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evangelismo: em busca de
uma igreja discipuladora
Vi raios de luz provindo de cidades e vilas, dos lugares altos e baixos da Terra. A Pala-
vra de Deus era obedecida e, em resultado, havia em cada vila e cidade monumentos
seus. Sua verdade era proclamada por todo o mundo (WHITE, 1985, v. 3, p. 296-297).
Sim, foi-nos revelado que o Espírito de Deus voltará com grande poder. Acre-
dito, porém, que nada disso será possível enquanto uma porcentagem tão grande
Reavivamento e reforma no evangelismo: em busca de uma igreja discipuladora
da igreja não estiver trabalhando com Deus. Como lideres, é nosso dever motivar a
igreja a uma ação unida, para encontrarmos uma maneira por meio da qual as capa-
cidades, os talentos e os interesses de cada membro individual, possam ser utilizados
para o avanço da obra de Deus.
Segundo os arquivos estatísticos da Igreja Adventista do Sétimo Dia (IASD),3
a tabela a seguir apresenta a situação atual do crescimento evangelístico mundial na
igreja entre os anos 2000-2010, pelo conceito de adição4 e subtração.5
Deus chamou, de forma singular, a Igreja Adventista do Sétimo Dia para viver e
proclamar sua mensagem de amor e verdade para os últimos dias do mundo (Ap
14:6-12). O desafio de alcançar os mais de seis bilhões de pessoas no planeta Terra
com sua mensagem para o tempo do fim parece impossível. A tarefa é esmagadora.
De uma perspectiva humana, o rápido cumprimento da Grande Comissão de Cristo,
em algum momento próximo, parece improvável (Mt 28:19-20). A taxa de cresci-
mento da igreja simplesmente não está acompanhando o crescimento da população
mundial. Uma avaliação honesta de nosso impacto evangelístico atual no mundo
leva à conclusão de que, a não ser que haja uma mudança dramática, não concluire-
mos a comissão celestial nesta geração. A despeito de nossos melhores esforços, to-
dos os nossos planos, estratégias e recursos são incapazes de concluir a missão dada
por Deus para sua glória na Terra (IASD, 2011).
Após a leitura dos primeiros dos parágrafos do documento, fica claro que
para concluir a comissão celestial ainda nesta geração, é necessário uma “mudança
dramática”, uma alteração nas ideias e práticas. Para uma reflexão sobre isso, veja
algumas declarações do documento.
SOCIOLOGIA E ADVENTISMO
Deus chamou, de forma singular, a Igreja Adventista do Sétimo Dia para viver e proc-
lamar sua mensagem de amor e verdade para os últimos dias do mundo (Ap 14:6-12).
O desafio de alcançar os mais de seis bilhões de pessoas no planeta Terra com sua
mensagem para o tempo do fim parece impossível. A tarefa é esmagadora. De uma
perspectiva humana, o rápido cumprimento da Grande Comissão de Cristo, em
algum momento próximo, parece improvável (Mt 28:19-20).
Outras perguntas importantes devem ser levantadas neste momento: o que “pa-
rece impossível”? O que é “esmagador”? O que “parece improvável? Por que é “impos-
sível”? Por que “esmagador”? Por que “improvável”?
E uma das perguntas fundamentais que podemos extrair dessa introdução, prin-
cipalmente do fragmento citado acima, é buscar entender os porquês de a igreja não
estar “acompanhando o crescimento da população mundial”. Quais seriam essas ra-
zões? O fato é que no ano de 2010 a IASD mundial teve um crescimento anual de
1.050.785 membros, o que é equivalente, aproximadamente, ao número de crianças
nascidas em dois dias e meio no crescimento da população mundial. No mesmo perío-
do, a DSA teve uma adição anual de 209.452 membros, que equivale aproximadamente,
ao número de crianças que nascem em 13 horas.7 Segundo o site da PRB, em julho de
2010 estima-se que o nascimento de crianças tenha sido de 140.213.443. Nesse mesmo
período, a IASD mundial teve uma adição, em comparação com o crescimento popu-
lacional mundial, equivalente a 0,74% (1.050.785 membros).
7 Para uma referência de dados próxima a data do documento da Associação Geral, ver: <http://bit.
ly/1Cy9Mii>.
