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Sebastião Anselmo

O evangelho segundo tomé


(Um Guia para a Sabedoria)

Edição do Autor
O Evangelho Segundo Tomé – Um Guia para a Sabedoria

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Sebastião Anselmo

O EVANGELHO SEGUNDO TOMÉ


(Um Guia para a Sabedoria)

CONTENDO AS 114 LOGIAS COMENTADAS E INTERPRETADAS


INDIVIDUALMENTE

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O Evangelho Segundo Tomé – Um Guia para a Sabedoria

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Sebastião Anselmo

DEDICATÓRIA

A Sócrates e aos Sete Sábios [Tales de Mileto, Periandro de Corinto,


Pítaco de Mitilene, Bias de Priene, Cleóbulo de Lindos, Sólon de Atenas e
Quílon de Esparta] aos quais é atribuída a autoria da frase escrita no
Pórtico do Oráculo da Cidade de Delfos, na Grécia, que assim diz:
– ‘Ó homem, conhece-te a ti mesmo e conhecereis os deuses e o universo’.

A Jesus de Nazaré, que anunciou:


– ‘Conhecereis a Verdade, e a Verdade vos trará Libertação’ [O
Evangelho Segundo João, 8:32]

Ass.: Sebastião Anselmo.


Janeiro de 2.020.

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O Evangelho Segundo Tomé – Um Guia para a Sabedoria

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Sebastião Anselmo

PALAVRAS INICIAIS

A versão de ‘O Evangelho Segundo Tomé’, que apresentamos neste


trabalho, é uma compilação de diversas traduções, com algumas diferenças,
segundo o idioma ou manuscrito utilizado pelos tradutores que
consultamos. O Texto Original, encontrado acidentalmente em Nag
Hammadi, Alto Egito, em 1.945, é um conjunto de 114 Sentenças,
chamadas Logias, ou Logions [Verbo, Palavra, Ensinamento, Doutrina],
escritas por Judas, o Gêmeo [Didymos, em grego; Tauma, em aramaico;
donde Tomé, em siríaco; e Tom, em hebraico]. Este Judas, é o mesmo
‘Judas Tadeu’, autor da ‘Epístola de Judas’ do ‘Novo Testamento’, que se
apresenta como irmão (carnal) de Tiago, o Justo, e ‘irmão’ de Jesus. Na
verdade, esses dois apóstolos eram ‘primos-irmãos’ de Jesus, parentesco
que costumava ser abreviado com a simples palavra ‘irmão’, pois eram
filhos de Alfeu, também chamado Clopas ou Kleópas, irmão de José (pai
de Jesus), e de Maria (esposa) de Clopas.
Acredita-se que ‘O Evangelho Segundo Tomé’ foi escrito ainda antes
dos assim chamados ‘Evangelhos Canônicos’, mas foi recompilado por
volta do ano 140 [A.D.] e seriamente estudado por alguns ‘Pais da Igreja’,
entre ele, Orígenes [185-254]; porém, foi considerado ‘apócrifo’ no
Segundo Concílio de Nicéia [ano 787]. Depois de ter sido excluído dos
textos ‘canônicos’, este Evangelho só voltou a ser conhecido e estudado no
século XX, quando o professor H. G. Evelyn White, da Universidade de
Cambridge, publicou The Sayings of Jesus from Oxyhrynchus – uma
tradução em inglês de dois papiros em grego do século III – onde constam
somente 14 Sentenças do Texto Original, e que foram descobertos, em mau
estado, entre 1896 e 1907 na famosa ‘Estação Arqueológica de
Oxyrhynchus’. O Texto Original Completo somente ficou conhecido do
grande público a partir de 1981, quando a Harper Row
Publishers publicou ‘The Nag Hammadi Library’, tradução em inglês dos
cinquenta e dois tratados – escritos em copta – encontrados próximo de
Nag Hammadi, em 1.945.
Temos, portanto, duas fontes distintas de material em que se basearam
os diversos tradutores desta Obra, daí resultando em algumas diferenças
nos textos consultados; porém, como o Texto Original foi escrito em ‘nível

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O Evangelho Segundo Tomé – Um Guia para a Sabedoria
consciencial’ mais elevado do que a escrita simplesmente ‘literal’, repleto
de termos simbólicos a fim de ocultar dos ‘não iniciados’ os
‘Ensinamentos Secretos de Jesus, O Vivo’, é preciso lê-lo com ‘olhos de
ver’ e compreender o seu significado ‘substancial’, muito além do véu da
letra.

Ass. Sebastião Anselmo.


Janeiro de 2.020.

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Sebastião Anselmo

O PREFÁCIO DE TOMÉ

Estes são os Ensinamentos Secretos que Jesus, o Vivo, proferiu e que


Judas Tomé, o Gêmeo, anotou.
Jesus transmitiu ‘Ensinamentos Secretos’ aos discípulos porque
considerava que eles tinham ‘ouvidos de ouvir’, ou seja, eram capazes de
compreender com profundidade os Novos Conceitos da Novíssima
Revelação da ‘Doutrina do Reino’, que viera trazer ao mundo, conforme
escreveu o apóstolo Mateus: ‘A vós é dado conhecer os mistérios do
reino, mas a eles isto não é dado’ (Mt. 10:11). Ao povo em geral ele
falava por parábolas, porque sabia que eles não eram capazes de
apreender o significado profundo do que ele ensinava, atendo-se apenas à
superficialidade, ao ‘véu da letra’; por isto, escreveu o apóstolo Paulo: ‘A
letra mata, mas o espírito vivifica’ (conf. 2Co. 3:6), querendo dizer que a
‘palavra escrita’ mata o ‘sentido espiritual de seu significado’, mas o
‘espírito ou sentido espiritual da letra’ torna-a viva, alçando-a ao seu
verdadeiro significado. Por isto, também, Jesus fez muitas críticas aos
escribas (os que copiavam os Textos Sagrados em pergaminhos), fariseus
(que constituíam uma das mais importantes seitas do judaísmo da época),
e doutores da lei (intérpretes da lei de Moisés), dizendo que eles haviam
ocultado a ‘Chave do Conhecimento (a Gnose) do reino’, não entrando,
nem deixando que outros entrassem (conf. Lc. 11:52). Aqui mesmo, neste
‘Evangelho Segundo Tomé’, encontramos tais críticas aos escribas e
fariseus: ‘Escribas e fariseus tomaram para si as Chaves da Sabedoria e
as ocultaram. Nem eles entram, nem a outros deixam entrar’ (conf. Logia
nº 39), e: ‘Ai dos fariseus, porque se assemelham a um cão deitado no
cocho dos bois: não comem, nem deixam comer!’ (conf. Logia nº 102).
Esses ‘Ensinamentos Secretos’, de alta profundidade e significado
espiritual, Jesus os transmitia apenas aos discípulos mais aptos a
compreendê-los; ainda assim, como veremos no decorrer deste estudo, não
era sem dificuldade que eles os assimilavam.
Jesus, aqui neste ‘Evangelho’, é chamado de ‘o Vivo’ não porque
ressuscitou, como interpretam alguns; mesmo porque Tomé, muito
provavelmente, fez essas anotações muito antes de sua morte e
ressurreição. Lembremo-nos de que é preciso interpretar todas essas
‘anotações’ de Tomé muito além do ‘véu da letra que mata o sentido
puramente espiritual do texto’. Jesus é chamado ‘o Vivo’ porque adentrou o

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O Evangelho Segundo Tomé – Um Guia para a Sabedoria
‘reino da Luz do Vivo’ e se fez um com a ‘Centelha’ n’A qual o seu
espírito foi gerado. O ‘Vivo’ é o ‘Fogo Gerador de Centelhas’. O
‘Conjunto das Centelhas Geradas pelo Vivo’ formam um ‘Brilho’, que é o
Seu ‘Filho Unigênito’, n’O qual surgiu o Universo físico-material e
espiritual. Este ‘Brilho da Luz do Vivo’ é ‘Pura Consciência’, e é chamado
de ‘Consciência Cósmica Universal’, e cada uma dessas ‘Centelhas’ que O
compõem está conectada com o ‘Todo do Brilho’, com esta ‘Consciência’.
Cada uma dessas ‘Centelhas’ que compõem o ‘Brilho da Luz do Vivo’ dá
origem a um ‘ente espiritual’, um ‘princípio inteligente’, uma ‘micro
consciência’ ou ‘mente’ que surge ‘simples e ignorante’, como um
computador virgem, mas que vai desenvolvendo-se por diversos ‘reinos da
natureza espiritual e material’, desde os mais primitivos como onda,
eletricidade, etc., de altíssima vibração, e vai lentamente, por diversos
ciclos, ou ‘reinos’ da natureza, tornando-se cada vez mais denso, até chegar
à matéria mais bruta, de baixíssima vibração, como os minérios que
formam o ‘reino mineral’, seguido pelo ‘reino vegetal’ e culminando, pelo
menos aqui em nosso planeta, no ‘reino animal’, do qual o homem faz
parte como um ‘animal pensante capaz de raciocinar’. Quando este ‘ente
espiritual’, em sua jornada evolutiva pelo Cosmos, ultrapassa a fronteira
que separa os animais ‘sem ciência de si mesmos’ dos animais que já
adquiriram a capacidade intrínseca de ‘pensar e raciocinar’, ele adentra um
novo patamar evolutivo dentro do reino animal: o assim chamado ‘reino
hominal’. Neste ‘novo reino’, esta ‘micro consciência’ em
desenvolvimento toma posse de um novo ‘sentido’, do qual era desprovida
nos reinos anteriores: o ‘livre arbítrio’. Esta capacidade de ‘julgar e
arbitrar’ sobre o que melhor lhe convém, individualmente, causa uma
‘desconexão-íntima’ com o ‘Concerto Geral da Natureza’ que, em seu
funcionamento perfeito, não prioriza o indivíduo em particular, mas a
‘Harmonia do Todo’. É neste momento evolutivo do ente espiritual surgido
na Centelha que ele deixa para trás o ‘governo puramente instintivo’ de
suas ações e reações e passa, paulatinamente, a tentar dominá-lo, tendo por
meta vencê-lo definitivamente, sendo o ‘verdadeiro senhor’ de todas as
suas ações e reações.
Neste processo natural de desenvolvimento, o ‘ente espiritual’ conclui
seu processo evolutivo – pelo qual passou nos reinos anteriores onde
conquistou capacidades importantes para sua futura condição, como as
sensações de dor, medo, solidão, alegria, prazer, etc., como ‘ser

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Sebastião Anselmo
individual’, adentrando a categoria de ‘espírito-mente’ que, pela
capacidade de ‘livre-arbitrar’ sobre suas escolhas, sobe de patamar
evolutivo – adquirindo um ‘ego’ ou a sensação de ser ‘separado’, ou
‘destacado do Todo Universal’, passando da categoria de ‘individual’ para
a nova categoria de ‘individualizado’. Como um ‘ser individual’ ele ainda
se sentia ‘parte do Conjunto do Todo’ que governa a Natureza através dos
instintos particulares e preponderantes a cada espécie a que pertenceu em
sua jornada, mas como um ‘ser individualizado’ ele rompe esta percepção,
porque torna-se capaz de suplantar os instintos guiando-se por suas
próprias escolhas, julgamentos e arbítrio. E é justamente esta ‘quebra’ com
o ‘sistema instintivo anterior’ – programado para cada espécie, que garante
o ‘equilíbrio natural do funcionamento das Leis Universais que regem o
Cosmo’ – que causa a ‘divisão’ ou ‘separação’ do homem [ou Adama, a
Humanidade], com a ‘Harmonia do Todo’, tornando-o um ser
‘individualizado’ que, a partir daí, passa a desenvolver o seu ‘ego’ até
tornar-se ‘predominantemente egoísta’, dominando o mundo em que vive e
subjugando todas as espécies ‘inferiores’, evolutivamente falando,
utilizando-as, ao máximo, para o próprio prazer e deleite, trazendo
‘desarmonia’ num sistema que, sem ele, estaria ‘equilibrado’. Foi
justamente analisando este processo de condensação da personalidade do
‘ente espiritual’ até chegar à sua completude, no estágio humano, que um
pensador cunhou a expressão: ‘O espírito dorme no mineral, respira no
vegetal, sonha no animal, e desperta no homem’.
Porém, embora a aquisição da faculdade do ‘livre-arbítrio’ seja de
extrema importância para o espírito, em seu processo de desenvolvimento
em direção à Centelha n’A qual foi gerado – como foi o ‘instinto’ nos
reinos anteriores – isto lhe traz consequências gravíssimas, porque suas
‘escolhas’, frequentemente em desarmonia com as ‘Leis Universais que
regem o Todo’, trarão para si a necessidade de encarar as ‘consequências
de suas ações’, conforme o grau de desenvolvimento de sua consciência,
através da ‘Lei de Ação e Reação’, também conhecida por alguns como
‘Lei do Carma’. E assim, no legítimo exercício de seu ‘livre arbítrio’, ele
vai se tornando cada vez mais responsável por seus atos, segundo o seu
nível consciencial, experimentando as consequências boas ou ruins de suas
ações, aprendendo a discernir o que lhe faz bem, espiritualmente falando,
daquilo que lhe faz mal, reajustando-se às ‘Leis de Harmonia que regem o
Todo Universal’. Neste processo de ‘percepção do que lhe causa dor ou
prazer’, ele vai, lentamente, se aproximando do ápice de seu
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O Evangelho Segundo Tomé – Um Guia para a Sabedoria
desenvolvimento mental no ‘reino humano’, desenvolvendo qualidades que
o aproximam cada vez mais de sua verdadeira essência – a Centelha n’A
qual seu espírito foi gerado – e evolui para uma ‘União-Íntima com Ela’,
que o fará transcender este ‘reino evolutivo’ habilitando-o a adentrar o
próximo, que é a ‘Verdadeira Humanidade’, o reino do ‘Homem Integral’
que uniu-se natural e definitivamente à sua Centelha e se fez ‘Um com
Ela’. E a ferramenta necessária para alcançar este patamar evolutivo é
justamente o ‘conhecimento de si mesmo’, ou seja, tornar-se internamente
consciente de quem ele é, do como, do porquê, e da finalidade de sua
existência. E é no exato momento em que o homem está maduro para dar
este passo, por ter exercitado ao máximo suas capacidades e conhecido as
consequências do bom e do mau uso de seu ‘livre arbítrio’, que ele começa
a ser ‘preparado intimamente’ para a próxima fase de sua evolução
espiritual, que só alcançará quando tiver concluído o seu ‘processo
interior’ de autoconhecimento; é neste momento histórico que as ‘Leis
Cósmicas que regem o Universo’ apresentam-lhe Jesus para ser o seu ‘Guia
e Modelo’ no Processo de Transição da condição de ‘separado’, pela
infiltração de seu ego em seu relacionamento íntimo com a Centelha em
seu mundo interior, para a condição de ‘Uno com a Luz da Centelha do
Vivo’, n’A qual foi gerado. E Jesus, por ser um espírito que já adentrou o
‘reino da Luz do Vivo’, é destacado pela ‘Lei Cósmica’ a trazer ao mundo a
‘Doutrina’, ou os ‘Ensinamentos’, que auxiliarão o homem a galgar mais
este degrau evolutivo. Jesus se apresenta como um ‘mensageiro
capacitado’ que sabe que a ‘mensagem’ é mais importante que o seu
portador, por isto não exige para si nenhuma posição de destaque,
superioridade, ou de privilégios, apagando-se como homem para que a ‘Luz
da Centelha’ possa brilhar com toda a Sua pujança diante dos homens que
o conheceram, e também dos que o não conheceram, como brilha até hoje,
dois mil anos após a sua passagem pelo planeta. E é nesta real posição que
Tomé o apresenta, no prefácio de seu ‘Evangelho’, escrevendo: Estes são
os ‘Ensinamentos Secretos’ que Jesus, O VIVO, proferiu e que Judas Tomé,
o ‘Gêmeo’, anotou. Judas Tomé, o autor deste ‘Evangelho’, foi um dos
quatro ‘irmãos de Jesus’, conforme noticiaram alguns evangelistas: ‘Não é
este o filho do carpinteiro? Não se chama sua mãe Maria, e seus irmãos,
Tiago, José, Simão e Judas?’ (conf. Mt. 13:55 e Mc. 6:3); Jesus tinha
também algumas ‘irmãs’, conforme narram esses mesmos evangelistas:
‘Não vivem entre nós todas as suas irmãs?’ (conf. Mt. 13:56 e Mc. 6:3).
Muita confusão tem causado, nos meios teológicos, a expressão ‘irmãos

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Sebastião Anselmo
de Jesus’, transcrita dos evangelhos canônicos, no decorrer desses dois
milênios. Firmemos o que é verdadeiro:
1. Tiago, José, Judas e Simão são filhos de ‘Alfeu e de Maria, esposa
de Clopas’: À primeira vista parece contraditório, porque os evangelistas,
na descrição dos nomes dos apóstolos de Jesus, são unânimes em afirmar
que ‘Tiago é filho de Alfeu’ (conf. Mt. 10:3; Mc. 3:17; Lc. 6:15) e ‘Judas
é irmão de Tiago’ (conf. Lc. 6:16), mas João (19:25) afirma que esse
mesmo Tiago é ‘filho de Maria, esposa de Clopas’. Aí está a raiz do
problema. Como podem ser filhos de ‘Maria’ (conf. Mt. 13:55 e Mc. 6:3)
e de ‘Alfeu’ (conf. Mt. 10:3; Mc. 3:17; Lc. 6:15), se esta mesma Maria,
apontada como a mãe deles, era esposa de Clopas (conf. Jo. 19:25)? A
explicação é bem simples: Era comum, naquela época, a duplicidade de
nomes, um hebraico (Halphai, donde Alfeu), e outro grego (Kleópas, ou,
simplesmente, Clopas). Assim, João se tornava ‘Jasão’, Phaltiel se
tornava ‘Filipe’ e Levi se tornava ‘Mateus’. Esse Clopas, citado por João,
é dito ‘irmão de José’ (pai de Jesus) por Hegesipo (cronista cristão de
meados do Séc. II), o que faz de seus filhos ‘primos-irmãos’ de Jesus,
parentesco que costumava ser abreviado com a simples palavra ‘irmão’.
Este mesmo ‘Alfeu/Clopas’ foi um dos ‘discípulos de Emaús’ e é citado
por Lucas em seu evangelho, onde se lê: ‘Um, porém, chamado Cleopas,
respondeu [a Jesus], dizendo: És o único, porventura, que, tendo estado
em Jerusalém, ignoras as ocorrências destes últimos dias?’ (conf. Lc.
24:18).
2. Pensam alguns que ‘Maria de Alfeu/Clopas’ era irmã de Maria,
mãe de Jesus, o que também faria de seus filhos Tiago, José, Judas e
Simão ‘primos-irmãos’ de Jesus, e de suas filhas ‘primas-irmãs’; mas
como se explicaria o fato de duas irmãs terem exatamente o mesmo
nome?
3. A afirmativa de alguns apócrifos e dos ‘Pais da Igreja’ Orígenes,
Epifânio, Gregório de Nissa, Hilário, Ambrósio e Eusébio, de que os
citados ‘irmãos de Jesus’ teriam sido fruto de um primeiro casamento
de José, também não se sustenta; pois, se eram filhos de ‘Maria de
Clopas’ (como já vimos acima), e ela ainda estava viva e presenciou a
crucificação de Jesus (conf. Mt. 27:56; Mc. 15:40 e Lc. 24:10), como
poderia ter sido ela a primeira esposa de José? E José, tendo-a
abandonado, ter se casado em segundas núpcias justamente com sua
irmã?
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O Evangelho Segundo Tomé – Um Guia para a Sabedoria
4. A identidade de Judas Tomé, o autor deste Evangelho: Os
evangelistas Mateus, Marcos e Lucas listam os nomes dos ‘Doze
Apóstolos’ de Jesus, e há uma importante diferença entre elas. Vejamos:
Todas as três listas trazem um apóstolo de nome ‘Tomé’, mas será este o
‘Tomé’ autor deste Evangelho? O ‘Tomé’ que tornou popular a expressão
‘ver para crer’ ao duvidar da ressurreição de Jesus seria o mesmo ‘Judas
Tomé, irmão de Tiago, primo-irmão de Jesus’? Nas listas de Mateus e
Marcos encontramos apenas um ‘Judas’, o Iscariotes, e um certo ‘Tadeu’
que é omitido por Lucas, que o substitui por um outro ‘Judas, irmão de
Tiago’, além do Iscariotes; donde se conclui que o ‘Judas’ extra da lista
de Lucas é o mesmo ‘Tadeu’ das listas de Mateus e Marcos. O autor deste
‘Evangelho Segundo Tomé’ é, portanto, o apóstolo conhecido por Judas
Tadeu, e não aquele outro que passou para a história por negar a
ressureição de Jesus. Mas, porque este apóstolo, ‘irmão de Tiago e primo-
irmão de Jesus’, ora é chamado Judas, e ora Tadeu? A resposta também é
bem simples: ‘Tadeu’ ou ‘Lebeu’ não são nomes próprios, mas apenas um
designativo de uma qualidade de seu portador. Judas significa ‘louvor a
Deus’, e Tadeu significa ‘aquele que louva [a Deus]’, o que é ‘íntimo [de
Deus, por seu constante louvor]’, ou ainda, aquele que tem o ‘coração
[jungido a Deus, por seu constante louvor]’; e Lebeu, por sua vez,
significa ‘coração forte’, um coração fortemente ‘jungido a Deus’, por
seu constante louvor. Trata-se, portanto, da mesma pessoa, que ora é
chamada Judas, e ora Tadeu, por suas qualidades e virtudes. Fato
interessante e digno de nota é que somente aqui, neste ‘Evangelho
Segundo Tomé’, ele se apresenta, ao invés de simplesmente ‘Judas, irmão
de Tiago’ [como o fez em sua epístola, contida no Novo Testamento],
como ‘Judas, o Gêmeo’. Gêmeo de quem? De Tiago? De outro de seus
irmãos, como José ou Simão? Ou, como alguns que esposam a tese de que
Jesus teve irmãos carnais, gêmeo de Jesus? Esta resposta não a
encontraremos em nenhum dos textos até hoje conhecidos. Lembremo-
nos, também aqui, que é preciso interpretar todas essas ‘anotações’ de
Tomé muito além do ‘véu da letra que mata o sentido puramente espiritual
do texto’. A palavra que traduziram como ‘gêmeo’ significa, simplesmente
‘igual’; e tem o sentido de ‘igual, em essência, a tudo e todos da Criação’,
como no Mandamento que diz: ‘Amar a Deus, [que está, vibratoriamente]
acima de todas as coisas; e, ao próximo [que está, vibratoriamente, num
nível] igual a si mesmo’; como é muito bem explicitado, aqui neste
‘Evangelho’, na Logia nº 22, que diz: ‘Quando deixardes de serdes dois e

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Sebastião Anselmo
vos tornardes Um, vereis o interior como [igual] o exterior, e o exterior
como [igual] o interior; o de Cima como [igual] o de baixo, e o de baixo
como [igual] o de Cima; o masculino como [igual] o feminino, e o feminino
como [igual] o masculino. Então [quando deixardes de serdes dois e vos
tornardes Um], entrareis no reino’.

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O Evangelho Segundo Tomé – Um Guia para a Sabedoria

AS LOGIAS

1. Disse Jesus: Quem souber interpretar o sentido oculto desses


Ensinamentos, não provará a morte.
Logo de início, na primeira ‘Logia’, Tomé anota a ‘advertência’ de Jesus:
Esses ‘Ensinamentos’ possuem um ‘Sentido Oculto’, portanto, não devem
ser interpretados apenas segundo a letra; eles foram passados aos que têm
‘olhos de ver e ouvidos de ouvir’, ou seja, aos que são capazes de
interpretá-los e compreendê-los muito além do ‘véu da letra que mata o
sentido puramente espiritual do texto’. Os ‘olhos e ouvidos’ de quem os lê
devem estar preparados para receber a ‘Sabedoria do reino da Luz do
Vivo’, que se encontra internamente, dentro deles mesmos, e que Jesus vai,
ao longo deste ‘Evangelho’, revelando e desvelando, paulatinamente, ‘de
fora para dentro’, para que os possam encontrar, definitivamente, ‘de
dentro para fora’. Através desses ‘Ensinamentos’, o ‘iniciado na Doutrina
do reino do Vivo’ tomará conhecimento do que ‘não foi visto por nenhum
olho, nem ouvido por nenhum ouvido; o que nenhuma mão tocou e o que
nenhum coração sentiu’ (conf. Logia nº17).
Esses ‘Ensinamentos’ trazem esclarecimentos profundos aos que já
possuem a capacidade de interpretá-los ‘além do véu da letra’, um
‘Conhecimento’, ou uma ‘Gnose’, capaz de trazer-lhes uma enorme
compreensão sobre o ‘Mecanismo que rege o Todo Universal’ e também a
existência de ‘Tudo o que há nele contido’; porém, traz também muita
responsabilidade, pois a finalidade de tal ‘Conhecimento’ ou ‘Gnose’ é
transformar a existência de quem a possui, através da ‘vivência constante’
de tal ‘Sabedoria’, pois ‘a quem muito foi dado, muito será pedido’ (conf.
Lc. 12:48). A responsabilidade de quem consegue acessar o ‘sentido oculto
desses Ensinamentos’ é realmente imensa, pois pede-se que os seus
‘pensamentos, sentimentos, emoções, palavras e ações’ sejam ‘espelhos’
desse Conhecimento: ‘Pelos frutos serão reconhecidos’, diz Jesus em Mt.
7:20; não é pelas palavras ditas da boca para fora, nem pelo discurso
emotivo e acalorado, mas pelos ‘frutos’. E a responsabilidade se torna
ainda maior se levarmos em conta esta sentença do Mestre: ‘Aquele que da
minha boca beber, se tornará Eu; e Eu me tornarei ele’ (conf. Logia nº
108).
O Mestre ensina ‘o que não foi visto por nenhum olho, nem ouvido por
nenhum ouvido’, mas adverte: ‘O que ouvirdes com um ouvido, anunciai-o
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Sebastião Anselmo
pelo outro do alto dos telhados’ (conf. Logia nº 33); ou seja, se
compararmos o nosso corpo físico a uma ‘casa’, um ‘tabernáculo’ que
possui dentro de si o ‘reino da Luz do Vivo’, podemos dizer que o
‘telhado’, a parte que ‘cobre’ o nosso corpo físico, no alto da cabeça, é a
nossa ‘consciência’, que é a ‘antena que nos conecta ao reino da Luz do
Vivo’ dentro de nós, que é localizado, como dito muitas vezes de forma
alegórica, em nosso ‘coração’, no ‘cerne’, na ‘essência mais íntima de nós
mesmos’, na ‘Centelha n’A qual surgimos como seres espirituais’. Então, o
que ouvirmos com o ouvido desta ‘Conexão Íntima com a Centelha’,
devemos imediatamente ‘anunciá-lo’, ou seja, ‘compreendê-lo com o
outro’, o ouvido de nosso intelecto mental ou espiritual, a fim de fazermos
desta ‘Gnose’ ou ‘Conhecimento’, parte de nós mesmos; e que seja
refletido, como num ‘espelho’, em todos os nossos ‘pensamentos,
sentimentos, emoções, palavras e ações’, incorporados imediatamente aos
nossos hábitos e condicionamentos, mesmo nos mais instintivos e
espontâneos de nossas personalidades; pois, segundo o Mestre, ninguém
‘acende uma lâmpada para colocá-la sob o velador, e tampouco num lugar
oculto. Pelo contrário, acende-se a lâmpada para colocá-la sobre o
velador, para iluminar a todos os que entram e saem da casa’ (conf. Logia
nº 33).
O ‘velador’ é a mente espiritual que ‘vela’, ou seja, possui uma
‘existência contínua’; abaixo da mente temos o ‘intelecto’, e acima dela a
‘consciência’; então, não devemos almejar o ‘Conhecimento do
funcionamento da Vida’, ou do ‘reino do Vivo’, apenas intelectualmente,
sem que este ‘Conhecimento’ realmente se torne ‘parte de nós mesmos’,
refletido em todas as nossas ações; pois, se assim fosse, seria um
‘conhecimento estéril’, sem frutos, além de trazer consequências funestas a
quem o possuísse e não o praticasse. É deste modo que esta ‘Luz colocada
sobre o velador de nossa mente’, em nossa consciência, ilumina a todos os
‘pensamentos, sentimentos, emoções, palavras e ações’ que entram e saem
da casa, simbolizada pelos nossos corpos físico, mental e espiritual.
Aqueles que ainda não adentraram o ‘reino da Luz do Vivo’, estão na
‘morte’, ou seja, na ‘ausência’ da ‘Luz do Vivo’; e, por não serem
‘Sabedores’, ou por não terem ainda o ‘Conhecimento’ de que são ‘filhos
do reino da Luz do Vivo’, são ‘filhos da ignorância’, existindo em miséria,
apartados da ‘Lucidez’ ou da ‘Sabedoria’ que povoa a vida de quem já
adentrou este ‘reino’ (conf. Logia nº 3). Os que estão na morte, se

