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Liberatropa

Liberatropa

Mas se as tivessem chamado a uma festa de Baco,

a um templo de Pã, a um em Colíade, ou ao de Genitália,

nem seria possível passar por causa dos tamborins.

Agora não se encontra aqui nenhuma mulher

5 exceto esta minha vizinha que sai.

Eu te saúdo, Vencebela.

Vencebela

E eu a ti, Liberatropa.

Por que estás agitada? Não apareças mal humorada, filha.

Pois não te convém arquear as sobrancelhas.

Li. Mas, Vencebela, queima-me o coração,

10 e por nós mulheres estou muito triste,

porque junto aos homens somos consideradas

maliciosas...

Ve. E somos mesmo, por Zeus.

Li. Mas quando se diz para elas se reunirem aqui

para sobre algo de muita importância deliberarem,

dormem e não chegam.

15 Ve. Mas, querida amiga,


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elas chegarão; é sem dúvida difícil a saída das mulheres.

Pois uma de nós ao marido inclina-se,

outra desperta o escravo, o filhinho

uma faz dormir, essa o banha, alimenta-o aquela.

20 Li. Mas é que mais úteis do que estas, outras coisas havia

para elas.

Ve. E qual é, ó cara Liberatropa,

a causa pela qual nos convocaste, nós mulheres?

Que coisa é? De que tamanho?

Li. Grande.

Ve. E grossa também?

Li. E grossa, por Zeus.

Ve. E então como não chegamos?

25 Li. Não é dessa maneira; pois logo nos reuniríamos.

Mas é algo investigado por mim

e por muitas insônias agitado.

Ve. É algo delicado, penso, o que é agitado?

Li. Tão delicado que de toda a Grécia

30 nas mulheres está a salvação.

Ve. Nas mulheres? Então em pouco se apóia.

Li. Pensa que em nós estão os negócios da polis,

Ou não mais haverá peloponésios...


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Ve. Melhor não mais haver mesmo, por Zeus.

35 Li. E os beócios todos estarão destruídos...

Ve. Não exatamente todos, mas retira as enguias.

Li. Sobre os atenienses não proferirei

nada disso, imagina tu por mim.

Mas se as mulheres se reunirem aqui,

40 as da Beócia, as do Peloponeso

e nós, juntas salvaremos a Grécia.

Ve. E o que de sensato mulheres fariam

ou de esplêndido, nós que enfeitadas nos sentamos

com túnicas amarelas e embelezadas

45 com longas vestes ciméricas e sapatos elegantes?

Li. São essas coisas mesmas que espero que nos salvem,

as túnicas amarelas, os perfumes, os finos sapatos

as pinturas e as curtas túnicas transparentes.

Ve. Mas como?

Li. De forma que agora nenhum

50 homem levante a lança um contra o outro...

Ve. Então, pelas duas deusas, tingirei uma túnica amarela.

Li. Nem tome o escudo...

Ve. Vestirei vestes ciméricas.

Li. Nem o punhal.


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Ve. Comprarei elegantes sapatos.

Li. As mulheres não deviam então estar presentes?

55 Ve. Não, por Zeus, mas há muito terem chegado voando.

Li. Mas, ó querida, verás que sem dúvida muito áticas elas são,

tudo fazendo depois do necessário.

Porém não há do litoral nenhuma mulher,

nem de Salamina.

Ve. Mas essas pelo menos sei que

60 sobre barcos ligeiros passaram a galope pela manhã.

Li. Nem mesmo as que eu esperava e contava

como as primeiras a estarem aqui, as mulheres

de Acarne, chegam.

Ve. A de Teógenes pelo menos

Como lançando-se para cá o barquinho levantou.

65 Mas olha, eis que algumas se aproximam.

Li. Olha, vêm algumas outras ali.

Ve. Iou, iou!

De onde são?

Li. De Anagirunte

Ve. Sim, por Zeus,

é anagiro que me parece agitar-se.

Buquerina
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Será que chegamos atrasadas, Liberatropa?

Que dizes? por que não falas?

70 Li. Não te elogio, Buquerina,

por chegar só agora para um assunto deste.

Bu. É que com dificuldade achei meu pequeno cinto no escuro.

Mas se é tão urgente, fala para as que estão aqui.

Li. Não, por Zeus, esperemos pelo menos um pouco

75 para que as mulheres da Beócia e do Peloponeso

cheguem.

Bu. Tu falas muito melhor.

E eis que Lampito se aproxima.

Li. Ó cara amiga espartana, salve, Lampito.

Quanto aparece a tua beleza, doçura.

80 Como tens bela cor, como é vigoroso o teu corpo.

Até um touro degolarias.

Lampito

Acho que sim, pelos Dióscuros.

Exercito-me no ginásio e pulo batendo o pé no bumbum.

Ve. E que bela peça de seios tu tens.

La. Vós me apalpai como a uma vítima.

85 Li. E esta outra jovem, de que local é?

La. É certamente uma célebre beócia, pelos Dióscuros,


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que vos chega.

Bu. Sim, por Zeus, como a Beócia

ela tem a planície mesmo bela.

Ve. E, por Zeus,

é elegantíssima tendo o poejo arrancado.

Li. E a outra criança, quem é?

90 La. Proeminente, pelos Dióscuros,

mas, coríntia.

Ve. Proeminente, por Zeus,

é saliente estando de frente e de costas.

La. Mas quem mesmo reuniu em assembléia esta tropa

de mulheres?

Li. Eu mesma.

La. Fala-nos

o que queres.

95 Ve. Por Zeus, ó cara mulher,

Fala mesmo este teu sério assunto.

Direi já, mas antes de falar, a vós

perguntarei isto, uma coisinha.

Ve. O que tu quiseres.

Li. Os pais de vossos filhos não lamentais

100 ausentes pelo serviço militar? Pois sei bem que


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de todas vós há um esposo longe de casa.

Ve. Pelo menos meu marido há cinco meses, ó infeliz,

está longe, na Trácia, vigiando Eucrates.

Bu. E o meu há completos sete meses, em Pilo.

105 La. E o meu, mesmo se alguma vez chega da ordem de batalha,

tendo tomado o escudo volta voando de novo.

Li. Mas nem a brasa de um amante foi deixada.

Pois desde quando os milésios nos traíram,

não se vê nem um falo octodáctilo,

110 que era para nós um consolo de couro;

aceitarieis então, se eu encontrasse um meio,

comigo acabar a guerra?

Ve. Sim, pelas duas deusas,

eu aceitaria, mesmo se fosse preciso este vestido

empenhar e beber o saldo hoje mesmo.

115 Bu. E eu aceitaria, mesmo que como um linguado, acho

que daria a metade de mim, tendo sido cortada.

