabalhando para impor essa forma de viver à sociedade como um todo, que
promove a diversidade sexual e de gênero pautada na “ideologia de gênero”.
Merece destaque a ênfase dada ao não reconhecimento de um sexo
da criança ao nascer e ainda a preocupação com o que estão chamando de
“gênero neutro”, que parece denotar uma visão de que há uma única forma de
expressão de gênero, pautada no binarismo masculino/feminino. Essa questão
pode ser problematizada já que os estudos de gênero e sexualidades não pro-
põem ignorar ou negar o sexo biológico, mas, como argumenta Louro (1998),
pretendem enfatizar, “deliberadamente, a construção social e histórica produ-
zida sobre as características biológicas” (p. 21-22). A proposta é pensar que não
é apenas a condição biológica, o reconhecimento como macho ou fêmea, que
constitui o sujeito como feminino e masculino, ou seja, “não é o momento do
nascimento e da nomeação de um corpo como macho ou como fêmea que faz
deste um sujeito masculino ou feminino” (LOURO, 2008, p. 18).
Os/as idealizadores/as da “ideologia de gênero” têm aterrorizado as
pessoas e investido sistematicamente para que elas se coloquem contra tal “ide-
ologia”, alegando que esta irá atingir aquilo que lhes é mais caro: a família e a
2 Marisa Lobo – Desmascarando a ditadura ideologia de gênero – Teoria Queer. Disponível em: https://
youtu.be/emyFuBxiAc8. Acesso em 29 jun. 2015.
3 Referência a Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis, Transexuais e Intersexuais.
ou, como chamam, uma “ditadura gay”. Essa preocupação parte do pressu-
posto de que existiria uma forma mais correta e legítima de viver a sexualidade,
supondo que as pessoas seriam naturalmente heterossexuais. O argumento é
que estaríamos num cenário em que se pretenderia “destronar” a heterossexu-
alidade para dar lugar às/aos LGBTTI. É frequente entre os/as idealizadores/as
da “ideologia de gênero” uma lógica de que “seres humanos normais”, temen-
tes a Deus e defensores/as da moral, devem se conformar com sua condição
biológica de homem ou mulher, bem como com a prática das relações afetivo-
sexuais apenas entre estes dois opostos. Os/as adeptos/as e defensores/as desse
discurso consideram que a sexualidade e o gênero sejam algo que todos nós,
mulheres e homens, possuímos “naturalmente”, ignorando a compreensão de
que eles constituídos por rituais, linguagens, fantasias, representações, símbo-
los, convenções, ou seja, processos culturais plurais (LOURO, 1998).
Observamos argumentos que nos conduzem a essas análises. Na fala de
Marisa Lobo no vídeo mencionado acima, a “psicóloga cristã” afirma que o fato
de a ciência não ter descoberto um “gene gay” se deve ao fato de que este não
existe. Sendo assim, o natural é ser heterossexual e a homossexualidade não
passa de um comportamento adquirido socialmente, mas de forma inconsciente
pelo sujeito. Analisamos que haveria um investimento político em perpetuar a
hegemonia da heterossexualidade, inferiorizando as outras possibilidades de
viver a sexualidade, como que numa organização hierárquica.
A confusão na interpretação que se tem feito das questões de gênero e
sexualidades vem sendo utilizada para convencer as pessoas de que a inserção
dessas questões nos planos de educação trará grandes malefícios à sociedade
e, sobretudo, à família. Até cursos têm sido promovidos por Marisa Lobo, com
o intuito de “esclarecer” as pessoas sobres tais questões. No panfleto de divul-
gação disponível no Facebook5, aparecem as credenciais que autorizariam a
psicóloga a promover seu curso: “Psicóloga e Cristã; Teóloga e Educadora”. No
currículo do curso observamos um investimento em conceitos e termos que
são retirados dos estudos de gênero e sexualidade e “interpretados” a partir de
uma perspectiva da moral familiar cristã. Merece destaque “A erotização infantil
através da escola e da mídia”, que dialoga com vários dos conceitos destacados,
Referências
FOUCAULT, Michel. A arqueologia do saber. 7 ed. Trad. Luiz Felipe B. Neves. Rio de
Janeiro: Forense Universitária, 2010.
ISBN 978-85-61702-44-1
ABEH e a construção de um campo de Pesquisa e Conhecimento:
desafios e potencialidades de nos re-inventarmos
SUMÁRIO
O RECONHECIMENTO DA MULTIPARENTALIDADE NO
DIREITO BRASILEIRO. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 900
João Felipe Zini Cavalcante de Oliveira | Bruna Camilo de Souza Lima e Silva
Resumo
Introdução
Homoerotismo e subjetividade
Considerações finais
Por fim, destaca-se que, para fazer uma nova história das subjetividades,
há que se dar atenção à necessidade de traçar a genealogia das categorias
identitárias no fazer histórico. Tomar identidades contemporâneas como dadas
em outras temporalidades é arriscar-se ao anacronismo, desprezando as expe-
riências, os saberes e as técnicas de poder específicas que agem na elaboração
dos corpos e de suas subjetividades. Assim, em relação ao homoerotismo, é
importante atentar para como diferentes categorias relacionam-se a regimes de
poder-saber-prazer diversos.
Fazer a genealogia da identidade homossexual revela-se uma estratégia
eficaz para deslocar seus sentidos atuais. Se tal identidade é, ainda, elaborada
pelo dispositivo da sexualidade, ela não deixa de estar eivada de normatividade.
Assim, explicitar sua historicidade torna-se uma via para sua subversão. Se o
homossexual não foi sempre, não há porque crer que sempre será. É, então,
possível estilizar as existências homoeróticas contemporâneas. Como pensou
Foucault, a homossexual é ser em devir (ORTEGA, 1999, 166).
Referências
FOUCAULT, Michel. História da Sexualidade II. O uso dos prazeres. Trad. Maria
Thereza da Costa Albuquerque. Revisão técnica José Augusto Guilhon Albuquerque.
Rio de Janeiro: Edições Graal, 1984;
________. Vigiar e Punir. Nascimento da prisão. Trad. Raquel Ramalhete. 39ª ed.
Petrópolis, RJ: Vozes, 2011;
MOTT, Luiz. Pagode Português. A subcultura gay em Portugal nos tempos inquisito-
riais. In: Ciência e Cultura, V. 40, p. 120-139, 1988;
Tatiana Lionço
Doutora em Psicologia
Professora adjunta do Instituto de Psicologia da Universidade de Brasília (IP/UnB)
tlionco@gmail.com
Felipe de Baére
Mestrando em Psicologia Clínica e Cultura (IP/UnB)
felipebaere@gmail.com
Resumo
Introdução
1 A decisão do uso do termo LGBTfobia neste trabalho decorre de ser a conceituação adotada em
documento institucional que respalda a proposição do projeto de extensão universitária que se visa
apresentar, a saber o Programa de Combate à LGBTfobia da UnB.
para o benefício social (MENDES, 2012). Outro dado que chamou a atenção,
deu-se com os cartazes de divulgação dessa pesquisa, majoritariamente arran-
cados e vandalizados.
Dado histórico corporativista e de inércia na apuração de práticas
LGBTfóbicas nas universidades, as transformações nas relações institucionais
promovidas pelos coletivos estudantis são fundamentais, uma vez que também
contam com estratégias não previstas nas normativas institucionais. Esses cole-
tivos têm realizado atividades que conciliam o discurso acadêmico à militância
LGBT, incluindo protestos, notas de repúdio e atos por visibilidade, como debates
públicos. A ação dos coletivos favorece a formação de vínculos que contribuem
para a permanência de LGBTs nas instituições (CRUZ, 2012). Ademais, a própria
produção acadêmica de LGBTs assume um caráter político, pois problematiza
o pretenso discurso de neutralidade da ciência (NARDI et al., 2013; AMARAL,
2013; MENDES, 2012).
Estudos realizados nas universidades de Minas Gerais (AMARAL, 2013) e na
Universidade do Rio Grande do Norte (CRUZ, 2012) identificaram que a mobi-
lização dos coletivos estudantis desempenha a importante função de denunciar
violações de direitos humanos nos espaços universitários. Além de identificarem
tais práticas, os coletivos têm visibilizado a inoperância institucional para coibir
e investigar tais incidentes. Infelizmente, contudo, esses coletivos têm sido sujei-
tos à ameaças e agressões, o que demanda reconhecimento da necessidade de
proteção desses para que possam exercer o direito à organização política.
Diante da precariedade das respostas institucionais, reconhece-se a relevân-
cia do papel exercido pelos coletivos estudantis e docentes implicados em projetos
de pesquisa e extensão. Estes são atores fundamentais para superar a invisibilidade
e naturalização das violências LGBTfóbicas nas universidades, pois são capazes
de denunciar violências e sistematizar informações que fundamentem a criação de
políticas de proteção à comunidade LGBT na sociedade como um todo.
2 A relação do Escuta Diversa com o Direito é mediada por outro projeto de extensão idealizado por
Referências Bibliográficas:
CRUZ, Daniella Elana dos Santos. Diversidade sexual na UFRN como questão de
direitos humanos: sujeitos coletivos e estratégias em defesa da liberdade de orien-
tação e expressão sexual. (Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao Curso de
Serviço Social da Universidade Federal do Rio Grande do Norte). Natal: UFRN, 2012
GONÇALVES, Antônio Sérgio; GUARÁ, Isa Maria Ferreira da Rosa. Redes de proteção
social na comunidade: por uma nova cultura de articulação em rede. In: GUARÁ, I.
M. F. R. (Org.). Redes de proteção social. São Paulo: Associação Fazendo História,
2010. p. 11-16.
Resumo
1. Introdução
2. Materiais e métodos
De acordo com Heritage & Robinson (2006), uma prática vigente nas
consultas clínica caracteriza-se pela apresentação, por parte dos pacientes, de
suas motivação à procura de um médico. Tais motivações podem ocorrer por
(a) problemas conhecidos (rotineiros ou recorrentes) ou (b) problemas desco-
nhecidos pelos pacientes.
Ainda de acordo com os mesmos autores, o início de uma consulta cos-
tuma ser marcado pela própria apresentação de problemas, a partir de descrições
em termos vernaculares, sintomas, relação com experiências e autodiagnos-
tico, dúvidas e incertezas. Heritage & Robson (2006) também apontam que as
Chama atenção este tipo de consulta pelo fato de que, nestas situações, o
médico mais acatava com a participação da acompanhante do que do paciente
homem. Este tipo de interação aproxima-se consideravelmente dos padrões
perceptíveis em consultas pediátricas, quando o profissional de saúde dirige-se
ao responsável da criança para informar-se sobre a saúde desta, ainda que a
criança esteja presente (cf. TANNEN & WALLAT, 2002).
Deste modo, torna-se visível a fragilidade de pacientes homens ao apre-
sentarem seus problemas, e necessitarem de uma mediação feminina para isso,
gerando mais silenciamento do paciente – o que diferencia-se dos padrões de
performance da masculinidade hegemônica descritos por Connell (1995). Vale
aqui refletir a respeito de estratégias que podem ser lançadas pelo médico para
que a participação da homem na consulta seja mais efetiva, e este possa empo-
derar-se a falar a respeito de seus problemas.
(iv) Consultas cuja temática tratou de questões ligadas sexualidade:
de ocorrências mais raras, são consultas as quais constituiu como
tópico de discussão a sexualidade do paciente. Alguns tópicos foram
vigentes em consultas com médico urologista.
4. Considerações finais
Referências
CADILHE, A.J. Discourse Technologization and Medical Education: the use of role-
-play in the construction of competencies and professional identity. In GONÇALVEZ,
J.C. (org.). Presence in Healthcare Communication: implications for professional
education. Niterói: EdUFF, 2013b.
ERLICH, S.; MEYERHOFF, M.; HOLMES, J. (org.). The Handbook of Language, Gender
and Sexuality. West Sussex, UK: Blackweel Publishing, 2014.
HERITAGE, J. & ROBINSON, J. Accounting for the visit: giving reasons for seeking
medical care. In HERITAGE, J. & MAYNARD, D. Communication in Medical Care.
Cambridge: CUP, 2006.
LOURO, G.L. Sexualidade: lições da escola. In MEYER, D. et alii (org.). Saúde, sexua-
lidade e gênero na Educação de Jovens. Porto Alegre: Ed. Mediação, 2012.
MAYNARD, D. Everyone and no one to turn to: intelectual roots and contexts for
Conversation Analysis. In SIDNELL, J. & STIVERS, T. The Handbook of Conversation
Analysis. West Sussex, UK: Blackwell Publishing.
MINAYO, M.C. (org). Pesquisa Social: teoria, método, criatividade. Petrópolis: Vozes,
2008.
MISHLER, E.G. The discourse of medicine: the dialectics of medical interviews. USA:
Ablex, 1984.
Alexsandro Rodrigues
Doutor em Educação (Ufes).
xela_alex@bol.com.br
Resumo
Introdução
Considerações finais
Referências
BUTLER, Judth. Quadros de guerras: quando a vida é possível de luto? Rio de Janeiro:
Civilizações Brasileiras, 2015.
Jésio Zamboni
Doutor em Educação pela Universidade Federal do Espírito Santo
Pós-Doutorando e Professor Colaborador no Programa de Pós-Graduação em
Psicologia Institucional da Universidade Federal do Espírito Santo
jesiozamboni@gmail.com
Resumo
Como surge a bicha na vida de criança? Por invocação, uma voz que
enuncia a existência da bicha atrelada a alguns corpos. Ouve-se, no recreio
da escola, na conversa familiar, na brincadeira de rua, no programa de tele-
visão, ou em outro lugar qualquer, alguém dizer “bicha”, dirigindo-se a outra
pessoa ou grupo. Poder-se-ia descrever este acontecimento como processo de
interpelação, movimento de volver-se em direção ao outro como resposta a
um chamado que produz assim o reconhecimento social, tornando-se sujeito
(ALTHUSSER, 1980). No entanto, o interpelar a bicha não produz identificação;
pelo contrário, perturba o processo identitário baseado na divisão sexual. Ao ser
interpelado como bicha, já não se pode reconhecer como homem ou mulher.
Abre-se uma zona ou linha de (des)subjetivação no ponto de perturbação dos
padrões de gênero masculino e feminino, rompendo suas fronteiras. Assim, a
bicha não pode ser definida como uma identidade, pois consiste em uma mul-
tiplicidade desejante, um território de complexas mutações (PERLONGHER,
1993). Quando se é interpelado como bicha, o que ocorre desde a perturba-
ção da infância, acontece uma transformação incorporal. Ou seja, através do
signo bicha, acaba-se lançado a um outro território — assim como o padre
lança o noivo no território da conjugalidade ou o juiz lança o réu no territó-
rio da condenação por meio de outros signos (DELEUZE; GUATTARI, 1995).
A transformação incorporal remete à transformação corporal sem, no entanto,
confundirem-se. Sendo assim, pode-se ser lançado no território da bichice sem
que isso implique uma modificação predefinida no desejo dos corpos. O signo
bicha, portanto, não designa necessariamente o homossexual, o sodomita ou
mesmo o efeminado; embora lance o sujeito no campo destas possibilidades
históricas de transformação corporal, implicando-as nos processos de produ-
ção de subjetividade. A criança invocada como bicha poderá inventar diversas
possibilidades de existência a partir da interpelação, contanto que passe por um
devir mulher (GUATTARI, 1987) para escapar do ideal de homem.
O debate em torno da bicha, disparado por diversos trabalhos científicos
e literários do final do século passado (DANIEL, 1982, 1984a, 1984b; FRY, 1982;
FRY; MACRAE, 1984; MACRAE, 1990; MÍCCOLIS; DANIEL, 1983; MOTTA,
1987, 1996, 2000; PERLONGHER, 1993, 1997, 2008; SANTOS, 1972), configura
um meio fundamental para promover a crítica dos saberes e práticas aciona-
dos no campo da diversidade sexual. Esta crítica visa ampliar os modos de
pensamento e intervenção no campo social, criando novas estratégias de abor-
dagem do problema. Neste sentido, retomar e reformular a questão da bicha é
Referências
BAPTISTA, L. A. S. A fábula do garoto que quanto mais falava sumia sem deixar ves-
tígios: cidade, cotidiano e poder. In: MACIEL, I. M. (Org.). Psicologia e Educação. Rio
de Janeiro: Ciência Moderna, 2001. p. 195-209.
DELEUZE, G.; GUATTARI, F. Mil platôs, vol. 2. São Paulo: Ed. 34, 1995.
FOUCAULT, M. A vida dos homens infames. In: ______. Estratégia, poder-saber. Rio
de Janeiro: Forense Universitária, 2003. p. 203-222.
Resumo
Introdução
Considerações finais
Referências
Resumo
Desconstrutivismo
2 O informante se referiu a posição sexual como ela é comumente chamada: de “frango assado”.
3 Esta informação está em caráter de suposição do autor do texto.
Referências bibliográficas
Resumo
Introdução
1 Palestra ministrada por Luiz Fuganti no Festival Contemporâneo de Dança de São Paulo 2011. Link:
https://www.youtube.com/watch?v=lIwxWe_Tvo4
vez, cursam pelo nervo pudendo e, então, pelo plexo sacral para
a região sacral da medula espinal, finalmente, ascendendo pela
medula para áreas não definidas do cérebro”(GUYTON e HALL,
2011, p.1030, grifos meus).
Corpo biológico, foco irradiador das sensações de prazer, faz desse corpo
transante extensivo funcional início e finalidade de toda e qualquer experiência
sensorial. Fica mais ou menos evidente a relação quase intrínseca entre sensa-
ções, prazer e base anátomo-fisiológica, produzindo efeitos de naturalização
entre os termos. Este corpo passa por mim e eu me identifico neste fazer-tran-
sar: transo com o pênis através do contato com um corpo que o estimule, tudo
que friccione. A glande como parte mais sensível segundo as terminações ner-
vosas me excita; a ereção ocorre. Prazer. Orgasmo. Relaxamento.
Feminino:
“A estimulação sexual local da mulher, ocorre mais ou menos da
mesma maneira que no homem porque a massagem e outros tipos
de estimulação da vulva, da vagina e de outras regiões perineais
podem criar sensações sexuais. A glande do clitóris é especial-
mente sensível ao início das sensações sexuais.(...) Localizado em
torno do introito e estendendo-se até o clitóris, existe tecido erétil
quase idêntico ao tecido erétil do pênis. Esse tecido erétil, assim
como o do pênis, é controlado pelos nervos parassimpáticos que
passam pelos nervos erigentes, desde o plexo sacro até a genitália
externa” (Ibid. p.1054, grifos meus).
2 Anotações das aulas de psicanálise, mais especificamente dos Três Ensaios sobre a Sexualidade, de
Freud (2006)
Referências
DELEUZE, G. GUATTARI, F. Mil platôs – vol. 3. São Paulo: 34, ed. 2, 2012.
HALL, J. E.; GUYTON, C. A. Tratado de Fisiologia Médica, 12ª ed. Rio de Janeiro:
Elsevier, 2011.
PELÚCIO, L. Breve história afetiva de uma teoria deslocada. Florestan, n. 02, 2014.
VENCATO, A.P. Fora do armário, dentro do closet: o camarim como espaço de trans-
formação. Cad. Pagu, Campinas, n. 24, 2005.
Resumo
Introdução
2 Parte do Projeto de Iniciação Científica (PIBIC) em andamento com o titulo Formar para a Diversida-
de Religiosa: Gênero e Diversidade Sexual: artigos e periódicos.
5 STEFFEN, Luciana; MUSSKOPF André S. Lideranças e grupos religiosos conservadores têm, inclusi-
ve, posto em cheque o avanço e aprofundamento das discussões e práticas (especialmente no campo
das políticas públicas) no campo dos direitos humanos utilizando argumentos religiosos e teológicos
duvidosos. (2015, p. 60)
7 MARANHÃO Fº., Eduardo Meinberg de Albuquerque. [...] é bom marcarmos que homossexuali-
dades/afetividades e transgeneridades não são sinônimos. Homossexualidades e homoafetividades
referem-se, respectivamente, a orientações sexuais e afetivas, enquanto as transgeneridades são que-
bras ou transgressões das normas de gênero esperadas de quem é designad@ de determinado sexo/
gênero ao nascer (ou na gestação). (2015, p. 49).
8 MARANHÃO Fº., Eduardo Meinberg de Albuquerque. Esta consideração nos leva a destacar que
identidades de gênero, expressões de gênero, orientações afetivas e orientações sexuais são coisas
distintas. Podemos entender identidade de gênero como o modo como a pessoa se sente, se per-
cebe, se entende em relação ao sistema sexo/gênero. Sua identidade de gênero pode ser feminina,
masculina, algo entre esses dois lugares ou nenhuma, em um espectro amplíssimo (incluindo os dois
lugares ao mesmo tempo, mais de dois lugares, nenhum, e misturas entre nenhum e mais de um
lugar). A identidade de gênero se associa à transgeneridade e à cisgeneridade. Na primeira, a pessoa
não se sente confortável com o sistema sexo/gênero que lhe foi imputado na gestação ou no nasci-
mento: sua identidade autêntica é aquela à qual se identifica, e não a outorgada compulsoriamente.
Na segunda situação, a pessoa se sente confortável e concorda com o sistema sexo/gênero que lhe é
designado na gestação ou no nascimento (2015, p. 50)
9 BOFF, Leonardo. A porção feminina de Jesus Mandrágora Vol. 20, No 20 2014 p. 129-145
Mesmo que naquele espaço – nas igrejas inclusivas - haja fortes tendên-
cias a novas normativas de sexualidade, ainda é um local que se abre a acolher
as diversidades. Temos que nos atentar para onde caminhará esta forma de
teologia, enquanto ideologia. Perceber de que maneira sua ação provoca (des/
re)construção das relações de gênero. Causar mesmo,
Un Dios extraño, torcido, Queer. Un Dios fuera del armario de las
ideologías sexuales y Políticas fluido e inestable como nosotros, a
cuya imagen y semejanza fuimos hechos, un dios que se ríe y halla
placer en su destino divino de justicia transgresiva, la clase de jus-
ticia que desarticula las leyes y que finalmente hace de nosotros,
más que discípulos, amantes de Dios. (REID, M. Althaus, 2008,
pg, 69).
10 SOUZA, Robson. Há que se destacar aqui a importância da “ideologia” dos direitos humanos: esse
status igualitário criou o espaço necessário para a consecução de acordos parciais e transitórios entre
interesses muitas vezes divergentes. (2015, p. 212)
Referências
MARANHÃO Fº., Eduardo Meinberg de Albuquerque . “Uma igreja dos direitos huma-
nos” onde “promíscuo é o indivíduo que faz mais sexo que o invejoso e inveja é
pecado”: notas sobre a identidade religiosa da igreja da comunidade metropolitana
(ICM) Mandrágora Vol. 21, No 2 2015 p. 5-37
MUSSKOPF, André Sidnei. Deus é brasileiro! Mas que brasileiro? Mandrágora: Vol. 15,
No 15. 2008. p. 26-34
REID, Marcella Althaus. Marx enun bar gay La Teología Indecente como una Reflexión
sobre laTeología de laLiberación y laSexualidad. Numen: revista de estudos e pesquisa
da religião, Juiz de Fora, 2008, v. 11, n. 1 e 2, p. 55-69
GT 04 -
Travestilidades, Transexualidades, Lesbianidades e Homosexualidades:
Transgressões e Resistências.
Resumo
Introdução
Utilizando-se dos estudos sobre gênero como fio condutor, são descor-
tinadas questões que denunciam a marginalidade da condição transgênera.
Primeiramente, trazem-se as problemáticas advindas e impulsionadas pelas
ciências e teorias que dinamizam as concepções acerca do(s) gênero(s), e que
desestabilizam o tradicionalismo social do ser homem e do ser mulher. O bina-
rismo de gênero engendrado pelas instituições, contudo, persiste aniquilando as
experiências transgressoras, colocando-as à margem da sociedade. Os sujeitos
gênero-desviantes têm, assim, a sua cidadania invisibilizada e um dos reflexos
nefastos dessa exclusão social é a negativa do direito à autoidentificação e ao
nome, tão caros ao ordenamento jurídico pátrio que, não obstante, fundamen-
ta-se no princípio da dignidade humana.
Dessa forma, em um segundo momento, busca-se realizar uma breve
análise de casos que chegam ao Judiciário envolvendo as questões atinentes à
retificação ou alteração de prenome e designativo de sexo no registro civil – e
como a ratio decidendi dos tribunais ainda contribui para a disseminação de
preconceitos, tornando a sua tutela insuficiente.
1 “O que dizer de homens que vão ao salão de beleza, cuidar das unhas, da pele e do cabelo, e
mulheres que malham em academias para aumentar sua musculatura, antigo distintivo exclusivo
gênero, isto é, vivenciar outro gênero em sua integralidade, que não aquele
designado ao nascer em razão do sexo biológico, é patentemente visto como
um tabu, algo que ataca a ordem moral estabelecida, e resulta em repressões
de diversas instâncias, que culminam na condição de marginalidade das pes-
soas que fazem tal afronta, imputando a esses indivíduos gênero-desviantes um
papel irrelevante na cena social.
É de maior importância, por isso, denunciar as represálias direcionadas
àqueles que experimentam a condição transgênera, porquanto a realidade
evidencia cotidianamente a violência contra pessoas transgêneras, seja pela
chamada vigilância de gênero, por agressões físicas (que muitas vezes culmi-
nam na morte de transgêneros), pelo enquadramento da transexualidade como
distúrbio mental no rol de patologias da OMS, pela falta de acesso ao pleno
emprego, enfim, pela flagrante negação a essas pessoas de seus direitos mais
fundamentais – inclusive de reconhecimento da própria identidade.
O direito ao nome e a liberdade de ser genuinamente quem se é, tão subs-
tanciais à esfera da personalidade, são conquistas ainda esparsas para as pessoas
trans, condicionadas ao crivo do Poder Judiciário que, ponderando princípios
do ordenamento jurídico, institutos e leis, averiguam se há os requisitos neces-
sários para se conceder a alteração dos documentos oficiais de identificação.
dos homens. Até mesmo a capacidade de gestar e parir, atributo mais do que exclusivo da mulher
deixou de sê-lo, no momento em que transhomens não operados resolveram reproduzir. Não há
mais nenhuma característica ou atributo pessoal, papel social ou domínio profissional que possa ser
considerado como inequívoco e absoluto ‘domínio próprio e exclusivo‘ do homem ou da mulher
(...)” (LANZ, 2014, p. 20-21).
2 Essa conclusão é fruto do exame de acórdãos localizados em pesquisa junto ao banco de decisões
disponível no sítio eletrônico do Tribunal de Justiça do Paraná (https://portal.tjpr.jus.br/jurispruden-
cia/). Destacamos duas decisões que inspiraram a análise atenta dos fundamentos do tribunal: a Ape-
lação Cível nº 1.091.843-7, apreciada pela 11ª Câmara Cível, Relator Des. Renato L. de Paiva, em
julgamento realizado em 02/07/2014, publicado no Diário de Justiça em 25/07/2014; e a Apelação
Cível nº 350.969-5, da 12ª Câmara Cível, Relator Des. Rafael A. Cassetari, em julgamento realizado
em 04/07/2007, publicado no Diário de Justiça em 20/07/2007. O primeiro julgado não concedeu
a alteração do nome no registro civil, enquanto o segundo autorizou a mudança, porém, ambas as
decisões se fundamentam na realização ou não da cirurgia de transgenitalização, de forma a subor-
dinar a alteração do nome à “verdade biológica”. Inclusive, os votos empregam termos da literatura
médica, como se observa do seguinte trecho extraído daquela decisão: “O transexual, por força de
sua ‘anomalia sexual’ e não por mera escolha, está fadado a um estigma e humilhação ao ostentar
uma aparência destoante do prenome e do sexo descritos em seu documento de identificação oficial.
Segundo a Resolução nº 1.955/2010 do Conselho Federal de Medicina o transexual é ‘portador de
desvio psicológico permanente de identidade sexual, com rejeição do fenótipo e tendência à auto-
mutilação e/ou autoextermínio’.”
3 Lei nº26.743. Disponível em: <http://www.tgeu.org/sites/default/files/ley_26743.pdf>. Acesso em
28/06/2016.
Considerações finais
4 O artigo 4º exige que a pessoa seja maior de idade, apresente ao cartório uma solicitação escrita,
na qual deverá requerer a retificação registral da certidão de nascimento e a emissão de uma nova
carteira de identidade, conservando o número original e expressar o/s novo/s prenome/s escolhido/s.
Disponível em:<http://prae.ufsc.br/files/2013/06/PL-5002-2013-Lei-de-Identidade-de-G%C3%A-
Anero.pdf >. Acesso em: 28/06/2016.
Referências
CONNELL, R.; PEARSE, R. Gênero: uma perspectiva global. São Paulo: nVersos, 2015.
FOUCAULT, Michel. Vigiar e Punir: Nascimento da Prisão. 30. ed. Petrópolis: Vozes,
2005.
GT 04 -
Travestilidades, Transexualidades, Lesbianidades e Homosexualidades:
Transgressões e Resistências.
Resumo
Introdução
4 http://www.sdh.gov.br/assuntos/lgbt/ .
5 http://tgeu.org/ .
8 Disponível em http://guiadooeste.com.br/g1-travesti-e-morto-com-12-tiros-dentro-de-casa-em-san-
ta-maria-no-df/, acessado em 13 de julho de 2016.
9 A sigla ‘LGBT’ assim está posta pois é dessa maneira que aparece no relatório. Porém é necessário
pontuar que esta vem passando por transformações que emanam da demanda dos movimentos de
militância. Atualmente, é mais corrente utilizar LGBTTT ou LGBTTTQI.
Referências
Livros e artigos
BENEDETTI, M. Toda feita: o corpo e o gênero das travestis. Rio de Janeiro: Garamond,
2005.
BENTO, B. Brasil: O país do transfeminicídio. In: Centro latino-americano em sexu-
alidade e direitos humanos, 2014. Disponível em http://www.clam.org.br/uploads/
arquivo/Transfeminicidio_Berenice_Bento.pdf.
BUTLER, J. Marcos de guerra: Las vidas lloradas. Trad. Bernardo Moreno Carrillo.
Buenos Aires: Paidós, 2010.
JESUS, J. Cidadania LGBTTTI e políticas públicas: identificando processos grupais e
institucionais de desumanização. In: Berenice Bento & Antônio Vladimir Félix-Silva.
(Org.). Desfazendo gênero: subjetividade, cidadania, transfeminismo. 1a.ed.Natal
(RN): EDUFRN, 2015, p. 341-358.
KULICK, D. Travesti: prostituição, sexo, gênero e cultura no Brasil. Rio de Janeiro:
Fiocruz, 2008.
PELÚCIO, L. Abjeção e desejo: uma etnografia travesti sobre o modelo preventivo de
AIDS. São Paulo: Annablume, 2009.
Páginas eletrônicas
http://guiadooeste.com.br/, acesso em 12 de julho de 2016.
https://homofobiamata.wordpress.com/, acesso em 12 de julho de 2016.
http://www.sdh.gov.br/assuntos/lgbt/, acesso em 12 de julho de 2016.
http://tgeu.org/, acesso em 12 de julho de 2016.
O RECONHECIMENTO DA MULTIPARENTALIDADE NO
DIREITO BRASILEIRO
Resumo
Introdução
Família
O pilar da família
1 Eudemonista é a doutrina que considera a busca de uma vida plenamente feliz - seja em âmbito
individual seja coletivo -, julgando eticamente positivas todas as ações que conduzam o homem à
felicidade, perseguindo-a como um fim natural da vida humana.
Processo de nº 0711965-73.2013.8.01.0001
Considerações finais
Referências
FACHIN, Luiz Edson. Da paternidade: relação biológica e afetiva. Editora Del Rey,
1996.
FARIAS, Cristiano Chaves de; ROSENVALD, Nelson. Curso de direito civil: famílias. v.
6. ed. 7. São Paulo: Atlas, 2015.
TEIXEIRA, Ana Carolina Brochado; RODRIGUES, Renata de Lima. O direito das famí-
lias entre a norma e a realidade. São Paulo: Atlas, 2010.
Alexandre Gaspari
Mestre em Ciências Sociais pelo Programa de Pós-Graduação
em Ciências Sociais (PPGCS)
Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro – UFRRJ
alexandregaspari@gmail.com
Resumo
Este trabalho apresenta breve análise da pesquisa feita em dois trechos de praias
da cidade do Rio de Janeiro “amigáveis” a homossexuais: a Bolsa de Valores, em
Copacabana, e a Farme, em Ipanema. A pesquisa pretendeu analisar as relações
entre homens gays nessas praias e as tensões criadas a partir de diferenciações
que alimentam disputas territoriais e simbólicas, influenciadas por mudanças
socioeconômicas e de infraestrutura urbana na cidade. Tais distinções são
caracterizadas por interseccionalidades entre diversos marcadores sociais da
diferença. Se o corpo é o mais aparente deles, devido ambiente praiano, há
ainda outros fatores que afetam tais relações, como gênero, classe social, gera-
ção, raça, origem e mesmo local de moradia.
Palavras-chave: Homossexualidade; Corporeidade; Masculinidade; Classe
Social; Território.
Introdução
Marcadores da ocupação
1 Para efeito de simplificação da leitura, será usado o termo “praia gay” para referência a esses trechos,
embora o termo “gay” esteja mais associado a homossexuais do sexo masculino. De qualquer forma,
vale ressaltar que é visivelmente perceptível que a frequência nesses locais é majoritariamente de
homens.
2 Foram feitos contatos e entrevistas pelo Facebook. Um dos informantes também manteve contato
mais constante pelo Whatsapp.
A “poluição” da Bolsa
4 Informante de Green em sua pesquisa, assim como outros nomes presentes nas citações a este autor.
5 Embora com presença registrada, travestis e transexuais femininas foram analisadas de forma super-
ficial na pesquisa.
Garot@s de Ipanema
7 Qualquer referência a essa categoria é feita comumente no feminino. Portanto, apesar de o termo
“barbie” representar um ideal estético e de vigor físico que se aproximaria de uma “supermasculini-
dade”, ele é sempre precedido por “a”: “a barbie”, “elas”, “as barbies”.
verifica-se também o fator racial envolvido, já que os boys teriam “cor de pele
mais escura” (GONTIJO, 2004, p. 67) que as barbies.
Entretanto, a Farme atual apresenta uma diversidade maior de frequentado-
res do que quando surgiu. Homens são maioria, mas seus tipos físicos são variados,
bem como padrões estéticos e idades aparentes. Há mulheres, embora em número
muito menor. Grupos de homens e mulheres reunidos e casais heterossexuais,
com e sem filhos, também frequentam a praia, mas também são minoria. E muito
desse movimento foi facilitado pelo metrô, com a inauguração da estação General
Osório, no final de 2009, em situação semelhante à ocorrida na Bolsa em 1998.
No final de dezembro de 2014, havia um grupo de 12 pessoas na barraca
Lucia e Claudio, no que seria a “borda direita” da Farme. Eram seis homens
– três negros, dois brancos e um pardo –, três mulheres, todas negras, e três
crianças. Carregavam bolsas térmicas e caixas de isopor. Todos os homens do
grupo trajavam bermudões à altura do joelho. Dois trocavam beijos e se acari-
ciavam. Nenhum apresentava corpo “em boa forma”. E os homens se tratavam
no feminino na maior parte do tempo. Escutavam músicas em volume alto.
Primeiramente pagodes, e depois, funk carioca.
Carlos é negro, tem 278 anos, mora em Nova Iguaçu, na Baixada Fluminense,
e completou o segundo grau. Otávio tem 30 anos, é branco, mora no Centro do
Rio e é dentista. Os dois são nascidos em Campos dos Goytacazes, no norte
do estado do Rio de Janeiro, cidade a cerca de 300 quilômetros da capital.
Para ambos, ir à Farme é a possibilidade de exercício “livre” de sua homosse-
xualidade, sentimento que parece ser comum para quem é oriundo de cidades
de menor porte quando chega a metrópoles como o Rio ou São Paulo e que
parece atingir seu paroxismo em points gays, como aquele trecho da praia.