Reavivamento e reforma no evangelismo: em busca de uma igreja discipuladora
Note algo na citação acima: o que é disposto como sendo incapaz “de concluir a
missão dada por Deus para sua glória na Terra”? A atenção está toda no uso pro-
nominal e adjetival do parágrafo. Está nos “esforços” e nos “planos, estratégias e
recursos”. Sendo assim, para concluirmos a comissão celestial nesta geração, será
preciso uma “mudança dramática”, e o documento citado se refere a ela de maneira
especial. Nesse sentindo, uma pergunta deve ser feita: onde deve se ancorar a ênfase
de nossa visão da missão evangelizadora?
Portanto,
Ao chegar o tempo para que ela [a mensagem do terceiro anjo] seja dada com o
máximo poder, o Senhor operará por meio de humildes instrumentos, dirigindo
a mente dos que se consagram ao seu serviço. Os obreiros serão antes qualificados
pela unção de seu Espírito do que pelo preparo das instituições de ensino. Homens
de fé e oração serão constrangidos a sair com zelo santo, declarando as palavras que
Deus lhes dá. Os pecados de Babilônia serão revelados. Os terríveis resultados da
imposição das observâncias da igreja pela autoridade civil, as incursões do espir-
itualismo, os furtivos mais rápidos progressos do poder papal – tudo será desmas-
carado. Por meio destes solenes avisos o povo será comovido. Milhares de milhares
que nunca ouviram palavras como essas, escutá-las-ão (WHITE, 2008, p. 606).
Em segundo lugar, a igreja necessita com urgência dar maior atenção ao mo-
delo bíblico de evangelização, assinalado pelo mesmo Espírito, que se registra nas
Escrituras. Pode ser encontrado, em algumas ênfases da missão adventista, certo
exagero pragmático que tem levado a certo declínio da teologia (e prática) bíblica.
Poucos, no processo evangelizador, são capazes de articular as grandes verdades das
Reavivamento e reforma no evangelismo: em busca de uma igreja discipuladora
8 Pode-se definir a estrutura ministerial carismática como o serviço que cada membro de igreja desenvolve
de acordo com os dons concedidos pelo Espírito Santo, e que a comunidade eclesial reconhece como tal. A
mencionada estrutura ministerial nas origens das igrejas do Novo Testamento (NT) não foi uma realidade
puramente humana, mas um dom característico proveniente de Deus que, por meio de seu Espírito, edifi-
cou sua igreja. Deste modo, a igreja de Deus em Cristo se constitui dos que foram capacitados e habilitados
para funções diferentes, e que não são exercidas isolada e independentemente do corpo, mas no corpo, para
nutri-lo, desenvolvê-lo, uni-lo e aperfeiçoá-lo em sua missão. É o ministério “comum de todos” os crentes.
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O apóstolo parece sugerir que a estrutura presbiteral9 foi um dom de Cristo para
“discipular” a igreja que estava sendo administrada espontaneamente pela estrutura
carismática “dos santos”. O texto de Efésios 4:11-16 enfatiza dois claros conceitos. Pri-
meiro, Cristo designa o que a igreja necessita para crescer de forma integral, coerente e
solidária, como apóstolos, profetas,10 evangelistas e pastores-mestres.11 Segundo, Pau-
9 Paulo também sustentou que certos crentes da estrutura ministerial carismática foram chamados e de-
signados divinamente para desenvolver outro tipo de liderança na igreja. Assim, a concepção de que todo
cristão recebe o Espírito e dons, passa a um segundo plano para dar lugar a uma teologia do ministério
presbiteral característico “de uns poucos.” Lucas registra que Paulo designava “presbíteros” em cada
igreja fundada por ele (At 14:23), estendendo assim às comunidades eclesiásticas helênicas a mesma
estrutura presbiteral que se desenvolvia na igreja de Jerusalém (At 11:30). A linguagem do livro de Atos
sugere que os “presbíteros” (At 20:17), também eram chamados “bispos” (epíscopos, Atos 20:28). Esse é
o ministério “de uns poucos”, a favor “dos todos”, os crentes (carismáticos).