La. E eu para o cume do Táigeto

iria, se dali eu pudesse ver a paz.

Li. Direi; pois não é preciso que o assunto fique oculto.

120 É que para nós, ó mulheres, se estamos dispostas

a obrigar os homens a fazerem a paz,


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é preciso abandonar...

Ve. O que? Fala

Li. Fareis então?

Ve. Faremos, mesmo que nós tenhamos que morrer.

Li. É preciso então que abandonemos o pênis.

125 Por que vos inquietais? Para onde ides?

Vós, por que fazeis beicinho e negais?

Por que a cor muda? Por que uma lágrima corre?

Fareis ou não fareis? Ou o que vós pretendeis?

Ve. Não faríamos, mas que a guerra continue.

130 Bu. Por Zeus, nem eu, mas que a guerra continue.

Li. Isto tu dizes, ó linguado? E há pouco mesmo

dizias que até cortarias a metade de ti.

Ve. Outra, outra coisa que quiseres. Até se for preciso, pelo fogo

quero caminhar. Isto mais do que abandonar o pênis.

135 Pois nada é igual, ó amiga Liberatropa.

Li. E tu então?

Mulher

Eu também quero caminhar pelo fogo.

Li. Ó só nádegas toda a nossa raça.

Não sem razão sobre nós há as tragédias;

pois nada somos exceto Posídon e navio.


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140 Mas, ó cara espartana, pois se tu estiveres

sozinha comigo, a empresa nós ainda salvaríamos.

Vota comigo.

La. É penoso, pelos Dióscuros,

mulheres dormindo sem uma glande, sozinhas.

No entanto, sim; pois a paz é muito necessária também.

145 Li. Ó cara amiga e única mulher dentre estas.

Ve. Mas se, na medida do possível, deixássemos o que então dizes,

que isto não aconteça, antes por este meio

se faria a paz?

Li. Perfeitamente, pelas duas deusas,

pois se ficássemos em casa, maquiadas,

150 e se com as curtas túnicas de Amorgos

nuas avançássemos, depiladas em forma de delta,

os maridos ficariam com tesão e, ao desejarem nos abraçar,

nós não nos aproximarmos, mas nos afastarmos,

sei bem que alianças fariam rapidamente.

155 La. Pelo menos Menelau tendo visto os seios

de Helena nua lançou fora, acredito, a espada.

Ve. E o que faremos se os homens nos deixarem, ó querida?

Li. O dito de Ferécrates: esfolar uma cadela esfolada.

Ve. Charlatanismos são essas imitações.


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160 E se nos tendo agarrado, para o quarto à força

nos arrastarem?

Li. Agarra-te às portas.

Ve. E se nos baterem?

Li. É preciso permitir de muito mau grado.

Pois não há prazer nestas coisas para eles à força.

Além do mais é preciso fazê-los sofrer; e não te preocupes, logo

165 desistirão. Pois jamais gozará de prazer

um homem se não estiver de acordo com a sua mulher.

Ve. Sim, se vos parece isto, a nós também nos parece.

La. Nós convenceremos os nossos maridos

a fazerem uma paz em tudo justamente franca;

170 todavia o populacho ateniense

como alguém persuadiria então a não caducar?

Li. Não te preocupes nós convenceremos os nossos.

La. Não enquanto têm pés as trirremes

e o tesouro inesgotável estiver perto da deusa.

175 Li. Mas isto também está bem preparado.

Pois ocuparemos a Acrópole hoje.

É que às mulheres mais velhas foi ordenado fazerem assim,

enquanto combinamos estas coisas,

fingindo sacrificar, tomarem a Acrópole.


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180 La. Tudo dará certo; pois eis que ainda falas bem.

Li. Por que então, ó Lampito, não juramos sobre isto

o quanto antes, para que seja indestrutível?

La. Esclarece então o juramento, como o faremos.

Li. Dizes bem. Onde está a cita? Para onde olhas?

185 Põe diante de nós o escudo invertido,

e alguém me dê as peças cortadas.

Ve. Liberatropa,

que tipo de juramento tu nos farás prestar?

Li. Que tipo?

Sobre um escudo, como, dizem, Ésquilo um dia

ao degolar uma ovelha.

Ve. Não, ó Liberatropa,

190 tu pelo menos sobre o escudo não jures a respeito de paz.

Li. Que juramento podemos fazer então?

Ve. E se um cavalo branco

tomando de algum lugar, nós o cortássemos como uma vítima?

Li. Onde tomaremos um cavalo branco?

Ve. Mas como juraremos

nós?

Li. Eu te direi, por Zeus, se queres,

195 tendo colocado uma grande taça negra invertida,


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degolando como uma ovelha um pote de vinho de Tasos

juremos não derramar água na taça.

La. Por Zeus, nem sei dizer o quanto aprovo o juramento.

Li. Alguém traga uma taça e um pote lá de dentro.

200 Bu. Ó queridas mulheres, que cerâmica!

Ve. Alguém segurando esta taça já se alegraria.

Li. Tendo colocado esta aqui, segura o varrão para mim.

Senhora Persuasão e taça da amizade,

a vítima recebe favorável às mulheres.

205 Ve. O sangue é de bela cor e jorra bem.

La. E além disso exala um cheiro doce, por Castor.

Bu. Deixai-me jurar primeiro, ó mulheres.

Ve. Não, por Afrodite, só se for por sorte.

Li. Tocai todas na taça, ó Lampito;

210 e que uma em vosso nome repita o que eu disser.

E vós jurareis estas coisas e as sancionareis:

Não há nenhum homem, amante ou marido-

Ve. Não há nenhum homem, amante ou marido-

Li. que irá se aproximar de mim com tesão. Repete.

215 Ve. Que irá se aproximar de mim com tesão. Papai!

Desatrelam-se os meus joelhos, ó Liberatropa.

Li. Em casa e casta passarei os dias-


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Ve. em casa e casta passarei os dias-

Li. com uma túnica amarela e embelezada-

220 Ve. com uma túnica amarela e embelezada-

Li. para que o esposo mais se queime se desejos por mim,

Ve. para que o esposo mais se queime de desejos por mim.

Li. E jamais de bom grado cederei ao meu esposo.

Ve. E jamais de bom grado cederei ao meu esposo.

225 Li. E se, eu não consentindo, ele me obrigar à força-

Ve. e se, eu não consentindo, ele me obrigar à força-

Li. de mau grado irei me entregar e não me moverei.

Ve. de mau grado irei me entregar e não me moverei.

Li. Não levantarei para o teto as sandálias pérsicas.

230 Ve. Não levantarei para o teto as sandálias pérsicas.

Li. Não me agacharei como a leoa na faca de queijo.

Ve. Não me agacharei como a leoa na faca de queijo.