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O Evangelho Segundo Tomé – Um Guia para a Sabedoria
alimentam do que é morto, ou seja, agem na ignorância de que são ‘filhos
da Luz do Vivo’, e seus frutos são maus, porque agem em função de seu
próprio ego, do que lhes agrada e convém individualmente, causando
desequilíbrio na ‘Ordem Geral do Funcionamento do Todo’, que não
privilegia o indivíduo, mas rege em função do ‘Bem-Estar do Todo
Coletivo’; por isto, sofrem as consequências de suas ações egoístas,
desconectadas com o ‘reino da Luz do Vivo’ que, não obstante estar dentro
deles, o ignoram, existindo em miséria, apartados deste ‘reino Interno’,
onde há Equilíbrio e Harmonia, Sabedoria e Felicidade, colhidos no serviço
desinteressado ao próximo, que deve ser amado ‘como amamos a nossa
própria alma’, e com o qual devemos ter ‘o mesmo cuidado que temos com
a pupila de nossos olhos’ (conf. Logia 25).
Quem adentra o ‘reino da Luz do Vivo’ vive na abundância, mesmo em
meio à miséria do mundo, e não nos referimos aqui à abundância material,
que é transitória e que nem sempre é sinônimo de felicidade; mas em
abundância e prosperidade espiritual, com os sucessivos êxtases de alegria
que somente quem já os experimentou poderia compreender o que sente
quem adentra o ‘reino’. E só ‘entra no reino’ aquele que, após
compreender o ‘sentido oculto dos Ensinamentos’, os pratica em sua vida
diária, aproveitando todos os momentos possíveis para colocá-los em
prática. Diz Jesus: ‘Quem de mim se aproxima e pratica o que Eu ensino,
está perto da Chama [do reino da Luz do Vivo]; quem de Mim se distancia
[e não pratica o que ensino], está longe do reino [da Luz do Vivo]’ (Conf.
Logia nº 82).
Estando o ‘ser espiritual’ longe da ‘Luz’, permanece na ‘morte’; mas
‘quando o discípulo se faz Um [com o reino do Vivo], pela Luz é
preenchido; porém, se permanece separado, a treva o preenche’ (conf.
Logia nº 61); a ‘treva’, ausência de ‘luz’, é semelhante à ‘morte’, ausência
do ‘Vivo’. Um cego vive nas trevas, mesmo em meio à luz;
semelhantemente, aquele que não despertou para a Sabedoria de que é
‘Filho do Vivo’ vive na ‘morte’, mesmo em meio à ‘Vida’. E, tendo uma
vez conhecido a ‘Sabedoria’, não provará mais a ignorância; tendo uma
vez conhecido a ‘Luz’, não provará mais a treva; tendo uma vez conhecido
a ‘Vida’, não provará mais a morte.
2. Aquele que busca, continue buscando, até encontrar; e, quando
encontrar, ficará admirado; e, em estado de admiração, ficará
maravilhado – e então, extasiado, tomará conhecimento do Todo.
18
Sebastião Anselmo
Nesta Logia, Jesus incentiva aos ‘iniciados na doutrina do reino’ a
buscá-lo, incessantemente, e não desistir, até encontrá-lo. No ‘Evangelho
Segundo Mateus’, encontramos ensinamento semelhante: ‘Pedi, e dar-se-
vos-á; buscai e achareis; batei, e abrir-se-vos-á’ (conf. Mt. 7:7). Quando
insistimos num tipo de conduta, ela, aos poucos, vai se transformando em
hábito e, logo, passa a fazer parte natural de nosso comportamento. A cada
vez que emitimos um ‘pensamento’, ou externamos um ‘sentimento’, uma
‘emoção’, ou pronunciamos uma ‘palavra’, ou realizamos uma ‘ação’, que
nos foram ‘movidos por dentro’, brotados de nosso interior, do ‘reino da
Centelha’, ainda que em seus estágios iniciais, quando ‘cedemos a este
impulso interno’, significa que estamos ‘pedindo acesso consciente a este
reino’, que o estamos buscando, que estamos batendo à sua porta para que
ele se nos abra; e, então, conforme a nossa constância em atender a esses
‘impulsos’ que brotam de nosso íntimo mais íntimo, ele se nos abrirá. No
entanto, o Mestre nos adverte no sentido de ‘filtrarmos’ com eficiência, a
fim de identificarmos sem titubeios, o que brota de nosso ‘íntimo’, onde
habita a ‘Centelha’, e o que brota de nosso ‘ego’, a parte ‘dividida’ de nós
mesmos; e o seu conselho é este: ‘Sede prudentes como as serpentes, e
mansos como as pombas’ (conf. Logia nº 39). E ele continua: ‘Quando
deixardes de serdes dois e vos fizerdes Um, contemplareis como iguais
tanto o interior como o exterior; o do Alto como o de baixo; o masculino
como o feminino. Então, entrareis no reino’ (conf. Logia nº 22). E não é
possível entrar no ‘reino’ se não o desejarmos com todas as nossas forças e
não aplicarmos todo o nosso empenho para alcançá-lo; a iniciativa precisa
ser nossa, por isto é necessário, em primeiro lugar, ‘pedir’, ‘buscar’ e
‘bater’, para que a ‘resposta’ venha ao nosso encontro. E esta ‘resposta’
nada mais é que a ‘consequência’, ou a ‘reação’ de nossa ação. Tudo, no
Universo, é regido pela ‘Lei de Causa e Efeito’, inclusive nossa entrada no
‘reino do Vivo’. Diz Jesus que, quando encontrarmos o ‘reino do Vivo’ no
interior de nós mesmos, passaremos, inicialmente, por três estágios:
1. Admirado: Significa ‘contemplar com grande interesse, tomado de
espanto e surpresa’. Isto acontece quando nos damos conta de que tudo o
que existe é a ‘forma exterior’ de uma ‘causa interior’ que é a ‘Luz do
Vivo’, que a tudo permeia e faz existir. E, quando dizemos ‘tudo o que
existe’ queremos dizer exatamente isto: ‘Tudo’, inclusive nós próprios.
Quando nos conectamos à ‘Centelha’ em nosso íntimo, ‘compreendemos’
que ‘todas as formas que o homem vê, ocultam a Luz que as manifesta no
mundo; porém, esta mesma Luz, quando percebida pelo homem, ocultará
19
O Evangelho Segundo Tomé – Um Guia para a Sabedoria
as formas por Ela manifestadas’ (conf. Logia nº 83). É apenas o nosso
‘ego’, que se acredita ‘distinto’, ‘separado’, e, portanto, ‘dividido’ de todos
os seres e ‘coisas’ que existem no Universo, que faz com que nos sintamos
‘melhores’ e ‘superiores’ a tudo o mais. Desfeita esta ‘ilusão’ causada pela
‘forma exterior’ que oculta a ‘Luz interior’ que a manifesta, entramos no
‘reino da Luz do Vivo’.
2. Maravilhado: Significa ‘repleto de encantamento, de
deslumbramento’. Isto acontece após o estado de ‘admiração’, quando
passamos a verdadeiramente nos sentirmos ‘iguais’, no mesmo ‘nível’, de
tudo o mais que existe no Universo, porque somos ‘formas exteriores’
manifestadas pela mesma ‘Luz interior’; e é isto que nos faz ‘iguais’ e ‘no
mesmo nível’ de tudo o mais. É por isto que o maior mandamento, segundo
Jesus, é ‘amar à Centelha – que se encontra numa frequência vibratória
acima – e ao próximo – que se encontra na mesma frequência vibratória
que nós – como amamos a nós mesmos’ (conf. Mt. 22:37-40). Agindo
assim, diz o Mestre, ‘quando encontrardes Aquele que não foi gerado por
nenhum ventre, prostrai-vos de rosto em terra e adorai-O; pois é Ele o
vosso Pai’ (conf. Logia nº 15).
3. Extasiado: Significa ‘estado em que o indivíduo se percebe fora de si
mesmo’, ou seja, já não se sente mais ‘separado’, ‘destacado’ ‘dividido’,
‘distinto’ de tudo o mais que existe; se sente ‘Um com todos e com tudo’.
Como diz o Mestre: ‘Muitos são os que se colocam diante da porta do
reino, mas apenas os dois que se fizerem Um é que terão permissão para
entrar’ (conf. Logia nº 75). É isto o que significa ‘tomar conhecimento do
Todo’, saber que ‘todos somos Um’, porque brotamos da mesma
‘Essência’, d’A qual somos apenas ‘formas aparentemente diversas’, mas
possuímos, todos, ‘a mesma Luz, tanto em qualidade, quanto em
quantidade’. O que realmente nos distingue, evolutivamente falando, é o
‘grau de capacidade intrínseca que as formas exteriores manifestadas pela
Centelha têm de aceitar, compreender e absorver esta Verdade’.
3. Se vossos mestres vos disserem: o reino está no céu, então as aves o
alcançaram primeiro que vós; ou, se vos disserem: o reino está no mar,
então os peixes o alcançaram antes de vós. Mas não! Ouvi bem: O
reino está dentro de vós, e também fora de vós. Quando vos
conhecerdes a vós mesmos, tomareis conhecimento do Todo e sabereis
que sois filhos do Pai Vivo. Porém, se não vos conhecerdes a vós
mesmos, vivereis na pobreza e sereis a pobreza.
20
Sebastião Anselmo
Aqui, a crença num ‘reino dos céus’ é colocada por terra, não existe tal
reino situado exclusivamente ‘fora de nós’; porém, os tradutores, mesmo os
mais competentes, ainda insistem em traduzir desta forma: ‘Pai do Céu’;
‘Deus do Céu’, ‘Reino dos Céus’, etc., privilegiando a ‘fidelidade à letra
que mata’ e contrariando o ‘sentido espiritual do texto’. Mesmo os
tradutores deste ‘Evangelho Segundo Tomé’, vez por outra, incorrem nesta
imprecisão; não terão percebido que o ‘reino’ não se encontra em algum
lugar ‘específico’, mas em todo o Universo? É isto o que afirma esta Logia:
‘O reino está dentro e também fora de vós’, ou seja, está em toda parte; por
isto não é correto fixá-lo em algum lugar específico, como ‘no céu’, ‘na
terra’, ‘no mar’, etc. Está em toda parte, em todo tempo, entre todas as
criaturas. No ‘Evangelho Segundo Lucas’ encontramos ensinamento
semelhante: ‘Não se poderá dizer [sobre onde está o reino]: Ei-lo aqui! Ou:
Está ali! Porque o reino se encontra dentro de vós’ (conf. Lc. 17:21). O
‘reino’ está ‘dentro’ de nós, e o ‘reino’ é ‘Pleno’ e ‘Completo em si
mesmo’, isto é, ‘Perfeito’. Tudo o que existe no Universo é regido por Leis
Perfeitas que a tudo conduzem à Sua Perfeição, de modo ‘natural’, através
de estágios diversos, reino após reino da ‘natureza’. Dizer que o ‘reino da
Luz do Vivo’ é ‘Completo em Si Mesmo’ é igual a afirmar que Ele é ‘Pleno
Interiormente’, e nós, os ‘princípios inteligentes’, os ‘germens espirituais’
que surgimos n’Ele é que vamos nos desenvolvendo ‘dentro’ d’Ele. O
‘reino’ está ‘dentro’ de nós, e nós estamos ‘dentro’ d’Ele e n’Ele vamos
nos desenvolvendo, paulatinamente, no início de forma inconsciente e
instintiva, depois, quando rompemos o ‘véu da ignorância’ e nos tornamos
conhecedores de nós mesmos e, portanto, de nossa ‘verdadeira natureza’,
de forma ‘ativa e consciente’. Estamos nos desenvolvendo ‘dentro’ do
reino que, por sua vez, está ‘dentro’ de nós, e, aos poucos, vamos nos
transformando no que ‘realmente somos em essência’, até o momento em
que poderemos dizer, com Jesus: ‘Eu e o Pai somos Um só’ (conf. Jo.
10:30).
Na sequência, o Mestre afirma que ‘quando nos conhecermos a nós
mesmos’, ou seja, quando tivermos consciência de que somos, em essência,
Centelhas da Luz do Vivo, ‘tomaremos conhecimento do Todo Universal’,
formado pelo Conjunto das Centelhas que formam a Plenitude da Luz, que
gerou o Universo em que existimos como formas manifestadas por essas
Centelhas de Luz; e, então, entraremos em Conexão-Íntima com o Todo e
cada uma de suas Partes, ou Partículas. Assim, agindo como ‘seres
luminosos’, filhos do Pai Vivo, veremos que tudo é Luz, independente das
21
O Evangelho Segundo Tomé – Um Guia para a Sabedoria
formas exteriores por Ela manifestada; e então, vencendo a ignorância do
ego que faz com que nos sintamos separados, distintos, que causa a
‘divisão’ entre nós e a Centelha que somos, tomaremos posse de todos os
atributos da Luz, não necessitando mais passarmos por experiências na
carne, a fim de nos desenvolvermos, pois já teremos atingido o objetivo das
reencarnações, das dores, sofrimentos e provações que visam apenas o
nosso desenvolvimento da atual condição de ‘animais racionais’ para a
condição de ‘filhos do reino’, ou seja, de seres iluminados pela Centelha,
que é Luz. Mas, se não nos conhecermos como Essências Luminosas,
‘filhas do Pai Vivo’, continuaremos na ignorância, sob o império do ego,
sujeitos a todas as dores e misérias que têm a finalidade de nos ‘despertar
interiormente para a nossa verdadeira natureza, realidade, e identidade de
Centelhas de Luz do Pai Vivo’; porque, ‘se alguém se julga conhecedor do
reino, mas não conhece a si mesmo, é um tolo; pois este, em verdade, a
nada conhece’ (conf. Logia nº 67), e ‘quem a si mesmo conhece, indigna-se
da ignorância do mundo; do mesmo modo, o mundo indigna-se de sua
sabedoria’ (conf. Logia nº 111). Ignorância e conhecimento de si mesmo
não se atraem, se repelem, não vibram na mesma faixa. Em muitas
ocasiões, Jesus nos disse que ‘os tempos são chegados, e o reino está
próximo; mudai a vossa mente e crede nos Ensinamentos’ (conf. Mc. 1:15).
Sejamos, pois, ‘como o homem prudente, que conhece o tempo da ceifa e,
de ferramenta em punho, colhe o fruto da semente que foi enterrada dentro
de seu campo. Compreenda os que têm ouvidos de ouvir!’ (conf. Logia nº
21)
4. O Mais Antigo perguntará ao Mais Novo: Onde habita o Vivo? E
nele viverá; porque Primeiros e Últimos são Um só.
Encontramos aqui a expressão ‘o Mais Antigo’, que se refere à Centelha,
e que algumas escolas espiritualistas corretamente chamam de ‘o Ancião de
dias’, pois é a ‘Essência Original’ onde o ser espiritual foi gerado; e o
‘Mais Novo’ se refere à ‘personalidade vigente’ ou ‘reencarnação atual’
do iniciado ao ‘reino da Luz do Vivo’. Trata-se de um questionamento
íntimo, de forma intuitiva, em que a Centelha coloca à prova o
autoconhecimento de seu tutelado: ‘Onde habita o Vivo?’. Caso a resposta
seja: ‘Habita dentro e fora de mim; eu O vejo em todas as formas visíveis e
invisíveis aos meus olhos físicos e espirituais, pois que Tudo o que existe
no Universo, e o próprio Universo, é manifestação de Sua Luz’ e se, de
fato, todos os seus ‘pensamentos, sentimentos, emoções, palavras e ações’

22
Sebastião Anselmo
derem testemunho de que ele realmente alcançou esta Verdade, esta
Sabedoria, então ele estará ‘aprovado’ no teste e ‘pronto’ para, finalmente,
deixar de ser ‘dois’ e se fundir à sua Centelha, porque ‘Primeiros e Últimos
são, em essência, um só!’.
5. Conhece o que está diante de teus olhos, e o que a ti estava oculto
te será desvelado; porque não há nada oculto que [a ti] não venha a ser
conhecido.
O termo ‘conhece’, aqui, se refere a ter ‘ciência internamente’. O
‘conhecimento vulgar’ geralmente se refere a uma ‘ciência exterior’,
recebida de fora para dentro, não necessariamente ‘assimilada por dentro’,
a que chamamos ‘horizontalidade’; porque, tal como o ‘horizonte’, ela
muda constantemente, a cada passo dado em sua direção. O
‘autoconhecimento’ é uma ciência interior, ‘vertical’, que nos leva
diretamente à nossa essência espiritual, a Centelha. Quando passamos a
‘conhecer verticalmente’ o que está diante de nossos olhos, acionamos o
assim chamado ‘terceiro olho’, ‘olho espiritual’, ou ‘olho búdico’, o ‘olho
da iluminação’; e a ‘Luz que manifesta todas as formas’, que até ali
permanecia oculta, a nós se revela e passa a ser percebida, conhecida ou
reconhecida; e, então, ‘tomamos conhecimento de que em tudo está
presente a Luz do reino do Vivo’.
6. Os discípulos perguntaram: Devemos jejuar? Como devemos
orar? Devemos dar esmolas? E quanto aos alimentos: Qual dieta
observar? Jesus respondeu: Não façais a vós mesmos o que é mal, nem
façais aos outros o que não gostaríeis que vos fizessem; pois tudo o que
no escuro se faz, pelo Vivo é visto na Luz. Não há nada que possais
fazer escondido que não se torne conhecido [pelo Vivo], e nada há que
possais fazer em segredo que [ao Vivo] não se torne manifesto.
Vemos, aqui, os discípulos preocupados com a horizontalidade, a ‘forma
exterior’ de agir, e não com a ‘atitude interna’ da ação; e Jesus vai
‘verticalmente’ ao ponto: ‘Não façais a vós mesmos o que vos é
prejudicial; nem aos outros o que lhes traga prejuízo’. É esta a ‘fórmula’
que devemos observar para todos os nossos ‘pensamentos, sentimentos,
emoções, palavras e ações’: Fazer aos outros o que gostaríamos que se
fizesse a nós:

23
O Evangelho Segundo Tomé – Um Guia para a Sabedoria
1. Devemos abster-nos de ingerir alimentos por um certo período de
tempo? Sim. Todo excesso deve ser evitado, desde que não cause prejuízo
ao corpo, que é ferramenta do espírito na ‘jornada para a iluminação’.
2. Qual a atitude apropriada para a oração? Simples! Se estivéssemos
doentes, desejaríamos que se fizesse oração para o nosso restabelecimento?
Se a resposta for positiva, então oremos pelos enfermos, vibremos
intimamente pedindo que a ‘Luz do Vivo’, que neles habita e d’A qual eles
são manifestação, restabeleça os seus corpos físico, mental e espiritual e os
felicite com saúde, equilíbrio e harmonia.
3. Devemos dar esmolas? Se estivéssemos necessitados de ajuda
material, ficaríamos gratos a quem no-la desse? Sim. Então auxiliemos
também a quem precise, pois quando chegar a hora de nossa necessidade
também receberemos auxílio.
4. Devemos seguir alguma dieta específica na ingestão de alimentos?
Lembremo-nos, aqui, que os judeus possuíam várias restrições na ingestão
de alimentos: Alguns tipos de carne não deveriam jamais serem
consumidos e certos tipos de alimentos não deveriam ser ingeridos
juntamente com outros na mesma refeição; porém, Jesus não se prende a
estas ‘normas puramente humanas’, esclarecendo que devemos, apenas,
evitar o que, comprovadamente, nos faça mal, inclusive espiritualmente; e
que, da mesma maneira, devemos agir em relação aos ‘outros’, ou seja, ao
nosso ‘próximo’, e isto inclui ‘todos’ os seres da criação. No ‘Evangelho
Segundo Mateus’ temos um esclarecimento ainda mais detalhado sobre esta
questão: ‘Ainda não compreendeis que tudo o que entra pela boca desce
para o ventre e, dali, é lançado para fora? Mas o que sai da boca procede
do coração, e é isso o que ao homem traz prejuízo’ (conf. Mt. 15:17-18). O
Mestre sempre traz um enfoque puramente espiritual aos questionamentos
humanos.
5. Conclusão: Todos os nossos ‘pensamentos, sentimentos, emoções,
palavras e ações’ possuem uma ‘motivação íntima’, concebida no
‘coração’, em nosso cerne, em nosso íntimo mais íntimo; e, assim, se
estivermos desconectados intimamente com a Centelha, essa ‘motivação
interna’ trará fatalmente prejuízos a nós mesmos, ou ao próximo e,
consequentemente, pela ‘Lei de Causa e Efeito’, de novo a nós mesmos, e
‘é isto o que prejudica o homem’, afirma o Mestre. Nada do que ocorre em
nosso íntimo escapa à percepção da Centelha, nenhuma motivação interior
menos digna, nenhum ‘pensamento, sentimento, emoção, palavra ou ação’,
24
Sebastião Anselmo
ainda que externada no escuro, ou quando julgamos que ‘ninguém está
vendo’ permanece ‘desconhecida’ pela ‘Luz do Vivo’ em nós.
7. A besta, quando dominada pelo homem, é domesticada; mas o
homem, quando dominado pela besta, besta se torna.
A ‘besta’ é uma referência aos nossos ‘impulsos animalescos’, aos nossos
‘instintos ferozes’, ‘bestiais’, que trazemos do ‘reino evolutivo anterior’ ao
que nos encontramos, o reino ‘animal irracional’, altamente competitivo, e
que, embora atuem agora travestidos de supostas ‘necessidades humanas’,
impedem a nossa caminhada em direção à ‘Luz do Vivo’ fazendo-nos
estacionar sob o domínio escravagista de nosso ‘ego exterior’, trazendo-nos
sofrimentos indescritíveis através da ‘Lei de Causa e Efeito’. Geralmente
esses ‘instintos bestiais que nos igualam aos animais irracionais’, são
comparados aos assim chamados ‘Sete Pecados Capitais’. São eles:
1. Gula: Baseado no ‘Livro de Provérbios’, que diz: ‘Não ande com os
que se encharcam de vinho, nem com os que se empanturram de carne;
pois os bêbados e os glutões se empobrecerão, e a sonolência os vestirá de
trapos’ (conf. Pv. 23:20-21). Reflete o desejo instintivo de mais ter e mais
possuir em benefício próprio, alheio às necessidades do próximo,
fortemente arraigado ao ‘egoísmo’, que sempre está em busca de ‘mais’,
nunca se satisfazendo com o que já possui. Para combatê-lo, João Batista
pregava nos desertos da Judéia, dizendo: ‘Quem tem duas túnicas, dê uma
ao que não tem; e quem tem o que comer, faça o mesmo’ (conf. Lc. 3:11).
As ‘Virtudes’ a serem desenvolvidas, a fim de suplantá-lo, são: A
Temperança, o Equilíbrio, e a Compaixão.
2. Avareza: Baseado no dito: ‘O amor ao dinheiro é a raiz de todos os
males. Por adorarem ao dinheiro, desviam-se do caminho da Luz e atraem
para si mesmos indizíveis sofrimentos’ (conf. 1Tm. 6:10). Reflete ‘apego’ a
bens materiais e indiferença a necessidades alheias, também fortemente
arraigado ao ‘egoísmo’. Por isto, inquire Jesus no ‘Evangelho Segundo
Marcos’: ‘De que adianta ao homem possuir o mundo inteiro e perder o
controle sobre a sua alma?’ (conf. Mc. 8:36). A ‘Virtude’ contrária à
Avareza, e que a anula, é a prática incessante da ‘Caridade’.
3. Luxúria: Inspirado também nas palavras do apóstolo Paulo: ‘Não se
ache em vós luxúria e nenhum desregramento sexual, nem cobiça quanto
ao que não vos pertença, por não serem aceitáveis aos candidatos ao
reino’ (conf. Ef. 5:3). Profundamente arraigado ao ‘egoísmo’, a sujeição

25
O Evangelho Segundo Tomé – Um Guia para a Sabedoria
aos prazeres carnais é condição animal que o homem já deveria ter
suplantado, por estar fortemente arraigada à dominação instintiva e
inconsciente, muitas vezes através de violência, em que um corpo se
sobrepõe a outro na busca do prazer desmedido, fechando-lhe a porta do
prazer espiritual, muito maior que o físico, que lhe confere o ‘êxtase que
sente quando está em Comunhão-Íntima com a Centelha’. No ‘Antigo
Testamento’ também temos um alerta quanto à cobiça e desregramento
sexual: ‘Não cobiçarás a casa de teu próximo: Não desejarás sua mulher,
nem seu servo, nem sua serva, nem seu boi, nem seu jumento, nem coisa
alguma que ao teu próximo pertença, e não a ti’ (conf. Ex 20:17). No
‘Evangelho Segundo Mateus’, temos o seguinte dito de Jesus: ‘Todo aquele
que olhar para uma mulher [casada], com olhar libidinoso, com ela já
cometeu adultério em seu coração’ (conf. Mt. 5:28). O impulso sexual é
natural em todo o ‘reino animal’, ao qual também pertence o homem, e é
este impulso que garante a perpetuação das espécies. Entretanto, espera-se
do homem controle, equilíbrio e temperança ao exercê-lo; ser por ele
subjugado e vencido é prova irrefutável de inferioridade moral e inaptidão
à condição de ‘discípulo do reino da Luz do Vivo’. As ‘Virtudes’ a ele
opostas já as nominamos acima: ‘Autocontrole’, ‘Equilíbrio’ e
‘Temperança’.
4. Ira: Inspirado no dito ‘Guarda-te da ira, e abandona a fúria; não te
impacientes para que não sejas possuído pelo mal’ (conf. Sl. 37:8). Refere-
se ao desequilíbrio da emoção, onde predominam sentimentos de raiva,
fúria, irritação, mágoa, rancor, vingança, etc. Jesus nos aconselha a
‘perdoar setenta vezes sete’ a cada ofensa recebida (conf. Mt. 18:22). A
‘Virtude’ contrária a esta imperfeição é a constante prática da ‘Paciência’.
5. Inveja: Inspirado no dito: ‘Um coração misericordioso torna o corpo
saudável; porém, a inveja o adoece’ (conf. Pv. 14:30). A inveja traz
grandes sofrimentos a quem a possui, pois a nada do que tem atribui valor,
desejando apenas o que não lhe pertence: Bens, amizades, talentos,
relacionamentos, etc. A ‘Virtude’ contrária é a constante prática da
‘Bondade’ para com o próximo e sentimento de ‘Gratidão’ por tudo o que
possui.
6. Preguiça: Inspirado no dito: ‘Mãos preguiçosas trazem ao homem
pobreza; porém, mãos diligentes carreiam riquezas’ (conf. Pv. 10:4).
Reflete indisposição a servir, seja no trabalho remunerado, seja no trabalho
voluntário e caritativo; o que lhe proporciona falta de méritos e carências,
26
Sebastião Anselmo
tanto materiais quanto espirituais. Jesus afirma que ‘Aquele que faz apenas
o que lhe foi ordenado, é um mau servo’ (conf. Lc. 17:10). Geralmente,
funda-se no ‘orgulho’, e a ‘Virtude’ contrária é a ‘Diligência’ em fazer
tudo o que lhe seja possível quando se apresente ocasião.
7. Vaidade (ou Soberba/Orgulho): Fundamentado no dito: ‘O orgulho
do homem lhe traz humilhação; mas a humildade lhe traz honra’ (conf. Pv.
29:23). O remédio que cura a doença ‘orgulho’ se chama ‘humilhação’, e
disto a própria Vida se encarrega de curar, através de situações e
reencarnações tidas como ‘humilhantes’ que fazem o homem ponderar o
real significado do seguinte Mandamento: ‘Amar e servir ao próximo,
como ama e serve a si mesmo’ (conf. Mt. 22:39); porque, em verdade, só se
sente ‘humilhado’ aquele que traz o ‘orgulho’ dentro de si. Jesus já alertou
sobre as terríveis consequências do orgulho, e seu eventual ‘remédio’,
dizendo: ‘Aquele que a si mesmo exalta, será humilhado; e aquele que a si
mesmo humilha, será exaltado’ (conf. Mt. 23:12 e Lc. 14:11). Como já foi
dito, o antídoto do ‘Orgulho’ é a ‘Humildade’.
Conclusão: Pelo acima exposto, compreendemos que os impulsos
bestiais do homem têm origem em sua natureza animal, não domesticada;
daí o ‘Ensinamento’ de Jesus, nesta Logia: ‘A besta, quando dominada
pelo homem, é domesticada; mas o homem, quando dominado pela besta,
besta se torna’.
8. O homem é como um tal pescador que lançou suas redes ao mar e
as retirou cheias de peixes pequenos; porém, entre os peixes pequenos
o tal pescador encontrou um peixe saudável e de bom tamanho; sem
hesitar, escolheu o peixe grande e ao mar devolveu todos os pequenos.
Quem tem ouvidos para ouvir, ouça!
O ‘homem’ é o resultado atual do ‘princípio inteligente’, ‘ente espiritual’,
ou ‘micro consciência’, em sua Jornada Cósmica pelo Universo físico
material-espiritual; e aqui, Jesus o compara a um ‘tal pescador que lançou
suas redes ao mar’. Os ‘peixes pequenos’ simbolizam as experiências que
recolheu em cada degrau desta maravilhosa ‘Viagem Cósmica’, e que
armazenou em suas ‘redes de memória’. Já no patamar evolutivo do ‘reino
animal-hominal’, o ‘ente espiritual’ tem a possibilidade de ‘auto conhecer-
se’ e, neste processo, toma conhecimento de sua ‘Jornada Cósmica
Universal’ e de tudo o que amealhou em sua ‘rede de memória’ ativa ou
instintiva e das consequências boas ou ruins de todas as suas ações e
reações conscientes ou inconscientes de seu Caminhar; porém, durante a
27
O Evangelho Segundo Tomé – Um Guia para a Sabedoria
análise de suas conquistas e derrotas, que são os ‘peixes pequenos’, ele
encontra um ‘peixe saudável e de bom tamanho’, ou seja, neste processo de
‘autoconhecimento’, ele se depara com o ‘Brilho da Luz da Centelha’ em
seu interior, e com Ele se ilumina, livrando-se do sofrimento causado pela
‘ignorância de ser filho da Luz do Vivo’ que lhe permeara o Caminho até
ali; e então, sem hesitar, entrou em ‘Conexão-Íntima com o Todo’ livrando-
se do apego a suas ‘pequenas conquistas’. Abandonou, assim, todos os
hábitos e condicionamentos, instintivos ou não, que ditavam o seu
comportamento no mundo e davam suporte a todos os seus julgamentos,
através do uso de seu ‘livre-arbitrar’. Ao renunciar ao uso de seu ‘livre-
arbítrio’, ele pode repetir com Jesus: ‘Eu tenho um alimento que vós não
conheceis, que é fazer a Vontade do Pai’ (conf. Jo. 4:32 e 34), e ‘Pai (...),
que seja feita a Tua Vontade, e não a minha’ (conf. Lc. 22:42). Por se
tratar de um ‘Ensinamento Secreto’ com ‘Sentido Oculto’, que Jesus só
transmitia aos discípulos mais avançados na ‘Doutrina do reino da Luz do
Vivo’, que viera trazer ao mundo, ele torna a advertir que somente os que já
possuem ‘ouvidos espirituais desenvolvidos’ é que poderiam compreender.
9. Eis que um tal semeador saiu a semear; encheu de grãos a sua mão
e lançou as sementes. Uma porção foi atirada sobre o caminho, mas
vieram as aves do céu e as comeram; outra porção foi lançada sobre as
rochas, por isso não lançaram raízes profundas e não deram frutos;
outra porção foi lançada sobre os espinhos, que a sufocaram e por
vermes foram devoradas. Outras porções, porém, caíram em terra boa,
lançaram raízes profundas e seus brotos subiram ao céu; destas
porções se colheram bons frutos: de umas porções se colheram sessenta
espigas por grão, e de outras porções se colheram cento e vinte espigas
por grão.
Aqui, Jesus fornece um novo exemplo para que seus discípulos fixem
melhor o ‘Ensinamento’ dado na ‘Logia’ anterior, e não mais compara o
espírito em estágio evolutivo para a ‘Conexão-Íntima com sua Centelha’ a
‘um tal pescador que lançou as suas redes ao mar’, substituindo-o por ‘um
tal semeador que saiu a semear’. O ‘ente espiritual’, de posse das
capacidades próprias a cada ‘estágio evolutivo’ pelo qual passou, amealhou
experiências, ainda que instintivas, acumulando-as, não mais em suas
‘redes de memória’, como no exemplo anterior, mas em suas ‘mãos’, isto é,
trabalhando com elas em sua ‘Trajetória pelo Universo físico material-
espiritual, pelo qual transita’. Adentrando o reino ‘animal-hominal’, ele

28
Sebastião Anselmo
tem a oportunidade de autoconhecer-se e lançar, conscientemente, no
campo de suas existências, as ‘sementes das experiências que amealhou em
sua Trajetória Cósmica’, selecionando-as, através de seus ‘pensamentos,
sentimentos, emoções, palavras e ações’, a fim de recolher os seus frutos.
No início de sua Trajetória no reino animal-hominal, ainda inexperiente,
ele traz dentro de si o pendor a boas ações; mas as distrações do mundo,
associadas ao apego egóico que ainda cultiva dentro de si e aos hábitos e
condicionamentos inferiores que utiliza como base de seus julgamentos no
exercício do ‘livre arbítrio’, fazem com que esse pendor à prática do bem
se dissipe nos ‘pensamentos que não se concretizam’, levados pela sujeição
às sensações do mundo exterior que, como ‘aves do céu’, dele se apropriam
e conduzem para longe. No transcorrer de sua jornada evolutiva, com o
fortalecimento de seu ego exterior e da ‘sensação de ser separado do Todo
Coletivo e, portanto, dividido de sua Centelha Espiritual’, este pendor ao
Bem Comum encontra barreira quase intransponível para se instalar em sua
personalidade, devido à ‘dureza de seu coração’ que o mantém na ilusão de
ser melhor e superior aos outros seres que, com ele, coexistem no Universo.
A ‘ilusória certeza que o homem ainda não amadurecido tem de ser,
individualmente, melhor e superior a todos os outros, escravizando-o na
ambição desmedida de mais ter e mais possuir’, carrega, em si mesma, os
‘espinhos e vermes’ que sufocam seu pendor original à prática do Bem
Coletivo para o encontro da ‘Luz do Vivo’ dentro de si, devorando as mais
bem-intencionadas iniciativas neste sentido. Quando o homem, finalmente,
‘amadurece espiritualmente’ e passa a estudar suas boas e más inclinações,
a controlá-las, desenvolvendo as boas e subjugando as más, o ‘campo de
sua existência torna-se em terra boa’, e ele adentra a assim chamada ‘terra
pura’, onde ele deposita, com êxito, seus melhores ‘pensamentos,
sentimentos, emoções, palavras e ações’, descobrindo a ‘Luz do Vivo’
dentro de si mesmo, colaborando enormemente para o ‘Bem Comum
Coletivo’ e, consequentemente, com a própria evolução. É neste momento
que todas as suas ‘emanações’ no mundo físico e espiritual criam ‘raízes
profundas’, inspirando e incentivando milhares de milhões de outros seres
em suas trajetórias evolutivas, lançando brotos de ideias e realizações que
sobem aos céus, aos níveis superiores de existência, alcançando e tornando-
se ‘Unas com a Luz do Vivo’ que a tudo permeia. Então, suas ‘emanações
no Universo físico material-espiritual, que consistem nas sementes de
pensamentos, sentimentos, emoções, palavras e ações lançadas de si’,
visando ao Bem Estar Coletivo, para a felicidade geral de todos os seres,

29
O Evangelho Segundo Tomé – Um Guia para a Sabedoria
começam a render bons frutos, orientando aos que se desviaram do
Caminho e consolando aos que sofrem devido à ignorância de serem ‘filhos
da Luz do Vivo’; e algumas dessas ‘sementes’ produzem sessenta espigas
por grão, enquanto outras produzem o dobro: cento e vinte espigas por grão
depositado no ‘campo de suas existências’. E quão felizes e meritórios se
tornam esses seres por adentrarem o ‘reino da Luz do Vivo’ em seus
próprios corações.
10. Eu o fogo lancei sobre a terra; e dele cuido até que a tudo
incendeie.
Jesus, o porta-voz da ‘Luz do Vivo’, afirma que veio ‘lançar o Fogo do
Vivo’ sobre a terra. Este ‘Fogo’, d’O qual a própria Centelha é uma
‘Fagulha’, consiste na ‘Doutrina do reino da Luz do Vivo’ que ele veio
trazer ao mundo, a fim de regenerá-lo com o conhecimento de que ‘tudo é
manifestação exterior da mesma Luz Interior’ que a tudo povoa e faz
existir, tornando ‘iguais e de mesma importância e origem’ tanto o interior
quanto o exterior; e o do Alto tanto quanto o de baixo; e o masculino tanto
quanto o feminino; sem atribuir-lhes diferenças de ‘importância e de
origem’ (conf. Logia nº 22), porque tudo quanto existe se origina na ‘Luz
do Vivo’ e, por Ela, é vivificado. No ‘Evangelho Segundo Mateus’ temos
uma passagem que ilustra bem a missão de Jesus na terra. João Batista,
tratando das ‘condições exteriores’ em que atua o ‘Fogo da Luz do Vivo’
para o despertamento da mente no reino ‘humano-hominal’, cita a
necessidade do espírito ‘reencarnar’ em novo corpo físico, através do
‘mergulho no líquido amniótico’ dentro do ventre de sua mãe, a fim de,
pela ‘Lei de Causa e Efeito’ enfrentar as consequências de suas ações em
existências anteriores, dizendo: ‘Sois mergulhados em água para a vossa
reforma mental’; e acrescenta, referindo-se ao papel de Jesus ao apresentar
a ‘Doutrina da Luz do reino do Vivo’, e o seu Efeito Interno para aqueles
que a seguirem: ‘Ele, porém, vos mergulhará diretamente na Luz da
Centelha e no Fogo do Vivo’ (conf. Mt. 3:11). Na sequência, Jesus declara
que, além de trazer o ‘Fogo Purificador’ aos hábitos e condicionamentos
estabelecidos pelos prazeres e sensações físicas, ‘libertando o espírito da
matéria e despertando-o para uma vida espiritual de muito maior
significado’, ele cuida com muito zelo para que a ‘Doutrina’ seja muito
bem compreendida e vivida a fim de, verdadeiramente, incendiar
interiormente os seus seguidores alastrando-se até ‘envolver’ o indivíduo
por inteiro. O ‘Fogo da Luz do Vivo’ atua interna e externamente em todos

30
Sebastião Anselmo
os seres da criação, que são a Sua ‘forma’ exterior: Internamente, através
da ‘Direção-Íntima’ que imprime na vida de todos os seres, despertando-os
para a sua ‘verdadeira natureza’, em cada reino de manifestação de Suas
‘formas exteriores’; e externamente, através das ‘condições’ necessárias ao
seu desenvolvimento. Nos reinos anteriores ao ‘humano-hominal’, este
‘Direcionamento Íntimo’ se dá através dos instintos; e as ‘condições
exteriores’ através dos desafios naturais para a sua sobrevivência. No reino
‘humano-hominal’ o ‘Direcionamento Íntimo’ se dá através da faculdade
do ‘livre-arbítrio’, em que desperta a sua consciência; e as ‘condições
exteriores’ através da ‘Lei de Causa e Efeito’, em que é obrigado a
enfrentar as consequências de suas próprias ‘escolhas’, e a diminuir a
distância entre o seu ‘ego dividido’ e a sua ‘Natureza Una’ com a Centelha
n’A qual foi gerado. A ‘Doutrina da Luz do Vivo’, que Jesus veio trazer ao
mundo, atua no sentido de esclarecer ‘interna e externamente’ o homem
sobre a sua ‘real natureza’, despertando-o para a necessidade de
autoconhecer-se, a fim de que possa, por esforço e vontade próprios,
colaborar neste processo de entrar em ‘Conexão-Íntima com a Luz do
Vivo’, controlando todos os seus ‘pensamentos, sentimentos, emoções,
palavras e ações’, fazendo a ‘Vontade do Vivo’ e renunciando à sua própria
vontade, libertando-se, assim, do sofrimento causado por atitudes
individualistas e egóicas, reflexo da ‘ignorância’ de que é, em essência,
‘Um com o Vivo’ no interior de si mesmo.
11. Este ciclo passará e, então, virá o próximo que está acima deste;
os que estão na morte não experimentarão a Vida, nem os que estão na
Vida experimentarão a morte. Estando na morte, vos alimentastes do
que é morto e tornastes real o que é ilusório; mas quando estiverdes na
Luz, o que fareis? Éreis Um, e vos tornastes dois; mas agora, sendo
divididos, que fareis?
Jesus se refere, aqui, aos ‘Ciclos Evolutivos de Existência’ por que passa
o ‘ente espiritual’ surgido na Centelha, nos diversos ‘reinos da natureza
espiritual e material’ durante o seu processo de ‘evolução mental’; mas se
detém, especificamente, no ‘reino hominal’, o atual ‘ciclo’ que o ‘ente
espiritual’ surgido na Centelha está atravessando, ciclo este em que se
desenvolve interna e externamente através da ferramenta ‘Livre-Arbítrio’,
que lhe permite ‘pensar e raciocinar’ sobre suas escolhas e experimentar as
suas consequências. É este o ‘período de despertamento íntimo do ente
espiritual para a sua real natureza de Filho da Luz do Vivo’; processo que

31
O Evangelho Segundo Tomé – Um Guia para a Sabedoria
se dá através do ‘autoconhecimento’, em que se reconhece como tal, e
passa a agir impulsionado interiormente pela ‘Vontade do Pai’, deixando
para trás os interesses egoístas que lhe governaram até ali. Este ‘processo
de autoconhecimento’, em que o homem identifica a sua ‘verdadeira
natureza de Filho da Luz do Vivo’, abre-lhe as portas de um novo reino de
evolução, o ‘reino da Luz do Vivo’, onde o seu ego não é mais obstáculo à
sua reintegração com o ‘Todo Universal’ e ele deixa de ser ‘dividido’ de
sua Centelha tornando-se ‘Uno’ com Ela, uma só ‘substância de Luz’,
como no dizer de Jesus: ‘Eu e o Pai somos Um’ (conf. Jo. 10:30). É a este
‘ciclo, ou reino evolutivo’, que Jesus se refere nesta Logia. O ‘ciclo, ou
reino evolutivo atual’, caracterizado pela desconexão-íntima com a
Centelha pela ignorância de sua real natureza, cederá o seu lugar a um
outro ‘ciclo’ ou reino evolutivo, ‘que está acima deste’, quando, pelo uso
de seu ‘livre-arbítrio’, ele espontaneamente renunciar às ilusões do mundo
e tornar-se ‘consciente de sua real natureza’, e unir-se voluntariamente a
Ela em seu interior. Jesus continua o ‘Ensinamento’ afirmando que os que
insistirem em permanecer na morte da desconexão-íntima com a Centelha,
não adentrarão o ‘novo reino’ e, portanto, não experimentarão a ‘Vida da
Luz do Vivo’; assim como os que se reconectarem à sua Centelha,
adentrando o ‘novo reino’ e tornando-se unos com a ‘Vida do Vivo’, não
voltarão a experimentar a ‘morte’, ou desconexão, pois ela não existe neste
‘reino evolutivo’ vindouro; e acrescenta que ‘enquanto permanecíamos na
morte da desconexão-íntima com a Centelha’ nos alimentávamos dos
hábitos e condicionamentos que caracterizam esta desconexão, não
possuindo uma ‘reta visão da realidade’, tornando real o que é ilusório. E
indaga: Acostumados a agir segundo ‘o que é ilusório’, quando estiverdes
na Luz como agireis? Que ideia temos de uma ação segundo a ‘reta visão
da realidade’ de que somos ‘Filhos da Luz do Vivo’? E continua o
questionamento, afirmando que ‘quando surgimos na Luz do Vivo éramos
Um só com Ela’; mas depois, conforme nossos ‘corpos espirituais’ foram
se densificando, fomos aos poucos nos dividindo e tornamo-nos ‘dois’,
duas partes distintas e desconectadas consciencialmente entre si; e então,
nesta situação de desconexão-íntima com a Centelha, ‘que devemos fazer
para voltarmos a sermos Um’? É isto o que ele veio nos ensinar com toda a
sua autoridade e competência.
12. Os discípulos perguntaram: Sabemos que vais nos deixar. A
quem devemos recorrer? Jesus respondeu: No nível em vos encontrais,