“Aqui a gente se sente bem”, explicou Otávio.
Nem Carlos nem Otávio disseram sentir discriminação na Farme. Contudo,
de acordo com reportagem de Ramiro Costa (s.d.) no site “Time Out” (www.
timeout.com.br/riodejaneiro), uma “nova’ praia gay estaria surgindo no Rio, e
por motivos relacionados à noção de poluição de Douglas (2012).
Há muito tempo a famosa Farme de Amoedo já não reina mais
absoluta na cotação do público gay no Rio de Janeiro. A explicação
é simples: fugir da confusão deste ponto, que ficou muito popular
Considerações finais
Bolsa e Farme comprovam que, embora sejam públicas, não foram feitas
para “qualquer pessoa”. Não basta ter um “corpo”: este é apenas o primeiro
símbolo de uma série de representações que determinam a dinâmica de ocupa-
ção desses territórios, supostamente “livres”, mas excludentes em sua essência.
As mudanças urbanas alteraram o perfil das duas praias. As camadas
populares e os corpos “fora de forma” que passaram a estar na Bolsa nos anos
9 A “galera” a que Morris se refere são os frequentadores da barraca da Denise, que se assemelham
ao que estamos chamando de “estilo barbie”.
10 Boate LGBT localizada na Praça Seca, Jacarepaguá, Zona Oeste do Rio de Janeiro. Formada por
diversos ambientes, onde se toca desde música dos anos 1980, passando por música eletrônica e por
funk, havendo ainda um ambiente destinado à música ao vivo, sua frequência é bastante variada,
mas majoritariamente formada por pessoas do subúrbio carioca, de classes mais baixas.
Referências bibliográficas
BECKER, Howard S.. Outsiders: estudos de sociologia do desvio. Edição digital. Rio de
Janeiro: Jorge Zahar Editor, 2012.
DOUGLAS, Mary. Pureza e perigo. 2. ed. São Paulo: Perspectiva, Coleção Debates,
2012.
Bruno de Freitas
Doutorando, Programa de Pós-graduação em Geografia, IG/UFU.
freitasbrunode@gmail.com
Resumo
Introdução
2 De acordo com o site “LGBT: a sua parada gay (2015)”, Gay-Friendly significa em português ami-
gável a gays, ou amigayveis, é um termo norte-americano que vem sendo utilizado no Brasil e para
se referir a lugares públicos e/ou privados que são abertos e receptivos ao público gay, ou seja, a
membros da comunidade LGBT.
O presente tópico tece uma discussão teórica no que diz respeito à cons-
tituição dos territórios urbanos derivados do consumo, lazer, vida noturna e
exclusão de grupos minoritários (em específico o LGBT) no setor central da
cidade de Uberlândia. Nesta acepção, as discussões que dizem respeito ao
conceito de territorialização, por meio da apropriação do espaço por segmentos
de mercado específicos, preferencialmente ao grupo LGBT.
Para entender como se dão estes processos espaciais em Uberlândia,
foi necessário discutir alguns conceitos geográficos. Parte-se do entendimento
que o espaço se torna lócus de processos sociais complexos. Sobre o espaço
urbano, Corrêa (2005) afirmou que o mesmo é simultaneamente fragmentado e
articulado e mantém relações com outros espaços.
Santos (1985) considera que em função de suas relações, os elementos
espaciais formam um sistema comandado pelo modo de produção dominante
nas suas manifestações à escala do espaço é readequado com o tempo. Aqui
apresenta-se a reconfiguração causada pela apropriação do espaço urbano da
cidade de Uberlândia, por empreendimentos comerciais que possuem funções
de lazer para grupos eminentemente LGBT.
Sobre este conceito Albagli (2004), afirmou que as noções de espaço e
de território são distintas. O espaço representa um nível elevado de abstração,
enquanto que o território é o espaço apropriado por um ator, sendo definido e
delimitado por e a partir de relações de poder, em suas múltiplas dimensões.
O território não se reduz então à sua dimensão material ou concreta; ele é,
também, um campo de forças, uma teia ou rede de relações sociais que se pro-
jetam no espaço. É construído historicamente, remetendo a diferentes contextos
e escalas.
Deve-se considerar que as cidades constituem-se um campo de inves-
tigação complexo. A densidade populacional e o grau de complexidade
informacional que permeiam seus sítios promovem o experimento das mais vari-
áveis manifestações culturais. Embora a cidade seja o foco da cultura de massa,
ela se apresenta como verdadeira manifestação da heterogeneidade humana. As
culturas, ou seja, as unidades vividas das experiências, que produzem determi-
nadas estruturas. Para entender os processos analisados, apresentam-se dados
inerentes a cidade estudada, bem como uma breve caracterização da mesma.
Mapa 2: Uberlândia, MG: Localização dos empreendimentos LGBT e/ou Gay-friendly no setor central
da cidade estudada, 2016.
A discussão que segue faz uma análise sobre uma prática espacial rela-
tivamente recente em Uberlândia, que diz respeito aos estabelecimentos Gay
Friendly. Em atividades realizadas diretamente em campo, foi questionado às/
aos responsáveis do empreendimento, qual era o público alvo em um destes
estabelecimentos gay-friendlys, os funcionários afirmaram que se trata de um
lugar que “você pode fazer o que quiser com quem quiser, o importante é diver-
tir e aproveitar a noite, sem rotulações” (Depoente P, 2015).
Estes estabelecimentos são compostos por espaços que possibilitam que
os indivíduos se expressem de acordo com suas personalidades e vontades. No
entanto, percebeu-se que a maioria das/os frequentadoras/es tem a ideia de que
este perfil heterogêneo de indivíduos que compõem estas áreas de lazer, que
tem por objetivo o respeito às diferenças, surge como oposição aos estabeleci-
mentos direcionados eminentemente ao público LGBT. Conforme depoimentos
obtidos nestes estabelecimentos:
Não me importo, nem quero fazer questão de frequentar um lugar
que é direcionado apenas pra pessoas LGBT, mas sim, um lugar
que isto seja o que menos importa, e o que seja respeitado seja as
diferenças, a diversidade (Depoente Q, 2015).
Gosto da variedade de estilos, pois aqui não tem apenas pessoas
gays, mas sim estilos diferenciados, pessoas modernas, que estão
à frente de seu tempo, não preocupando se os outros são gays ou
não, pois isto é o que menos importa (Depoente R, 2015).
Eu sou gay, mas não faço questão de apenas frequentar um espaço
que seja taxado que seja da gente, eu quero estar no meio de pes-
soas diferentes, com diferentes orientações sexuais, onde todos
sejam diferentes, do mesmo jeito que queria que todos pensassem
assim, pois o pessoal ainda é muito quadrado (Depoente S, 2015)
Por meio dos discursos acima, foi possível observar que, de certa forma,
as pessoas que frequentam estes estabelecimentos, acreditam não fazer sentido
frequentar estabelecimentos destinados eminentemente paro o grupo LGBT,
pois vêm a necessidade de transcender esta questão, e que o primordial é que
as pessoas se relacionem por meio da diversidade e diferenças existentes, com
o objetivo de superar a questão do preconceito na sociedade como um todo.
Considerações Finais
Referências
Resumo
Introdução
1 Trabalho de pesquisa desenvolvido com a Organização Não Governamental (ONG) Caiçara, localizada
no município de Icapuí, Ceará, após estabelecimento de parceria no mês de Março/2015 aos dias atuais.
Metodologia
Resultados e Discussão
nos discursos das interlocutoras que elas se sentem pertencentes àquele local,
mesmo que não se sintam seguras em assumir publicamente suas sexualidades.
É importante perceber a relação entre a vivência territorial e as produções cul-
turais acerca das identidades sexuais e de gênero, como afirma Butler (1990):
The cultural matrix through which gender identity has become
intelligible requires that certain kinds of “identities” cannot “exist”—
that is, those in which gender does not follow from sex and those
in which the practices of desire do not “follow” from either sex or
gender. (BUTLER, 1990, p 23-24).3
3 A matriz cultural que torna os gêneros inteligíveis admite que tipos de “identidades” não possam
“existir” – que são, aquelas que o gênero não é seguido pelo sexo e aquelas que a prática do desejo
não é “seguida” pelo sexo ou pelo gênero. (Tradução livre feita pelos autores).
Considerações finais
psicologia e areas afins, bem como no eixo de sociedades mais justas e igualitá-
rias em defesa da diversidade de papéis sexuais e vivências lésbicas.
Referências
BUTLER, J. Gender Trouble: Feminism and the subversion of identity. New York:
Routledge, 1990.
FOUCAULT, M. História da Sexualidade I: a vontade de saber. 21. ed. Rio de Janeiro:
Graal, 1988.
SACK, R. Human territoriality: its theory and history. Cambridge: Cambridge University
Press, 1986.
Resumo
1 O referido estudo busca analisar não somente a vivência no espaço público da mulher trabalhadora
terceirizada dessa instituição, mas também a construção dos espaços de lazer existentes em seus
percursos diários. Como produto da pesquisa, seguiram análises de praças localizadas nos bairros de
moradia dessas mulheres e ao longo dos seus trajetos até o trabalho.
Introdução
A Mulher na História
Ninguém nasce mulher: torna-se mulher. Nenhum destino bioló-
gico, psíquico, econômico define a forma que a fêmea humana
assume no seio da sociedade; é o conjunto da civilização que ela-
bora esse produto intermediário entre o macho e o castrado que
qualificam de feminino (Beauvoir, 1967, p. 9).
2 A Declaração, porém, não fica sem uma resposta das mulheres da época. Em 1791, Olympe de Gou-
ges escreve a “Declaração dos Direitos da Mulher e da Cidadã”, em resposta ao documento inicial.
A Mulher no Trabalho
3 Há registros de cerca de oitenta mulheres que guerrearam lado a lado aos homens, durante o perío-
do da Revolução Francesa. Vide: “Revolução Francesa e feminina”, disponível em <http://migre.me/
ufUeL> Acesso em 15/06/2016.
4 Sobre o assunto, vide: LÚCIO, Clemente D.; GARCIA, Mayra. Desafios para a Igualdade no Mercado
de Trabalho. Plataforma Política Social, 09/02/2016.Disponível em< http://migre.me/ufUfd>. Acesso
em 07/05/2016.
A Mulher na Cidade
6 A exemplo do que reflete a pesquisa de Sugai (2015, p. 181) que conclui, através da análise histórica
da localização de investimentos do Estado em Florianópolis e região metropolitana que a “sua dis-
tribuição espacial [dos investimentos públicos] não ocorreu de forma geograficamente equilibrada,
uniforme, homogênea ou determinada pelas demandas. Evidenciou-se também que a localização
desses investimentos não ocorreu de forma aleatória e também não foi calcada apenas em decisões
técnicas”.
7 Os livros Modulor I e Modulor II foram publicados, respectivamente, em 1948 e 1957 e reuniam te-
orias de proporções, descrições que deveriam ser aplicadas nos seus projetos. A incorporação dessas
proporções pode ser verificada em diversos edifícios e consolidou-se através da grande indústria que,
especialmente depois da Segunda Guerra, se ocupou de conceber casas em série.
Considerações Finais
Referências Bibliográficas
ALAMBERT, Zuleika. Mulher. Uma Trajetória épica. São Paulo: Imprensa Oficial do
Estado de São Paulo, 1997.
IBGE. Pesquina Nacional por Amostra em Domicílios, Síntese dos Indicadores, 2014.
Disponível em ‹http://biblioteca.ibge.gov.br/visualizacao/livros/liv94935.pdf› Acesso
em 01/03/2016.
ISP. Dossiê Mulher 2015. Rio de Janeiro: 2015. Disponível em: http://arquivos.proderj.
rj.gov.br/isp_imagens/uploads/DossieMulher2015.pdf. Acesso em 07/05/2016.
RENDELL, Jane. (org.) PENNER, Barbara. (org.) BORDEN, Ian. (org) Gender Space
Architecture: An Interdisciplinary Introduction. Londres: Routledge, 2000. (Coleção
Architext)
RISÉRIO, Antonio. Mulher, Casa e Cidade. São Paulo: Editora 34, 2015.
ROLNIK, Raquel. O Que É Cidade. São Paulo: Editora Brasiliense, 1988. (Coleção
Primeiros Passos)
Resumen
Introducción: El Metro
1 Cuando hablo de prácticas homoeróticas es para referirme a una socialización erótica versátil y
dinámica entre personas del mismo sexo biológico, en este caso hombres, en las que se implican el
cuerpo, el deseo y la subjetividad. Las prácticas homoeróticas al ser una forma de expresión de la
sexualidad, son determinadas por la cultura y el contexto en el que se desarrollan.
El “último vagón”
2 Por apropiación entiendo el acto de significar o dar sentido propio al lugar desde la experiencia del
sujeto por medio de las prácticas homoeróticas que ejercen los usuarios-hombres.
A modo de reflexión
Referencias bibliográficas
BRITO, Alejandro (2010). Prólogo “Del closet a la calle. Para ya no ser menos que
nadie”. En Carlos Monsiváis. Que se abra esa puerta. Crónicas y ensayos sobre la diver-
sidad sexual. México: Paidós, pp. 17-45.
SÁNCHEZ, Luís (2002). “De “san juaneras” y “metreras”; entornos públicos y pla-
cer homosexual”. Memoria. Revista mensual de política y cultura. Núm. 155. Enero.
México: pp. 25-29.
Resumo
Este trabalho tem como objetivo debater as relações que se estabelecem entre
convenções sociais e morais acerca da lesbianidade, enfatizando o paradigma
da heteronormatividade e o que pretendemos chamar do silencioso discurso
dos corpos lésbicos, desvelando as formas de opressão ainda existentes. Esse
texto resulta de análises documentais trazidas pelas publicações, entre os anos
de 1980 até 2015. A preocupação metodológica parte do levantamento de
publicações e também às pesquisas bibliográficas cujo conteúdo é de interesse
principalmente pelo gênero lésbico e a imagem construída a seu respeito.
Palavras-chave: lesbianidade; desencorajamento; sexualidade; homocultura.
Introdução
Vasculhando memórias
esse período foi o de maior efervescência para vários movimentos sociais, inclu-
sive o movimento ainda chamado homossexual e suas visibilidades difusas, haja
vista o preconceito contido nos noticiários do jornal do Brasil.
Paralelamente, foi consultado o site www.umoutroolhar.com.br, com
publicações dos anos 2015 para se fazer um comparativo.
* Em 101 edições foram divulgações de um único filme que ficou meses em cartaz.
Fonte: VIEIRA, 2016 (Baseado no arquivo do Jornal do Brasil)
conquista de direitos só começa a ser noticiada a partir dos anos 1990, porém
noticiando conquistas de direitos em países europeus e na América do Norte.
Referências
BUTLER, Judith. Relatar a si mesmo. Crítica da violência ética. BH, Autêntica ed. 2015.
FLEURY, Sonia. Estado sem cidadãos: seguridade social na América Latina. RJ,
Ed.FIOCRUZ, 1994.
PEREIRA, Potyara A. P. Política Social. Temas & Questões. São Paulo, Cortez, 2008.
Resumo
Introdução
LGBT encarcerada, vez que dispõe sobre o direito ao uso do nome social, inclu-
sive para registros administrativos; estabelece a possibilidade de transferência de
gays, travestis e transexuais para espaços de vivência adequados à identidade
de gênero, mediante expressa manifestação de vontade, de acesso oferecido,
necessariamente, pelas agências punitivas; visa a garantir o direito ao uso de
roupas femininas ou masculinas, conforme o custodiado se identificar, à visita
íntima, à formação educacional; trata do direito à manutenção dos cabelos
compridos, caso o tenha, a fim de garantir as características definidoras de sua
personalidade.
LGBTs e cárcere
A situação dos gays, das lésbicas, das travestis e dos transgêneros que se
encontram no cárcere é absolutamente degradante, tendo em vista que adqui-
rem posições de vulnerabilidade (...) frente à incidência estigmatizadora do
sistema punitivo (CARVALHO, 2012, p. 15).
É manifesta a invisibilidade dessas pessoas, principalmente dentro do
cárcere, retratado ora pelo descaso e indiferença do poder público, ora pela
perceptibilidade figurada em torno da manutenção e do fortalecimento de estig-
mas e estereótipos. Em relação a esse descaso, expõe Karina Fioravante:
“(...) a partir do momento em que ignoramos as especificidades
de gênero, corremos o risco de cair em uma armadilha (...). Ou
seja, negando-se a necessidade de um recorte de grupo específica
estamos ofuscando importantes aspectos culturais e ideológi-
cos (...). Isso se aplica da mesma forma aos espaços carcerários.
Como pensar em políticas públicas específicas para a população
encarcerada ignorando as características singulares desses espaços,
compreendendo-os, portanto, de forma homogênea? É impossível.”
(FIORAVANTE, 2011, p. 35).
2 Diretora de atendimento e ressocialização que atua há seis anos no presídio. Graduada em Direito e
Pós-graduada em Direito Público.
demais custodiados, alguns a tratam pelo nome social, outros não, mas, por
parte dos agentes nunca foi observado.
“Sempre quando são perguntados sobre como está a convivên-
cia no alojamento, dizem que está tudo bem. Eles têm um tipo de
comunicação entre si que o que acontece fica entre eles, ninguém
conta. As coisas são transformadas lentamente, não há uma aceita-
ção rápida e tranquila. Para isso, há muito a ser feito para mudar a
mentalidade dos agentes e dos próprios presos.” (Marluce).
Ademais, no que se refere à visita íntima, a diretora disse que não existe
diferença no tratamento entre casais heterossexuais e homossexuais. Tem-se
como requisitos para a concessão da visita a apresentação da escritura de união
estável do casal, exames de HIV, Hepatite B, VDRL, preventivo e atestado de
antecedentes criminais. Segundo Marluce, durante os seis anos em que trabalha
no presídio, houve apenas um pedido proveniente de casal homossexual, que
foi deferido.
Contudo, o direito à visita íntima para a população LGBT em situação de
privação de liberdade é regulada pelos termos da Resolução CNPCP nº 4, de 29
de junho de 2011, a qual assegura em seus artigos 1º e 2º a visita íntima de outro
parceiro ou parceira, não necessariamente cônjuge ou união estável.
Um terceiro agente penitenciário nos informou que já houve passagem de
travestis no presídio e que estes sofreram violência constante (24 horas por dia,
disse – demonstrando demasiada naturalização quanto à violação de direitos)
por parte dos demais encarcerados, tanto verbal, quanto psicológica e sexual,
apesar do desconhecimento por parte de Marluce. Quando questionado sobre
o encaminhamento dos travestis para áreas específicas, notou-se um despre-
paro para lidar com o assunto e consequente preconceito. O agente destaca,
ainda, que o presídio funciona três vezes além da capacidade prisional que ofe-
rece e, por isso, está passando por uma fase de adaptação e de remanejamento
de custodiados. Fica claro o seu despreparo através do discurso carregado de
estigmas e resistência às diferenças.
“Eles não têm ala ou cela específica. Ficam juntos com os homens,
aliás, são homens, não é? Pra você ter uma ideia não aprisionávamos
mulheres aqui. Foi feita toda uma realocação dos presos para que
elas pudessem ter um pavilhão específico e que, ainda assim, não
é totalmente adequado à situação delas.” (Agente Penitenciário).
Considerações Finais
Referências
SILVA, Diego Patrick da. COSTA, Nicole Gonçalves da. FREIAS, Rafaela Vasconcelos.
Sistema prisional, Identidade de gênero e Travestilidades em Belo Horizonte.
VIII Encontro da ANDHEP – Políticas Públicas para a Segurança Pública e Direitos
Humanos. Faculdade de Direito, USP, São Paulo, SP, 2014.
TORRES, Mariana Coelho. SILVA, Augusto Cesar Pinheiro. Presídios de Mulheres são
Espaços Femininos? O Poder da Heteronormatividade no Sistema Prisional Carioca.
Revista Latino-americana de Geografia e Gênero, Ponta Grossa, v. 5, n. 1, p. 126-141,
jan./jul. 2014.
Resumo
Introdução
ainda persiste, tanto no imaginário como nas técnicas, o que se pode facilmente
constatar por meio das formas pelas quais até hoje as políticas preventivas de
DSTs dirigem-se, sobretudo, aos não-heterossexuais, como é o caso da política
pública de saúde de Curitiba aqui analisada.
Resquícios de uma construção do pensamento médico do século XVII,
somados a todo esforço ocorrido no momento da explosão do vírus no Brasil,
situação em que o movimento homossexual, junto aos interesses biopolíticos do
Estado e à sofisticação das ciências sociais advindas da academia, se uniram em
torno do combate contra a doença (MISKOLCI, 2011, p. 50). Desse modo, ges-
tou-se um solo de visibilidade dessas subjetividades aglutinadas sob o conceito
de homossexualidade, sujeitos de uma sexualidade perversa na medida em
que encarnam uma prática sexual perigosa para a sociedade tomada enquanto
corpo-espécie. Esse fenômeno foi denominado por Larissa Pelúcio (2009) de
“sidadanização”, vez que o processo de construção da cidadania desses sujeitos
se deu a partir de interesses estatais biopolíticos de caráter epidemiológicos que
culminou na criação de identidades estigmatizadas, cuja normalização mostra-
-se necessária.
Assim, tomando como figura paradigmática a implementação do AHA na
cidade de Curitiba, pretende-se traçar uma analítica das estratégias biopolíticas
ali engendradas na lógica do dispositivo da sexualidade, isto é, verificar qual a
curva de normalidade considerada ótima nesse contexto de atuação, e a par-
tir dela, quais os discursos que rondam essa tática de normalização do corpo
populacional.
será possível precisar os riscos e perigos a que cada subgrupo está afetado em
virtude de sua idade, localidade, clima, etc. Se a oscilação de riscos e perigos
eleva-se a um nível cuja contenção ou controle se tornem muito difíceis, tem-se
o que se denominou por crise (FOUCAULT, 2008, ps. 75-78).
Com efeito, a tecnologia biopolítica demarca uma ruptura no modo de
percepção do real político-biológico, na medida em que não mais se opera
buscando a erradicação da doença, mas de fazê-la funcionar em relação a
outros elementos do real, possibilitando, em algum grau, a anulação de seus
efeitos. Através da noção de caso, a AHA levou em consideração a distribuição
dos casos de HIV-Aids de que o município tem acesso, de modo a tornar pos-
sível a individualização do fenômeno coletivo da doença, na mesma medida
em que coletivizou um fenômeno que seria individual, restringindo-se, porém,
aos homossexuais e aos HSH. Tal é a operação deflagrada pela noção de caso
sugerida por Foucault (2008, p. 78).
Quanto aos elementos de risco e perigo, fica claro também a sua efetiva-
ção na implementação, vez que, ao direcionar o aplicativo aos homossexuais e
aos HSH, os identifica enquanto grupo de alta probabilidade de contrair o vírus,
dado o seu comportamento de risco – o seu modo de vida. Na totalidade do
grupo populacional considerada, a partir do cálculo de riscos, estabeleceu-se
que estes não se apresentam da mesma maneira para todos, vez que há zonas
de mais alto risco em contraposição a outras em que este é menor, “em outras
palavras, pode-se identificar assim o que é perigoso” (FOUCAULT, 2008, p. 80).
Em relação ao risco de contrair aids, é mais perigoso ser homossexual e HSH,
esse é o discurso mais sutil veiculado por essa política pública.
Tais reflexões nos permitem constatar que a prefeitura de Curitiba, por
meio do aplicativo AHA, atua no entorno populacional da cidade irradiando
seus efeitos sobre homossexuais e homens que fazem sexo com outros homens
de formas variadas. De fato, a sua concretização se encontra relacionada à
conquista de espaços e ações por sujeitos homossexuais no que se refere a
efetivação de direitos ou a sua visibilidade social. Entretanto, essa visibilidade
é capaz de obscurecer as artimanhas do biopoder que estão em jogo nesse
contexto. Ao lançar um aplicativo com um determinado fim – detecção, pre-
venção e combate de HIV/Aids – e estabelecer a especificidade do seu público,
denominado por eles de população-alvo – homossexuais e HSH – fortalece o
aparato estratégico de normalização daquela rede de associações tão repetida
e hipertrofiada existente entre a homossexualidade e a Aids.
Considerações finais
Em 1976 Foucault (2011) nos alertara para o fato de o sexo ter-se tornado
esse ponto imaginário através do qual todos os corpos se leem e são lidos,
ponto de condensação de sua totalidade e de aglutinação de sua identidade,
gestado no interior das redes do dispositivo da sexualidade. Alguns anos mais
tarde, explode a epidemia de HIV/Aids, incialmente classificada como uma
“peste gay”, denotativa de um estilo de vida marcado pela perversão e dege-
nerescência sexual, de corpos lidos enquanto sexualizados, e dispostos numa
escala hierárquica de estigmatização.
Por mais que Foucault tenha nos indicado o declínio da concepção de
doença reinante no século XVII, a emergência da Aids reavivou tais discursos
atrelando a doença aos modos de vida tidos como homossexuais, mas a partir de
então perpassada pelas novas noções elaboradas no bojo do desenvolvimento
dos mecanismos de segurança. São as noções de caso, risco, perigo e crise radi-
cadas no seio da normalização biopolítica e, nesse caso, irradiadas a partir do
dispositivo da sexualidade, que, em alguma medida, possibilitaram na década de
1980 a visibilidade conquistada por sujeitos LGBT no cenário nacional, alçando-
-os ao espaço da cidadania, todavia, a um ambiente de “sidadanização”.
Implodidas, em momento posterior, as falácias que atrelavam a Aids
aos sujeitos LGBT, resquícios desse processo são sentidos até hoje, bastando
atentar-se para as campanhas de combate e prevenção de DSTs dirigidas
exclusivamente a não-heterossexuais, como no caso do aplicativo A Hora é
Agora – Testar nos deixa mais fortes, política pública lançada pela prefeitura
de Curitiba no ano de 2015. Tais medidas delimitam aquelas subjetividades em
espaços estigmatizados por um discurso que as entende enquanto perigosas,
porque suas condutas, seus modos de vida, a sua estética, em suma, a sua
sexualidade perversa, carregam um tipo de risco biológico para o corpo social
tomado enquanto corpo-espécie.
Se no nível da superfície, a política pública em questão se apresenta como
efetivação do direito fundamental à saúde, ao delimitar seu público alvo - gays
e homens que fazem sexo com outros homens - tal iniciativa faz não mais que
reiterar todo um complexo de normalização instaurada a partir da heterossexu-
alidade compulsória, cujas práticas sexuais não são nem questionadas, vez que
tal medida a eles nem se dirige. Presumem-se como portadores de um modo de
vida saudável e uma sexualidade segura. Essas são as sutilezas que o biopoder
esfumaça, mas que as lentes de Michel Foucault ajudam a enxergar.
Referências
Resumo
Introdução
2 Foram aplicados questionários com questões objetivas aos assistentes sociais participantes do IV
Encontro Nacional de Assistentes Sociais do Ministério Público, realizado entre os dias 19 e 21 de
setembro de 2012, no Rio de Janeiro, tendo sido devolvidos 80 questionários preenchidos.
No Brasil, nos últimos anos, vem ocorrendo uma série de embates entre
defensores dos direitos LGBT e ativistas dos movimentos religiosos - especial-
mente as lideranças de denominações evangélicas de origem pentecostal.
A partir de 2004, um conjunto de iniciativas (ações e programas) gover-
namentais nacionais começava a assegurar a promoção de cidadania para a
população LGBT, evidenciando, concomitantemente, a necessidade de imple-
mentação de políticas públicas no combate ao preconceito, à discriminação e à
exclusão que atingem essa população. O alargamento dos direitos LGBT, assim
como ações que promovem a visibilidade e aceitação desses grupos sociais
vêm provocando reações conservadoras de diferentes vertentes da fé cristã,
sobretudo de evangélicos de origem pentecostal. Utilizando a retórica da liber-
dade de expressão, esses segmentos religiosos desqualificam e combatem a
diversidade sexual, adentrando a arena política através de seus representantes
no Congresso Nacional, que se articulam compondo frentes parlamentares e
interferindo na agenda do movimento LGBT no sentido de conseguir o veto de
leis e políticas que contrariam preceitos morais da sua comunidade religiosa.
Zylbersztajn (2012) não considera que a presença religiosa nos debates
políticos seja algo antidemocrático em si, mas apenas evidencia a inexistência
de recursos teóricos e argumentativos para a discussão do tema de forma qua-
lificada. A este respeito, Rorty (1996) considera que o argumento puramente
religioso precisa ser reestruturado e ganhar contornos seculares para ser apre-
sentado na arena política. A participação dos evangélicos no sistema político
brasileiro ocorre, principalmente, no poder legislativo. Nos discursos de par-
lamentares representantes de denominações evangélicas acerca do tema da
homossexualidade, termos como ‘ditadura gay’, ‘mordaça gay’, ‘destruição das
famílias’, entre outros mostram-se recorrentes.
A eleição do deputado (e pastor evangélico) Marco Feliciano (PSC/SP)
para a presidência da Comissão de Direitos Humanos e Minorias da Câmara
dos Deputados (CDHM) gerou uma onda de manifestações contrárias em
redes sociais, campanhas e passeatas de grupos organizados e ativistas dos
movimentos LGBT, em decorrência do fato de ter o deputado Marco Feliciano
expressado opiniões consideradas racistas e homofóbicas - além do mesmo
não ter um histórico de atuação na temática dos direitos humanos. A gestão do
deputado Marco Feliciano na CDHM foi marcada pela aprovação de propostas
de teor anti-homossexual. A primeira ação de enfrentamento pelo deputado foi
a votação do projeto conhecido como cura gay, que pretendia derrubar trechos
todos modos, lo que sí está claro es que la identidad reflexiva es más dinâmica,
abierta, flexible y expuesta a los avatares de un presente y, sobre todo, un
futuro bastante menos previsibles y que el individuo apenas puede controlar.”
(MARDONES, 1996, p. 127)
Serão apresentadas a seguir, algumas características do perfil dos assis-
tentes sociais participantes da pesquisa. Confirmando a tendência histórica da
profissão, a categoria de assistentes sociais é predominantemente feminina, con-
tando aqui com apenas 6,2% do sexo masculino. A faixa etária que prevalece
entre os assistentes sociais é até 30 anos e entre 41 e 50 anos, também sendo
significativa a de 31 a 40 anos. A maior parte dos assistentes sociais está con-
centrada na região Sudeste (56,25%). A maioria dos assistentes sociais acredita
em Deus e dentre os assistentes sociais que possuem uma religião (83,75%), foi
perguntado a qual religião pertencem, e verificou-se que a maioria dos assis-
tentes sociais é católica (69,23%), e em segundo lugar há um empate entre
evangélica e kardecista (12,30 % cada). Dentre os assistentes sociais que não
possuem religião (14 assistentes sociais), 11 possuem crença espiritual indepen-
dente de religião.
Vejamos a seguir, o posicionamento dos assistentes sociais em relação a
temas referidos à orientação sexual e identidade de gênero, conforme mostra a
tabela abaixo.
Considerações finais
Referências
ESTADÃO. Feliciano encerra gestão marcada por pauta antigays. São Paulo, dez
2013. Disponível em: <http://www.estadao.com.br/noticias/nacional,feliciano-encerra-
-gestao-marcada-por-pauta-antigays,1110182,0.htm> Acesso em 20 de mar 2014.
RORTY, R. Religion as a conversation stopper. In: Philosophy and social hope. Penguin
Books, 1999.
Resumo
Este trabalho se propõe a levantar algumas reflexões sobre o atual cenário polí-
tico brasileiro, principalmente a partir da rearticulação das direitas e do avanço
do conservadorismo cristão, junto à consolidação da supremacia de um projeto
político economicamente neoliberal e socialmente conservador. Dentro dessas
reflexões, serão analisados os (des)caminhos das políticas sexuais e os retro-
cessos que marcam o atual momento político, impulsionados pela militância
pró-vida e pró-família (leia-se antifeminista e anti-LGBT) de setores cristãos da
política nacional, notadamente dos movimentos evangélicos.
Palavras-chave: hegemonia, conservadorismo, políticas sexuais, política
nacional.
Introdução
Apesar disso, foram nesses últimos quinze anos que tivemos os maiores
avanços nas pautas LGBT, tanto no âmbito sociocultural, quanto na esfera esta-
tal. Os anos 2000, podem ser caracterizados como uma década de ascenso
das pautas LGBT nacionalmente, coincidindo com um cenário político relativa-
mente favorável, abrindo caminhos para o surgimento de uma cidadania LGBT
brasileira. O avanço das direitas vem se mostrando como o principal empecilho
para a consolidação de políticas sexuais no Brasil, principalmente pelo ascenso
do conservadorismo cristão no cenário nacional.
Como apresentado por Carlos Coutinho (2008), a supremacia de um grupo
social se exerce a partir de uma combinação entre dominação e hegemonia,
tendo como alicerce a direção político-ideológica e o consenso da sociedade a
partir dos aparelhos privados de hegemonia, junto à capacidade da burocracia
em exercer coerção por meio da repressão. O Estado e a sociedade civil são
campos inter-relacionados, em que o autor qualifica:
Essas duas esferas se distinguem, justificando assim que recebam
em Gramsci um tratamento relativamente autônomo, pela função
que exercem na organização social e, mais especificamente, na
articulação e reprodução das relações de poder. Em conjunto, as
duas esferas formam o Estado em sentido amplo, que é definido por
Gramsci como “sociedade política + sociedade civil, isto é, hege-
monia escudada de coerção”80. (...) No âmbito da “sociedade civil”,
as classes buscam exercer sua hegemonia, ou seja, buscam ganhar
aliados para os seus projetos através da direção e do consenso. Por
meio da “sociedade política” – que Gramsci chama, de modo mais
preciso, de “Estado em sentido estrito” ou de “Estado-coerção” –,
ao contrária, exerce-se sempre uma “ditadura”, ou, mais precisa-
mente, uma dominação fundada na coerção (p.54).
feministas e LGBT. Não é por acaso que nem uma única lei para a popula-
ção LGBT foi aprovada em nível federal no Brasil, e atualmente o cenário é
de retrocessos, com a tramitação de projetos que regulamentam a “família”
como a união entre um homem e uma mulher; que dificultam a realização dos
abortos legais e recrudescem a criminalização do aborto; que tentam anular a
aprovação do casamento homoafetivo pelo judiciário. Ao menos dois partidos
médios são hegemonizados por evangélicos: o Partido Republicano Brasileiro
(PRB), dirigido majoritariamente pela Igreja Universal do Reino de Deus, e o
Partido Social Cristão (PSC), pela Assembleia de Deus. Entretanto, a influência
protestante alcança quase todos os partidos brasileiros, sendo uma das maio-
res bancadas do Congresso Nacional e infelizmente a bancada mais à direita4,
aliando-se às chamadas bancadas da bala (indústria de armamentos e segu-
rança) e do boi (ruralistas) nas proposições legislativas mais reacionárias.
Nesse processo de derrubada do PT do governo, lideranças evangélicas
tiveram um papel protagonista, na qual podemos citar, como principal articu-
lador do impeachment, o ex-presidente da Câmara dos Deputados e afundado
em suspeitas de corrupção, Eduardo Cunha (PMDB/RJ), autor de dois projetos
legislativos polêmicos: a criminalização da “heterofobia” e a maior restrição
ao aborto legal. No atual governo Temer, temos a nomeação de dois ministros
evangélicos e a indicação de André Moura (PSC/SE) como líder do governo na
Câmara. O ascenso da bancada evangélica está diretamente vinculado com
a capacidade de articulação de seus aparelhos privados de hegemonia, con-
trolando jornais, rádios, rede de televisão (mais notadamente a Rede Record),
redes comunitárias, igrejas, entre outros. E é importante ressaltarmos: a mili-
tância conservadora de setores evangélicos na política não é um fenômeno
brasileiro, mas se faz presente em praticamente todo o continente americano
(VILLAZÓN, 2015).