Li. Estas coisas fixadas possamos beber desta taça.

Ve. Estas coisas fixadas possamos beber desta taça.

235 Li. Mas se eu as violar, a taça se encha de água.

Ve. Mas se eu as violar, a taça se encha de água.

Li. Vós todas jurais isto?

Todas

Sim, por Zeus.


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Li. Vamos, que eu consagre esta..

Ve. Só a tua parte, ó querida,

para que sejamos desde já amigas entre nós.

La. Que grito é este?

240 Li. É aquilo que eu dizia;

pois as mulheres a Acrópole da deusa

neste instante tomaram. Mas, ó Lampito,

parte e dispõe bem as coisas entre vós,

mas deixa-nos estas reféns aqui,

245 e nós às outras mulheres na cidade

nos juntemos para introduzir as trancas.

Ve. Não achas que contra nós acorrerão

os homens imediatamente?

Li. Pouco eles me preocupam.

Pois não há tão grandes ameaças ou fogo

250 que eles cheguem portando para que abramos estas

portas, a não ser sobre as coisas que nós dissemos.

Ve. Por Afrodite, jamais; pois vãmente

de invencíveis e manchadas de sangue seríamos chamadas.

Coro dos Velhos

Avança Facho, guia-nos, passo a passo, embora o ombro doa


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255 por portar tanto peso do tronco de oliveira verde.

Oh! Muitas surpresas existem na

estr.256/7 longa vida, pheu!

258/9 Quem jamais esperaria, ó Estrimodom, ouvir

260 que as mulheres que nutríamos

em casa um mal evidente,

em seu poder têm a santa imagem

em suas mãos a minha Acrópole tomaram

e com fechaduras e trancas

265 o propileu sujeitaram?

Mas o mais rápido para a cidadela apressemo-nos, ó Laborioso,

para que em torno delas coloquemos estas cepas,

tantas que intentaram este crime e as que nele prosseguiram;

fazendo uma fogueira, queimaremos com as próprias mãos

270 todas, por uma decisão unânime, e primeiro a mulher de Lico.

Pois, por Deméter, de mim,

ant.271/2 estando vivo, não rirão;

273/4 quando nem Cleômenes, que primeiro a ocupou,

partiu intacto, mas


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mesmo com seu orgulho espartano

foi-se entregando-me as armas,

tendo muito curto manto grosseiro,

estando faminto, sujo, peludo,

280 por seis anos sem banho.

assim eu sitiei aquele homem rudemente

entre dezessete linhas de escudos, dormindo diante das portas.

E com estas inimigas de Eurípides e de todos os deuses

eu não terei tanta coragem estando presente?

285 Que não exista mais o meu troféu na Tetrápolis.

estr.2 Mas este é mesmo o trecho que resta

do meu caminho

para a cidadela, a colina, para onde me apresso.

Como então arrastaremos

290 isto sem burro de carga?

Como me comprimiram o ombro as duas toras.

Mas devo marchar,

e o fogo devo soprar,

temo que se apague sem eu perceber, antes do fim do caminho.

295a phy, phy!


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295b Iou, iou, que fumaça!

ant. Que terrível, ó senhor Héracles,

lança-se da panela sobre mim

como uma cadela enfurecida morde os olhos.

E este fogo é de Lemnos

300 por todo meio;

pois senão jamais roeria assim com dentes as minhas remelas.

Apressa-te para a cidadela

e socorre a deusa.

Ou alguma vez nós a defenderemos mais do que hoje, ó Lance?

305a Phy, phy!

305b Iou, iou, que fumaça!

Este fogo está desperto graças aos deuses e vive.

Então, se as duas toras colocássemos antes aqui,

e tendo mergulhado a tocha de vinha na panela

para acendê-la, aí nos lançaríamos como um carneiro à porta,

310 e se as mulheres, enquanto chamamos, não soltarem as travas,

é preciso incendiar as portas e reduzi-las à fumaça.

Deponhamos então a carga. Pheu, que fumaça! Babaiax!

Quem dos generais em Samos ajudaria com a tora?


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Estas já cessam de me comprimir a espinha.

315 E o teu trabalho, ó panela, é despertar o carvão,

para que me forneça antes de tudo a tocha acesa.

Senhora Vitória, ajuda-nos, após ter submetido

a audácia das mulheres na cidadela, a erigir um troféu.

Coro das mulheres

Acho que avisto uma chama fuliginosa e fumaça, ó mulheres,

320 como fogo que arde; é preciso que nos apressemos mais.

Voa, voa Justavença,

estr. 321/2 antes de serem queimadas Cálice

e Colhida sufocadas

por ventos penosos

325 e por malditos velhos.

Mas temo isto: será que as socorro tarde demais?

Pois agorinha tendo enchido no escuro o vaso

com esforço na fonte por causa da turba, tumulto e ruído

328/9 de argila,

330/1 pelas escravas sendo empurrada <.................>

marcados a ferro e, avidamente

apanhando água para as minhas


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concidadãs que se queimam,

335 trazendo-a para socorrê-las.

ant. Pois tendo ouvido que velhos imbecis corriam para a cidade,

portando toras como para esquentar um banho

com peso de três talentos,

fazendo as mais terríveis ameaças

340 que com fogo é preciso queimar as impuras mulheres.

Ó deusa, que eu não as veja queimadas,

mas que elas livrem da guerra e das loucuras a Grécia e

342/3 os cidadãos;

por tais coisas, ó penacho de ouro

344/5 guardiã da cidade, elas ocuparam teu santuário.

E te chamo como aliada, ó

Tritônia, se algum homem

puser fogo em baixo delas,

para portar água conosco.

350 Alto, ó, o que é isto? Homens perversos;

pois homens de bem ou piedosos jamais agiriam assim.

Cv. Ver este espetáculo é inesperado para nós;

este enxame de mulheres por sua vez as socorre de fora.


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Cm. Por que nos temeis? Não parecemos ser muitas, suponho?

355 E na verdade não vedes ainda a décima milionésima parte de nós.

Cv. O Faísca, deixaremos que tagarelem tanto?

Não seria preciso quebrar tua vara batendo-a sobre elas?

Cm. E nós coloquemos então os vasos no chão, para que,

se alguém levantar a mão, que isto não me impeça.

360 Cv. Se, por Zeus, já se tivesse ferido os queixos delas

duas ou três vezes, como a Búpalo, não teriam voz.

Cm. Então ei-lo aqui; alguém bata. Permitirei parada,

e não teme que outra cadela te agarre os testículos.

Cv. Se não te calares, batendo-te, arrancarei tua pele velha.

365 Cm. Tendo avançado, toca Tropilha só com o dedo.

Cv. E se eu te destruir com os punhos? O que me farás de terrível?

