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CONTRATOS ADMINISTRATIVOS
A palavra “contrato” origina-se do latim contractus, que significa, acordo de vontades, pacto. O
contrato é um acordo de vontades com a finalidade de criar obrigações e direitos.
A diferença entre um contrato e um ato é que o ato é unilateral enquanto que o contrato é um ato
bilateral ou, até mesmo, multilateral e decorre do acordo entre as partes.
Todo contrato é regido por dois princípios;
lex inter pars (lei entre as partes): o estipulado pelas partes em um contrato gera lei entre elas.
pacta sunt servanda (observância do pactuado): as partes estão obrigadas a cumprirem fielmente o
que prometeram uma a outra.
Sobre o assunto “contratos da Administração Pública” existe alguma controvérsia quanto aos
tipos de contratos que a Administração pode realizar, mas é corrente dominante, que deve ser adotada
em concursos, que a Administração Pública pode celebrar contratos regidos pelo direito público (lei
8.666/931) e contratos regidos pelo direito privado (Código Civil e Comercial), assim, temos dois tipos de
contratos da Administração:
Contratos públicos, chamados, também, de administrativos (objeto de estudo deste capítulo);
Contratos privados ou civis.
O que diferencia os tipos de contrato que a Administração celebra é o regime jurídico, ou seja, o
conjunto de leis a que se submetem.
O fato da Administração Publica ser parte de um contrato não o caracteriza como um contrato
administrativo, mas sim o fato dele ser regido pela lei 8.666/93 (lei de licitações e contratos).
Os contratos privados da Administração regem-se pelo Código Civil ou Comercial, enquanto que
os contratos públicos da Administração são regidos principalmente pela Lei de Licitações e Contratos (lei
8.666/93) e, apenas subsidiariamente, pelo Código Civil e Comercial, por isso possuem características
especialíssimas, estando sujeitos à cláusulas especiais que vão além do que é comum o direito,
conhecidas como CLÁUSULAS EXORBITANTES.
Importante estabelecer as diferenças entre os contratos administrativos que a Administração
celebra com os particulares sob regime de direito público e os convênios que a Administração celebra
com entidades públicas ou privadas para a realização de objetivos de interesse comum. Assim, estude
com atenção o tópico comparativo a seguir, sempre lembrando que convênio não é modalidade de
contrato.
1
Neste capítulo sobre “Contratos Administrativos” toda citação de dispositivo legal desacompanhada do número
da norma, refere-se à lei 8.666/93.
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O valor pago fica vinculado à utilização prevista no ajuste, enquanto que no contrato é irrelevante
qual a utilização do valor pago ao contratado.
No convênio não é exigida a licitação, mas no contrato, em princípio, ela é obrigatória.
O convênio pode ser desfeito a qualquer momento sem penalidades, enquanto que a rescisão
do contrato pode acarretar penalidades.
Contrato Administrativo segundo o mestre Hely Lopes Meirelles “é o ajuste que a Administração
Pública, agindo nessa qualidade, firma com o particular ou outra entidade administrativa para a
consecução de objetivos de interesse público, nas condições estabelecidas pela Própria Administração.”
Os contratos Administrativos, subespécie dos contratos da Administração, possuem
determinadas características especiais, sendo consensuais, plurilaterais, formais, onerosos, comutativos
e realizados intuito personae, além da presença de “cláusulas exorbitantes”:
consensuais: há um acordo de vontades;
plurilaterais: realizados entre mais de uma parte;
formais: devem ser expressos por escrito e com requisitos especiais;
O artigo 60, parágrafo único, da lei de licitações, permite os contratos verbais na Administração
Pública, desde que os valores sejam inferiores a R$4.000,00 (quatro mil reais).
onerosos: são remunerados na forma pactuada entre as partes;
comutativos: estabelecem compensações recíprocas e equivalentes entre as partes;
realizados intuito personae: devem ser executados pelo próprio contratado;
presença de cláusulas exorbitantes: atribuem prerrogativas à Administração.