A agenda da bancada evangélica se unifica, fundamentalmente, em torno
de sua militância pró-vida e pró-família, principal impedimento para a consoli-
dação de direitos sexuais e de avanços nas pautas dos movimentos feministas
Considerações finais
Referências
CALIL, Gilberto. Reflexões sobre a ascensão da direita. Blog JUNHO, 2016. Disponível
em: http://blogjunho.com.br/reflexoes-sobre-a-ascensao-da-direita/. Acesso em:
23/05/16.
KAYSEL, André. Regressando ao Regresso: elementos para uma genealogia das direi-
tas brasileiras. In CRUZ, S. V.; KAYSEL, A.; CODAS, G. (org.). Direita, volver!: o retorno
da direita e o ciclo político brasileiro. São Paulo: Editora Fundação Perseu Abramo,
2015.
RUBIN, Gayle. Thinking Sex: notes for a radical theory of the politics of sexuality. In
CAROLE, Carole V. (org.). Pleasure and danger: exploring female sexuality. Londres:
Routledge/Kegan Paul, 1984.
______________. Sexuality and its discontents: meanings, myths and modern sexu-
alities. New York: Routledge, 2002.
Resumo
Introdução
Educação e gênero
Considerações finais
Referências
HALL, Stuart. Quem precisa da identidade? In: SILVA, Tomaz Tadeu (org. e trad.).
Identidade e diferença: a perspectiva dos estudos culturais.. Petrópolis: Vozes, 2000.
p. 103-133.
Francis Sodré
Doutora em Saúde Coletiva, Universidade Federal do Espírito Santo.
francisodre@uol.com.br
Alexsandro Rodrigues
Doutor em Educação, Universidade Federal do Espírito Santo.
xela_alex@bol.com.br
Resumo
A partir de uma síntese de produções dos campos das Ciências Sociais, Humanas
e da Saúde, este artigo propõe duas notas sobre a seletividade no acesso à
saúde vivenciada pela população trans. Aponta-se que só é possível discutir a
saúde da população trans brasileira por que existe o SUS, nesse sentido, univer-
salizar o acesso à saúde para essa população pressupõe lutar pela efetivação
deste sistema público de saúde conciliado com os princípios e valores éticos
da Reforma Sanitária brasileira como universalidade, integralidade, equidade,
justiça social e participação popular.
Palavras-chave: Transexualidade, Travestilidades, Saúde, Corpo.
Introdução
Os trânsitos que as pessoas trans realizam nos gêneros a partir das mudan-
ças em seus corpos são interpelados por normas hegemônicas sobre gênero e
sexualidade presentes nas relações sociais. Segundo Froemming et al. (2010,
p.166 - 167):
A ordem social contemporânea se estrutura de forma que no
dualismo hétero/ homo, a heterossexualidade seja naturalizada e
compulsória. [...] A linha de inteligibilidade do humano é pensada
a partir do “corpo – gênero – sexualidade” e dos pólos masculino
e feminino, e na relação destes com seus opostos, dada assim tam-
bém a nossa capacidade de compreensão da existência do outro.
Os autores, em diálogo com Butler (2014, p.45) que diz que “a instituição
de uma heterossexualidade compulsória e naturalizada exige e regula o gênero
como uma relação binária em que o termo masculino diferencia-se do termo
feminino [...] por meio das práticas e do desejo sexual.”, afirmam que na socia-
bilidade atual, as construções no gênero devem seguir as categorias disponíveis
nas formas femininos x masculino, homem x mulher, restando aos que nes-
sas categorias não se enquadram a desumanização de suas vidas. Tais normas
compreendem os corpos e gêneros num sistema binário que “produz a ideia de
que o gênero reflete, espelha o sexo e que todas as outras esferas constitutivas
dos sujeitos estão amarradas a essa determinação inicial: a natureza constrói
as sexualidades e posiciona os corpos de acordo com as supostas disposições
naturais.” (BENTO, 2006, p.90).
Michel Foucault (2013) relata que o século XVIII foi marcado por uma
maior preocupação e cuidado com o sexo. O autor discorre sobre o surgimento
do que nomeou “dispositivo da sexualidade”, segundo qual passou a regular as
práticas sexuais a partir de diversas estratégias de administração populacional e
disciplinação dos corpos, produzindo uma sociedade de normalização, e valo-
rando o sexo com fins procriativos.
Em diálogo com Foucault (2013), Ferreira e Aguinsky (2013, p. 224) afir-
mam que “diferentes instituições ideológicas, tais como família, a medicina, o
sistema escolar, de justiça, de segurança, entre outros, constroem significados
sobre corpos e desejos”. Tais instituições colaboraram para a elaboração do
dispositivo da sexualidade e do gênero em sua forma binária conforme também
Considerações finais
que a luta pela garantia do direito à saúde a toda população trans brasileira não
pode se fazer desconectada da luta em defesa do SUS. É possível apontar tam-
bém como possibilidade de solução a essa problemática, a impressão, pelos
trabalhadores do SUS em seus processos de trabalho em saúde, dos valores
da Reforma Sanitária Brasileira, produzindo contra hegemonias no cotidiano
dos serviços, movimentos de resistência e rupturas com modelo biomédico de
atenção à saúde, modelo mercadológico, ante SUS, que fundamenta paradig-
mas como gênero binário, a heteronormatividade, e a saúde como ausência de
doença.
Referências
BRASIL. Ministério da Saúde. Carta dos Direitos dos Usuários da Saúde. Portaria N°
675/GM/2006. Diário Oficial da União. 31/03/2006.
LAQUEUR, T. Inventando o sexo: corpo e gênero dos gregos a Freud. Rio de Janeiro:
Relume Dumará, 2001.
Resumen
A manera de introducción
Palabras de cierre
Referencias
CRUZ, Yenny; SÁNCHEZ, Reyna; AZCUÑAGA, Karen. ¿Son aceptados los homo-
sexuales en su ambiente laboral? San Salvador: UCA, 1999. 54 p. Comunicación y
periodismo, Universidad Centroamericana “José Simeón Cañas”, San Salvador, 1999.
Resumo
A reflexão das práticas sexuais dos gregos era realizada através da dinâ-
mica entre estas três coisas. Ou seja, não importa se o desejo e o prazer vinham
através do ato sexual com pessoas do mesmo sexo ou não, mas se este conjunto
estava vinculado com aquilo que lhes era de maior valor: a qualidade da tem-
perança, ou se estava vinculado com aquilo que desprezavam: o excesso e o
exagero. O objeto sexual tinha apenas que ser belo e desejável, pouco impor-
tando o sexo. Para os gregos, existe em todos os homens um apetite sexual que
se satisfaz com pessoas que são belas, indiferente do sexo.
É claro que a prática sexual entre os gregos já era construída em cima de
dois extremos: o “ativo” e o “passivo” (embora não conhecidas exatamente com
estes nomes).
Em Esparta, cidade grega conhecida pelo seu enorme poder bélico e edu-
cação militar, a relação sexual livre era encorajada na formação do guerreiro e
era símbolo de força e virilidade.
Em Esparta, uma sociedade guerreira, os casais de amantes homens
eram incentivados como parte do treinamento e da disciplina militar.
Essas práticas dariam coesão às tropas. Em Tebas, colônia espar-
tana, existia o Pelotão Sagrado de Tebas, tropa de elite composta
unicamente de casais homossexuais. Eram extremamente ferozes,
pois lutavam com muita bravura para que nada acontecesse a seus
parceiros. Em campo de batalha eram quase imbatíveis. Assim,
podemos ver que a homossexualidade dos espartanos em nada
influenciava sua condição de homens e guerreiros (CORINO, 2006,
p. 20-21).
Referências bibliográficas
INTERSEXUALIDADE E A IMPOSIÇÃO DE
UM CORPO GENERIFICADO
Resumo
Introdução
A busca pela verdade dos corpos sexuados pode ser percebida nos cam-
pos médicos e psiquiátricos, os quais elaboram uma ideia de realidade fundada
em uma suposta natureza dos corpos/sexo/gênero/desejo. Apenas nos últimos
anos as ciências humanas começou produzir reflexões sobre os corpos e subje-
tividades intersexo, são essas reflexões entre campos discursivos que permitem
a elaboração e, consequentemente, ressignificação de classificações. Entende-se
que há uma série de campos de saber-poder que falam dos sujeitos intersexo,
mas, em muitos casos, era negada a fala e a experiência desses sujeitos.
1 Optamos a utilização do termo intersexo, pois essa dominação foi apropriada pelo ativismo inter-
sexo dos anos de 1990 que tinham como interesse o fim das cirurgias corretoras na infância, como
aponta Machado em seus textos.
Considerações finais
Referências
CABRAL, Mauro. & BENZUR, Gabriel. Cuando digo intersex. Um dialogo introduc-
torio a laintersexualidad. Cadernos Pagu(24), Núcleo de Estudos de Gênero – Pagu/
Unicamp, 2005.
FAUSTO-STERLING, Anne. Os cinco sexos: porque macho e fêmea não são o bas-
tante. Livremente traduzido por Alice Gabriel. Originalmente o texto aparece em The
Sciences March/April. 1993, p.20-24.
LAQUEUR, Thomas. Inventando o sexo: corpo e gênero dos gregos a Freud. Rio de
Janeiro: Relume Dumará, 2001.
MACHADO, Paula Sandrine. O sexo dos anjos: um olhar sobre a anatomia e a produ-
ção do sexo (como se fosse) natural. Cadernos Pagu (24), janeiro-junho de 2005, pp.
249-281.
SALIH, Sara. Judith Butler e a Teoria Queer. Tradução e notas: Guacira Lopes Louro. –
Belo Horizonte: Autêntica Editora, 2012.
Resumo
Introdução
ser mulher, visto que tal condição produz efeitos e divergências dentro de uma
estrutura racializada do gênero dentro do movimento feminista e suas ramifica-
ções. Partimos da inquietação enquanto autoras brancas e acadêmicas, com as
discussões sobre lugares de fala no feminismo como um todo e sobre como os
diálogos com o feminismo negro2 tensionam categorias que o feminismo branco
não vem discutindo, como é o caso da branquitude; ou que vem universali-
zando em suas produções teóricas e críticas, como é o caso da dimensão do
cuidado e os sentidos da maternidade. Tanto o debate sobre o cuidado quanto
sobre a maternidade e seus efeitos sobre a vida das mulheres (direitos sexuais
e reprodutivos, trabalhistas, invisibilidade social, divisão de tarefas domésticas,
etc) são temas que, ao serem pautados pelas feministas, levantam importantes
questões geracionais e relativas aos cursos da vida de mulheres. Propomos uma
reflexão sobre esses temas que discuta os atravessamentos raciais que se fazem
presentes nesse campo de debates.
Ao analisarmos o movimento feminista a partir de uma perspectiva his-
tórica, incontestavelmente, verificamos que sua contribuição – através de lutas
políticas e práticas de resistência – foi (e continua sendo) imprescindível na
conquista, garantia e legitimação de direitos para as mulheres. Por outro lado,
podemos afirmar que a historicidade desse movimento se consolidou através
de um discurso atravessado por uma visão eurocêntrica e universalizante sobre
as mulheres.
1 Entendemos por branquitude a racialização da pessoa branca através dos traços da identidade racial,
ou seja, considerar a branquitude como um marcador social do sujeito, que foi ao longo do tempo
se consolidando e se constituindo normativamente através da interlocução de privilégios históricos
e políticos, é imprescindível para que se entenda a posição sistemática desses sujeitos no que diz
respeito ao acesso a recursos materiais e simbólicos, gerados inicialmente pelo colonialismo e pelo
imperialismo, e que se mantêm e são preservados na contemporaneidade. Portanto, para se entender
a branquitude, é importante entendermos de que formas se constroem as estruturas de poder concre-
tas em que as desigualdades raciais se ancoram (BENTO, 2014; SCHUCMAN, 2014).
3 Que denominam este feminismo como sendo o “feminismo branco”, devido à invisibilidade confe-
rida às questões de raça dentro do movimento.
Considerações finais
Referências
Resumo
Através dos relatos, resta evidente que tanto as instituições como a própria
sociedade são coniventes e produtoras do abandono das mulheres, em especial
quando essas mulheres são diferenciadas por apresentar um comportamento
tido por desviante. Segundo Becker (2008, p. 18-20), uma das concepções mais
comuns de desvio é a que “o identifica como algo essencialmente patológico,
revelando a presença de uma doença”, sendo que esta noção de patologia
incita discordâncias quando é o comportamento que é descrito como desviante
ou não. A concepção de desvio pode também ser apenas estatística, que iden-
tifica o desviante como aquele que diverge excessivamente à média, estando
esta concepção muito longe da “preocupação com a violação de regras que
inspira o estudo científico dos outsiders”.
Há ainda a concepção funcional de desvio, que considera as funções ou
metas de um grupo e aquilo que ajudará ou atrapalhará sua realização. Para o
autor, essa concepção ignora o aspecto político do fenômeno, limitando a com-
preensão. Mas a principal concepção de desvio é a sociológica, a partir da qual
o desvio ou o desviante são conhecidos pelas regras socialmente impostas e
pela reação social à figura de quem se tornou um desviante. E aqui, entendendo
que o desvio e o desviante são produtos dessas regras e dessa reação social,
devemos nos concentrar atentamente a um estudo sociológico e criminológico
da Sociedade e das Instituições, em especial daquelas reguladoras, objeto de
análise neste artigo (BECKER, 2008, p. 20-21).
O pensamento de Becker suscita questões fundamentais acerca do que
é o desvio e quem é o desviante, possibilitando uma melhor compreensão do
que faz de um ser um indivíduo desviante. Pela sua análise, conclui-se que o
Referências bibliográficas
QUEIROZ, Nana. Presos que menstruam. Rio de Janeiro: Record, 2015, 1a ed.
Resumo
Introdução
A heteronormatividade no SINTUFRJ
orientação sexual dos servidores gays: “Jesus ama o pecador, mas não o pecado
dessa gente”. Observa-se, neste exemplo, a colocação da homossexualidade
como abjeção, espaço no qual a coletividade insere aqueles classificados como
ameaças ao bom funcionamento e à ordem social (MISKOLCI, 2016, p.23), inclu-
sive a sindical. Muitos membros do SINTUFRJ mostraram desconhecimento ou
mesmo desprezo em relação às discussões conduzidas pelo GT-LGBT. Ainda
que integrantes do próprio GT recusem valores morais violentos que instituem a
linha de abjeção, eles manifestam a dificuldade de mobilização de outros sindi-
calistas para as discussões do GT, o que justifica a irregularidade na realização
das reuniões e o baixo quórum nos encontros. Muitos temem a ameaça cons-
tante de retaliações e violências pelos próprios membros do sindicato, grande
parte criada e residente em comunidades mais humildes do Rio de Janeiro,
marcadas por valores patriarcais. Por conta disso, muitos membros LGBT do
sindicato adotavam comportamentos heterossexuais tidos como discretos ou
mesmo não revelavam sua orientação sexual no ambiente de trabalho na UFRJ
ou para “companheiros” do próprio sindicato.
Considerações finais
Referências
Raquel Quirino
Pós-Doutora em Educação.
Centro Federal de Educação Tecnológica de Minas Gerais - CEFET-MG.
Departamento de Educação
Programa de Pós-Graduação em Educação Tecnológica
quirinoraquel@hotmail.com
Resumo
1. Introdução
o (a) trabalhador (a) como um ser que pensa e age, não apenas como mero
executor e extensão da máquina (VIEIRA et al., 2008).
A partir dos relatos dos entrevistados por Quirino (2011) há que se refletir
até que ponto preocupações de natureza ergonômica se fazem presentes nas
políticas de contratação de mulheres pelas empresas. Constata-se que apesar
de os entrevistados afirmarem que não existe impedimento para contratação
de mulheres, a autora adverte que devido a inadequação dos espaços físi-
cos tornou-se um hábito contratar apenas homens para as áreas operacionais
(QUIRINO, 2011, p.75). O que, certamente, compromete a inserção das mulhe-
res nesse setor produtivo.
Resende (2012, p.22), discute a inserção de mulheres nos canteiros de obras
da Construção Civil. Segundo a Norma Regulamentadora 18, referente às condi-
ções e meio ambiente de trabalho na indústria da Construção Civil, canteiro de
obra é definido como “área de trabalho fixa e temporária, onde se desenvolvem
operações de apoio e execução de uma obra”. A autora questiona as entrevista-
das sobre como é trabalhar no canteiro de obras na Construção Civil:
“Facilidades tipo assim, a mulher ela é mais detalhista, entendeu?
Então a gente para fazer um esquadro, para puxar um ponto de
nível, a gente olha mais detalhe a gente faz a coisa mais bem feiti-
nha, entendeu? Agora a dificuldade é a questão de peso, entendeu,
porque você não pode escolher trabalho, entendeu? Hoje, você tá
aqui tirando um pontinho, mas está chapando uma massa, enten-
deu? A dificuldade é o peso.” (Pedreira)
“O ponto fraco, você pega muito peso. É cansativo, né? É muito
estressante. O ponto positivo, assim, é que você entra no mer-
cado... mulher pedreira, gente é uma coisa do outro mundo. Você
aprende coisas que você jamais sonharia em aprender, entendeu?
O difícil mesmo é o peso. É mais pesado, entendeu?” (Servente)
4. Considerações finais
Referências
HIRATA, Helena. KERGOAT, Daniele. A Classe Operária tem dois Sexos. Estudos
Feministas. v.2, n. 3, p.93-100,1994.
Raquel Quirino2
Pós-Doutora em Educação.
Centro Federal de Educação Tecnológica de Minas Gerais - CEFET-MG.
Departamento de Educação
Programa de Pós-Graduação em Educação Tecnológica
quirinoraquel@hotmail.com
Resumo
1 Introdução
as, ao estudarem a inserção das mulheres nas áreas tecnológicas e nas enge-
nharias afirmam que a tecnologia ainda é conjugada no masculino. No entanto,
tais pesquisas constatam que é crescente o número de mulheres que ingressam
nessas áreas majoritariamente masculinas.
Segundo a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios – PNAD, nas
profissões da Ciência e Tecnologia, profissionais e técnicos do sexo masculino
representam 81,5% do total, sendo que, no nível técnico a discrepância é ainda
maior, 89% são homens e apenas 11% são mulheres. (BRASIL, 2010).
Tais escolhas das mulheres, consequentemente, resultam em menor remu-
neração, menor ascensão social e perpetuam o entendimento do senso comum
de que Ciência e Tecnologia “não é coisa para mulher”.
Entre as profissões menos procuradas pelas mulheres estão aquelas das
áreas da engenharia. No Brasil, até 2002, por exemplo, apenas 14% dos empre-
gos formais nessa área eram ocupados por mulheres, ao passo que nas áreas de
saúde, tais como odontologia, 51% eram ocupados por elas. (OLINTO, 2009).
85% do mercado, enquanto que neste último ano são 81%. Todavia, as mulhe-
res correspondiam a 15% em 2004, passando a representar 19% em 2014.
Portanto, tem sido expressivo o crescimento da mulher no mercado de trabalho
da Engenharia.
No período pesquisado o aumento das matrículas femininas nos cursos de
engenharia foi de 84%, em comparação ao masculino. Esses números permitem
inferir que está havendo um movimento em que a engenharia está lentamente
sendo incluída nas escolhas profissionais das mulheres.
Um exemplo que indica a inclusão da engenharia no rol de possibilidades
profissionais das mulheres vem da Escola Politécnica da USP. No espaço de
quarenta anos, entre 1950 e 1980 formaram-se 536 engenheiras e somente na
década de 1990, formaram-se 764. Ou seja, em dez anos, formaram-se 30%
a mais engenheiras que nas quatro décadas anteriores (FACCIOTTI; SAMARA,
2004).
Considerações finais
Referências
BILY, Sherry & MANOOCHECRI, Gus. Breaking the glass ceiling. American Business
Review, v. 13, n. 2, p. 33-40, 1995.
LIMA, Betina Stefanello. In: O labirinto de cristal: as trajetórias das cientistas na Física.
Estudos Feministas: Florianópolis, setembro-dezembro, 2013.
POWELL, Gary & BUTTERFIELD, D. Anthony. Investigation the glass ceiling phe-
nomenon: an empirical study of actual promotions to top management. Academy of
Management Journal, v.37, n.1, p. 68-86, 1994.
SILVA TELLES, Pedro Carlos. História da engenharia no Brasil- séculos XVI a XIX. Rio
de Janeiro, Livros Técnicos e Científicos. Editora S/A, volume 1, 1984.
Resumo
Introdução
Apontamentos situados
João faz parte do grupo dos sujeitos mais atingidos pelo HIV nessa quarta
década de existência do vírus, segundo os dados da UNAIDS2. Jovem e gay, João
vive em um interior da Amazônia Oriental, onde sua sorologia é desconhecida.
Diagnosticado aos 18 anos, aos 19 João aceitou participar da pesquisa iniciada
em agosto de 2015. É com base em anotações de campo e trechos de duas
entrevistas realizadas de agosto de 2015 a agosto de 2016, que apontarei alguns
entendimentos orientadores de como João tem performado sua subjetividade.
José: “e... bom, como a gente vai conversando algum tempo, e....
desde agosto, né, julho né. E... eu queria que tu me falasses um
pouco e... antes dessas relações sexuais, como era essa coisa e...
essa ideia de Aids, HIV, o que era isso pra ti?”
2 Site oficial da Unaids: Disponível em: http://www.unaids.org.br/ Acessos em 10, 19, 22 de agosto de
2015.
Referências
BUTLER, Judith. Gender Trouble: feminism and the subversion of identity. New York:
Routledge, 1990.
_____. O sujeito e o poder. In: DREFUS, H. & RABINOW, P. Michel Foucault: uma
trajetória Filosófica. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 2010,
MOITA LOPES, L. P. Por uma Linguística Aplicada Indisciplinar. Parábola Editorial: São
Paulo, 2006.
WORTHAM, S. Narrative in action: a strategy for research and analysis. New York:
Teachers’ College Press, 2001.
Resumo
Introdução
Este texto parte de uma reflexão feita por Adrian Forty em seu livro
Objetos de Desejo, especificamente no capítulo em que aborda a diferencia-
ção nos produtos industriais. Forty sustenta que certas divisões do âmbito social
podem também ser encontradas nos objetos, uma vez que não se pode separar
o produto das condições em que ele foi configurado e do sujeito que realiza
esse processo (FORTY, 2013, p. 12). Nesta abordagem, o design é entendido
como um produtor de mitos1 e de imaginário, materializando diferenças já exis-
tentes na sociedade como aquelas entre homens e mulheres, crianças e adultos,
patrões e empregados e entre classes sociais. Ao observar a variedade dos pro-
dutos oferecidos no mercado, podemos perceber como se dão as diferenças
na sociedade, pois vemos de que forma esta sociedade é percebida pela indús-
tria. Ou seja, tal qual ocorre com outros modos de representação, “conhecer
a amplitude dos diferentes designs era conhecer uma imagem da sociedade”
(FORTY, 2013, p.128). É importante ressaltar aqui que me aproximo da articu-
lação feita por Forty, em que o designer não é posto como agente causador
da diferença, nem mesmo o sujeito com a intenção por trás da profusão de
produtos diferentes. O objetivo do design – talvez o maior – é a obtenção de
lucro para o fabricante e a indústria capitalista se aproveita do desejo de indi-
vidualidade presente na sociedade para multiplicar suas possibilidades de lucro
(FORTY, 2013, p. 119-124).
Em História da Sexualidade I (2015), Foucault critica a hipótese de que o
poder manifesta seu controle de forma proibitiva, reprimindo e silenciando o
discurso sobre o sexo. Ao invés disso, defende uma dimensão produtora dos
mecanismos de poder, que regulam a sexualidade através de técnicas discursi-
vas e se apoiam n a produção do saber. Dessa forma, para além de censurar-se
as falas sobre o sexo, as formas modernas do poder agem na (re)produção
1 Forty mobiliza o conceito exposto por Barthes em Mitologias, em que objetos, textos, imagens e
outras “coisas aparentemente familiares exprimem todos os tipos de ideias sobre o mundo” (FORTY,
2013, p. 15). O senso comum tende a naturalizar certos conceitos e ideais frente a todas as manifes-
tações da realidade que, embora não deixem de fazer parte do contexto em que vivemos, é constru-
ída historicamente. Estes ideais e conceitos nos quais nos baseamos para reagir e interpretar tudo à
nossa volta são construídos por mitos que exprimem significados. O conceito “é simultaneamente,
histórico e intencional; é móbil que faz proferir o mito” (BARTHES, 1975 p. 140).
recebesse calor. O inverso, porém, não era possível, uma vez que também
era afirmado que a natureza ia sempre em direção à perfeição. Justamente na
época em que começam a ocorrer lutas políticas por uma mudança no papel
da mulher, o movimento da ciência é justamente de separar cada segmento
do corpo entre masculino e feminino, tornando a fisiologia completamente
distinta de acordo com o sexo. A anatomia do corpo feminino começa a ser
utilizada como recurso para justificar sua inferioridade, relegando às mulheres
apenas o papel da maternidade e excluindo-as da vida pública (NUCCI apud
SCHIEBINGER, 2010).
Considerações finais
uma visão de maior diversidade de gênero. Tal atitude é tomada como uma via
de projetar a ideia de que a marca é consciente da necessidade de diversidade
sexual, e explorar um mercado que valoriza esta forma de pensar. Podemos
citar como exemplos marcas como a Zara, que lançou a coleção Ungendered
e a C&A, que em uma de suas recentes campanhas publicitárias apresentou
homens e mulheres que trocavam as roupas entre eles. Porém, esta tendência
pode ser problematizada, uma vez que ao olharmos as peças disponíveis nas
coleções, percebemos que ainda há resistência em apresentar uma estética que
fuja daquilo que é considerado básico e aplicável ao masculino: é bastante difícil,
por exemplo, encontrar nessas campanhas homens usando saias. O vestuário
“agênero”, embora apresente-se como sendo a favor da diversidade, é também
produzido dentro de um contexto de sociedade patriarcal e heteronormativa.
Referências
BUTLER, Judith. Corpos que pesam: sobre os limites discursivos do “sexo”. Tradução:
Tomaz Tadeu da Silva. In: LOURO, Guacira Lopes (Org.). O corpo educado: pedago-
gias da sexualidade. Belo Horizonte: Autêntica, 2000.
____________. Masculino, feminino ou neutro? In: Arte & Ensaios, Escola de Belas
Artes, UFRJ. Rio de Janeiro, 2008. p. 134-143. Disponível em: < http://www.ppgav.
eba.ufrj.br/wp-content/uploads/2012/01/ae16_Adrian_Forty.pdf> Acesso em: 25 ago.
2015.
Resumo
Introdução
Psicólogos cristãos
1 Fonte: http://site.cfp.org.br/leis_e_normas/cbo-catalogo-brasileiro-de-ocupacoes/
2 Em 2012, o Conselho Regional de Psicologia de Minas Gerais (CRP-MG) notificou oficialmente a
Diretoria Nacional do Corpo dos Psicólogos e Psiquiatras Cristãos (CPPC), que a entidade deveria
retirar do seu site a associação entre os termos “psicólogo” e “cristão” e “psicologia cristã”. Em co-
municado aos membros da entidade, Karl Kepler, presidente do CPPC, informa que respondeu ao
CRP-MG, argumentando que “psicologia cristã” se encontra no site apenas em uma menção crítica
e que o Conselho não tem competência para controlar associações civis, dessa forma não acatou a
notificação (DEGANI-CARNEIRO, 2013, p. 65).
Controvérsias atuais
Considerações finais
Referências
CONRAD, Peter. Continuity: homosexuality and the potential for remedicalization. In:
CONRAD, Peter. The medicalization of society: on the transformation of human con-
ditions into treatable disorders. Baltimore: The John Hopkins University Press, 2007.
Cap. 05. p. 97-113.
FRY, Peter; MACRAE, Edward. O que é homossexualidade. 2. ed. São Paulo: Brasiliense,
1983. 126 p. (Coleção Primeiros Passos).
KUTCHINS, Herb; KIRK, Stuart A. The fall and rise of homosexuality. In: KUTCHINS,
Herb; KIRK, Stuart A. Making us crazy: DSM - the psychiatric bible and the creation
of mental disorders. Nova Iorque: The Free Press, 1997. p. 55-99.
Resumo
Nos últimos anos, vem ocorrendo uma série de embates entre defensores dos
direitos LGBT e ativistas dos movimentos religiosos - especialmente as lide-
ranças de denominações evangélicas. Utilizando a retórica da liberdade de
expressão, esses segmentos religiosos desqualificam e combatem a diversidade
sexual, adentrando a arena política através de seus representantes no Congresso
Nacional, que se articulam compondo frentes parlamentares e interferindo na
agenda do movimento LGBT. Este trabalho propõe examinar as particularida-
des do enfrentamento do movimento LGBT com os segmentos evangélicos, a
partir de episódios recentes envolvendo parlamentares da Frente Parlamentar
Evangélica, que tiveram repercussão na mídia e geraram controvérsias.
Palavras-chave: homofobia religiosa; arena política; produção de políticas para
população LGBT; Frente Parlamentar Evangélica; movimento LGBT.
Introdução
1 João Mascarenhas foi o primeiro representante do MHB a se apresentar no Congresso Nacional, ante
duas Subcomissões da Constituinte. (CÂMARA, 2015)
pelo deputado foi a votação do projeto conhecido como cura gay2, que pre-
tendia derrubar trechos de uma resolução do Conselho Federal de Psicologia,
que estabelece normas para os psicólogos em relação à questão da orientação
sexual, vedando a atuação dos mesmos em eventos e serviços que proponham
tratamento e cura da homossexualidade. Foi realizada uma audiência pública
proposta pelo Deputado Feliciano, para discutir o ‘direito de deixar a homos-
sexualidade’, e na ocasião, palestraram a psicóloga Marisa Lobo, e o pastor
evangélico Silas Malafaia defensores do referido PDC. As narrativas de defesa
construídas pelos mesmos têm o sentido de legitimar o discurso religioso na
arena política, a partir da apropriação (sem um rigor científico) de conhecimen-
tos do campo da psicologia, psicanálise, genética, etc, ocorrendo um processo
de transfiguração desse discurso puramente religioso, que ganha contornos
seculares (RORTY, 1996).
O que se pretende ressaltar é o fato de tais discursos e práticas, deriva-
dos de certas interpretações teológicas e exegeses bíblicas particulares, não se
limitarem aos templos religiosos, programas de rádio e televisão, mas adentra-
rem a arena política através dos parlamentares evangélicos que representam
essas denominações religiosas, ferindo os princípios constitucionais da laicidade
estatal. Zylbersztajn (2012) sustenta que a laicidade do Estado brasileiro não é
plena, e que o processo de consolidação da laicidade é histórico e construído,
tal como ocorre com os demais direitos fundamentais. De acordo com Pierucci
(2008), pessoas livres (re) querem Estados laicos. O autor refere-se enfatica-
mente à secularização do Estado com seu ordenamento jurídico, e menos à
secularização da vida, considerando que esta pode refluir, mas a do Estado não.
Considerações finais
Como afirmaram Mello et. all (2014, p. 315), “nunca se teve tanto, e o que
há é praticamente nada”, referindo-se ao paradoxo sobre as políticas públicas
para a população LGBT no Brasil.
2 Trata-se do Projeto de Decreto Constitucional (PDC 234/11), apresentado pelo deputado federal João
Campos (PSDB-GO), que havia sido arquivado a pedido de seu próprio proponente, devido, entre
outras razões, a pressões internas do seu próprio partido.
Referências
ESTADÃO. Projeto que criminaliza a homofobia será arquivado no Senado. São Paulo,
jan. 2015. Disponível em http://brasil.estadao.com.br/noticias/geral,projeto-que-crimi-
naliza-homofobia-sera-arquivado-no-senado,1617260. Acesso em 05 jun 2016.
MELLO, L. et al.. Políticas públicas para a população LGBT no Brasil: notas sobre
alcances e possibilidades. Cadernos Pagu (39), julho-dezembro de 2012.
NATIVIDADE, M. & LOPES, P. V. L..O direito das pessoas GLBT e as respostas religio-
sas: da parceria civil à criminalização da homofobia. In DUARTE et al.(orgs). Valores
Religiosos e Legislação no Brasil. A tramitação de projetos de lei sobre temas morais
controversos. Garamond, Rio de Janeiro, 2009.
RORTY, R. Religion as a conversation stopper. In: Philosophy and social hope. Penguin Books, 1999.
UOL Educação. Não aceito propaganda de opções sexuais. Da Redação, São Paulo,
mai, 2011. Disponível. em <http://educacao.uol.com.br/noticias/2011/05/26/nao-a-
ceito-propaganda-de-opcoes-sexuais-afirma-dilma-sobre-kit-anti-homofobia.htm>
Acesso em 20 mar 2014.
Resumo
Este trabalho tem como objetivo realizar uma análise sobre a ideologia de
gênero como estratégia discursiva de disputa política, sendo uma proposição
conservadora, em termos de políticas sexuais, e de oposição às políticas impul-
sionadas pelos movimentos LGBT e feministas. Para a construção dessa análise,
foi realizado um amplo levantamento bibliográfico e documental, possibilitando
a esquematização de uma genealogia desse conceito, assim como a sinteti-
zação de seus principais desencadeamentos políticos. É importante ressaltar
que essa análise se faz vinculada a uma leitura panorâmica do cenário político
nacional, compreendido como marcado pela reorganização e eventual avanço
do conservadorismo e das direitas políticas.
Palavras-chave: ideologia de gênero, conservadorismo, políticas sexuais,
democracia
Introdução
1 Como a nota da Regional Sul 1 da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) considera a
aprovação da “ideologia de gênero” em Planos Municipais de Educação (SCHERER; SILVA; SCARA-
MUSSA, 2015).
2 Trecho da nota escrita pelo Cardeal Orani João Tempesta (2015), Arcebispo Metropolitano do Rio de
Janeiro.
4 Há traduções desse texto para o português, como em: http://goo.gl/jbldEQ. O texto também circula
de forma equivocada, sobre o nome “A ideologia de gênero: seus perigos e alcances” e com autoria
da “Conferência Episcopal Peruana (http://goo.gl/iHSfpp).
5 A Universidade de Navarra é vinculada à Opus Dei, uma corrente da Igreja Católica. Lembrando que
em dezembro de 2008, o Papa Benedicto XVI apontava os perigos da palavra “gênero”, em discurso
para a Cúria Romana.
Rousseff (PT) do cargo – além de uma crise econômica nacional, agravada pelo
cenário de crise internacional. No Brasil, a ofensiva da ideologia de gênero
tomou proporções aterradoras, com a realização de manifestações populares
conservadoras em diversas câmaras de vereadores e assembleias legislativas
para a aprovação de leis contrárias à “ideologia de gênero”. Apesar da oposi-
ção dos movimentos feministas e LGBT em muitas dessas sessões legislativas,
o cenário geral foi de retrocesso nas políticas sexuais, seja pela retirada da
menção à “gênero” e “orientação sexual” dos projetos legislativos, ou pela apro-
vação de leis assumidamente repressoras. O momento mais marcante se deu
com os protestos pela retirada da “ideologia de gênero” dos Planos Municipais
e Estaduais de Educação, que lotaram as casas legislativas em todo o país, no
ano de 20158.
Logo no início do primeiro mandato de Dilma (2011-2014) tivemos o pri-
meiro levante conservador contra uma política LGBT, por meio de campanhas
nas redes virtuais e denúncias nas casas legislativas, desencadeando o cance-
lamento da distribuição dos materiais do Escola Sem Homofobia, fazendo o
Governo Federal recuar a ponto de dizer que “não faz propaganda de opções
sexuais”. Em seguida, em 2013, o pastor ultraconservador, Deputado Federal
Marco Feliciano (PSC/SP), vinculado a Assembleia de Deus, assume a presidên-
cia da Comissão de Direitos Humanos e Minorias (CDHM), desencadeando uma
onda de protestos em todo o país, produzindo sérios atritos entre o Governo
Federal e sua base política evangélica. Naquele momento não havia ideologia
de gênero, entretanto o acirramento do antagonismo entre as lideranças cristãs,
principalmente conservadoras, e o campo político à esquerda já era um dado9.