32
Sebastião Anselmo
recorrei a Tiago, o justo. Ele tem entendimento das coisas do céu e da
terra’.
Nesta Logia, os discípulos, sabedores de que estão em contato direto com
a ‘Luz do Vivo’, através de Jesus, que é o Seu porta-voz, se dão conta de
que, depois de concluída a sua missão na terra, eles perderiam esse contato
direto com Ela, e perguntam: Quando não estiver mais conosco, a quem
devemos recorrer para nos orientar? E Jesus aponta a figura de Tiago, o
justo, para exercer liderança sobre eles. O apóstolo Tiago, primo-irmão de
Jesus e irmão consanguíneo do autor deste ‘Evangelho’, era chamado de ‘o
justo’ porque vivia uma vida de retidão, conforme os preceitos dos judeus;
devido a esta característica de sua personalidade, e também por ter sido
apontado aqui como o sucessor de Jesus na condução de seus discípulos,
ele foi o líder do movimento cristão em Jerusalém nas décadas seguintes à
morte de Jesus (conf. At. 15:3). O apóstolo Paulo cita um encontro que teve
com ele em Jerusalém, a fim de receber orientações, e o qualifica como
‘Coluna’ da comunidade cristã (conf. Gal. 1:19 e 2:9). Ele foi o primeiro
‘bispo de Jerusalém’ e presidiu o primeiro ‘Concílio Geral’ da cristandade,
no ano 49; e Jesus justifica a sua indicação dizendo que ele possui
‘compreensão das coisas do céu e da terra’. No idioma original, a palavra
‘céu’ traz consigo o entendimento de ‘luz’, pois de dia reflete a luz do sol, e
de noite reflete a luz das estrelas. Tem também significado do que se
encontra no ‘Alto’, acima da terra, e frequentemente se refere ao ‘Vivo’,
que deve ser amado ‘Acima’ de todas as coisas, num nível ‘Superior’ a
tudo o mais que deve ser amado num nível ‘abaixo’, ou seja, no ‘mesmo
nível’ que a si mesmo; embora os níveis sejam diferentes, o amor deve ser
igual: ‘o interior como o exterior; o do Alto como o de baixo; o masculino
como o feminino’, diz a Logia nº 22. Então, no entender de Jesus, Tiago é o
mais preparado para orientá-los, quando ele faltar, porque ele tem
‘entendimento das coisas do Alto’ (da Centelha), e das coisas de ‘baixo’, da
terra ou do mundo; porque, através do ‘processo de autoconhecimento’, ele
adquiriu a ‘sabedoria’ (a Gnose) do ‘ser espiritual’ gerado pela Centelha.
13. Respondei-me, ó discípulos: Com quem me assemelho? Simão
Pedro respondeu: És semelhante a um anjo justo! Mateus disse: És
semelhante a um homem sábio! E Tomé: Mestre, minha boca não pode
dizer o nome d’Aquele a Quem tu és semelhante! Jesus lhe disse: Já
não sou o teu Mestre! Tu bebeste da Fonte de Água Viva, que te
ofereci, e nela te tornaste ébrio! Então, conduzindo-o à parte, falou-lhe

33
O Evangelho Segundo Tomé – Um Guia para a Sabedoria
três palavras. Quando Tomé retornou para junto de seus
companheiros, estes lhe perguntaram: Que lhe disse o Mestre? Tomé
respondeu: Se uma só das palavras que Ele me disse eu a dissesse a
vós, haveríeis de apedrejar-me e, das pedras que me atiraríeis, haveria
de sair uma Chama que vos consumiria.
Jesus, ‘o porta-voz da Luz do Vivo’, o modelo de ‘homem perfeito’ que
veio ao mundo a fim de estabelecer uma ‘Doutrina’, um ‘Ensinamento’,
uma ‘Boa Nova’ (Evangelho) capaz de ‘guiar a Humanidade à sua real
condição de Filha da Luz do Vivo’, pergunta aos ‘candidatos ao reino’ a
Quem ele se assemelha. Já vimos que o ‘ente espiritual’ é gerado na
Centelha ‘simples e ignorante’, e que apenas no ‘reino hominal’ ele
adquire a capacidade de ‘despertar com o potencial de filho da Luz do
Vivo’, através do uso da faculdade do ‘Livre Arbítrio’; assim, vemos, na
simbologia da Bíblia, que ‘o Vivo fez surgir o homem à Sua Imagem e
Semelhança’, isto é, capaz de unificar-se a Ele, de fundir-se a Ele numa
mesma Substância e Vibração, transcendendo a ‘divisão causada pelo ego’
e voltar a ser ‘Um com Ele como era no Princípio’, antes da ‘divisão’ que o
tornou um ente espiritual ‘apartado interiormente de sua Centelha’; pois,
em essência, eles são e sempre foram um só: ‘E o Vivo fez o homem à sua
imagem; à sua imagem o fez: macho e fêmea o fez’ (conf. Gn. 1:27). Por
isso, na Logia nº 22 deste ‘Evangelho Segundo Tomé’, o Mestre ensina,
dizendo: ‘Quando deixardes de serdes dois [ente espiritual e Centelha] e
vos tornardes Um, sereis Um tanto no interior [a Centelha ou Luz do Vivo]
quanto no exterior [a forma, ou ser espiritual gerado n’A Centelha]; tanto
no do Alto [ou, de ‘Cima’, a Centelha) quanto no de baixo [o ente espiritual
gerado n’A Centelha]; e Unificados em seus aspectos masculino e feminino
[como o é a Centelha]. Então [quando deixardes de serdes ‘dois’ e vos
tornardes ‘Um com a Centelha’, [ou seja, ‘sem ego que o divida entre ente
espiritual e Centelha’], entrareis no reino da Luz do Vivo’.
Na simbologia bíblica, vemos que os ‘períodos’, ‘eras’, ‘ciclos’, ou
‘dias’ da criação são em número de sete, e que cada ‘dia’ corresponde a um
‘reino’ a que passa o ‘ente espiritual’, surgido na Centelha, em sua jornada
evolutiva pelo Universo físico material-espiritual; e que ‘no dia sétimo o
Vivo descansou ou repousou’. No ‘Evangelho Segundo João’ vemos que ‘o
Vivo é Espírito. Nele está a Vida e a Vida é a Luz dos homens’ (conf. Jo.
4:24 e 1:4); ora, será possível que o ‘Vivo’, sendo Espírito e não sendo um
‘corpo físico’, se canse e tenha necessidade de repousar? O próprio Jesus

34
Sebastião Anselmo
responde a esta indagação: ‘Meu Pai trabalha até este dia, e eu também
trabalho’ (conf. Jo. 5:17). Então, o significado ‘além da letra que mata o
sentido espiritual do texto’ neste versículo de Gênesis é que o ‘Vivo’, após
ter criado todas as formas espirituais e materiais que povoam o Universo,
repousou ou ‘assentou’ em seu interior, movimentando-as, de ‘dentro para
fora’, em direção à Sua mesma Perfeição e Plenitude, conforme ensinou
Jesus, dizendo: ‘Vós sois filhos da Luz do Vivo; sede perfeitos como o
vosso Pai é perfeito’ (conf. Jo. 10:34 e Mt. 5:48). O ‘Vivo’ está, pois, em
nosso interior, e é este o ‘dia’ propício a nos fazermos ‘Um com Ele’, assim
como o Mestre o é; e é isto o que ele quer saber de seus discípulos: se eles
são capazes de reconhecê-lo como ‘imagem e semelhança do Vivo’, como
‘aquele’ que alcançou a Sua plenitude e perfeição, como ‘aquele’ que O
manifesta no mundo, porque entrou no reino do ‘oitavo dia da criação’. No
‘oitavo dia do surgimento do ego espiritual na Centelha’ entramos em
‘União-Íntima com O Vivo’, e é este o ‘reino’ (o oitavo) que está ‘acima’
deste em que nos encontramos (o sétimo); e o próximo, o ‘nono dia’, é o
‘reino’ em que entraremos em ‘Comunhão Total com o Vivo’, o ‘dia do
desaparecimento do ego na Centelha’, o ‘dia’ em que o ‘Vivo’ volta a ser o
que nunca deixou de ser: ‘Um’.
A esta inquirição de Jesus, Simão Pedro respondeu: ‘És semelhante a um
anjo justo!’ É importante esclarecer que a palavra ‘anjo’, tanto em
hebraico, como em aramaico, quanto em grego, não tinha o significado que
a teologia lhe conferiu a posteriori; o termo ‘anjo’ era empregado para
designar ‘qualquer mensageiro’, encarnado ou desencarnado, incumbido de
transmitir uma mensagem; portanto, em sua avaliação, Simão ainda não ‘vê
como iguais tanto o de cima quanto o de baixo’, conforme preconiza a
Logia nº 22, pois faz distinção entre o ‘mensageiro’ e O que envia a
‘mensagem’. Mateus segue na mesma linha de Pedro, reconhecendo as
qualidades do Mestre, dizendo: ‘És semelhante a um homem sábio!’ porém,
nesta ‘abordagem’ ainda não reconhece Jesus como ‘Uno com sua
Centelha’. Porém, Tomé, o autor deste ‘Evangelho Segundo Judas, o
Igual’, se recusa a comparar Jesus a qualquer forma exterior manifestada
pela Centelha, seja como ‘anjo’, ou como ‘homem’, ou como qualquer
outra ‘forma exterior’. Ele vai ao ‘ponto central’ do Ensinamento do
Mestre dizendo-se incapaz de ‘separar’, de ‘dividir’, pois os vê como
‘iguais’, como ‘unos’, tanto o ‘interior’ quanto o ‘exterior’; tanto o ‘de
cima’, quanto o ‘de baixo’; e também tanto o ‘masculino’ quanto o
‘feminino’, pois nem sequer como ‘macho’ o qualifica. Jesus, então, vendo
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O Evangelho Segundo Tomé – Um Guia para a Sabedoria
que Tomé apreendera o ‘Ensinamento’ e já não ‘via’ as coisas a partir da
‘dualidade ilusória causada pelo ego’, anuncia que ele não precisaria mais
de um ‘mestre exterior’, pois havia acessado a ‘Luz dentro de si’, unindo-se
a Ela e n’Ela se extasiando, conforme a Logia nº 2, que diz: ‘(...) e então,
extasiado, tomará conhecimento do Todo’. Vimos, na Logia n° 12, que
Jesus aponta Tiago, o justo, para guiar os discípulos após a sua morte,
dizendo que, no nível de desconexão-íntima com o Vivo em que se
encontravam, era ele o mais indicado para dirigi-los porque ‘detinha o
conhecimento das coisas do céu e da terra’; porém, Tiago ainda não havia
alcançado o ‘conhecimento do Todo’, que Tomé alcançara, e isto é
explicitado mais para a frente, na Logia nº 111, que diz: ‘Ainda que venhais
a conhecer os mistérios dos céus e da terra permanecereis na morte; mas
aquele que tornar-se Um com o Vivo, não permanecerá na morte (...)’.
Após constatar que Tomé havia apreendido o ‘sentido espiritual de sua
mensagem’, que viera trazer ao mundo, Jesus conduziu-o à parte e deu-lhe
um ‘Ensinamento’ ainda mais secreto, exclusivo a ele e vedado aos outros,
porque esses ainda não conseguiam ‘ver todas as coisas como uma só
coisa’. Assim como os discípulos, ficamos imaginando o que Jesus teria
lhe dito: que ‘o Vivo, a Centelha, e o ente espiritual surgido na Centelha
são uma só coisa’? Pensamos que sim! Para compreender isto, basta
fazermos uma analogia: com a mesma chama, de uma vela, por exemplo,
podemos acender milhares, bilhões, e trilhões de trilhões de outras; porém,
embora as velas sejam ‘distintas’, as chamas que elas possuem são ‘uma
só’; e todas as velas têm a mesma ‘quantidade e qualidade’ da chama
original, que não diminuiu, nem se dividiu, apenas se multiplicou, embora
não tenha deixado de ser, no Todo, ‘uma só’ chama. Tomé compreendeu
que aos outros discípulos ainda faltava um pouco de ‘autoconhecimento e
maturação espiritual’ para que pudessem penetrar mais fundo na essência
do ‘Ensinamento’ do Mestre, para que pudessem ‘unificar’ a sua visão e
compreensão do mundo de dualidades com a ‘visão e compreensão não
dividida do Todo, que é Um’; e um ‘Ensinamento’ de tal profundidade,
revelado antes do tempo propício, pode trazer confusão e incompreensão
aos buscadores candidatos ao ‘reino’, como adverte a Logia nº 93: ‘Não se
dá aos cães o que é sagrado, para que não o profanem com sujidades; nem
se atira pérolas aos porcos, para que não as pisem com seus pés’. Então,
diz aos seus companheiros que se lhes revelasse o ‘Ensinamento que Jesus
lhe passou em secreto’, eles se amotinariam e lhe atirariam pedras, que
mais não são do que ‘formas exteriores da Centelha’, e que aqui é uma
36
Sebastião Anselmo
alegoria da ‘dureza de seus corações’ para compreendê-lo. Porém, esta
mesma pedra bruta abriga, dentro de si, a ‘Chama da Centelha do Vivo’
que, aos poucos, haverá de consumir as ‘sujidades’, ou obstáculos que, no
momento, os impede de ‘ver e compreender tal Ensinamento’. Para
corroborar tal entendimento de Tomé, encontramos, no ‘Evangelho
Segundo Mateus’ o seguinte dito de Jesus: ‘Eu vos digo que mesmo das
pedras o Vivo suscita filhos a Abraão’ (conf. Mt. 3:9), tanto no ‘sentido
evolutivo das formas exteriores da Centelha’, através dos diversos ‘reinos’
da natureza, quanto à dureza dos corações no sentido da fé em seus
‘Ensinamentos’.
14. Disse Jesus: Se fizeres jejum, gerareis débito para vós; se orardes
ao Vivo, estareis condenados; se derdes esmolas, fareis mal a vós
mesmos. Quando entrardes em uma casa – que de bom grado vos
receberem – comei o que vos for dado e curai os enfermos que dentre
eles houver. Pois não é o que entra pela boca que vos tornará impuros,
mas sim, o que sair de vossas bocas – isto vos tornará impuros!
Aqui, nesta Logia, Jesus ratifica a anterior, confirmando a essência de seu
‘Ensinamento’ sobre a necessidade do ‘autoconhecimento’ para desfazer a
‘ilusão divisionista do ego não conectado à Luz da Centelha do Vivo em
seu interior’. Não é com ‘práticas exteriores’ que as ‘portas do reino do
oitavo dia’ se abrirão para nós:
1. Não é com a abstenção de alimentos pura e simples, quaisquer que
sejam eles, imposta de fora para dentro, sufocando desejos interiores,
que entraremos no ‘reino da Luz’; mas com a consciência de que, ao
sacrificarmos certas ‘vidas’ de animais e vegetais para alimentar o nosso
corpo físico, estamos assumindo a responsabilidade de fazermos ‘bom uso’
da força e saúde que eles nos proporcionam para um maior empenho e
dedicação na busca do ‘reino’ em nós, como está escrito no ‘Evangelho
Segundo Mateus’, que diz: ‘Buscai, em primeiro lugar, o reino do Vivo e
sua justiça, e tudo o mais vos será acrescentado’ (conf. Mt. 6:33). Agindo
de forma diferente, sacrificando ‘vidas inocentes’ de animais e vegetais
para a nossa sobrevivência de forma inconsciente e descompromissados de
fazer ‘bom uso da força e saúde que eles nos proporcionam’, seja movidos
pela gula ou mesmo reduzindo o seu consumo por algumas horas ou dias,
na forma de jejuns, estaremos gerando débitos diante da ‘Lei de Causa e
Efeito’ por nossa inconsciência e/ou irresponsabilidade na condução de
nossas ‘existências’.
37
O Evangelho Segundo Tomé – Um Guia para a Sabedoria
2. Não devemos orar ‘ao’ Vivo, mas ‘n’O’ Vivo, através da busca
constante da ‘União-Íntima’ com o Seu reino e Sua vontade; caso
contrário, continuaremos na ignorância do ‘ego ainda não conectado com o
Vivo em seu interior’, ignorância esta que causa a ‘divisão entre o ego e o
Todo’, condenados a existências reencarnatórias de miséria, apartados do
‘reino do Vivo’, como diz a Logia nº 3: ‘(...) Quando vos conhecerdes a vós
mesmos tomareis conhecimento do Todo; e, então, sabereis que sois filhos
da Luz do Vivo. Porém, se não vos conhecerdes a vós mesmos, sereis filhos
da ignorância, existindo em miséria e apartando-vos do reino’.
3. Se dermos esmolas, na intenção de alcançarmos o ‘reino do Vivo’
em nosso interior, estaremos agindo de modo ‘interesseiro’, não
espontâneo, como que querendo fazer uma ‘troca’ ou ‘comprando um
lugar no reino’, e isto será apenas mais um ‘ato exterior’ de nosso ego
ainda desconectado com o ‘Vivo’ no interior de nós mesmos, um
‘ritual’ vazio marcado pela ignorância de que somos ‘Um com o Todo’.
Não é assim que se faz! Contudo, devemos dar esmolas e fazer caridade
‘amando e servindo ao próximo, de qualquer reino da natureza, como
amamos e servimos a nós mesmos’, como iguais, sem nenhum sentimento
de superioridade, como quem ‘vê, ama e serve no outro’ não a forma
exterior que oculta a ‘Luz’ que a manifesta no mundo, mas a ‘Luz’ interior
que a manifestou; agindo de outra forma, estaremos apenas ‘alimentando
as ilusões do ego divisionista’ e, portanto, fazendo mal a nós mesmos.
O corpo físico é a ‘casa do ente espiritual gerado na Centelha’; da
mesma forma, o ente espiritual é a ‘casa da Centelha que o gerou’;
assim também, a Centelha é a ‘casa onde habita a Luz do Vivo em nós’;
portanto, todos somos ‘casas da Luz do Vivo’. Então, o que Jesus nos
ensina aqui é que, quando formos ‘recebidos de bom grado por outra
casa’, isto é, quando estivermos em contato aberto e fraterno com outra
‘casa ou forma exterior da Centelha’, aparentemente distinta de nós,
devemos ‘vê-la com os olhos do espírito’, aceitando de bom grado tudo o
que dela vier, seja na forma de ‘pensamentos, sentimentos, emoções,
palavras ou ações’, sem julgamentos, críticas ou condenações; pois sua
‘condição externa’, qualquer que seja, é apenas transitória e passageira,
pois também ela está sendo conduzida, ‘interna e externamente’, ao ‘reino
do Vivo’ que nela habita. E, nesta condição, estabelecendo uma ‘sintonia
vibratória’ com ela, devemos oferecer-lhe, também através de nossos
‘pensamentos, sentimentos, emoções, palavras e ações’ a nossa caridade e

38
Sebastião Anselmo
assistência, no sentido de despertá-la para a ‘Luz do Vivo’ que nela habita,
ofertando-lhe a ‘cura das ilusões’ que porventura ainda prender-lhe ao
mundo das formas exteriores, sem medo de nos contaminarmos com o seu
‘modo de existência’, pois não é o que entra através da ‘boca de nossos
sentidos’, no contato com ela, que nos contaminará; mas o que sair de
nossos corações, através de nossos ‘pensamentos, sentimentos, emoções,
palavras e ações’, isto sim, se forem impuros, nos tornará impuros! Na
simbologia da Bíblia, é dito que ‘o corpo do homem foi feito do barro da
terra’ (conf. Gn. 2:7), portanto, os corpos físicos dos homens são ‘montes
de barro’ que se movem vivificados pela ‘Centelha que o Vivo assoprou
em seu interior’; e Jesus ensinou que ‘o homem religado à sua Centelha’
tem o poder de curar enfermos do corpo (ou ‘monte’) e da alma (ente
espiritual), dizendo: ‘Se dois [ente espiritual e Centelha] estiverem de
comum acordo em uma casa e disserem a um monte: Move-te daqui para
ali, ele se moverá’ (conf. Logia nº 48); também no ‘Evangelho Segundo
Marcos’, Jesus afirma: ‘Qualquer que não se dividir em seu coração, mas
crer que se fará aquilo que diz, tudo o que disser será feito’ (conf. Mc.
11:23).
15. Agindo assim, quando encontrardes Aquele que não foi gerado
por nenhum ventre, prostrai-vos de rosto em terra e adorai-O; pois é
Ele o vosso Pai.
Dando sequência aos seus ‘Ensinamentos’, Jesus assevera que ‘agindo
assim’, isto é, aprofundando-nos no ‘processo de autoconhecimento’ para
chegarmos à conclusão, tanto na teoria quanto na prática, de que ‘todos
somos Um’ porque surgimos na Centelha, que é a ‘Luz do Vivo’, deixando
de ser ‘divididos’ pelo ego que se acredita separado dos seres que estagiam
nos diversos ‘reinos da natureza’, vendo todas as formas de tudo o que
existe no Universo como ‘manifestação externa da Luz que a vivifica’,
conforme ensina a Logia nº 22, e, assim procedendo, conseguirmos amar a
esses nossos ‘irmãos de todos os reinos’ como amamos a nossa própria
alma, e tendo com ‘ele’ o mesmo cuidado que temos com a pupila de
nossos olhos, como ensina a Logia nº 25, encontraremos ‘Aquele que não
foi gerado por nenhum ventre’, ou seja o ‘Vivo’; e então, prostrados de
rosto em terra, devemos adorá-Lo, pois é Ele o nosso Pai. Mais uma vez,
fica claro aqui a ‘essência do Ensinamento do Mestre’, que diz que
‘devemos amar e adorar ao Vivo dentro de nós; porém, só podemos servi-
Lo no nosso próximo’.

39
O Evangelho Segundo Tomé – Um Guia para a Sabedoria
16. Pensam alguns que vim trazer paz ao mundo! Não sabem eles que
vim trazer discórdia, fogo, luta e conflito. Havendo cinco em uma casa,
três estarão contra dois, e dois contra três: O pai se desentenderá com
o filho, e o filho com o pai; e ambos permanecerão divididos.
Muitos se admiram destas palavras de Jesus, pois desejam viver num
mundo pacificado; porém, o mundo é a ‘fornalha’ que depura a alma de
suas imperfeições. A paz é, antes de mais nada, uma condição interna
conquistada pelo espírito, ainda mesmo que externamente as condições de
sua existência sejam de luta e conflito. Assim é, e assim deve ser! Mais
para a frente, na Logia nº 86, Tomé anotou o seguinte ‘Ensinamento’ do
Mestre: ‘As raposas têm suas tocas, e as aves têm seus ninhos; o homem,
porém, não tem lugar algum onde possa repousar e descansar a sua
cabeça’, até que alcance lugar de repouso no ‘reino da Luz do Vivo’.
A faculdade do livre arbítrio trouxe ao ente espiritual, quando adentrou o
reino ‘animal-hominal’, a capacidade de pensar e raciocinar; e assim,
mediante suas próprias experiências, passa a agir conforme suas escolhas e
visão de mundo, experimentando as consequências de suas ações. Assim,
ele vai desenvolvendo a sua mente, aproximando-se cada vez mais da ‘Luz
da Centelha’ n’A qual foi gerado, até que, já amadurecido pelas
experiências e consequências de suas ações, resolve unir-se a Ela, em
perene Comunhão, entregando-se completamente à Sua ação em seu
interior, renunciando à própria vontade em favor da vontade do ‘Vivo’. E
esta ‘rendição do espírito ao comando da Centelha’ não se dá sem muita
luta e conflitos internos. A ‘discórdia, luta, fogo e conflito’, a que Jesus se
refere neste ‘Ensinamento’, são a ferramenta que burila o ente espiritual
preparando-o para o ‘casamento místico’ com a Luz n’A qual foi gerado, e
de cuja ‘União’ deverá nascer uma nova criatura, uma nova ‘persona’ deste
mesmo ente espiritual em Jornada Cósmica pelo Universo físico material-
espiritual, que adentrará o oitavo ‘dia’ da criação. Por isso, Jesus afirma na
Logia nº 10: ‘Eu o fogo lancei sobre a terra; e dele cuido até que a tudo
incendeie’. Na ‘casa’ do ente espiritual transitando pelo reino ‘animal-
hominal’ há uma Comunhão de dois, o ‘Vivo’ e Sua ‘Centelha’, que são
‘Um’, contra três, o chamado ‘eu inferior’, que é formado pelo ‘ego do ente
espiritual’, a ‘mente em desenvolvimento no reino hominal’ e o ‘intelecto
do homem encarnado’ no mundo físico, que são divididos entre si e com a
‘Luz do Vivo’. Por isso, Jesus afirma que o ‘pai’, isto é, a ‘mente’ do ente
espiritual em busca da ‘Luz’, se desentenderá com o ‘filho’, o intelecto do

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Sebastião Anselmo
ser encarnado, que é sombra da mente ainda não iluminada pela Centelha,
porque ainda não A encontrou no interior de si mesma, estando de ‘costas’
para Ela. E, enquanto perdurar esta ‘divisão interna’ dos três que são dois,
‘mente e intelecto’, enquanto eles não se ‘unificarem’ no objetivo de buscar
a ‘Luz do Vivo’ em seu interior, o ‘casamento místico com a Centelha’ não
será possível, e permanecerão de fora do ‘novo reino’, vivendo em pobreza
e miséria, sob a égide da ‘Lei de Causa e Efeito’.
17. Eu vos ensinarei o que não foi visto por nenhum olho, nem ouvido
por nenhum ouvido; o que nenhuma mão tocou e o que nenhum
coração sentiu.
Jesus veio trazer ao mundo uma nova ‘Revelação’, uma ‘Doutrina’ ou
‘Boa Nova’, que traduzem pelo termo grego ‘Evangelho’, capaz de fazer
com que o ‘ente espiritual’ complete sua jornada pelo reino ‘animal-
hominal’ e adentre o ‘novo reino’, no oitavo ‘dia’ de sua trajetória pelo
Universo físico material-espiritual. Por isso, logo na primeira Logia deste
‘Evangelho Segundo Tomé’, ele afirma: ‘Quem souber interpretar o
sentido oculto desses Ensinamentos, não provará a morte’. Depois, na
Logia nº 77, ele afirmará: ‘Eis que eu vos trago a Luz que a tudo recobre e
que gerou o Todo; o Todo d’Ela saiu, se estendeu, e para Ela retorna:
Rachai a madeira, e Ela lá está; erguei a pedra e lá A encontrareis’. Na
Logia nº 50, Jesus afirma que todo o Universo com tudo o que nele está
contido ‘veio da Luz, do reino onde a Luz nasce d’Ela mesma,
manifestando-se no mundo à Sua imagem’; e, na Logia nº 62, ele define a
sua missão, dizendo: ‘Revelo a Sabedoria aos que têm ouvidos de ouvir’, e
completa, na Logia nº 108: ‘Aquele que da minha boca beber, se tornará
Eu; e Eu me tornarei ele’. Na Logia nº 82 ele adverte que não basta
conhecer o seu ‘Ensinamento’, ao discípulo do ‘reino da Luz’ é
indispensável viver, colocando em prática tudo o que aprendeu de seu
Mestre, e diz: ‘Quem de mim se aproxima e pratica o que Eu ensino, está
perto da Chama; quem de mim se distancia, está longe do reino’. Na Logia
nº 61, ele esclarece, dizendo: ‘Quando o discípulo se faz Um, pela Luz é
preenchido; mas, se permanece dividido, a treva o preenche’, e
complementa, na Logia nº 11: ‘Éreis Um e vos dividistes; e agora, sendo
dois, que fareis’ para voltardes a serdes ‘Um’ com a ‘Luz do reino do
Vivo’? Ainda na Logia nº 11, ele tranquiliza os seus discípulos, dizendo:
‘Este reino passará, e também o próximo que está acima deste; os que
estão na morte não experimentarão a Vida, nem os que estão na Vida

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O Evangelho Segundo Tomé – Um Guia para a Sabedoria
experimentarão a morte. Estando na morte, vos alimentais do que é morto
e tornais real o que é ilusório; mas quando estiverdes na Vida, como
agireis? Depois, pedindo aos discípulos confiança em seus ‘Ensinamentos’,
ele diz que tudo o que nos acontece tem um ‘sentido’ que está além de
nossa compreensão, cujo ‘propósito’ é nos capacitar a entrar no ‘reino da
Luz do Vivo’, dizendo, na Logia nº 19: ‘Se vos tornardes meus discípulos, e
colocardes em prática os Meus Ensinamentos, vereis que mesmo as pedras
estão a vosso serviço’, referindo-se ao ‘reino mineral’, enfatizando que
todos os reinos da natureza estão contidos numa ‘interdependência’ que os
rege e conduz desde os reinos mais iniciais e primários, até os reinos mais
avançados e evoluídos.
18. Os discípulos lhe perguntaram: Como encontraremos o Último?
Jesus respondeu: É necessário, antes, encontrar o Primeiro; então,
tereis encontrado o Último. Porque onde estiver o Primeiro ali também
estará o Último. Feliz daquele que conhecer o Primeiro, pois assim
também conhecerá o Último – e não experimentará a morte.
Aqui, nesta Logia, os discípulos demonstram haver compreendido o
‘sentido oculto’ dos Ensinamentos secretos que o Mestre lhes transmitia e
indagam de Jesus, o porta-voz da Centelha, sobre esta ‘última persona’ que
haveria de vestir o ente espiritual em sua jornada pelo reino animal-
hominal: como seria este homem? Como haveriam de encontrá-lo no
interior de si mesmos e manifestá-lo no mundo? Sabemos que, em primeiro
lugar, é necessário que o homem, o ego encarnado, deixe de ser dividido
em si mesmo, unindo num mesmo ideal o intelecto do homem que se
reconhece ‘filho do mundo’ à mente espiritual que se reconhece ‘filha da
Luz do Vivo’. Esta união íntima faz com que ele deixe de ser ‘dividido’,
‘separado’ de todos os seres da natureza e, neste momento, ele retira a sua
atenção, a sua percepção, do mundo exterior, quando ele vivia de ‘costas’
para a Centelha que está em seu interior, projetando no mundo uma persona
que era a ‘sombra’ de sua mente, e volta-se para o seu interior, colocando-
se de frente para a Centelha e por Ela sendo iluminado. Desta ‘união’ entre
o intelecto e a mente numa só persona, voltada interiormente para a
Centelha, surge um novo homem, uma nova criatura, um ‘ser iluminado’
que, no devido uso de seu livre arbítrio, renuncia à própria vontade a fim de
tornar-se um ‘instrumento consciente’ sob a regência da ‘Centelha da Luz
do Vivo’ em seu interior; e suas ações, daí por diante, serão ‘testemunhas
vivas’ desta sua conversão. É este o ‘Último’ a que eles se referem nesta

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Sebastião Anselmo
indagação, aquele que adentrará o ‘pórtico do reino da Luz do Vivo’ e que
os capacitará a entrar no ‘oitavo dia criação’. Como resposta, Jesus diz que
é necessário, antes, ‘encontrar o Primeiro’, ou seja, que a mente deixe de
ser dividida pelo ‘intelecto’, voltado para o mundo exterior, de costas para
o seu interior, existindo em pobreza e miséria, sob o influxo das ilusões
causadas pela ignorância de ser ‘filho da Luz do Vivo’, e volte-se para o seu
interior, onde ‘encontrará’ a Centelha, o ‘Primeiro’, que gerou a ‘mente do
ente espiritual’. A mente, quando desconectada intimamente com a
Centelha, gera uma personalidade sombria que é misticamente chamada
‘diábolos’, um ego que causa a ‘divisão’ ou ‘separação’ entre a mente e a
Centelha, que se alimenta do que é morto, das ilusões do mundo exterior,
impedindo que a mente se volte para o seu interior e entre em ‘sintonia
vibratória com a Centelha’ e seja iluminada por ela. Quando a mente
finalmente consegue atrair para si o intelecto, unindo-se a ele no ideal de
voltar-se intimamente à Centelha, ela se torna ‘iluminada’, e a
personalidade que ela manifesta no mundo converte-se de ‘diábolos’ para
‘anjo de Luz’ penetrando o ‘pórtico do oitavo dia da criação’, não
experimentando mais a ‘morte da separação’.
19. Feliz daquele que se faz Um, deixando de ser dois. Se vos
tornardes meus discípulos, e colocardes em prática os Meus
Ensinamentos, vereis que mesmo as pedras estão a vosso serviço. Há,
na casa em que habitais, cinco árvores que permanecem inalteradas e
cujas folhas não caem, mesmo com o passar das estações; quem as
conhecer não experimentará a morte.
A ‘mente’ do ente espiritual no reino animal-hominal se torna capaz de
‘pensar e raciocinar’, e assim vai, com o correr de suas experiências no
uso do ‘livre arbítrio’ e vivenciando suas consequências, desenvolvendo-se
através de inúmeras reencarnações no mundo físico. A mente habita o
mundo espiritual e é essencialmente racional; já o intelecto habita o mundo
físico e reveste-se de um ‘ego pensante’ que desenvolve sua inteligência
em direção ao ‘raciocínio do ente espiritual’ que, por sua vez, desenvolve
sua ‘razão’ em direção à ‘Consciência Cósmica Universal’ da Centelha
n’A qual surgiu e foi gerado. A ‘mente’ do ente espiritual no ‘drama épico’
que vivencia no ‘sétimo dia da criação’, o reino animal-hominal, reveste-se
de variados ‘egos inteligentes’, em suas múltiplas reencarnações no mundo
físico, em busca de harmonizar-se e unir-se intimamente a ele, gerando, da
união entre ‘inteligência e razão’, uma persona capaz de voltar-se