É o contrato administrativo que objetiva uma construção, uma reforma ou, ainda, uma ampliação
de imóvel destinado ao uso público ou à prestação de serviço público. O contrato de obra pública admite
duas modalidades de regime de execução:
a) por empreitada: atribui ao particular a execução da obra por sua própria conta e risco, mediante
uma remuneração previamente pactuada. O empreiteiro de uma obra pública não goza de inteira
liberdade na execução do contrato, estando sujeito a supervisão e fiscalização da Administração
Pública. Pode ser por preço global, que é aquela onde se ajusta a execução do contrato por preço
certo, embora possa ser reajustado, previamente estabelecido para a totalidade da obra, neste caso
o pagamento pode efetuar-se parceladamente nas datas prefixadas ou na conclusão da obra ou de
cada etapa. Pode ser, ainda por preço unitário, onde se contrata a execução por preço certo de
unidades determinadas.
b) por tarefa, outorga-se ao particular contratante a execução de pequenas obras ou parte de
obra maior, mediante remuneração por preço certo, global ou unitário.
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Contrato de Serviço
É todo ajuste realizado pela Administração e que tenha por objeto uma atividade prestada à
mesma, para atendimento de suas necessidades ou de seus administrados. Para fins de contratação é
necessária a distinção dos tipos de serviços:
a) Serviços comuns: são aqueles que não exigem habilitação especial para sua execução;
b) Serviços técnicos profissionais: são os que exigem habilitação legal para sua execução. O que
caracteriza o serviço é a exclusividade de sua execução por profissional habilitado;
c) Contratos de trabalhos artísticos: são os que visam a realização de obras de arte; exige a licitação,
quando não lhe interessarem os atributos pessoais.
Contrato de Fornecimento
É o contrato pelo qual a Administração adquire coisas móveis que são necessárias à realização
de suas obras ou à manutenção de seus serviços. Admite três modalidades de fornecimento:
a) Integral: a entrega da coisa deve ser feita de uma só vez e na sua totalidade;
b) Parcelado: exaure-se com a entrega final da quantidade contratada;
c) Contínuo: a entrega é sucessiva e perene.
Contrato de Concessão
a) concessão de serviço público: tem por objeto a transferência da execução de um serviço do Poder
Público ao particular, que será remunerado por meio de tarifa cobrada dos usuários.
b) concessão de obra pública: tem por objeto a delegação a um particular da execução e exploração
de uma obra pública ou de interesse público, para uso da coletividade, mediante remuneração ao
concessionário, por tarifa.
c) concessão de uso de um bem público: é a outorgar ao particular da faculdade de utilizar um bem
da Administração segundo a sua destinação específica, tal como um hotel, um local turístico ou uma
área em mercado pertencente ao Poder Público concedente.
Contrato de GESTãO
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São cláusulas indispensáveis ao contrato administrativo (art. 55), ou seja, que todo contrato
regido pela lei de licitações deve conter, as cláusulas que estabeleçam:
o objeto e seus elementos característicos;
o regime de execução ou a forma de fornecimento;
o preço e as condições de pagamento, os critérios, data-base e periodicidade do reajustamento de
preços, os critérios de atualização monetária entre a data do adimplemento das obrigações e a do
efetivo pagamento;
os prazos de início de etapas de execução, de conclusão, de entrega, de observação e de
recebimento definitivo, conforme o caso;
o crédito pelo qual correrá a despesa, com a indicação da classificação funcional programática e da
categoria econômica;
as garantias oferecidas para assegurar sua plena execução, quando exigidas;
os direitos e as responsabilidades das partes, as penalidades cabíveis e os valores das multas;
os casos de rescisão;
o reconhecimento dos direitos da Administração, em caso de rescisão administrativa;
as condições de importação, a data e a taxa de câmbio para conversão, quando for o caso;
a vinculação ao edital de licitação ou ao termo que a dispensou ou a inexigiu, ao convite e à proposta
do licitante vencedor;
a legislação aplicável à execução do contrato e especialmente aos casos omissos;
a obrigação do contratado de manter, durante toda a execução do contrato, em compatibilidade com
as obrigações por ele assumidas, todas as condições de habilitação e qualificação exigidas na
licitação.