Cm. Mordendo, eu te arrancarei pulmões e entranhas.

Cv. Não há homem mais sábio do que o poeta Eurípides.

Pois não há criatura tão depravada quanto as mulheres.

370 Cm. Levantemos os vasos de água, ó Eguarrosa.

Cv. E por que, ó inimiga dos deuses, tu vieste aqui trazendo água?

Cm. E tu então trazendo fogo, ó túmulo? Para incendiar-te?

Cv. Eu, para que tendo feito uma fogueira queime tuas amigas.

Cm. E eu, para que com esta água possa apagar tua fogueira.

Cv. Tu apagarás meu fogo?


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375 Cm. A ação logo se mostrará.

Cv. Não sei se sem mais delongas te assarei com esta tocha.

Cm. Se tens acaso uma mancha eu te darei um banho.

Cv. Um banho em mim, tu, ó podre?

Cm. E um banho nupcial ainda.

Cv. Ouviste esta audácia?

Cm. É que sou livre.

Cv. Eu acabarei com teu grito agora.

380 Cm. Mas já não estás na Heliéia.

Cv. Incendeia os cabelos dela.

Cm. Teu trabalho, ó Aquelôo.

Cv. Ai de mim, infeliz.

Cm. Será que estava quente?

Cv. Como quente? Não cessarás? O que fazes?

Cm. Rego-te para que reverdeças.

385 Cv. Mas já estou seco tremendo.

Cm. Então, já que tens fogo, tu te aquecerás.

Conselheiro

Então reluz ao dia a licença das mulheres,

os batuques e os repetidos “viva Sabázio”,

e esta festa de Adônis sobre o telhado


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390 que um dia eu ouvia da assembléia?

Demostrato- azar para ele -propunha

navegar para a Sicília, e sua mulher dançando

diz “ai ai Adônis”. Mas Demostrato

propunha alistar hoplitas de Zacinto,

395 e sua mulher meio embriagada sobre o telhado

diz “batei-vos por Adônis”. E ele persistia,

o inimigo dos deuses e impuro Iraziges.

Assim são as suas licenças.

O que então dirias, se soubesses também da insolência destas?

400 Elas cometeram outros ultrajes e dos vasos

nos banharam; a ponto de poder sacudir

os mantos como se houvéssemos mijado neles.

Por Posídon Marinho, é mesmo justo.

Pois quando nós mesmos compartilhamos da maldade

405 com as mulheres e lhes ensinamos a serem depravadas,

assim nascem os seus desígnios.

Dizemos na oficina dos artífices isto:

“Ó ourives, o colar que fizeste,

minha mulher dançando à tarde

410 a glande caiu do orifício.

Acontece que devo navegar para Salamina;


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mas tu estando desocupado, por todo meio, à tarde,

vai e lhe ajusta a glande”.

E um outro para um sapateiro

415 jovem e tendo um pênis não infantil, diz:

“O sapateiro, do pé da minha mulher

a correia comprime o dedinho,

já que é tão delicado; esta então tu, ao meio-dia,

vai afrouxar, para que fique mais larga”.

420 Tais tratamentos resultam nisto,

porque sendo eu conselheiro, tendo procurado como

adquirir paus para remos, falta o dinheiro agora,

pelas mulheres sou barrado às portas.

Mas de nada serve ficar plantado aqui. Vamos, traz as alavancas,

425 para que eu as reprima da insolência.

Por que estás com a boca aberta, ó infeliz? E tu para onde olhas,

sem nada fazer senão tendo em vista uma taberna?

Tendo colocado as alavancas sob as portas

daí as forçareis. E eu daqui

ajudarei a forçá-las.

430 Li. Não forçareis nada;

Pois saio por mim mesma. Por que é necessário alavancas?

Pois não é necessário alavancas mais do que bom senso e saber.


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Co. É verdade, ó impura? Onde está um arqueiro?

Agarra-a e prende as mãos dela para trás.

435 Li. Certamente, por Ártemis, se de mim

a ponta da mão aproximar, escravo público que é, lamentará.

Co. Ficaste com medo, amigo? Agarra-te nela ao meio

e tu com ele terminem de prendê-la.

V1 Certamente, por Pândroso, se nela apenas

440 a mão tocares, vazarás por ser pisado.

Co. Vê “vazarás”. Onde está o outro arqueiro?

Esta primeiro prende, já que também tagarela..

V2 Certamente, pela deusa Porta-Luz, se a ponta da mão

aproximares dela, pedirás logo uma ventosa.

445 Co. O que é isto? Onde está um arqueiro? Retém-na.

Eu privarei qualquer de vós desta saída.

V3 Certamente, pela deusa de Táuride, se desta te aproximares

eu arrancarei teus cabelos causadores de dor.

Co. Ai de mim desgraçado; o arqueiro faltou.

450 Mas jamais seremos derrotados por mulheres.

Marchemos juntos contra elas, ó citas,

dispostos em ordem.

Li. Pelas duas deusas, sabereis então

que ainda junto a nós há quatro batalhões


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de mulheres combatentes lá dentro bem armadas.

455 Co. Voltai as mãos delas para trás, ó citas.

Li. Ó aliadas mulheres, saí daí de dentro,

ó vendedoras de grãos e de purê de legumes,

ó estalajadeiras, vendedoras de alho e de pão,

puxai, batei, golpeai,

460 injuriai, não tenhais vergonha,

cessai, voltai, não despojeis.

Co. Ai de mim, como agiu mal a minha guarda.

Li. Mas o que tu achavas então? Acaso algumas escravas

julgaste atacar, ou pensas que para as mulheres

não há bílis?

465 Co. Sim, por Apolo, e muito

mais mesmo, se houver uma taberna por perto.

Cv. Ó muitas palavras perdeste, conselheiro desta terra,

por que te engajas numa conversa com estas feras?

Não sabes do banho que elas nos deram há pouco

470 nestas pobres vestes, e este sem barrela?

Cm. Mas, ó meu caro, não se deve ao acaso levar a mão sobre

os próximos, mas se isto fazes, teres os olhos inchados é fatal.

Já que quero prudentemente como uma jovem ficar,


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a ninguém aborrecendo aqui, nem movendo uma palha,

475 se ninguém como a um vespeiro espremer meu mel e me irritar.

Cv. O Zeus, que então faremos

476/7 estr. com estes animais?

Pois isto não é mais suportável, mas tu deves investigar

comigo esta ocorrência,

480 com que intenção

tomaram a cidadela de Crânao,

rochedo enorme, inacessível da Acrópole,

templo sagrado.

Vamos, interroga, não te convenças e expõe todos os argumentos;

pensa que seria vergonhoso deixar este negócio sem prova,

485 abandonando-o.