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O Evangelho Segundo Tomé – Um Guia para a Sabedoria
intimamente à sua Centelha, n’A qual o ente espiritual foi gerado, e, por
Ela, ser finalmente ‘iluminado’. Quando o ‘ente espiritual’ deixa de ser
dividido entre ‘mente racional’ e ‘ego pensante’, e se torna ‘Um’ em seus
propósitos e objetivos de ‘Comunhão íntima com a Centelha’, habilita-se a
completar sua jornada neste reino, o sétimo da criação, manifestando no
mundo o ‘Último’, imagem e semelhança do ‘Primeiro’, porque, ‘unidos
em Comunhão’, se tornam ‘Um’. Efetuada a ‘União’ entre ‘inteligência e
razão’, a mente do ente espiritual se torna ‘Una’, deixando de ser
‘dividida’, e habilita-se ao ‘Casamento Místico’ com sua Centelha, de cuja
‘União’ nasce uma nova ‘persona’, uma personalidade iluminada, porta-
voz e manifestante da ‘Luz da Centelha’ no mundo exterior. Quando esta
‘condição’ é alcançada pelo ‘discípulo’, que colocou em prática os
Ensinamentos recebidos intimamente de sua Centelha, ele compreende que
todos os reinos da natureza estão interligados e concorrem, em perfeita
interdependência, para que todos os entes espirituais sejam ‘direcionados’
a esta ‘União-Íntima’ que será definitivamente conquistada no findar do
‘sétimo dia’, próximo ao ‘alvorecer do oitavo dia’ quando, finalmente,
entrará no ‘reino da Luz do Vivo’.
Na sequência, Jesus afirma que na mente, ou ‘casa do ente espiritual que
percorre o reino animal-hominal’, existe ‘cinco árvores’ bem fincadas,
cujas folhas, ou memórias, não desaparecem, mesmo com o passar das
estações ou ‘reinos evolutivos’ por ele percorridos em sua jornada cósmica.
Com efeito, a ‘mente’ do ente espiritual é como um computador que vai
guardando em sua ‘memória’ todas as experiências por que passou nos
‘cinco reinos’ anteriores, sendo o reino animal, a que ainda pertence o
homem, o sexto. A ‘sétima etapa’ desta jornada desponta ainda no reino
animal, quando ao homem, sob o jugo dos instintos irracionais que
caracterizam este reino, é dada a ferramenta do ‘livre arbítrio’ que o dota
de ‘pensamento contínuo e razão’ a fim de suplantá-lo e dominar a ‘besta-
fera’, domesticando-a (conf, Logia nº 7). De fato, a capacidade de
‘raciocinar’, alcançada pelo ente espiritual no reino animal-hominal, surge
do acesso, sempre progressivo a partir de suas experiências no uso do
‘livre-arbítrio’ e experimentação de suas consequências, a estas ‘memórias
cósmicas’ de sua trajetória pelos reinos anteriores; memórias essas que
estão ‘latentes’ em sua mente, em vias de tornarem-se ‘conscientes’, e que
formam, em seu conjunto, a ‘razão’ que a faz buscar e ansiar pela
‘Comunhão-Íntima’ com sua Centelha. Porém, o ‘intelecto’ das personas
que ela encarna no mundo físico, também precisa desenvolver-se, até
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Sebastião Anselmo
alcançar a sua plena ‘estatura’, e então, tornar-se possível a ‘União entre o
‘intelecto da persona encarnada com a razão da mente encarnante’. Ao
fim deste processo, o ente espiritual, dotado de inteligência e razão
‘unificados’, conclui sua jornada pelo ‘sétimo dia’, e torna-se apto a
adentrar o ‘oitavo’ em perfeita ‘União-Íntima’ com sua Centelha, não
necessitando mais encarnar em corpos físicos para evoluir. No ‘oitavo dia’,
a ‘mente unificada’ com o intelecto habita somente em ‘mundos
espirituais’ desenvolvendo-se por longo período até alcançar a ‘estatura da
Consciência da Centelha que a originou’; quando, então, adentra o ‘nono
dia’ onde, em mundos espirituais ainda mais evoluídos e indescritíveis para
a nossa atual compreensão, percorre ainda longo caminho até diluir-se
completamente na Centelha, vindo então o ‘décimo dia’, onde a Centelha,
já em sua ‘forma completa e original’, retorna para o ‘Um’, o ‘Brilho da
Luz’, de onde partiu para a Sua Jornada no Universo físico material-
espiritual, pelos diversos reinos da natureza. O ‘décimo dia’ é
simbolicamente descrito por outros sistemas filosófico-religiosos como a
‘Noite de Brahman’, onde a Centelha permanece Viva, porém ‘inativa’, ou
seja, sem gerar um ‘ente espiritual’ pelo mesmo tempo de duração do
assim chamado ‘Dia de Brahman’ ou período de Sua manifestação no
Universo físico material-espiritual. Quando a Centelha destacar-se
novamente do ‘Um’, ou ‘Brilho da Luz do Vivo’, num novo ‘Dia de
Brahman’, será em um outro ‘Universo físico material-espiritual’, e o
‘ente’ que Ela manifestará será gerado não mais ‘simples e ignorante’,
como neste Universo que habitamos; mas numa ‘oitava superior’, já
surgindo com ‘relativo grau de lucidez e consciência de que é filho da Luz
do Vivo’. E assim será, pela Eternidade afora, sempre aumentando um
‘grau de consciência’ no ente gerado pela Centelha em cada ‘novo Dia de
Brahman’, até que surja um Universo tão evoluído que a Centelha não
necessite mais reduzir-se a uma ‘mente’ para que possa habitá-lo. Daí a
necessidade do ‘autoconhecimento’ para adentrar o ‘reino da Luz do Vivo’,
tão salientado por Jesus em seus ‘Ensinamentos’.
20. Perguntaram os discípulos: A que se assemelha o reino do Vivo?
Jesus respondeu: Se assemelha a um grão de mostarda – que é a menor
de todas as sementes – quando lançada em terra boa. Então, ela cresce
e torna-se árvore robusta que é abrigo para as aves do céu.
Depois de serem informados que ‘quem entra no reino da Luz do Vivo
não experimenta a morte’, os discípulos, intrigados, perguntam ao Mestre

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O Evangelho Segundo Tomé – Um Guia para a Sabedoria
‘a que se assemelha tal reino’ e como vivem os que o alcançam. A resposta
de Jesus é profundamente esclarecedora. O grão de mostarda é a menor de
todas as sementes medindo cerca de dois milímetros de comprimento e,
quando cresce, torna-se uma árvore grande e robusta de cerca de três
metros de altura. Na época de Jesus era considerada ‘árvore’ e era semeada
em campos de cultivo, mas hoje é considerada ‘arbusto’ e é plantada em
canteiros de hortaliças. Suas folhas possuem várias propriedades
medicinais e era muito usada para melhorar a digestão; também previne
vários tipos de câncer, protege o fígado, alivia dores articulares e
musculares e regula a tireoide, entre outros benefícios para a saúde. A
colheita de suas folhas se inicia a partir de 70 dias após o cultivo, ‘a
depender da qualidade da terra em que o grão foi sepultado’. Jesus utiliza
a figura do ‘grão de mostarda’ para exemplificar a ação da Centelha no
cerne dos ‘entes espirituais’ em sua jornada cósmico-evolutiva através dos
diferentes ‘reinos da natureza’, desde o ‘primeiro’, onde se encontra
apenas de forma latente, figuradamente medindo cerca de dois milímetros
de comprimento, até o ‘sétimo’, quando já começa a ‘frutificar’ – a partir
dos ‘setenta’ dias de cultivo – e a ‘curar os que estiveram doentes pelas
‘atrações do mundo’, mas que n’Ela procuraram alívio e socorro, embora
muito tenham ainda que ‘crescer e se desenvolver para atingir a plenitude
de sua estatura’. As ‘aves do céu’ simbolizam, aqui, os ‘entes espirituais’
que habitam e se locomovem no ‘reino da Luz’, e que encontram guarida,
alimento e repouso em sua ‘estrutura’.
21. Maria perguntou: E os Teus discípulos, a que se assemelham?
Jesus respondeu: Assemelham-se a meninos que vivem em campo que
não lhes pertence. Quando vierem os donos do campo, dirão a eles:
Este campo não lhes pertence, deixai-o! Então eles se despirão de suas
vestes e deixarão aquele campo. Por isso vos digo: Se o dono da casa
sabe que virá o ladrão, vigiará para que ele não entre e roube o que
conquistou. Ficai atentos quanto às ilusões do mundo. Armai-vos de
força e poder para que os ladrões não encontrem caminho até vós, pois
é certo que tentarão o assalto; agindo assim, o vosso tesouro ficará
resguardado. Sede como o homem prudente, que conhece o tempo
exato da colheita; e, de foice na mão, colhe o fruto da semente que foi
lançada no seu campo. Quem tem ouvidos de ouvir, ouça!
Jesus compara os ‘candidatos a entrar no reino da Luz do Vivo’ a
meninos, recém-saídos da infância espiritual. Tudo ainda é novo para eles,

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Sebastião Anselmo
e já não se reconhecem mais como ‘crianças’ e, tampouco, como adultos.
São capazes de perceber e identificar as ‘ilusões do mundo exterior’ em
que estiveram mergulhados até ali, mas não se reconhecem, ainda,
totalmente imunes a elas, vivendo uma série de conflitos internos. Aqueles
que vivem mergulhados nas ‘ilusões do mundo’ os consideram ‘estranhos’,
pois suas atitudes são, muitas vezes, incompatíveis com seus ‘hábitos,
costumes e condicionamentos’; ao mesmo tempo, não se sentem
preparados, ainda, para levar uma vida totalmente independente de certos
‘hábitos, costumes e condicionamentos’ que caracterizam aqueles que
ainda estão profundamente ‘arraigados ao mundo exterior’. Necessitam
aprofundar o ‘conhecimento de si mesmos’, a fim de se reconhecerem como
‘filhos da Luz do Vivo’ e amadurecer um tanto mais em direção à nova fase
de suas existências. Essa sensação de ‘inadaptação ao mundo exterior’,
com todos os seus ‘hábitos, costumes e condicionamentos’, faz com que se
sintam ‘estrangeiros’ neste ‘campo’, estranhos que peregrinam por um
‘lugar’ com o qual não mais se afinam vibratoriamente; ‘o mesmo se dá
com o mundo em relação a eles’. Ambos sentem que não mais se
pertencem e se consideram, um ao outro, indignos de sua convivência; e,
por não mais se aceitarem mutuamente, passam a ser ‘discriminados e
perseguidos por aqueles que ainda se refestelam com as suas ilusões’ que,
por fim, lhes dão um ultimato: ‘Este campo não lhes pertence, deixai-o’. E
é neste momento que eles ‘se despirão das roupagens das ilusões deste
mundo’, alimentadas por seus ‘hábitos, costumes e condicionamentos’, e
dele se apartarão definitivamente; pois, como diz a Logia nº 111: ‘Quem a
si mesmo conhece, torna-se indigno para o mundo; do mesmo modo, o
mundo torna-se indigno para ele’. Reconhecendo a condição ainda frágil
dos ‘candidatos a entrar na Luz do reino do Vivo’, Jesus os orienta dizendo
que os ‘hábitos, costumes e condicionamentos’ do mundo exterior agem
como ‘ladrões que roubam a conexão-íntima que já conquistaram com a
sua Centelha’. É necessário que permaneçam atentos, vigilantes, armando-
se de força de vontade e constância em sua determinação de estreitamento
dos laços com a ‘Luz do Vivo’, a fim de que não sejam pegos
desprevenidos. E acrescenta dizendo que, ‘agindo assim, o tesouro de sua
conexão-íntima com a Centelha, que já conquistaram, ficará protegido’.
Na Logia nº 103, Jesus reforça o ‘Ensinamento’, dizendo: ‘Feliz do homem
que conhece o lugar por onde entram os ladrões; porque pode prevenir-se
e preparar-se antes que seja assaltado’. Por isso, é necessário que os
candidatos a entrar no ‘reino da Luz do Vivo’ se comportem como o

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O Evangelho Segundo Tomé – Um Guia para a Sabedoria
agricultor sábio e prudente, que sabe reconhecer o tempo exato em que a
semente lançada no seu campo haverá de produzir frutos, preparando-se
para a colheita. De fato, a ‘semente de Luz do Vivo’ que foi plantada no
‘barro de que foi formado o corpo físico’ do homem, já cumpriu o tempo
para produzir o ‘fruto da conexão íntima com a Centelha’, cabendo-lhe,
apenas, o esforço de colhê-lo sem perdê-lo para os ladrões, pragas ou
desperdícios que anulariam ou reduziriam drasticamente sua colheita,
porque, como diz a Logia nº 75: ‘Muitos são os que se colocam diante da
porta, mas apenas os dois que se fizerem Um é que terão permissão para
entrar’.
22. E, observando nascituros sendo amamentados, concluiu: Eis a
que se assemelham os que entram no reino! Perguntaram os
discípulos: Haveremos de tornar ao ventre materno para entrar no
reino? Jesus respondeu: Quando deixardes de serdes dois e vos
tornardes Um, vereis o interior como o exterior, e o exterior como o
interior; o do Alto como o de baixo, e o de baixo como o do Alto; o
masculino como o feminino, e o feminino como o masculino. Então,
entrareis no reino.
Depois de haver dissertado sobre as características dos ‘candidatos a
entrar na Luz do reino do Vivo’, suas dúvidas e anseios, o Mestre passa a
falar sobre as características daqueles que já venceram suas dificuldades e
estão ‘prontos para entrar no reino’; e seu ‘Ensinamento’ é bem sucinto,
prático e objetivo: ‘Assemelham-se a crianças de peito sendo amamentadas
pela mãe’. E assim é! Por isso, também os chamados ‘evangelhos
sinóticos’, registraram: ‘Deixai vir a mim as criancinhas; não os impeçais,
porque deles é o reino da Luz do Vivo’ (conf. Mt. 19:14; Mc. 10:14 e Lc.
18:16). Mas, por que teria escolhido Jesus as ‘crianças de peito’ para
exemplificar a ‘semelhança dos que entram no reino’? Porque tais crianças
‘confiam plenamente em suas mães’, que, por sua vez, ‘conhecem’ os
horários de as alimentar, de agasalhá-las com mais ou menos roupas, de
banhá-las, de colocarem-nas ou tirarem-nas do sol, etc. Enfim, tais
crianças, por viverem plenamente confiantes na ‘providência de suas
mães’, simbolizam perfeitamente a fé e a confiança que o homem, ‘apto a
entrar no reino’ tem em sua Centelha para conduzi-lo, com segurança,
pelos ‘caminhos da Luz’, enquanto ainda é frágil e pequenino; até que, no
final de todo um processo de crescimento e desenvolvimento físico e
mental, poderá colaborar e viver conscientemente em uníssono com Ela,

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Sebastião Anselmo
unidos numa mesma ‘vibração espiritual’. Os discípulos, surpresos com a
comparação a ‘crianças de peito’, totalmente sujeitas aos cuidados da mãe,
perguntam se haverá necessidade de reencarnar ainda muitas vezes para
atingir esse ‘patamar de confiança’ à direção da Centelha, uma vez que se
reconhecem ainda muito distantes de tal ‘condição’. Na verdade, tudo
depende do ‘esforço íntimo de cada discípulo em seguir o Ensinamento do
Mestre’. Há um processo em andamento, conduzido interiormente pela
Centelha, através dos diversos ‘reinos da natureza’, que acabará por
conduzir a todos à ‘casa do Pai’, ou ‘reino do Vivo’; porque, como anotou
o apóstolo Paulo, ‘É desejo do Vivo que todos se salvem [das ilusões do
mundo] e cheguem ao pleno conhecimento da Verdade’ (conf. 1Tm. 2:4);
mas, quando o homem chega a determinado ‘amadurecimento espiritual’, e
sente a Centelha a ‘vibrar em seu interior’, conduzindo-o nas diversas
situações de sua existência através de inequívocas ‘intuições’, ele passa a
‘colaborar com esse processo’ abreviando-o significativamente, libertando-
se conscientemente das amarras das ilusões do mundo e ‘estreitando, cada
vez mais, os laços internos com sua Centelha’. Em resposta, Jesus
transmite um de seus mais importantes ‘Ensinamentos’, pois afirma que,
aquele que deixa de ser ‘dividido pelo ego’ que se acredita separado de sua
Centelha, do ‘Todo’ e de tudo o mais na criação, se torna capaz de ‘ver’
todas as ‘formas’, de tudo o que existe no Universo, como manifestação
exterior da Centelha que as vivifica, porque a ‘Luz que a tudo faz existir e
torna vivo’ permanece velada, exceto para os ‘olhos da sabedoria’. Na
Logia nº 83, Jesus ensina: ‘Todas as formas que o homem vê, ocultam a
Luz que as manifesta no mundo; porém, esta mesma Luz, quando
percebida pelo homem, ocultará as formas por Ela manifestadas’; e, na
Logia nº 5, ele diz: ‘Vê o que está diante de teus olhos, e o que a ti estava
velado te será revelado; porque tudo o que a ti permanece encoberto, será
descoberto’. Ratificando o seu ‘Ensinamento’, nesta Logia em estudo ele
afirma: ‘Quando deixardes de serdes dois, e vos tornardes Um, vereis’:
1. O interior como o exterior, e o exterior como o interior: Significa
que ‘compreenderemos e veremos todas as formas de tudo o que existe, em
todos os reinos da natureza, visível e invisível aos nossos olhos físicos ou
espirituais como manifestações exteriores da Centelha que em Si-Mesma
os gerou’.
2. O do Alto como o de baixo, e o de baixo como o do Alto: O ‘do Alto’
é referência à Centelha, o ‘de Cima’, o ‘do Céu’ ou ‘da Luz’, que habita ‘o

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O Evangelho Segundo Tomé – Um Guia para a Sabedoria
Alto’ de nossas cabeças, em nossas ‘consciências’, também chamado o
‘Pai’: Aquele que está ‘acima’ de todas as coisas; e o ‘de baixo’, é
referência a todas as formas, nossas ‘irmãs’, por ‘Ele’ manifestadas no
Universo físico material-espiritual; quando amamos e servimos à ‘forma
exterior’, estamos, ‘igualmente’, amando e servindo à ‘Luz’ que a
manifestou no mundo. O evangelista Mateus também anotou este mesmo
‘Ensinamento’ de Jesus, em que ele diz: ‘Amarás o Senhor, teu Deus, de
todo o teu coração, de toda a tua alma e de todo o teu entendimento. Este é
o primeiro e grande mandamento. O segundo, semelhante a este, é:
Amarás o teu próximo como amas a ti mesmo. Nestes dois mandamentos
estão contidos toda a Lei e os Profetas’. (conf. Mt. 22:37-40). Isto significa
que ‘devemos amar a Luz do Vivo, n’A qual fomos gerados, com a mesma
força e intensidade em que amamos ao nosso próximo e a nós mesmos’,
pois que tudo o que há no Universo, ‘Luz e formas’, são, em verdade, Um
só; e são, por definição, ‘nosso próximo e nosso irmão’. Na Logia nº 25
deste ‘Evangelho Segundo Tomé’, está anotado: ‘Ama o teu irmão como
amas a tua própria alma; e tenhais com ele o mesmo cuidado que tendes
com a pupila de teus olhos’, ou seja, devemos ter com o nosso ‘irmão’ de
todos os reinos da natureza o mesmo amor e cuidado que temos conosco
mesmo e com a Centelha, e vive versa, pois que ‘tudo é Um’.
3. O masculino como o feminino, e o feminino como o masculino: Não
devemos nos ‘prender’ e, consequentemente, ‘nos perder na aparência das
formas’; pois que as ‘distintas aparências’ são apenas ‘ilusões’ causadas
pela ‘ignorância’ de que ‘tudo é manifestação do Um’.
4. E finaliza, dizendo: Então [quando deixardes de serdes dois e vos
tornardes Um], entrareis no reino.
Deixar de sermos ‘dois’ é requisito ‘sine qua non’ para transcendermos
este ‘reino’ em que nos encontramos, que é o ‘reino do julgamento, do
livre-arbitrar, das escolhas feitas pelo ego desconectado intimamente com
a Centelha’ – escolhas essas motivadas única e exclusivamente em servir
aos seus próprios interesses, ‘apartado do Concerto Geral do Universo’ – e
adentrar no próximo ‘reino’, o reino do ‘oitavo dia da criação’, onde a
prioridade é servir à Vontade do Pai, colaborando assim com o Equilíbrio e
Felicidade de todos os seres. Hermes Trismegisto, um legislador e filósofo
egípcio, –reverenciado como o Pai da Astrologia e da Alquimia –
influenciou o pensamento de vários filósofos posteriores, entre eles
Sócrates, Platão e Aristóteles, e que foi a fonte de inspiração também para
50
Sebastião Anselmo
vários escritores cristãos dos primeiros séculos, entre eles São Clemente de
Alexandria – é autor, entre outros livros, do famoso ‘Tábua de
Esmeraldas’, em que descreve as ‘Sete Leis que Regem o Universo’. São
elas:
1. Lei do Mentalismo: ‘O Todo é Mente; o Universo é mental’.
2. Lei da Correspondência: ‘O que está em cima é como o que está
embaixo. O que está dentro é como o que está fora’.
3. Lei da Vibração: ‘Nada está parado, tudo se move, tudo vibra’.
4. Lei da Polaridade: ‘Tudo é duplo; tudo tem dois polos; tudo tem o seu
oposto. O igual e o desigual são a mesma coisa. Os extremos se tocam.
Todas as verdades são meias-verdades. Todos os paradoxos podem ser
reconciliados’.
5. Lei do Ritmo: ‘Tudo tem fluxo e refluxo; tudo tem suas marés; tudo
sobe e desce; o ritmo é a compensação’.
6. Lei do Gênero: ‘O Gênero está em tudo: tudo tem seus princípios
Masculino e Feminino; o gênero se manifesta em todos os planos da
criação’.
7. Lei de Causa e Efeito: ‘Toda causa tem seu efeito, todo efeito tem sua
causa; existem muitos planos de causalidade, mas nada escapa à Lei’.
23. Apontarei um qualquer entre mil, ou dois entre dez mil, e os verei
como um só.
Nesta Logia, Jesus completa o seu ‘Ensinamento’: as formas são o
‘efeito’, e a ‘Centelha’ a ‘causa’ de tudo o que existe. Assim como nós, as
‘formas’ exteriorizadas pela Centelha, precisamos ver em tudo o ‘Interior’,
ou seja, a Centelha, assim também a Centelha, que está ‘dentro’, vê em
tudo ‘igualdade’: O ‘de dentro’ como ‘o de fora’, e o ‘de fora’ como ‘o de
dentro’. Quando conseguirmos ‘ver o mundo exterior como a Centelha o
vê’, teremos nos ‘igualado’ vibratoriamente a Ela e, então, entraremos no
‘reino da Luz do Vivo’.
24. Disseram os discípulos: Não encontramos o reino. Mostra-nos
onde Ele está. Jesus respondeu: Ouvi e compreendei: Há Luz dentro de
vós, e Ela ilumina o mundo inteiro! Quem não A encontra, torna-se
escuridão!

51
O Evangelho Segundo Tomé – Um Guia para a Sabedoria
Os discípulos, frente à manifestação direta da Centelha através do
‘Ensinamento’ do Mestre, reconhecem que não conseguem se libertar da
visão de ‘dualidade’ do mundo físico, não encontrando, em consequência,
o reino ‘dentro’ deles mesmos; e pedem que a Centelha seja mais direta,
indicando o ‘local’ exato de Sua presença: Será na ‘consciência’, ou no
‘coração’? Na ‘fé’, ou na ‘razão’? Na ‘fé raciocinada’ ou na ‘razão
fidelizada’? Esta dúvida, ainda hoje, a muitos angustia. Porém, à parte da
dificuldade dos discípulos de compreenderem, o reino está ‘dentro’ de nós,
‘dentro’ de tudo e todos, na ‘essência mais íntima’ de tudo o que existe no
Universo – muito embora, paradoxalmente, tudo o que existe no Universo
também está ‘dentro’ do reino – e, para encontrá-lo, o primeiro passo é
vencer a ignorância de que somos ‘filhos da Luz do Vivo’, voltarmo-nos
interiormente para Ela, e passar a atuar no mundo segundo a Sua Vontade.
Mas isto requer algum esforço, afinal, não é fácil desfazer-se de todos os
‘hábitos, costumes e condicionamentos’ que alimentam a ilusão de sermos
‘separados’, e é isto o que nos mantém presos na ‘ilusão de que estamos
fora do reino da Luz do Vivo’. Na verdade, tudo está ‘dentro’, apenas ainda
não temos ‘consciência’ disto. O ‘caminho do discípulo’ deve ser o
‘desenvolvimento do raciocínio através do autoconhecimento’ e vivê-lo
com ‘fé e discernimento em todas as suas atitudes’; pois, como ensinou
Jesus, ‘seja o teu sim, sim; o teu não, não. O que passar disto, vem do
maligno’ (conf. Mt. 5:37), ou seja, do ‘ego exterior’ ainda aprisionado às
ilusões do mundo. A resposta de Jesus é esclarecedora: A ‘Luz do Vivo está
dentro do ente espiritual por Ela gerado’; quando a mente do ente
espiritual se volta ‘para fora’ de si mesmo, de costas para a ‘Luz Interior’,
cai no mundo das ilusões, e produz um ‘ego exterior’, que é a ‘sombra’
projetada por esta mente, que não se reconhece ‘filha da Luz’ e nem parte
do ‘Todo’. É este ‘ego exterior’ o ‘diábolos’ muitas vezes citado nos
evangelhos, que não permite a ‘União entre mente e Centelha, para que se
tornem Um e, finalmente, se reconheça dentro do reino’. Quando a mente
voltar-se para o seu interior, verá a ‘Luz’ e, de frente para Ela, será
Iluminada, produzindo um ‘ego interior’ que procurará identificar-se com
Ela, ‘de costas para a sombra que projeta no mundo, alheia às suas
ilusões’. No ‘Evangelho Segundo João’ Jesus dirige-se a estes ‘egos
exteriores sombrios’ e explica-lhes a ‘razão’ de não compreenderem os
seus ‘Ensinamentos’. Diz ele: ‘Sabei por que não compreendeis o que
ensino? Porque não possuis ouvidos de ouvir a minha Palavra. Sois filhos
do diabo, o que promove a divisão é vosso pai, e é a ele que quereis ouvir.

52
Sebastião Anselmo
Desde o princípio ele é causador da morte e não busca a Luz, porque nele
não há Luz. Quando ele profere mentiras, fala do que lhe é próprio, porque
é mentiroso e pai da mentira’ (conf. Jo. 8:43-44).
25. Ama a teu irmão como amas a tua própria alma; e tende com ele
o mesmo cuidado que tendes com a pupila de teus olhos.
Aqui, Jesus dá continuidade à resposta direcionada aos discípulos, na
Logia anterior, ensinando ‘o que devem fazer para encontrar o reino da
Luz em seu interior’. Aquele que, através do ‘autoconhecimento’ adquire a
certeza absoluta de que é ‘filho da Luz do Vivo’, passa a agir segundo os
Seus Propósitos e a ‘ver em todas as formas exteriores, suas irmãs, a
mesma Luz que as projetou no mundo’, dedicando-lhes o mesmo amor e
cuidado que tem para consigo mesmo e para com a Centelha n’A qual foi
gerado.
26. Por que vês tu o cisco no olho de teu irmão, e não vês a trave no
teu próprio? Se tirares a trave de teu olho verás claramente, e então
poderás tirar o cisco do olho de teu irmão.
O ‘ego exterior’, separado intimamente de sua Centelha, caracteriza-se
pelo ‘julgamento’ de seus pares, apontando-lhes os defeitos sem atentar
para os seus próprios. Jesus, então, ensina-lhes que, ‘antes de julgar as
imperfeições de seus irmãos’, é necessário desvestir-se das próprias ilusões,
a fim de enxergar claramente a ‘Luz’; e então, com ‘lucidez’, poderá ‘ver
com clareza os enganos nos quais ainda estão imersos’ e prevenir-se para
que, também ele, não caia em tais ilusões.
27. Se não jejuardes das ilusões do mundo, não encontrareis o reino;
e, se não procurardes o lugar de repouso da Luz, não vereis o Pai.
O sábado, ou shabat, no hebraico, significa ‘repouso’, e designa o ‘dia
sétimo’, quando a Centelha repousou no íntimo de cada ‘forma’ n’Ela
gerada. Com estas palavras, Jesus ensina que cabe ao ente espiritual, no
‘dia sétimo’ de sua jornada no Universo físico material-espiritual, buscar o
‘local de repouso da Luz’, ou seja, voltar-se para o seu interior, onde Ela
‘repousa’, a fim de que possa ‘ver’ o seu Pai. E o ‘método’ apontado pelo
Mestre, para atingir tal empreendimento, é ‘jejuar das coisas do mundo’,
isto é, não alimentar-se de suas ilusões.
28. Vim ao mundo, e a ele me revelei habitando na carne; e eis que,
porém, a todos encontrei embriagados. A nenhum encontrei sedento, e

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O Evangelho Segundo Tomé – Um Guia para a Sabedoria
minha alma se compadeceu pelos filhos dos homens; porque agem
como cegos, em seus corações, e não possuem olhos de ver. Tendo
entrado na carne vazios, assim dela querem sair; se comportam como
bêbados, e só se converterão ao reino, quando abandonarem o seu
vinho.
Aqui, a Centelha revela que, destacando-se do ‘Brilho da Luz’, o ‘filho
Unigênito do Vivo’, adentrou o Universo físico material-espiritual, gerando
a ‘energia primordial’ ou ‘ente espiritual’, habitando em seu interior, na
‘carne desta matéria-espiritual primordial’ que, como já sabemos é
‘energia condensada’. Neste primeiro momento de ‘surgimento do ente
espiritual’, como ‘energia-primordial’, ele aparece ‘simples e ignorante’,
sem ‘noção ou conhecimento de si mesmo’, como um computador virgem
que vai, aos poucos, reunindo experiências e arquivando-as em uma
‘memória nascente’, também chamada ‘mente’. Durante os primeiros
reinos da natureza, do ‘primeiro até o sexto dia da criação’, quando
aparece no reino animal a espécie ‘homo’ com os primeiros ‘hominídeos’, o
‘ente espiritual’ é movido apenas ‘internamente’ pela Centelha, através dos
‘instintos’ que caracteriza cada reino da natureza; por estarem ainda em
‘fase de desenvolvimento mental’, sem ‘noção ou conhecimento de si
mesmos’, não A buscam nem possuem a ‘sede de União’ com Ela. Assim,
figuradamente por ‘compaixão da grande família homo’, desprovida de
‘sede de União’ com a Centelha que a vivifica e dirige, de dentro para fora,
em Sua direção, o ‘ente espiritual’ conquista uma ‘mente’ suficientemente
desenvolvida, adentra o ‘sétimo dia da criação’, habitando o corpo animal
do ‘homo sapiens’, possuidor de um cérebro altamente desenvolvido, com
inúmeras capacidades como o raciocínio abstrato, a linguagem, a
introspecção e a resolução de problemas complexos. Esta capacidade
mental, associada a um corpo ereto, possibilita-lhe o uso dos braços para
manipular objetos, fator que permite aos humanos a criação e a utilização
de ferramentas para alterar o ambiente à sua volta mais do que qualquer
outra espécie de ser vivo. No início deste ‘sétimo dia’ o ente espiritual,
portando processos mais avançados de pensamento, como a
autoconsciência, a racionalidade e a sapiência, passa a ‘perceber-se’ como
pessoa autônoma e desenvolve um ‘ego exterior’ que está sempre à procura
de sua própria satisfação, indiferente aos interesses e necessidades alheios.
Muito embora possuindo uma mente espiritual e cérebro físico muito mais
desenvolvido que nos reinos anteriores, não se esforçam para utilizar as
novas ferramentas, que lhe foram concedidas, para o ‘estreitamento do
54
Sebastião Anselmo
laço-íntimo com a sua Centelha’, demorando-se em existências ‘vazias’,
repletas de sofrimento, pobreza e miséria, por habitarem a sombra da
ausência da Luz do Vivo em seu interior, sem conquistar méritos, diante da
‘Lei de Causa e Efeito’, para garantirem a sua ‘passagem’ para o reino
posterior do ‘oitavo’ dia. Apesar de todas as condições concedidas pela
Centelha, se comportam como seres inconscientes, existindo sem
propósito, necessitando da ‘ferramenta da dor’ para o seu despertamento
íntimo; e então, para fugirem da ‘dor’, rendem-se ao ‘amor’ e, voltando-se
para o seu interior, num ‘processo íntimo de autoconhecimento’, passam a
agir segundo o interesse do ‘Todo Coletivo’, abandonando o ‘vinho das
ilusões’ que os mantinha em trevas, apartados da ‘Luz’.
29. Se a carne foi feita para servir ao espírito, isto é muito bom; mas
se o espírito veio para servir ao corpo, isto é ainda melhor. Porém, é de
se admirar como tanta riqueza veio habitar em tanta pobreza.
Aqui, Jesus oferece o seu ‘Ensinamento’ se servindo, não de uma
parábola, mas de um trocadilho. Na verdade, tanto uma situação quanto a
outra são verdadeiras, porque o Universo está organizado de tal forma que
nenhuma de suas ações ou ocorrências são desprovidas de propósito ou sem
benefício para todos os que nelas estão envolvidos. Tanto a carne quanto o
espírito são igualmente beneficiados nas circunstâncias que os une. A carne
serve ao espírito, na medida em que lhe oferece meios e circunstâncias
adequados ao seu desenvolvimento e evolução; e o espírito serve à carne,
na medida em que desenvolve as suas capacidades intrínsecas, muitas ainda
embrionárias, necessitando expandir-se para que se tornem ferramentas
úteis na formação de corpos cada vez mais adequados às experiências dos
espíritos em suas múltiplas e variadas encarnações. O mundo, ou universo
físico material-espiritual, é formado por um conjunto de energias, em
diversos níveis de vibração e condensação, que formam corpos ou formas
materiais que encerram em seu íntimo mais íntimo as Centelhas que as
gerou. Até mesmo as células que compõem tais corpos, ou formas, são
manifestações externas das Centelhas que as habitam interiormente; o
agrupamento dessas células forma corpos que, em seu conjunto, formam as
coletividades de indivíduos, às quais essas formas pertencem, nos diversos
reinos da natureza. Então, até mesmo as células de tais corpos estão sendo
desenvolvidas pelos espíritos que as habitam e, ao mesmo tempo servindo
de ferramenta para o desenvolvimento de tais espíritos. Aqui, nos referimos
às células não apenas em seu aspecto biológico material, mas também em

