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IBRAM DocumentacaoMuseologica M1
IBRAM DocumentacaoMuseologica M1
Acessibilidade em Museus
Acervo Museológico
Sumário
Documentação de Acervo Museológico....................................................................3
Apresentação........................................................................................................... 3
Apresentação
Olá!
Este curso tem como objetivo ajudar no processo de documentação e gestão dos
acervos museológicos, estabelecendo caminhos para o tratamento documental, e
incentivando o acesso à informação dos objetos museológicos.
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Os museus estão voltados para a preservação, a pesquisa e a comunicação dos tes-
temunhos materiais do homem e do seu meio ambiente: seu patrimônio cultural e
natural. A função básica de preservar engloba os atos de coletar, adquirir, armazenar,
conservar, restaurar, pesquisar, expor e educar sobre aqueles objetos-testemunho:
ações que dependem da documentação.
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Módulo 1 - Entrada do objeto
Para iniciarmos este módulo, vamos precisar incorporar dois conceitos que aparecem
implícita e explicitamente na frase acima: o que é um bem cultural e o que é um bem
cultural musealizado.
Bens culturais são todos aqueles produzidos pela cultura humana ou pela natureza,
que se transformam em testemunhos materiais e imateriais da trajetória do homem
sobre o seu território. Já os bens culturais musealizados são justamente esses bens
culturais que, ao serem protegidos por museus, se constituem como patrimônio
museológico.
Portanto, um bem cultural musealizado nada mais é do que um objeto que se tornou
acervo de um museu. Entendido isso, vamos conhecer as razões que fazem um objeto
entrar no museu.
Portanto, para Pierre Nora, os museus são vinculados às musas por via materna sen-
do “lugares de memória”; mas por via paterna são vinculados a Zeus, sendo estrutu-
ras e lugares de poder. “Assim, os museus são a um só tempo: lugares de memória e
de poder. Estes dois conceitos estão permanentemente articulados em toda e qual-
quer instituição museológica”. (CHAGAS, 2006. p. 31).
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Saiba mais
No campo da historiografia, a história tradicional começou a ser contesta-
da no final da década de 1920, por um movimento historiográfico francês
chamado “Movimento dos Annales”. Novos atores, para além dos grandes
monarcas e estadistas, passaram a ser sujeitos históricos das narrativas
acadêmicas.
Essa era, portanto, uma das razões mais antigas para um objeto ser musealizado:
sua estreita ligação com instâncias ou pessoas de poder. É claro que o pensar e o
fazer museológico já passaram por inúmeras revisões: as razões para um objeto ser
musealizado são as mais diversas na atualidade. Essas transformações no campo
dos museus existem desde a década de 1950 e foram consagradas na década de
1970, com a Declaração da Mesa Redonda de Santiago, em 1972, quando houve a
ampliação do conceito de patrimônio, incluindo o ambiente natural, chegando-se ao
conceito de “Museu Integral”.
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Saiba mais
O Museu Integral leva em consideração a totalidade dos problemas da so-
ciedade, proporcionando à comunidade uma tomada de consciência do
seu próprio meio natural e cultural. Assim, os museus deveriam se engajar
socialmente, com participação da própria comunidade. O território e o pa-
trimônio estão ligados intimamente à comunidade, sendo esta população
ativa no museu e não mais se restringindo unicamente ao papel de visitan-
te. As transformações e o desenvolvimento social são aspectos básicos
para o desempenho desse novo museu: princípios da “Nova Museologia”.
Ao falar do passado: o museu fala do hoje. E isso claramente se reflete (ou deveria
refletir), inclusive, na entrada de novos itens em um museu.
Lembre-se que “bens culturais” são todos aqueles bens que se transformam em
testemunhos da trajetória do homem sobre o seu território: e todos eles são passíveis
de musealização! Qualquer objeto pode ser musealizado, basta que ele se enquadre
dentro da missão do museu e demais documentos norteadores, como a sua Política
de Aquisição e Descarte: falaremos sobre Política de Aquisição e Descarte mais
adiante neste curso, o documento que estabelece os critérios para a entrada e a saída
de itens no acervo de um museu.