Co. Sim, sem dúvida, por Zeus, desejo saber delas primeiro isto,

com que intenção fechastes a nossa cidadela com

as trancas?

Li. Para que salvemos o dinheiro e para que não luteis por ele.

Co. E pelo dinheiro que lutamos?

Li. E todas as outras coisas misturadas.

Pois para que se possa roubar, Pisandro e os que atacam


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490 os cargos públicos

sempre moviam um tumulto. Mas eles então para isto

façam

o que quiserem; pois não mais neste dinheiro

colocarão a mão.

Co. Mas o que farás?

Li. Isto me perguntas? Nós o administraremos.

Co. Vós administrareis o dinheiro?

Li. E por que julgas isto tão estranho?

E nós não administramos em tudo os bens de casa

495 para vós?

Co. Mas não é assim.

Li. Como não é assim?

Co. Ele deve servir para a guerra.

Li. Mas primeiro nada obriga a fazer guerra.

Co. Como nos salvaremos então?

Li. Nós vos salvaremos.

Co. Vós?

Li. Nós mesmas.

Co. E funesto!

Li. Serás salvo mesmo sem querer.

Co. 0 que dizes é terrível.


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Li. Estás irritado,

mas é preciso fazer isso de qualquer modo.

500 Co. Por Deméter, é injusto.

Li. Deves ser salvo, ó amigo.

Co. Mesmo sem pedir?

Li. E ainda mais por isto.

Co. Mas de onde veio a idéia de vos preocupar sobre a guerra e a paz?

Li. Nós explicaremos.

Co. Fala logo então, para que não chores.

Li. Ouve então,

e tenta conter as mãos.

Co. Mas não posso; pois é difícil

detê-las por causa da raiva.

Velha

505 Chorarás então bem antes.

Co. Isto, ó velha, grasnarás para ti mesma. Tu, fala.

Li. Farei isto.

507 Nós no início <em silêncio> suportávamos <de vós>,

os homens,

508 pela nossa temperança as coisas que vós fizésseis;

- pois vós não nos deixáveis abrir a boca, - no entanto não nos éreis

agradáveis mesmo.
160

Mas nós vos percebíamos bem, e, muitas vezes, em casa

estando,

510 ouvíamos que vós deliberáveis mal sobre um importante

assunto;

então sofrendo por dentro nós vos perguntávamos sorrindo

“o que se decidiu inscrever na esteia acerca

do tratado

na assembléia de hoje?” “E o que te importa isto?” Dizia

meu marido;

“não te calarás?” E eu me calava.

515 Va. Mas eu j amais me calava.

Co. E lamentarias mesmo, se não te calasses.

Li. Por isso eu me calava.

E uma e outra vez nos informávamos de uma pior deliberação

vossa;

então perguntávamos: “como vós resolvestes isto, ó meu marido,

tão tolamente?”

E ele tendo me olhado com raiva logo dizia que se eu não tecesse

a trama,

lamentaria a cabeça muito tempo; “e a guerra será preocupação

520 dos homens”.

Co. Ele falava mesmo correto, por Zeus.


161

Li. Como correto, ó desgraçado,

522 se deliberáveis tão mal e nem nos era permitido vos aconselhar?

Mas quando nós vos ouvíamos dizer já publicamente nas ruas:

“Não há um homem no país”. “Por Zeus não há”,

um outro dizia.

Depois disto nós logo decidimos salvar a Grécia

525 em comum

as mulheres tendo sido reunidas. Pois até quando seria preciso

esperar?

Se então aceitásseis ouvir quando falamos coisas úteis

e vos calar também como nós, nós vos corrigiriamos.

Co. Vós a nós? Falas coisas absurdas e eu não posso suportar.

Li. Cala-te.

Co. Eu silenciar diante de ti, ó maldita, que portas

530 este véu

sobre a cabeça? Que eu não viva então.

Li. Mas se isto te impede,

de mim este véu tomando,

tem-no, coloca-o sobre a cabeça

e em seguida cala-te.

535 Va. Este cestinho também.

Li. E então tendo te cingido passas a tear


162

mascando favas.

E a guerra será preocupação das mulheres.

Cm. Saltai, mulheres, sobre os vasos, para que

540 de nossa parte de algum modo ajudemos as amigas.

541/2 ant. Pois eu jamais me cansarei de dançar,

nem a pena fatigante há de se apoderar dos meus joelhos.

E quero ir sobre tudo

545 com elas. Por causa da virtude, nelas

há talento natural, há graça, há audácia,

e há sabedoria, e há amor à pátria

virtude prudente.

549 Vamos, ó mais viril das avós e das mãezinhas urtigas,

550 avançai com ira e não vos molheis; pois até agora vós tendes

uma boa navegação.

Li. Mas se o doce Eros com a Ciprígena

Afrodite

desejo amoroso sobre nossos ventres e coxas

soprar,

e em seguida provocar uma rigidez de prazer e ereções


163

em nossos maridos,

creio que um dia nós seremos chamadas Liberalutas entre os gregos.

Co. Tendo feito o que?

555 Li. Se cessarmos primeiro com os que com armas

andam pelo mercado feito loucos.

Va. Sim, pela páfia Afrodite.

Li. Pois agora eis que entre o mercado de cerâmica e o de legumes

igualmente

percorrem todo o local com armas como

coribantes.

Co. Sim, por Zeus; é o dever dos valentes.

Li. E, sem dúvida, é ridículo,

que alguém portando um escudo e a Górgona compre

560 arenques.

Va. Sim, por Zeus, pois eu vi um homem cabeludo sendo filarco

a cavalo

jogando em seu elmo de bronze purê comprado a uma velha;

e outro, um trácio, agitando a peita e o dardo como Tereu

amedrontava a vendedora de figos e engolia os frutos maduros.

565 Co. Como vós então sereis capazes de reter tanta desordem

nas cidades e nela pôr fim?

Li. De modo muito simples.


164

Co. Como? Mostra.

Li. Como um fio, quando está embaraçado, como este,

tomando-o,

puxando-o com fusos deste lado e daquele

outro,

assim também esta guerra acabaremos, se nos deixarem,

desembaraçando-a pelos embaixadores, deste lado e daquele

570 outro.

Co. Das lãs, dos fios e dos fusos negócios terríveis

presumis cessar? Que tolas!

Li. E se houvesse algum bom senso em vós,

das nossas lãs administrarieis todas as coisas.

Co. Como então? Vejamos.