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O Evangelho Segundo Tomé – Um Guia para a Sabedoria
sua contraparte espiritual, na formação dos ‘corpos sutis’ que revestem o
‘ente espiritual’, nos diversos reinos pelos quais transita em sua jornada de
evolução. Então, neste ‘Ensinamento’ de Jesus, vemos que, tanto o corpo
quanto o espírito, servem-se mutuamente, neste maravilhoso Concerto
Cósmico Universal no qual tudo está inserido. E a Centelha, pela boca de
Jesus, se diz admirada pelo fato de o homem, em seu estágio atual no
‘sétimo dia da criação’, portador de tantas capacidades intrínsecas ao seu
espírito e corpo físico, viver tão alheio e descompromissado com a sua
utilização e desenvolvimento, embriagado pelas ilusões do mundo, causa
de sua ‘desconexão-íntima com a Luz do Vivo’, que lhe rende uma
existência de total pobreza, miséria, ignorância espiritual, dor e sofrimento.
30. Onde há três divididos, eles são três distintos; porém, quando se
tornarem Um, eles serão Um.
Aqui, Jesus se reporta à ‘separação de três entidades aparentemente
distintas na casa do ente espiritual em evolução no reino animal-hominal’,
o sétimo ‘dia’ da criação: são elas:
1. A Consciência Divinal da Centelha;
2. A mente do ente espiritual;
3. O ego do homem material.
O ‘causador’ desta aparente ‘divisão’ é o ego exterior, ou ‘eu inferior’, o
‘diábolos’ dos textos bíblicos, palavra grega que significa ‘o que causa
divisão’, cuja tradução para o português é ‘diabo’. Ele é o causador da
‘divisão’ entre mente e Centelha porque se acredita ‘separado’ do ‘Todo’ e
de ‘tudo’ na criação, um ser à parte que existe para servir a si mesmo,
desconectado dos interesses de tudo o mais, causando desarmonia e
desequilíbrio social e ambiental no planeta. A mente, assim dividida e
dominada pelo ego, ou ‘eu inferior’, vive em trevas, porque, de costas para
a Centelha n’A qual foi gerada, não desfruta de sua ‘Luz’, e projeta no
mundo uma ‘sombra’, um daimon, ou ‘demônio’, uma ‘persona’ que não
busca a conexão com a ‘Luz’ em seu interior, nem nela acredita. Assim,
esses ‘dois’ se tornam ‘um’ em sua ‘divisão’ com a Centelha. Quando a
mente, cansada dos revezes causados pelo uso indevido do livre-arbítrio em
causa própria, volta-se para o seu interior ficando de frente para a ‘Luz’,
que passa a iluminá-la frontalmente, ela projeta no mundo uma ‘persona’
que, nos textos bíblicos, é chamada ‘anjo’, e é também conhecida, por
outras escolas filosóficas, como ‘eu superior’, abdicando do uso do livre
56
Sebastião Anselmo
arbítrio em causa própria e passando a utilizá-lo em favor do bem geral de
toda a comunidade planetária e universal, buscando, com isso, o
estreitamento dos laços com sua Centelha, ação que a habilitará a penetrar
os pórticos de um novo reino da natureza, o ‘oitavo dia da criação’. Neste
estágio, mente e Centelha se tornam ‘Um’.
31. Não há profeta reconhecido como tal em sua cidade, nem médico
bom o bastante para os de sua casa.
Quando a mente se vira para o seu interior e passa a projetar no mundo
uma ‘persona’ iluminada – o ‘eu superior’, ‘anjo’, ‘profeta’, ‘médium’ ou
‘intermediário’ da Centelha –figuradamente um ‘médico’ capaz de curar a
‘enfermidade’ da ignorância reinante, passa a ser perseguida, discriminada
e, frequentemente, desqualificada por aqueles que ainda vivem na persona
do ‘eu inferior’ – o ‘daimon’ ou ‘diábolos’ – pois que suas visões de
mundo são completamente diferentes e contrários os seus interesses. Por
isso, Jesus ensinou, na Logia nº 111, dizendo: ‘Quem a si mesmo conhece,
torna-se indigno para o mundo; do mesmo modo, o mundo torna-se
indigno para ele’.
32. Uma cidade, firmemente construída sobre um monte, não pode
cair; nem permanecer oculta.
Aqui, Jesus afirma que a mente, depois de se virar frontalmente para a
Centelha e manifestar no mundo uma persona iluminada, não pode mais
voltar atrás, cair, vibratoriamente falando, em seu estado anterior de
desconexão íntima com a Centelha; pois a trajetória do ente espiritual nos
diversos níveis dos reinos da natureza material e espiritual, são sempre
crescentes, evolutivamente falando; e suas atitudes, a partir daí, manifestam
a ‘Luz do Vivo’, com a qual está unida, iluminando a tudo e todos ao seu
redor
33. O que ouvirdes com um ouvido, anunciai-o pelo outro do alto dos
telhados; porque não se acende uma lâmpada para colocá-la sob o
velador, e tampouco num lugar oculto. Pelo contrário, acende-se a
lâmpada para colocá-la sobre o velador, para iluminar a todos os que
entram e saem da casa.
Nesta Logia, Jesus conclama a mente iluminada pela Centelha a
transmitir o ‘Ensinamento’, colhido nesta ‘conexão-íntima’, ao ouvido da
‘persona iluminada’ que ela projeta no mundo, para que esta o anuncie ‘do
alto dos telhados’; ou seja, com fidelidade, pela ‘linha direta’ que se
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O Evangelho Segundo Tomé – Um Guia para a Sabedoria
estabeleceu entre a Consciência da Centelha, passando pela mente
iluminada do ente espiritual, e chegando ao ‘eu superior’ do ego
encarnado, com a sua ‘pureza original’. O objetivo da ‘conexão íntima’ da
mente com a Centelha é justamente para que a ‘persona’ que ela manifesta
no mundo irradie a sua ‘Luz’ ao seu redor, iluminando a todos através de
seus ‘pensamentos, sentimentos, emoções, palavras e ações’, não a
deixando oculta, em seu inconsciente, como permanecera até ali, nas ‘eras’
que antecederam a sua iluminação. A ‘lâmpada’ é a mente do ente
espiritual, conectada à ‘Luz’ da Centelha em seu interior; e ela é colocada
‘sobre’ o velador, o ‘ego’ que ela projeta no mundo, vestido de um corpo
físico ou espiritual. Esta lâmpada, ou mente, colocada ‘sobre’ o velador,
significa o comando que ela exerce sobre o ‘ego’ por ela projetado no
mundo material ou espiritual. Em épocas anteriores, quando a ‘lâmpada’
estava apagada, sem conexão íntima com a Centelha, permanecia oculta,
não vista, por estar ‘sob’ o velador, que dela não tinha ‘consciência’. Por
isso, a persona projetada no mundo pela mente desconectada com sua
Centelha, era trevosa, diabólica e demoníaca; mas agora, após a conexão
íntima, a persona se tornou ‘iluminada’, um ‘eu superior’, com ligação
direta e instantânea com o Alto, a ‘Consciência’ ou ‘Centelha’; porque a
‘mente’ e o ‘ego’ que ela projeta no mundo, deixaram de ser divididos, se
tornaram ‘Um’, e se conectaram intimamente à Centelha. O resultado disto
é que esta ‘mente iluminada’, ou ‘lâmpada acesa’, iluminará a todos os
egos que ela manifestar nos mundos físico e espiritual, através das
reencarnações pelas quais ainda terá que passar, até completar o seu ciclo
para a entrada no ‘oitavo dia’.
34. Quando um cego se põe a guiar outro cego, ambos sofrerão
acidente.
A mente desconectada com sua Centelha, de costas para a ‘Luz’ e de
frente para a ‘sombra’, é aqui comparada a um cego que guia ‘outro’ cego:
o ego que ela manifesta no mundo, que vive em trevas, pobreza, sofrimento
e miséria, sempre colhendo, pela lei de causa e efeito, as funestas
consequências de suas ações desconectadas com a Centelha.
35. Não se pode invadir a casa de um homem forte e tomá-la à força,
a fim de despojá-lo de seus bens; a menos que seja capaz de imobilizar
as suas mãos.
Aqui, Jesus compara o ego ‘cego’, que não vê nem compreende as ‘luzes’
do espírito, a um homem forte, totalmente preso, arraigado e adaptado às
58
Sebastião Anselmo
ilusões do mundo, e admite: ‘é impossível fazer enxergar aquele que não
quer ver’; justamente porque, nesta condição, ele faz legítimo uso de seu
livre arbítrio, muito embora sujeito às suas consequências; para fazê-lo
‘enxergar’ a Luz que traz dentro de si, é necessário, primeiro, domá-lo,
vencê-lo pelo cansaço, fazendo-o mudar de posição, reencarnação após
reencarnação, para que ele, cansado de sofrer, imobilize as suas mãos, no
controle consciente de seus ‘pensamentos, sentimentos, emoções, palavras
e ações’ e, assim, mergulhando no processo íntimo de ‘autoconhecimento’,
renda-se ao governo da Centelha no interior de si mesmo.
36. Não vos preocupeis excessivamente com o que havereis de vestir.
O processo de ‘autoconhecimento’, tão destacado por Jesus como
condição para vencer a ignorância de ser ‘filho da Luz do Vivo’,
desconectando-se dos ‘costumes, hábitos e condicionamentos’ do mundo,
leva aqueles que o realizam a confiarem plenamente na ‘Providência’ da
Centelha que os dirige internamente, assim como uma criança de leite
confia na providência de sua mãe para a sua subsistência, não se
preocupando com o que haverão de vestir ou comer para a sua
sobrevivência.
37. Perguntaram os discípulos: Quando te manifestarás a nós para
que o vejamos com os olhos? Jesus respondeu: Quando vos despirdes
de vossa timidez e, retirando todas as vossas vestes, as pisá-las com os
seus pés, como fazem os pequeninos. Então, vereis o Filho do Vivo e
podereis contemplá-Lo; e já não tereis medo’.
Aqui, os discípulos indagam do Pai, a ‘Luz do Vivo’, quando Ele se
manifestará diretamente a eles para que possam ‘ver’, com os próprios
olhos e entendimento, o ‘Todo em tudo’. Jesus já havia ensinado que a ‘Luz
do Vivo’, o ‘reino’ ou o ‘Pai’, está tanto dentro quanto fora de nós, em
‘tudo’ o que existe no Universo físico material-espiritual (conf. Logia nº 3).
Na Logia nº 77, ele ensina: ‘A Luz que a tudo recobre gerou o Todo; o
Todo d’Ela saiu, se estendeu, e para Ela retorna: Rachai a madeira, e Ela
lá está; erguei a pedra e lá A encontrareis’. No Universo – o ‘Todo’ –
todas as ‘formas’ estão ligadas e conectadas entre si, conduzidas por uma
‘interdependência’ que as dirige e encaminha em direção à ‘Luz do Vivo’,
auxiliando-se mutuamente para atingir o objetivo final; por isso, Jesus
afirma, na Logia nº 19, que ‘mesmo as pedras estão a vosso serviço’.
Assim, cada reino da natureza é ‘filho’ do anterior e ‘pai’ do posterior,
cabendo-lhe a responsabilidade e o cuidado no trato com um e outro. Na
59
O Evangelho Segundo Tomé – Um Guia para a Sabedoria
Logia nº 50, Jesus ensina: ‘Se vos perguntarem: De onde viestes?
Respondei: Viemos da Luz, do reino onde a Luz nasce dela mesma, e no
mundo nos manifestamos à Sua Imagem. E se vos perguntarem: Vós sois a
Luz? Respondei: Somos os Seus Filhos e refletimos no mundo o Brilho do
Pai Vivo. E se novamente perguntarem: Tendes, em vós, alguma das
características do Pai? Respondei: Movimento e repouso’. A ‘Centelha’
inicia o seu ‘movimento’ no ‘primeiro dia’ da criação e o conclui no
entardecer do ‘nono dia’; no ‘décimo dia’ Ela entra em repouso, retornando
ao ‘Brilho’ de onde saiu para a Sua trajetória no universo físico material-
espiritual conduzindo, por todos os reinos da natureza e dias da criação, o
ente espiritual n’Ela gerado. Este ‘décimo dia’, é o Seu ‘Shabat’, o ‘dia de
repouso’, também conhecido por ‘noite de Brahman’, e tem a mesma
duração de tempo de seu ‘movimento’, a soma dos ‘nove dias’ da criação
em que conduz o ‘ente espiritual’, desde a sua ‘formação’ até a sua
‘completude’, n’Ela se diluindo e Ela própria se tornando. Para dar uma
ideia de como é ‘longo’ o período de ‘Movimento da Luz’, ou ‘Dia de
Brahman’, o apóstolo Pedro escreveu: ‘Para o Senhor, um dia é como mil
anos, e mil anos, como um dia’ (conf. 2 Pedro, 3:8). Os discípulos desejam
saber ‘quando’ poderão ver esta ‘Luz que nasce d’Ela mesma’, ‘o Brilho
que gerou o Todo’, ‘cada Centelha deste Brilho que gerou cada uma das
formas que, em seu conjunto, formam o Todo’. A reunião de todas as
Centelhas compõe um só ‘Espírito’, o Brilho; assim como a reunião de
todas as formas são um só ‘corpo’, o Universo. As formas são como
‘células’ do corpo universal, assim como as Centelhas são ‘fragmentos do
Brilho da Luz do Vivo’; por isso escreveu o apóstolo Paulo: ‘Há um só
corpo e um só Espírito’ (conf. Ef. 4:4). Macrocosmicamente falando, ‘o
Brilho é o Espírito do corpo universal’; e, microcosmicamente falando, ‘a
Centelha é o Espírito da forma’. Temos, assim, que, no macrocosmo, o
‘Brilho’ é o ‘Primeiro’ e o ‘corpo universal’ o ‘Último’; assim como, no
microcosmo, a ‘Centelha’ é o ‘Primeiro’ e a ‘forma’ por Ela manifestada
no mundo o ‘Último’. Por isso, Jesus ensina, na Logia nº 18: ‘É necessário,
antes, encontrar o Primeiro; então, tereis encontrado o Último. Retirai os
véus que encobrem o Primeiro e vereis o Último, porque onde estiver o
Primeiro ali também estará o Último. Feliz daquele que conhecer o
Primeiro, pois assim também conhecerá o Último – e não experimentará a
morte’; assim procedendo, deixaremos de ser ‘divididos’, pois ‘percebendo
o Primeiro no Último tanto quanto o Último no Primeiro’, nos tornaremos
‘Um’ com o ‘Corpo Universal’ do ‘Todo’, e nos deixaremos ‘reger e

60
Sebastião Anselmo
conduzir pelo Espírito que o anima’. Na Logia nº 27, Jesus ensina: ‘Se não
jejuardes das ilusões do mundo, não encontrareis o reino; e, se não
procurardes em vós o lugar de repouso da Luz, não vereis o Pai’. Quando
o discípulo, candidato a entrar no ‘reino da Luz do Vivo’ em seu interior,
deixa de ser ‘dividido’, passando a ver como ‘um só’ o ‘corpo’ e o
‘espírito’ – a ‘forma’ e a ‘Luz’ que a manifesta no mundo – tanto no
‘microcosmo’ quanto no ‘macrocosmo’, ele entra em ‘União’ com a
‘Centelha’ n’A qual foi gerado, irmanando-se a todas as ‘formas’ dos
diferentes ‘reinos’ da natureza, que mais não são, assim como ele, do que
‘células’ do ‘corpo universal’, tornando-se ‘mansos e humildes’ à direção
do Espírito que o anima, assemelhando-se a um nascituro totalmente
confiante na ‘providência’ de sua mãe. Então, para sentirmos a ‘Luz do
Vivo’ se manifestando interiormente em nós – em nosso íntimo mais íntimo
– é necessário renunciar ao condicionamento de a todos e a tudo julgar, por
conceito ou pré-conceito próprio – porque esta também é uma ação
'dividida' – amando aos nossos irmãos, de todos os reinos da natureza,
assim como amamos a própria Luz que nos anima; e tendo com eles o
mesmo cuidado que temos com a pupila de nossos olhos (conf. Logia nº
25). Na Logia n° 22, Jesus ensina: ‘Quando deixardes de serdes divididos e
vos tornardes Um, vereis o interior como o exterior, e o exterior como o
interior; o do Alto como o de baixo, e o de baixo como o do Alto; o
masculino como o feminino, e o feminino como o masculino. Então,
entrareis no reino’; e, finalmente, veremos o Pai, o Brilho da Luz do Vivo.
Jesus apresenta uma resposta objetiva à indagação dos discípulos: A
timidez é motivada pela insegurança de revelar-se como realmente é; pelo
medo de causar constrangimento e desaprovação dos que pensam e agem
de modo diferente; pelo pudor de revelar a sua ‘intimidade’, no caso, a ‘Luz
da Centelha’ que o anima. Em todos esses casos revela conflito e ‘divisão’
interna, que o impede de ‘desvestir-se dos hábitos, costumes e
condicionamentos’ que o mantém refém das ilusões do mundo. Quando o
discípulo vence esse ‘pudor’ que o impede de ‘revelar a Luz que oculta em
seu íntimo mais íntimo’, ele se despe das roupagens de ilusão que o
mantinham na ‘sombra’ e, como os ‘pequeninos que adentraram o reino’,
ele pisa com os seus pés o falso conhecimento do mundo, juntamente com
os seus hábitos e condicionamentos; e então, desvestido dos véus de ilusão,
passa a ‘enxergar a Luz do Vivo’ que a tudo permeia e faz existir; e,
embriagado pelo ‘êxtase’ desta visão, muito embora considerado ‘indigno

61
O Evangelho Segundo Tomé – Um Guia para a Sabedoria
do mundo’ e perseguido pelos que ainda se deleitam nos vícios seculares,
sente-se ‘imune’ ao medo de contrariar a maioria.
38. Muitas vezes procurastes um mestre que vos dissesse estas
mesmas palavras que vos falo, e a nenhum encontrastes que fosse
capaz de dizê-las. Do mesmo modo, virão dias em que me procurareis
e não me encontrareis.
O homem ainda não conectado com a ‘Luz da Centelha’, no interior de si
mesmo, procura ‘fora’ o que está ‘dentro’ e, logicamente, não encontra. Ao
homem conectado com a Luz de sua Centelha é dado um ‘Conhecimento
Espiritual’, uma ‘Direção’, um ‘Ensinamento’, uma ‘Palavra, Verbo ou
Doutrina’ que brota de seu íntimo de forma ‘intuitiva’, que o ‘Guia’ pelos
caminhos do mundo, protegendo-o, para que não caia em suas ilusões e
tentações. Permanecendo ‘oculta’ no íntimo mais íntimo de todas as formas
n’Ela geradas, cegas, surdas e mudas ao ‘intercâmbio interno’ promovido
por Ela reino após reino, mas, principalmente, no interior do ‘homo
sapiens’, veio Jesus manifestando-A plenamente a estes, agora de ‘fora
para dentro’, para que estes pudessem ouvi-La e conhecê-La e, assim, vê-
La, em toda a sua ‘Completude’. Falando a discípulos, a maioria ainda
desconectados com a ‘Luz’ em seu interior, Jesus afirma que, após a sua
‘passagem’, muitos voltariam a procurar ‘fora’ o que está ‘dentro’, e os
adverte: ‘Então, se alguém vos disser: Eis aqui o Ungido de Luz! Ou: Ei-lo
ali! Não acrediteis’ (conf. Mt. 24:23). E, do mesmo modo, aqueles que O
procurarem ‘dentro’, não O encontrarão de imediato, pois antes é
necessário ‘retirar todas as vestes’ de ilusões do mundo para ser capaz de
vê-Lo, ouvi-Lo e compreendê-lo no ‘interior’ de si mesmos.
39. Escribas e fariseus tomaram para si as Chaves da Sabedoria e as
ocultaram. Nem eles entram, nem a outros deixam entrar. Eu, porém,
as tenho dado a vós: Sede prudentes como as serpentes, e mansos como
as pombas.
Jesus afirma que as ‘Chaves da Sabedoria’, que permitem a correta
interpretação dos textos antigos, tidos como ‘sagrados’, foram ocultadas
pelos religiosos, que as profanaram com suas traduções e interpretações
tendenciosas: é este o significado de ‘tomaram para si’; ele, porém, veio
revelar, como porta-voz de sua própria Centelha, a correta ‘Doutrina do
reino da Luz do Vivo’. Para resgatarmos o real significado de tais
‘Ensinamentos’, contidos nos textos antigos, tidos como ‘sagrados’, é
necessário lê-los e interpretá-los ‘além do véu da letra que mata o sentido
62
Sebastião Anselmo
espiritual do texto’, atentos como são as serpentes e com a ‘mansidão’ que
caracteriza as pombas; pois é a isto que se assemelham, também, os que se
renderam à ‘Regência da Luz’ no interior de si mesmos.
40. Uma parreira foi plantada fora daquilo que é do Pai; mas, como
em si mesma não possui Vida, será arrancada pela raiz e lançada fora.
O ‘ego exterior’, ou ‘eu inferior’ da mente não iluminada pela Centelha
no interior de si mesma é, aqui, comparada ao joio, uma parreira de erva
daninha, ‘situada’, ou ‘plantada’, fora, no ‘exterior’, ‘estranha ou
estrangeira’ àquilo que é do Pai; mas, por não ser intimamente movida ou
vivificada pela Centelha, tem de ser arrancada pela raiz, as ‘ilusões do
mundo’, e lançada fora, no ‘fogo das reencarnações sucessivas e
reparadoras’, para que se purifique e se volte para a ‘Luz do Vivo’ dentro
de si.
41. Quem, com suas mãos já conquistou, esse receberá mais; e o que
com suas mãos não conquistou, esse perderá até mesmo o que parece
ter.
Sem esforço não se alcança resultados. Por isso, quem já conquistou
alguma evolução no processo de ‘autoconhecimento’ e consequente
‘aproximação íntima’ com a sua Centelha, reúne méritos para um
‘estreitamento de laços’ ainda maior, pois colabora com o processo natural
de ‘iluminação íntima’ movido pela própria Centelha: ele caminha em
direção a Ela, e Ela caminha em direção a ele, reduzindo o espaço e o
tempo para que tal ‘Encontro’ se dê. Ao contrário, aquele que não realiza
nenhum esforço, desperdiça as oportunidades que a Centelha lhe oferece
para tal ‘aproximação’ e perde as oportunidades que lhe são apresentadas
tanto exteriormente, por situações cotidianas, quanto interiormente, através
do ‘contato íntimo’ via intuição. Na Logia nº 82, Jesus reafirmará este
‘Ensinamento’, dizendo: ‘Quem de mim se aproxima e pratica o que Eu
ensino, está perto da Chama; quem de Mim se distancia, está longe do
reino’.
42. Sede como peregrinos.
Nesta Logia, Jesus nos aconselha a nos comportarmos, diante dos
‘hábitos, costumes e condicionamentos’ que sedimentam as ‘ilusões’ do
mundo – fortalecendo o ‘ego exterior’ e aumentando ainda mais a ‘divisão
entre mente e Centelha’ – como estrangeiros, peregrinos em terra estranha,
que não absorvem a ‘cultura local’ do ambiente pelo qual estão apenas de
63
O Evangelho Segundo Tomé – Um Guia para a Sabedoria
passagem; porque, assim como o ‘ego exterior’ ou ‘eu inferior’ é
‘estranho’ ou ‘estrangeiro’ àquilo que é do Pai, também o que é do Pai é
‘estranho’ e ‘estrangeiro’ àquilo que é do mundo, ou seja, suas ilusões de
separatividade. Este ‘Ensinamento’ é reafirmado na Logia nº 111, que diz:
‘Quem a si mesmo conhece, torna-se indigno para o mundo; do mesmo
modo, o mundo torna-se indigno para ele’.
43. Perguntaram os discípulos: Dize-nos, quem Tu és, para nos
ensinar tais coisas? Jesus respondeu: Pelos Ensinamentos que vos dou
não sois capazes de me reconhecer? Ou sois como os judeus que amam
a árvore e detestam o fruto, ou amam o fruto, e detestam a árvore?
Parte dos discípulos de Jesus não conseguiram ocultar a sua surpresa e
estupefação diante de ‘Ensinamentos’ tão revolucionários, que propõem
profunda e radical mudança de comportamento diante da sociedade, no seio
familiar, e com a própria natureza, abrangendo animais, vegetais, minerais
e, enfim, toda a criação visível e invisível; e então, estarrecidos, pedem as
suas credenciais, a sua ‘autoridade’ para dá-los. O próprio modo de vida de
Jesus dava testemunho de sua íntima relação com o Pai, sua Centelha; por
isso, por ser ‘Um com o Pai’ (conf. Jo. 10:30), para comprovar a eficácia
de seus ‘Ensinamentos’ – quando colocados em prática – ele realizou
muitos ‘sinais’ que, até hoje, impressionam o mundo, tais como:
transformar água em vinho; andar sobre as águas; acalmar tempestades;
curar aleijados, cegos, surdos, mudos, coxos e leprosos; multiplicar pães e
peixes para aplacar a fome de famintos; e muito mais. Ele não realizava tais
‘sinais’ para se exibir, mas porque sabia que se os homens não vissem
‘sinais’, não creriam nele e, consequentemente, em seus ‘Ensinamentos’
(conf. Jo. 4:48); porém, ele mesmo enfatizou que qualquer um que ‘deixar
de ser dividido’ e ‘tornar-se Um com sua Centelha’, faria aqueles mesmos
‘sinais’ que ele realizou, e outros ‘ainda maiores’ (conf. Jo. 14:12). Com
efeito, ‘é pelos frutos que se conhece se a árvore é boa ou má’ (conf. Mt.
7:20). Em resposta, Jesus afirma que o próprio teor de seus ‘Ensinamentos’
seria suficiente para que eles soubessem que era o próprio Pai, a Centelha,
que os ministrava; que ‘nele se fizeram um o de dentro e o de fora, o do
Alto e o de baixo, a Luz e a forma n’Ela gerada’, conforme já fora
ensinado, e questiona se eles são ‘como os judeus que amam a árvore e
detestam o fruto, ou amam o fruto e detestam a árvore’. A palavra ‘judeu’,
em hebraico, significa ‘o que louva o Vivo’, mas aqui Jesus se refere aos
que ‘louvam e honram o Pai’ apenas com os lábios, num ‘louvor vazio’,

64
Sebastião Anselmo
numa ‘fé sem obras’; por isso, Jesus os chamava de ‘hipócritas’, ‘fingidos’,
e concluía, parafraseando o que já havia denunciado o profeta Isaías: ‘Este
povo me honra com os lábios, mas o seu coração permanece longe de mim;
em vão me adoram, ensinando doutrinas que são preceitos de homens’
(conf. Mt. 15:8-9). Os judeus, da época de Jesus, haviam se distanciado de
tal maneira da essência dos ‘Ensinamentos’ que deviam seguir, que
amavam mais a ‘religião’, a ‘instituição religiosa’, deturpada por doutrinas
estranhas, preceitos de homens, do que ao ‘Vivo’ que deviam honrar pela
fidelidade no ‘amor ao próximo’; por isso, ele afirma: ‘amam a árvore e
detestam o fruto’, isto é, dizem amar ao ‘Vivo’, mas detestam praticar a
‘Doutrina’, a Sua Palavra; ou ‘amam o fruto, e detestam a árvore’, pois
amam a ‘religião’ contaminada por preceitos humanos, mas detestam a
‘árvore’, a ‘Palavra’, a ‘Doutrina Original’ que deveriam seguir.
44. O que proferir blasfêmias contra o Pai, não será destituído da
Graça; do mesmo modo, aquele que proferir blasfêmias contra o Filho,
também não será destituído da Graça. Mas quem blasfemar contra o
Espírito Santo, este será deserdado da Graça e não entrará na Luz.
Aqui, Jesus se refere à Trindade que deu Origem, Governa e Vivifica o
Todo e cada uma de suas ‘faíscas de Luz’, as Centelhas. Eis a sua
formação:
1. O VIVO, PRINCÍPIO MASCULINO/FEMININO, INOCULADOR
DE LUZ E VIDA, GERADOR DE CENTELHAS: PAI/MÃE DO
BRILHO;
2. O BRILHO, PRINCÍPIO MASCULINO/FEMININO, INOCULADOR
DE LUZ E VIDA, FORMADO PELO CONJUNTO DE CENTELHAS,
FILHO UNIGÊNITO DO VIVO, QUE DEU ORIGEM, HABITA,
DIRIGE E GOVERNA O TODO UNIVERSAL N’ELE GERADO:
PAI/MÃE DO UNIVERSO.
3. A CENTELHA, PRINCÍPIO MASCULINO/FEMININO,
INOCULADOR DE LUZ E VIDA, QUE DEU ORIGEM, HABITA,
DIRIGE E GOVERNA A FORMA POR ELA MANIFESTADA, O
ESPÍRITO ILUMINADO (SANTO) PELA LUZ (BRILHO) DO VIVO:
PAI/MÃE DO ENTE ESPIRITUAL, OU MENTE, OU FORMA.
Microcosmicamente falando, esta Trindade é formada por:

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O Evangelho Segundo Tomé – Um Guia para a Sabedoria
1. A CENTELHA, PRINCÍPIO MASCULINO/FEMININO,
INOCULADOR DE LUZ E VIDA: O PAI/MAE DO ENTE ESPIRITUAL,
MENTE OU FORMA POR ELA MANIFESTADA NO UNIVERSO;
2. A MENTE, ENTE ESPIRITUAL OU FORMA, PRINCÍPIO
MASCULINO/FEMININO, O FILHO UNIGÊNITO DA CENTELHA:
PAI/MÃE DO EGO POR ELA MANIFESTADO;
3. O EGO MANIFESTADO NO MUNDO PELA MENTE, ENTE
ESPIRITUAL OU FORMA, EM CONEXÃO OU DESCONEXÃO
ÍNTIMA COM SUA CENTELHA, PRINCÍPIO
MASCULINO/FEMININO: O ESPÍRITO. TANTO PODE SER
TREVOSO OU ILUMINADO (SANTO).
Então temos que, enquanto não se dá a ‘conexão íntima’ da mente com
sua Centelha, o ego por ela projetado no mundo físico e espiritual é
trevoso, um ‘diábolos’ ou ‘daimon’ que nega a existência do Pai (o Vivo),
do Brilho (o Filho), e do Espírito Santo (a Centelha n’A qual surgiu a
mente espiritual que o projeta no mundo). Já vimos que o ego da mente
desconectada é refém das ilusões do mundo, que o mantém aprisionado em
existências de dor, pobreza e miséria, causadas pela ignorância de ser ‘filho
da Luz do Vivo’, e, nesta condição, é o ‘pai’ da mentira, das ilusões que ele
mesmo produz e alimenta, e que são ‘insulto’, ou ‘blasfêmia’ contra a
‘Verdade’ de sua real natureza. O fato de negar a existência do Pai (o
Vivo), ou do Filho (o Brilho), por estarem ainda muito distantes da
possibilidade de sua compreensão, não lhe destitui da ‘Graça’ de ter em si
a potencialidade de ‘contato íntimo’ com sua Centelha, que continua
dirigindo-o e governando-o, tanto interna quanto externamente, para que,
um dia, desperte para a ‘Luz’. Porém, quando ele, propositalmente, se
recusa a seguir o ‘impulso íntimo’ intuído pela sua Centelha, e não se torna
‘manso e humilde de coração’ diante das situações externas que Ela lhe
apresenta para a sua ‘conversão’, esta sua ‘resistência e teimosia’ se
caracterizam em ‘blasfêmia’, e o tornam sujeito a comportamento e práticas
‘ímpias’, que mais ainda o afastam da possibilidade de ‘conexão íntima',
deserdando-o da Graça de ser, finalmente, iluminado por sua Centelha,
tendo, em consequência de seu comportamento imprudente e irresponsável,
a sua ‘não entrada no reino da Luz’; situação essa que perdurará enquanto
seus ‘pensamentos, sentimentos, emoções, palavras e ações’ não vibrarem
na mesma frequência da Centelha que anima a mente que o projeta no
mundo. Somente quando tal quadro íntimo for revertido, ele será agraciado
66
Sebastião Anselmo
com a ‘iluminação íntima’ de sua Centelha, e então, já rendido ao seu
Governo e Direção, ele poderá dizer com o apóstolo Paulo: ‘Nascemos, nos
movemos e existimos no Vivo’ (conf. At. 17:28).
45. De espinheiros não se colhem uvas, nem de abrolhos se extraem
figos; pois não produzem frutos. O homem bom retira coisas boas de
seu tesouro; o homem mau, do que tem em seu coração, retira coisas
más falando em abundância.
Aqui, Jesus dá continuidade ao ‘Ensino’ ministrado na Logia anterior,
afirmando que, do ego desconectado com sua mente e Centelha, não se
pode esperar ‘frutos’ de reintegração íntima com a ‘Luz’ que o anima;
porém, o ego já conectado com os ideais de ‘religação íntima’ da mente
com a Centelha retira ‘coisas’ boas, de forma intuitiva, de seu tesouro
íntimo, figuradamente situado no ‘coração’, órgão frequentemente citado
como sede das emoções e sentimentos que movem intimamente o homo
sapiens. Sendo o ‘ego desconectado’ um diábolos, pai da visionária mentira
de ser ‘destacado’, ‘autônomo’, sem nenhuma correspondência interna ou
externa com outros seres e reinos que povoam a natureza e a própria rede
universal, ele se caracteriza pelo seu ‘muito falar’ a fim de autoconvencer-
se de suas falsas teorias, na tentativa de dar embasamento intelectual a suas
ações individualistas e contrárias à Sábia Direção que o Espírito do Vivo
imprime ao Corpo Universal, d’O qual este ego ou mente desconectada
com a Centelha se torna uma ‘célula cancerígena’ necessitada de
tratamento e cura para voltar a colaborar com o Equilíbrio Geral do Todo.
46. Dentre os nascidos de mulher – desde os tempos de Adão até
João, o Batista – não há um só que seja maior do que ele, porque é bom
o seu olho. Porém, qualquer dentre vós que se tornar criança
conhecerá o reino e será maior do que João.
Aqui, Jesus ensina que, desde o aparecimento de Adão, ou ‘Adama’, que
significa ‘Humanidade’, ou seja, desde o surgimento do ‘homo sapiens’,
dando início ao ‘sétimo dia da criação’, não há um só que seja maior, ou
mais evoluído que João, o Batista; e ainda cita o ‘motivo’ pelo qual lhe
atribui tal evolução: ‘porque é bom o seu olho’. Diz o ditado popular: ‘os
olhos são a janela da alma’, porque é por eles que vemos e observamos o
mundo das formas exteriores, e as imagens que vemos provocam sensações
e emoções que são acolhidas ou repelidas em nossos corações, segundo
nossas ‘afinidades vibratórias’ com o que entra pelos olhos e vai direto ao
coração, centro das emoções. É isto o que Jesus afirma na Logia nº 45: ‘O
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O Evangelho Segundo Tomé – Um Guia para a Sabedoria
homem bom retira coisas boas do bom tesouro de seu coração; o homem
mau, do seu mau tesouro, retira coisas más’. Também no ‘Livro de
Provérbios’, está escrito: ‘Tanto o ouvido que ouve, quanto o olho que vê,
fê-los o Senhor para servi-Lo’ (conf. Pv. 20:12). No ‘Evangelho Segundo
Mateus’, temos o seguinte dito de Jesus: ‘São os teus olhos a lâmpada de
teu corpo: Se os teus olhos forem bons, a lâmpada se acenderá e todo o teu
corpo será iluminado; se, porém, os teus olhos forem maus, a lâmpada não
se acenderá e todo o teu corpo permanecerá em trevas. Portanto, caso a
Luz que há em ti não se acenda e permaneças em trevas, quão grandes
serão essas trevas!’ (conf. Mt. 6:22-23). É importante observar que Jesus
não diz que não há outros em patamar evolutivo semelhante ao de João,
apenas diz que não há um sequer que seja ‘maior’ que ele, ou mais
evoluído, justamente porque João, assim como Tiago, o Justo, e o próprio
Tomé, autor deste Evangelho, dentre outros, de outras culturas e povos, se
encontravam no ‘limiar do oitavo dia’. Para concluir, Jesus afirma que,
todo aquele que se tornar ‘criança de peito’, totalmente sujeito à direção e
cuidados de seu pai/mãe, a Centelha, ‘conhecerá’, ou terá ‘íntima relação’
com o reino e adentrará o ‘oitavo dia da criação’, tornando-se, assim,
‘maior’ do que João.
47. Não se pode, ao mesmo tempo, montar em dois cavalos; nem
retesar dois arcos. Assim, também, não pode o servo servir a dois
senhores; pois, se a um honrar, a outro ofenderá. Não há ninguém que,
tendo bebido do vinho velho, prefira o vinho novo; do mesmo modo,
não se deve colocar vinho novo em odres velhos, para que não
arrebentem: vinho novo deve ser colocado em odres novos, para que
estes não sejam destruídos. Ninguém costura remendo velho em veste
nova, para que não se aumente o rasgo.
Nesta Logia, Jesus volta a reforçar o seu ‘Ensinamento’ de que é
impossível entrar no ‘reino da Luz do Vivo’ permanecendo intimamente
dividido com sua Centelha, porque, ‘Se divididos pudésseis entrar no lugar
de repouso [a Luz da Centelha], um estaria na morte [das trevas da
ignorância de si mesmo], e o outro na Vida [do reino da Luz do Vivo]’
(conf. Logia nº 61), pois ‘Os que estão na morte não experimentarão a
Vida [do reino da Luz do Vivo], nem os que estão na Vida [do reino da Luz
do Vivo] experimentarão a morte [da ignorância]’ (conf. Logia nº 11), isto
se dá porque ‘Tua esquerda desconhece a tua direita, ou: a treva não tem
conhecimento da Luz’ (conf. Logia nº 62); porém, ‘Feliz daquele que se faz