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Importante
É importante frisar que o bem material incorporado a um museu perde
as suas funções originais e ganha outros valores simbólicos, artísticos,
históricos e/ou culturais, passando a corresponder ao interesse e objetivo
de preservação, pesquisa e comunicação de um museu.
Entendidas as razões para um objeto ser musealizado, agora vamos ao “como” esse
processo acontece. As formas de entrada podem ser várias: coleta, compra, doação,
legado, permuta, transferência, produção interna ou guarda temporária (cessão, co-
modato e fiel depositário). Conheça cada uma delas:
Coleta
Compra
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Doação
Modalidade em que uma pessoa destina seus bens culturais a um museu por testa-
mento. O legado pode ou não ter restrições, dependendo das considerações deixadas
em testamento. Exemplo: imóvel e acervo do Museu Casa da Hera, deixado em testa-
mento por Eufrásia Teixeira Leite.
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Permuta
Transferência
Produção interna
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Cessão de uso
Comodato
Fiel depositário
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Siga o objeto
A título de exercício, digamos que você decida organizar as caixas na ga-
ragem da sua casa e encontre alguns brinquedos. E, junto aos brinquedos,
alguns cartões de natal.
Talvez você pense em doar tanto os brinquedos quanto os cartões de natal a
algum museu da sua cidade que tenha uma Política de Aquisição e Descarte
que contemple a entrada desses objetos e, em razão disso, o museu aceite
formalmente a doação. Vamos juntos seguir a entrada documental desses
objetos doados pelos inúmeros setores técnicos do museu?
Saiba mais
É preciso observar que, dentro de um museu podem existir várias tipologias
de acervo: o acervo arquivístico, o bibliográfico e o museológico. Esse curso
trata sobre a documentação de acervo unicamente museológico.
É evidente que objetos tridimensionais (como mobiliário, roupas, utensílios
de cozinha, pinturas, entre tantos outros) integram o acervo museológico.
Mas a dúvida pode surgir quando falamos em documentos em papel.
Quando há no museu a entrada de documentos em papel (como cartas,
certidões de nascimento, desenhos, partituras, processos judiciais, entre
outros), os técnicos do museu devem optar, segundo seus critérios de aqui-
sição e documentação, pelo tratamento documental que darão a esses do-
cumentos em papel: se o tratamento documental da arquivologia ou da
museologia. Ou seja: documentos em papel tanto podem integrar o acervo
museológico (tema do nosso curso), como o acervo arquivístico – basta
que se decida e trabalhe corretamente cada um deles. Posteriormente, é
importante manter o padrão escolhido para novas aquisições semelhantes
ou de uma mesma coleção.
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A título de ilustração, digamos que os cartões de natal citados no exemplo,
entrem no museu seguindo o tratamento documental museológico, assim
como o pião e a boneca de pano.
Então, vejamos quais serão os lugares e eventos pelos quais os itens citados poderão
passar:
Documentação
É o primeiro setor por onde passarão os objetos que entram no museu e que pas-
sam a se chamar: bens culturais musealizados. Aqui o objeto deve entrar em carga
de patrimônio: receber o número de identificação, passando a compor o inventário
da instituição. Além disso, o museu criará uma ficha de catalogação para cada novo
item (com suas informações intrínsecas e extrínsecas - como veremos a seguir). Na
sequência, os objetos seguirão para a Reserva Técnica.
Reserva Técnica
Após passagem pela documentação, o objeto segue para a Reserva Técnica, um es-
paço destinado a garantir a preservação dos objetos que não estão em exposição.
Deve seguir diversas regras de adequação de mobiliário e de acondicionamentos, de
higienização, de controle ambiental, de pragas, de localização de todos os itens e de
segurança, sendo um espaço de restrição de acesso ao público. Além disso, a Reser-
va Técnica equilibra todas as ações técnicas necessárias ao prolongamento da vida
útil dos acervos.
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Reserva Técnica do Museu Nacional de Belas Reserva Técnica do Museu Histórico
Artes, Rio de Janeiro, RJ – Ibram. Nacional, Rio de Janeiro, RJ – Ibram. Esses
são os trainéis para os quadros da seção de
pinacoteca da Reserva Técnica desse museu.