Li. Primeiro seria preciso, como com a lã bruta,

em um banho

575 lavar a gordura da cidade, sobre um leito

expulsar sob golpes de varas os pêlos ruins e abandonar os duros,

e estes que se amontoam e formam tufos

sobre os cargos cardá-los um a um e arrancar-lhes as cabeças;

em seguida cardar em um cesto a boa vontade comum, todos

580 misturando; os metecos, algum estrangeiro que seja vosso amigo

e alguém que tenha dívida com o tesouro, misturá-los também,


165

e, por Zeus, as cidades, quantas desta terra são

colônias,

distinguir que elas são para nós como novelos caídos ao chão

cada um por si; em seguida o fio de todos estes

tendo tomado,

trazê-los aqui e reuni-los em um todo, e depois de formar

585 um novelo grande, dele então confeccionar uma manta

para o povo.

Co. Não é terrível que estas tratem tais assuntos com varas e novelos,

elas, que não tomam a mínima parte na guerra?

Li. E no entanto, ó maldito,

nós a suportamos mais que o dobro. Primeiro parindo filhos

para enviá-los para longe como hoplitas ...

590 Co. Cala-te, não relembres dores.

Li. Depois quando nós deveriamos gozar de prazer e viver a juventude,

dormimos sozinhas por causa das expedições. E deixo o nosso caso,

mas aflijo-me sobre as jovens que envelhecem nas alcovas.

Co. E os homens também não envelhecem?

Li. Por Zeus, não falas o mesmo.

Pois o homem chegando, ainda que esteja grisalho, logo se casa

595 com uma jovem;

Mas, o tempo da mulher é curto, se não aproveitá-lo,


166

com ela ninguém quer se casar, e ela fica a fazer augúrios.

Co. Mas qualquer um ainda capaz de sentir tesão ...

Li. E tu então, por que não morres?

600 Há espaço; comprarás um caixão;

eis que eu amassarei bolinhos de mel.

Toma isto e coroa-te.

V. E recebe estas de mim.

V1 Toma ainda esta coroa.

605 Li. O que te falta? O que desejas? Vai para o barco;

Caronte te chama,

mas tu o impedes de navegar.

Co. Então não é terrível que eu sofra estas coisas?

Sim, por Zeus, mas diretamente aos conselheiros

610 marchando me exibirei como estou.

Li. Estás reclamando por nós não te expormos?

Mas, sem dúvida, depois de amanhã bem cedo

receberás de nós os preparativos do terceiro dia.

Cv. Quem é homem livre não mais se ocupa em dormir.

615 Vamos, homens, preparemo-nos para esta empresa.

estr. Pois já me parece que isto cheira


167

a muitas outras coisas e ainda mais graves,

618/9 e sobretudo farejo a tirania de Hípias;

temo muito ainda que alguns homens espartanos

aqui tendo vindo reunir-se na casa de Clístenes

622/3 encorajem as mulheres inimigas dos deuses com astúcia

a se apoderarem dos nossos bens e do salário

625 do qual eu vivia.

Pois sem dúvida é indigno que elas agora repreendam os cidadãos

e falem, sendo mulheres, sobre escudos de bronze,

que queiram nos reconciliar com os homens espartanos,

em quem se deve confiar como em um lobo de boca aberta.

630 Tramaram este complô contra nós, ó homens, em vista da tirania.

Mas não terão poder sobre mim, pois estarei vigilante,

e “portarei a espada” daqui para frente “no ramo de mirto”,

marcharei para a ágora em armas com Aristogíton,

ficarei em pé assim ao lado dele; pois me vem esta ocasião

635 de bater no queixo desta velha inimiga dos deuses.

Cm. Então quando tu entrares em casa, tua mãe não te reconhecerá.

Mas ponhamos, ó queridas anciãs, antes estes ao chão.


168

ant. Pois nós, ó todos os cidadãos, um discurso

útil à cidade iniciamos;

640/1 com razão, já que, na delicadeza e no luxo ela me criou;

desde os sete anos de idade eu era arréfora;

depois fui moleira, aos dez anos, para nossa patrona,

644/5 e deixando cair a túnica amarela era ursa nas Braurônias;

e enfim fui canéfora sendo uma bela moça, tendo

um colar de figos secos.

Então não devo há muito algo útil aconselhar à cidade?

Mas se eu nasci mulher, disto não me recrimineis,

650 quando proponho coisas melhores do que as do presente.

Eu pago a minha parte; pois forneço homens.

Mas vós infelizes velhos não pagais, já que

a parte dita dos avós que veio dos medas

tendo gasto, vós não a devolvestes em contribuições,

655 porém ainda nos arriscamos a ser arruinados por vós.

Podereis grunhir algo? Mas se me irritares de algum modo,

hei de te bater no queixo com este coturno duro.

estr. Cv. Então não é uma grande insolência tudo isto?

659/60 E vai crescer mais ainda, parece-me.


169

661/2 Mas quem é homem com testículos deve repelir o flagelo.

663/4 Mas retiremos a nossa túnica, que homem deve de súbito

665/6 exalar cheiro de homem, e não convém estar empacotado.

Vamos, avançai de pés nus,

quando ainda éramos,

os que a Leipsídrion fomos,

670 agora é preciso nos revigorar, dar asas

a todo o corpo e sacudir esta velhice.

Pois se algum de nós ceder e der a elas uma pequena chance,

elas nada negligenciarão dos tenazes trabalhos manuais,

mas até barcos vão construir e ainda vão tentar

675 combater no mar e navegar sobre nós, como Artemísia.

E se elas se voltarem para a hípica, eu risco da lista os cavaleiros;

pois a mulher é o que há de mais hípico e firme se atém,

não escorregaria mesmo a galope. Observa as Amazonas,

as que Mícon pintou combatendo a cavalo contra os homens.

680 Vamos, é preciso prender todas elas

e introduzir na tábua estes pescoços.

ant. Cm. Se, pelas duas deusas, me inflamares a ira

683/4 eu libertarei então a javali que há em mim, e eu te farei


170

hoje gritar por socorro aos do teu demo

685/6 sendo tosquiado.

687/8 Mas e nós, ó mulheres, o mais rápido nos dispamos,

689/90 para exalarmos o cheiro de mulheres iradas a se morderem.

Agora venha algum para mim, para que

jamais coma alhos

nem favas negras,

e se apenas falas mal de mim - pois estou cheia de ira-

695 como o escaravelho com a águia que punha ovos, eu te farei parir.

Pois não me preocuparei com vós, enquanto vive minha Lampito

e a minha jovem amiga tebana, a nobre Ismênia.

Pois não terás poder sobre nós, nem quando decretares sete vezes,

tu, ó infeliz, que és odioso a todos e aos vizinhos.

700 Que ainda ontem eu fazendo uma festa a Hécate,

convidei da vizinhança a camarada das crianças,

menina boa e amada, uma enguia da Beócia,

mas eles se recusaram a enviá-la por causa dos teus decretos.