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Sebastião Anselmo
Um [com a Luz do reino do Vivo], deixando de ser dois’ (conf. Logia nº
19), porque ‘Éreis Um [com a Luz do reino do Vivo, no Princípio], e vos
tornastes dois; mas agora, sendo dois, que fareis [para voltardes a serdes
Um com a Luz do reino do Vivo]?’ (conf. Logia nº 11), e arremata: ‘É
verdadeiro o provérbio, que diz: Quando o discípulo se faz Um
[intimamente com sua Centelha], pela Luz é preenchido; mas, se
permanece dividido [intimamente com sua Centelha], a treva o preenche!’
(conf. Logia nº 61). No processo de ‘autoconhecimento’ para a descoberta
e vivência de sua ‘real natureza’, é muito importante saber distinguir ‘o
que é do mundo do que é da Luz do Vivo’, purificando seus ‘pensamentos,
sentimentos, emoções, palavras e ações’ dos hábitos e condicionamentos
que o mantiveram, por tanto tempo, na ilusão de ser ‘separado de sua
Centelha de Luz’. Quando se mistura as ‘ilusões exteriores’ com a
‘sabedoria interior da Centelha’, as duas permanecem contaminadas e
caímos numa outra ilusão: a de que é possível ‘servir a dois senhores’;
agindo desta forma, estaremos desagradando e tornando-nos inadaptados
tanto ao mundo das ilusões quanto à ‘Gnose da Luz do reino do Vivo’.
48. Se dois estiverem em Harmonia em uma casa e disserem a um
monte: Move-te daqui para ali, ele se moverá.
Aqui, Jesus afirma que se a ‘Centelha e a mente’ estiverem em ‘União’,
não divididos no íntimo do ‘ente espiritual’, e disserem ao ego de ‘seus
corpos materiais’ – o ‘monte’ formado do barro da terra, o ‘húmus’ do qual
derivam os termos ‘humanidade’ e ‘humildade’ – sai da frente, da ‘direção
de suas existências’, e vai para trás, para a ‘obediência da Luz do Vivo’, ele
sairá. Esta Logia é uma reafirmação da Logia nº 106, que diz: ‘Ouvi bem:
Quando deixardes de serdes dois [em desconexão-íntima com a Centelha]
e vos tornardes Um [com o reino da Luz do Vivo], vos tornareis, de fato,
Filhos do Homem [filhos de Adama, ou a condição evolutiva mais alta a
que se destina chegar a Humanidade no sétimo dia]; e então, se disserdes a
este monte: Move-te daqui para ali! – ele se moverá’.
49. Felizes de vós, os que foram convidados para o caminho do Um,
porque assim chegareis ao reino. Dele saístes e a ele retornareis.
Os que foram convidados, e aceitaram o ‘caminho do Um’, são aqueles
que empreenderam a chamada ‘reforma íntima’, afastando-se das ‘atrativas
ilusões do mundo’ e aproximando-se da ‘Chama do Vivo’ no interior de si
mesmos; é a chamada ‘porta estreita’ do caminho do autoconhecimento
que levará o discípulo à íntima convicção de que é, em essência, ‘filho da
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O Evangelho Segundo Tomé – Um Guia para a Sabedoria
Luz do Vivo’, afinando todos os seus ‘pensamentos, sentimentos, emoções,
palavras e ações’ a esta ‘fé’ que, se não tiver obras para dar testemunho de
sua real conversão, é morta (conf. Tg. 2:17). No ‘Evangelho Segundo
Mateus’, lemos o seguinte dito de Jesus: ‘Entrai pela porta estreita, porque
larga é a porta, e espaçoso o caminho que leva para a perdição; e muitos
são os que entram por ela. Contrariamente, estreita é a porta, e apertado o
caminho que conduz para a Vida, e poucos são os que a encontram’ (conf.
Mt. 7:13-14). Na Logia nº 75, Jesus ensina: ‘Muitos são os que se colocam
diante da porta [do ‘reino da Luz do Vivo’], mas apenas os dois [a mente
do ser espiritual e a Centelha n’A qual foi gerado] que se fizerem Um [em
íntima União] é que terão permissão para entrar’. O ‘caminho estreito’, ou
‘caminho para a Unificação do ser’, percorrido no ‘processo de
autoconhecimento’, é pavimentado de muitos ‘testes e provas’ com a
finalidade de aferirem nossa real ‘condição interior’ no propósito de
‘religação íntima com a Centelha’; por isso, Jesus afirma, na Logia nº 58:
‘Feliz daquele que foi submetido à prova e aprovado [para o reino da Luz
do Vivo]. O ‘método’ para entrarmos pela ‘porta estreita ou caminho para
a Unificação do ser’ é bem simples, de fácil entendimento, porém de difícil
realização; o Mestre no-lo dá na Logia nº 25, dizendo: ‘Ama teu irmão [de
todos os reinos da criação] como amas a tua própria alma [‘aquilo’ que te
anima, a Centelha]; e tenhais com ele o mesmo cuidado que tendes com a
pupila de teus olhos’, e, para conseguirmos realizá-lo, é necessário nos
tornarmos ‘dóceis ao Governo e Direção da Centelha em nosso interior’,
sendo ‘mansos, humildes e misericordiosos’, tanto em nossas relações com
a ‘Luz’, quanto com as ‘formas’ que Ela manifesta no mundo, assim como
é dito na Logia nº 54: ‘Felizes e bem-aventurados são os humildes de
coração, porque a eles está destinado o reino da Luz do Vivo’. Na Logia nº
70, lemos: ‘Quando dentro de vós encontrardes e possuirdes o que já lá
está, este [o reino da Luz do Vivo] vos salvará; porém, até que O
encontreis e O possuais, mortos estareis [na ignorância de serdes Seus
filhos]’. Para finalizar o ‘Ensinamento’ desta Logia, Jesus reafirma que
saímos do ‘reino da Luz do Vivo’ no primeiro dia da criação, e a Ele
retornaremos no ‘findar do último dia’.
50. Se vos perguntarem: De onde viestes? Respondei: Viemos da Luz,
do reino onde a Luz nasce dela mesma, e no mundo nos manifestamos
à Sua Imagem. E se vos perguntarem: Vós sois a Luz? Respondei:
Somos os Seus Filhos e refletimos no mundo o Brilho do Pai Vivo. E se

70
Sebastião Anselmo
novamente perguntarem: Tendes, em vós, alguma das qualidades do
Pai? Respondei: Movimento e repouso.
Aqui, Jesus responde às questões que intrigam os filósofos de todos os
tempos:
1. De onde viemos? Resposta: Viemos da ‘Luz do Vivo, da Luz Viva, do
reino da Luz que é Vida’.
2. De onde surgiu a ‘Luz que é Vida’? Resposta: Surgiu d’Ela mesma,
sem Princípio nem Fim.
3. Quem somos? Resposta: Somos a ‘forma’, a ‘imagem’, que a ‘Luz’
manifesta no mundo.
4. Para onde vamos? Resposta: D’Ela viemos e para Ela retornaremos
(conf. Logia nº 49).
Somos os ‘filhos’, a ‘forma exterior’, a ‘imagem que reflete a Luz que
nos manifesta no mundo’. No ‘Evangelho Segundo Mateus’, lemos: ‘Fazei
brilhar a vossa luz diante dos homens, para que vejam as vossas boas
obras e glorifiquem a vosso Pai que está na Luz do Alto’ (conf. Mt. 5:16).
Assim como a ‘Luz’ dá início ao seu ‘movimento’ no primeiro dia ou reino
da criação, e o conclui no eclipsar do nono dia, vindo após o ‘dia de
repouso da Luz’, no décimo dia, também chamado ‘noite de Brahman’,
também nós, as ‘formas por Ela manifestadas nesses nove dias de
movimento’, permanecemos em ‘repouso n’Ela diluídos durante todo o dia
décimo’, que possui a mesma duração dos nove dias anteriores somados.
51. Perguntaram os discípulos: Quando chegará o tempo em que as
lutas dos mortos cessarão para que, despertos, adentrem o reino? Jesus
respondeu: O tempo é este; porém, hesitais em reconhecê-lo.
Aqui, os discípulos perguntam a Jesus, porta voz da Centelha de Luz,
quando cessarão as lutas, as tribulações, os testes por que passam os
‘desconectados’, com a finalidade de torná-los despertos e conscientes de
sua real natureza, para que, finalmente, adentrem o ‘reino da Luz que nasce
d’Ela mesma’. A resposta de Jesus é sucintamente objetiva: O tempo é este,
no ‘findar do sétimo dia’; porém, o apego às ilusões nos torna cegos,
impedidos de reconhecê-lo.

71
O Evangelho Segundo Tomé – Um Guia para a Sabedoria
52. Os discípulos disseram: Vinte e quatro foram os profetas que
Ensinaram em Israel; e todos falaram de Ti. Jesus respondeu: Desviai
a vossa atenção do Vivo para lembrardes dos mortos?
Aqui, torna-se necessária, também, uma interpretação muito além do véu
da ‘letra que mata o sentido espiritual do texto’. A ‘história da vida de
Jesus, e seus Ensinamentos’, estão repletos de simbolismos mitológicos,
místicos, cabalísticos, gemátricos e esotéricos, como ‘reis magos’,
profundos conhecedores de ‘Astrologia Gnóstica’ que, vindos do ‘Oriente’,
lugar de surgimento da ‘Luz’, são ‘guiados por uma estrela’ que se move
no céu e ‘paira sobre o local exato do nascimento do novo rei’,
representante da Centelha, em substituição ao ‘rei anterior, um
estrangeiro’, representante do ego desconectado. É importante observar
que a palavra ‘Israel’, em hebraico, significa ‘o homem que luta com o
Vivo’, referindo-se claramente ao ‘homo sapiens’, dotado de ‘livre-
arbítrio’, cujo ‘surgimento’ no mundo dá início ao ‘sétimo dia da criação’.
Quanto aos ‘vinte e quatro Profetas’, citados pelos discípulos nesta Logia,
é uma referência aos ‘Porta-Vozes da Centelha’ que, ‘falando em nome
d’Ela’, trazem ao mundo ‘Doutrinas’ que auxiliam o homem a se
reconectar com sua Centelha e adentrar o ‘reino da Luz do Vivo’ em seu
interior, em diversas épocas, culturas, povos e regiões habitadas pelo ‘homo
sapiens’. Todos eles ‘falam da Centelha porque são os Seus manifestantes
no mundo’, e ‘encarnam’ durante o período em que o ‘Sistema Solar’, do
qual o planeta Terra faz parte, atravessa cada uma das ‘Doze Casas
Zodiacais’, em seu giro completo pelo centro da Galáxia, demorando-se
cerca de 2.000 anos para percorrer cada uma delas, perfazendo um total de
pouco mais de 24.000 anos em seu giro completo; período este conhecido
como ‘Ano Solar’ ou ‘Ano Cósmico Astrológico’, após o qual novo ‘Ano
Solar’ se inicia no planeta abrindo para o ‘ente espiritual’ que o habita
novos e mais abrangentes ‘níveis conscienciais’, em todos os reinos da
natureza. Estima-se que o homem começou a desenvolver os processos de
comunicação verbal, a chamada ‘linguagem’, há cerca de 50.000 anos,
tempo em que os ‘Profetas’ citados nesta Logia começaram a trazer os
‘Ensinamentos pertinentes ao ‘reino da Luz do Vivo’. Se dividirmos esses
50.000 anos pelos 2.000 anos aproximados de cada ‘Era Astrológica’,
teremos 25; ou seja, os 24 Profetas citados pelos discípulos, mais Jesus, o
vigésimo quinto, o ‘Profeta’ que lhes falava naquele momento. É
importante frisar que a ‘Mensagem Original’ transmitida pela Centelha
através desses ‘Profetas’ vai se deteriorando aos poucos com o passar dos
72
Sebastião Anselmo
séculos, e então, novos ‘Mensageiros’ são enviados ao mundo pela
Centelha a fim de ‘reavivar’ a ‘Mensagem Original’, e isto se dá mesmo
durante ‘Casas Astrais’ futuras, a fim de atender os ‘perfis psicológicos’
que vibram na ‘Faixa Original da Mensagem’. Por isso, as grandes
Religiões nascidas a partir da ‘Mensagem Original’ transmitida através
desses Profetas atravessam os milênios futuros até se transformarem em
‘Lendas Mitológicas’ na memória dos povos. Alguns desses ‘Profetas
manifestantes da Luz que é Vida e que surgiu d’Ela mesma’, e suas
respectivas ‘Eras Astrológicas’, são:
1. Hermes Trismegisto (manifestante de Thoth – Egito): Era de
Gêmeos
2. Krishna (manifestante de Vishnu – Índia): Era de Touro
3. Moisés (manifestante de YHWH): Era de Áries
4. Jesus (manifestante do Pai): Era de Peixes
5. Aquário – Espera-se a ‘Volta do Cristo’, um ‘Novo Ungido’, um
‘Profeta da Nova Era’.
Os ‘Profetas sempre falam aos mortos com o propósito de torná-los
despertos, iluminados ou vivos pela União Íntima com sua Centelha’, por
isso Jesus afirma no ‘Evangelho Segundo Marcos’: ‘Os sãos não precisam
de médico, e sim os doentes; não vim chamar justos, e sim pecadores’
(conf. Mc. 2:17). Os que não conseguem efetivar a sua ‘religação íntima
com a Luz do Vivo’, permanecem na morte da desconexão, envoltos e
possuídos pelas ilusões do ‘mundo das formas’, em existências cármicas de
pobreza, dor e miséria, aguardando a ‘vinda de um novo Cristo’, um
‘Ungido de Luz’, um ‘Profeta de uma Nova Era Astrológica’ que lhes fale
segundo a sua atual capacidade mental de entendimento e realização da
‘Mensagem’, atendendo à demanda de um novo ‘perfil psicológico’ mais
apurado, recém surgido. Os ‘Profetas do Altíssimo falam aos mortos para
que se convertam à Luz do Vivo no interior de si mesmos’; os que não se
convertem, permanecem ‘mortos’ à espera de um ‘novo Profeta em uma
Nova Era Astrológica’. Os próprios discípulos de Jesus, assim como todos
nós, estavam na condição de ‘Israel’, os que, através de seu livre arbítrio,
‘lutam com o Vivo, impondo sua própria vontade à Vontade do Vivo em
seu interior’. Jesus estava ali, diante deles, ‘Manifestando o Vivo’, e eles
desviavam a sua atenção para se lembrarem de ‘Israel’, os ‘mortos’ que
não deram ouvidos aos ‘vinte e quatro Profetas’ anteriores; daí essa
73
O Evangelho Segundo Tomé – Um Guia para a Sabedoria
resposta da ‘Centelha’ através da boca do Mestre, no intuito de trazê-los
para o ‘momento e Revelação presentes’, mais adequada ao seu atual nível
de compreensão consciencial, sem se deterem em distrações de épocas
passadas, em que não estavam suficientemente maduros para o ‘processo
de conversão íntima’.
53. Os discípulos perguntaram: Que nos dizeis da circuncisão? É útil
ou não? Jesus respondeu: A circuncisão do corpo, se fosse útil, já
nasceria o homem circuncidado; a verdadeira circuncisão é a que
purifica o espírito; esta sim, a todos é útil.
A palavra ‘circuncidar’ tem o significado de ‘cortar ao redor’. Trata-se
de uma cirurgia que remove o prepúcio, uma pele que cobre a glande do
pênis, e foi instituída por Moisés com a finalidade de preservar a saúde das
tribos que estavam sob o seu comando, prevenindo o acúmulo de resíduos
que poderiam causar doenças transmissíveis por contato sexual e mortes
entre o povo, num tempo e locais em que a higiene pessoal diária nem
sempre era possível. Tornou-se, com o tempo, um ‘ritual de iniciação à
Religião que se formou no entorno de seus Ensinos’, que perdura até hoje.
Até mesmo Jesus foi circuncidado, por ocasião de seu nascimento e
apresentação no Templo. Como todo ‘ritual’, com o tempo torna-se ‘vazio
de significado’; por isso, Jesus afirma, nesta Logia, que a verdadeira
circuncisão é aquela que ‘corta ao redor’ do espírito, retirando as ‘ilusões’
que o escravizam aos ‘hábitos, costumes e condicionamentos’ do mundo,
tornando-o ‘doente da ignorância’ de ser filho da Luz do Vivo.
54. Felizes e bem-aventurados são os humildes de coração, porque a
eles está destinado o reino da Luz do Vivo.
Humildes de coração, ou pobres de espírito, são todos aqueles que já se
libertaram do desejo de alcançar posições de poder, fama e riquezas do
mundo, no intuito de ‘enriquecer ao próprio ego’, tornando-se em
‘ferramentas conscientes’ para a realização da ‘Vontade do Vivo’, mesmo
quando colocados pela Centelha em posição de destaque na condução de
empreendimentos que visam a favorecer um certo grupo de pessoas e a
diminuir as suas angústias e sofrimentos no mundo; enfim, são todos
aqueles que já se desembaraçaram dos ‘véus das ilusões’, olhando para o
‘irmão’, de qualquer reino da natureza, como uma ‘forma exterior da Luz
que a manifesta no mundo’. É este o ‘pórtico de entrada’ para o reino da
Luz do Vivo, o ‘oitavo dia da criação’.

74
Sebastião Anselmo
55. Aquele que não amar menos a seu pai e sua mãe, não está pronto
para ser meu discípulo; e quem não amar menos a seus irmãos e a suas
irmãs, não é digno de ter-me como seu Mestre.
Em continuação ao ‘Ensino’ da Logia anterior, Jesus afirma que aquele
que faz distinções entre a sua família consanguínea, pai, mãe, irmãos,
irmãs, ‘amando-os mais do que ama à Família Cósmica Universal’, não os
vendo como ‘iguais’ e, portanto, ‘amando-os com a mesma intensidade e
deles cuidando igualmente, como cuida da pupila de seus olhos’, não está
pronto para o discipulado, sendo, portanto, indigno de tê-lo como seu
Mestre; pois este não se tornou, ainda, suficientemente ‘pobre de espírito’
ou ‘humilde de coração’ para segui-lo.
56. Aquele que é capaz de ver o mundo, o vê apenas um cadáver; mas
este, que é capaz de ver o mundo apenas como um cadáver, já
despertou.
Aquele que olha para o mundo e o ‘vê’ envolto nos véus da ilusão, ‘com
seus hábitos, costumes e condicionamentos que alimentam a ignorância de
ser filho da Luz do Vivo’, e o ‘percebe’ como um cadáver, desprovido de
Luz por preferir habitar as sombras da negação, vivendo em trevas, dor e
miséria, é porque já ‘despertou’, já se encontra ‘iluminado’ internamente
por sua Centelha.
57. O reino do Vivo assemelha-se ao agricultor que lançou a boa
semente em seu campo. À noite, porém, veio o inimigo e lançou má
semente no meio da boa. O dono do sítio, porém, não permitiu que se
arrancasse a má semente para que não sucedesse de, junto com ela, se
arrancasse também a boa. Na época da ceifa, os frutos as más
revelarão; e elas serão arrancadas e lançadas ao fogo.
Aqui, o Mestre ensina que ‘o reino do Vivo, que está em toda parte,
dentro de cada coisa que existe no Universo e, paradoxalmente, tendo o
Universo dentro d’Ele próprio’, se assemelha a um agricultor que lançou
em seu ‘campo’, o Universo, a boa semente, ou seja, a Centelha, que faz
‘brotar’ neste campo cada uma das formas nele existentes. Com o
surgimento do ‘ego exterior’ nas formas manifestadas pela Centelha,
através do ‘livre-arbítrio’ adquirido no ‘sétimo dia ou reino’ da criação,
ocorre uma ‘desconexão-íntima’ entre a ‘forma manifestada’ e a ‘Luz que a
manifesta’, um momento de ‘treva ou ausência de Luz’, figuradamente
descrito como ‘noite’ em que o ‘ego desconectado’, o ‘inimigo’, lança a

75
O Evangelho Segundo Tomé – Um Guia para a Sabedoria
‘má semente’ de seus ‘pensamentos, sentimentos, emoções, palavras e
ações’ no ‘campo’ do mundo, visando a favorecer os seus interesses
pessoais e egoísticos, na ilusão de que é ‘autônomo, separado de todo o
resto’. Este é um momento em que o ‘ego exterior’ enubla a ‘Luz Interior’
no ‘ente espiritual’ em jornada cósmico-evolutiva pelo Universo. O
‘Espírito do Vivo’, porém, cujo ‘campo’, ou ‘corpo físico’, é o Universo, dá
‘tempo ao tempo’, permitindo que o ‘ego desconectado’, aqui simbolizado
como uma ‘má semente’, um ‘joio’, cresça, se desenvolva e amadureça,
fazendo com que ‘brilhe a Luz’ que estava ali ‘oculta’, ‘enublada’, em seu
interior. É este o motivo de não ser possível arrancar a ‘má semente’ sem
que, com isso, se arranque também a ‘boa’, pois que ambas, em essência,
são uma só, apenas em ‘momentos vibratórios’ diferentes. Somente na
‘época da ceifa’, o momento de ‘amadurecimento dos frutos’, será possível
avaliar, pela ‘colheita das consequências de suas ações’, se as ‘formas que
brotaram neste campo’ são boas ou ruins, iluminadas ou trevosas. Se forem
boas, serão recolhidas no ‘celeiro da Luz do Vivo’, se forem ruins serão
lançadas no ‘fogo purificador das reencarnações de sofrimento’, a fim de
‘amansar o seu espírito’, tornando-o humilde e pobre de coração.
58. Feliz daquele que foi submetido à prova e encontrou o Vivo.
Todos os acontecimentos, supostamente considerados bons ou maus, com
os quais nos deparamos a cada segundo de nossas existências, têm a
finalidade de nos ‘colocar à prova’, de ‘auferir a qualidade de nossas
virtudes’, das ‘vibrações íntimas que manifestamos no mundo’, através de
nossos ‘pensamentos, sentimentos, emoções, palavras, e ações’; são eles
uma ‘checagem dos frutos que frutificamos’, se são bons ou maus, trigo ou
joio, se atestam ou não que estamos prontos internamente para ‘adentrar o
reino da Luz do Vivo’.
59. Olhai para o Vivo enquanto sois iluminados pela Luz; para que
não morrais e, envolvidos por trevas, já não possais vê-Lo.
Jesus finaliza esta série de ‘Ensinamentos’ incentivando os discípulos a
aproveitarem suficientemente aqueles momentos em que estavam ‘diante
da Luz do Vivo’, que se manifestava diretamente a eles através de seu
‘Profeta’, para se libertarem definitivamente dos ‘véus da ilusão’ que ainda
os mantinham presos na ‘ignorância do mundo das formas desconectadas
com a Luz que as manifesta no corpo do Vivo’, para que, caso não
aproveitassem a oportunidade, voltassem ao estado de morte em que

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Sebastião Anselmo
viveram até ali e, envolvidos por trevas, se tornassem incapazes de
identificar a ‘Sua Presença’, tanto no mundo quanto ‘dentro de si mesmos’.
60. Entrando na Judéia, avistaram um homem carregando um
cordeiro. Então, Jesus perguntou: Por que o homem carrega o
cordeiro? Os discípulos responderam: Para matá-lo e comê-lo! Disse
Jesus: Com efeito, não poderá comê-lo enquanto estiver vivo; somente
depois de morto e feito cadáver! Responderam: Sim, enquanto estiver
vivo, não poderá comê-lo! Disse Jesus: Pois bem! Por isso vos digo:
Procurai o lugar de repouso para que também vós não vos torneis
cadáveres e sejais devorados pelo homem!
Através de um acontecimento relativamente corriqueiro para a época,
Jesus transmite um significativo e profundo ‘Ensinamento’ que
complementa o que já havia dito, nas Logias anteriores, acerca do
‘iluminado que vê o mundo como um cadáver, morto por ausência de Luz’.
Aqui, ele se refere ao ‘ente espiritual’ em sua jornada cósmico-evolutiva
pelo ‘sétimo dia da criação’ no momento em que entra na ‘Judéia’,
território dos que ‘louvam o Vivo’ procurando desfazer-se dos ‘véus das
ilusões’ do mundo, e ‘veem’ um homem comum carregando um ‘cordeiro’.
O homem representa o mundo ‘desconectado da Luz do Vivo’; o ‘cordeiro’
representa o ‘espírito’ ou ‘ente espiritual’ que já adentrou a faixa vibratória
de ‘Judéia’, esforçando-se no processo de religação-íntima com sua
Centelha, tornando-se ‘manso’, ‘dócil à Sua Direção’. Isto se dá porque o
animal que representa a ‘Era Astrológica de Áries’, cujo Profeta foi
Moisés, que antecede a ‘Era de Peixes’, que tem Jesus como ‘Profeta’, é o
carneiro; e a ‘humanidade’ que ele vem salvar da ignorância causada pelas
‘ilusões do mundo’ é simbolizada pela ‘ovelha’. O ‘cordeiro’ é o ‘último
rebento’, o filho mais novo da ovelha [a humanidade] que foi fecundada
pela ‘Era Anterior’, o carneiro, e vem à ‘Luz’ na ‘Era Astrológica’
nascente. Jesus, como Profeta da nova ‘Era de Peixes’, que despontava
naquele momento histórico, é o ‘Modelo do homem convertido e religado
interiormente com sua Centelha, com a qual se fizera Um’; por isso, no
‘Evangelho Segundo João’ lemos que João Batista, o Precursor, o que faz a
‘transição da Era de Áries para a Era de Peixes’, aponta Jesus como ‘o
cordeiro do Vivo, o que tira o pecado do mundo’ (conf. Jo. 1:29). É neste
sentido que Jesus, aproveitando-se de uma cena comum para aquela época,
provoca-os para uma interpretação mais profunda do que ‘viam’, e
pergunta-lhes: ‘Qual a intenção do mundo, com suas ilusões, em relação

77
O Evangelho Segundo Tomé – Um Guia para a Sabedoria
ao homem desta Era, um cordeiro?’ Os discípulos responderam
prontamente: ‘O mundo pretende matá-lo e devorá-lo’. E assim é! Jesus,
porém, desenvolvendo mais o assunto, esclareceu que ‘se o cordeiro estiver
vivo, isto é, unido intimamente com sua Centelha, o mundo não poderá
devorá-lo’. O mundo só poderá devorar o cordeiro se conseguir atraí-lo
para as suas ‘ilusões’ e enredá-lo nas trevas da ignorância de ser ‘filho da
Luz do Vivo’; se assim for ele estará morto e feito cadáver, e será devorado
pelo mundo. E os discípulos, demonstrando que haviam compreendido o
‘significado oculto daquela lição’, concordaram. Então, Jesus arrematou,
advertindo-os a procurarem com presteza o ‘lugar de repouso da Centelha
em seu interior’, para que também eles, semelhantemente ao que
aconteceria com o cordeiro que estava sendo ‘carregado pelo homem’, não
fossem ‘mortos e devorados pelo mundo’.
61. Se tornados dois pudésseis entrar no lugar de repouso, um estaria
na morte e o outro no Vivo. Clamou Salomé: Revela-Te, saído do Um!
Tu, que És o lugar de repouso e infundes a Vida! Disse Jesus: Sou
gerado n’Aquele que não é dividido e possui o Todo-em-Si, herdeiro do
reino. Respondeu Salomé: E eu, tua discípula! Disse Jesus: É
verdadeiro o provérbio, que diz: Quando o discípulo se faz Um, pela
Luz é preenchido; mas, se permanece dois a treva o preenche!
Continuando o ‘Ensinamento’ da Logia anterior, em que compara o ‘ente
espiritual’ filho da ‘Era Astrológica’ anterior, a de Áries ou ‘Carneiro’, a
um ‘cordeiro’, Jesus afirma que, caso fosse possível entrar em ‘União com
a Centelha’ dividido, o ‘ego exterior’ permaneceria na ‘morte da
ignorância’, e a ‘mente na Luz do Vivo’; daí a impossibilidade de tal feito.
Salomé, cujo nome significa ‘aquela que conquistou a paz interior’, aqui
representando a ‘mente do ente espiritual’, um ‘cordeiro da Era de Peixes’,
roga que a Centelha se revele internamente a ela para que seu ego exterior
penetre e se estabeleça definitivamente no ‘lugar de repouso que lhe
infunde a Vida’ e Jesus, porta-voz da Centelha, responde que se encontra
no ‘Centro Indivisível’ dela mesma e de tudo o que existe, pois que é
‘Gerada no Um que gerou o Todo Universal’ sendo, portanto, ‘Herdeira
do reino que a manifestou como forma exterior de Si Mesmo’. E então,
Salomé, a ‘mente pacificada’ do ente espiritual gerado e manifestado no
mundo como ‘forma exterior da Centelha’, faz uma profissão de fé
declarando, humildemente emocionada: ‘E eu, tua discípula! ’. Finalizando
esta Logia, Jesus afirma que quando o ‘discípulo da Centelha’, a ‘mente do

78
Sebastião Anselmo
ente espiritual’, se torna ‘pacificada com a Luz que a manifesta no mundo’,
a ponto dos ‘dois tornarem-se um só, fundidos um ao outro’ nos mesmos
ideais de ‘pensar, sentir e agir’, torna-se iluminada; porém, se tal
‘cordeiro’ não realiza a fusão com sua Centelha, permanece dividido e,
consequentemente, preenchido por ‘trevas’ ou ‘ausência de contato íntimo’
com a Luz que a manifesta.
62. Revelo a Sabedoria aos que têm ouvidos de ouvir. Tua esquerda
desconhece a tua direita [ou: a treva não tem conhecimento da Luz].
Nesta Logia, dando sequência aos profundos ‘Ensinamentos’ que vinha
ministrando aos seus discípulos mais preparados para compreendê-los, ‘os
que têm ouvidos de ouvir’, Jesus reforça que é portador de uma ‘Gnose’,
uma ‘Sabedoria Especial’, um ‘Conhecimento Único’ que estava
autorizado a dispensar aos ‘cordeiros’ da ‘Nascente Era de Peixes’. Estes
‘Ensinamentos Secretos’, transmitidos diretamente pela Centelha, foram
proferidos por Jesus, ‘o Vivo’, e anotados por Judas Tomé, ‘o Igual’, e
juntados de forma harmônica neste ‘Evangelho’ (conf. Introdução de
Tomé). Logo na Logia nº 1, Jesus adverte: ‘Quem souber interpretar o
Sentido Oculto desses Ensinamentos, não provará a morte’. Seus
‘Ensinamentos’ são centrados numa série de orientações para a realização
de uma ‘reforma interior’, um ‘autoconhecimento que dissipe as trevas das
ilusões que ocultam a real natureza de sermos filhos da Luz do Vivo’,
sendo necessário, para isso, vencer os condicionamentos que nos fazem
agir e reagir como ‘bestas’, de forma instintiva, diante das diversas
situações com que somos defrontados a cada segundo; porque, como é dito
na Logia nº 7: ‘A besta, quando dominada pelo homem, é domesticada;
mas o homem, quando dominado pela besta, besta se torna’. A ‘Nova Era
Astrológica’, que se iniciava naquele momento histórico, abria horizontes
de possibilidades reais de crescimento e maturação das mentes que já
haviam absorvido importantes ‘Ensinamentos’ ministrados em ‘Eras
anteriores’ e que tornavam o homem, neste Novo Ciclo evolutivo da
criação, capaz de, finalmente, alcançar um ‘estado íntimo de iluminação
com sua Centelha’; por isso, Jesus afirma, na Logia nº 17: ‘Eu vos
ensinarei o que não foi visto por nenhum olho, nem ouvido por nenhum
ouvido; o que nenhuma mão tocou e o que nenhum coração sentiu’. Porém,
para alcançar tal ‘estado íntimo de iluminação com sua Centelha’, e
‘nadar’ seguindo o ritmo natural que a ‘correnteza da Vida’ nos impõe, é
necessário compreender e praticar tais ‘Ensinamentos’; e isto ele deixa bem

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O Evangelho Segundo Tomé – Um Guia para a Sabedoria
claro na Logia nº 19: ‘Se vos tornardes meus discípulos, e colocardes em
prática os Meus Ensinamentos, vereis que mesmo as pedras estão a vosso
serviço’.
Ao compreender e colocar em prática tais ‘Ensinamentos’ trazidos ao
mundo por Jesus, porta-voz da Centelha, o homem desenvolve a sua mente
tornando-a, figuradamente, uma ‘cidade, construída no topo de seu corpo
físico, iluminada pela Luz Viva de sua Centelha’; tal cidade/mente não
pode cair ao estado de morte/desconexão em que se encontrava
anteriormente porque é visível o seu crescimento, não podendo mais
permanecer ‘oculta ou apagada’, porque a ‘Lâmpada Mental’ foi acesa,
iluminando todas as suas ações (conf. Logias nº 32 e 33). Na Logia nº 77,
Jesus afirma: ‘Eis que eu vos trago a Luz que a Tudo recobre e que gerou o
Todo; o Todo d’Ela saiu, se estendeu, e para Ela retorna: Rachai a
madeira, e Ela lá está; erguei a pedra e lá A encontrareis’. Esta ‘Luz’, d’A
qual surgiu o Todo que para Ela retorna em infindáveis ‘Ciclos de
Movimento e Repouso’, a tudo e todos convida para uma ‘União Íntima’,
no devido tempo de maturação das formas por Ela manifestadas no mundo,
através de uma ‘vivência ética’ de tudo aquilo que lhe é transmitido através
de ‘Ensinamentos Íntimos’, instantaneamente brotados em suas mentes
através do ‘Canal Consciencial’ com a Centelha. Assim, Jesus afirma na
Logia nº 82: ‘Quem de mim se aproxima e pratica o que Eu ensino, está
perto da Chama; quem de meus Ensinamentos se distancia permanece
distante do reino’; e se torna tão essencial compreender e praticar tais
‘Ensinos’, que ele garante não só a ‘União’ com a Centelha, mas a própria
‘Comunhão’, dizendo, na Logia nº 108: ‘Aquele que da minha boca beber,
se tornará Eu; e Eu me tornarei ele’. Vencer a ignorância de nossa real
natureza de ‘filhos da Luz do Vivo’, iniciando um processo de ‘iluminação
mental’, através do ‘autoconhecimento’, é de fundamental importância,
porque, permanecendo no ‘ego exterior’, enceguecido pelas trevas das
ilusões do mundo, na ‘morte da desconexão-íntima com a Centelha’, será a
perpetuação do estado de dor, sofrimento e miséria em que nos
encontramos. O ‘ego exterior’ permanece na ‘sombra’, a Oeste ou à
Esquerda do ‘Lugar onde nasce a Luz’, o Oriente da mente voltada para o
Norte do Caminho Reto, da Sã Doutrina trazida ao mundo no alvorecer da
‘Nova Era de Peixes’; por isso, Jesus completa esta Logia, dizendo: ‘Tua
esquerda desconhece a tua direita, ou: a treva ignora o Lugar de
surgimento da Luz’.