o foro da sede da Administração para dirimir qualquer questão contratual, salvo nas licitações
internacionais para a aquisição de bens e serviços cujo pagamento seja feito com o produto de
financiamento concedido por organismo financeiro internacional de que o Brasil faça parte, ou por
agência estrangeira de cooperação, nem nos casos de contratação com empresa estrangeira, para
a compra de equipamentos fabricados e entregues no exterior, desde que para este caso tenha
havido prévia autorização do Chefe do Poder Executivo, nem nos casos de aquisição de bens e
serviços realizada por unidades administrativas com sede no exterior.
Algumas destas cláusulas são comuns aos contratos privados, outras, são próprias de direito
administrativo. As cláusulas próprias de direito administrativo é que caracterizam um “contrato
administrativo”, ou seja, a principal diferença entre um contrato privado e um contrato administrativo e
que o último, por ser regido pela lei de licitação e contratos, possui as chamadas “cláusulas exorbitantes”.
CLÁUSULAS EXORBITANTES
Cláusulas exorbitantes são as que excedem do Direito Privado para instituir uma vantagem para
a Administração. As cláusulas exorbitantes somente são possíveis em um contrato administrativo em
razão da necessidade de proteção do interesse público e da prevalência deste interesse público sobre o
interesse particular.
As cláusulas exorbitantes atribuem a Administração, no interesse do serviço público, as mais
diversas prerrogativas. Dessas prerrogativas as principais são as que acarretam a possibilidade de:
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Modificação unilateral
Embora o contratado se torne lei entre as partes, devendo ser observado o que foi pactuado
(pacta sunt servanda), é admitida pela doutrina e pelo Direito Positivo sua modificação, sob certas
circunstâncias e condições (art. 65) quando:
houver modificação do projeto ou das especificações, para melhor adequação técnica aos seus
objetivos;
necessária a modificação do valor contratual em decorrência de acréscimo ou diminuição quantitativa
de seu objeto, nos limites permitidos pela lei.
A possibilidade de modificação unilateral dos contratos, por parte da Administração, sofre
restrições e para que possamos melhor compreender essas restrições é necessário precisar a natureza
das cláusulas existentes nos contratos administrativos. Essas cláusulas são de duas ordens: as
regulamentares e as econômicas.
As cláusulas regulamentares são as que dispõem sobre o objeto do contrato e sua execução
(fiscalização, penalidades, etc.), podendo ser alteradas ou suprimidas pela Administração, quando o
interesse coletivo o exigir. As cláusulas econômicas são as que estabelecem a equação financeira do
contrato (remuneração do contrato), sendo inalteráveis, a fim de preservar o equilíbrio econômico-
financeiro inicial da equação, desta forma, por exemplo, se for realizado um aditamento no contrato
aumentando as obrigações do contratado a sua remuneração deverá aumentar na mesma proporção e,
da mesma forma, caso haja uma diminuição de suas obrigações, também diminuirá a sua remuneração
na mesma proporção.
As cláusulas econômico-financeiras e monetárias dos contratos administrativos somente
poderão ser alteradas com prévia concordância do contratado.
O poder de modificação unilateral é próprio da Administração, podendo ser exercido ainda que
não previsto expressamente em lei ou em cláusula contratual, porém esta característica não é atividade
discricionária da Administração, estando vinculada a uma melhor adequação do contrato às finalidades
de interesse público (art. 58, I).