E vós não cessareis com estes decretos, antes que alguém

705 vos agarre por uma perna, e vos lançando quebre o vosso pescoço.

Rainha desta empresa e do plano,


171

por que me saíste destes muros com olhar sombrio?

Li. As ações e o coração feminino das cruéis mulheres

me fazem desencorajar e andar de um lado a outro.

710 Cm. O que dizes? O que dizes?

Li. A verdade, a verdade.

Cm. E o que há de grave? Fala às tuas amigas.

Li. Mas é vergonhoso para dizer e difícil de calar.

Cm. Não me escondas então o mal que sofremos.

715 Li. Queremos trepar, é o modo mais curto de dizer isto.

Cm. Ió Zeus!

Li. Por que gritas por Zeus? É assim mesmo que as coisas estão.

Quanto a mim, não sou mais capaz de mantê-las separadas

de seus maridos; pois elas escapam por toda parte.

720 A primeira delas surpreendi alargando a abertura

do lado em que está a gruta de Pã;

depois uma segunda escorregando por um cabo

e desertando; uma outra sobre um pardal

já maquinando voar ontem

725 sobre a casa de Orsíloco, quando eu a puxei pelos cabelos.

E todos os pretextos para irem para casa

inventam. Eis que justo uma delas vem aí.

Hei tu, para onde vais?


172

M1 Quero ir para casa.

Pois lá estão minhas lãs de Mileto

e pelas traças estão sendo roídas.

730 Li. Que traças?

Não tornas a entrar?.

M1 Mas voltarei logo, pelas duas deusas

É só o tempo de estender sobre a cama.

Li. Não estendas, nem vás de modo algum.

M1 Mas deixarei se perderem as lãs?

Li. Se isto for necessário.

735 M2 Infeliz eu sou, infeliz de meu linho,

que sem pelar abandonei em casa.

Li. Esta outra,

por causa do linho não pelado, sai.

Volta aqui.

M2 Mas, pela deusa Porta-Luz,

eu voltarei logo que retire a pele.

740 Li. Não, não retirarás a pele; pois se tu começas isto,

uma outra vai querer fazer o mesmo.

M3 Ó senhora Ilítia, retém o parto

até que eu chegue a um lugar permitido.

Li. Por que dizes estas tolices?


173

M3 Agora mesmo darei à luz.

Li. Mas ontem mesmo tu não estavas grávida.

745 M3 Mas hoje estou.

Deixa que eu vá para casa, ó Liberatropa, para chamar

imediatamente a parteira.

Li. Que conto nos narras?

O que tens duro aqui?

M3 É um pequeno menino.

Li. Não, por Afrodite, não tens, mas antes pareces ter

750 algo de bronze e oco; mas eu saberei.

Ó caçoadora, tendo o elmo sagrado,

dizias estar grávida?

M3 E estou grávida, por Zeus.

Li. Por que então trazias este?

M3 Para que, se me tomasse

o parto ainda na cidadela, eu daria à luz no elmo

755 tendo entrado nele, como as pombas.

Li. O que dizes? Procuras pretextos; claras são as ações.

Não ficas aqui para as anfidromias do elmo?

M3 Mas eu não posso nem dormir na cidadela,

desde que vi a serpente guardiã.

760 M4 E eu que pelas corujas, ó infeliz, pereço


174

com insônias, ao gritarem sempre kikabau.

Li. Ó demônios, cessai as tapeações.

Desejais vossos maridos talvez; mas tu não crês que eles vos

desejam? Difíceis noites eu sei bem que

765 eles passam. Mas resisti, ó amigas,

e continuai a sofrer ainda um pouco mais;

porque há um oráculo que nos dá a vitória, se

não nos separarmos. E o oráculo é este.

M3 Fala-nos o que ele diz.

Li. Silêncio, então.

770 Mas quando as andorinhas se encolherem em um mesmo lugar,

fugindo das poupas e abandonando os falos,

haverá repouso dos males, e as coisas de cima e as de baixo

inverterá Zeus Altitonante...

M3 Nós ficaremos em cima?

Li. Porém se se dividirem as andorinhas e se elevarem com suas asas

775 para fora do templo sagrado, não mais aparecerá

pássaro algum que seja mais despudorado.

M3 O oráculo é claro, por Zeus, ó todos os deuses.

Li. Não renunciemos agora a ser infelizes,

mas entremos. Pois será vergonhoso,

780 ó caras amigas, se trairmos este oráculo.


175

781/2estrCv. Quero vos contar uma história , que quando ouvi

eu ainda era criança.

784/5 Assim havia um jovem Melânio, que fugindo

786/7 do casamento foi para um deserto,

e as montanhas habitava;

e então caçava lebre

790 tendo trançado uma rede

e tinha um cão

jamais voltou para casa por ódio.

793/4 Tanto aquele tinha horror às mulheres, e nós,

795/6 os sábios, nada menos do que Melânio.

Vo. Quero te beijar, velha...

M. Então não comerás cebolas.

Vo. E levantando a perna te chutar.

800 M. Tens muito mato.

Vo. Pois Mirônides também era

áspero aí e de nádegas negras

para todos os inimigos;

como também Fórmion.

805/6ant.Cm. E eu quero vos contar uma história contra


176

a de Melânio.

808/9 Um Tímon era não fixo, em inacessíveis

810/1 espinhos as faces tendo fechado,

um rebento das Erínies,

este Tímon então

foi-se por ódio.

<................>

815 muitas imprecações tendo feito aos homens perversos

816/8 tanto aquele, como nós, sempre odiava os homens

819/0 perversos , mas das mulheres era amicíssimo.

M. Queres que eu bata no teu queixo?

Vo. De modo algum; tenho medo.

M. Ou que eu te chute com uma perna?

Vo. Mostrarás o teu pelodele.

825 M. No entanto tu não o verias

peludo, ainda que

eu seja velha, mas

depilado com a tocha.

Li. Iou, iou, mulheres, venham aqui até mim,

rápido.

Mulher
177

830 O que é? Fala-me, por que o grito?

Li. Um homem, vejo um homem feito louco aproximando-se,

tomado pelas orgias de Afrodite.

Ó senhora, que sobre Chipre, Citera e Pafo

reinas, segue reto este caminho por onde vens.

M. E onde está? Quem é?

835 Li. Junto ao templo de Cloe.

M. Ó, por Zeus, está mesmo. E quem pode ser?

Li. Olhai, alguma de vós o conhece?

Bu. Por Zeus

eu o conheço; é o meu marido Penétrias.

Li. Sua tarefa agora é queimá-lo, atormentá-lo,

840 e enganá-lo, amá-lo e não o amar,

e submetê-lo a tudo exceto as coisas de que a taça é cúmplice.

Bu. Não te preocupes, eu farei isto.