Laboratórios de Restauração
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Laboratório de Conservação do Museu Victor Laboratório de restauração de obras de arte,
Meirelles, Florianópolis, SC – Ibram. Museu Histórico Nacional, Rio de Janeiro, RJ
– Ibram.
Exposição
Caso o objeto seja selecionado para compor a narrativa conceitual do museu perante
o público, ele segue para o circuito de exposição. Dentro das funções do museu, a ex-
posição apresenta-se como uma das formas mais tradicionais de comunicação. Uma
exposição pode ser de longa duração, de curta duração, itinerante, virtual, enfim: pode
ter diversos formatos e contar com diferentes tipos de acervos e de suportes. Ela
pode ser organizada em um lugar fechado, mas também a céu aberto (parque ou rua)
ou in situ, isto é, sem deslocar os objetos (como no caso de sítios naturais, arqueoló-
gicos ou históricos). O lugar da exposição apresenta-se como um lugar específico de
interações sociais, em que a ação é suscetível de ser avaliada. É isso que propicia o
desenvolvimento de ações educativas e de pesquisa de público.
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Vitrine com vestidos e louças do Império na sala “A construção da Nação”, Museu Histórico
Nacional, Rio de Janeiro - RJ - Ibram.
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Com o passar dos anos, diversos encontros internacionais serviram para debater te-
mas e práticas relacionadas a museus, contudo, em 1992, como resultado do se-
minário “A Missão dos Museus na América Latina Hoje: Novos Desafios”, realizado
na Venezuela, surge um marco referente ao tema - Documentação Museológica, a
Declaração de Caracas.
Saiba mais
Leia aqui a Declaração de Caracas de 1992:
http://www.ibermuseus.org/wp-content/uploads/2014/07/declaracao-
de-caracas.pdf
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Curso de Museus, 1939.
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Neste curso, portanto, documentar compreende “o conjunto de informações sobre
cada um dos itens das coleções e, por conseguinte, a representação destes por meio
da palavra, da imagem e da fotografia. Ao mesmo tempo, é um sistema de recupera-
ção de informação capaz de transformar as coleções dos museus de fontes de infor-
mações em fontes de pesquisa científica: em instrumentos de transmissão de conhe-
cimento” (FERREZ, 1994).
Este conceito apresenta uma ação interligada às demais atividades do museu, que
tem na Documentação Museológica uma espécie de catalizador e difusor de dados
dentro e para fora da instituição.
Importante
Embora a Documentação tenha sua matriz na Biblioteconomia e na Ciên-
cia da Informação, o processo de documentar em museus tem a sua es-
sência baseada na documentação do objeto tridimensional. Com isso, o
processo documental se adaptou a uma demanda específica das insti-
tuições museológicas, sendo entendido como: o “resgate de informações
sobre o objeto, tem como suporte algumas técnicas e procedimentos re-
tirados da documentação da Biblioteconomia, que foram adequadas aos
objetivos relacionados com a questão do estudo do objeto, sua segurança
e controle” (NASCIMENTO, 1994).
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Segundo Mensch (1987, 1990), os objetos produzidos pelo homem são portadores de
informações intrínsecas (invariáveis) e extrínsecas (variáveis) que, para uma aborda-
gem museológica, precisam ser identificadas em 3 categorias. As informações intrín-
secas são as deduzidas do próprio objeto, através da análise das suas propriedades
físicas. Por exemplo:
a) Composição material
b) Técnica construtiva
c) Morfologia
“Na média dos museus, a documentação, por si, não é prioritária, provavelmente porque
é invisível. A documentação é produto de várias pessoas: registradores, curadores,
conservadores, etc. Por isso, ela varia de acordo com os interesses profissionais, assim
como com os pontos de vista pessoais dos indivíduos envolvidos. O resultado é que a
documentação dos acervos é, geralmente, muito desigual, e raramente integrada em
um sistema completo”. (Elizabeth Orna & Charles Pettitt 1980)
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Na busca por criar padrões para a documentação do acervo museológico, é impor-
tante estabelecer critérios de registro de dados e mantê-los ao longo de todo o pro-
cesso documental, para a criação de um Sistema de Documentação Museológica, o
qual veremos mais à frente neste curso.