Existem duas hipóteses que admitem a modificação unilateral do contrato:
para melhor adequação técnica aos seus objetivos, normalmente para corrigir erros no projeto ou
para a adoção de técnicas novas (art. 65, I, a);
a fim de preservar o equilíbrio econômico-financeiro em decorrência de acréscimo ou diminuição
quantitativa do objeto.
A possibilidade de alteração contratual unilateral em favor da Administração não contraria o
principio do equilíbrio econômico-financeiro do contrato, desde que este equilíbrio seja mantido. Assim,
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Rescisão unilateral
A rescisão é o desfazimento do contrato, durante o seu período de execução, por inadimplemento
de uma das partes, em decorrência de acontecimentos que impeçam ou tornem inconveniente o
prosseguimento do pactuado ou pela ocorrência de fatos que acarretem seu rompimento de pleno direito.
Os contratos administrativos podem ser rescindidos unilateralmente (rescisão administrativa),
por escrito, nos casos de:
1. interesse público;
2. inadimplemento ou descumprimento de obrigações a cargo do contratante particular;
3. ilegalidade.
1. A possibilidade de rescisão por interesse público funda-se na variação que esse interesse pode
sofrer ao longo da vigência do contrato, não possui caráter punitivo, tendo o contratante o direito de ser
indenizado. O contratante somente tem direito a indenização, não podendo opor-se a rescisão (art. 79,
§ 2º). Assim, constitui motivo para rescisão do contrato o interesse público, de alta relevância e amplo
conhecimento, justificado e determinado pela máxima autoridade da esfera administrativa a que está
subordinado o contratante e exaradas no processo administrativo a que se refere o contrato (art. 78, XII).
2. A rescisão por motivo de descumprimento de cláusula contratual ou disposição legal (art. 78),
que enseje a pena de rescisão, pode ocorrer em razão de:
não cumprimento de cláusulas contratuais, especificações, projetos ou prazos;
o cumprimento irregular de cláusulas contratuais, especificações, projetos e prazos;
lentidão do seu cumprimento, levando à Administração a comprovar a impossibilidade da conclusão
da obra, do serviço ou do fornecimento, nos prazos estipulados;
atraso injustificado no início da obra, serviço ou fornecimento;
paralisação da obra, do serviço ou do fornecimento, sem justa causa e prévia comunicação à
Administração;
subcontratação total ou parcial do seu objeto, a associação do contratado com outrem, a cessão ou
transferência, total ou parcial, bem como a fusão, cisão ou incorporação, não admitidas no edital e
no contrato;
desatendimento das determinações regulares da autoridade designada para acompanhar e fiscalizar
a sua execução, assim como a de seus superiores;
cometimento reiterado de faltas;
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A ilegalidade da licitação e sua conseqüente anulação, acarreta a anulação do contrato por ela gerado.
Fiscalização
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Aplicação de sanções
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Garantia Contratual
O Estatuto Federal Licitatório, em seu art. 56, garante à Administração Pública, desde que
prevista no edital, a prerrogativa de exigir do contratado uma garantia, cuja finalidade é assegurar a
execução do contrato, por esse motivo essa garantia somente pode ser exigida do licitante vencedor.
É necessário fazer a observação de que a garantia, aqui estudada, não deve ser confundida com
a exigência de garantia para participação de licitação como condição a ser atendida por todos os
licitantes, no caso de ser solicitada, na documentação relativa à qualificação econômico-financeira (art.
31, III).
Caberá ao contratado optar por uma das modalidades de garantia previstas no estatuto licitatório,
a saber: caução em dinheiro ou títulos da dívida pública, seguro-garantia ou a fiança bancária (art. 56,
§1º). Após a execução do contrato a garantia prestada pelo contratado será liberada ou restituída, e,
quando prestada em dinheiro, terá seu valor corrigido.
As garantias de caução e a fiança bancária são consideradas alternativas, ou seja, a exigência
de uma exclui a outra, porém podem ser pedidas concomitantemente com o seguro de pessoas e bens
e o compromisso de entrega de material ou equipamento.