10 Os apóstolos e os profetas constituem “o fundamento [...], sendo ele mesmo, Cristo Jesus, a pedra angular”
(Ef 2:20; 3:5). Segundo os evangelhos e outras fontes, os apóstolos são os doze principais discípulos de
Cristo (Mt 10:2; Lc 22:14; At 1:2). Os profetas são os do NT, possivelmente os mencionados em 1Co 11 e 14 e
cujas atividades são referidas em Rm 12:6; 1Tes 5:20; At 11:27; 13:1, 2; 15:32; 19:6; 21:9, 10; Ap 1:3; 10:11; 16:6;
18:20, 24; 19:10; 22:6-10, 18, 19. Os apóstolos e profetas formaram o fundamento no sentido de serem reci-
pientes primários e autoritativos da revelação. Os apóstolos receberam poder e autoridade de seu Senhor
ressuscitado, enquanto que os profetas receberam autoridade carismática. Os apóstolos formaram um elo
72 fundamental com o Cristo ressuscitado e, junto aos profetas, deram interpretação básica ao que Deus havia
feito em Cristo pela edificação da igreja. Paulo sustentava que os apóstolos e profetas (Ef 3:5), incluindo
ele mesmo (Ef 3:3), tiveram uma base fundamental ao ser revelado pelo Espírito o mistério de Cristo, que
haveria de ser pregado posteriormente aos gentios. Assim, Paulo vê essas referências iniciais como ação e
norma do passado para os apóstolos, missionários divinamente comissionados e fundadores de igrejas; e
para os profetas, comunicadores do mistério da revelação divina, o Messias.
11 No período pós-apostólico o evangelista era quem continuava as muitas atividades desenvolvidas pelos
apóstolos; e o pastor era quem exercia a liderança na congregação local. Como o próprio nome sugere, os
evangelistas estavam envolvidos na proclamação do evangelho. É possível que estivessem comprometi-
dos no processo de plantio de novas igrejas, além de ter outras responsabilidades a mais do que apenas a
congregação local. Lucas usa o mesmo termo para fazer referência a Felipe em Atos 21:8, e Paulo aplica a
expressão a Timóteo, indicando a obra de um líder de igreja (2Tm 4:5). Embora Cristo mesmo use o nome
pastor para se auto-designar (Jo 10:11, 14) e Paulo, assim como Pedro, a utilizem em relação a Cristo (Hb
13:20; 1Pe 2:25), o NT o emprega para se referir aos líderes de congregações locais somente em Efésios 4:11.
Lucas e Pedro utilizam o verbo “apascentar” para descrever a função pastoral (At 20:28; 1Pe 5:1-4) como
Jesus fez para designar a atividade confiada a Pedro (Jo 21:16). Estes antecedentes sugerem o exercício de
uma liderança que alimenta, cuida e guia o rebanho. É significativo que esta classe de liderança pastoral
se associe nas Escrituras com a do bispo ou ancião (Jr 23:2; Ez 34:10-11, Zc 11:16; At 20:28; 1Pe 2:25; 5:2).
É provável que os pastores de Efésios 4:11 desenvolvessem as funções indicadas nos escritos de Paulo pelo
verbo proistemi (“governar”, “presidir”, “administrar”; 1Tes 5:12; Rm 12:8); e pelo nome epíscopos (“bispo”;
Fp 1:1), palavra equivalente a presbyteros (“presbítero”; At 14:23; 20:17; 1Tm 4:14; 5:17, 19; Tt 1:5; 1Pe 5:1, 5;
Tg 5:14). Em outras palavras, Paulo estaria se referindo aos “presbíteros” (presbyteros: At 20:17, 1Pe 5:1) e
“bispos” (epíscopos: Atos 20:28) com a expressão pastores e mestres em Efésios 4:11, que eram os líderes das
congregações locais do período apostólico e pós-apostólico. O artigo definido que Paulo usa em cada uma
das três categorias ministeriais no verso 11 e que repete junto com a expressão pastores, mas omite junto a
mestres sugere que os dois grupos haviam sido considerados por Paulo como idênticos, descrevendo um
único ministério, o do ancião-pastor-mestre. Por outro lado, a conjunção ilativa grega kai (“e”) parece ter
uma função epexegética na frase pastores e mestres, definindo o termo “pastor”. É como se dissesse, “o
Reavivamento e reforma no evangelismo: em busca de uma igreja discipuladora
lo explica a finalidade imediata dessa designação: “a fim de aperfeiçoar aos santos para
a obra do ministério, para a edificação do corpo de Cristo” (Ef 4:12).
