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Frei

Luís de Sousa
O Texto Dramático
ELEMENTOS CONSTITUTIVOS

Texto principal Texto secundário


-Conjunto de estados, -configurado nas didascálicas
ações ou acontecimentos (marcadas por parênteses e tipo de
vividos pelas personagens letra diferente da do texto principal)
e expressos nas suas -Correspondente às indicações
réplicas cénicas (conjunto de informações
- Desenvolvimento em que o dramaturgo fornece e que
diálogo, monólogo complementam o texto principal)
(quando expressa - Informações relacionada com a
reflexões da personagem) identificação dos interlocutores, a
ou apartes (interação sua indumentária, o modo como
entre a personagem e o devem proferir o discurso, os gestos
leitor/espetador) e tom de voz a adotar, a
movimentação, as referências
espácio-temporais…
Frei Luís de Sousa
• Segundo o biógrafo Francisco de Amorim, Frei
Luís de Sousa foi escrito entre março e abril de
1843 e a sua leitura pública ocorreria a 6 de maio
desse mesmo ano, perante um público culto e
selecionado.
• Em 1850, o público, em geral, acederá à sua
representação total, que decorreu no teatro D.
Maria II.
• Pensa-se que, para redigir o seu drama, Almeida
Garrett se socorreu de várias fontes.
Fontes de Frei Luís de Sousa
• Fontes históricas - Manuel de Sousa Coutinho casara-se
com D. Madalena de Vilhena que fora casada em primeiras
núpcias com D. João de Portugal de quem tivera três filhos,
verificando-se, aqui, a primeira fuga ao pendor histórico
que enforma o drama garrettiano.

• Fontes literárias - Garrett menciona na “Memória ao


Conservatório Real” a representação a que assistiu, levada
a cabo por uma companhia castelhana de teatro
ambulante. Cita ainda o drama O Cativo de Fez que lhe
despertar a atenção para o assunto, cuja representação foi
feita no Conservatório Real, em 1840, bem como as
insinuações de que foi alvo por ter imitado um assunto
abordado num romance de Ferdinand Denis, publicado em
Paris em 1835, mas que o Garrett desmente.
Fontes de Frei Luís de Sousa
• Fontes pessoais - a atribulada vida amorosa do autor pode também
ter sido usada como inspiradora do drama que escreveu,
especialmente do fim trágico que lhe conferiu. Com efeito, Almeida
Garrett teve um casamento fracassado com Luísa Midosi, tendo-se
envolvido com Adelaide Pastor que lhe deixara uma filha que, aos
olhos da sociedade, era considerada ilegítima. As palavras finais da
personagem Maria de Noronha poderão, por isso, ilustrar as
preocupações que dominavam o autor relativamente ao futuro da
filha.

• Das fontes que poderão estar na base do drama garrettiano,


aquelas que podem considerar-se mais credíveis são, sem dúvida,
aquelas a que o próprio alude no texto que antecede o drama - as
fontes literárias.
Estrutura de Frei Luís de Sousa
• Estrutura Externa: divisão em três atos
(associados à mudança de cenário) e subdivisão
de cada um em cenas (correspondente à entrada
e saída de personagens):

Ato I - 12 cenas Ato II - 15 cenas


Ato III - 12 cenas

• Estrutura Interna - diz respeito ao desenrolar da


ação ao longo dos atos e cenas.
O espaço em Frei Luís de Sousa
• Ato I - a ação, neste ato, decorre no palácio de Manuel de Sousa Coutinho,
em Almada, onde se situa a “câmara antiga, ornada com todo o luxo e
caprichosa elegância portuguesa dos princípios do século XVII”, e onde, na
cena I, se encontra D. Madalena a ler.

• Ato II - passa-se no palácio onde D. Madalena e D. João de Portugal


viveram, também em Almada, mais particularmente num “salão antigo, de
gosto melancólico e pesado, com grandes retratos de família”, de onde se
destacam o de el-rei D. Sebastião, de Camões e de D. João de Portugal.