O conservadorismo cristão, fortemente alinhado com o liberalismo econô-
mico, se tornou um dos alicerces do processo de impeachment da presidenta,
visto para a direta política como um símbolo da derrocada das políticas de
esquerda: do “marxismo cultural”, da “ideologia de gênero”, da “ditadura gay”,
da “doutrinação comunista”. Como apresenta Flávia Biroli (2015), o avanço da
ideologia de gênero em nossa sociedade, em sua essência, é uma ameaça à
8 Ao menos dez Estados retiraram a “ideologia de gênero” dos Planos Estaduais de Educação (PEE), e
um número muito maior de munícipios fizeram o mesmo em seus planos municipais (PME).
9 Algumas figuras emblemáticas do conservadorismo cristão eram antes da base política de sustenta-
ção do Governo do PT, como Marco Feliciano (PSC/SP) e Eduardo Cunha (PMDB/RJ).
Conclusão
Referências
CRETELLA, Michelle A.; METER, Quentin V.; MCHUGH, Paul. Gender Ideology
Harms Children. American College of Pediatricians, 2016. Disponível em: https://
www.acpeds.org/the-college-speaks/position-statements/gender-ideology-harms-chil-
dren. Acesso em: 18/06/16.
CRUZ, Sebastião V.; KAYSEL, André; CODAS, Gustavo (org.). Direita, volver!: o
retorno da direita e o ciclo político brasileiro. São Paulo: Editora Fundação Perseu
Abramo, 2015.
LA MANIF POUR TOUS. L’idéologie du genre. La Manif Pour Tous, 2013. Disponível
em: http://www.lamanifpourtous.fr/images/pdf/LMPT-L-ideologie-du-genre.pdf.
Acesso em: 17/06/16.
O’LEARY, Dale. LGBTQIA: the expanding gender agenda. Life Site News, 2013.
Disponível em: https://www.lifesitenews.com/opinion/lgbtqia-the-expanding-gender-
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RUBIN, Gayle. Thinking Sex: notes for a radical theory of the politics of sexuality. In.
VANCE, Carole S. (org.). Pleasure and danger: esploring female sexuality. Londres:
Routledge and Kegan Paul, 1984, p. 267-319.
SCHERER, Odilio P.; SILVA, Moacir; SCARAMUSSA, Tarcisio. Nota da Regional Sul
1 sobre “Ideologia de Gênero” no Educação. Rede Século 21, 2015. Disponível em:
https://www.rs21.com.br/espiritualidade/ecclesia/23062015-a-ideologia-do-genero/.
Acesso em: 18/06/16.
WEEKS, Jeffrey. Sexual Citizen. Theory, Culture & Society, v. 15, n. 3, 1998, p. 35-52.
_____________ . Sexuality and its discontents: meanings, myths and modern sexua-
lities. New York: Routledge, 2002.
Resumo
Introdução
1 Sigla para designar lésbicas, gays, bissexuais, travestis, transexuais e intersexos. Sobre essa discussão,
Júlio Assis Simões e Regina Facchini fazem uma abordagem histórica em Na trilha do arco-íris: do
movimento homossexual ao LGBT (2008).
esses lados opostos de uma luta que mostra as contradições do sistema capi-
talista, bem como a insegurança política em torno da crise representativa de
nossa democracia.
Ressurgem, no meio dessas crises, questões bem mais antigas, sobretudo,
no campo da sexualidade. Setores reacionários e conservadores se levantam
contra a agenda de lutas dos movimentos sociais, especialmente, contra os direi-
tos sexuais das pessoas LGBTI, os direitos trabalhistas, em favor da privatização
e do sucateamento da educação púbica, e surgem manobras políticas (inclusive
dentro de partidos intitulados de “esquerda”), tentando aprovar projetos de lei e
ementas, no intuito de impor uma agenda de retrocessos para o país. Contudo,
não se pode olhar a contingencialidade desses fenômenos de maneira isolada,
sectária ou criticá-las, desconsiderando sua historicidade.
Se formos a fundo, verificaremos que as justificativas dadas por aqueles
que são contrários à concessão de direitos sexuais às pessoas LGBTI são frágeis,
quando não, inconsistentes. Há aqueles que se apoiam na tradição, dizendo
que determinadas escolhas não são compatíveis com os princípios da família
tradicional, da religião e da moral vigente. Mas, como se sabe, tanto a religião
e a moralidade, quanto a família, são construções sociais que foram se corpo-
rificando, e compete, portanto, àqueles que se engajam nessas lutas, o papel
de desnaturalização desses elementos, pois todos eles são socialmente datados
e geograficamente localizados sob um determinado regime de verdades em
dadas relações de poder.
Diante disso e dos ataques que as liberdades individuais vêm sofrendo, se
faz necessário propor ações que, articuladas por meio de táticas e estratégias
políticas, reivindiquem não só o direito de exercer a própria liberdade indivi-
dual, mas sobretudo, que o pleno exercício dessa liberdade consiga acumular
forças e fazer alianças na luta por reconhecimento. Não apenas a participação
direta nos direitos de distribuição, mas, sobretudo, exigir a participação e usu-
fruto dos direitos de reconhecimento.
É importante, antes de mais nada, dizer em que consiste os direitos de
distribuição e os direitos de reconhecimento, até mesmo para melhor compre-
ender as motivações daqueles que os reivindicam. A partir da distinção feita
pela filósofa Nancy Fraser (1947-) em relação a esses direitos, José Reinaldo
de Lima Lopes (2005, p.72) afirma que “os direitos de distribuição são tradi-
cionalmente chamados direitos sociais e têm uma função especial: desfazer
Considerações finais
Referências
Resumo
Introdução
O GDSR se apresenta como uma das várias ações educativas que devem
e podem ser realizadas pelos profissionais que atuam na APS. Nas atividades
em grupo, os sujeitos se mostram como participantes ativos no processo, pos-
sibilitando a construção do conhecimento a partir das experiências do saber
popular em articulação com o saber científico, proporcionando uma dialogici-
dade entre os atores envolvidos (FREIRE, 2004). Assim, é possível que a pessoa
reconheça suas necessidades e compartilhe suas dúvidas de forma a possibilitar
uma articulação com as discussões sobre sexualidade, diversidade de gênero,
reprodução, contracepção e relações sociais (BRASIL, 2013).
A ação de educação em saúde tem o intuito de sensibilizar a comunidade
sobre a igualdade entre os sexos; sobre o conhecimento do corpo humano;
Saúde, mas que ocorra também em ambientes sociais e de uso coletivo, como:
escolas, praças, quadras entre outros.
Considerações finais
Referências
BRASIL. Ministério da Saúde. Carta dos direitos dos usuários da saúde / Ministério da
Saúde. – 3. ed. – Brasília : Ministério da Saúde, 2011. 28 p. : il. – (Série E. Legislação
de Saúde)
Resumo
Introdução
2 JARSCHE. Haidi l. A versão mítica da mulher como origem do mal (sofrimento), do conhecimento e
do pecado é o cerne da tradição patriarcal. Se tiramos a serpente, a árvore e a mulher da cena, não
teremos pecado, nem inferno, nem castigo eterno e nem necessidade de salvador! (1994, p. 34)
3 HUNT, Mary. Creio que o corpo é um instrumento de conhecimento a partir do momento em que
ele se torna um mecanismo para conhecer o mundo que nos cerca. Ter um corpo bonito, perfeito, é
diferente de ter um corpo deficiente ou enfermo, porque temos que superar nossas limitações para
compreendermos o lugar de nosso corpo no mundo. Assim, também, quando nosso corpo enve-
lhece, nossa relação com o mundo vai se transformando, pois novos limites nos são colocados. O
corpo, secularmente manipulado, é o primeiro lugar de opressão das mulheres. Pode-se dizer que
ele é o locus no qual o patriarcado é encenado. (2007, p. 49)
4 HUNT, Mary. Desde que Eva foi culpabilizada pelo mal da humanidade, nosso pecado está impresso
em nossa alma e o nosso corpo é o reflexo desse pecado, por isso sempre sedutor, tentador. Significa-
tivamente, aquilo que deveria ser qualidade do ser humano (sedução) é visto ao reverso, como sinal
de inferioridade e maldição. (2007, p. 50)
6 CARNEIRO, Fernanda. As proibições doutrinárias acerca deste ato revelam atitudes de poder tem-
poral, motivadas por uma subjetividade construí da com valores que subordinam a mulher e não a
respeitam como ser autônomo e maduro e que impregnam as estruturas de poder das igrejas. (1994,
p. 11)
que na subjetividade de cada sujeito estão os interesses de como vive lá, mas
cabe ressaltar que a politização e a empatia para o que acontece cotidiana-
mente às mulheres são relevantes à ética humana. O principio da vida pública,
dos interesses públicos, das obrigações do Estado de direito, do reconheci-
mento da dignidade7 e tudo que é pertinente/processual/sintomático às relações
de gênero no sistema do patriarcado. Há em comum,
[...] à idéia de que vivemos em um mundo violento. Confere-se
à violência um certo status ontológico, como se fosse universal e
essencial à dinâmica social. Ela, a violência, deixa o acanhado lugar
de adjetivo para se transformar em um destacado substantivo. É
“senso comum” que a violência é parte integrante da sociedade.
Senso comum, como se isso fosse um dado natural. Mas o senso
comum é ele mesmo um dado cultural. (SOUZA, Sandra Duarte,
2007, p. 15)
7 CARNEIRO, Fernanda. É a vitalidade de uma mulher, como direito originário de existência digna,
que se afirma no exercício de sua liberdade. E liberdade, aqui, é a capacidade de incluir-se no do-
mínio da história e fazer escolhas imersas no meio ambiente concreto, cotidiano, íntimo, pessoal.
Trata-se de um ato pessoal, sem nenhum efeito danoso sobre a humanidade, a não ser se realizado
nas condições atuais de negligência) indiferença, desamor e ausência de solidariedade. Aí, sim, um
desastre ecológico indefensável e que atinge somente as mulheres em sua saúde e dignidade. (1994,
p. 10)
Feminismo
Considerações Finais
Referências
BOFF, Leonardo. A porção feminina de Jesus. Mandrágora. Vol. 20, No 20. 2014. p.
129-145
HUNT, Mary. O direito humano à justiça reprodutiva: uma perspectiva feminista teo-
-ética. Mandrágora. Vol. 13, No 13. 2007. p. 39-44
TOMITA. Luiza E. Da exclusão a objeto de prazer: o corpo das mulheres oferece notas
para uma reflexão teológica feminista. Mandrágora. Vol. 13, No 13. 2007. p. 45-51
Daniela Auad
Pós-doutora em Sociologia (UNICAMP)
UFJF-Faced
auad.daniela@gmail.com
Resumo
Introdução
Vemos que, entre as referências bibliográficas que mais aparecem nos tra-
balhos de gênero, em 2015, do total de 23 autoras/es, 14 são mulheres e 9 são
homens. Em cinco trabalhos aparece apenas uma autora, Judith Butler – filósofa,
estadunidense (Sara Salih, 2012), sendo especialmente associada à teoria queer.
A segunda mais citada, que aparece em quatro artigos, é a brasileira Guacira
Lopes Louro, doutora em Educação (Louro, 2003). Ainda quanto às referên-
cias, notamos como citadas duas ex-coordenadoras do GP Comunicação para a
Cidadania e uma ex-coordenadora do NP Comunicação e Cultura das Minorias.
Considerações finais
Referências
AUAD, Daniela. Feminismo: que história é essa. Rio de Janeiro: DP&A, 2003.
BEAUVOIR, Simone. O Segundo Sexo; Fatos e Mitos. São Paulo: Difusão Europeia do
Livro, 1970.
SALIH, Sara. Judith Butler e a teoria queer. Belo Horizonte: Autêntica, 2012.
SCOTT, Joan. Gênero: Uma Categoria Útil Para Análise Histórica. Nova York: Columbia
University Press, 1989.
Resumo
Introdução
1 Neste momento, o movimento era conhecido como movimento GLS (Gays, Lésbicas e Simpati-
zantes), posteriormente, por volta da década de 90, passa a ser chamado de GLBT (Gays, Lésbicas,
Bissexuais, Transexuais e Travestis). Somente em 2008, passa a ser LGBT.
Considerações finais
Referências
SILVA, Bruno Oliveira da; SILVA, Esther Guedes da; PEREIRA, Isabela Scheufler; SILVA,
Priscila Conceição da. Centro de Referência e Promoção da Cidadania LGBT/RJ:
Reflexões iniciais sobre a implantação. Congresso Internacional de Estudos Sobre a
Diversidade Sexual e de Gênero da ABEH, 2012. Disponível em: http://www.abeh.
ufba.br/ Acesso em 29 de junho de 2016.
Resumo
O trabalho tem como objetivo apresentar a lei 11.340/06 mais conhecida como
Lei Maria da Penha, esta que se estabelece como primeira ferramenta legal
de enfrentamento a violência de gênero contra a mulher. Desta maneira, este
trabalho tem como intuito avaliar a Lei 11.340/06, a priori, com uma análise
sobre a violência doméstica contra o feminino e como esta se interliga com
novos conceitos como o feminicídio e transfeminicídio, uma vez que à violência
contra a mulher é fruto de uma construção histórica, cultural e social pautadas
nas categorias de gênero e de relação de poder. Neste sentido, os sujeitos que
correspondem a Lei Maria da Penha são mulheres1, estas que são pensadas a
partir da performatividade (BUTLER, 2003).
Introdução
E ainda:
Art. 5o Para os efeitos desta Lei, configura violência doméstica
e familiar contra a mulher qualquer ação ou omissão baseada no
gênero que lhe cause morte, lesão, sofrimento físico, sexual ou psi-
cológico e dano moral ou patrimonial (BRASIL, 2006)
uma análise sobre a violência doméstica contra o feminino e como esta se inter-
liga com novos conceitos como o feminicídio e transfeminicídio.
Feminicídio é um termo que surge com a sul africana Diana Russel para
evidenciar o assassinato de mulheres, mas este ganha notoriedade com os
estudos da Lagarde (2008) que traz os assassinatos de mulheres não trans2 na
Ciudad de Juárez no México em 1993, onde mulheres operárias e da indús-
tria têxtil foram encontradas mortas com amplo grau de crueldade: queimadas,
esquartejadas, jogadas em lata de lixo.
O feminicídio, crime contra a mulher, retira todo caráter de crime de amor,
como reivindica e reivindicava a luta feminista e de movimento de mulheres.
Ao chamar de crime passional é como se tirasse toda a subjetividade feminina
e reconhecesse o sujeito masculino como sujeito absoluto, detentor de poder
(vítima e vitorioso). A lei do feminicídio outorgada no Brasil em 15 de março de
2015 coloca a mulher em ênfase, esta é a vítima e não a “réu”. O feminicídio
acaba ganhando status teórico, político e judicial, logo uma reinterpretação dos
crimes vistos como passionais.
Diante da discussão sobre o feminicídio, a socióloga Berenice Bento,
cunha o termo transfeminicídio para evidenciar a violência, morte de mulheres
transexuais e travestis. Bento (2014) apresenta o termo transfeminicídio para
fazer um paralelo do número de mortes de mulheres transexuais e travestis que
foram mortas no Brasil. A autora afirma que as mulheres trans e travestis são
mortas com o mesmo grau de crueldade pelo sistema hegemônico machista,
2 O uso do termo não trans se alinha a proposta de Berenice Bento (2016) apresentada no texto:
“Transfeminicídio: violência de gênero e o gênero da violência” In: Dissidências sexuais e de gênero.
Leandro Colling (Org.). Editora: Edufba, 2016.
uma vez que são mortas por transvalorar as normas de gênero, deste modo,
uma morte, violência e marginalização de um corpo que transvalora as normas.
Bento (2014) apresenta o transfeminicídio para reforçar a violência contra
as mulheres transexuais e travestis, uma vez que estas foram retiradas do texto
final da Lei de Feminicídio, “jogada” feita pela bancada evangélica que com-
preende mulher a partir do termo reducionista biológico e que vê na genitália a
representação de gênero.
Dessa maneira, trazer para discussão a pluralidade de mulheres que cons-
titui as identidades de gênero é importante para apresentar em números reais
a violência contra o feminino, pois estas oferecem uma leitura social mais ade-
quada para entendermos como o feminino é (re) significado na sociedade atual.
Assim sendo, os números apresentados pelo Mapa da Violência de 2015 nos
fazem pensar o gênero atravessado por outras categorias, mulheres negras e
pobres são vítimas frequentes. Logo, questionamos: que dados serão apresen-
tados no futuro (se) quando as mulheres transexuais e travestis forem abarcadas
nessa estatística?
Considerações finais
Referências
BRASIL. Lei 11.340 de 07 de agosto de 2006. Lei Maria da Penha. Disponível em: <
http://www.planalto.gov.br> Acesso em: 10 de outubro de 2015.
BRASIL. Projeto de Lei n.º 8.032. 21 de outubro de 2014. Disponível em: www.
camara.gov.br/. Acesso em 10 Jul. 2016.
FARAH, Marta Ferreira Santos. Gênero e políticas públicas. In: Estudos Feministas.
Florianópolis, 2004.
LIMA, Lana Lage da Gama. ET AL. Os desafios da Lei Maria da Penha como política
pública de gênero. In: Fazendo Gênero 9. Diásporas, diversidades, deslocamentos.
Florianópolis-SC, 2010.
Resumo
Tensões
é responsável não só por minar o potencial político do queer, mas também por
permitir um uso indiscriminado e vazio da palavra.
O caráter ambíguo do termo “queer” vai de encontro à rigidez de rótu-
los existentes dentro do próprio meio LGBT, permitindo a criação de novos
espaços e identificações não restritos à sexualidade ou à expressão de gênero.
Infelizmente, ainda é possível notar certo apego a classificações dentro do movi-
mento LGBT e mesmo a preferência por um discurso normativo que privilegia a
homossexualidade e deixa temas como a travestilidade ou até a bissexualidade
à margem em termos de reconhecimento e validação, devido à potencialidade
de ruptura com delimitações precisas – ou bem estabelecidas – de gênero e
sexualidade.
Pela perspectiva da assimilação, um “movimento queer” continua a ser
percebido como estratégica e ideologicamente radical, contudo, pela visão
de muitos teóricos, a própria noção de um movimento unificado deve ser
questionada.
Apesar dos debates e polêmicas em torno da questão, muitos ainda se
utilizam do termo como mero sinônimo para LGBT até os dias atuais. Outros
procuram criticar essa adoção, uma vez que, como “termo guarda-chuva”, ele
não problematizaria as diferenças internas ao movimento LGBT, acabando por
apaga-las e por dar a impressão de que a comunidade existe como um todo
isento de conflitos (SULLIVAN, 2003), o que Ruth Goldman chama de “riscos
inerentes” (1996, p. 170) de se abraçar a denominação como uma significante
identitária, que leva ao desaparecimento da própria diversidade para a qual se
deseja chamar a atenção.
Em uma concepção norte-americana que começa, no século XXI, a se
reproduzir no Brasil, ser queer é valorizar a fluidez, admitir e abraçar a multi-
plicidade em detrimento das noções de identidade “naturais” ou “essenciais”
constantemente reforçadas por normas de inteligibilidade sociais que supõem
um sujeito “coerente” e estável, principalmente no que diz respeito à “matriz de
inteligibilidade” de sexualidade e gênero (BUTLER, 2010). Apesar de a palavra
“queer”, em si, ainda se manter mais restrita ao âmbito acadêmico, suas ideias
e propostas têm sido cada vez mais difundidas.
O sujeito que se auto-identifica como queer rejeita a objetividade de iden-
tidades sexuais como “gay”, “lésbica”, “bissexual” ou de identidades de gênero
como “masculino”, “feminino” ou, eventualmente, até mesmo “transexual”. A
definição de si como queer significa também um desejo de não ser “nomeado”,
de não ser rotulado pelo outro, uma vez que, segundo Richard Miskolci, “[n]
a perspectiva queer, as identidades socialmente prescritas são uma forma de
disciplinamento social, de controle, de normalização” (2013, p. 18).
Desdobramentos
Expressão não-binária
Considerações finais
Referências
GOLDMAN, Ruth. Who Is That Queer Queer? Exploring Norms around Sexuality,
Race, and Class in Queer Theory. In: BEEMYN, B.; ELIASON, M. (Ed.). Queer Studies
– A Lesbian, Gay, Bisexual, and Transgender Anthology. New York and London: New
York University, 1996, pp. 169-182.
HALBERSTAM, J. Jack. Gaga Feminism – Sex, Gender, and the End of Normal. Boston:
Beacon, 2012.
JAGOSE, Annamarie. Queer Theory – An introduction. New York: New York University,
1996.
SULLIVAN, Nikki. A Critical Introduction to Queer Theory. New York: New York
University, 2003.
Resumo
4 “Rio” é delegado de policia civil, coordenou as atividades do Comitê de 2012 a 2014 e foi citado
pelos outros três entrevistados.
É sabido que a Lei sozinha não tem o condão de acabar com práticas
discriminatórias como as enfrentadas cotidianamente por travestis e transexuais
quando se lida com a questão do nome social, mas as normativas são um passo
5 Municípios paraenses.
Considerações finais
6 Cisgênero é o indivíduo que se identifica com o gênero que lhe é atribuído ao nascer.
Referências
SPIVAK, Gayatri Chakravorty. Pode o subalterno falar? Belo Horizonte: Editora UFMG,
2010.
VALE, Alexandre Fleming Câmara; PAIVA, Antônio Cristian Saraiva (Orgs.). Estilísticas
da Sexualidade. Fortaleza: Programa de Pós-Graduação em Sociologia da Universidade
Federal do Ceará. Campinas: Pontes Editores, 2006.
GT 04 -
Travestilidades, transexualidades, lesbianidades e homossexualidades:
transgressão e resistência
Resumo
Introdução
2 Nome fictício.
3 Utiliza-se o termo homofobia pela ampla inserção do termo, inclusive aparece no próprio nome do
Comitê, mas estes autores tem consciência dos problemas que o termo apresenta, levantados princi-
palmente por outros seguimentos do movimento LGBT.
Como alertado pelo informe, os dados não são precisos, mas aquilo que
existe dá uma ideia do panorama ruim no qual as populações LGBT vivem em
diversos países. No Brasil não é diferente, existem informações nacionais, mas
estas acabam por padecer dos mesmos problemas, como a subnotificação, seja
porque a vítima não confia no sistema de segurança pública ou pelo próprio
preconceito institucionalizado que invisibiliza esse tipo de violência.
Entretanto, com o objetivo de suprir essa informação e dar maior emba-
samento fático, uma das entrevistas deste trabalho é ativista do movimento
transexual e milita nessa causa a mais de 25 anos. Comenta Berlin:
“Não, mudou [...] Como eu ando muito com elas, eu faço trabalho
com elas à noite [...] As abordagens, eles chegavam com elas para
abordar para revistar, com grosseria e eram totalmente desconhe-
cedores de direitos e devido ao policial esta fardado, se achar no
direito todo poderoso de humilhar as pessoas, essa conduta deles
é já uma conduta de quartel. Depois destas formações, amenizou,
ficaram mais flexíveis, mesmo na hora da formação tinha muito
debate, muitos assim... Até oficiais mesmo, “não, porque não aceito
e não vai ser [...]”, você pode não aceitar dentro da sua casa, mas
se está fardado você está prestando um serviço para a comunidade
você recebe do governo, então você vai ter que tratar essa pessoa
com mais sensibilidade, porque você está sendo pago por essas
pessoas” (Berlin, entrevista, fev.2016)
Considerações finais
Referências
ONU. Livres & Iguais: Nações Unidas pela igualdade LGBT. 2012. Disponível em:
<https://www.unfe.org/system/unfe-42-sm_violencia_homofobica.pdf>. Acesso: 07
jan. 2016.
SALIN, Sara. Judith Butler e a Teoria Queer. Belo Horizonte: Autêntica Editora, 2015.
WITTIG, Monique. O Pensamento Hétero. The Straight Mind and other Essays.
Boston: Beacon, 1992.
O DIREITO E AS MULHERES
Resumo
Introdução
O Código Civil de 1916 previa que, caso a mulher tivesse contraído matri-
mônio deflorada, o marido poderia anular a união em até dez dias. No CC\16
incumbia ao cônjuge:
agressor não é garantia de que a violência nunca mais irá ocorrer, mas sim um
dos inúmeros exemplos da política maciça de encarceramento.
Considerações finais
Como foi disposto acima, a luta das mulheres por igualdade ainda não
está no fim, o Brasil ainda necessita percorrer um longo caminho para extin-
guir toda forma de violência contra a mulher, e a solução seria o investimento
maciço em educação de meninos e meninas, para que acabem com essa visão
sexista de ver o mundo. Os tempos são outros, e as mulheres assumem, cada
vez, mais um papel de destaque na sociedade. Sendo assim, é hora do Brasil
encarar o poder feminino.
Referências
BARRETO, Ana Cristina Teixeira. Igualdade entre sexos. 2010. Disponível em:<http://
www.conjur.com.br/2010-nov-05/constituicao-1988-marco-discriminacao-familia-
-contemporanea>. Acesso em: 12 jun. 2016.
BRASIL, Portal. 9 fatos que você precisa saber sobre a Lei Maria da Penha. 2015.
Disponível em: <9 fatos que você precisa saber sobre a Lei Maria da Penha>. Acesso
em: 12 jun. 2016.
BEAUVOIR, Simone de. O Segundo sexo: a experiência vivida. 2. ed. São Paulo:
Difusão, 1967. 500 p. Tradução de: Sérgio Milliet.
CAPEZ, Fernando. Exercício Regular de Direito. In: CAPEZ, Fernando. Curso de direito
penal, volume 1, parte geral: arts. 1º a 120. 19. ed. São Paulo: Saraiva, 2015. p. 311.
GRECO, Rogério. Aborto. In: GRECO, Rogério. Curso de Direito Penal: parte especial,
volume II: introdução à teoria geral da parte especial: crimes contra a pessoa. 12. ed.
Niterói: Impetus, 2015. Cap. 6. P. 231-260.
GRECO, Rogério. Estupro. In: GRECO, Rogério. Curso de Direito Penal: parte espe-
cial, volume III. 12. ed. Niterói: Impetus, 2015. Cap. 49.p. 465-512.
GOMES, Luiz Flávio. Crimes contra a dignidade sexual e outras Reformas Penais.
2010. Disponível em: <http://lfg.jusbrasil.com.br/noticias/1872027/crimes-contra-a-
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GUMIERI, Sinara. Aborto: uma em cada cinco mulheres brasileiras já fez, mas crimi-
nalização tem alvo certo. 2016. Disponível em: <http://justificando.com/2016/05/03/
aborto-uma-em-cada-cinco-mulheres-brasileiras-ja-fez-mas-criminalizacao-tem-alvo-
-certo/>. Acesso em: 20 jun. 2016.
HUNGRIA, Nelson. Dos crimes contra os costumes. In: HUNGRIA, Nelson; LACERDA,
Romão Cortês de. Comentários ao Código Penal. Rio de Janeiro: Revista Forense,
1947. p. 139,115,116.
LARA, Bruna de et al. # Meu Amigo Secreto: Feminismo Além Das Redes. Rio de
Janeiro: Edições de Janeiro, 2016. 254 p.
NUCCI, Guilherme de Souza. Dos crimes contra a liberdade sexual. In: NUCCI,
Guilherme de Souza. Crimes contra a dignidade sexual: comentários à Lei 12.015, de
7 de agosto de 2009. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2009. p. 15-30.
Resumo
Introdução
1 Utilizo o termo sexo, ao me referir a conformação física, orgânica, que permite distinguir o homem e
a mulher, atribuindo-lhes um papel específico na reprodução e enfatizando características biológicas
como algo que não pode ser monopolizado por interesses de grupos e/ou movi-
mentos que não reconheçam o direito de LGBT, impedindo-os/as de usufruírem
das possibilidades sociais disponibilizadas a todos/as. Competirá ao/a profes-
sor/a incubência de promover um melhor manuseio da matriz heterossexista,
dialogando e/ou reconhecendo a legitimidade das diferenças.
A internet por diversas vezes apareceu no decorrer das entrevistas como
uma forte aliada no que tange aos Estudos de gênero e as sexualidades, de
maneira que foi o meio mais citado quando a interrogação foi sobre veícu-
los e agências utilizados para orientar e/ou informar. “Acredito que todos os
meios são amplos, mas o principal é a internet [...] hoje é um meio tecnológico
que possibilita buscarmos várias temáticas para trabalhar com nossos alunos
até mesmo sobre o gênero e a sexualidade” (Bernadete Matarazzo). Diante
disso, no prosseguimento da pesquisa, pretendemos tentar entender e explorar
o que essas estudantes percebem na internet, que a torna tão imprescindível,
ampliando ainda mais o debate.
Até o momento, as entrevistadas se consideraram despreparadas com a
possibilidade da discussão envolvendo o gênero e as sexualidades em âmbito
escolar mesmo já estando prestes a concluírem a graduação. Segundo elas, o
fato de não terem desfrutado da oportunidade de um maior diálogo no decor-
rer do curso, contribuiu fortemente para o que consideram como inaptidão.
Para Dalva Uzay, “Não estou preparada! Acho que me faltou muita base na
disciplina que cursei [...] e me falta base ainda hoje!” No caso específico do
debate acerca da “Ideologia de gênero”, foi notado por meio das entrevistas,
que mesmo no final da graduação e já tendo cursado disciplinas específicas, as
estudantes demonstraram desconhecer toda a discussão apresentada no decor-
rer nos últimos meses. Tal ocorrência acaba por provocar um sinal de alerta
com o intuito de chamar atenção aos discursos produzidos nas Universidades.
Considerações Finais
Referências
BUTLER, Judith. Gender trouble: feminism and the subervsion of identity. New York/
London: Routledg, 1999. (Trabalho original publicado em 1990).
FOUCAULT, Michel. História da sexualidade – a vontade de saber. vol. 1, 16ª ed. Rio
de Janeiro: Graal, 1993.
Resumo
Introdução
próprio sujeito sobre seu corpo e suas expressões enquanto parte da sociedade.
(JESUS, 2012)
As identidades de gênero não são estruturas imutáveis, visto que a per-
sonalidade humana se modifica e se adapta, como bem mostram os estudos
contemporâneos da Psicologia e da Sociologia. É mais acertado, como nos mos-
tram Carvalho e Stancioli, falar em status de gênero: as expectativas sociais de
apresentação comportamental, gestual, linguística, emocional e física diferen-
ciada conforme aos sexos e, consequentemente, a aparência corporal. Gênero,
a partir desse conceito, envolve papéis, estereótipos, representações e constru-
ções simbólicas e materiais (STANCIOLI, CARVALHO, 2011).
Esse conceito, no entanto, apresenta um problema central, uma vez que
atribui ao conceito de gênero uma derivação externa, referente a papéis e não
à subjetividade. Melhor seria conceituar o termo como um elemento identitário
próprio, fluido, referente às próprias noções de adequação de si, valorizando a
autopercepção em detrimento dos padrões socialmente impostos.
A doutrina brasileira defende que entre os direitos fundamentais não há
hierarquia, visto que todos são inerentes à personalidade humana. Desse modo,
há de se perceber que eles não são absolutos e que deveria caber à pessoa a
possibilidade de reduzi-los ou afastá-los mediante própria vontade. Entretanto,
não é o que se verifica no Código Civil Brasileiro que, em seu artigo 11, postula
que os direitos da personalidade são “irrenunciáveis, não podendo o seu exer-
cício sofrer limitação voluntária”1.
Essa norma, por mais breve que pareça, exerce enorme impacto no exer-
cício dos direitos da personalidade. A partir dela, tais direitos, que deveriam
operar enquanto uma proteção à liberdade e à autonomia do indivíduo, aca-
bam por se reduzir a um “rol fixo, pré-estatuído e irrenunciável de prerrogativas
individuais e intrínsecas, descritas no artigo 11 CC” (LOPES, 2014).
Outro exemplo do engessamento está no artigo 13, caput, do Código
Civil , que inviabiliza o livre uso do corpo. Conforme Laís Lopes, isso se deve
2
1 “Com exceção dos casos previstos em lei, os direitos da personalidade são intransmissíveis e irrenun-
ciáveis, não podendo o seu exercício sofrer limitação voluntária.”
2 “Salvo por exigência médica, é defeso o ato de disposição do próprio corpo, quando importar dimi-
nuição permanente da integridade física, ou contrariar os bons costumes.”
a uma noção implícita na norma de que haveria uma essência nos corpos a ser
mantida, preservada em sua forma original (LOPES, 2014).
A importância dessa limitação imposta pela norma não pode de forma
alguma passar despercebida. Os direitos da personalidade, em especial quando
tocam a identidade, consistem nos aspectos de formação do próprio indivíduo.
Desse modo, “proibir a ‘renúncia ao exercício de direitos da Personalidade’
é inviabilizar a própria existência pessoal!” (STANCIOLI, CARVALHO, 2011,
p.270).
Resta claro o anacronismo do ordenamento brasileiro quando a ele se
integram, ainda hoje, determinações vinculantes como a do Conselho Federal
de Medicina, que considera a transexualidade como patologia (exposição de
motivos da resolução CFM nº 1.652/2002). Não obstante a crescente realização
das cirurgias de redesignação sexual, a abordagem da resolução não reconhece
a liberdade da identificação de gênero, mas determina requisitos vinculados a
uma absurda ideia de patologização3.
Essa limitação é grave na medida em que impõe ao sujeito uma limitação
do seu próprio eu. Não apenas devido ao papel psicológico da identidade, mas
também dos aspectos físicos e sua influência na subjetividade. Afinal: “de fato,
o corpo se tornou o lugar da identidade pessoal. Sentir vergonha do próprio
corpo seria sentir vergonha de si mesmo” (PROST, VINCENT, 2009, p.105).
3 “Art. 3º Que a definição de transexualismo obedecerá, no mínimo, aos critérios abaixo enumerados:
1) Desconforto com o sexo anatômico natural; 2) Desejo expresso de eliminar os genitais, perder as
características primárias e secundárias do próprio sexo e ganhar as do sexo oposto; 3) Permanência
desses distúrbios de forma contínua e consistente por, no mínimo, dois anos; 4) Ausência de outros
transtornos mentais.”, CFM nº 1.652/2002.
A garantia desses direitos, bem como de preceitos que primam pela digni-
dade, autonomia, respeito e individualidade, visa proteger o espaço da pessoa
de poder formar e expressar sua identidade. No entanto, a forma como foram
construídos os direitos de personalidade no Código Civil, limitando de forma
absoluta seu livre uso e revogação, ocasiona conflitos com as normas constitu-
cionais de liberdade, autonomia e dignidade.
Frente a isso, uma possível solução é a aplicação da teoria da eficácia
horizontal dos direitos fundamentais. Segundo a qual, à medida que coloca os
direitos em um mesmo patamar de importância, questiona situações conflitan-
tes entre princípios fundamentais. Nesse casos, Alexy explica:
Se dois princípios colidem - o que ocorre, por exemplo, quando
algo é proibido de acordo com um princípio e, de acordo com o
outro, permitido -, um dos princípios terá de ceder. Isso não sig-
nifica, contudo, nem que o princípio cedente deva ser declarado
inválido, nem que nele deverá ser introduzida uma cláusula de
exceção. Na verdade, o que ocorre é que um dos princípios tem
precedência em face de outro sob determinadas condições. Sob
outras condições a questão da precedência pode ser resolvida de
forma oposta.(ALEXY, 2008, p. 93/94)
4 Importante aqui ressaltar a discordância dos autores da classificação do celibato enquanto identida-
de. Trata-se de um comportamento e não uma identidade sexual. Melhor seria dizer assexualidade,
caso este em que o desinteresse pela prática sexual conforma a identidade não consistindo em mero
hábito comportamental.
Referências Bibliográficas
ALEXY, Robert. Teoria dos direitos fundamentais. São Paulo: Malheiros Editores, 2008.
669 p.
FOUCAULT, Michel. História da sexualidade: o uso dos prazeres, v.2. Tradução Maria
Thereza da Costa Alburqueque. São Paulo: Paz e Terra, 2014.