A caução é a reserva de numerários (dinheiro ou títulos da dívida pública) que o contratado faz
para garantir a execução do contrato. Também é conhecida por garantia “real”, por consistir na entrega
de bens à Administração contratante. Vale ressaltar que a escolha cabe ao contratado, inclusive no que
se refere a escolha de títulos da dívida pública (federais ou estaduais) ou dinheiro.
O valor da garantia está limitado a, no máximo, 5% (cinco por cento) do valor do contrato, salvo para
obras, serviços e fornecimentos de grande vulto envolvendo alta complexidade técnica e riscos
financeiros consideráveis, demonstrados através de parecer tecnicamente aprovado pela autoridade
competente, quando o limite de garantia poderá ser elevado para até 10% (dez por cento) do valor do
contrato.
O seguro-garantia, modalidade nova no Brasil, tendo sido introduzida quando das obras do
“Metrô” de São Paulo, é a obrigação assumida em nome da seguradora para garantir a plena execução
do contrato. Através de uma apólice de seguro, a seguradora assume a responsabilidade de execução
do contrato ou indenização à Administração Pública até o limite mencionado na referida apólice.
A fiança bancária é a garantia oferecida por uma instituição bancária que, perante a
administração Pública contratante, se torna responsável pelas obrigações assumidas no instrumento
contratual pelo contratado.
Retomada do objeto
Retenção de créditos
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Embora as garantias oferecidas pelo contratado à Administração devam cobrir os valores devidos
em razão da inadimplência do contrato (art. 56), no caso de ser insuficiente a garantia, a Administração
pode descontar a diferença apurada dos créditos a que o contratado eventualmente tenha a receber.
Esta prerrogativa de descontar os créditos a receber do contratado é encontrada:
como conseqüência da rescisão unilateral do contrato (art. 80, IV);
com o intuito de saldar multas impostas ao contratado por atraso injustificado na execução do
contrato (art. 86, §3º);
como resultado da inexecução total ou parcial do contrato (art. 87, §1º).
Se a retenção dos créditos se mostrar insuficiente, a Administração poderá cobrar o saldo
restante por via judicial.
TEORIA DA IMPREVISÃO
CLÁUSULA “REBUS SIC STANDIBUS”
Os contratos têm como princípio que o celebrado deve ser rigorosamente cumprido, como lei
entre as partes. Nos contratos privados, assim como nos contratos administrativos, este principio é
suavizado pelo preceito do “rebus sic standibus” (cláusula usada em contratos, para significar a
permanência do atual estado das coisas, o seu significado corresponde a “enquanto as coisas
permanecerem como estão”, “se as coisas permanecerem assim” ou ainda “ficando tudo como está”) ou
teoria da imprevisão.
De acordo com a doutrina dominante, a aplicação da teoria da imprevisão nos contratos
administrativos têm como pressuposto a ocorrência de atos ou fatos supervenientes ao contrato,
imprevistos e imprevisíveis. Defende-se que, ainda que a ocorrência de circunstâncias excepcionais não
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libera o contratado de suas obrigações pactuadas, também não é justo que ele responda sozinho pelos
prejuízos sofridos em decorrência de um evento imprevisto ou imprevisível.
Assim, havendo um desequilíbrio nas obrigações econômico-financeiras do contrato, deverá
haver uma repactuação que vise restabelecer a eqüidade das obrigações contratuais, desde que o fato
que causou o desequilíbrio seja:
de ocorrência imprevisível;
estranho à vontade das partes;
causador de desequilíbrio acentuado no contrato;
inevitável.
A doutrina reconhece como eventos da teoria da imprevisão que justificam uma repactuação do
contrato os motivos de força maior, causo fortuito, fato do príncipe, fato da Administração e as
interferências imprevistas.