80
Sebastião Anselmo
63. Havia um homem, muito rico, que disse: Quero gozar os meus
dias; investirei todo o meu tesouro num campo onde vou semear,
colher, e abarrotar os meus celeiros com grãos para que nada me falte,
e eu não precise mais me preocupar. Era esta a sua intenção. Porém,
naquela noite, veio a morte e o possuiu: Ouça quem tem ouvidos de
ouvir.
O ‘homem muito rico’, abordado por Jesus nesta Logia, é uma clara
referência às possibilidades conscienciais do ‘ente espiritual’ em sua
trajetória cósmico-evolutiva pelo ‘sétimo dia da criação’, já transitando
pela ‘Era Astrológica de Peixes’, em realizar o processo de
‘autoconhecimento’ a fim de estreitar os ‘laços vibratórios’ com sua
Centelha no interior de si mesmo e que, ao invés disso, resolveu investir
todo este ‘tesouro de riqueza inigualável’ semeando no ‘campo de suas
existências’ ações desconectadas com a ‘harmonia do Todo’, visando à
própria satisfação, num ‘esforço ilusório’ e, portanto, improfícuo e vão, de
garantir a própria segurança e felicidade individual, esquecido e
descompromissado com o bem estar dos outros seres, seus irmãos, a quem
lhe compete tratar de maneira igual, ‘amando-o como ama a sua própria
alma e tendo com ele o mesmo cuidado que tem com a pupila de seus
olhos’ (conf. Logia nº 25). Jesus esclarece que ‘era esta a sua intenção
egoísta’, porém, agindo desta maneira, permaneceu ‘dividido’ e, envolto
nas ‘trevas da ignorância’, veio a ‘morte da desconexão íntima’ e o levou
para novas experiências de ‘dor, pobreza e miséria’ a fim de amadurecer e,
convertendo-se, poder adentrar o ‘reino da Luz do Vivo’ no interior de si
mesmo. E finaliza, dizendo: ‘Quem tem ouvidos, ouça e compreenda!’
64. Certo homem promoveu um banquete e, quando tudo já estava
preparado, enviou seu servo a fim de convocar os convidados:
chegando ao primeiro, disse-lhe: Meu senhor te aguarda para o
banquete, e este respondeu: Alguns negociantes me devem dinheiro e
estou aguardando que venham ainda hoje; peço que me dispenses. O
servo se dirigiu a outro convidado, e disse-lhe: Meu senhor te aguarda,
e ele respondeu: Comprei uma casa, e estou saindo para assinar os
papéis; peço que me dispenses. Foi o servo, então, a outro, e disse: Meu
senhor te convida, e ele respondeu: Um amigo vai se casar e vou
preparar o jantar; peço que me dispenses. O servo dirigiu-se a outro, e
disse-lhe: A mesa está posta, e ele respondeu: Comprei uma vila e
estou saindo para receber os aluguéis; peço que me dispenses. O servo

81
O Evangelho Segundo Tomé – Um Guia para a Sabedoria
foi ter com o seu senhor e disse-lhe: Os que convidaste para a ceia
mandam pedir desculpas. O senhor, então, ordenou-lhe: Saí pelas ruas
e trazei todos os que encontrares para a ceia. Pelos mesmos motivos, os
que estão envolvidos com os negócios do mundo não penetrarão no
reino do Vivo.
Nesta Logia, Jesus aborda o esforço da Centelha em atrair o ‘ente
espiritual’ no sétimo dia da criação, no estágio ‘homo sapiens’,
descrevendo os ‘arquétipos mentais e psicológicos que predominaram no
inconsciente coletivo de cada uma das quatro Eras Zodiacais que
precederam sua vinda ao mundo’. São elas: Câncer; Gêmeos; Touro e
Áries. E, assim, vai construindo uma narrativa em forma de ‘parábola’: O
‘Servo’ que convoca os ‘convidados’ é o ‘Profeta’ enviado ao mundo em
cada ‘Era Astrológica’, como veremos a seguir, começando pela ‘Era de
Câncer’ e indo até a ‘Era de Áries’. O motivo de não ter mencionado as
‘vinte Eras precedentes’ é porque durante a ‘Era de Leão’, que antecedeu a
de ‘Câncer’, ocorreu o ocaso da ‘civilização anterior’, que alcançou grande
desenvolvimento e que atingiu seu apogeu com a ‘Raça Atlante’, mas que
se deixou levar pelos mais baixos vícios e paixões e submergiu nas águas
do ‘Dilúvio’, marcando o surgimento de uma ‘Nova Civilização’ a partir
dessas próximas ‘Eras’ enumeradas aqui por Jesus:
1. Era de Câncer – O ‘Profeta’ desta Era, porta voz da Centelha, dirige-
se ao ‘ente espiritual’ no estágio evolutivo de ‘homo sapiens’, dizendo:
‘Meu Senhor te aguarda para o banquete’; porém, esta é a Era em que o
homem, recém saído das cavernas no atual ‘Ciclo Civilizatório’, abandona
a vida nômade e começa a desenvolver a agricultura e o comércio de
gêneros alimentícios a fim de garantir o seu sustento de uma maneira mais
estável. Por estar mais preocupado com os ‘negócios’ do que com a própria
evolução espiritual, ele se escusa e pede para que seja dispensado de
comparecer ao ‘banquete de Luz espiritual’.
2. Era de Gêmeos – Este período é marcado por grande desenvolvimento
do intelecto e da comunicação. O homem desenvolve a escrita e passa a
registrar em livros o seu conhecimento, a construir escolas, casas e a se
estabelecer em cidades ampliando sua capacidade de negociar e construir
patrimônio; daí a escusa para não aceitar o convite trazido pelo ‘Profeta’:
‘Estou comprando uma casa’.
3. Era de Touro – Era associada a grande desenvolvimento da cultura
pastoril, da agricultura, de construções de palácios e pirâmides. O homem
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Sebastião Anselmo
começa a dividir-se por fronteiras para delimitar o seu território, dando
origem a uma sociedade mais centrada no conceito de ‘família’ visando um
grande número de filhos a fim de aumentar a população de sua tribo ou clã
num sistema poligâmico; daí a escusa por não aceitar o convite trazido pelo
‘Profeta’: ‘Um amigo vai se casar e serei o mordomo responsável pela
festa’.
4. Era de Áries – Período que tem como característica o
desenvolvimento da metalurgia, desbravamento de novas terras para
ampliação de seu território devido ao avanço e aperfeiçoamento de armas e
estratégia militar; daí a escusa por não aceitar o convite para o ‘banquete de
Luz espiritual’: ‘Conquistei uma nova porção de terra e estou interessado
no seu rendimento’.
5. Era de Peixes – No final da ‘Era anterior’ o ‘Profeta’ se dirige ao seu
Senhor, a Centelha, e lhe comunica os ‘motivos’ da escusa do ‘ente
espiritual’ em cada um desses períodos. O Senhor, então, orienta o seu
‘Mensageiro’ quanto à maneira que deve atuar: Ir ao encontro dos
necessitados, dos sofredores, dos que vivem nas ruas ao desamparo, dos
simples e dos humildes, porque estes, certamente, por viverem em pobreza
de bens materiais, não estarão enceguecidos pelos negócios do mundo e
aceitarão o convite para o ‘banquete de Luz espiritual’ que, de ora em
diante, não mais estará aberto para os envolvidos com os ‘negócios’ do
mundo. E assim fez Jesus.
65. Certo homem possuía uma vinha e arrendou-a a uns vinhateiros
para que a cultivassem a fim de receber deles algum rendimento. Na
época certa, enviou um mensageiro para receber o que lhe era devido;
eles, porém, prenderam o mensageiro e o espancaram, deixando-o à
beira da morte. De volta ao seu senhor, o mensageiro relatou-lhe o
ocorrido; disse o senhor: Talvez não o tenham reconhecido, e enviou
outro mensageiro; mas a este também os vinhateiros fizeram igual.
Então, o senhor da vinha enviou o seu filho, dizendo: A meu filho
respeitarão; porém, sabendo os vinhateiros que aquele era o herdeiro,
prenderam-no e o sacrificaram. Ouçam os que têm ouvidos de ouvir.
Depois de se referir às quatro ‘Eras Zodiacais’ anteriores, com suas
inerentes características evolutivas, fornecendo detalhes minuciosos sobre
como deverá ser a atuação do ‘Novo Profeta da Era de Peixes’, Jesus passa
a abordar, nesta Logia, os ‘esforços da Centelha enviando Mensageiros a
fim de reavivar a religião que havia se formado em torno da Mensagem
83
O Evangelho Segundo Tomé – Um Guia para a Sabedoria
Espiritual Original do Profeta que o antecedeu, já no finalzinho da Era de
Áries’, que havia se deteriorado. Então, ‘na época certa’, a Centelha enviou
um ‘mensageiro’ a fim de verificar a plantação e recolher os ‘frutos’ que
Lhe pertenciam; porém, os vinhateiros, ou seja, os responsáveis pela
religião dominante, se negaram a entregar tais ‘frutos’, prenderam e
espancaram o ‘mensageiro’, deixando-o à beira da morte. O ‘Senhor da
Vinha’, então, presumindo que o não tivessem reconhecido como um
‘mensageiro autêntico’, fez nova tentativa enviando outro; mas com este
agiram de maneira igual. Observando que não adiantava enviar
mensageiros, porque permaneciam de ouvidos tapados, recusando-se a
renunciar aos ‘preceitos humanos’ que haviam deteriorado a ‘Doutrina’, a
fim de retornar à sua ‘Pureza Original’, resolveu enviar o seu próprio
‘filho’, ou seja, um ‘Novo Profeta’, não mais um ‘mensageiro’, mas um
‘Manifestante Direto da Centelha’. Este ‘Profeta’, por representar o perfil
psicológico de uma ‘Nova Era Zodiacal’, era o sucessor da ‘Era Anterior’
e, portanto, o ‘Herdeiro’ daquela Vinha; mas os vinhateiros, sabendo que
ele era portador de métodos mais avançados para a produção de ‘frutos de
iluminação espiritual’ e que, portanto, ‘o poder que eles detinham sobre a
coletividade que compunha a Vinha lhes seria tirado’, prenderam-no e o
sacrificaram. Observemos que Jesus, sempre que ministra um
‘Ensinamento’ com um profundo significado ‘além da letra que mata o
sentido espiritual do texto’ conclui, dizendo: ‘Ouçam os que têm ouvidos
de ouvir’; e o ‘sentido oculto deste Ensinamento’ (conf. Logia nº 1) é que
os ‘mensageiros’ dantes enviados foram igualmente presos e espancados,
porém, não se entregaram ao ‘sacrifício’ pela mensagem de que eram
portadores. Jesus, porém, por ter renunciado ao próprio livre arbítrio a fim
de se fazer ‘Um com a Centelha’, perseverou até ao fim, vencendo a morte
e ressuscitando para a ‘Vida Una com o Pai’, em total fidelidade e
coerência à ‘Doutrina que trazia ao mundo’, tornando-se o ‘Profeta da Era
de Peixes’. Como lemos no ‘Evangelho Segundo João’: ‘Não há amor
maior do que este: Entregar a vida em favor de seus irmãos’ (conf. Jo.
15:13).
66. Atentai: A pedra que os construtores rejeitaram, ela mesma é a
pedra angular!
Os ‘vinhateiros’, citados na Logia anterior, são os ‘construtores’ do
‘reino da Luz do Vivo’ no mundo. Porém, por se deixarem envolver pelas
‘ilusões de poder, fama e riqueza material’, desviaram-se de sua proposta

84
Sebastião Anselmo
original e, ao invés de produzirem ‘frutos para a Centelha’, construíram
um reino para si mesmos. Esquecidos de que ‘o reino está dentro e também
fora de vós’ (conf. Logia nº 3), passaram a situá-lo no ‘céu’ ou no ‘mar’,
distanciando-o dos ‘candidatos sinceros’ a encontrá-Lo; assim, por se
colocarem de costas para a ‘Luz’, tornaram-se ‘cegos que se põem a guiar
outros cegos’ (conf. Logia nº 34). Procedendo desta maneira, tomaram para
si o ‘controle da Revelação’ e ocultaram as ‘Chaves da Sabedoria’, nem
eles entrando e nem a outros permitindo entrar no ‘reino da Luz do Vivo’
(conf. Logia nº 39); e suas ações se tornaram sombrias, interesseiras,
carregadas de hipocrisia e falsidades, pois ‘de espinheiros não se colhem
uvas, nem de abrolhos se extraem figos, pois são estéreis’ (conf. Logia nº
45), assemelhando-se a ‘cães deitados no cocho de bois: não comem, nem
deixam comer’ (conf. Logia nº 102). Perderam a oportunidade de ‘produzir
frutos para o reino da Luz do Vivo’ porque rejeitaram a ‘pedra angular’, a
que dá sustentação a todo o edifício, ao reivindicarem para si aquilo que é
de direito de todos, ‘tratando como iguais tanto o de dentro como o de
fora, o do Alto como o de baixo, o masculino como o feminino’ (conf.
Logia nº 22), ‘amando o próximo como amas a tua própria alma e tendo
com ele o mesmo cuidado que tens com a pupila de teus olhos’ (conf. Logia
nº 22).
67. Se alguém se julga conhecedor do reino, mas não conhece a si
mesmo, é um tolo; pois este, na verdade, a nada conhece!
A condição primeira para ter uma ‘íntima relação com o reino da Luz do
Vivo’ é conhecer-se a si mesmo através do processo de
‘autoconhecimento’; pois, como é dito na Logia nº 3: ‘Quando vos
conhecerdes a vós mesmos tomareis conhecimento de todas as coisas; e,
então, sabereis que sois filhos da Luz do reino do Vivo. Porém, se não vos
conhecerdes a vós mesmos, sereis filhos da ignorância, existindo em
miséria e apartando-vos do reino’.
68. Felizes de vós quando odiados e perseguidos, porque encontrarão
lugar no reino; porém, os que vos odiarem e perseguirem, não
encontrarão lugar.
Quando o ‘candidato ao reino da Luz do Vivo’ realiza com sucesso o
‘processo de iluminação interior, através do autoconhecimento’, ele se
liberta das ‘ilusões do mundo’ e se distancia vibratoriamente de todos os
que se afinam com essas ‘ilusões’ gerando ódio, incompreensões, e
perseguições por parte daqueles que nelas ainda se comprazem; pois, como
85
O Evangelho Segundo Tomé – Um Guia para a Sabedoria
diz a Logia nº 111: ‘Quem a si mesmo conhece, torna-se indigno para o
mundo; do mesmo modo, o mundo torna-se indigno para ele’. Isto
acontece, porque ‘aquele que é capaz de ver o mundo, o vê apenas um
cadáver; mas este, que é capaz de ver o mundo apenas como um cadáver,
já despertou’ (conf. Logia nº 56).
69. Felizes os que são perseguidos por buscarem o reino em seu
interior; são famintos que serão consolados.
Aqui, Jesus promete a vitória a todos aqueles que perseverarem na ‘busca
pelo reino da Luz do Vivo’ no interior de si mesmos; porque, apesar de
todas as perseguições que sofrerem, e das provas que suportarem, serão
consolados pelo sucesso de seu empreendimento. Na Logia nº 2, ele afirma:
‘Aquele que busca, continue buscando, até encontrar; e, quando encontrar,
ficará admirado; e, em estado de admiração, ficará maravilhado – e então,
extasiado, terá interação com o reino’ e, na Logia nº 54, lemos: ‘Felizes e
bem-aventurados são os humildes de coração, porque a eles está destinado
o reino da Luz do Vivo’. Na Logia nº 94, ele diz: ‘Quem buscar,
encontrará! E a quem bater abrir-se-lhe-á!’; porém, este encontro com a
‘Luz no interior de si mesmo’, não se dá sem esforço, constância e
abnegação, perseguição e provação; mas, àquele que perseverar, ele diz:
‘Feliz daquele que foi submetido à prova e encontrou o Vivo’ (conf. Logia
nº 58).
70. Quando dentro de vós encontrardes e possuirdes o que já lá está,
este vos salvará; porém, até que O encontreis e O possuais, mortos
estareis.
Nesta Logia, Jesus reafirma o ‘Ensinamento’ já dado em várias Logias
anteriores e posteriores a esta. O reino está ‘dentro’ de nós e, quando o
encontrarmos, seremos, finalmente, ‘iluminados pela Luz que a tudo
permeia’ e viveremos felizes; porém, até que isto ocorra, permaneceremos
‘de fora’, em desconexão íntima com a Centelha, com a lâmpada de nossa
mente apagada, vivendo em trevas, sofrimento, dor e miséria, ‘mortos’ para
o reino.
71. Tal casa estará destruída, e ninguém será capaz de reerguê-la.
No estado de ‘desconexão íntima’ com a Centelha, nossa ‘casa mental’
permanecerá sombria, incompleta, inabitável, ‘destruída’ ou imprópria para
a ‘manifestação da Luz em nosso interior’; uma ‘lâmpada apagada’ e,
neste estado, até que a ‘religuemos intimamente com a Centelha’, ninguém
86
Sebastião Anselmo
poderá acendê-la. Este trabalho compete a nós; e ninguém, a não ser nós
mesmos, poderemos realizá-lo, à custa de muito esforço, constância e
abnegação. A Luz faz a parte d’Ela, e a nós compete fazer a parte que nos
cabe!
72. Disse-lhe certo homem: Dizei a meus irmãos que repartam
comigo os Bens do Vivo. Respondeu-lhe Jesus: Não sou eu o partidor.
E, dirigindo-se aos outros discípulos, disse: Achais que sou eu o
partidor?
Nesta Logia, Tomé, o autor deste ‘Evangelho’, relata um acontecimento
singular: Um certo homem aproximou-se de Jesus e, sabendo que ele é o
‘porta voz do Pai ou Centelha’, pede-lhe que ordene a seus irmãos que
dividam com ele os ‘Bens’ que o Vivo a todos concede, sem levar em conta
que, de acordo com a Lei de Causa e Efeito, esses ‘Bens’ são distribuídos
‘a cada um de acordo com as suas obras’ (conf. Mt. 16:27). Também o
apóstolo Paulo escreveu em sua Epístola aos Romanos: ‘O Vivo retribuirá
a cada um segundo as suas obras’ (conf. Rm. 2:6); no ‘Livro de
Provérbios’, lemos: ‘Quem semeia a injustiça, injustiça colherá; e contra
si se voltará a sua revolta’ (conf. Prov. 22:8-9), e o profeta Isaías confirma:
‘Ai daquele que pratica o mal, porque a sua paga será o que suas próprias
mãos fizeram’ (conf. Is. 3:11). A resposta da Centelha, através de Jesus, é
direta: ‘Não sou eu o partidor’, pois quem ‘dá a cada um de acordo com as
suas obras’ é o ‘Concerto Geral do Todo Governado pelo Espírito do
Vivo’; e esta ‘distribuição’ é feita segundo o mérito ou demérito de cada
um conforme o ‘grau consciencial do ente espiritual no momento exato em
que realizou a ação’, levando em conta a original ‘motivação de seu
coração’. Daí a resposta da Centelha através de Jesus: ‘Ainda não
compreenderam? Achais que sou eu o partidor dos Bens do Vivo’?
73. Os Bens são muitos; porém, poucos são os operários para
distribuí-los. Pedi, pois, ao Vivo que envie mais operários para
distribuir os Seus Bens.
As ‘Bênçãos do Vivo’ são muitas, e elas são distribuídas através de Seus
Filhos, as Centelhas, que ‘movem os corações das mentes a Si conectadas’
para a prática da caridade para que se tornem ‘instrumentos conscientes’,
‘operários da Luz do Vivo’, ‘canais’ que levam a cada ser ‘desconectado’
as ‘Bênçãos’ a que fizeram jus; a ‘paga das más ações são entregues por
instrumentos inconscientes’ utilizados pelo ‘Mecanismo Cósmico Perfeito’
que rege o Universo, através de condições exteriores que se apresentam na
87
O Evangelho Segundo Tomé – Um Guia para a Sabedoria
vida de cada ente espiritual, dando ‘a cada um segundo as suas obras’. Por
isso, aqui, Jesus orienta os discípulos a pedirem ao ‘Pai Vivo’ que envie ao
mundo mais ‘operários iluminados intimamente por suas Centelhas’, ou
seja, mais ‘almas caridosas’, a fim de entregar as ‘Bênçãos’ aos que delas
fizerem jus.
74. Redarguiu-lhe o homem: Muitos são os que rodeiam a Fonte, mas
não há um só que A toque com as mãos.
Compreendendo os ‘Ensinamentos’ que lhe foram ministrados pela
Centelha através de Jesus, o homem reclama do ‘egoísmo dos que não
fazem caridade’, dividindo o que lhes sobra, que são insensíveis ao ‘mover
íntimo de suas Centelhas’ e se recusam a tornarem-se ‘canais de
distribuição da Fonte de Bênçãos do Vivo’, mesmo aqueles que ‘se dizem
religiosos’ e que, aparentemente, estão em busca do ‘reino da Luz do Vivo’
dentro de si.
75. Respondeu Jesus: Muitos são os que se colocam diante da Porta,
mas apenas o dois que se fizer Um é que terá permissão para entrar.
A resposta de Jesus é sucinta: Enquanto os interesses mundanos, de fama,
poder e glória, perdurarem como objetivos do ente espiritual, ele estará
dividido entre ‘conquistar o reino da Luz e conquistar o reconhecimento
do mundo’; e, enquanto não unificar seu objetivo no ‘projeto de União
Íntima com Sua Centelha’, a Ela não se Unificando, não se tornará um
‘canal consciente das Bênçãos do Vivo’ em favor dos que ainda não se
reconectaram.
76. O reino é semelhante a um homem que recebia mercadorias em
consignação para venda e, enquanto não as negociava, deixava-as
guardadas em um depósito; certo dia, tal homem deparou-se com uma
pérola de grande valor e – astuto como era – negociou tudo quanto
tinha em seu armazém a fim de possuir aquela pérola. Assim –
também vós – buscai o Tesouro Imperecível que se encontra no lugar
seguro onde as traças não comem e nem os vermes corroem.
Nesta Logia, Jesus compara o reino a um ‘certo homem’ que recebia
mercadorias de terceiros e as armazenava em um depósito a fim de
comercializá-las, recebendo alguma comissão pelo negócio efetuado. É
uma clara referência à mente do ‘ente espiritual’ que, em sucessivas
reencarnações, arquiva as memórias das ações efetuadas pelos egos
exteriores que manifesta no mundo físico, experimentando as
88
Sebastião Anselmo
consequências como ‘premiação’ de acordo com sua boa ou má conduta.
Ao realizar o ‘processo de autoconhecimento’, pesando cada motivação
interna de suas ações, ‘abolindo os hábitos, costumes e condicionamentos
que o prendiam a uma falsa e ilusória realidade’ de apartado de sua
Centelha e de todos os seres da criação, descobriu que tinha dentro de si
uma ‘pérola de grande valor’, a ‘Luz que irradiava internamente de sua
Centelha’; e, com a sabedoria que já havia conquistado em seu ‘processo
de reforma íntima’, dedicou todo o seu esforço para ‘produzir obras que
lhe permitissem possuir aquele tesouro interno’. Para concluir o
‘Ensinamento’, Jesus nos aconselha a ‘buscar este tesouro imperecível’ que
se encontra muito bem guardado, em lugar seguro, em nosso interior;
porém, fora do alcance dos que ainda se comprazem com as ‘ilusões do
mundo’ que comem e corroem nossas mais íntimas disposições de
encontrá-lo.
77. Eis que eu vos trago a Luz que a tudo recobre e que gerou o
Todo; o Todo d’Ela saiu, se estendeu, e para Ela retorna: Rachai a
madeira, e Ela lá está; erguei a pedra e lá A encontrareis.
Em continuação à Logia anterior, Jesus ensina que a ‘pérola de grande
valor’, tesouro imperecível, é a ‘Luz que a tudo permeia’, cujo conjunto de
Centelhas forma o ‘Brilho que gerou o Todo Universal’, que d’Ela saiu, se
estendeu, e para Ela retorna em ‘infindáveis ciclos de expansão e retração
do cosmo’; e, citando como exemplos os reinos mineral e vegetal, conclui:
‘Rachai a madeira, e Ela lá está; erguei a pedra, e lá A encontrareis’.
78. Para que viestes ao mundo? Para admirar um caniço movido pelo
vento? Ou para vestirdes roupas finas? Os reis e os grandes do mundo
se vestem com roupas finas e, no entanto, não são capazes de
compreender a Verdade.
Aqui, Jesus inquire dos discípulos se eles têm consciência do ‘porquê’ as
formas exteriores são manifestadas no mundo pelas Centelhas que as
gerou: Para se distraírem com um caniço agitado pelo vento? Para se
exibirem com roupas finas e luxuosas em desregrados prazeres?
Certamente que não, pois aqueles que vivem no luxo e no regalo
permanecem na ‘morte’, distanciados da Luz Interior que emana de suas
Centelhas. Devemos, portanto, nos ocupar com o interior, identificando em
todas as ‘formas’, inclusive em nós mesmos, a ‘Luz Interna’ que as
manifesta. Por isso, na Logia nº 89, ele pergunta: ‘Por que cuidais com

89
O Evangelho Segundo Tomé – Um Guia para a Sabedoria
tanto zelo do vosso exterior? Não sabeis que Aquele que fez o exterior, está
em vosso interior?’
79. Disse-lhe uma mulher: Feliz o ventre que trouxe a Luz ao mundo,
e os seios que A amamentaram. Respondeu Jesus: Antes, felizes são os
que A ouvem – porque é o Verbo do Vivo – e n’Ela vivem; porque Ela
é a Verdade. Porém, os que não A ouvem, dizem: Felizes são os que
não A conceberam, nem A amamentaram.
Uma ‘mulher’, figuradamente a ‘mente do ente espiritual’,
frequentemente descrita como ‘a noiva ou esposa do reino’ em várias
parábolas descritas pelos ‘evangelhos canônicos’, afirma que as ‘formas’
são felizes apenas por serem o ‘ventre que porta a Luz da Centelha’ e que
A amamentam para que cresça e se manifeste no mundo com toda a Sua
Pujança; porém, Jesus responde que não, ‘as formas não serão felizes’
enquanto não Lhe derem ouvidos em seu interior, e não A compreenderem,
porque Ela é o Verbo, a Doutrina do Vivo que prega a Verdade através do
‘canal da consciência’ de todas as formas que já A conquistaram. As
‘formas’ que ainda não A descobriram no interior de si mesmas e, portanto,
‘não A ouvem, não A concebem, nem A amamentam’, sentem-se ‘felizes’
porque preferem chafurdar no charco das ilusões a esforçar-se a
reformarem-se intimamente a fim de encontrar o ‘tesouro’ que trazem
dentro de si, ‘oculto’ pela sombra da ignorância de serem ‘filhos da Luz do
Vivo’.
80. O homem que é capaz de ver o mundo, o vê como um corpo;
porém, tal homem é superior ao mundo, porque já despertou.
Em continuação, Jesus é categórico ao afirmar que ‘os que dão ouvidos à
Centelha em seu interior, e n’Ela vivem, os que encontraram a Verdade de
que são filhos da Luz do Vivo’, veem o mundo como um conjunto de todas
as formas, ‘um corpo habitado pelo Espírito do Vivo’; mas que tal homem,
por ver e compreender o mundo de tal maneira, é superior à ignorância que
reina no mundo das formas, porque já despertou.
81. Quem de fato conheceu o mundo, reine; e quem adquiriu
poderes, renuncie.
Dando prosseguimento aos ‘Ensinamentos’ que vinha transmitindo, Jesus
afirma, nesta Logia, que ‘aquele que já despertou’, que tornou-se ‘rico de
sabedoria’, deve deixá-la ‘reinar’ em todos os seus ‘pensamentos,
sentimentos, emoções, palavras e ações’, como ‘regra de conduta’, nos
90
Sebastião Anselmo
mais comezinhos acontecimentos de sua existência; mas que, este ‘contato
mais íntimo com sua Centelha’, fonte da ‘sabedoria adquirida’,
inevitavelmente lhe trará ‘poderes’ que deverão ser utilizados
exclusivamente em ‘favor do outro’, como o fazia Jesus, renunciando a
utilizá-los em ‘causa própria’.
82. Quem de mim se aproxima e pratica o que Eu ensino, está perto
da Chama; quem de mim se distancia, está longe do reino.
Aquele que ‘ouve e compreende a Doutrina’ que a Centelha de Jesus, o
‘Pai’, trouxe ao mundo através de seu ‘filho’, a ‘forma por Ela
manifestada’, praticando os seus ‘Ensinamentos’, cria um ‘canal interno de
União’ com sua própria Centelha; porém, aquele que ‘ouve esta Doutrina,
mas não pratica o Ensinamento’, permanece distante de sua ‘Chama
Interna’, impedido de entrar em ‘conexão-íntima’ com a ‘Luz do reino do
Vivo’ em seu interior, fonte de Virtudes, Santidade e Sabedoria.
83. Todas as formas que o homem vê, ocultam a Luz que as
manifesta no mundo; porém, esta mesma Luz, quando percebida pelo
homem, ocultará as formas por Ela manifestadas.
É apenas a ‘desconexão íntima com sua Centelha’ que faz o homem ver
as ‘formas’, de todos os reinos da natureza, como separadas e divididas
entre si; deste modo, ele não identifica a ‘interdependência que une todas
as formas’ de todos os reinos da criação. Quando o homem conseguir
‘despertar intimamente para a Verdade’, unindo-se vibratoriamente à sua
Centelha, verá que todas as formas contêm, dentro de si, ‘a Luz que as
manifesta no mundo’; e, então, ‘verá a tudo e todos como iguais, tanto o de
dentro quanto o de fora; tanto o de Cima, como o de baixo’; e verá
qualquer um entre mil, ou entre dez mil, como ‘forma exterior da Luz que a
manifesta no mundo’; pois então, neste estado de ‘despertamento íntimo’,
ocorrerá o contrário do que ocorria quando em estado de ignorância: A Luz
Interior é que ocultará a forma exterior diante de seus olhos.
84. Quando vedes a vossa imagem vos sentis jubilosos; mas quando
virdes a Luz que a modelou, que está em vós e que nunca morrerá –
embora morra o vosso corpo material cuja imagem vedes refletida –
suportareis?
Quando vemos nossas formas exteriores, geralmente nos sentimos felizes,
acreditando que ‘somos aquela forma, aquele corpo’, e identificamos
‘diferenças’ que nos parecem reais entre a ‘nossa forma exterior’ e todas as
91
O Evangelho Segundo Tomé – Um Guia para a Sabedoria
outras ‘formas e imagens’ que vemos no mundo. Mas, quando formos
capazes de ver a ‘Luz interior que manifesta no mundo a nossa forma
exterior’, e constatarmos que todos somos ‘absolutamente iguais’, sem
nenhuma diferença ou divisão, suportaremos?
85. Adama [a Humanidade] possui grande poder e riqueza [do Vivo],
porém, deles não é digna. Se digna fosse não teria experimentado a
morte.
Efetivamente, o ‘homem’ possui dentro de si grande poder e riqueza, que
é a ‘Luz da Centelha que o manifesta no mundo’, e que está em sua
essência mais íntima; porém, seu estado de ‘desconexão íntima’ com esta
‘Luz’ o torna ‘indigno de conhecê-la e com Ela brilhar’; caso contrário, se
fosse ‘digno’, se não estivesse ‘desconectado’, não estaria na ‘morte’,
existindo em dor, sofrimento, pobreza e miséria.
86. As raposas têm suas tocas, e as aves têm seus ninhos; o homem,
porém, não tem lugar algum onde possa repousar e descansar a sua
cabeça.
Os ‘animais’, tidos como ‘irracionais’, obedecem cegamente aos
instintos que caracterizam cada raça, cada espécie, cada etapa de sua
evolução; são ‘fiéis ao comando interno de sua Centelha’, que os programa
e orienta em direção à sua evolução espiritual. O seu ‘abrigo’, o seu
‘repouso’, está justamente em obedecer aos ‘estímulos internos’ e em não
colocar a ‘própria vontade’, a própria conveniência, como obstáculo à
‘Direção Interna’, comandada pela ‘Luz Interior, da Qual são formas
exteriores’. Já no estágio ‘humano hominal’, como ‘homo sapiens’, esta
harmonia é quebrada devido ao uso do ‘livre-arbítrio’, ferramenta que lhe é
dada para que ‘desenvolva a sua evolução de forma consciente e
participativa’. É isto o que significa a simbologia do texto bíblico do Livro
de Gênesis: ‘Conquistarás o teu pão [espiritual] com o suor do teu rosto’.
Por isso, devido à Lei de Causa e Efeito, que lhe obriga a experimentar as
consequências de suas próprias escolhas neste estado de ‘desconexão
íntima com sua Centelha’, o homem não voltará a experimentar o ‘abrigo e
repouso’, dantes experimentado, enquanto não se reconectar intimamente à
‘Luz que o manifesta no mundo’. Só então encontrará ‘o lugar’ onde possa
descansar e repousar a sua cabeça.
87. Miserável do corpo que depende do corpo; e miserável do espírito
que depende desses dois.

92
Sebastião Anselmo
Enquanto não atinge este estágio de ‘iluminação íntima pela União com
sua Centelha’, o espírito do homem depende do corpo material para
evoluir; e, cada vez que ‘reencarna no mundo’, ele depende de outro corpo
que o gere para ser ‘manifestado no mundo’. Por estar ‘desconectado
intimamente com sua Centelha’, ele se acredita a ‘forma’, o ‘corpo’, que
depende de ‘outro corpo’ para gerá-lo e manifestá-lo. Porém, quando o
‘ente espiritual que habita o corpo material’ se der conta de que, em
verdade, ele é ‘corpo e forma da Centelha que o manifesta’, não mais
dependerá de reencarnações em corpos físicos para evoluir. Por isso, Jesus
afirma aqui: ‘miserável é o corpo que depende de outro corpo para ser
gerado e manifestado no mundo; e miserável é o espírito que depende
desses dois para evoluir’.
88. Anjos e profetas virão ter convosco a fim de vos dar o que já
tendes em vós; dai-lhes, também vós, o que eles já possuem.
Os Profetas das ‘Eras Zodiacais’ sempre trazem um novo ‘Ensinamento’,
uma nova ‘Revelação’, a fim de resgatar o homem de seu ‘estado de
ignorância’ e promover a sua ‘conexão íntima’ com a Centelha que o
manifesta no mundo; e os ‘anjos’ são os ‘mensageiros’ que são enviados a
fim de reavivar a ‘Mensagem Original’ trazida pelo ‘Profeta de cada Era’,
sempre que ela ‘perde força’ pelos desvios que as religiões
institucionalizadas criadas ao seu redor as ‘contamina com preceitos
humanos’, mais harmonizados com as ‘ilusões do mundo’ do que com a
‘Verdade Original Revelada’. Porém, toda e qualquer ‘Revelação’ que
possam trazer a nós, de fora para dentro, nós também a recebemos
diretamente da Centelha, de dentro para fora; por isso, Jesus nos pede para
que ‘conectemos a Luz que eles nos oferecem com a Luz que trazemos
dentro de nós’, pois que são a ‘mesma Luz’, apenas habitando e
manifestando ‘formas’, ou ‘velas’, diferentes.
89. Por que cuidais do vosso exterior? Não sabeis que Aquele que fez
o exterior, está em vosso interior?
Enquanto ‘desconectados intimamente com a Centelha’, enxergamos
apenas as ‘formas exteriores’; a elas dando maior ou menor atenção,
atraídos ou repelidos pela atuação egóica de nosso livre arbítrio. Porém,
caso já estivéssemos ‘religados e despertos’, a atração que elas exerceriam
sobre nós seria a da ‘Luz interior da Centelha que as manifesta no mundo’;
pois ‘Quem fez o exterior, está presente no interior’.