Resumo
Introdução
Método
Resultados e discussão
Considerações finais
Referências
MINAYO, Maria Cecília de Souza (Org.). Pesquisa Social: teoria, método e criatividade.
14 ed. Petrópolis: Vozes, 1999.
PEREIRA, Pedro Paulo Gomes. Queer nos Trópicos. Apontamentos à margem sobre
pós-colonialismos, feminismos e estudos queer. In: Contemporânea – Revista de
Sociologia da UFSCar, São Carlos, v. 2, n. 2, p. 371-394, 2012.
Juliana Perucchi
Universidade Federal de Juiz de Fora, Ciências Humanas e Psicologia
jperucchi@gmail.com
GT 04 -
Travestilidades, transexualidades, lesbianidades e homossexualidades:
transgressões e resistências
Resumo
Introdução
Da análise documental
“Num certo sentido, precisamos nos desfazer para que sejamos nós
mesmas: precisamos ser parte de um extenso tecido social para
criar quem nós somos. Este é, sem dúvida, paradoxo da autono-
mia, um paradoxo que é intensificado quando as regulações do
gênero funcionam para paralisar a capacidade de ação do gênero
em vários níveis. Até que essas condições sociais tenham mudado
radicalmente, a liberdade requererá não-liberdade, e a autonomia
estará enredada em sujeição.” (BUTLER, 2009, p. 122).
Considerações finais
Referências
Foucault, M. A ordem do discurso (5ª ed.). São Paulo: Edições Loyola, 1999.
FOUCAULT, M. Cours du 7 janvier, 1976. Dits et écrits II. Paris: Galimard, 1977. p.
160-174.
Silvana Marinho
Mestranda do Programa de Pós-Graduação em Serviço Social/UERJ
marinho.silvana@gmail.com
Resumo
Introdução
3 Os CC’s LGBT são serviços de atendimento jurídico, social e psicológico para LGBTs (lésbicas, gays,
bissexuais, travestis e transexuais) e seus familiares e amigos, funcionando também como centros de
irradiação de informações. Nos CC’s busca-se atender casos de discriminação e violência homoles-
bobitransfóbica; orientar sobre direitos; formar e ou fortalecer a rede de apoio social; sensibilizar e
capacitar gestores públicos e segmentos da sociedade sobre homofobia e cidadania LGBT e contri-
buir para a formulação de políticas públicas.
4 O Programa Rio sem Homofobia tem como proposta de ação a disseminação de informações sobre
direitos e a defesa e garantia de direitos como formas de combate à homolesbobitransfobia. Dentre
seus principais serviços estão o Disque Cidadania LGBT 0800 0234 567 – um serviço de atendimen-
to telefônico gratuito, com funcionamento diário, 24h/dia – e os Centros de Cidadania LGBT (CC’s
LGBT) que funcionam de forma regionalizada no âmbito estadual, a saber: Capital - Rio de Janeiro
(Região Metropolitana); Nova Friburgo (Região Serrana I); Duque de Caxias (Baixada I); Niterói (Re-
gião Leste).
5 Trata-se de um termo inicialmente proposto no interior do feminismo negro por Kimberlé Crenshaw,
uma jurista da Universidade de Columbia, no sentido de refletir acerca da complexidade da intera-
ção entre raça, gênero e classe, demonstrando a desigualdade estrutural que mulheres negras viven-
ciam (PISCITELLI, 2008).
6 Piscitelli (2008), ao fazer uma breve aproximação a esses conceitos, sinaliza que há duas linhas
de abordagem no pensamento feminista, uma linha chamada sistêmica e outra construcionista. A
centralidade da contestação entre elas é a apropriação de diferença, poder e margens de agência
(agency) em cada uma. A linha sistêmica deu o pontapé inicial ao debate da interseccionalidade
com Kimberlé Crenshaw.
7 A área da saúde é vanguarda no campo desses direitos. Destacam-se: Marco Legal. Saúde, um direito
de adolescentes (Ministério da Saúde, 2005); Marco Teórico e Referencial. Saúde Sexual e Saúde
Reprodutiva de Adolescentes e Jovens (Ministério da Saúde, 2006).
8 O Estatuto da Juventude, lei 12.852/13, abrange a juventude entre 15 a 29 anos de idade e o ECA,
lei 8069/90, compreende a adolescência a partir dos 12 anos. Assim, utilizamos o período de idade
que vai desde a adolescência prevista no ECA até o limite de idade da juventude previsto no Estatuto
da Juventude.
das situações de conflito familiar, já que o motor dos conflitos é a não aceitação
familiar da expressão sexual e/ou de gênero do/a adolescente.
Desse modo, a intervenção em camadas cumpre uma função pedagó-
gica que permeia todo o fazer profissional das equipes. Numa perspectiva
crítico-dialética, a concepção do que significa educar confere um componente
político à ação no horizonte da garantia de direitos.
Há que se refletir, ainda, que todas essas camadas se fazem necessárias
tendo em vista os desafios de se afirmar a sexualidade e a expressão de gênero
de adolescentes não heteronormativxs, que são mantidos em armários “a sete
chaves”. Com a experiência no CC LGBT Niterói, tomando como referência a
observação participante, é possível denunciar que os direitos sexuais de adoles-
centes são comumente desrespeitados e negligenciados, inclusive por práticas
institucionais e profissionais fundamentadas no plano da moralidade e não da
ética profissional e do estatuto legal. Adolescentes LGBTs sofrem vários tipos
de violências (física, verbal, sexual, psicológica) cotidianamente, tanto no seio
familiar, como no ambiente comunitário e escolar, e ainda violências institucio-
nais perpetradas pelo próprio poder público. São diminuídos/as, rejeitados/as e
cerceados/as no terreno das suas identidades e subjetividades.
As estudiosas das abordagens das interseccionalidades chamam a atenção
para a necessidade de se olhar as intersecções identitárias no cotidiano e nas ações
programáticas dos serviços relacionados às diversas políticas públicas setoriais, e,
sobretudo, no âmbito da intervenção do trabalho profissional das equipes que
neles atuam. Afinal, as interseções identitárias conformam sujeitos concretos, que
existem na realidade concreta; elas contribuem para a vulnerabilidade de diferen-
tes grupos, uma vez que o cruzamento, por exemplo, do machismo, do sexismo,
do adultocrentrismo, do racismo e da homofobia irão criar lugares sociais e polí-
ticos desiguais para alguns grupos, como é o caso do segmento adolescente. Esse
contexto sugere, portanto, o uso do conceito de interseccionalidade.
Considerações finais
esbarra com tantos outros armários no percurso, como a família, a escola, a reli-
gião, a mídia etc, que obriga esse grupo social a procurar diferentes chaves a
fim de abrir armários grandes, pequenos, largos, de ferro, de madeira, antigos,
mofados e por aí vai. A busca por essas chaves se expressa de diferentes formas.
São várias as estratégias – de sobrevivência e de resistência – que adolescentes
se apropriam no cotidiano das discriminações e sofrimentos pelos quais passam.
Reconhecer o poder de agência do sujeito adolescente, suas possibilida-
des históricas, suas práticas de resistência e contra-hegemonias, seja no âmbito
macropolítico ou no microssocial, pois também é esfera onde se operam ruptu-
ras ideológicas e se quebram paradigmas, é fundamental para o distanciamento
de um olhar tutelar para com esse segmento social.
Referências
Resumo
Introdução
3 Relações familiares de travestis e transexuais em Natal-RN, de Marcos Mariano Viana da Silva. Mo-
nografia apresentada à coordenação do curso de bacharelado em Ciências Sociais da UFRN, 2013.
Sheila e o seu irmão relataram nas entrevistas não sofrer preconceito das
pessoas que formam seu núcleo familiar mais próximo, ou seja, o pai, a mãe e
o irmão mais novo. Porém, há uma parte da família que os discrimina por con-
siderarem que os dois tem uma conduta social desviante, uma vez que o irmão
de Sheila é homossexual. Quando foi perguntado à Sheila se a sua família tinha
mudado de atitude desde que ela se “assumiu” como travesti a resposta foi a
seguinte:
“Mudou da parte da minha tia, da filha dela, meio preconceituosa,
porque como eu disse, o povo tem uma visão de travesti, você sabe
qual é, né? Drogas, sexo e Rock and Roll, e vida de travesti não
é isso, vida de uma travesti que se preze não é só glamour como
você abre o Face4 de muitas e vê só academia, festas, não. Você
tem uma vida diária, então vamos contar a vida diária, o que é que
você enfrenta? As pessoas que viram a cara pra você, que cos-
pem quando você passa, que lhe apontam, entendeu? Mas, tirando
isso, o negócio é meu pai, minha mãe me aceitando e meu irmão...
Beijo no pé porque no ombro é luxo. Não dou nem cabimento
(Entrevista realizada com Sheila em 27/11/2015).
E o irmão acrescenta:
“Tem um preconceito enorme, viu? A família também tem pre-
conceito. A gente acabou que eu e meu irmão não participamos
mais dos eventos familiares se não for aqui, né? Porque a família da
gente é essa, mas tem as outras partes, né? Não vai porque os trajes
não podem, porque não sei o quê, imagina o constrangimento, né?
Ontem, inclusive, a gente ‘tava’ falando sobre isso: “não, porque
você precisa ser o macho alfa, né?” Ou então, o ‘viado’ que ‘tá’ ali
no armário, que ninguém quer saber e fica aquela coisa, como se
você precisasse esconder alguma coisa e como se alguém tivesse
sempre alguma coisa pra lhe ofender com isso, né?
“Os eventos familiares vocês não vão porque vocês não querem ir
ou porque não são convidados?” (Pesquisador)
Pode-se perceber nos relatos narrados por Sheila e seu irmão as tentati-
vas de anulação por parte de alguns familiares do acesso dos dois ao convívio
familiar de uma maneira quase velada, como no exemplo descrito pelo o irmão
Considerações finais
Referências
KULICK, Don. Travesti- prostituição, sexo, gênero e cultura no Brasil. Rio de Janeiro:
Editora Fiocruz, 2008.
PELÚCIO, Larissa. Abjeção e desejo: uma etnografia travesti sobre o modelo preven-
tivo de aids. – São Paulo: Annablume; Fapesp, 2009.
Resumo
Considerações finais
Referências
AGUIAR, J.M. Mulher, aids e o serviço de saúde: interfaces. 2004. 150p. Dissertação
de Mestrado apresentada à Escola Nacional de Saúde Pública. FIOCRUZ, Rio de
Janeiro.
BARBOSA, Maria Regina. Mulheres que fazem sexo com mulheres: algumas estima-
tivas para o Brasil. In: Cad. Saúde Pública, vol22, n 7, Rio de Janeiro, 2006.
.Acesso a cuidados relativos à saúde sexual entre mulheres que fazem sexo com
mulheres em SãoPaulo, Brasil. In: Cad. Saúde Pública, Rio de Janeiro, 25 Sup 2:S291
- S300, 2009.
RODRIGUES, Juliana & SCHOR, Néia. Saúde sexual e reprodutiva de mulheres lésbi-
cas e bissexuais. In: Fazendo Gênero 9: Diásporas, Diversidades, Deslocamentos, 2010.
Resumo
Introdução
1 A imolação ritual, vulgarizada como “sacrifício animal”, consiste na utilização de certos animais
específicos, tais como aves, caprinos, bovinos e raramente suínos, além de outros alimentos, nas
cerimônias de “obrigação”, tal como são chamados os rituais que alimentam Orixás, Nkisis e enten-
didades da Jurema Sagrada.
2 As aspas são do próprio vereador Olímpio Oliveira em seu pronunciamento. Cf.: No Candomblé:
Vereador de CG quer proibir o sacrifício de animais em rituais religiosos. In: < http://www.paraiba.
com.br/2012/04/20/31382-vereador-de-cg-quer-proibir-o-sacrificio-de-animais-em-rituais-religio-
sos-de-candomble>. Último acesso: 12/07/2016.
Figura 1. Panfleto da campanha do vereador Olímpio Oliveira pela aprovação do Projeto de Lei nº
059/2012.
3 Nação se refere, no Candomblé, à tradição africana da qual o terreiro descende. As mais predomi-
nantes em Campina Grande são casas que cultuam os Orixás da nação Nagô Egbá, ketu e Nkisis da
nação Angola. A maioria desses terreiros, majoritariamente os de tradição Nagô Egbá, se configuram
como cruzamento com a Umbanda, e com a religião local de tronco indígena, a Jurema Sagrada.
Considerações finais
Referências
Resumo
Introdução.
1 Projeto cadastrado na UFMT com apoio do CNPq (MCTI/CNPq/Universal/ 2014) e FAPEMAT (Edital
Universal/003/2014)
2 Numa tradução simples: “Eu posso!”, “eles podem!”; “Nós podemos fazer isso!”.
Foucault (1999), em sua obra, busca produzir uma história dos diferentes
modos de subjetivação do ser humano dentro da nossa cultura, a cultura oci-
dental. Na medida em que seu trabalho vai tomando formas diversas de abordar
o tema, destacamos duas categorias de interpretação do mesmo problema: a
objetivação e a subjetivação. É a partir destas categorias que entenderemos a
categoria de sujeito e as relações de poder.
Assim, quer pensando na objetivação do sujeito como sujeito falante, pro-
dutivo e vivente, realizada por modos de investigação que procuravam obter
um estatuto de ciência; quer estudando a objetivação do sujeito enquanto divi-
dido no interior de si próprio e perante os outros, Foucault, em uma passagem
da Microfísica do Poder, coloca que:
Queria ver como este problema de constituição podiam ser resol-
vidos no interior de uma trama histórica, em vez de remetê-los a
um sujeito constituinte. É preciso se livrar do sujeito constituinte,
livrar-se do próprio sujeito, isto é, chegar a uma análise que possa
dar conta da constituição do sujeito na trama histórica. É isto que
eu chamaria de genealogia, isto é, uma forma de histórica que dê
conta da constituição dos saberes, dos discursos, dos domínios de
objeto, etc., sem ter que se referir a um sujeito, seja ele transcen-
dente com relação ao campo de acontecimento, seja perseguindo
sua identidade vazia ao longo da história. (1999, p.7)
se pudesse deter; que lhe seja dado como modelo antes a batalha
perpetua que o contrato que faz uma cessão ou a conquista que se
apodera de um domínio. (2002, p.26)
3 A colaboradora hoje trabalha em uma escola do município como coordenadora pedagógica, mas
por muito tempo trabalhou nas ruas.
Referências
FOUCAULT, Michel. História da Sexualidade. 13a ed. Rio de Janeiro: Graal, 1999.
(Vol.1)
SCOTT, Joan. “Gênero: uma categoria útil de análise histórica”. Revista Educação e
Realidade. V.16, nº2, jul/dez 1990. pp. 5-22.
Resumo
entendimento dos seres nas aulas de biologia e de educação física. Este sen-
timento deve ser vivenciado dentro e fora da sala de aula, dentro e fora do
ambiente prisional. A aculturação escolar é um grande empecilho, uma vez que
apaga a diversidade e a diferença (KLEIMAN:1998, 269).
Não estamos embandeirando um inédito movimento de mudança, mas
procurando retirar as vendas da hipocrisia e do silêncio de diversos setores
governamentais, muitas escolas e universidades que não dão o devido destaque
às absurdas violências cometidas dentro e fora de seu entorno, por conta da
questão sexual. As taxas continuarão acontecendo e aumentando enquanto não
se derem conta de sua responsabilidade diante do problema.
3 Rio - Imagens chocantes, nas quais a travesti Verônica Bolina aparece com o rosto desfigurado.
Disponível em: http://odia.ig.com.br/noticia/rio-de-janeiro/2015-04-16/prisao-de-travesti-sera-inves-
tigada.html.
A modo de conclusão
Referências bibliográficas
Denise Portinari
Doutora em Psicologia Clínica
Professora Adjunta Departamento de Artes e Design PUC-RIO.
denisep@puc-rio.br
Simone Wolfgang
Doutora em Design
Professora Adjunta Departamento de Design da UNICARIOCA
simone.wolfgang@terra.com.br
Resumo
1 Prep é a utilização da droga anti- HIV “ Truvada “ por seronegativos para fins preventivos
prevenção? Seria essa uma passagem das políticas de sexo seguro, calcada na
abstinência, para um modo mais contemporâneo de biopolítica, envolvendo a
medicalização do corpo saudável e práticas de controle biológico e o controle
do comportamento sexual de populações LGBTT?
Palavras-chave: Aids; homosexualidade; biopolítica; PrEP; homocultura.
Introdução
Do ponto de vista das ciências humanas e sociais, isso pode ser feito de
diferentes maneiras. Podemos começar, por exemplo, analizando os protocolos
de estudo e manuais para a implementação da PrEP e seus resultados. Outra
maneira de fazer isso é recolher informações das pesquisas que estão sendo
conduzidas, tanto com voluntários, quanto com pesquisadores e, para poder
cruzar essas informações com a literatura relacionada com a questão da saúde
pública, sociologia da saúde e medicina social.
da falta de apoio para uma prevenção eficaz, sendo então a PrEP uma maneira
simples de se evitar novas contaminações com apenas um comprimido por dia.
A OMS justifica a recomendação afirmando que “a PrEP é uma maneira
rápida e segura para melhorar os serviços de saúde na prevenção do HIV / SIDA
entre os grupos vulneráveis”, como profissionais do sexo, homens homossexuais
e mulheres transexuais. A agência afirma que essas pessoas têm uma tradição
histórica de ausência de serviços de saúde especializados na prevenção.
A recomendação da OMS também se apoia nos resultados dos vários
estudos de PrEP realizados desde 2006 por diferentes instituições governamen-
tais em parceria com as empresas farmacêuticas e fundações que conduzem
estudos tradicionalmente relacionadas com a saúde. Alguns desses estudos
mostram uma alta taxa de sucesso entre 80 e 90%, muito embora as primeiras
contaminações entre pessoas que estavam em uso da PrEP começaram a surgir
em 2015 e 2016 em artigos da mídia. “Registrada primeira infecção de HIV por
usuário de PrEP” (Caparica, 2016).
Do outro lado estão aqueles que não apoiam a iniciativa ou a apoiam
com reservas, tais como organizações não governamentais, coletivos LGBTT
e grupos de defesa dos direitos humanos , que questionam a validade dessa
medida como um mecanismo preventivo legítimo.
As reivindicações desses grupos são diversas, e vão desde as questões de
segurança relacionadas com a medicação, até os aspectos subjetivos ligados a
uma prevenção que se foca quase que exclusivamente em populações minori-
tárias. Sabe-se que efeitos colaterais graves podem ser uma realidade no uso do
Truvada, e que, por hora, ainda não houve tempo para testar possíveis danos
a longo prazo, ou, ainda se a exposição prolongada de indivíduos saudáveis a
uma droga é válida, uma vez que essa exposição ao vírus pode não acontecer.
Algumas pessoas estão mais vulneráveis do que outras e escolher quem deve
correr o risco de sofrer os efeitos colaterais de PrEP deve ser feito de forma per-
sonalizada e não randomica.
Deve-se questionar se a PrEP é de fato é uma forma “rápida e segura de
melhorar os serviços de saúde na prevenção do HIV/Aids entre os” grupos vul-
neráveis” como apontado pela OMS, e se não se trata simplesmente de reforçar
algumas questões problemáticas que estão diretamente ligadas a epidemia de
HIV tais como a estigmatização de parcelas LGBTT, reforçando a noção de
grupos de risco e a crença de que a Aids é uma doença limitadas a certos seg-
mentos da população.
Conclusão
Referências
BRASIL, “sobre nós” LapClin Aids in Fiocruz, Fiocruz, Rio de Janeiro. 2014ª
Soraia M. Guimarães
Mestranda em Educação Tecnológica - Bolsista CEFET
soraia.mguimaraes@hotmail.com
Raquel Quirino
Pós-Doutora em Educação.
Centro Federal de Educação Tecnológica de Minas Gerais - CEFET-MG.
quirinoraquel@hotmail.com
Resumo
Introdução
Também Engels (1977, p. 70-71) afirma que, “[...] a primeira divisão do tra-
balho é a que se fez entre o homem e a mulher para a procriação dos filhos” e
já ressalta a opressão de classes e de sexos. Porém, Quirino (2011, p. 44) reforça
que “a questão da opressão da mulher deixa de ser do domínio da biologia e é
inserida no domínio da história, da cultura, tornando possível assim vislumbrar
a sua superação por meio da ação política, pois se não é algo natural, pode ser
superada.”
Para Hirata e Kérgoat (2001, p. 599), as atividades realizadas pelas mulhe-
res no espaço privado são consideradas como trabalho de pouca importância e
sem relevância econômica, vistas como ajuda e, assim, a atividade de trabalho
produtivo é algo que não lhe cabe.
Também no meio rural evidencia-se a divisão sexual do trabalho, pois,
desde muito cedo os meninos e as meninas aprendem determinadas funções
específicas (SCHWENDLLER, 2002, p. 2).
Atestam Salvaro (2004) e Melo (2001) que nos assentamentos destaca-se
a dupla e/ou tripla jornada de trabalho da mulher assentada. Nesse contexto, a
mulher trabalha o dia todo e no fim da tarde retorna ao seu lar com afazeres da
casa e os cuidados das crianças. Isto quando não está inserida nos movimentos
sociais, que por sua vez, leva a mulher a uma tripla jornada de trabalho.
Segundo Abramovay (2000, p. 348), nessa divisão de trabalho a mulher
é responsável pela reprodução social do seu grupo familiar, tanto no trabalho
doméstico, quanto na força de trabalho produtivo. No entanto, não obstante há
uma relevância na produção agrícola, seu trabalho ainda permanece invisível
(ABRAMOVAY, 2000:349).
Entretanto, diante do avanço científico e tecnológico que tem facilitado o
acesso à informação e aos movimentos sociais rurais, sobretudo os que lutam
pelos direitos femininos, a visão de mundo das mulheres lavradoras, vêm se
alterando ao longo do tempo, fato que foi contatado na presente pesquisa.
Já o discurso de Maria José, 45 anos, casada, com filhos, revela que hoje
se sente “empoderada” para “bater de frente” com quer que seja que coloque
em risco seus direitos:
Considerações finais
Referências
<https://www.contag.org.br/index.php?modulo=portal&acao=interna&codpa-
g=256&nw=1> Acesso em: 25 Set. 2015.
HIRATA, Helena. Nova Divisão Sexual do Trabalho: Um Olhar Voltado para Empresa
e a Sociedade. São Paulo: Boitempo, 2002. 336p.
Raquel Quirino
Pós-Doutora em Educação.
Centro Federal de Educação Tecnológica de Minas Gerais - CEFET-MG
quirinoraquel@hotmail.com
Resumo
1 Pesquisa realizada com recursos da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Minas Gerais –
FAPEMIG.
Introdução
Podemos assim, inferem que existe um grande interesse das mulheres pela qua-
lificação internacional oferecida pelo CsF.
Sobre as dificuldades, discriminações e preconceitos pela sua condição
feminina, os relatos de algumas das egressas do Programa são animadores:
Não sofri nenhum preconceito quando participei do processo sele-
tivo, tampouco quando fazia o curso no exterior. Pelo contrário, os
alemães são muito receptivos e incentivam muito a gente. (Aluna
do curso de Engenharia de Materiais, na Alemanha).
Considerações finais
Referências
CARVALHO, Marília Gomes de. et. al. Relações de gênero e tecnologia. Curitiba:
Editora CEFET-PR, 2003.
HIRATA, Helena. Nova divisão sexual do trabalho? Um olhar voltado para a empresa
e a sociedade. São Paulo: Bontempo, 2002,
IBGE. Síntese de Indicadores Sociais: uma análise das condições de vida da popula-
ção brasileira: 2015. Rio de Janeiro: IBGE, 2015.
MELO, Hildete Pereira de. LASTRES, Helena Maria Martins. MARQUES, Teresa Cristina
de Novaes MARQUES. Gênero no Sistema de Ciência, Tecnologia e Inovação no
Brasil. Revista Gênero, vol. 1/2004.
Raquel Quirino
Pós-Doutora em Educação.
Centro Federal de Educação Tecnológica de Minas Gerais - CEFET-MG.
Departamento de Educação
Programa de Pós-Graduação em Educação Tecnológica
quirinoraquel@hotmail.com
Resumo
Introdução
Ergonomia
nível, a gente olha mais detalhe a gente faz a coisa mais bem feiti-
nha, entendeu? Agora a dificuldade é a questão de peso, entendeu,
porque você não pode escolher trabalho, entendeu? Hoje, você tá
aqui tirando um pontinho, mas está chapando uma massa, enten-
deu? A dificuldade é o peso.” (Pedreira)
Considerações finais
e seu objetivo de propor medidas concretas para uma melhor adaptação dos
meios tecnológicos de produção e dos ambientes de trabalho, contribuindo
para a produtividade e para a qualidade de vida do (a) trabalhador (a).
A opção pelo estudo teórico e pesquisa qualitativa acerca dos temas
necessários à compreensão do fenômeno estudado - relações de gênero no
ambiente de trabalho e fatores ergonômicos -, permitiu identificar e analisar
as percepções de mulheres sobre suas próprias condições de trabalho. Visa
também contribuir para que ações promotoras de uma real adaptação das
condições de trabalho às características psicofisiológicas dos trabalhadores, de
modo a proporcionar um máximo de conforto, segurança e desempenho efi-
ciente, sejam implantadas, conforme os parâmetros estabelecidos na Norma
Regulamentadora 17.
Referências
HIRATA, Helena. KERGOAT, Daniele. A Classe Operária tem dois Sexos. Estudos
Feministas. v.2, n. 3, p.93-100,1994.
Resumo
Nesta comunicação reuno alguns aportes teóricos da pesquisa que estou desen-
volvendo sobre a trajetória de vida de homens homossexuais de minha geração,
que vivem em pequenas cidades do interior do Estado de Santa Catarina, no
Brasil. Explorando suas experiências, procuro identificar, entender e problema-
tizar como, na trajetória de vida de cada um deles, em meio a determinadas
condições históricas e sociais, houve o desenvolvimento de formas alternati-
vas de subjetivação, negociação, resistência e agência, desafiando uma cultura
heterossexual hegemônica. Ao final, sinalizo algumas impressões preliminares
tomadas no trabalho de campo (entrevistas) que ainda está sendo realizado,
com realce às vivências de silêncio e resiliência que marcaram e persistem em
suas trajetórias.
Palavras-chave: viados; experiências; interior; silêncio; resiliência.
Introdução
2 “Na análise cultural, a noção de abjeto é estendida para abarcar tudo aquilo que ameaça o conforto
da sensação de identidade e ‘mesmidade’: o monstruoso, o corpo feminino, o homossexual, a deca-
fazendo novos usos de produtos culturais múltiplos, muitos dos quais de uma
cultura hegemônica, branca e heterossexual.
São experiências que não serão encaradas como uma prova incontestável
e uma explicação acabada do que era a viadagem. Esta seria uma abordagem
nada queer, eis que teria por pressuposto a existência de uma identidade dada
de antemão e fixa. Além disso, redundaria na percepção da experiência como
uma evidência para o modo diferente de ser e agir dos viados, como se isso
fosse algo igualmente dado, pronto e acabado. Pelo contrário, como explicado
por Joan Scott (1998, p. 301), ao invés de tomarmos a experiência como a
evidência que sustenta uma explicação, devemos ter em mente que a própria
experiência é algo resultante de um conjunto de circunstâncias, ou seja, é cons-
truída, social, histórica e discursivamente (através da linguagem).
Tais pressupostos levam Richard Miskolci (2009) a afirmar:
[...] Não são sujeitos que têm experiências, mas, ao contrário, são
experiências que constituem os sujeitos. Assim, elas criam sujeitos
marcados por processos sociais que precisam ser reconstituídos,
explicados e analisados pelo pesquisador. A invisibilidade da expe-
riência esconde sua criação social e histórica: os sujeitos marcados
pela diferença (p. 173).
Considerações finais
Referências
BERLANT, Lauren; WARNER, Michael. Sexo en público. In: MÉRIDA JIMÉNEZ, Rafael
M. Sexualidades transgresoras. Barcelona: Icaria, 2002, p.229-257.
BRAZ, Camilo. Entre sobreviventes e bichas dos tempos dourados – memória, homos-
sexualidade e sociabilidade na cidade de Goiania, Brasil. Cadernos Pagu, Campinas,
nº 45, julho-dezembro de 2015, p. 503-525.
HALPERIN, David. How to be gay. Cambridge and London: Harvard University Press,
2012. 549p.
PELÚCIO, Larissa. Traduções e torções ou o que se quer dizer quando dizemos queer
no Brasil. Periódicus. 1. ed. Salvador, maio-outubro/2014, p. 1-24.
SILVA, Leandro Soares da. Vinte quatro notas de viadagem. Periódicus. 2. Ed. Salvador,
novembro/2014-abril/2015, p. 1-11.
SILVA, Tomaz Tadeu da. Teoria Cultural e educação – um vocabulário crítico. Belo
Horizonte: Autêntica, 2000. 125p.
Resumo
Introdução
trauma, ele se torna, assim, um trauma cultural que diz respeito ao inconsciente
da cultura (FELMAN, 2014).
Com base nessas considerações e tendo em vista a importância e a neces-
sidade de debater sobre a amplitude das questões que perpassam as relações
de gênero, o presente estudo tem o objetivo de analisar e discutir a violência
contra a mulher, transexuais e homossexuais, entendida sob a forma de um
trauma cultural de gênero. Para tanto, consiste em uma pesquisa qualitativa,
com a busca de autores que abordam a temática. Realizou-se uma reflexão em
cima do que os autores trazem sobre o assunto tendo como guia para isso a
teoria psicanalítica.
Felman (2014) aponta para uma cegueira cultural em ver o trauma, refle-
tindo em uma sociedade que não vê o trauma de gênero e, além disso, vira as
costas para suas manifestações e consequências. Assim, o discurso das vítimas
e da cultura sobre os traumas de gênero permanece, até a atualidade, um dis-
curso esvaziado, onde a capacidade de representação não se dá e a repetição
dos casos de violência de gênero ocorre diariamente.
A partir destas constatações nos questionamos sobre o que esse fato diz
sobre a nossa cultura e as relações de gênero nela construídas. Entendemos que
as raízes disso podem ser encontradas na estrutura da cultura que é construída
por moralidade e normatividade que dizem sobre as condutas dos sujeitos e
que possuem repercussões no viver e na forma de construção e de acolhimento
das emoções pela sociedade.
A violência de gênero acaba por ser legitimada por parte da sociedade,
muitas vezes encobrida sobre o véu do casamento, no qual as relações de
gênero são vivenciadas de maneira traumática, visto que a violência sofrida
acaba por ser abafada e vista como naturalizada por seus membros e pela
sociedade (FELMAN, 2014). Assim, torna-se um tema que não é discutido com
a profundidade necessária. Tanto mulheres quanto homossexuais e transexu-
ais estão submetidos a um julgamento social que manifesta uma estranheza
quanto à manifestação destas identidades na cultura, o que aumenta mais ainda
a cegueira em reconhecer o que de fato significa o trauma de gênero e o que
de fato ele diz sobre as relações e a sociedade.
Okin (2008) aponta que nos debates contemporâneos sobre gênero há
uma tendência a separar questões públicas de questões privadas, separando-se
assim o pessoal do político. Para a autora tal percepção chega ao ponto de o
político e o público serem discutidos de maneira isolado ao que é privado ou
pessoal. Esta dicotomia entre público e privado está presente originalmente na
divisão de trabalho, que designava ao homem as ocupações da esfera pública,
econômica e política e às mulheres a esfera privada da domesticidade e repro-
dução (OKIN, 2008). O que acaba por colaborar com a ideia de que os traumas
sofridos dentro de relações privadas, como o casamento por exemplo, aca-
barem por não serem reconhecidos como questões que devem ser discutidas
coletivamente, reforçando, assim, a invisibilidade da violência de gênero.
Soma-se a isso a ideia de que “grande parte da experiência real das “pes-
soas” enquanto elas viverem em sociedades estruturadas por relações de gênero,
de fato depende de qual é seu sexo” (OKIN, 2008, p.310). Para Narvaz e Koller
(2007) as práticas e produções discursivas acabam por legitimar desigualdades
de gênero e normalizar papéis e lugares de gênero nas relações sociais dos
sujeitos, sendo estas sexuais, afetivas ou familiares.
Felman (2014) fala que o ato de ver vai além do fisiológico e torna-se
um ato inconscientemente político. Com base nisso, refletimos o que habita o
inconsciente cultural que confere a cultura a sua deficiência em ver os traumas
de gênero. O autor aponta o fato de existir uma espécie de prescrição política
para não ver a violência de gênero, refere, ainda, que tal prescrição que enco-
bre a visão é motivada pelo ódio. Assim, o ódio que não é reconhecido pela
cultura como tal e encontra sua forma de expressão na violência psicológica,
física e sexual, por exemplo.
O ódio permanece de forma latente na cultura o que dificulta a construção
de discussões por parte da sociedade sobre o que está no cerne da violência
de gênero que habita as relações de gênero e a sociedade contemporânea.
Entendemos que este ódio nasce das concepções culturais do certo e do errado,
entendimentos estes calcados em construções morais que podem gerar o ódio
contra o que desvia do considerado certo. Este ódio que exclui o considerado
diferente, exclui também da visão a violência que sofrem.
Para Birman (2012) também entra em questão o narcisismo da nossa cul-
tura, na qual o imperativo é o individualismo e as vivências solipsistas, nas quais
o outro é considerado um inimigo e um rival, sendo assim, não há vivências de
solidariedade e de alteridade. Esta questão colabora com os posicionamentos
políticos e sociais perante as violências de gênero.
Considerações finais
Referências
BRASIL. Lei no. 11.340, de 7 de agosto de 2006. Lei Maria da Penha. Disponível em
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2004-2006/2006/lei/l11340.htm>. Acesso
em: 07 de jul. de 2016.
Resumo
Introdução
campo das conjugalidades e parentalidades passou muito mais por uma higieni-
zação (RIOS, 2013) do que por uma tecnicização.
OLIVEIRA (2007), ao entrevistar magistrados brasileiros acerca de suas
posições quanto às conjugalidades homoeróticas, apontou para a proeminência
de argumentos morais e religiosos, sobre quaisquer argumentos técnicos. Foi
às noções morais dos magistrados que a advocacia defensora dessas teses teve
de apelar; a discussão não se deu em termos de liberdade, ou legalidade, mas
sim em termos do que poderia ou não ser considerado normal e/ou legítimo no
comportamento sexual humano1.
No fim, inobstante o giro de um campo eminentemente político – o
Legislativo – para um campo supostamente técnico – o Judiciário – a discussão
permaneceu sendo travada em termos morais e religiosos. O Judiciário parece,
assim, ser tão político quanto as demais instâncias que se propõem a discutir a
sexualidade.
1 Essa é uma tendência, fique claro, não só brasileira: Butler (2003) ao abordar a discussão dos Pactos
Civis na França, observa o mesmo movimento.
Considerações finais
Referências
FONSECA, Márcio Alves da. Michel Foucault e o Direito. São Paulo: Editora Max
Limonad, 2002.
OLIVEIRA, Rosa Maria Rodrigues de. “Isto é contra a natureza...”: acórdãos judiciais
e entrevistas com magistrados sobre conjugalidades homoeróticas em quatro esta-
dos brasileiros. IN: GROSSI, Miriam Pillar; MELLO, Luiz; UZIEL, Anna Paula (orgs.).
Conjugalidades, parentalidades e identidades lésbicas, gays e travestis. Rio de
Janeiro: Garamond, 2007. Pp.131-152.
SEXUALIDADE E PRECONCEITO:
INTOLERÂNCIA E DISCRIMINAÇÃO DENTRO
DA PRÓPRIA COMUNIDADE LGBT
Resumo
Introdução
Metodologia
Resultados e Discussão
Quadro 1 – Respostas dos entrevistados para a primeira pergunta da segunda parte do questionário.
Resposta para a sexta questão: ““Curto macho, corpo e jeito de homem.
Pessoa
Se fosse pra ficar com um viadinho (afeminado) prefiro ficar com
entrevistada
mulher”. Qual a sua opinião sobre essa afirmação?”