Embora a palavra katartismós ocorra somente neste texto do Novo Testamento e
se traduza pela expressão “aperfeiçoar”, o verbo katartizō se encontra várias vezes em
Paulo, com uma relação de significados que incluem a ideia de “preparar” (Rm 9:22),
“aperfeiçoar” (Hb 13:21), “formar” (Hb 11:3), “corrigir” (Gl 6:1) e “completar” (1Ts 3:10;
1Co 1:10). Esse verbo era usado no mundo grego para descrever o trabalho do filóso-
fo ou educador com o significado de “preparar”, “dispor”, “pôr em ordem”, “ajustar”,
“restaurar”, “reparar”, “compor”, “corrigir” etc.
Com o uso dessa expressão verbal, Paulo parece sugerir que cada crente caris-
mático deve ser levado a um estado de “ajuste”, de “preparação” em seu serviço para a
edificação do corpo de Cristo. É precisamente com esse propósito que Cristo planeja
e concede a estrutura presbiteral. O ancião-pastor-mestre possui um dom de Cristo
para a estrutura carismática, já que tem a nobre função de “ordenar” os carismáticos
em sua missão, de “confirmá-los” em sua experiência de fé, de “motivá-los” na unidade
eclesiástica ou de “restaurar” ao que estivesse em falta. Além disso, dando à palavra
diakonía (“ministério”) o sentido amplo de “serviço” que caracteriza a estrutura ca-
rismática eclesiástica, o verso 12 poderia ser traduzido assim: “A fim de aperfeiçoar
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[capacitar] os santos no serviço [ministério] ativo para a edificação do corpo de Cristo.”
De acordo com essa leitura, então, Cristo não facultaria ao ancião-pastor-
-mestre eximir o crente de suas responsabilidades carismáticas. A comissão que
Cristo confiou ao ancião-pastor-mestre é a de “aperfeiçoar os santos” para o seu
serviço (Ef 4:12), o que faz possível a comissão discipuladora indicada pelo mesmo
Senhor aos discípulos e a igreja (Mt 28:19).
Paulo expressa a meta desse ancião, na função discipuladora deste: “Até que
todos cheguemos à unidade da fé e do pleno conhecimento do Filho de Deus, a
varão perfeito, à medida da estatura da plenitude [completa] de Cristo” (Ef 4:13). O
ancião-pastor-mestre poderia alcançar essa meta docente, ao planejar e organizar
“a justa operação de cada parte” de modo que estes possam crescer “em tudo naque-
le que é a cabeça, Cristo” (Ef 4:15).
No quadro a seguir se apresenta o modelo bíblico de evangelização do ancião-
-pastor-mestre. O modelo se inicia com o processo discipulador da igreja, estrutu-
ra carismática, segundo as competências outorgadas pelo Espírito. Essa estrutura
pastor que é mestre.” Esta construção epexegética, então, pode também sugerir que Paulo estava indicando
duas fases de um mesmo serviço ministerial. A função de pastorear ou supervisionar o rebanho (At 20:28-
29; 1Pe 5:2-3) e a de ensinar o rebanho (At 13:1; Rm 12:7; 1Tm 3:2), assim como o mesmo Paulo concebe seu
próprio serviço ministerial (1Tm 2:7; 2Tm 1:11).
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Considerações finais
Não há dúvidas de que o ministério carismático comum a todo crente é uma es-
tratégia divina que deveria ser aceita como revelada pelo grande Capacitador da igreja,
o Espírito Santo. No entanto, o poder para o serviço não surgirá, a menos que seja
conscientemente e deliberadamente estimulado, e isso não acontecerá a menos que
haja líderes e anciãos-pastores-mestres chamados a executar esta tarefa libertadora.
O ancião-pastor-mestre que centra seu ministério na estrutura carismática da
igreja local, e a igreja que ajuda seus membros a descobrirem e a viverem o chamado
de Deus para o ministério confiado a eles, se transformam, pela graça de Deus, em
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uma comunidade discipuladora de membros estáveis, responsáveis e reprodutivos
para a glória de Deus. Estes cumprem com a Grande Comissão evangélica deixada
por Jesus (Mt 28:19-20; Lc 24:49). Se os anciãos-pastores-mestres tomarem a sério
os dons dos cristãos individualmente, os descobrirem, os fomentarem e os desen-
volverem para serem utilizados visando ao avanço da obra de Deus, que dinamismo,
que movimento e que vida a igreja teria sob a ministração do Espírito Santo! Isto é
reavivamento e reforma no evangelismo.
Referências
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