Assim como nos contratos de direito privado, nos contratos administrativos as partes podem
invocar a ocorrência de força maior ou de caso fortuito, a fim de eximirem-se das obrigações contratuais,
desde de que devidamente comprovados e que impeçam a execução do contrato. (art. 78, XVII). No
Código Civil Brasileiro, assim como no estatuto licitatório, também encontramos a figura da força maior
e do caso fortuito (art. 393 caput e parágrafo único).
“Art. 393. O devedor não responde pelos prejuízos resultantes de caso fortuito ou força
maior, se expressamente não se houver por eles responsabilizado.
Parágrafo único - O caso fortuito ou de força maior verifica-se no fato necessário, cujos
efeitos não era possível evitar ou impedir.”
Força maior é definida como o evento humano que cria para o contratado a impossibilidade
intransponível de executar o contrato nos moldes pactuados (ex.: greve de funcionários do setor de
transporte).
É considerado caso fortuito o evento da natureza que cria para o contratado a impossibilidade
intransponível de executar o contrato regularmente, sendo necessário que este evento seja imprevisível
e inevitável (terremoto ou furacão em zonas não sujeitas regularmente a esses fenômenos).
A doutrina não é unânime quanto à definição de caso fortuito e força maior, sendo que alguns
autores apresentam as definições de maneira invertida, ou seja, defendendo que força maior é evento
da natureza e caso fortuito é evento humano.
Estes acontecimentos imprevistos e imprevisíveis criam a uma das partes do contrato um
impedimento intransponível para a sua execução conforme o pactuado. Não basta uma simples
dificuldade, é necessário que esteja caracterizada a impossibilidade intransponível de execução do
contrato, além disso, essa impossibilidade deve ser imprevisível.
FATO DO PRÍNCIPE
É qualquer determinação do Poder Público, de caráter geral, imprevista e imprevisível, que incida
na execução do contrato administrativo, de forma a onerá-lo substancialmente.
É necessário que a determinação da Administração seja de caráter geral e reflita indiretamente
no contrato, sendo exteriorizado por lei, regulamento, portaria, resolução, etc., de natureza geral. Temos
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FATO DA ADMINISTRAÇÃO
Segundo o mestre Hely Lopes Meirelles “Fato da Administração é toda ação ou omissão do
Poder Público que, incidindo direta e especificamente sobre o contrato, retarda, agrava ou impede a sua
execução”.
O fato da Administração e o fato do príncipe diferenciam-se porque o primeiro incide diretamente
no contrato e o segundo indiretamente. O fato da Administração é especifico e o fato do príncipe é geral.
Temos como exemplo do fato da Administração a não liberação de área ou local para execução de obra,
serviço ou fornecimento, nos prazos contratuais; quando a Administração não realiza as desapropriações
necessárias ou pratica qualquer ato impeditivo dos trabalhos a cargo da outra parte.
São considerados, ainda, fatos da Administração, os seguintes eventos:
a suspensão de sua execução, por ordem escrita da Administração, por prazo superior a 120 (cento
e vinte) dias, salvo em caso de calamidade pública, grave perturbação da ordem interna ou guerra,
ou ainda por repetidas suspensões que totalizem o mesmo prazo, independentemente do pagamento
obrigatório de indenizações pelas sucessivas e contratualmente imprevistas desmobilizações e
mobilizações e outras previstas, assegurado ao contrato, nesses casos, o direito de optar pela
suspensão do cumprimento das obrigações assumidas até que seja normalizada a situação;
o atraso superior a 90 (noventa) dias dos pagamentos devidos pela Administração decorrentes de
obras, serviços ou fornecimento, ou parcelas destes, já recebidos ou executados, salvo em caso de
calamidade pública, grave perturbação da ordem interna ou guerra, assegurado ao contratado o
direito de optar pela suspensão do cumprimento de suas obrigações até que seja normalizada a
situação;
a não liberação. por parte da Administração, de área, local ou objeto para execução de obra, serviço
ou fornecimento, nos prazos contratuais, bem como das fontes de materiais naturais especificadas
no projeto.