Entrevistado É o preconceito que foi inserido na cabeça de homossexuais ou bissexuais.
35 Apesar de terem a mesma orientação sexual, o preconceito prevalece.
Entrevistado Misógina, heteronormativa e infelizmente muito comum, principalmente no
59 meio gay.
Precisei de muita instrução pra não falar mais isso, coisa que fazia aos 15/16
Entrevistado
anos. Hoje acho ridículo dizer isso, mas pode ser uma questão de falta de
69
informação.
Entrevistado Há um tempo eu diria que concordo com essa frase. Hoje sinto vergonha de
75 um dia ter concordado com isso.
Fonte: Dados organizados pelos autores, com base nas respostas dos entrevistados
Quadro 2 – Respostas dos entrevistados para a oitava pergunta da segunda parte do questionário.
Fonte: Dados organizados pelos autores, com base nas respostas dos entrevistados
Considerações finais
A maior parte deste preconceito ainda existe por conta de uma questão
histórica, onde se eleva a heteronormatividade, impondo o que é certo (homens,
másculos e fortes e mulheres, femininas e delicadas) perante a sociedade, bem
como por falta de informação sobre os diferentes grupos da comunidade LGBT+.
E este modo heteronormativo de pensar, este preconceito, também é refletido
dentro da própria comunidade LGBT+.
O que não se pode esquecer é que se hoje em dia a sociedade está
começando a se tornar mais flexível, diminuindo este tabu imposto anos atrás,
é porque, em dado momento, travestis, transexuais, lésbicas “bofes” e gays “afe-
minados” foram às ruas e deram “a cara a tapa” para conseguir um pouco de
respeito. Levanta-se, então, a questão: “Se o preconceito continua sendo tão
grande dentro do movimento LGBT+, não havendo, muitas vezes, respeito dos
próprios membros para com a “minoria”, como querem que toda a sociedade
os respeite?”.
Referências
CLARKE, E., ELLIS, S., PEEL, E., RIGGS, D. Lesbian, Gay, Bisexual,
TransandQueerpsychology: na introduction. Cambridge: Cambridge University
Press, 2010.
COSTA, C. G., PEREIRA, M., OLIVEIRA, J. M. de, NOGUEIRA, C. Imagens sociais das
pessoas LGBT. In C. Nogueira & J. M. de Oliveira (Eds.). Estudo sobre a discrimina-
ção em função da orientação sexual e da identidade de género (p. 93-147). Lisboa:
Comissão para a Cidadania e a Igualdade de Género, 2010.
A AUTOAGRESSÃO REGULATÓRIA:
CONSIDERAÇÕES PRELIMINARES
Resumo
Introdução
A autoagressão regulatória
Considerações finais
Esta é somente uma sutil contribuição para que melhor possamos com-
preender o modo como o problema da autoagressão regulatória merece maior
atenção, dado o diálogo que ele propõe com o que se tem pesquisado acerca
das questões de gênero e da heterossexualidade compulsória. A necessidade
dessa compreensão mais ampla acerca do que somos, ainda que provisoria-
mente, posto que de um instante para o outro, é possível que passemos a ser
algo totalmente diferente, se dá para que se atenuem os descompassos exis-
tentes entre a maneira como se comporta a nossa sociedade e a diversidade
presente no seio dessa própria sociedade.
Assim, quando a visibilidade dessas questões atingirem os espaços que
lhes são convenientes – as escolas, por exemplo –, a enorme barreira que o
preconceito construiu talvez possa começar a ser desconstruída. Com isso, a
formação de uma consciência coletiva atenta a essas questões será o remédio
mais eficaz para que todos os seres humanos – independentemente de qualquer
classificação de natureza social, étnica ou racial, possa viver com a dignidade
que lhe é de direito.
Referências
SCOTT, Joan Wallach. Gênero: uma categoria útil de análise histórica. Educação &
Realidade. Porto Alegre, vol. 20, nº 2, jul./dez. 1995, pp. 71-99.
WITTIG, Monique. The straight mind and others essays. Boston: Beacon, 1992.
Resumo
O presente artigo trata da prática da reza em Boa Vista – PB, analisando a sua
constituição desde os primórdios da fundação da cidade, e através das influ-
ências de origem católica européia, indígena, africana. Acentuando a potência
subversiva da reza frente à norma e a sua constituição como uma prática recon-
figurada que subverte a força normativa dos dogmas na religação com o divino.
Problematizando como as mulheres desenvolveram mecanismos de cuidado
de si, aumentando suas subjetividades. Constituindo um cuidado sobre/ para
o outro/ a de forma que destoam e desconstroem a lógica do farmacopoder.
Ressaltando como o oficio da reza representa um lugar de refúgio, notabili-
dade e voz para as mulheres em outras épocas e nos dias de hoje diante da
heteronormatividade.
Palavras-chave: Potência; Memória; Cuidado; Resistência; Mulheres
Introdução
faz útil para a compreensão de alguns mecanismos de opressão como nos fala
Adriana Piscitelli (2008).
Em Boa Vista-PB muitas dessas mulheres adquiriram notabilidade assu-
mindo a responsabilidade pela organização da vida religiosa de cada localidade,
por meio de rezas e novenas. Muitas capelas tinham difícil acesso, outras não
tinham pároco, constituindo-se, na ausência da instituição religiosa no local, em
verdadeiros locais de resistência das mulheres numa sociedade regida por rígi-
dos princípios heteronormativos, com traços acentuadamente patriarcais. Era o
lugar onde elas exerciam autoridade e tinham voz, formando beatas, rezadeiras,
curandeiras.
A região do Cariri, pelo seu múltiplo cenário, construiu crenças peculia-
res com raízes em várias culturas e que eram praticadas, principalmente, pelas
mulheres, e Boa Vista se destaca até os dias de hoje por esse movimento de
constituição de crenças e saberes. São simpatias, rezas, curas de enfermidades
que dificultavam a lida cotidiana para “abrir os caminhos” por onde passavam
saberes resguardados pela tradição oral, passados de mães para filhas, de avós
para netas e assim por diante, através dos tempos.
Dona Ritinha, rezadeira da região a qual entrevistei, narra suas estórias,
sempre risonha, enfatizando a alegria de ser patrimônio imaterial histórico de
Boa Vista, título recebido da Câmera de Vereadores local. Mesmo com a saúde
debilitada, pede para nos rezar e nos orienta para pegarmos alguns galhos da
acácia que sombreia a sua casa. O ramo é parte importante da reza, serve
como um tipo de imã que suga para si os maus fluídos, por isso tem que ser
verde viçoso. Dona Ritinha prepara cuidadosa, o galho verde, pede para que eu
me sente com postura ereta no banco à sua frente e descruze braços, pernas e o
cabelo, pois assim o mau olhado sairá de mim sem se prender em nenhum nó.
A reza é um momento de interação. Quem é rezado/a participa respon-
dendo as perguntas da rezadeira e recebe conselhos e receitas de banhos, chás
e infusões. Ao longo do dia, ainda percorrendo a cidade, a madrinha Lidinha de
minha mãe conta que D.Ritinha apagara até incêndio de curral, ia aonde fosse
chamada, costurava mortalhas para os defuntos que não tinham posses, levando
uma vida de muitas andanças e muito trabalho, o que se confirma nos relatos da
própria Dona Rita, cujas narrativas parecem lhe emprestar mais vigor ao corpo
envelhecido quando, seguida de gestos animados, transforma sua experiência
numa fonte de cuidados, conselhos e orientações para se levar uma boa vida.
Dona Rita atualiza para mim a face da personagem “O Narrador” de Walter
Benjamim (1994), pois suas estórias, vivências são recriadas através de sua fala
e de seu jeito de falar, atualizando-se nas nossas vidas como aprendizado.
Outra rezadeira da região é Rosa, esposa de um sobrinho de minha avó.
Rosa me fala que aprendeu a reza com sua mãe, conta que: “antigamente o
povo tinha muita crença, mas hoje em dia com médico e remédio o povo não
tem mais” (21/03/15). Ela me explica que “é preciso pegar três galhinhos verdes
de alguma planta” e assim começa: “com dois te botaram” e aponta com o
dedo para os seus próprios olhos, “com três eu te tiro” aponta para os galhos.
Em seguida nos orienta: “depois reza três Ave Maria, três Pai Nosso, oferecido
as cinco chagas de Cristo” (21/03/15).
Rosa fala que o pai era curado de cobra porque alguma rezadeira havia
lhe benzido quando uma cobra o feriu e ele tinha sarado. Sendo assim bas-
tava que cuspisse na boca de algum animal ou pessoa picada que o veneno
se transformava em força para o corpo e a pessoa/ou animal se reabilitava, a
cura de cobra pela rezadeira é um rito complexo, um copo de água é pego e
dentro colocado areia fina e limpa, manda-se que o doente beba um pouco
da água, a areia serve para filtrar o veneno, depois o doente fica em completo
isolamento, pois seu corpo está frágil e qualquer pessoa mal intencionada pode
derrubá-lo apenas com os seus maus sentimentos. Seu pai ainda contava que
muito usado para curar picada de serpente era o pinhão roxo, pois quando um
tejuaçu – lagarto médio da região também conhecido como tejo ou tiú – era
picado recorria ao pinhão e assim voltava e batia na cobra, repetindo isso mui-
tas vezes, até que vencia a briga.
Rosa criou toda uma família à base da reza, rezava também seus animais,
seu rebanho de leite, quando ainda o tinha. Ela me explica que: “mau olho faz a
gente ficar pra baixo, muito desanimado e só a reza é capaz de tirar, o médico
essas coisas não resolve. E o mau olho pega em tudo, de bebê, planta a animal,
seja gente considerada feia ou bonita. E quando a pessoa a ser rezada está
muito carregada, é preciso esconder um galhinho no peito para que não passe
para si. Tem que se rezar de frente a uma porta aberta por aonde o quebranto o
mau olho vá embora, e depois se pega o ramo e se joga o mais longe possível”
(Diário de campo, 18/12/15 e 21/03/15).
A prática de cura pela reza destoa dos processos de medicalização da
medicina moderna, a pessoa a ser rezada é como: “um todo que faz parte de
um todo maior – a vida – onde cada criatura tem seu lugar e é amada em um
ciclo sem fim” como me disse Dona Ritinha (21/03/15).
Na reza não existe oposição entre corpo e alma: “a doença que está no
meu corpo está na minha alma, e o que está na minha alma está no meu corpo”
(depoimento de D. Rita, 21/03/2015). Enquanto na reza para carne criada – tor-
ções, inchaços ou ossos quebrados - um pano é costurado a reza é sussurrada,
aos poucos a torção se esvai, o fastio, a tristeza. A reza se constituí como uma
prática reconfigurada que subverte a força normativa dos dogmas na religação
com o divino, um cuidado de si e para com o outro, destruindo dicotomias,
repassando vivências e aprendizado, demonstrando ser uma potência efetiva
de vida que resiste com as mulheres e as mulheres por toda história com ela.
Considerações finais
Talvez os motivos que mantenham a reza ainda viva tenham a ver com
aquilo que tenta apagá-la, como se tenta fazer com todos os lócus de práticas
sociais que alimentam a potência de ação dos sujeitos e uma força de subver-
são. A potência da reza aparece com vigor nas narrativas das rezadeiras. Homi
Bhabha (1992), autor pós-colonial indiano nos dirá que o que está em jogo é a
luta pela posse da narrativa histórica, é a tentativa da norma de apagar a outra
versão que se compreende em uma narrativa rica e muito difícil de contrapor,
é preciso que as diferenças, os subalternos, as multidões queer contem suas
experiências, insurreições e memória. José Jorge de Carvalho (2001) nos fala da
incorporação dessas experiências/ narrativas orais, os balbucios, seus gestos,
seus silêncios para inscrever uma versão múltipla e sem máscaras da história.
Essa questão é que me alimenta para voltar atrás de minhas memórias desde
Bete e Inha, primas segunda, com quem passei boa parte da infância e que
me contavam suas experiências de vida, de fé, de sobrevivência. É preciso que
essas narrativas não se percam, é preciso não se calar, é preciso que se conte a
própria vivência.
Nietzsche argumenta sobre o corpo como um fio condutor, sendo o
corpo o nosso guia mais seguro e efetivo para elucidarmos a tudo, ele ainda
nos diz que o corpo, os sentidos, os instintos e os afetos nos permitem habitar e
compreender nitidamente a realidade, e assim o é o corpo da rezadeira em exer-
cício, suas mãos que se erguem com o ramo em sinal de cruz, rastreando-nos
a expulsar o mal, sua voz sussurrada, seus olhos firmes. Se a vida e o humano
são vontade de potência, assim o são essas mulheres que mediante uma prática
de oralidade reconfigurada reafirmam a completude do corpo, do devir e dos
Referências
CARVALHO, José Jorge de. O olhar etnográfico e a voz subalterna. Horiz. antropol.,
Jul 2001, vol.7, no.15, p.107-147(disponível em: http://www.scielo.br/pdf/ha/v7n15/
v7n15a05.pdf)
FOUCAULT, Michel. “As técnicas de si”. Paris: Gallimard, 1994, Vol. IV, pp. 783-813.
(Disponível em: http://cognitiveenhancement.weebly.com/uploads/1/8/5/1/18518906/
as_tcnicas_do_si-_michel_foucault.pdf)
PRECIADO, Beatriz. Multidões Queer: Notas para uma Política dos “Anormais”. In:
Estudos Feministas. Florianopólis, 19 [1], Jan__ Abr – 2011.
Resumo
Introdução
1 Constituição de 1937: “Art. 124 A família, constituída pelo casamento indissolúvel, está sob a pro-
teção especial do Estado. Às famílias numerosas serão atribuídas compensações na proporção de
seus encargos.” Constituição de 1946: “Art. 163 A família é constituída pelo casamento de vínculo
indissolúvel e terá direito à proteção especial do Estado.” Constituição de 1967: “Art. 167 A família
é constituída pelo casamento e terá direito à proteção dos Poderes Públicos.” Emenda Constitucional
1/1969: Art. 175 A família é constituída pelo casamento e terá direito à proteção dos Poderes Públi-
cos.”
Considerações finais
Referências
CARVALHO, José Murilo de. Cidadania no Brasil. O Longo Caminho. Rio de Janeiro:
Civilização Brasileira, 2008.
Resumo
Introdução
1 Além de atender às finalidades inerentes a toda entidade de classe, a Ajuris tem participado intensa-
mente dos grandes debates nacionais e da discussão de temas relacionados com o exercício pleno da
cidadania. Essa linha de atuação apoia-se no pressuposto de que a manutenção de uma sociedade
democrática exige constante vigilância, aliada ao exercício permanente do juízo crítico sobre todas
as instituições, e não apenas sobre o Poder Judiciário, e é particularmente necessária nos tempos que
correm. (ASSOCIAÇÃO DOS JUÍZES DO RIO GRANDE DO SUL, 2012).
Por fim, foi na segunda onda renovatória que o movimento brasileiro se aproxi-
mou do internacional.
A partir dos anos 1990 inicia-se a terceira onda, havendo uma prolifera-
ção de identidades políticas no interior do movimento. Facchini (2009) chama
esse período de reflorescimento do movimento. Nesse período há um apro-
fundamento da redemocratização através da implementação de uma política
de prevenção às Doenças Sexualmente Transmissíveis/Aids, baseada na ideia
de parceria entre o Estado e a sociedade civil e no incentivo às políticas de
identidade. Verifica-se verdadeira parceria com o Estado e com o mercado
segmentado.
É possível afirmar que ao longo da sua existência o movimento foi incor-
porando diferentes temas à sua agenda e tornando-se um interlocutor respeitado
em diferentes espaços políticos, como no Judiciário. Através de diferentes ações,
o movimento LGBTT tem demandado o respeito aos direitos e atendimento às
necessidades da população homossexual.
Nesse contexto, o Judiciário vem, através de decisões judiciais cada vez
mais flexíveis proferidas pelo país afora, atualizando o direito e garantindo o
seu reconhecimento aos homossexuais. A determinação feita pelo STF de que
seja removido do Código Penal Militar termos e expressões considerados dis-
criminatórios a homossexuais, demonstra claramente a efetiva participação do
Judiciário na concessão desses novos direitos.
Considerações Finais
Referências
DALLARI, Dalmo de Abreu. O Poder dos Juízes. São Paulo: Editora Saraiva, 2007.
Resumo
Nos últimos anos, vem ocorrendo uma série de embates entre defensores dos
direitos LGBT e ativistas dos movimentos religiosos - especialmente as lide-
ranças de denominações evangélicas. Utilizando a retórica da liberdade de
expressão, esses segmentos religiosos desqualificam e combatem a diversidade
sexual, adentrando a arena política através de seus representantes no Congresso
Nacional, que se articulam compondo frentes parlamentares e interferindo na
agenda do movimento LGBT. Este trabalho propõe examinar as particularida-
des do enfrentamento do movimento LGBT com os segmentos evangélicos, a
partir de episódios recentes envolvendo parlamentares da Frente Parlamentar
Evangélica, que tiveram repercussão na mídia e geraram controvérsias.
Palavras-chave: homofobia religiosa; arena política; produção de políticas para
população LGBT; Frente Parlamentar Evangélica; movimento LGBT.
Introdução
1 O termo (neo) pentecostal será utilizado aqui para englobar tanto as denominações evangélicas
pentecostais quanto as neopentecostais, considerando a proximidade das suas concepções teórico-
-doutrinárias acerca da homossexualidade.
2 O objetivo central desta pesquisa visa apreender os nexos entre a expansão da produção de políticas
e direitos igualitários para a população LGBT no Brasil, na última década, e as reações conservado-
ras dos setores evangélicos na arena política, focalizando as percepções e ações dos parlamentares
da Frente Parlamentar Evangélica (FPE), no Congresso Nacional.
3 João Mascarenhas foi o primeiro representante do MHB a se apresentar no Congresso Nacional, ante
duas Subcomissões da Constituinte. (CÂMARA, 2015)
4 O deputado Marco Feliciano havia postado numa rede social, que “africanos descendem de ancestral
amaldiçoado por Noé. Isso é fato.” E também, que “a podridão dos sentimentos homoafetivos leva ao
ódio, ao crime, à rejeição.” Além de ter associado a Aids a uma doença gay. (NATIVIDADE, 2013)
uma rede social: “nós não pautamos nossas ações pelo que a mídia quer ou
grupos de pressão do ativismo gay. O PSC não pode dar ‘mole’.” Sendo assim, o
deputado Marco Feliciano foi eleito presidente da CDHM, em março de 2013.
Houve manifestações e atos de protestos nas ruas, assim como nas primeiras
sessões da Comissão presididas pelo mesmo, que reagiu, aprovando um reque-
rimento para restringir o acesso do público às reuniões do colegiado. (FOLHA
DE SÃO PAULO, 2013)
A gestão do deputado Marco Feliciano na CDHM foi marcada pela apro-
vação de propostas de teor anti-homossexual. A primeira ação de enfrentamento
pelo deputado foi a votação do projeto conhecido como cura gay5, que pre-
tendia derrubar trechos de uma resolução do Conselho Federal de Psicologia,
que estabelece normas para os psicólogos em relação à questão da orientação
sexual, vedando a atuação dos mesmos em eventos e serviços que proponham
tratamento e cura da homossexualidade. Foi realizada uma audiência pública
proposta pelo Deputado Feliciano, para discutir o ‘direito de deixar a homos-
sexualidade’, e na ocasião, palestraram a psicóloga Marisa Lobo, e o pastor
evangélico Silas Malafaia defensores do referido PDC. As narrativas de defesa
construídas pelos mesmos têm o sentido de legitimar o discurso religioso na
arena política, a partir da apropriação (sem um rigor científico) de conhecimen-
tos do campo da psicologia, psicanálise, genética, etc, ocorrendo um processo
de transfiguração desse discurso puramente religioso, que ganha contornos
seculares (RORTY, 1996).
O que se pretende ressaltar é o fato de tais discursos e práticas, derivados
de certas interpretações teológicas e exegeses bíblicas particulares, não se limi-
tarem aos templos religiosos, programas de rádio e televisão, mas adentrarem
a arena política através dos parlamentares evangélicos que representam essas
denominações religiosas, ferindo os princípios constitucionais da laicidade esta-
tal. Zylbersztajn (2012) sustenta que a laicidade do Estado brasileiro não é plena,
e que o processo de consolidação da laicidade é histórico e construído, tal como
ocorre com os demais direitos fundamentais. De acordo com Pierucci (2008),
pessoas livres (re) querem Estados laicos. O autor refere-se enfaticamente à
5 Trata-se do Projeto de Decreto Constitucional (PDC 234/11), apresentado pelo deputado federal João
Campos (PSDB-GO), que havia sido arquivado a pedido de seu próprio proponente, devido, entre
outras razões, a pressões internas do seu próprio partido.
Considerações finais
Como afirmaram Mello et. all (2014, p. 315), “nunca se teve tanto, e o que
há é praticamente nada”, referindo-se ao paradoxo sobre as políticas públicas
para a população LGBT no Brasil.
Conforme vimos, ao movimento LGBT na atualidade, são colocados obs-
táculos que se referem à produção de políticas públicas e ampliação de direitos
civis para essa população. Uma possibilidade de superação de tais obstácu-
los parece estar no enfrentamento de seus opositores na arena política, o que
implica, em utilizar as estratégias dos mesmos, mobilizando as bases de seu
movimento a fim de eleger parlamentares que representem seus interesses na
arena política. E ainda, uma melhor articulação de parlamentares (das frentes
parlamentares pró LGBT e outras frentes que os representem) pela aprovação
de projetos de lei favoráveis à população LGBT, assim como a criação de novas
frentes parlamentares através da união de representantes setoriais LGBT de par-
tidos políticos diversos, que atuem de forma a superar divergências partidárias,
garantindo o trabalho em conjunto e criando assim, possibilidades de enfrenta-
mento da onda conservadora no Congresso Nacional.
Referências
ESTADÃO. Projeto que criminaliza a homofobia será arquivado no Senado. São Paulo,
jan. 2015. Disponível em http://brasil.estadao.com.br/noticias/geral,projeto-que-crimi-
naliza-homofobia-sera-arquivado-no-senado,1617260. Acesso em 05 jun 2016.
MELLO, L. et al.. Políticas públicas para a população LGBT no Brasil: notas sobre
alcances e possibilidades. Cadernos Pagu (39), julho-dezembro de 2012. Disponível
em <http://www.scielo.br/pdf/cpa/n39/14.pdf> Acesso em 20 mar 2014.
NATIVIDADE, M. & LOPES, P. V. L..O direito das pessoas GLBT e as respostas religio-
sas: da parceria civil à criminalização da homofobia. In DUARTE et al.(orgs). Valores
Religiosos e Legislação no Brasil. A tramitação de projetos de lei sobre temas morais
controversos. Garamond, Rio de Janeiro, 2009.
RORTY, R. Religion as a conversation stopper. In: Philosophy and social hope. Penguin
Books, 1999.
UOL Educação. Não aceito propaganda de opções sexuais. Da Redação, São Paulo,
mai, 2011. Disponível. em <http://educacao.uol.com.br/noticias/2011/05/26/nao-a-
ceito-propaganda-de-opcoes-sexuais-afirma-dilma-sobre-kit-anti-homofobia.htm>
Acesso em 20 mar 2014.
GT 04 -
Travestilidades, Transexualidades, Lesbianidades e Homosexualidades:
Transgressões e Resistências
Resumo
Introdução
Metodologia
Resultados e discussão
Fonte: Dados organizados pelos autores, com base nas respostas dos entrevistados
Quadro 3 – Respostas dos entrevistados para a terceira pergunta da segunda parte do questionário
Quadro 4 – Respostas dos entrevistados para a sétima pergunta da segunda parte do questionário
Considerações finais
Através dessa pesquisa, foi possível notar que há enorme dificuldade, por
parte de indivíduos transexuais, em mudar seu nome e sexo definidos no regis-
tro civil pelo social em ambientes públicos e privados, principalmente dentro de
escolas e universidades. Isso ocorre por conta da não aceitação da maioria das
instituições em alterar o nome sem um pedido judicial. Nem todxs xs entrevis-
tadxs são tratadxs pelo nome social em ambiente acadêmico, ressaltando que
xs que o são apenas conseguiram este direito ao entrar com um pedido formal
ao colegiado do curso, destacando estarem amparadxs por lei, ou seja, perce-
be-se que a maioria dos professores ainda se nega a mudar o nome na hora da
chamada.
Conclui-se que é de extrema importância o tratamento de pessoas trans-
gênerxs pelo nome social, evitando assim o constrangimento e a humilhação
por parte dxs mesmxs, seja publicamente como individualmente.
Referências
ISBN 978-85-61702-44-1
ABEH e a construção de um campo de Pesquisa e Conhecimento:
desafios e potencialidades de nos re-inventarmos
SUMÁRIO
Introdução
Moita Lopes (2010) busca soluções para a abordagem dos temas sexua-
lidades e gênero em sala de aula sugerindo o uso da teoria queer. Segundo o
autor:
A posição queer acarreta o entendimento da sexualidade como
dinâmica e cambiante, o que implica compreender que os objetos
de desejo podem mudar durante a vida ou em práticas discursivas
diferentes: nossas performances de sexualidade podem ser mutá-
veis. Essa percepção envolve a concepção da sexualidade como
algo que nunca está pronto ou que está sempre se fazendo e que
pode ser construída e re-construída discursivamente.” (p.141)
Considerações finais
Referências
FABRICIO, B.F. & MOITA LOPES, L.P. A dinâmica dos (re)posicionamentos de sexua-
lidade em práticas de letramento escolar. In MOITA LOPES, L.P. & BASTOS, L.C. Para
além da identidade: fluxos, movimentos e trânsitos. Belo Horizonte: Ed. Da UFMG,
2010.
MOITA LOPES, L.P. Sexualidades em sala de aula: discurso, desejo e teoria queer. In
MOREIRA, A.F. & CANDAU, V.M. (org.). Multiculturalismo: diferenças culturais e prá-
ticas pedagógicas. Petrópolis: Vozes, 2010.
Introdução
Nunca foi fácil para as mulheres adentrarem à prática esportiva pois quase
sempre havia empecilhos que dificultam o avanço a sua inserção sistematizada,
sendo um grande exemplo disso os Jogos Olímpicos que, por muitos anos, não
reconheceram as modalidades femininas (VALPORTO, 2006).
No Brasil, nas primeiras décadas no início do século XX, a natação, assim
como as ginásticas, o vôlei e o tênis, foram incorporados como esportes volta-
dos para as mulheres, tendo como base os conceitos e interesses impostos pelo
Estado visando à mulher saudável, a beleza estética valorizando a feminilidade
e, tendo como princípio norteador, a reprodução da espécie gerando filhos
fortes e saudáveis (DEVIDE, 2003; 2004; GOELLNER, 2005). Porém, no final do
mesmo século, surgem as atletas olímpicas da Alemanha Oriental, causando,
um choque “cultural” muito realçado pela imprensa.
Assim, vem sendo percebido através da influência que a imprensa escrita
proporciona com relação a exaltação do corpo da mulher no decorrer dos
Metodologia
Resultados
Considerações finais
Referências
ALTMANN, H. EDUCAÇÃO FÍSICA ESCOLAR relações de gênero em jogo. São Pau-
lo: Cortez, 2015. 174 p.
DEVIDE, F. P. História das Mulheres na natação brasileira no século XX: das ade-
quações às resistências sociais. 2003. 347f. Tese (Doutorado em Educação Física e
Cultura) - Universidade Gama Filho, Rio de Janeiro, 2003.
MANCHETE. Quase perfeita - Maria Sharapova supera a chuva, mas não a celuli-
te, e arrasa rival em Roland Garros. Folha de São Paulo, São Paulo, 01 jun. 2013.
Disponível em: <http://www1.folha.uol.com.br/paywall/signup-colunista.shtml?ht-
tp://www1.folha.uol.com.br/fsp/corrida/111839-5-minutos.shtml>. Acesso em:
08/06/16.
SOARES, L. Jogadora Marta conta como foi difícil entrar para o futebol; leia entre-
vista. Folha de São Paulo, São Paulo, 29 jun. 2013. Disponível em: <http://www1.
folha.uol.com.br/folhinha/2013/06/1302974-jogadora-marta-conta-como-foi-di-
ficil-entrar-para-o-futebol-leia-entrevista.shtml>. Acesso em: 09/06/16.
Resumo
Isso corrobora com a visão limitadora que o Direito tem da pessoa, que
fica limitada em sua pessoalidade, com riscos ao não desenvolvimento pleno de
sua própria identidade de gênero e identidade sexual.
Considerações finais
Referências
BRASIL. Lei nº 10.406, de 10 de jan. de 2002. Código Civil. Diário Oficial da União
–Seção 1 – 11/01/2002, Página 1.
BRASIL. Lei nº 6.015, de 31 de dez. de 1973. Lei de registros públicos. Diário Oficial
da União – Seção 1 – 31/12/1973, Página 13528.
Introdução
Metodologia
Dados coletados
“Na lista dos 100 atletas mais bem pagos do mundo, em 2015, há apenas
duas mulheres. Ambas tenistas: em 26ª lugar, Maria Sharapova, e a americana
Serena Williams na 47ª posição do ranquing” (PÔSSA, 2016).
“... O Brasil é conhecido como o país do futebol sim, o mascu-
lino. Só. Aqui falta o apoio das empresas, dos governos, e uma
divulgação melhor. Tem gente que dá a desculpa de que o futebol
feminino não dá o mesmo retorno que o masculino. Mas se nin-
guém mostrar, como poderão conhecer para falar se possui retorno
ou não? O futebol não tem um clube que seja só de mulheres...”
(AMORIM, 2013).
Considerações finais
Referências
1 Como recorte espacial, estabelecemos como foco as escolas pertencentes à circunscrição da Direto-
ria Regional de Ensino de Jaboticabal.
2 Neste projeto, chamo os sujeitos transexuais também pelos termos “trans” ou “transgêneros”. Este
último que aponta para além das questões que envolvem o debate biológico e de mudança de sexo,
mas que ressalta as questões de identidade e identificação de gênero.
muitas vezes, moral conservadora. Tal fato contribui para a perpetuação de vio-
lências em um espaço que deveria ser de inclusão e cidadania.
A democratização da escola pública é uma demanda que não foi conso-
lidada e desde a constituição de 1988 estamos na construção de uma escola
mais plural. Importante pensar como o reconhecimento da diversidade vai
mexer com a cultura escolar institucional, isso a partir da educação inclusiva
para reforço da cidadania. Parte da dificuldade da aplicação das políticas inclu-
sivas advém, inclusive, da maneira como as dissidências sexuais e de gênero são
frequentemente silenciadas na e pela escola, uma vez que as
Minorias sexuais e de gênero também são temas ausentes no tocante
aos Parâmetros Curriculares Nacionais. Embora estes ressaltem a
necessidade de se tratar a sexualidade como tema transversal, nada
é mencionado, mais especificadamente, em relação à homossexu-
alidade(...). Sem uma referência explícita ao tema da discriminação
contra homossexuais e outras diversidades sexuais (como travestis,
transexuais, bissexuais etc.) no espaço escolar, resta ao/à educa-
dor/a apenas a interpretação da necessidade ou não da inclusão
do tema a partir da leitura dos objetivos, já que pode interpretá-
-los apenas como a necessidade de questionar as representações
sociais acerca do masculino e do feminino, sem mencionar outras
práticas sexuais que sejam divergentes da norma heterossexual.
(DINIS, p; 2008, p. 480).
Contextualização
Considerações finais
3 De março a junho de 2015 o número de pedidos de inclusão do nome social nos documentos escola-
res aumentou de 44 para 127. Disponível em: <http://www.educacao.sp.gov.br/noticias/educacao-fe-
cha-o-semestre-com-tres-vezes-mais-alunos-que-adotaram-nome-social>. Acesso em 10 ago. 2016.
escola promovedora de igualdade, onde essas minorias não sejam mais oprimi-
das ou suprimidas dentro desses espaços de formação.
Referências
Considerações finais
Referências
Referências
HALL, Stuart. Identidade cultural pós-moderna. 5 ed. Rio de Janeiro: DP&A, 2002.
Considerações finais
Referências
DELEUZE, Gilles.; GUATTARI, Fêlix. Mil Platôs, v. 1. Rio de Janeiro: Editora 34, 1995.
LARROSA, Jorge. Tecnologias do Eu e educação. In: SILVA, Tomaz Tadeu da. O Sujeito
da Educação: Estudos Foucaultianos. 5. ed. Petrópolis: Vozes, 2002. p. 35 –86.
SANTOS, Luís Henrique Sacchi dos. O corpo que pulsa na escola e fora dela. In:
WORTMANN, Maria Lúcia Castagna et al (Orgs.). Ensaios em estudos culturais, educa-
ção e Ciência: a produção cultural do corpo, da natureza, da ciência e da tecnologia:
instâncias e práticas contemporâneas. Porto Alegre: Editora da UFRGS, 2007, p.
131-146.
Referências
AUAD, Daniela. Educar meninos e meninas: relações de gênero na escola. São Paulo:
Contexto, 2006.
Metodologia
A III Feira Multidisciplinar que teve como tema “Haja Luz no Mundo” foi
realizada no dia 25 de novembro de 2015, e foram organizados 12 stands divi-
dindo as turmas em diferentes subtemas.
O stand que trabalhou o subtema diversidade sexual foi composto por
alunos do 1º, 2º e 3º anos do ensino médio regular e integrado. Durante o
evento a comunidade escolar e do entorno, realizavam visitas aos stands sendo
dividido em grupos.
Chegando ao stand “Iluminando Mentes Intolerantes”, os visitantes eram
recepcionados com duas mensagens, uma na parede com o pedido: “Ao entrar,
deixe seu Preconceito abaixo”, com uma seta indicando a lixeira e outra na
porta com um desenho feito por um aluno, com uma mistura da estátua da jus-
tiça com a estátua da liberdade, indicando uma união entre justiça e liberdade
em prol ao Movimento LGBT. Após entrarem os visitantes iam passando pelas
diferentes etapas que compunham o stand:
2 - Orientações Sexuais
Nesta etapa foram esclarecidas cada uma das orientações sexuais: gay,
lésbica, bissexual, intersex, transexual, pansexual e assexual.
3 - A Bandeira LGBT
Nesta etapa foi ilustrado e comentado o sentido de cada uma das cores
da bandeira do Movimento LGBT.
4 - Quadro Up e Down
Nesta etapa foram debatidos alguns termos que foram substituídos ao longo
dos anos por termos mais atualizados e corretos, dentro da temática LGBT.
8 - O que é Família?
Nesta etapa os participantes eram questionados: O que representa Família
para você? A partir daí eram apresentadas e discutidas frases e fotografias
de famílias heteroafetivas e homoafetivas, bem como famílias compostas
só pela mãe ou pai, ou avós.
10 - Pesquisa de Opinião
Ao fim da visita ao stand, era realizada uma pesquisa de opinião para
avaliar o nível de homofobia da comunidade escolar, bem como, da
comunidade do entorno que visitou a feira. Foram confeccionadas cédu-
las, e os visitantes votavam entre as quatro alternativas possíveis: Aceito;
Aceito e Apóio; Não Aceito, Mas Respeito; Não Aceito e Nem Respeito.
Considerações finais
Referências
AUAD, Daniela. Educar meninos e meninas: relações de gênero na escola. São Paulo:
Contexto, 2006.
Resumo
Introdução
Objetivo
Métodos
Conclusão
Referências
MOITA LOPES, L.P. Sexualidades em sala de aula: discurso, desejo e teoria queer. In
MOREIRA, A.F. & CANDAU, V.M. (org.). Multiculturalismo: diferenças culturais e prá-
ticas pedagógicas. Petrópolis: Vozes, 2010.
Considerações finais
Referências
PORCHAT, P. Tópicos e Desafios para uma psicanálise Queer. In: FILHO, F. S. T. [et
al] (org.). Queering : problematizações e insurgências na psicologia contemporânea.
