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De Ialodes e Feministas JuremaWerneck
De Ialodes e Feministas JuremaWerneck
Jurema Werneck[i]
A luta pela emancipação da mulher negra não tem por finalidade apenas
formar mulheres seguras, capazes e brilhantes, que visem com isto adquirir
privilégios individuais. Essas conquistas são como veículos para gerar
transformações na vida da população negra.[ii]
500 anos? Meu povo já estava aqui quando eles chegaram... Eu sou capaz
de contar a história deste rio que estamos vendo em até 5 mil anos...O que
Mas na perspectiva posta por bell hooks, a luta das mulheres negras por
descolonização nos diferentes níveis, ou seja, de corpos, mentes, sistemas
políticos, econômicos, sociais, religiosos, culturais, raciais, etc, poderá
implicar um feminismo, claro. Este, diferenciado daquele produzido pelas
diferentes correntes do lugar comum feminista e provocando uma
contradição indissociável em seu interior, uma vez que se coloca em
confronto com posições de privilégio ou de dominação. Ou seja, de
confronto com os interesses mais cotidianos dos habitantes brancos do
mundo; principalmente os da Europa e dos Estados Unidos, independente
de serem homens ou mulheres.
Vêm portanto, de uma África mítica, imaginada; de uma África que é real,
porém traduzida, os padrões de organização e ação política empreendidas
até aqui.
Um relato sobre ela vem a seguir. Trata-se de uma história da tradição oral
da comunidade religiosa, que tem sido contada e recontada a partir das
comunidades de Candomblé de Ketu [vii] no Brasil:
E assim foi feito. Preparada a vistosa oferenda, Oxum foi levá-la ao palácio
do rei.
política.
Por outro lado, desde a perspectiva das mulheres negras no Brasil, a teoria
feminista
A vivência destes conflitos vai, no prazo maior, produzir uma nova feição
ao feminismo.
O principal desafio que o século XXI coloca para ativistas como um todo e
para as mulheres negras feministas é o enfrentamento do pensamento
único, das políticas neoliberais, do processo de mundialização e hiper-
concentração da economia a partir de pequenos grupos e indivíduos que
têm sob seu controle meios informatizados de especulação financeira.
A luta interposta pela sociedade civil passa a requisitar, a partir daí, maior
articulação e
Esta Rede surgiu no ano de 1992, integrada por mulheres negras da maioria
dos países da região. Seu principal objetivo referia-se a articular o
feminismo negro da região a partir de ações de afirmação identitária das
mulheres negras, do combate ao racismo e à discriminação.
Suas bandeiras abrangentes mostraram-se insuficientes para a
implementação de uma agenda política comum às mulheres negras da
região, de modo a vir a constituir-se em agentes políticas relevantes no
cenário tanto local, regional quanto internacional. Ao contrário esta
articulação não foi capaz de estabelecer estratégias ágeis de atuação e
construção de agendas comuns. E, surpreendentemente, a Red mostrou-se
incapaz de lidar com as diferenças e os conflitos secundários a um
posicionamento político mais explicitamente colocado. E que dissesse
respeito ao enfrentamento do contexto político e econômico da
mundialização especulativa financeira.
Notas:
[ii] Fala da ativista Pedrina de Deus, citada por Lemos, Rosália, “A face
Negra do Feminismo: problemas e perspectivas”. In Werneck, Jurema,
Mendonça, Maisa e White, Evelyn C.( 2000) O Livro da Saúde das
Mulheres Negras:nossos passos vêm de longe (pp.62-67). Rio de Janeiro,
Pallas Editora/Criola/ Global Exchange.
[viii] Em julho de 2004 marca-se a passagem dos dez anos de sua morte.