INTERFERÊNCIAS IMPREVISTAS
São ocorrências materiais desconhecidas ou não cogitadas pelas partes quando da realização
do contrato, mas que já existiam quando de sua celebração e que, quando surgem na sua execução de
modo surpreendente e excepcional, dificultam e oneram excepcionalmente o prosseguimento e a
conclusão dos trabalhos.
A diferença entre a interferência imprevista e os demais eventos que compõe a teoria da
imprevisão é que estes ocorrem depois do contrato, enquanto que a interferência imprevista já existia
antes do contrato, porém sua existência era desconhecida das partes. Outra diferença é que as
interferências imprevistas não são impeditivas da execução do contrato, mas sim criadoras de
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dificuldades e onerosidades para a conclusão dos trabalhos, o que torna necessário uma equação dos
preços e dos prazos à nova realidade encontrada.
É exemplo de interferência imprevista o encontro de um terreno rochoso, e não arenoso como
indicado pela Administração, de um sítio arqueológico ou de uma grande rocha na construção de um
túnel.
Conhecida como exceção do contrato não cumprido, este princípio encontra-se no art. 476 do
Código Civil Brasileiro, dispondo que se uma das partes não cumpre a sua obrigação, esta não pode
exigir da outra parte o cumprimento das suas. Assim, uma das partes pode-se eximir de suas obrigações
contratuais em decorrência do não cumprimento das cláusulas pela outra parte.
“CC, art. 476. Nos contratos bilaterais, nenhum dos contratantes, antes de cumprida a sua
obrigação, pode exigir o implemento da do outro.”
Esta exceção é pacificamente aplicada nos contratos de direito privado, porém nos contratos
administrativos esta aplicação tem sido restringida em decorrência dos princípios da continuidade e de
que o interesse público prevalece ao interesse individual.
Os contratos administrativos, em regra, não estão sujeitos a aplicação do exceptio non adimpleti
contractus, ou seja, o contratado não pode, a princípio, deixar de cumprir sua obrigação alegando que a
Administração deixou de cumprir as suas, estando obrigado a dar continuidade à execução do contrato,
ainda que a Administração não cumpra com suas obrigações.
Porém em alguns casos a exceção em pauta pode ser aplicada, podendo o contratado rescindir
unilateralmente o contrato em caso de:
o atraso superior a 90 (noventa) dias dos pagamentos devidos pela Administração decorrentes de
obras, serviços ou fornecimento, ou parcelas destes, já recebidos ou executados, salvo em caso de
calamidade pública, grave perturbação da ordem interna ou guerra, assegurado ao contratado o
direito de optar pela suspensão do cumprimento de suas obrigações até que seja normalizada a
situação;”
supressão, por parte da Administração, de obras, serviços ou compras, acarretando modificação do
valor inicial do contrato além do limite permitido na lei;
a suspensão de sua execução, por ordem escrita da Administração, por prazo superior a 120 (cento
e vinte) dias, salvo em caso de calamidade pública, grave perturbação da ordem interna ou guerra,
ou ainda por repetidas suspensões que totalizem o mesmo prazo, independentemente do pagamento
obrigatório de indenizações pelas sucessivas e contratualmente imprevistas desmobilizações e
mobilizações e outras previstas, assegurado ao contratado, nesses casos, o direito de optar pela
suspensão do cumprimento das obrigações assumidas até que seja normalizada a situação;
a não liberação, por parte da Administração, de área, local ou objeto para execução de obra, serviço
ou fornecimento, nos prazos contratuais, bem como das fontes de materiais naturais especificadas
no projeto;
RESCISÃO DO CONTRATO
A rescisão dos contratos pode efetivar-se de diversas formas: por ato unilateral da Administração
(rescisão administrativa), por acordo entre as partes (rescisão amigável), por decisão judicial (rescisão
judicial), por declaração de ocorrência de fato previsto como extintivo do contrato (rescisão de pleno
direito).