Cuiabá: EdUFMT, 2013
SALIH, S. Judith Butler e a Teoria Queer. Belo Horizonte: Autêntica Editora, 2012.
BATUCLAGEM DIVERSAS
Experimentando a diversidade
Considerações finais
Referências
Considerações finais
Referências Bibliográficas
ISBN 978-85-61702-44-1
ABEH e a construção de um campo de Pesquisa e Conhecimento:
desafios e potencialidades de nos re-inventarmos
SUMÁRIO
“SE A GENTE NÃO CONTINUAR COM ESSA LUTA, VAI SER CADA VEZ PIOR
[...]”– LEITURAS DE UMA VIVÊNCIA FORMATIVA SOBRE DIVERSIDADE DE
GÊNERO E SEXUAL EM UMA ESCOLA . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 1640
Idália Lino dos Santos | Roniel Santos Figueiredo | Marcos Lopes de Souza
Relato de experiência
Considerações finais
Referências
GT 04 -
Travestilidades, Transexualidades, Lesbianidades e Homossexualidades:
Transgressões e Resistências
Resumo
Introdução
1 Faço uso deste termo e conceito no mesmo sentido de Ochoa (2014) e Connel (2012), as quais o
utilizavam para falar de processos de construção de determinada corporalidade e sua
2 Forma como este coletivo tem sido nomeado na Política LGBT brasileira. Para uma análise desta
temática, ver Aguião (2014).
O grande objetivo do Miss T Brasil era criar uma imagem para travestis
e mulheres transexuais vista por elas como positiva, nomeada como “visibili-
dade positiva”. A “visibilidade positiva” mostrava-se como ferramenta política
Considerações finais
Referências
BATISTA, Ana Maria Fonseca de Oliveira. O telefone sem fio, a sobrinha do presi-
dente e as duas polegadas a mais – concepções de beleza no concurso Miss Universo.
Dissertação (Mestrado em Antropologia Social) – Centro de Filosofia e Ciências
Humanas, Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis, 1997.
BUTLER, Judith. Cuerpos que importan. Sobre los límites materiales y discursivos del
“sexo”. Buenos Aires: Paidós, 2002.
CONNELL, Raewyn. Transsexual women and feminist thought: Toward new unders-
tanding and new politics. Signs, v. 37, n. 4, p. 857-881, 2012.
NAMASTE, Viviane. Invisible lives: The erasure of transsexual and transgendered peo-
ple. Chicago: University of Chicago Press, 2000.
RAHIER, Jean Muteba. Blackness, the Racial/Spatial Order, Migrations, and Miss
Ecuador 1995-96. In: American Anthropologist, v. 100, nº2, p.421-430, 1998.
RODRÍGUEZ, Juana María. Sexual Futures, Queer Gestures, and Other Latina Longings.
Nova York: NYU Press, 2014.
Introdução
visto como campo de lutas estéril e passava a ser visto como uma constante
ameaça de retirada de direitos.
Ilustra-se tal reflexão. Em 2013, de um lado, o Conselho Nacional de
Justiça aprovava a Resolução nº 175, que tornaria obrigatório aos cartórios cele-
brarem casamentos entre pessoas do mesmo sexo. De outro, o pastor Marcos
Feliciano (PSC-SP) assumia o cargo de Presidência da Comissão de Direitos
Humanos e Minorias no Congresso Nacional. No Paraná, as eleições de 2014
colocariam o PSC (Partido Social Cristão) entre os partidos com mais cadeiras
na Assembleia Legislativa.
Tal é o cenário paradoxal que compõe o pano de fundo de experiência
relatada. Parte-se da atuação de uma das dezenas de Comissões em funciona-
mento na atual gestão da OAB-PR. Trata-se da Comissão da Diversidade Sexual
e de Gênero (CDS), constituída nesta Seccional em 2013. Narra-se o papel
do grupo no debate dos Planos de Educação municipais e estadual, em 2015,
quando se articularam, com êxito, determinados setores políticos para a retirada
– e, em determinados municípios, mesmo para a proibição – de abordagens
afeitas a “gênero”, “orientação sexual” e “identidade de gênero” nas escolas
através das diretrizes curriculares.
O trajeto de construção de nossas iniciativas, ainda em curso, é descrito.
Transita-se, como detalhado a seguir, pela atuação dos(as) membros(as) como
interlocutores(as) em diálogo com as escolas, com a mídia, com grupos religiosos
e demais personagens ligadas ao debate; como agentes capazes de influenciar
as decisões legislativas à ocasião dos embates parlamentares; e como potenciais
provocadores(as) de posicionamento judicial no sentido de barrar a violação
dos direitos da população LGBTI.
A análise refletida dos resultados obtidos e do redirecionamento conjunto
em face de perspectivas futuras permite abordar os limites e as possibilidades
do espaço ocupado pela CDS da OAB-PR diante do atual contexto político e
jurídico para a adequada tratativa da temática.
2 Objetiva-se formar lideranças em debates sobre gênero e sexualidade entre alunas da rede pública
do ensino médio local. A ideia se concretizou, até o presente momento, no Colégio Costa Viana de
São José dos Pinhais.
3 Objetivava-se esclarecer ações tomadas pela instituição no tocante aos Planos de Educação.
4 Este evento, de ampla divulgação, objetivava reproduzir o formato de audiências públicas e ouvir
especialistas sobre determinado tema, bem como a própria advocacia, representantes do Poder Pú-
blico e da sociedade civil organizada.
Considerações finais
Referências
BUTLER, Judith. Corpos que pesam: sobre os limites discursivos do “sexo”. IN: LOURO,
Guacira Lopes (org.). O Corpo Educado: pedagogias da sexualidade. Trad. dos artigos
Tomaz Tadeu da Silva. 3. ed. Belo Horizonte: Autêntica Editora, 2013. Pp. 151-172.
Caminhos percorridos
Caminhos de retorno
Considerações finais
Precioso é saber que estão construindo um novo olhar para estas rela-
ções, um olhar diferente, questionador, que, gosto de pensar, não voltará a
ser o que era antes, um olhar impulsionador de novas práticas, com novos
“saberes e fazeres”. Saber que foi possível se debruçar em conceitos tais como
heteronormatividade, machismo, sexismo, feminismo, diferença, identidade,
racismo, cotas, cidadania, direitos humanos, entre outros mais, que apareceram
em alguns comentários, os quais, sutilmente, nos permite repensar nossa prática
docente frente às representações hegemônicas. Gosto de acreditar que as falas,
que foram muitas, traz em si mesmas uma capacidade de mudança, de aban-
dono das narrativas totalizantes.
Saber ainda que as/os discentes foram protagonistas do conhecimento,
discutiram, questionaram, colocaram sobre suspeita algumas “verdades” que
teimam em se manter de pé, mas as quais as pernas estão bambas. Produziram
saberes com outros fazeres.
Referências
MOORE, Henrietta, Compreendendo sexo e gênero. Trad. Júlio Assis Simões. Londres:
Routledge, 1997, p. 813-830. Disponível em: http://e-clam.net/moodle/course/view.
php?id=10 Acesso em: 20 de junho de 2013. (arquivo para uso interno do curso de
Especialização em Gênero e Sexualidade/EGEs-EURJ)
Barbara Orsi
Graduanda - PUC-Rio.
Design, Corpo e Sexualidade
barbaraorsi@outlook.com
Eva Célem
Graduanda - PUC-Rio.
Design, Corpo e Sexualidade
eva.celem@gmail.com
Natasha Ribas
Graduanda - PUC-Rio.
Design, Corpo e Sexualidade
natasharibasf@gmail.com
1 “Os Métodos de Pesquisa Criativa Participativa são abordagens de pesquisa nas quais os participan-
tes são convidados a se expressar em meios não tradicionais, como através da construção de um
objeto 3D, 2D, ou compartilhando a experiência através da fala ou escrita. [...] Uma linha paralela
da atividade pode ser encontrada dentro da arte e do design, onde pesquisadores estão pedindo a
participantes para criar “coisas” físicas, visuais e experimentais como parte do processo de pesqui-
sa.” Tradução livre, retirado de https://creativeresearchmethods.wordpress.com/
desse perfil deve-se ao fato de que 1) são sujeitos que estão iniciando a sua tra-
jetória de formação em Design, momento propício para o desenvolvimento da
prática da reflexão crítica como parte integrante e necessária dessa formação; 2)
encontram-se em um momento de transição entre os espaços escolar e universi-
tário que traz consigo a abertura de novas perspectivas e vivências em relação
às questões de gênero e de sexualidade; e 3) a disciplina em questão propõe o
exame da noção de que as nossas percepções são construídas a partir de deter-
minações sócio-culturais, ambientais e políticas e que são sempre passíveis de
transformação — o que torna a pesquisa proposta uma extensão prática das
noções examinadas no curso.
Como sabemos muitas das produções feministas nas artes em geral (para
citar algumas: pintura, literatura, design e zines) acabam por não serem reco-
nhecidas, ou ao menos citadas na maioria das pesquisas e publicações oficiais
nesse campo. Uma das colagistas — atuando no movimento de resistência (des)
artística Dadaísmo — que recebeu esse apagamento, foi Johanne Höch, ou
como preferia ser chamada, Hannah Höch. Com intensa produção no período
entre 1910-1960, Hanna desenvolveu2 uma série de fotocopiartes, fotomonta-
gens e colagens na região da Alemanha.
Foi em um momento particularmente crítico, marcado por uma inflação
desenfreada e por fortes tensões sociais que o Dadaísmo se constitui. Na pas-
sagem de 1918-1920 (período em que o Dadaísmo esteve mais ativo) ainda se
sentia o fim da Primeira Guerra Mundial, a forte tradição artística e violências
sociais. RoseLee Goldberg (2006), nos conta sobre sua forte inclinação política
na cidade de Berlim, Nova Iorque, e Barcelona, mais precisamente sobre sua
intensa movimentação cultural nas noites de Zurique no Cabaré Voltaire. Entre
as passagens que mais chamam atenção desse período é a descrição de uma
das noites nesse cabaré dadaísta.
Nessa “taberna festiva” - como também era chamado o Cabaré Voltaire - as
palavras eram inventadas, os poemas escritos em versos sem sentido, as vogais
equilibravam-se em poemas sonoros, ali haviam máscaras e figurinos sendo
criados. Segue um trecho das escritas que Goldberg (2006, p. 50): transcreve a
partir das anotações de Arp3 — um dos jovens dadaístas criadores do espaço,
2 Em uma de suas passagens pelo Mar Báltico, quando alugou um pequeno apartamento nessa região,
Hannah se deparou com uma “oleografia emoldurada” nas paredes desse apartamento. Fabris (2003)
nos conta que essa oleografia continha a pintura do Imperador Guilherme II e em seus ombros um
jovem artilheiro. Curiosamente havia uma pequena fotografia (a do proprietário da casa) fixada no
capacete do artilheiro. Havia com essa fotografia um elo entre as gerações, entre as hierarquias e
também a intervenção fotográfica de uma pessoa não envolvida na tela da pintura. Essa mistura de
materiais e ousadia a profanar a tela, influenciaria grande parte do trabalho de Hannah Höch.
3 Arp escreveu a nota para o quadro Cabaré Voltaire, pintado por Janco, também dadaísta da época.
Marcel Janco, Cabaret Voltaire, (1916).
Diante desse panorama, Fabris (2003) nos chama atenção para o que interessava
aos Dadaístas — inclusive a Hannah Höch —, com a produção de colagens e
fotomontagens.
Era, sobretudo, com o rompimento da uniformidade de superfície na
representação. E isso, graças à multiplicação dos pontos de vista da colagem e
à sua interpenetração nos diferentes fragmentos de imagens, cuja objetividade
deveria ser interpretada num duplo sentido: como tomada de posição contra o
“expressionismo pós-futurista”, caracterizado pela falta de engajamento e pelo
vazio conceitual, e como visualização irônica dos acontecimentos políticos
contemporâneos. E, mais que isso, a criação Dadaísta não se tratava de postu-
lar novas leis estéticas, mas sim de buscar novos conteúdos que pudessem ser
traduzidos por novos materiais.
A partir dessas reflexões, podemos ainda pensar — com a criação das
Colagens Dadaístas — as suas principais características: o fragmento, os restos,
os vestígios, elos quebrando a linearidade do tempo e seus rasgados papeis.
Rasgos que não se tratavam apenas do corte físico, mas também do valor sim-
bólico que possuía como ruptura com o passado, com a linearidade.
Design por Denise B. Portinari5. Na sala em que a atividade foi feita, procura-
mos expor diversos tipos de materiais do cotidiano, visando a abertura que os
alunos teriam ao escolhê-los, relacionando-os as suas experiências particula-
res. Entre os materiais utilizados, disponibilizamos revistas de diversos assuntos,
retalhos de tecido, botões, pedaços de madeira, lantejoulas, papéis de bala e
afins.
A atividade iniciou-se com uma breve apresentação sobre o surgimento
das colagens no movimento dadaísta e seus principais precursores, com o
intuito de servir como um referencial para a turma, visto que a maioria não
havia tido experiências posteriores com essa prática artística. Em seguida distri-
buímos folhas de papel ofício, e pedimos que os alunos fizessem uma colagem
que expressasse as percepções pessoais e individuais de cada um sobre gênero
e sexualidade — suas práticas, manifestações, sentimentos, posição política e
qualquer outro aspecto que desejassem expressar sobre o assunto. Pedimos que
utilizassem os primeiros quinze minutos para observar os materiais, idealizar a
colagem e juntar tudo que fosse interessante para eles. Seguido disso, demos
vinte e cinco minutos para cortarem e montarem as colagens, e mais quinze
minutos para colarem.
Após realizada a dinâmica, fomos ao Laboratório de Fotografia e Estúdio
da PUC-Rio para fotografar as colagens produzidas para que, posteriormente,
pudessem ser compiladas na forma de uma revista online6 com os resultados
gráficos.
as/os convidamos a dar uma breve explicação sobre quais foram as motivações
para o uso dos materiais e das imagens e qual era a mensagem que desejavam
transmitir.
Nesse momento, pudemos notar que temas que estavam em voga no
momento — como o caso da menina de dezesseis anos que foi estuprada por
trinta homens no Rio de Janeiro — foram recorrentes nas colagens, bem como a
questão do corpo da mulher “fragilizado” e “indefeso” que nos é quase imposta
goela à baixo pela sua reprodução exaustiva e incessante nos veículos midiáti-
cos. Seguem alguns relatos7 desse momento em sala:
“No dia que a gente foi fazer a colagem tinha tido aquele estu-
pro coletivo uns dias atrás e eu tava bem com isso na cabeça.”
(Entrevistada 1)
“Quando eu vi essa imagem, eu lembrei de um texto que eu tinha
lido sobre como a linguagem corporal da mulher parece sempre
estar se protegendo de alguma coisa.” (Entrevistada 2)
“[a colagem está falando sobre] essa ideia da mulher estar sempre
feliz e esconder essa parte emocional e, por exemplo, não poder
falar o que ela pensa, nem o que ela sente na sociedade sem ser
oprimida.” (Entrevistada 3)
Considerações finais
7 Neste relato de experiência, optamos por não divulgar os nomes dos entrevistados.
Referências
BROMMER, Gerald. Collage Techniques: A Guide for Artists and Illustrators. Nova
York: Watson-guptill Publications, 1994. 160 p.
FABRIS, Annateresa. A fotomontagem como função política. História, vol. 22, n.1,
p.11-57. 2003.
na cobertura da referida lei. Por entenderem que por mais que os homens trans
devam ter sua identidade masculina respeitada, a violência cometida contra
eles decorre do fato de “já terem sido mulheres”. Portanto, por mais que possa
soar desconsideração quanto à identidade masculina, na verdade a inclusão
restaria por entender que estes homens, em específico, permanecem sofrendo
violências provocadas pelo exercício do poder patriarcal e do machismo de
outros homens.
Durante o curso, percebemos o quão difícil é romper com o discurso
hegemônico. No início de um dos encontros, propomos a seguinte dinâmica:
faríamos duas colunas no quadro: (i) homem; (ii) mulher, e cada um deveria
dizer características que considerasse femininas e masculinas. Após a organi-
zação das características nas colunas correspondentes, os escritos “homem” e
“mulher” seriam trocados: no lugar de “mulher” passaria a constar “homem” e
vice-versa. Após a realocação, faríamos o seguinte: se “sensibilidade” foi asso-
ciado inicialmente à mulher, perguntaríamos “existe homem sensível?”. Caso
a resposta fosse positiva, a característica seria riscada. O objetivo dessa dinâ-
mica é demonstrar que as características consideradas tipicamente femininas
ou masculinas, com exceção de alguns aspectos biológicos, são construídas
socialmente.
Para a nossa surpresa, todos e todas responderam que era difícil - ou
quase impossível - realizar a atividade, já que durante as aulas o que fizemos
foi exatamente o oposto, ou seja, estimulamos a desconstrução de estereótipos
de gênero. Assim, continuamos a aula com a discussão de relatos de homens
e mulheres que vivenciaram situações de violência. No entanto, no decorrer
do debate, percebemos que algumas pessoas apresentavam discursos que
desconstruíam estereótipos de gênero, mas outras ainda defendiam seus argu-
mentos com base em aspectos biológicos. Com isso, notamos que nem sempre
a resposta à pergunta direta expressa a realidade, pois as pessoas têm a tendên-
cia de dar “respostas ideais”, de acordo com os seus valores e visões de mundo.
No que se refere às avaliações, procuramos escolher um modelo que não
obrigasse as pessoas a estar em sala de aula, mas que as estimulasse a frequen-
tar os encontros. Assim, a avaliação foi dividida em três partes: (i) participação
nas discussões e nos filmes; (ii) entrega do artigo escrito (em grupo); (iii) apre-
sentação do artigo em sala (em grupo). Para obter a média final, todas as notas
foram somadas e divididas por três. O trabalho deveria versar sobre algum
dos temas discutidos, bem como utilizar algumas das bibliografias indicadas
para leitura. Para a apresentação dos artigos, propomos que os trabalhos fos-
sem circulados, com uma semana de antecedência, entre os professores e os
alunos, para que todas e todos tivessem tempo suficiente para ler. No dia da
apresentação, propomos a formação de uma roda de conversa, de forma que
esse formato propiciasse a discussão horizontal dos artigos. Assim, após cada
grupo se apresentar, foi aberto o debate entre todos e todas presentes. Na nossa
experiência enquanto alunos da graduação do curso de Direito, notamos que a
pesquisa é pouco estimulada na universidade. Então, o que queremos com esse
tipo de formato não é cumprir uma mera formalidade, como o lançamento de
notas, mas sim fomentar o interesse pelo debate e pela reflexão.
Com relação à metodologia das aulas – conforme já comentado acima
– tivemos o cuidado de escolher um formato diferente do tradicional que prio-
rizasse a participação de todos e de todas, assim como o debate horizontal.
Somadas a isto, as nossas preocupações centrais eram: introduzir no curso de
Direito discussões anteriormente relegadas à esfera doméstica; romper com a
ideia de que o gênero se resume às questões das mulheres; desconstruir este-
reótipos de gênero; ressignificar o conceito de violência; democratizar a esfera
privada; e empoderar os alunos e as alunas para o enfrentamento dessas ques-
tões na vida cotidiana e em outros espaços dentro da faculdade.
A utilização desse tipo de dinâmica trouxe resultados satisfatórios. Embora
tenhamos percebido que, nas aulas de discussão de textos, nem todas as pes-
soas tinham lido o que era pedido, notamos que a falta de leitura não impedia
o debate, uma vez que eles se estendiam às reflexões sobre notícias de jornais,
propagandas, filmes, músicas e outros conhecimentos já adquiridos. Isso nos
fez perceber que mais importante do que seguir um rígido cronograma pre-
viamente estabelecido - semelhante às metodologias tradicionais utilizadas em
salas de aula - é estimular o hábito de questionar o que está posto e transportar
essas críticas a outros espaços.
Além disso, notamos que proporcionamos um espaço horizontal e plu-
ral para diversas discussões, que, embora sejam necessários, nem sempre são
encontrados nas universidades. Como exemplo, podemos citar a manifesta-
ção de um aluno, que nos agradeceu por propiciar um espaço como aquele
para assuntos tão importantes; assim como outra aluna, que sugeriu que a aula
tivesse duração de três horas. Por outro lado, notamos, também, que levar esse
tipo de discussão à Faculdade de Direito pode provocar incômodos, como no
caso de um aluno que se manifestou, em voz baixa, para outro companheiro
Amana Mattos
Professora do Instituto de Psicologia e do Programa de Pós-Graduação em
Psicologia Social
Universidade do Estado do Rio de Janeiro
amanamattos@gmail.com
Zona Sul do Rio de Janeiro, com vista para o mar e com morros como
plano de fundo: este é o cenário no qual se localiza uma escola pública de
educação básica do município do Rio. Conhecida na região como uma escola
que recebe estudantes “problema” transferidos por outras instituições públicas
de ensino, a escola tem como característica o corpo discente majoritariamente
composto por pessoas de classe baixa que residem em favelas e a presença de
projetos de aceleração da aprendizagem de estudantes.
O presente Relato de Experiência se baseia no trabalho feito pela equipe
PIBID de Psicologia da Universidade do Estado do Rio de Janeiro1, formada
direito de agredir o próximo por conta de ciúme, um dos alunos afirmou que
“puxava sua namorada pelos cabelos quando a via conversando com outros
meninos”. Nestes momentos, apesar das intervenções da equipe irem na dire-
ção de entender melhor o que foi dito, a postura corporal, expressão facial e
até mesmo entonação de voz, por vezes acabamos demonstrando bastante afe-
tação com o que foi colocado. O tema da violência, nesse sentido, mostrou-se
extremamente delicado, levando para as supervisões as posturas e intervenções
da equipe, em um trabalho de constante reflexão e mudança.
Considerações Finais
Referências
BISPO, Fábio Santos; LIMA, Nádia Laguárdia de. A violência no contexto escolar:
uma leitura interdisciplinar. Educ. rev., Belo Horizonte , v. 30, n. 2, p. 161-180,
jun. 2014. Disponível em <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pi-
d=S0102-46982014000200008&lng=pt&nrm=iso>. Acesso em 28 jun. 2016. http://
dx.doi.org/10.1590/S0102-46982014000200008.
LIBARDI, Suzana Santos; CASTRO, Lucia Rabello de. Violências “sutis”: jovens e gru-
pos de pares na escola. Fractal, Rev. Psicol., Rio de Janeiro , v. 26, n. 3, p. 943-962,
Dec. 2014. Disponível em <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pi-
d=S1984-02922014000300943&lng=en&nrm=iso>. Acesso em 28 Junho 2016.
http://dx.doi.org/10.1590/1984-0292/1237.
Início
A proposta
A aula-intervenção
2. Após cada grupo discutir e anotar, nós vamos passar a discussão pes-
soa por pessoa, e ver o que cada grupo nomeou, e analisar o porquê
da decisão.
Observei os diálogos, passando pelos grupos, sem interferir na discussão.
E após encerradas todas as nomeações em todos os grupos, abri para discussão
ampla.
Discussão
Considerações finais
Referências
______. Mil platôs -capitalismo e esquizofrenia, vol.4. Rio de Janeiro, Ed. 34, 1997.
Introdução
1 Sigla que abrange Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis, Transexuais e Intersexuais. Além disso, quan-
do ultilizamos LGBTI estamos considerando como inseridos na representação não-binários.
2 Optamos por usar o termo “LGBTfobia” no lugar o termo “homofobia” pois acreditamos que tal
termo consiga abarcar de forma mais completa a violência que sofrem as pessoas cuja sexualidade
e identidade de gênero sofrem ataques psicológicos, físicos e sociais. Acreditamos que “LGBTfobia”
represente todas as formas de assédios que ocorrem contra Gays, Lésbicas, Bissexuais, Travestis e
Transexuais , não binários e intersexuais.
significado e foi pensado exatamente porque nós, LGBTI, assim como as religi-
ões africanas, temos um lugar periférico na sociedade.
O lançamento oficial do Coletivo se deu no dia 28 de agosto de 2014
com a mesa de debates Coletivo Duas Cabeças: contra o racismo, o machismo
e a homofobia. Houve uma significativa mobilização dos grupos de militância
que apoiaram e participaram do evento. O Coletivo da Diversidade Sexual e de
Gênero Duas Cabeças nasceu com a missão de promover ações que garantam
a cidadania e os direitos humanos da comunidade LGBTI e não binários3, con-
tribuindo para a construção de uma sociedade democrática, na qual nenhuma
pessoa seja submetida a quaisquer formas de discriminação, coerção e vio-
lência em razão de sua orientação sexual e identidade de gênero, conforme
estabelecido pelo Estatuto do Coletivo4.
Com o passar do tempo, o Coletivo Duas Cabeças se tornou referência de
luta, resistência e combate às variadas formas de discriminação que acontecem
diariamente na UFJF. Mas também foi às ruas e, através de inúmeras ações, às
quais citaremos abaixo, ganhou notoriedade no município de Juiz de Fora como
Coletivo que luta pela diversidade.
3 Designamos como não binários os indivíduos que não possuem identidade de gênero masculina ou
feminina, indivíduos cuja identidade de gênero não se posiciona na lógica binária.
4 O Estatuto do Coletivo fora aprovado no dia 23 de janeiro de 2016 em assembleia geral, com a
representação de toda a sigla LGBTI.
discutiremos a seguir. Com isso, nossa imagem está sempre atrelada às lutas
das trans e travestis. Uma das participantes trans e figura de grande destaque na
militância é Bruna Leonardo. Nas palavras dela:
Já participava de outros movimentos, já militava antes de entrar no
Coletivo, mas foi depois que eu entrei no Coletivo que eu ganhei
visibilidade e que as pautas das trans também ganharam visibili-
dade. Quando cheguei no grupo me senti muito bem acolhida por
todos . (Bruna Leonardo, 2016)
5 Diz-se da matriz, conjunto de normas e regras, social e culturalmente construídas que instituciona-
lizam a heterossexualidade como padrão normal para a sexualidade humana.
6 Refere-se à matriz, relacionada à heteronormatividade, que institui como normais indivíduos com
as identidades de gênero cis, ou seja, pessoas que se identificam com o gênero que lhes foram desig-
nados no nascimento – ou antes dele.
7 Visitrans é um grupo formado por várias pessoas que atuam em Juiz de Fora na promoção da visibili-
dade e dos direitos de transexuais, travestis, intersexuais e não-binários. ´coordenado pela professora
Dra. Juliana Perucchi e financiado pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Minas Gerais
– FAPEMIG.
8 Os diversiniques foram idealizados pela militante Bruna Leonardo e logo se tornaram um sucesso.
Ele constitui uma oportunidade de interação entre seus participantes e todos os espaços disponíveis
no campus universitário. A importância desse encontro está exatamente na questão da ocupação dos
espaços, nossa presença no bosque da UFJF cria impacto visual, pois sempre levamos a bandeira da
diversidade e penduramos em uma das arvores para demarcar espaço e para mostrar nossa presença
do diferente em um meio onde antes só havia a imagem da heteronormatividade.
Conclusão
Bibliografia
Dinâmica da mímica
pelo diretor, indagou-lhe o seguinte: se ele estivesse andando pela praia, sem
camisa, ficaria incomodado se um gay o cantasse ou olhasse para ele somente
pelo fato de estar sem camisa? Em resposta, o diretor disse que sim, que se sen-
tiria incomodado. Após essa conversa, a mensagem que parece ter sido captada
por todos e todas é que, independente do gênero, das roupas que veste - sejam
elas curtas, decotadas, ou compridas até o pé - as pessoas tem que se sentir
livres para ser o que quiserem ser e para estar como quiserem estar. Essa dis-
cussão gerou muitos comentários, principalmente pelo fato de a maioria serem
mulheres, que, de alguma forma, já sofreu algum tipo de assédio devido a roupa
que estava usando. As mulheres relataram como ficaram e ficam incomodadas
com certos olhares na rua, e que, além disso, o corpo pertence somente à elas,
e, por isso, têm a liberdade para ditar as próprias regras.
Dinâmica de fechamento
Pedimos para que todos e todas escrevessem nas fichas entregues o que
acharam da oficina e o que poderíamos melhorar. Dentre vários comentários,
surgiram: “Não é não, cara!”; “Adorei, porque trabalha com reflexões para pen-
sar soluções de combater às relações verticais de poder”; “A oficina foi ótima
para esclarecer assuntos antes não falados, e também para nos ensinar que
independente de tudo temos que ter todos os mesmos direitos”; “prazeroso,
estimulante, esclarecedor, empatia com quem sofre”.
Notamos pelos comentários que, de uma forma geral, os/as participantes
gostaram da atividade e tiveram espaço para discutir questões fundamentais da
atualidade, e que, além disso, o debate e a interação de todos e de todas pro-
porcionou uma maior compreensão da importância de rever e pensar sobre a
violência contra a mulher.
Logo em seguida, passamos o vídeo da CAMTRA (Casa da Mulher
Trabalhadora), que mostrou a campanha de enfrentamento à violência contra
a mulher, realizada pelo Núcleo de Mulheres Jovens. O objetivo do vídeo era
fechar a oficina com um momento lúdico e de relaxamento, que não deixasse
de abordar questões relacionadas com o combate da violência contra a mulher.
A experiência de realizar essa oficina foi muito importante para nós não
somente pela relação com nossas pesquisas de mestrado e com o grupo de
pesquisa do qual fazemos parte, mas, principalmente, pelo retorno e carinho
que todos nos demonstraram; pela conscientização e debates que as dinâmicas
A Internet, através das redes sociais, tem sido uma grande disseminadora
de informações, enunciados e opiniões acerca dos mais diversos temas. Através
do Facebook, muitos movimentos debatem e defendem seus ideais, porém, há
inúmeros/as usuários/as que utilizam deste espaço para expressarem suas opini-
ões e semearem discórdias, compartilhando informações de todas as espécies,
e tudo isso de uma forma mais fácil, direta e sem receios de um contato real.
A legislação acerca dos crimes virtuais vêm ganhando destaque, mas, mesmo
assim, o “povo virtual” quer falar, expressar e lutar por suas ideologias.
As temáticas que envolvem os/as LGBTT1 têm ganhado cada vez mais
espaço nas redes sociais e, com isso, são crescentes as discussões acaloradas
entre esse público e aqueles/as mais conservadores/as, que tentam justificar
com inúmeros argumentos o porquê da “não-aceitação” da orientação sexual
que divirja da heterossexual.
A homofobia, no Facebook, é compartilhada, curtida e comentada o
tempo todo. Problematizar o que leva esses sujeitos a incitarem ódio e discrimi-
nação é importante para passarmos a entender o que motiva essa disseminação
de preconceito e, a partir daí, levar às escolas e ambientes de trabalho debates
que façam os/as alunos/as e colaboradores/as a refletirem sobre essas temáticas,
formando cidadãs/ãos que sejam críticos/as e que também possam contribuir
para o combate a esse tipo de intolerância.
1 LGBTT: Sigla para denominar as Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis, Transexuais e Transgêneros.
Porém, neste trabalho, a problematização será em torno das orientações sexuais, e não em torno das
questões de gênero; sendo assim, essa sigla, durante a leitura, deve ser associada aos gays, lésbicas
e bissexuais.
É necessário entender o que faz esses sujeitos não aceitarem que a homos-
sexualidade não é uma opção, mas sim uma orientação, da qual o indivíduo
não tem capacidade de escolha, conforme CARRARA et al. (2009, p. 127):
“Muitos cientistas e ativistas não consideram correto, hoje em dia,
referir-se à homossexualidade ou à bissexualidade como ‘opções’,
dado que, em se tratando de escolhas, seria mais fácil ‘optar’ pela
heterossexualidade, que é aceita como ‘normal’, ao invés de ‘optar’
pela homossexualidade, que é discriminada e perseguida. O que se
sabe é que a orientação sexual existe sem que a pessoa tenha con-
trole direto sobre ela. Não se trata, portanto, de algo que se escolhe
voluntariamente ou se modifique segundo as conveniências”.
criou a página CelebratePride. Com ela, qualquer usuário da rede social pode
manifestar seu apoio ao movimento LGBT e à sua conquista.”
Em seguida, Vagner comenta, em sua própria publicação, uma imagem
com as cores do arco-íris: “O arco-íris nunca representará outra coisa para
minha vida a não ser a aliança de Deus para com o homem, o que passar disso
é o diabo tentando roubar o símbolo que Deus patenteou.” Nessa frase, Vagner
critica a utilização do arco-íris como símbolo dos movimentos LGBTT, visto
que, na Bíblia, há a utilização do arco-íris como a marca de uma aliança de
Deus com o mundo, simbolizando que não ocorreria outro dilúvio no planeta.
A seguir, veremos os enunciados de alguns/as usuários/as da rede social a partir
dessa publicação:
Carla: Fato, nascemos de um fruto conjugal de um homem e de
uma mulher, que denominamos Pai e Mãe, herança de Deus, que
chamamos de família... Nunca pessoas do mesmo sexo serão capa-
zes de se reproduzirem formando a tão sonhada e desejada família...
Vagner: Falou tudo terceira [referindo-se a Carla], não é a toa que
você é sargento!!!! E um dia tbm será primeira como eu, quem sabe
oficial.
Vagner: Sodoma e Gomorra revolta total.
Peter: É o fim dos tempos. E tem gente que apóia essa pouca
vergonha.
Natan: E a ira do Senhor está chegando.
Jairo: Eu sou muito contra! Um dia eu estava em um restaurante,
tinha dois sujeitos, se acariciando, minha filha perguntou pai pq o
senhor está bravo e quer ir embora, eu falei não quero que vc veja
este tipo de abominação. Um deles levanto e pergunto pra mim o
que vc tem contra, eu olhei bem pra ele e falei, tenho uma ponto
40 e dois pentes, e estou louco para usar, quer ser o primeiro [?] ele
olhou bem pra mim e saiu de perto.
Vagner: Eu estou doido para usar meu teyser!!!!
Adilson: Pouca vergonha!!!
A usuária Carla traz sua posição contra a união homoafetiva com o dis-
curso de que seres do mesmo sexo jamais poderão se reproduzir e conclui que
isso faz com que seja impossível formar-se, então, uma família. Vagner elogia a
posição da colega de trabalho (ambos são membros do Exército Brasileiro), enal-
tecendo-a, e em seguida outros enunciados surgem com usuários que também
com sua opinião, coisa tosca! Para de mimimi, o exército não vai
mudar por causa da lamentação dos senhores então fica com meu
FODA-SE.
Leandra: Tá começando a expor bem os argumentos...
Benício: Leandra,não e darei o prazer da minha resposta porque
quanto mais mexe com bosta mais ela fede kkkkk vocÊ no mínimo
deve ser um lgbt que fica seguindo modinha pra postar foto colo-
rida no face e se passar por vítima dizendo que a sociedade é
homofóbica. Dá até preguiça de comentar essa pag ekkkkkkk vai
catar coquinho minha filha, pra ser educado.
Leandra: Verdade. Quanto mais pedimos pra nos mostrar o artigo
que mostra onde está que ele não pode beijar quem ele quiser
fora do local de trabalho é desrespeito ao exército mais revoltadi-
nho você fica. Não sigo modinha alguma, luto pela minha causa
e pode ter certeza que tenho muito mais caráter que pessoas que
enxem a boca pra falar de Deus, mas não faz nada para demonstrar
amo ao próximo. Nunca me fiz de vítima para nada e você não
me conhece. Não sabe nada de minha vida. Então defenda seus
princípios com seus argumentos embasados porque quando você
faz comentários como acima fica parecendo aqueles moleques que
não tem o que dizer e começa procurar coisas pessoais pra atacar.
Pra ser educada contigo, vai estudar pra ver se expande essa mente
pequenina que você carrega.
já que se comprovou que a cada três dias ocorre um assassinato. Essa esta-
tística não é só acerca de assassinatos contra homossexuais, mas a qualquer
crime motivado por considerar alguém inferior, contrário ou anormal diante do
que o/a assassino/a considera como padrão, e concluem que “comportamentos
homofóbicos variam desde a violência física da agressão e do assassinato até a
violência simbólica, em que alguém considera lícito afirmar que não gostaria de
ter um colega ou um aluno homossexual”.