• Ato III - este momento da ação desenrola-se na “parte baixa do palácio de


D. João de Portugal…” e na capela da Senhora da Piedade que com ela
comunica.

• O ambiente que caracteriza cada um destes espaços reflete o estado


psicológico das personagens, verificando-se o estreitamento do espaço
dramático à medida que o desenlace se aproxima.
O tempo em Frei Luís de Sousa
• Tempo da ação:
Ato I - fim de tarde
Ato II - oito dias depois
Ato III - altas horas da noite

• Tempo dramático:
Vem desde o casamento de D. Madalena com D. João de Portugal
(antes de 1578); passa pelos sete anos em que se procurou saber
do paradeiro de D. João; integra os catorze anos em que D.
Madalena esteve casada com Manuel de Sousa, os oito dias em que
viveu no palácio de D. João de Portugal, os três dias (1 a 3 de
agosto) que este levou até chegar à presença de D. Madalena, até
ao dia 4 de agosto - “Hoje”.

• Como se pode verificar, também o tempo dramático se vai


estreitando à medida que o fim trágico se aproxima.
As personagens em Frei Luís de Sousa

• Manuel de Sousa Coutinho;


• Maria de Noronha;
• D. João de Portugal;
• Telmo Pais;
• Frei Jorge

• Tal como acontece na tragédia clássica, as personagens são


nobres e reveladoras de grande dignidade. Mesmo Telmo
(um serviçal) nunca perde o aprumo.
• São caracterizadas direta e indiretamente e podem
considerar-se modeladas, uma vez que é o conflito interior,
a profundidade e a sua densidade psicológica que
desencadeiam a tensão dramática.
A linguagem em Frei Luís de Sousa
• Esta é culta mas há, por vezes, um tom declamatório,
configurado nas inúmeras exclamações,
interrogações e reticências, bem ao jeito do gosto
romântico. Aparece adequada às circunstâncias e às
personagens. Por isso, carrega-se de inquietação e
angústia em D. Madalena; respeitosa, digna, mas
também familiar em Telmo; elegante, nobre e
assumindo, frequentemente, um tom didático-
-moralizador em Manuel de Sousa; confidencial e de
tom religioso em Frei Jorge; austera e dramática no
Romeiro.
Características românticas em
Frei Luís de Sousa:
- o assunto é nacional, impregnado do messianismo
necessário à reação contra a dominação espanhola;
- as personagens, sobretudo de D. Madalena, são
verdadeiras heroínas românticas pelo comportamento
emotivo, o recurso à religião consoladora para minimizar o
sofrimento (D. Madalena e Manuel de Sousa ingressam na
vida conventual);
- a sensibilidade cristã percorre toda a obra e o próprio
conflito tem origem na ética cristã;
- a morte de uma personagem em cena é admissível no
romantismo mas não no classicismo;
- a linguagem e o estilo apresentam características
românticas.
Características clássicas em
Frei Luís de Sousa:
- há unidade de ação e os acontecimentos progridem
dramaticamente até ao clímax;
- o pathos (sofrimento) apodera-se das personagens e dos
espetadores de forma progressiva até à catástrofe;
- o desafio (hybris) é visível na ação de incendiar o palácio;
- a fatalidade atua permanentemente bem como o destino;
- os presságios (lançados por Telmo e cuja função se pode
aproximar à do coro da tragédia clássica) estão presentes ;
- dá-se o reconhecimento (agnórise) que origina a catástrofe;
- as personagens são nobres (aristocráticas) e sempre poucas
em cena.
Porém, no que diz respeito à unidade de tempo e de espaço
afirma-se que não obedece, mas esta opinião não é
consensual.
Não é escrita em verso.
Classificação da obra
• Como se depreende pela leitura da obra e das
características atrás enunciadas, o texto garrettiano
poderia ser classificado de tragédia pelo conteúdo mas
drama pela forma, uma vez que está escrita em prosa.
Assim, poderia dizer-se que se trata de uma tragédia
moderna, dado que a matéria não é fornecida pela
mitologia nem pela história grega, mas pela história
nacional bem ao gosto da estética romântica. Contudo, é o
próprio autor quem afirma na “Memória ao Conservatório
Real” que se contenta com a designação de drama para a
sua obra, reconhecendo, todavia, que “se na forma
desmerece da categoria (de tragédia), pela índole há de
ficar pertencendo sempre ao antigo género trágico”.

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