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RESCISÃO ADMINISTRATIVA
Já estudada aqui quando discorremos sobre a rescisão unilateral, é aquela efetivada por ato
unilateral da Administração, por inadimplência do contratado ou por interesse do serviço público. Em
qualquer dos casos a Administração pode rescindir unilateralmente o contrato, assumindo o objeto,
independentemente de ordem ou decisão judicial.
A rescisão administrativa por inadimplência do contratado ocorre quando este descumpre
cláusula essencial do contrato, retardando ou paralisando sua execução ou desvirtuando seu objeto,
constituindo-se em sanção e visando a continuidade do serviço público.
A rescisão administrativa por interesse público ou conveniência da Administração tem como
fundamento a variação do interesse público, que autoriza a rescisão contratual quando este se torna
inútil ou prejudicial à coletividade.
RESCISÃO AMIGÁVEL
Decorre do acordo entre as partes (art. 79, II), quando a Administração e o contratado entendem
ser melhor a rescisão do contrato. Para tal é necessária a conveniência para a Administração. Ocorre
normalmente nos casos de inadimplência sem culpa e nos que autorizam a rescisão por interesse
público.
A conveniência deve ficar nos limites do poder discricionário da Administração, exigindo-se que
o ato rescisório seja fundamentado por escrito pela autoridade competente (art. 79, § 1º).
A rescisão amigável tem efeito a partir da data em que foi firmada (ex nunc), devendo atender à
mesma forma e aos demais requisitos legais e regulamentares exigidos para a contratação, ou seja, se
esta foi feita através de escritura pública, a rescisão se dará por escritura pública.
RESCISÃO JUDICIAL
A rescisão judicial é a decretada pelo Poder Judiciário em ação proposta por uma das partes ou
por terceiros, admitindo-se pedidos acumulados de indenização, de retenção, compensação, de
cobrança de multas e outros decorrentes da relação contratual (art. 79, III).
A lei admite cinco hipóteses de pedido de rescisão pelo contratado:
a) a supressão, por parte da Administração, de obras, serviços ou compras, acarretando
modificação do valor inicial do contrato, além dos limites legais;
b) a suspensão de sua execução, por ordem escrita da Administração, por prazo superior a
120 (cento e vinte) dias;
c) o atraso superior a 90 (noventa) dias dos pagamentos devidos pela Administração
decorrentes de obras, serviços ou fornecimento, ou parcelas destes, já recebidos ou
executados;
d) a não liberação por parte da Administração, de área, local ou objeto para execução de obra,
serviço ou fornecimento, nos prazos contratuais;
e) a ocorrência de caso fortuito ou de força maior, regularmente comprovada, impeditiva da
execução do contrato.
No caso de ser a rescisão administrativa lesiva ao patrimônio público, esta poderá ser invalidada
através de ação popular, de iniciativa de qualquer cidadão (CF, art. 5º, LXXIII).
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“CF, art. 5º, LXXIII - qualquer cidadão é parte legítima para propor ação popular que vise a anular
ato lesivo ao patrimônio público ou de entidade de que o Estado participe, à moralidade
administrativa, ao meio ambiente e ao patrimônio histórico e cultural, ficando o autor, salvo
comprovada má-fé, isento de custas judiciais e do ônus da sucumbência;”
“CF, art. 5º, LXIX - conceder-se-á mandado de segurança para proteger direito líquido e certo,
não amparado por habeas corpus ou habeas data, quando o responsável pela ilegalidade ou
abuso de poder for autoridade pública ou agente de pessoa jurídica no exercício de atribuições
do Poder Público;
LXX - o mandado de segurança coletivo pode ser impetrado por:
a) partido político com representação no Congresso Nacional;
b) organização sindical, entidade de classe ou associação legalmente constituída e em
funcionamento há pelo menos um ano, em defesa dos interesses de seus membros ou
associados;
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