As redes sociais estão impregnadas de publicações e enunciados que ins-
tigam a violência contra os/as homossexuais, a maioria delas insinuando que
seria uma forma eficaz de “endireitar” o indivíduo, tornando-o heterossexual
à força; outros acreditando que se o indivíduo deseja viver sua homossexuali-
dade, este deve vivê-la de forma privada, às escondidas, sendo merecedor/a de
ataques físicos e verbais caso ultrapasse as paredes de sua casa para vivenciá-la
em um ambiente público, como já exposto em um dos comentários analisados.
Evidencia-se a necessidade de medidas protetoras e de políticas públicas que
defendam os Direitos Humanos, evitando violências, cada vez mais frequentes,
e propiciando mais liberdade às/aos LGBTT, sem que estes/as vivam sob a pre-
dominância da insegurança.
O Facebook possui uma ferramenta para denunciar qualquer publicação
considerada ofensiva, e funciona com muita precisão. Cabe a nós, enquanto
humanos/as e educadores/as, lutar por uma sociedade em que todos/as possam
amar e se respeitarem pelo que são enquanto participantes ativos desta comu-
nidade, e não pelos papéis exercidos em suas intimidades, num contexto sexual.
Referências
Resumo
A proposta, o trabalho
O que ficou/marcou?
Esta foi uma pergunta feita na autoavaliação, mas que, de certa forma,
apareceu também na conversa que tivemos para a avaliação das atividades
desenvolvidas. Nenhum/a estudante deixou de expressar algo nesse sentido e,
como pontos que marcaram a importância do trabalho, aparecem a possibili-
dade de construírem conhecimentos, de refletirem sobre o tema e de estenderem
a discussão para além da escola.
“Aprendi muito com esse trabalho, aprendi muito além de uma
matéria da escola, realmente foi um aprendizado que foi muito além
dos muros do colégio. Aprendi pra vida o respeito ao próximo.”.
“Comecei a refletir muito mais depois das intervenções e comparti-
lhei alguns sentimentos com pessoas próximas.”.
“Problematizei, conversei sobre o tema em casa, com meus pais,
que também é primordial o conhecimento e um nível de respeito
que é digno dos LGBTTI da parte deles.”.
2 Na foto: estudantes que aparecem com tarja no rosto não apresentaram autorização de responsáveis
para publicação de fotos. Por esse motivo têm suas identidades preservadas.
“A gente foi colar os cartazes e certa pessoa achou que não pre-
cisava e falou: ‘Nossa! A aula de vocês é isso?’ Tipo: Ah! Essa é
uma questão que não importa! O que importa é Física, Química,
Matemática... isso importa. Mas você falar de homofobia... a maio-
ria das pessoas não se importa!”.
“Você tá fantasiada de que? De sapatão?”.
“Pude ver que em um colégio com uma diversidade enorme de
pessoas e pensamentos, ainda existem muitos pensamentos homo-
fóbicos, ofensivos e invasivos. Para mim foi o que mais me marcou
é de que maneira esse assunto é tratado pelos professores e alunos.
Talvez por ser minoria? Ou por não ser meu problema? De tanto
não ser ´meu problema’ as pessoas se tornam ignorantes.”.
“Percebi que falar de LGBTTIfobia é um tabu. Pessoas quando
percebem que o movimento é sobre isso, se retraem. Acho que o
preconceito está mais presente do que pensávamos”.
“Mesmo com tantas discussões atualmente, pude perceber quanta
ignorância e intolerância existe por aí.”.
De tudo isso, ficou a vontade de continuar, entrar na luta, fazer algo para
mudar o que entenderam como realidade das pessoas LGBTTI e ver o tema
sendo tratado na escola.
“Eu espero que esse trabalho não acabe aqui. Espero que a gente
fale mais, informe mais, faça mais...”.
“Desse trabalho ficou o espírito de acabar com a homofobia, o
espírito de luta”.
“Precisamos falar mais da LGBTTIfobia e esse trabalho, pra mim, foi
uma inspiração para estudar e entender muito mais o assunto, além
de lutar contra a homofobia.”.
“Sentia além do desprezo, um pouco de falta de informação. Por isso
acho que a escola tinha que trabalhar desde o Ensino Fundamental,
falar mais do preconceito, da LGBTTIfobia...”.
Considerações finais
A experiência desse trabalho foi muito gratificante para mim. Percebi tam-
bém o quanto se trata de uma luta importante que precisa ser cada vez mais
assumida por nós, educadoras e educadores. Primeiro porque o preconceito e
a desinformação ainda são muito arraigados em nossa cultura e precisam ser
enfrentados intensamente. Segundo porque pequenas ações, como julgo terem
sido as propostas realizadas pelo trabalho em questão, têm potencial para trans-
formações que possam ser bastante significativas.
Como maior dificuldade apontada pelos/as estudantes, fica o não envolvi-
mento de outros/as professores/as nas atividades, embora eu tenha esclarecido
que se tratava de uma proposta particular de minha parte e não tenha solicitado
nenhuma parceria nesse sentido. Mesmo assim, eles/as esperavam mais parti-
cipação ou pelo menos comentários de incentivo, que também dizem não ter
acontecido. Este foi o motivo para que não realizassem o que programaram
A manera de introducción
Surgimiento
Descripción
víctimas por crímenes de odio. Varias personas ondean banderas del arcoíris
alrededor de la Plaza. Se colocó un banner en la Plaza con el logotipo diseñado
para ese año que fueron tres velas de contorno blanco sobre un fondo rosado,
y sobre ellas se colocaron veladoras blancas. A la par de este banner se colocó
otro con diferentes fotografías de personas LGBTI muertas en El Salvador. Luego
de las palabras de los líderes religiosos, entre las cuales resonó en muchas
ocasiones la palabra “impunidad”, se procedió a encender las veladoras. Para
finalizar se realizó una liberación de globos en la plaza.
Esta Tercera Plegaria profundiza en su sentido político, ya que se emite un
comunicado. Entre las demandas se pueden nombrar (Asociación Salvadoreña
de Derechos Humanos “Entre Amigos”, 2014):
levantarlas en alto, representando una plegaria de justicia para que las muertes
de todas las personas LGBTI no continúen impunes.
La Quinta Plegaria Rosa LGBTI se realizó en la Plaza de El Salvador del
Mundo, el 18 de junio de 2016. En está ocasión se aprovechó la actividad para
hacer un homenaje a las personas muertas en Orlando (EE. UU.), aparte de
recordar y denunciar las muertes de personas LGBTI en El Salvador. El lema prin-
cipal de la actividad estuvo representado por el hashtag #EsteEsNuestoFuturo,
el cual marcó las actividades políticas de diversidad sexual entre mayo y junio
de 2016. Este hashtag se originó por la prohibición de una campaña publicitaria
de una compañía telefónica que apelaba a las diferencias como una condición
de los seres humanos. El movimiento de diversidad sexual se apropió de ese
mensaje.Como lema secundario se utilizó una frase de Eduardo Galeano: Los
muros de la desigualdad están empezando a desmoronarse. Esta afirmación,
nace del coraje de ser diferente.
Existieron nuevos elementos simbólicos que se incorporaron a la activi-
dad entre los que destacaron fue la colocación de cruces blancas con manchas
rojas alrededor de la plaza, la colocación de una rainbow flag sobre el césped
y la utilización de farolitos1 para proteger las velas. Como en otros años, una
madre en representación de familiares de personas muertas dio su testimonio,
en su discurso manifestó que: “La violencia me quitó un hijo, pero me quedaron
todos ustedes”. Se realizó una plegaria en nombre de las personas fallecidas. Un
representan religioso dio su mensaje. Un coro ejecutó varias piezas musicales.
Las velas se encendieron y los presentes rodearon la bandera del arcoíris, levan-
tando sus velas y las cruces manchadas de sangre.
Reflexión
1 Los farolitos son cubiertas elaboradas con papel celofán. Son representativos de la fiesta católica del
7 de septiembre que se realizan en las ciudades de Ahuachapán y Ataco en el occidente del país.
Referencias
BUTLER, Judith. Vida precaria: El poder del duelo y la violencia. Buenos Aires:
Paidós, 2006.
______. Marcos de Guerra. Las vidas lloradas. Buenos Aires: Paidós, 2010.
No caso de homofobia, ataques aos homens cis gays, teremos outra dinâ-
mica. Segue um relato:
Voltava pra casa caminhando e um cara começou a conversar
comigo. Viemos conversando por uns 10 minutos. O Aterro é uma
área de cruising. Quando chegamos à altura da minha casa atraves-
samos uma das passarelas e paramos numas árvores entre as pistas.
Alí ele me estrangulou, eu desmaiei. Acordei com a língua cortada
e dores pelo corpo. Acho que ele me chutou.
http://temlocal.com.br/Relatos/Visualizar?b=51
e diminui o sujeito, fazendo com que ele seja visto como homem de menor
valor.
Quando analisamos a bifobia temos que ressaltar que parte dos ataques
sofridos acontecem na própria comunidade LGBT que não se isenta de ser
também preconceituosa. O ataque à suposta e frequente análise da indecisão
deste indivíduo, usando agressões que vão desde homem ou mulher bissexual
ser tratado(a) como uma pessoa falha, ao não ser nem homo ou heterossexual, e
ser incapaz de confiança, até a ataques que a/o aproxima da homo/lesbofobia.
O bissexual é a orientação sexual mais apagada. No trecho a seguir, a vítima,
de performance descrita como afeminada, sofre ataques que se aproximam da
homofobia:
Estava (...) afeminado (...), estava maquiado, de unhas pintadas e
uma camisa bem chamativa. (...) decidi ir pela rua da Papa G por
ter mais chances de estar movimentada, já o sair decidi a andar
perto de um grupo de afeminados, e percebi olhares, ao chegar
perto da estação mercadão um grupo de senhores falavam alto
sobre “Os viados passando do outro lado” que tínhamos que mor-
rer e que estavam todos no “bar gay” fazendo suruba que ali era
um lugar de orgias (...)passou um carro preto cheio de homens e
começou a andar devagar, (...) só ouvi eles gritarem “Viado, Bicha”
e me chamando para fazer sexo com eles, fiquei (...).”
http://temlocal.com.br/Relatos/Visualizar?b=75
Considerações finais
Referências
BUTLER, Judith. Corpos que pesam: sobre os limites discursivos do “sexo”. In: LOURO,
Guacira Lopes. (Org.). O corpo educado: pedagogias da sexualidade. Trad. Tomaz
Tadeu da Silva. Belo Horizonte: Autêntica, 2000.
Natalia Kleinsorgen
Mestra em Mídia e Cotidiano pelo Programa de Pós-graduação em Mídia e
Cotidiano da Universidade Federal Fluminense.
natkbb@gmail.com
diante do peso da existência naquele lugar e da própria proposta, que era falar
sobre violência dentro de um espaço desumanizado.
Depois de algumas conversas, chegamos à conclusão de que nossa
expectativa era mais sobre o que poderíamos aprender do que ensinar. Afinal,
qualquer atividade de escuta entre mulheres, de troca de experiências entre
pessoas do sexo feminino, é extremamente engrandecedora: quanto mais ouvi-
mos, mais conseguimos nos identificar nos relatos e projetar soluções juntas.
sentindo fome e sono” até “eu não saberia que tinha passado por situações
violentas até ouvir a palestra de hoje”. Quase todas agradeceram por estarmos
ali, alegando sentirem-se aliviadas, mais conectadas umas com as outras e, em
alguns momentos, livres.
Após todas serem ouvidas - inclusive nós e as professoras - propomos um
abraço coletivo. Nossa ideia era que pulássemos e gritássemos algum “grito de
guerra” juntas, mas fomos alertadas para a impossibilidade de fazer barulho.
Decidimos, então, aproximarmos ao máximo dentro desse abraço e falarmos
uma frase escolhida por elas, que tivesse força suficiente, mesmo sem ser gri-
tada. Para a nossa surpresa, depois de umas duas sugestões aleatórias, logo
existiu um consenso: a frase escolhida foi “liberdade para todas”.
Referências bibliográficas
Bases teóricas
Considerações finais
Referências
CAPRA, Fritjof. O impasse da economia. In: CAPRA, Fritjof. O ponto de mutação. São
Paulo: Cultrix, 1993.
PELÚCIO, Larissa. Teoria Queer/Estudos Queer. In: CARRARA, Sérgio...[et al]. (Org.).
Curso de Especialização em Gênero e Sexualidade. Rio de Janeiro: CEPESC; Brasília,
DF: Secretaria Espacial de Políticas para as Mulheres, 2015.
SCOTT, Joan. Gênero: uma categoria útil de análise histórica. Educação e Realidade,
v.16, n.2, jul./dez. 1990, p. 5-22.
WEEKS, Jeffrey. O corpo e a sexualidade. In: LOURO, Guacira Lopes (Org.). O corpo
educado: pedagogias da sexualidade. Belo Horizonte: Autêntica, 2000.
Bruno de Freitas
Doutorando, Programa de Pós-graduação em Geografia, IG/UFU.
freitasbrunode@gmail.com
Resumo
Introdução
das mulheres, de acordo com cada uma das grandes regiões globais repre-
sentadas no mapa. Isto porque, objetivava-se saber quais eram as concepções
regionais femininas da turma, no que diz respeito às variáveis socioeconômicas,
étnicas, culturais e religiosas da mulher ao longo do espaço global.
Após o preenchimento do mapa, foi possível perceber que o mesmo
representava de forma homogênea as características étnicas, socioeconômicas,
culturais e religiosas de cada região global. Neste sentido, foi possível perceber
que os alunos representaram estas características de forma muito bem distintas
de acordo com cada região, mesmo se considerando que os mesmos sabiam
que existiam heterogeneidades por entre as regiões.
Neste sentido, foi possível observar que as representações na América do
Norte havia a concentração de mulheres brancas com cargos executivos, líde-
res políticas (ainda que estas fossem de outras regiões do mundo), mulheres que
exercem funções profissionais vinculadas ao militarismo. Esta representação
também ocorreu na Europa, sendo que o que diferia era que estas mulheres são
louras. Em oposição a esta concepção por parte dos alunos, foi possível perce-
ber que os alunos entendem que a África é composta por mulheres negras, de
baixo poder aquisitivo e que ocupavam posições rudimentares no mercado de
trabalho, ou até mesmo que trabalham na lavoura para o próprio sustento.
Foi possível perceber que o entendimento dos alunos no que se refere às
mulheres asiáticas se restringia às suas características étnicas. Neste sentido, os
alunos afirmaram que “as mulheres da Ásia são brancas e possuem os olhos
puxadinhos”(Ernesto1, 2013). Além disto, é possível afirmar que a representação
das mulheres no Oriente Médio estava vinculada às representações religiosas,
por meio do reconhecimento de vestimentas, tais como a burca. Percebeu-se
que na Oceania não havia nenhuma característica que fosse capaz de fazer
com que os alunos tivessem uma representação acerca das questões abordadas
nesta atividade.
Interessante ressaltar que a única região que foi representada de forma
heterogênea foi a América do Sul, pois nesta região continha negras, brancas,
líderes políticas, mulheres com cargos executivos e vinculados à agricultura.
Chama-se a atenção de que este fato se deve por entenderem que o Brasil
1 Os sujeitos de pesquisa foram identificados por codinomes, com o objetivo de preservar a identida-
de dos sujeitos envolvidos na pesquisa.
representa a América do Sul e neste país haver grande diversidade étnica, socio-
econômica, cultural e religiosa.
Deu-se início aos questionamentos a partir da atividade realizada, quando
o executor da oficina questionou o porquê da concentração em cada região de
mulheres com características semelhantes. Os alunos responderam que este
fato se deve por “existir pessoas da mesma etnia e que há lugares mais desen-
volvidos do que os outros” (Antônia, 2013).
Os alunos afirmaram que este fato se deve por questões de exploração
destas regiões e a mesmas não serem desenvolvidas, no caso a África. A pro-
fessora regente explicou que esta região é caracterizada por índices de pobreza
elevados e ao mesmo tempo possuem mulheres, ainda que em menor intensi-
dade que ocupam altos cargos e outras que são brancas. E que neste sentido,
devem-se analisar as questões espaciais de forma complexa.
Foi explicado aos alunos que não é porque uma mulher habite um país
desenvolvido, seja sinônimo de que a mesma tenha os mesmos acessos obtidos
pela grande maioria da população. Isto porque ao mesmo tempo as regiões
vistas enquanto desenvolvidas, também há problemas socioeconômicos e as
regiões pobre também há parcela da população que possuem de significativo
poder econômico.
Sobre as questões étnicas foi explicado que estas regiões existem dife-
renças e, por exemplo, podem existir mulheres asiáticas em outros lugares do
mundo, da mesma forma que podem existir negras em outras regiões do espaço
global. Sobre as questões religiosas foi afirmado que as religiões são bem dis-
tribuídas ao longo do espaço global o que não significa dizer que cada região
possui características completamente delimitadas espacialmente.
Finalizou-se esta dinâmica questionando aos alunos percebem a composi-
ção socioeconômica, étnica, cultural e religiosa da mulher por entre as regiões
globais. Além disto, foi questionado se há possibilidade de ser diferente, se ana-
lisado a representação do mapa preenchido por eles. Os alunos apresentaram
que nas grandes regiões há diferenças, mesmo que em pequenas proporções.
Neste sentido realizou-se outra dinâmica acerca da representação por imagens
no outro mapa sem preenchimento.
Neste sentido, os alunos iniciaram a atividade, mas desta vez com um
olhar mais complexo no que se refere às temáticas trabalhadas tangem às
questões femininas contemporâneas pelo espaço global. Na realização da ati-
vidade os alunos reforçavam que na África existem mulheres brancas, louras,
Considerações Finais
Referências
pensar, a partir disso que, ao identificar um gay como bicha pão com ovo, além
de o estarmos desqualificando por seu contexto de origem, estaremos também
delimitando suas possibilidades de ações em determinados contextos.
Vale destacar que não é somente a classe que opera nessas marca-
ções e delimitações. Outros marcadores também estarão presentes, de forma
concomitante, definindo privações e privilégios de acordo com as relações esta-
belecidas. Se pensarmos também que as bichas pão com ovo podem ser ou não
associadas com comportamentos ditos como afeminados, podemos perceber
que, junto com a classe, estarão em análise as formas como esse gay age na
sociedade. Portanto também serão classificadas de acordo com sua performati-
vidade de gênero, ou seja, os modos como expressam o gênero (Butler, 1991). A
referência às “bichas poc poc ou quá quá” como “extremamente” afeminadas,
com voz fina e geralmente mais novas também fornece pistas sobre essas dife-
renciações. Estas identidades são extremamente rechaçadas e normalmente são
considerados como modelo aos estereótipos do gay nos meios de comunicação
e entretenimento (Araújo, 2008). Estas configurações de marcadores também
atuarão nas relações estabelecidas quando os objetivos forem as possibilidades
de interação afetivo-sexual.
No que tange aos comportamentos sexuais, deparamo-nos com uma
hierarquia na qual os comportamentos são classificados conforme se aproxi-
mam ou se distanciam das normas sociais de masculinidade e feminilidade. Os
comportamentos que são tidos como remetendo à feminilidade, como o papel
passivo no ato sexual (as “passivas”), são comumente vistos como inferiores se
relacionados aos papeis ativos relacionados a masculinidade (os “ativos”). Em
diversos estudos sobre a “pegação” e prostituição entre homens, a masculini-
dade é tida como moeda de troca importante (Perlongher, 1987, França, 2014)
e define as configurações dos pares que atuarão no ato. Conforme forem apre-
sentado comportamentos que se distanciem da figura do macho, os mesmos
vão sendo menos desejáveis e então sofrerão penalidades (Oliveira, 2015) que
definirão aqueles que conseguirão mais ou menos parceiros.
O “cafuçu” (Soares, 2012) identidade que associa gays com classe social
baixa, mas com uma corporalidade tida como desejável (musculoso e “pegada
forte”), acaba tendo maior notoriedade por ser uma identidade atribuída à uma
masculinidade considerada “viril”, o que o coloca num nível de desejabilidade
alto por apresentar as características do macho ideal (Oliveira, 2015). Essa cate-
goria normalmente é atribuída não só a homossexuais como também se refere
Considerações Finais
Referências
SILVA, Tomaz Tadeu da. Identidade e diferença: a perspectiva dos estudos culturais/
Tomaz Tadeu da Silva (org.) Stuart Hall, Kathryn Woodward. Petrópolis, RJ: Vozes,
2000.
SCOTT, Joan Wallach. “Gênero: uma categoria útil de análise histórica”. Educação &
Realidade. Porto Alegre, vol. 20, nº 2,jul./dez. 1995, pp. 71-99.
um aluno começa a xingar e falar alto que ele não era obrigado a ficar na sala
vendo “pouca-vergonha”, ficou muito nervoso e saiu. Eu não parei o filme, nem
fui atrás para tentar conversar com ele, pois fiquei preocupada em como a
turma reagiria à situação. Era uma turma de 26 alunos do curso de eletrotécnica,
em sua maioria meninos. Então após o fim do filme fomos realizar o debate
tanto sobre o ocorrido quanto sobre os possíveis porquês de tal reação. Ouvi
dos alunos que era mesmo difícil ver um filme onde meninos da idade deles se
beijavam que isso contrastava com o que tinham aprendido em casa, mas que
estavam percebendo que amor, é amor, independente de ser entre meninos
com meninos ou meninas com meninas. Confessaram que existe uma enorme
pressão da parte da família e da sociedade para que sigam padrões preestabele-
cidos e que era muito difícil viver seguindo tais expectativas. Foi uma conversa
muito enriquecedora, pois aqueles adolescentes sentiram, experimentaram a
possibilidade de expressarem as pressões a que estão expostos.
Depois tentei conversar com o aluno que saiu da sala, mas ele nunca
mais voltou à minha aula. E ainda hoje fico me perguntando se segui por um
caminho que “retirou” da aula de arte um adolescente ou se os que ficaram é
que aprenderam algo sobre o que é viver nesse mundo “Demasiado Humano”.
Ainda ronda sobre mim esta sombra que aflige muitos docentes. Eu pode-
ria ter utilizado metodologias mil para trabalhar o filme, talvez devesse ter
preparado mais os/as fruidores/espectadores para aquela aula, mas isso eu acho
que nunca saberei. O que sei é que este acontecimento está sempre em minha
mente quando estou preparando um módulo de aulas, uma aula específica e
buscando imagens e filmes para compor um repertório. Mas, como busquei
trabalhar pela filosofia da diferença utilizo um quase-mantra: faça rizoma, não
enraíze, nem plante (DELEUZE e GATTARI, 1995). Isso me faz pensar que existe
uma complexidade na relação que se estabelece entre o/a fruidor/espectador de
uma obra e a obra em si, essa complexidade ativa forças criativas, subjetivas que
podem revelar pulsões, metáforas, abstrações e poéticas das mais variadas for-
mas, oportunizando transformação em todos os envolvidos no processo ( ROSSI,
2003). Ou poderíamos ainda nos refugiar em Heródoto para lembrar que nunca
mais seremos os mesmos após nos banharmos no rio e nem o rio será o mesmo.
Busco refletir este acontecimento pela vertente de partilha do sensível
proposto por Jaques Rancière (2009) onde o político atua nas subjetividades,
onde somente se participa da sociedade, da cultura, da arte, da política pelo
engajamento, do ruído e do silêncio como forma de experiência. Então, quando
aquele aluno xingou, não era a mim que ele queria atingir, mas atingiu, porque
não passamos por esse tipo de situação ilesos. Seus gritos representavam silen-
ciamentos sucessivos de como deveria se comportar, do que era esperado dele
enquanto menino hétero. Aquela reação representou sua experiência de estar
no mundo e ser pressionado por anos a fio a fazer o que se esperava dele: Uma
reação violenta ao que é diferente do que lhe fora ensinado em casa. Cabe à
sociedade como um todo assumir a responsabilidade da fratura e da descons-
trução a essas expectativas tanto para o que é “masculino” quanto para o que é
“feminino”, para a sexualidade CIS ou não.
Como a arte, através das imagens que disponibiliza, pode ser agente de
ação nas frestas? A resposta, suponho, está na própria pergunta. Nas frestas!
Nos entre lugares, na partilha de subjetividades outras, que não estão dispostas
nas prateleiras dos conhecimentos enlatados a que muitos professores se acos-
tumaram, seja através dos livros didáticos, dos artistas consagrados neoclássicos
_e até modernos, ou nos filmes cheios de clichês que muitas vezes são exibidos
em sala para passar o tempo.
Diz-nos Rancière (2009) que, as “práticas estéticas” se vinculam às praticas
artísticas que intervém nas maneiras de distribuição, nos fazeres, nas suas rela-
ções com maneiras de ser e formas de visibilidade, ou seja, a arte possibilita outras
intervenções, fazeres, maneiras de ser e também contribui para uma elaboração
e novos repertórios de visibilidade. Em resumo: Compõe-se política com ima-
gens, pois elas revelam/escondem/ampliam/esvaziam as possibilidades de estar
no mundo. Essa partilha da sensibilidade é corroborada por Judith Butler não nos
termos que Rancière nos apresenta, mas pelo seu caráter político, a saber: “ O
poder que a princípio parece externo, pressionado sobre o sujeito, pressionando
o sujeito à subordinação, assume uma forma psíquica que constitui a identidade
do sujeito” (BUTLER, 2011, p. 13- tradução nossa). Dentro dos mecanismos que
constituem as subjetividades do sujeito e sua identidade, estão as imagens com
as quais este sujeito se relaciona cotidianamente e que lhe conferem também
subjetividades e identidades. Com suas voltas especulares sobre si mesmas, as
imagens podem promover as fratura de nossas certezas ontológicas.
Quiçá isto tenha acontecido no percurso desta aula que relatei, pois espero
que tanto para minha prática docente, quanto para os discentes que ali se encon-
travam e principalmente para aquele que interrompeu o processo de fruição do
filme aos gritos e xingamentos, tenham todos passado pelo processo, pela expe-
rimentação, pela inquietação, pela dor de ser confrontado e de ter as certezas
sacudidas.
Referência Bibliográficas
BUTLER, Judith. Mecanismos Psíquicos del Poder - Teorías sobre la sujeción. 3ª ed.
Barcelona-ES: Ediciones Cátedra, 2011. Trad. Jacqueline Cruz.
RANCIÈRE, Jacques. A Partilha do Sensível- estética e política. 2ª ed. Rio: Editora 34,
2009. Trad. Mônica costa Netto.
ROSSI, Maria H. Wagner. Imagens que Falam- Leitura da arte na escola. 2ª ed. Porto
Alegre: Editora Mediação, 2003.
1 Pessoas que não se identificam com o sexo e gênero correspondente ao que lhes foram designados
no momento de seu nascimento.
O grupo
O grupo formado pela CRDH se caracteriza por ser aberto, o que implica
que as pessoas não precisam estar presentes em todas as reuniões e que pes-
soas novas podem ser integradas ao mesmo durante a sua execução. Outra
característica é que esse grupo também é hegemônico, ou seja, as famílias que
irão participar das reuniões não passam por uma triagem prévia e não se cons-
tituem critérios de inclusão e de exclusão para as pessoas integrarem o grupo.
Desse modo, tem-se a peculiaridade de que durante os encontros há a presença
de diferentes pessoas ao longo dos encontros, em diferentes níveis de contato e
engajamento com movimentos transativistas, o que cria rico espaço para con-
versas e debates entre as famílias que o compõe.
Os primeiros três encontros do grupo foram pautados por conversas livres
entre as famílias que o compõe. As pessoas ocupavam o tempo narrando suas
trajetórias com a/o familiar transexual e, principalmente, compartilhando infor-
mações, experiências e modos de facilitar o processo transexualizador de suas/
seus familiares. Entretanto, a equipe percebeu um esvaziamento de pautas após
três semanas dessa modalidade de encontros, as mesmas pessoas falando de
forma a ocupar todo o momento do grupo, além das/os componentes do grupo
solicitarem por algumas respostas da equipe.
Desse modo, foi proposto que os integrantes do grupo, juntamente com
a equipe facilitadora, montassem um cronograma de assuntos de interesse das
famílias a serem debatidos nos encontros seguintes. Chegou-se às seguintes
temáticas: questões geracional, de orientação sexual e de identidade de gênero;
mudanças corporais e visuais decorrentes do processo transexualizador; invisi-
bilidade de homens trans; cisgeneridade e cissexismo; diagnóstico de loucura
e disforia de gênero; procurando sinais/pistas/causas das identidades transexu-
ais; movimentos de despatologização das identidades transexuais; adaptação
da família com os nomes e pronomes que as pessoas revogam durante e após
Considerações finais
Referências
Introdução
que estava sendo exposto. Cada grupo recebeu uma lista com diversos adje-
tivos. Estes adjetivos foram usados para nomear as figuras trazidas por eles.
Exemplos:
Considerações Finais
Referências bibliográficas
SCOTT, Joan. Gênero: uma categoria útil de análise histórica. Revista Educação
& Realidade, v.20, n.o 2, julho/dezembro de 1995, pp. 71-99 Porto Alegre, UFRGS/
FACED
PIERRO, Gabriel Di. ORTIZ, Marília. Gênero fora da caixa. Guia prática para edu-
cadores e educadoras. 1° Edição 2011. Disponível em: <http://www.soudapaz.org/
upload/pdf/genero_fora_da_caixa_web.pdf> Acesso em: 25/11/2014.
Considerações finais
Encontros presenciais
Módulos
Projetos de intervenção
Considerações finais
Hellen Santos
Doutoranda em Psicologia Social e Institucional UFRGS
helenpsi@yahoo.com.br
uma contradição, pois as lutas sociais são pessoais e coletivas. A idéia é promo-
ver uma clínica ampliada e intercessora, que dialogue com múltiplos saberes e
processos de subjetivação, em especial os estudos sobre gênero e sexualidades.
Ou seja, como afirma Benevides (2002), clínica e social são indissociáveis
e é mais uma questão a ser tratada no registro ético-político do que no jurídico
ou simbólico. Trata-se de tomar clínica e social como linhas em regime de
variação contínua, mesclando-se de tal maneira que só caberia pensar em opo-
sição – complementação se as tomarmos como universais. A clínica-dispositivo
pode intervir de modo a tornar a história pessoal como uma das linhas que
atravesssam e são atravessadas pela enunciação de uma época, produzidas por
um coletivo-multiplicidade que não pode ser reduzido a noção de molar social.
Grupo de Vivência para pessoas Trans: possibilidade de vivências
Como dito anteriormente, o Centro de Referência em Direitos Humanos,
o CRDH, tem como princípios básicos o direito à liberdade e o respeito à diver-
sidade nas formas de vivência e constituição dos indivíduos. Com uma atuação
que teve início em 2011, o CRDH trabalha com diversas situações de violações
de direitos humanos ligadas às questões de gênero, orientação sexual, raça e
classe.
Para o enfrentamento dessas questões de violação de direitos humanos
em vários âmbitos como raça, identidade de gênero, classe, orientação sexual,
o CRDH tem como conceito central o de interseccionalidade (Crenshaw, 2002,
Carneiro 2001). Dessa forma, é no reconhecimento de que cada sujeito é for-
mado por uma rede de relações formadas por marcadores sociais de diferença.
Ou seja, reconhece-se que as relações sociais são formadas por hierarquizações
onde gênero/sexo/sexualidade, raça/etnia, classe social, religião, entre outros,
são articulados, criando vulnerabilidades. (SILVEIRA Et al, 2015)
As relações de poder são estabelecidas de forma desigual dependendo de
quais dos marcadores sociais atravessam as vivências. Pensa-se num sujeito a
partir dos preceitos de Foucault (1983), onde este não existe de forma anterior
e definitiva, ou seja, este é criado e recriado historicamente. Supera-se também
algumas dicotomias que são calcadas nas atuações de maneira geral, como a
de indivíduo-sociedade, saúde-doença, sujeito-coletivo. Tais binarismos, bem
como a valorização de explicações biológicas dicotomizantes e crenças reli-
giosas muito conservadoras produzem discursos que colocam em cheque a
existência de certos indivíduos e a garantia de seus direitos básicos. As diferenças
entre os corpos, a partir desses discursos, são transformadas em desigualdades,
Referências
Palavras iniciais
Este foi o último dos encontros ocorridos, talvez a baixa adesão por parte
dos/as docentes tenha desestimulado a continuidade do trabalho. De qualquer
forma, os momentos tocaram as pessoas que os vivenciaram.
Neste relato traremos algumas questões que foram mais instigantes
durante os três encontros ocorridos. Para a construção e análise dos dados,
utilizamos dos registros elaborados durante as observações dos encontros e
também de alguns escritos produzidos pelos/as participantes em relação aos
artefatos culturais.
Uma situação que causou incômodo na autora deste artigo foi quando no
primeiro encontro, um professor da escola disse não concordar com aquilo, que
via como uma coisa da mídia e que a rede Globo agora estava exibindo “gays
bonzinhos”. Ele disse ser evangélico, não aprovava essas atitudes e ainda relatou
que ele e os pastores não concordavam, pois eram fundamentalistas e que tudo
isso era uma falta de respeito. Após a fala dele, todas/os ficaram calados/as e,
em seguida, uma colega perguntou ao professor: “Se aquele garoto [se referindo
a Mário – personagem do curta Vestido Novo] fosse seu filho, o que você faria?”
Perguntou duas vezes e ele silenciou. A discussão foi retomada, o professor che-
gou a falar outras coisas e depois se ausentou.
A presença do discurso religioso na fala do professor é algo recorrente
nos trabalhos com a temática em questão. O professor fala de um lugar e uti-
liza da autoridade das igrejas protestantes para se posicionar. Neste caso ele
reitera que há um incentivo ou investimento por parte das mídias televisivas
em colocar a homossexualidade como uma possibilidade de vivência da sexu-
alidade e entendemos que isso incomoda os discursos normativos pautados na
heteronormatividade. Dialogar sobre as ditas minorias sexuais, no caso, lésbi-
cas, gays, bissexuais, travestis, transgêneros e intersexuais no espaço escolar é
entendido, pelo professor como falta de respeito. Este desrespeito se refere a
não seguir uma determinada lógica fundamentada no discurso judaico-cristão
que compreende as outras expressões de gênero e sexualidade como demoní-
acas, antidivinas e contrárias aos valores da família tradicional (NATIVIDADE;
OLIVEIRA, 2013).
Por outro lado, é interessante perceber como a sua colega o inquietou
quando lhe perguntou sobre a possibilidade de Mário ser seu filho. O silêncio
foi a resposta dada pelo professor. Ressaltamos este aspecto apontando que há
outros posicionamentos sobre diversidade de gênero e sexual que não estão em
conformidade com as normatizações. A professora problematizou estas ques-
tões ao se colocar daquela maneira.
No segundo encontro, uma das professoras retomou o episódio ocorrido
no primeiro dia e comentou que, ao se falar sobre gênero e sexualidade, as pes-
soas levam tudo para o lado religioso e que, portanto, se a gente não continuar
na luta, pode ser cada vez pior. Esta outra professora também destoa do pri-
meiro docente e passa a questionar: por que o discurso religioso é tão potente
quando se fala destas questões? Porque esse incômodo tão grande por parte de
algumas pessoas?
e alunas como se essa não nos afetasse: somos todos e todas arrastados nesse
processo”.
Por meio dos vídeos, as/os participantes relataram situações em que as
sexualidades ditas “excêntricas” adentravam a escola, mas eram silenciadas, ou
seja, a escola não agia diante de processos de discriminação, preferindo calar-se
ou mesmo adiar as intervenções. Uma professora trouxe o caso de uma estu-
dante lésbica que deixou a escola e não voltou mais. Estas produções culturais
também provocaram as/os participantes a pensarem em fatos que ocorreram
na família ou com amigas/os, como a história narrada por uma licencianda do
PIBID em que seu amigo ainda tem medo de se assumir para a família e de ser
desprezado pela sua igreja. Logo, os artefatos seduziram e mobilizaram as/os
participantes em se colocarem frente aos debates sobre gênero e sexualidade.
Referências
Realização
Apoio
Constitucional
Organização