Saiba mais
Existem duas tendências no trato com a documentação: uma reflexiva, que
segue perspectiva francesa e observa o objeto como documento e suporte
de informações; e outra chamada de tecnicista, que visa os registros e o
acesso rápido aos dados. Esta última é a linha norte-americana, e nela bus-
ca-se o controle das coleções por meio de conexões entre registros, fichas
e fichários, com o cruzamento de informações que podem ser recuperadas
(CERAVOLO, 2000). O resultado dessas duas escolas é o processo de Do-
cumentação realizado nos museus do Brasil.
Como podemos observar, os registros sobre o histórico dos objetos podem orientar
processos de conservação e restauração, ajudar no gerenciamento e monitoramento
dos acervos e orientar curadorias, cujo intuito seja o de divulgar o acervo por meio de
exposições e das ações educativas orientadas para as demandas diferenciadas do
público do museu.
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Portanto, inventariar o acervo de um museu é obrigação legal: constitucional. Essa
obrigação se estende a todos os museus: tanto os museus públicos (por indicação
literal do texto constitucional, que informa “O Poder Público protegerá”) quanto os
museus privados (no trecho que informa “com a colaboração da comunidade”).
Legislação
Ao promulgar lei que regulamenta o setor museológico, a Lei n. 11.904 de
2009, conhecida como Estatuto de Museus, o Estado Brasileiro reforça a
importância e a obrigatoriedade de inventariar os acervos museológicos em
seus artigos 39 e 40:
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E o Decreto n. 8124/2013, que regulamenta dispositivos tanto do Estatuto
de Museus (Lei nº. 11904/2009) quanto da Lei de criação do Ibram (Lei n.
11906/2009), institui que:
a) o Registro de Museus;
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também). Portanto, torna-se importante a adequação e atualização constante dos
inventários dos museus do país ao INBCM.
Saiba mais
Constituição da República Federativa do Brasil, 1988
Como desdobramento dessa lei, foi criado o Conselho Federal de Museologia - CO-
FEM que estabeleceu em seu Código de Ética Profissional do Museólogo a obrigação
de: “Seguir as normas aceitas internacionalmente (ICOM/UNESCO) no que tange à
aquisição, documentação, conservação, exposição e difusão educativa dos acervos
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preservados nos museus, contribuindo para a salvaguarda das coleções e divulgação
junto ao público; bem como em relação aos trabalhos museológicos extramuros”.
Por sua vez, o ICOM estabeleceu seu código de ética para museus, que constitui-se
em instrumento de auto-regulamentação profissional que traz uma série de princípios
fundamentados em diretrizes para práticas profissionais desejáveis.
Sobre o ato de documentar, “os acervos dos museus devem ser documentados de
acordo com normas profissionais reconhecidas. Esta documentação deve permitir a
identificação e a descrição completa de cada item, dos elementos a ele associados,
de sua procedência, de seu estado de conservação, dos tratamentos a que já foram
submetidos e de sua localização. Estes dados devem ser mantidos em ambiente
seguro e estar apoiados por sistemas de recuperação da informação que permitam o
acesso aos dados por profissionais do museu e outros usuários autorizados”.
Saiba mais
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Política de Aquisições e Descartes
Lembrando o início deste módulo, que falava como um objeto se torna um bem
cultural musealizado, trataremos agora de um documento fundamental para o bom
funcionamento de um museu: a Política de Aquisições e Descartes. Esse documento
serve para que o museu:
Importante
É importante que esse documento, assim como todos os demais docu-
mentos de gestão de um museu, seja elaborado de forma participativa. O
Ibram recomenda que os museus criem comissões técnicas para analisar
todas as formas de aquisições e descartes da instituição. E, sempre que
necessário, recomendamos que o museu solicite a colaboração de um
especialista externo para auxiliar o parecer da comissão técnica.
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II - diretrizes, procedimentos e critérios para as aquisições e os descartes de bens
culturais;
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Encerramento do módulo 1
Vimos neste primeiro Módulo como um objeto se torna um bem cultural musealizado,
além dos lugares que o objeto passa por dentro de um museu. Também estudamos um
breve histórico, o conceito, a importância e a legislação relacionada à documentação
museológica.
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