93
O Evangelho Segundo Tomé – Um Guia para a Sabedoria
90. Vinde para o reino, onde o vosso fardo se torna suave e leve o
vosso jugo; assim encontrareis repouso para as vossas cabeças.
A principal causa de nossa ‘desconexão íntima com a Centelha, d’A qual
somos apenas formas exteriores manifestadas no mundo’ é a egolatria que
projeta em nós um egoísmo que nos faz sentir ‘melhores e superiores’ a
todas as outras formas, tanto de ‘nosso reino’ quanto de todos os outros
‘reinos da criação’; e isto se dá não apenas individualmente, mas também
coletivamente, como ‘Adama, ou Humanidade’. As ‘consequências’ do uso
de nosso livre arbítrio visando à própria satisfação, em detrimento do bem
comum de nossos irmãos, causa ‘desarmonia no Concerto Geral do Todo’
trazendo-nos existências de sofrimento, dor, pobreza e miséria, a fim de
nos ‘despertar intimamente’ para a realidade de que somos todos
‘igualmente filhos da Luz do Vivo’, merecedores das mesmas benesses e
felicidade. O sofrimento não atua como castigo, mas como um ‘remédio
curativo’, uma maneira de nos trazer à ‘Realidade’ e sermos curados da
‘doença de nos sentirmos separados e divididos do Todo e de tudo na
criação’. Por isso, é dito na Logia nº 86 que, enquanto o homem não se
‘realinhar intimamente com sua Centelha’, não encontrará paz ‘nem lugar
algum onde possa repousar e descansar a sua cabeça’. Então, aqui, Jesus
nos endereça um gentil convite para ‘unirmo-nos vibratoriamente à
Centelha que nos manifesta no mundo’; pois, agindo nesse estado de união
íntima, ‘movidos pela Direção Interna da Centelha’, nossas escolhas trarão
consequências felizes, bem-aventuradas, um ‘fardo suave’, um ‘jugo leve’,
e encontraremos, finalmente, ‘repouso para as nossas cabeças’.
91. Disseram-lhe os discípulos: Revela-Te a nós, para que tenhamos
fé! Respondeu Jesus: Aprendestes a reconhecer os sinais do céu e da
terra e não reconheceis os sinais daquele que está dentro de vós? Em
verdade, não estais preparados para este momento.
Esta perquirição dos discípulos, revelando a própria dificuldade em
acessar o ‘reino da Luz do Vivo’ no interior de si mesmos, demonstrando
‘certa ansiedade’ na insistência em que pedem para que a Centelha se
‘revele intimamente’ a eles, é abordada em diversas ocasiões neste
‘Evangelho’. Na Logia nº 24, Jesus responde: ‘Ouvi e compreendei: Há
Luz dentro de vós, e ela ilumina o mundo inteiro! Quem não a encontra, e
com ela não brilha, torna-se escuridão!’; na Logia nº 43, a resposta é:
‘Pelos Ensinamentos que vos dou não sois capazes de me reconhecer?’; na
Logia, nº 61, ele diz: ‘Sou gerado n’Aquele que é Um e possui o Todo-em-
94
Sebastião Anselmo
Si, herdeiro do reino’; na Logia nº 77, esclarece: ‘Eu vos trago a Luz que a
tudo recobre e que gerou o Todo; o Todo d’Ela saiu, se estendeu, e para
Ela retorna’; e, na Logia nº 113, detalha ainda mais, dizendo: ‘O reino não
vem porque alguém o espera. Não se pode dizer: Está aqui ou ali! O reino
está em toda parte, mas falta aos homens olhos de ver’. Por isso, nesta
Logia, ele se limita a dizer: ‘Sabeis reconhecer os sinais do céu, de quando
vai chover; e da terra, de quando vai produzir; e não sabeis reconhecer os
sinais daquele que está dentro de vós? Em verdade, vossos olhos estão
vendados porque não estais preparados para este momento’.
92. Procurai, e achareis! Em todos estes dias, só não lhes respondi o
que a mim não perguntastes. Mas agora, no tempo presente, eu vos
respondo mesmo que não pergunteis.
Continuando em resposta à perquirição dos discípulos, expressada na
Logia anterior, Jesus lhes diz: ‘Buscai, e achareis, o reino está manifestado
no mundo, está em toda parte, dentro e fora de tudo o que existe; não o
vedes porque não tendes olhos de ver’. Para ‘ver o reino’, que é a própria
Centelha que existe na essência de todas as formas por Ela manifestada no
mundo, é necessário vencer a ‘ilusão da dualidade’, porque, na verdade,
tudo é Um! E, ‘vendo o que está dentro de maneira igual ao que está fora,
e o que está fora como o que está dentro’, sem distinções, nem predileções,
amando ‘igualmente e com a mesma intensidade e importância’ a tudo o
que existe, ‘com o mesmo cuidado que temos com a pupila de nossos
olhos’, deixaremos de ter uma ‘visão dividida’ e compreenderemos que
‘somos deuses, somos a própria Centelha se manifestando como forma,
somos a sua própria imagem e semelhança’ e, assim, nos uniremos
intimamente a Ela, não mais nos vendo como distintos, d’Ela separados, e,
então, seremos absorvidos pelo seu reino e nele entraremos, e veremos que
todas as coisas nos serão intimamente reveladas, teremos o conhecimento
do Todo. Deste modo, apenas ‘assistiremos os acontecimentos que se
desenrolam à nossa volta’, sem envolvimento emocional, sem
partidarismos de qualquer natureza, como ‘peregrinos em terra estranha’;
quando intervirmos em alguma situação será em atendimento ao
‘movimento interno da Centelha’, o ‘comando será de dentro para fora’ e
não mais de fora para dentro, pelo nosso raciocínio e capacidade de
julgamento. E Jesus continua afirmando que a Centelha, no interior de cada
forma por Ela manifestada, sempre apontou um caminho em resposta a
uma necessidade premente; mas que agora, manifestando-se a eles através

95
O Evangelho Segundo Tomé – Um Guia para a Sabedoria
da boca de Jesus, revela-lhes coisas que ‘não foram vistas por nenhum
olho, nem ouvidas por nenhum ouvido; o que nenhuma mão tocou e o que
nenhum coração sentiu’, respondendo a questões que eles não lhe
apresentaram, porque se constituem num ‘Roteiro de Luz e Manual de
Sabedoria’.
93. Não se dá aos cães o que é sagrado, para que não o profanem com
sujidades; nem se atira pérolas aos porcos, para que não as pisem com
seus pés.
A ‘Revelação que Jesus trouxe ao mundo, como Profeta de uma Nova
Era’, veio em um momento em que o mundo está pronto para recebê-la, e
este é o motivo de Profetas anteriores não a terem revelado e explicado
com tanta clareza. De outro modo, seria ‘desperdiçar a Gnose dando aos
cães o que é sagrado, ou atirando pérolas aos porcos’, pois estes, por não
poderem reconhecer o seu valor, os profanariam.
94. Quem buscar, encontrará! E a quem bater abrir-se-lhe-á!
Aquele que ‘buscar a Luz em seu interior’ seguindo ao ‘Esquema trazido
por Jesus’, por certo a encontrará! E aquele que direcionar os seus
‘pensamentos, sentimentos e ações’ da maneira que ele ensinou, de maneira
constante e persistente, como quem bate em uma porta que está fechada,
ela por certo se abrirá!
95. Quando tiverdes dinheiro, não o empresteis a juros; antes, dai-o a
quem não poderá restitui-lhes.
O desapego ao dinheiro e bens materiais é fundamental àquele que busca
o ‘reino da Luz do Vivo’, por se tratar de um ‘reino puramente espiritual’,
sendo a matéria a sua antítese. O dinheiro é o ‘deus do mundo’, porque é
fonte de poder e fama que insuflam o ‘estado de divisão do ego’, que
facilmente passa a acreditar-se ‘melhor e superior’ a tudo e todos. Por isso,
Jesus aconselha: ‘Quando tiverdes dinheiro, não vos deixeis embriagar
pelas ilusões que dele advêm; antes, pratica o seu desapego a ele, dando-o
a quem dele necessite e que não tem condições de restitui-lo a vós’.
96. O reino do Vivo assemelha-se a certa mulher que toma uma
porção de fermento e vai aos poucos ministrando-a na massa até que
surjam pães em fartura. Quem tem ouvidos de ouvir, compreenda!
Aconselhando à constância e perseverança na prática de seus
‘Ensinamentos’, Jesus explica que o ‘reino da Luz do Vivo’, que está dentro
96
Sebastião Anselmo
de nós, atua de maneira natural e espontânea, como um fermento que,
aplicado à mente da forma que manifesta no mundo, vai, aos poucos, com a
colaboração do fogo das situações e condições a que é submetida no ‘forno
das provações do mundo’, produzindo ‘obras que a todos alimentam’.
97. O reino do Vivo assemelha-se – também – a certa mulher que
carrega por uma longa estrada, uma vasilha repleta de farinha; pelo
caminho, uma alça da vasilha se quebrou e foi perdendo a farinha
atrás de si sem que ela o percebesse. Quando chegou à casa, constatou
que a vasilha se esvaziara, e contentou-se por isso.
Nesta parábola sobre o ‘reino da Luz do Vivo’, Jesus compara o ente
espiritual frequentemente interpretado como ‘esposa ou noiva da Centelha’
a certa mulher que, em sua jornada evolutiva, carrega uma ‘vasilha cheia
de farinha’ numa clara alusão à mente que acumula em sua memória
espiritual as várias experiências que experimenta nos vários estágios de seu
processo evolutivo; porém, por estar ‘desconectada’, esta farinha não
possui o ‘fermento da sabedoria do contato íntimo com sua Centelha’. No
decorrer natural de sua expansão e evolução, a mente vai se ‘desapegando
dos costumes, hábitos e condicionamentos do mundo’ e, quando finalmente
chega à ‘porta da casa’, percebe que a vasilha se esvaziara no trajeto que a
conduziu até ali, e muito se regozija por isso.
98. O reino do Vivo é também semelhante a certo homem que
ansiava por matar um poderoso. Então, ainda em casa, desembainhou
a espada e enfiou-a na parede, a fim de testar a força de sua mão;
então, constatou que estava apto para matar o poderoso.
O ‘reino da Luz do Vivo’ é também comparado a ‘certo homem’ que,
desejando aniquilar o seu ‘ego divisionista’, recolhe da ‘Casa de sua
Centelha’ a ferramenta necessária para enfrentá-lo; e, aplicando tal
ferramenta no mundo material, verificou a potência de sua força. Então,
saiu em busca de realizar o propósito de vencer o seu ‘inimigo’.
99. Disseram os discípulos: Do lado de fora, aguardam teus irmãos e
tua mãe. Ele respondeu: Os que estão do lado de dentro é que são os
meus irmãos e mãe; e, fazendo a Vontade do Vivo, entrarão no reino.
Tudo o que existe no Universo está ‘dentro do reino da Luz do Vivo’, que
a tudo permeia, nada existindo ‘do lado de fora’. O que nos mantém
desconectados do ‘reino da Luz do Vivo em nosso interior’ é justamente as
‘divisões que fazemos entre as formas manifestadas no mundo pela
97
O Evangelho Segundo Tomé – Um Guia para a Sabedoria
Centelha’, com preferências pessoais de ‘sangue, amigos, família’, etc. Por
isso, porque ‘o reino está em toda parte, abrangendo a tudo e todos’, Jesus
responde que seus familiares estão todos ‘dentro do reino’, são todos os
seres da criação; e que, ‘fazendo a vontade do Vivo’, terão consciência de
que estão ‘dentro do reino’.
100. Mostraram-lhe, então, uma moeda de ouro, e disseram: Os de
César exigem-nos pagamento de tributo. Respondeu Jesus: Dai a César
o que é de César; ao Vivo o que é do Vivo; e a Mim o que é Meu.
Os discípulos alegam que uma ‘existência puramente espiritual’ no
mundo parece utopia; pois o poder de ‘César, o ego desconectado que
impera sobre o mundo da matéria’, cobra-lhes o pagamento de tributos a
suas regras e convenções. Jesus, então, responde que a matéria tem suas
próprias leis e que a elas devem se submeter, como o instinto de
sobrevivência, a fome, a sede, a necessidade de procriar para a perpetuação
da espécie, etc.; mas que devem ‘dar ao Vivo o que é do Vivo’, ou seja, a
‘conversão íntima para o seu reino de Luz’, através do atendimento do
‘íntimo mover da Centelha em seu interior’.
101. Aquele que não amar menos a seu pai e sua mãe, como eu os
amo, não está pronto para o discipulado. E aquele que não amar mais
ao seu pai e a sua mãe, como eu os amo, não está pronto para seguir os
Ensinamentos. Porque minha mãe me gerou para o mundo; mas
minha verdadeira Mãe me gerou para a Vida.
Aqui Jesus, mais uma vez, alerta para a necessidade de amar ao pai e mãe
biológicos de maneira ‘igual’ a que ama todos os seres, nem mais nem
menos; e acrescenta que assim deve ser, amar igualmente ‘tanto o de
dentro quanto o de fora’ pois, embora sua mãe biológica tenha gerado o
seu corpo físico, sua Mãe Verdadeira, a Centelha, é que deu-lhe Vida.
102. Ai dos fariseus, porque se assemelham a um cão deitado no
cocho dos bois: não comem, nem deixam comer!
Jesus, mais uma vez, adverte quanto ao comportamento hipócrita de
religiosos ‘fariseus’, que apenas fingem praticar os ‘Ensinamentos’, mas
que, na verdade, buscam deles tirar proveito para benefício próprio,
detendo poder sobre as coletividades e iludindo-as com ‘preceitos
humanos’, com os quais ‘maculam a sã Doutrina’. Nem eles praticam, nem
a outros permitem que pratiquem a fim de adentar o ‘reino da Luz do Vivo’.

98
Sebastião Anselmo
103. Feliz do homem que conhece o lugar por onde entram os
ladrões; porque pode prevenir-se e preparar-se antes que seja
assaltado!
Na Logia nº 85, Jesus disse: ‘O homem possui grande poder e riqueza,
porém, deles não se faz merecedor; caso contrário, não teria
experimentado a morte’. A ‘grande riqueza’ a que Jesus se refere é a ‘a
Luz do reino do Vivo’ que traz dentro de si. Na Logia nº 39, ele adverte
que, para que esse ‘tesouro’ não lhe seja roubado, é necessário ‘ser
prudente como as serpentes, e manso como as pombas’. Na Logia nº 21,
ele enfatiza: ‘Se o dono da casa sabe que virá o ladrão, vigiará para que
ele não entre e roube o que lhe pertence. Ficai atentos quanto às ilusões do
mundo. Armai-vos de força e poder para que os ladrões não encontrem
caminho até vós; assim agindo, o vosso tesouro ficará resguardado’.
Aquele que realiza o ‘processo de autoconhecimento’ e se reconhece, em
todos os níveis conscienciais, como ‘filho da Luz do Vivo’, vence os
‘condicionamentos’ que lhe tornam presa das ‘ilusões do mundo’ e, de
‘tolo’, passa a comportar-se como ‘sábio’ protegendo o ‘tesouro de grande
valor’ que traz dentro de si. Por isso, Jesus afirma, na Logia nº 67: ‘Se
alguém se julga conhecedor do reino, mas não conhece a si mesmo, é um
tolo; pois este, na verdade, a nada conhece!’
104. Disseram-lhe os discípulos: Vem! Hoje haveremos de orar e
jejuar! Respondeu Jesus: Em que ponto não fui claro o bastante para
não compreenderdes? Somente quando o esposo sair da câmara
nupcial orareis e jejuareis.
Os discípulos propõem a Jesus ‘um dia de oração e jejum’; pretendiam
com isso ‘estreitar os laços com a sua Centelha’, uma vez que já vinham
perguntando, com certa insistência, quando se daria tal contato íntimo.
Jesus já havia explicado, na Logia nº 6, que o ‘verdadeiro jejum’ é abster-
se de pensamentos, sentimentos e ações movidas pelo interesse particular
do ego, em detrimento do Equilíbrio e Harmonia do Todo, e a ‘verdadeira
oração’ se dá no contato íntimo com a Centelha que o manifesta no mundo,
atendendo ao seu interno mover. Por isso, a sua resposta é contundente:
‘Somente quando o esposo deixar o aposento em que se encontra
confinado e passar a habitar em toda a casa mental do discípulo,
recebendo-o como esposa, é que se dará o verdadeiro jejum e a verdadeira
oração’.

99
O Evangelho Segundo Tomé – Um Guia para a Sabedoria
105. Quem a seu Pai e Mãe conhece, não pode ser chamado de filho de
prostituta.
O mundo, embora faça parte do ‘reino da Luz do Vivo’, é incapaz de
reconhecê-lo, pois não o vê, nem o percebe, e muito menos ainda, o
compreende. Pelo simples fato de permanecer na ‘ignorância de que é filho
do reino da Luz do Vivo’, o ego exterior da mente desconectada
intimamente com sua Centelha se sente ‘filho do mundo’, e se prostitui em
busca de prazeres e reconhecimentos mundanos; se vende em busca de
‘projeção e satisfação pessoal’ em detrimento do ‘Equilíbrio Geral e
Harmonia do Todo’; e se deixa roubar por tais enganos que lhe subtraem
sua maior riqueza, a ‘união íntima com sua Centelha’, afastando-se do seu
‘reino de Luz’. Comparando o ‘mundo ilusório’ a uma prostituta, que
fascina e seduz o ego desconectado, Jesus afirma que aquele que realizou o
‘processo de autoconhecimento’ e se ajustou ao ‘Comando Interno da
Centelha’, despertou; e, como desperto, se reconhece ‘filho do Vivo, seu
Pai, e da Luz, sua Mãe’, não sendo, portanto, ‘filho de prostituta’, como
define os enganos ilusórios do mundo.
106. Ouvi bem: Quando deixardes de serdes dois e vos tornardes Um
vos tornareis, de fato, Filhos de Adama; e então, se disserdes a este
monte: move-te daqui para ali, ele se moverá!
Somente quando o homem deixar de ser ‘dividido intimamente com sua
Centelha’ alcançará o topo da evolução humana e tomará posse da ‘grande
riqueza e poder’ de que é portador. Ao atingir a ‘completude de sua
evolução’, o homem, ‘filho de Adama’, se tornará imediatamente ‘filho da
Luz do reino do Vivo’ por fazer uso de seu livre arbítrio, não mais em
proveito próprio, mas em favor do ‘Equilíbrio Geral e Harmônico do
Todo’, entregando-se à ‘Direção Íntima de sua Centelha’. E então,
tornando-se ‘Um com Ela’, nada lhe será impossível; e se disser a um
monte: ‘Move-te daqui!’, ele se moverá!
107. O reino assemelha-se a um pastor que possui cem ovelhas.
Quando uma, de grande porte, se extraviou, deixou as noventa e nove
no lugar seguro e foi em busca da que se extraviara; e, quando a
encontrou, disse-lhe: És, para mim, motivo de preocupação maior do
que as outras noventa e nove.
Nesta Logia, Jesus compara a Centelha a um pastor que possui ‘cem
ovelhas’. Essas ‘cem ovelhas’ pastoreadas pela Centelha são as ‘formas que

100
Sebastião Anselmo
ela manifesta no mundo’ nos diversos reinos da natureza; enquanto essas
‘formas’ transitam pelos reinos anteriores ao ‘humano hominal’, elas
permanecem no ‘lugar seguro’ em que são conduzidas exclusivamente
pelos instintos que caracterizam cada espécie vivenciada pelo ‘ente
espiritual’ que as anima, sem oportunidade de ‘desviar-se’. Quando o ‘ente
espiritual’ atinge o ‘reino humano-hominal’, torna-se uma ‘ovelha de
grande porte’ na cadeia evolutiva, e, paulatinamente, vai deixando de ser
‘conduzido intimamente pelos instintos’ e passa a fazer uso cada vez maior
da função do ‘livre-arbítrio’, experimentando as consequências boas ou
ruins de suas escolhas. Neste processo, ele se ‘desvia’ do mover interno de
sua Centelha, perdendo-se em ‘ações desconectadas’ que visam ao próprio
interesse em detrimento do ‘Equilíbrio e Harmonia do conjunto do Todo’;
mas quando, neste processo, depois de muito sofrer por experimentar as
consequências de suas ações, ele amadurece intimamente e passa a ansiar
pelo contato interno com sua Centelha efetuando o ‘processo íntimo de
autoconhecimento’ a fim de se livrar da ‘morte da desconexão’, ele é
‘encontrado novamente por sua Centelha’ e compreende porque é ‘motivo
de ser preocupação maior do que todas as outras’.
108. Aquele que da minha boca beber, se tornará Eu; e Eu me
tornarei ele. Assim, conhecereis o Todo.
Aquele que ouvir, compreender e praticar a ‘Doutrina do Reino da Luz
do Vivo’, que Jesus veio trazer ao mundo, ‘se tornará a própria Luz, assim
como a Luz se tornará ele próprio’; é isto o que significa o dito ‘Eu e o Pai
somos Um’. Na Logia nº 61, Jesus ensina: ‘Quando o discípulo se faz Um
[com sua Centelha], pela Luz é preenchido; mas, se permanece dois, a
treva o preenche’; e, na Logia nº 62, ele acrescenta: ‘Revelo a Sabedoria
[do ‘reino da Luz do Vivo’] aos que têm ouvidos de ouvir’. Mais à frente,
na Logia nº 77, afirma: ‘Eis que eu vos trago a Luz que a Tudo recobre e
que gerou o Todo [Universal]; o Todo d’Ela saiu, se estendeu, e para Ela
retorna’; depois, na Logia nº 82: ‘Quem de mim se aproxima e pratica o
que Eu ensino, está perto da Chama [do reino da Luz do Vivo]; quem de
Mim se distancia [e não pratica o que ensino], está longe do reino’ [da Luz
do Vivo] e, na Logia nº 83, conclui: ‘Todas as formas que o homem vê,
ocultam a Luz que as manifesta no mundo; porém, esta mesma Luz, quando
percebida pelo homem, ocultará as formas por Ela manifestadas’. Ao unir-
se intimamente com sua Centelha, o ente espiritual deixa de ser ‘dividido’ e

101
O Evangelho Segundo Tomé – Um Guia para a Sabedoria
volta a ser o que, em essência, nunca deixou de ser: a própria Centelha; e
então, como ‘parte do Brilho que gerou o Todo’, dele toma conhecimento.
109. O reino assemelha-se a certo homem que tinha um tesouro
escondido em seu campo; porém, ele o desconhecia. Estando morto,
deixou o campo para o seu herdeiro, que também o desconhecia; o
herdeiro, tomando posse do campo, o negociou. O novo dono, porém,
ao arar o campo, encontrou o tesouro e passou a reparti-lo a quem o
desejasse, auferindo ganhos futuros.
Nesta Logia, Jesus compara o reino a um ‘certo homem que tinha um
tesouro escondido em seu campo’, numa clara referência ao ente espiritual
que traz dentro de si a Luz da Centelha que a ele permanece ‘oculta’ por
estar intimamente com Ela desconectado. E continua: ‘Estando ele morto,
pela desconexão íntima com sua Centelha’, deixou o campo para o seu
herdeiro, o seu próximo ‘ego encarnado’, que também o desconhecia;
porém, este ‘herdeiro’, que recebeu o ‘campo mental de sua personalidade
anterior em estado de desconexão íntima com sua Centelha’, resolveu
‘tomar posse do seu campo, ou seja, tomou as rédeas na condução de sua
existência realizando o processo de autoconhecimento’, passou a ‘negociar
aquele campo’, investindo no controle de seus pensamentos, sentimentos e
ações, transformando-se num ‘novo homem, com uma nova personalidade,
distinta da anterior’. Esse ‘novo dono’, ao arar o ‘campo mental’ que havia
adquirido, combatendo os vícios ocasionados por hábitos e
condicionamentos de suas ‘personas anteriores’, encontrou o ‘tesouro de
Luz’ que havia dentro de si e começou a compartilhá-lo, através de ‘ações
generosas a quem delas necessitasse’, gerando para si ‘méritos que haveria
de desfrutar’ pela ação da lei de causa e efeito.
110. Quem conheceu o mundo, e dele tornou-se rico, renuncie à sua
riqueza.
Aquele que ‘conheceu’ o mundo, que ‘amadureceu no uso de seu livre
arbítrio e na experimentação das consequências de suas escolhas pela lei
de causa e efeito’, que compreendeu a necessidade do ‘autoconhecimento
realizando a reforma mental dele advinda’, e que, em consequência,
encontrou o ‘tesouro de Luz imperecível que há dentro de si’, a Ela se
unificando e ‘d’Ela tornando-se rico’, renuncie à sua riqueza
compartilhando-a com todos os que ainda não realizaram tal ‘Encontro
Místico’; e, ao dividi-la, verificará que, na verdade, a estará multiplicando.

102
Sebastião Anselmo
111. Ainda que venhais a conhecer os mistérios dos céus e da terra
permanecereis na morte; mas aquele que tornar-se Um com o Vivo,
não permanecerá na morte. Quem a si mesmo conhece, torna-se
indigno para o mundo; do mesmo modo, o mundo torna-se indigno
para ele.
Apenas pelo fato de conhecer os ‘mistérios do mundo das formas
manifestadas pelas Centelhas’ não levará alguém à ‘União com a Luz do
Vivo’ no interior de si mesmo; muito pelo contrário, tal conhecimento pode
alimentar ainda mais o ‘estado de morte’ do indivíduo por desenvolver os
‘sentimentos separatistas’ de orgulho e arrogância, mais ainda o afastando
do ‘tesouro imperecível do reino de Luz’ que há dentro de si. Na Logia nº
91, Jesus indaga dos discípulos: ‘Aprendestes a reconhecer os sinais do céu
e da terra e não reconheceis os sinais daquele que está dentro de vós?’
Não adianta ‘conhecer’ apenas os ‘mistérios do mundo exterior’, porque
somente: ‘Quando vos conhecerdes a vós mesmos tomareis conhecimento
de todas as coisas; e, então, sabereis que sois filhos do reino da Luz do
Vivo. Porém, se não vos conhecerdes a vós mesmos, sereis filhos da
ignorância, existindo em miséria e apartando-vos do reino’ (conf. Logia n°
3). Na Logia nº 67, Jesus é enfático ao afirmar: ‘Se alguém se julga
conhecedor do reino [que está em toda parte], mas não conhece a si mesmo
é um tolo; pois este, na verdade, a nada conhece!’. O homem possui
capacidade potencial de conectar-se com a Centelha que o manifesta; mas
necessita desenvolvê-lo, fazer a sua parte caminhando em direção à ‘Luz
que há em si’, assim como esta mesma ‘Luz’ caminha em direção a ele. A
demora do homem em procurar a ‘Vida’ que há dentro dele é que o torna
‘morto’. Na Logia n° 85, Jesus afirma: ‘Adama possui grande poder e
riqueza; porém, deles não é digna: se digna fosse não permaneceria na
morte’. O ‘mundo das formas’ permanece na morte por ignorar a sua
origem na ‘Luz’, recusando-se a ‘quebrar a casca’ que as divide; e, de tal
maneira é forte essa ‘ignorância’ que, quando alguém consegue iluminar-
se, imediatamente é massacrado e perseguido pelo mundo, que o condena
como ‘persona non grata, indigna’. Por esse motivo, pela discrepância
vibratória que os distingue, o mundo também se torna ‘indigno’ para ele.
112. Ai da carne que depende da alma, e ai da alma que depende da
carne.
Na Logia nº 29, Jesus diz: ‘Se a carne foi feita para servir ao espírito,
isto é muito bom; mas se o espírito veio para servir ao corpo, isto é ainda
103
O Evangelho Segundo Tomé – Um Guia para a Sabedoria
melhor. Porém, é de se admirar como tanta riqueza veio habitar em tanta
pobreza’, pois a alma ou espírito que anima ‘Adama’, o ente espiritual no
estágio evolutivo humano-hominal, manifestado no mundo pela Centelha
n’A qual foi gerado, ‘possui grande poder e riqueza; porém, deles não é
digna: se digna fosse não permaneceria na morte’ (conf. Logia nº 85); já
na Logia nº 87, ele completa o raciocínio, dizendo: ‘Miserável do corpo
que depende de outro corpo; e miserável do espírito que depende desses
dois’. Aqui, nesta Logia em estudo, ele completa o ‘Ensinamento’,
dizendo: ‘Ai da carne que depende da alma, e ai da alma que depende da
carne’, porque, permanecendo intimamente desconectado com sua
Centelha, nem o espírito desenvolve o imenso potencial do ‘veículo físico’
que utiliza, nem o corpo se torna em ‘instrumento afinado’ para que o
espírito desenvolva suas potencialidades, permanecendo ambos girando em
círculo, como ‘cego a guiar outro cego’, sem saírem do lugar em que se
encontram, ‘evolutivamente’ falando. É esta situação que Jesus lamenta,
pois somente o sofrimento, como ferramenta evolutiva, através de
sucessivas reencarnações de dor, pobreza e miséria, haverá de despertar o
espírito do homem para reconectar-se intimamente com sua ‘Centelha de
Luz’ e vir a ser, efetivamente, ‘filho do Homem’, de uma humanidade
redimida, reconectada com a ‘Centelha de Luz’ que a manifesta no mundo.
113. Os discípulos perguntaram: Quando se manifestará o reino?
Jesus respondeu: O reino não vem porque alguém o espera. Não se
pode dizer: Está aqui ou ali! O reino está em toda parte, mas falta aos
homens olhos de ver.
Os discípulos, tomados de ansiedade, porém ainda com ‘visão
divisionista’, inquirem de Jesus ‘quando’ o reino se manifestará no mundo
e, consequentemente, neles próprios. Eles querem uma data, mas não se
trata de um ‘dia’ específico, de um ‘tempo’ propício, nem de um ‘lugar’
cuidadosamente preparado para que ocorra este ‘advento’: O reino já está
aqui! Está em toda parte, em todo lugar! Absolutamente nada e ninguém
está fora do reino! O que falta ao homem é ‘sentir-se’ no reino, ‘ver’ o
reino, ter ‘consciência’ de que está no reino. É isto o que significa:
‘adentrar o reino da Luz do Vivo’! Para ‘entrar no reino’ é necessário,
antes, ‘ver’ o reino. Por estar enceguecido pelas ilusões do mundo, por se
acreditar separado e diferente, melhor e superior a tudo o que existe, sem
desenvolver suas potencialidades biológicas e espirituais e colocá-las a
serviço do ‘reino que é o Todo’, o homem permanece ‘dividido

104
Sebastião Anselmo
exteriormente entre ele e o resto do reino’, e ‘dividido interiormente entre
ele e a Faísca de Luz que o manifesta no mundo, d’A qual ele é apenas a
forma’. A ‘divisão’, de fato, só existe em sua psique, em sua mente, por
‘não se sentir intimamente Um com Todos e com Tudo, Um com o reino’. E
é isto o que Jesus veio nos ‘Ensinar’: a rompermos os ‘véus da ilusão’ que
nos aprisionam na ‘ignorância de sermos, assim como tudo o que existe,
filhos da Luz do Vivo’. O ‘Caminho’, o ‘Roteiro a seguir’, ele já nos deu
em diversas Logias anteriores: ‘Não façais a vós mesmos o que é mal, nem
façais aos outros o que não gostaríeis que vos fizessem; pois tudo o que no
escuro se faz, pelo Vivo é visto no claro. Não há nada que possais fazer
escondido que à Luz permaneça oculto; e nada há que possais fazer em
segredo que à Luz não se torne conhecido’ (conf. Logia nº 6). Na Logia nº
22, ele diz que, para deixar de ser dividido, é necessário: ‘Ver o interior
como o exterior, e o exterior como o interior; o do Alto como o de baixo, e
o de baixo como o do Alto; o masculino como o feminino, e o feminino
como o masculino’; e isto o homem deve fazer porque: ‘Há Luz dentro de
vós, e ela ilumina o mundo inteiro! Quem não A encontra, e com Ela não
brilha, permanece nas trevas!’ (conf. Logia nº 24). Na Logia nº 25, ele dá a
receita: ‘Ama a teu irmão como amas a tua própria alma; e tende com ele o
mesmo cuidado que tendes com a pupila de teus olhos’. Instado pelos
discípulos sobre este mesmo assunto, ele responde, na Logia nº 91: ‘Sabeis
reconhecer os sinais do céu e da terra, de vosso exterior, e não reconheceis
os sinais do que está em vosso interior? Em verdade, não estais
intimamente preparados para ver’, porque ‘o tempo é este, mas hesitais em
abrir os olhos para ver o reino’ (conf. Logia nº 51). Por isso, ele reforça
nesta Logia em estudo, dizendo que ‘o reino não virá porque é esperado;
ele já veio, está aqui, está em toda parte. Os homens não o veem porque
não têm fé; e, por não acreditarem, permanecem divididos. Em
consequência, por permanecerem nas trevas deste estado de divisão
íntima, não conseguem vê-lo’.
114. Disse Simão Pedro: Separai Maria de entre nós, porque o
Feminino não é merecedor de entrar no reino do Vivo. Respondeu
Jesus: Eu mesmo a atrairei para que se torne Masculino, um espírito
vivo; porque todo Feminino que se tornar Masculino entrará no reino.
Aqui, quando Pedro se dirige à Centelha, que se manifestava aos
‘discípulos da Luz’ através de Jesus, dizendo: ‘Separai Maria do meio de
nós, porque o Feminino não é merecedor de entrar no reino do Vivo’, ele

105
O Evangelho Segundo Tomé – Um Guia para a Sabedoria
não está se referindo a alguma discípula com esse nome, mas utilizando o
termo hebraico ‘Miryan’ que significa ‘pureza original, virtude passiva,
vaso receptivo, virgindade de experiências ou conhecimentos’; ou seja, ele
está se referindo à condição do ‘ente espiritual’ surgido e manifestado pela
Centelha nos albores da criação. Tal ‘ente espiritual’ é gerado ‘simples’,
mas com incrível potencial de desenvolvimento para se tornar ‘complexo’;
é gerado ‘ignorante’, mas com incrível potencial de tornar-se ‘sábio’; é
gerado ‘Feminino’, mas com plena capacidade de tornar-se ‘Masculino’.
Note-se que não se trata, aqui, de ‘Gênero Sexual’, mas de ‘Potência ou
Princípio Masculino e Feminino’ que permeiam todo o Universo e que
estão presentes, em alguma medida, em todos os seres de todos os reinos da
criação, conforme o que é definido na 6ª Lei que rege o Universo, segundo
a ‘Tábua de Esmeraldas’, de Hermes Trismegisto, que diz: ‘Tudo tem seus
Princípios Masculino e Feminino’ (vide interpretação à Logia nº 22). Os
Princípios Masculino e Feminino são representados no Tao pelo símbolo
Yin Yang, um círculo, simbolizando o Todo Universal, que traz em si o
‘Equilíbrio entre duas Forças Opostas’: o preto, representando o Princípio
Feminino que caracteriza ‘as formas manifestadas pela Centelha’ (Yin), e
o branco, representando o Princípio Masculino que caracteriza ‘a Centelha
que manifesta as formas em Si-Mesma’ (Yang). O Princípio Masculino traz
consigo a ‘Força Movimento’, e o Princípio Feminino traz consigo a
‘Força Antagônica ao Movimento, o Repouso’. A própria Centelha traz em
Si Mesma essas duas Forças em Equilíbrio, como é dito na Logia nº 50: ‘Se
vos perguntarem: Tendes, em vós, alguma das características do Pai?
Respondei: Movimento e repouso’. Para alcançar a ‘União Íntima com a
Centelha’, as formas por Ela manifestadas, caracterizadas pelo Princípio
Feminino, precisam desenvolver o Princípio Masculino a fim de atingir o
‘Equilíbrio necessário para que possa acontecer esta União’, fato que lhes
abrirá as portas do ‘oitavo dia da criação’; no ‘nono dia’ esta União se
tornará Comunhão e, no ‘décimo dia’ a Comunhão se tornará ‘fusão’ com a
‘total integração das formas nas Centelhas que as gerou’. Por isso, Pedro
pede que esta ‘Energia Feminina’, que é predominante nas ‘formas
manifestadas pela Centelha’, seja apartada deles, a fim de que possam
realizar a ‘União Íntima com Ela’, e a consequente resposta da Centelha,
através da boca de Jesus, Seu Instrumento, dizendo: ‘Eu mesmo atrairei o
Feminino [as formas] para que se torne Masculino [Centelha], um Espírito
Vivo; porque toda forma [Princípio Feminino] que se fizer Um com a
Centelha [Princípio Masculino] entrará no reino’.

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Sebastião Anselmo

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O Evangelho Segundo Tomé – Um Guia para a Sabedoria
Acredita-se que ‘O Evangelho Segundo Tomé’ foi escrito ainda antes
dos assim chamados ‘Evangelhos Canônicos’, mas foi recompilado por
volta do ano 140 [A.D.] e seriamente estudado por alguns ‘Pais da Igreja’,
entre ele, Orígenes [185-254]; porém, foi considerado ‘apócrifo’ no
Segundo Concílio de Nicéia [ano 787]. Depois de ter sido excluído dos
textos ‘canônicos’, este Evangelho só voltou a ser conhecido e estudado no
século XX, quando o professor H. G. Evelyn White, da Universidade de
Cambridge, publicou The Sayings of Jesus from Oxyhrynchus – uma
tradução em inglês de dois papiros em grego do século III – onde constam
somente 14 Sentenças do Texto Original, e que foram descobertos, em mau
estado, entre 1896 e 1907 na famosa ‘Estação Arqueológica de
Oxyrhynchus’. O Texto Original Completo somente ficou conhecido do
grande público a partir de 1981, quando a Harper Row
Publishers publicou ‘The Nag Hammadi Library’, tradução em inglês dos
cinquenta e dois tratados – escritos em copta – encontrados próximo de
Nag Hammadi, em 1.945.

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