Li. Eu no entanto,

ficando aqui, vou te ajudar a enganá-lo

e a esquentá-lo. Mas afastai-vos.

Penétrias

845 Ai de mim maldito! Que convulsão e rigidez

me tomam como se eu fosse torturado sobre uma roda.


178

Li. Quem é este que está dentro dos postos de guarda?

Pe. Eu.

Li. Um homem?

Pe. Um homem, sem dúvida.

Li. Retira-te então.

Pe. E quem és tu para me expulsares?

Li. A guardiã do dia.

850 Pe. Em nome dos deuses, chama Buquerina agora para mim

Li. Vá, eu chamar Buquerina. para ti? E quem és tu?

Pe. O marido dela, Penétrias de Batida.

Li. Ó salve caro amigo; pois o teu nome não é sem glória

entre nós nem sem renome.

855 Pois sempre a tua mulher o tem na boca.

E se toma um ovo ou uma maçã “para Penétrias

isto seria” ela diz.

Pe. Ó em nome dos deuses...

Li. Sim, por Afrodite; e se sobre maridos cair ao menos

uma palavra, logo fala a tua mulher

860 que bagatela é todo o resto diante de Penétrias.

Pe. Vai então, chama-a.

Li. Por que? O que me darás?

Pe. Eu para ti, sim, por Zeus, se tu queres mesmo.


179

Tenho isto; o que tenho, dou a ti.

Li. Vá, descendo então irei chamá-la para ti.

Pe. Muito rápido;

865 porque não encontro nenhum prazer na vida,

desde o dia em que ela saiu de casa,

mas entrando lá sofro, e deserto

tudo me parece ser, nos alimentos

nenhum prazer tenho ao comê-los; pois estou com tesão.

870 Bu. Eu o amo, amo; mas ele não quer

ser amado por mim. E tu não me chames para ele.

Pe. Ó dulcíssima Buquerinazinha, por que fazes isto?

Desce aqui.

Bu. Não, por Zeus, eu não irei lá.

Pe. Não vais descer, quando te chamo, Buquerina?

875 Bu. É que me chamas sem nenhuma necessidade.

Pe. Eu, sem necessidade? Ao contrário, estou me acabando.

Bu. Vou-me embora.

Pe. Não. Mas ao menos teu filho

escuta. Tu, não chamas a mamãe?

Criança

Mamãe, mamãe, mamãe.

880 Pe. Tu o que sentes? Não tens compaixão do filho


180

que está sujo e sem leite há seis dias?

Bu. Eu me compadeço sim; mas ele tem um negligente

pai.

Pe. Desce, ó demônio, pela criança.

Bu. Como é ser mãe! Devo descer. Pois que fazer?

885 Pe. Para mim ela até parece bem mais nova

e o seu olhar está muito mais amável;

e se magoa comigo e banca a orgulhosa,

são essas coisas mesmas que me consomem de desejo.

Bu. Ó muito doce filhinho de um malvado pai,

890 vamos, deixa-me beijá-lo, docinho da mamãe.

Pe. Por que, ó perversa, fazes estas coisas e obedeces

às outras mulheres? E me fazes sofrer

e tu mesma entristeces?

Bu. Não aproximas a mão de mim.

Pe. E as coisas que estão em casa, as minhas e as tuas,

deixas estragar.

895 Bu. Pouco me preocupo com elas.

Pe. Pouco te preocupas com o tecido levado

pelas galinhas?

Bu. Sim, por Zeus.

Pe. As coisas sagradas de Afrodite não celebradas por ti


181

há tanto tempo. Tu não virás novamente?

900 Bu. Eu não, por Zeus, se não fizerdes a paz

e cessardes a guerra.

Pe. Bem, se for assim,

faremos até isto.

Bu. Bem, se for assim,

eu também volto para lá, mas agora me recuso por juramento

Pe. Pelo menos deita-te comigo por um tempo.

905 Bu. Não. Porém eu não te digo que não te amo.

Pe. Tu me amas? Por que então não te deitas, ó Buquerinazinha?

Bu. Ó ridículo, diante da criança?

Pe. Não, por Zeus, mas leva-o para casa, ó Manes.

eis a criança bem longe para ti,

e tu, não te deitarás?

910 Bu. E então onde , infeliz,

isto se faria?

Pe. Onde? A gruta de Pã estaria bem.

Bu. E como depois eu entraria pura na cidadela?

Pe. Muito bem, suponho, tendo-te lavado na Clepsidra.

Bu. Depois de ter jurado, eu cometerei perjúrio, infeliz?

915 Pe. Que para mim se volte; não te preocupes com um juramento.

Bu. Vamos, então trarei um pequeno leito para nós.


182

Pe. De modo algum.

o chão é suficiente para nós.

Bu. Não, por Apolo, eu não te

deitarei no chão, mesmo tu sendo assim.

Pe. Sim, minha mulher me ama, é bem evidente.

920 Bu. Eis aí, estende-te rapidamente, e eu me dispo.

Mas, que coisa, é preciso trazer uma esteira.

Pe. Que esteira? Não para mim.

Bu. Sim, por Ártemis,

pois seria vergonhoso sobre a corda.

Pe. Deixa então eu te beijar.

Bu. Eis aí.

Pe. Papaiax! Volta então muito depressa.

925 Bu. Eis uma esteira. Deita-te e daí eu me dispo.

Mas, que coisa, não tens travesseiro.

Pe. Mas eu não tenho nenhuma necessidade.

Bu. Sim, por Zeus, mas eu.

Pe. Não é este pênis como Héracles que se hospeda?

Bu. Levanta-te, salta, já tenho tudo.

930 Pe. Tudo sem dúvida. Aqui então, ó tesourinho.

Bu. Eis que a cinta já desato. Lembra-te;

não me enganas sobre os tratados de paz.


183

Pe. Não, por Zeus, eu então morreria.

Bu. Não tens coberta.

Pe. Não, por Zeus, nem preciso, só quero trepar.

935 Bu. Não te preocupes, farás isto; pois volto logo.

Pe. Minha mulher vai me acabar pelas coberturas.

Bu. Levanta-te.

Pe. Mas isto já está levantado.

Bu. Queres que te perfume?

Pe. Não, por Apolo, não eu.

Bu. Sim, por Afrodite, quer tu queiras ou não.

940 Pe. Oxalá derrame-se o perfume, ó senhor Zeus.

Bu. Estende a mão, toma-o e unta-te.

Pe. Não é bom, por Apolo, este perfume,

a não ser para retardar e não cheira a núpcias.

Bu. Infeliz eu sou, trouxe o perfume de Rodes.

Pe. Está bom, deixa-o, ó demônio.

945 Bu. Dizes tolices.

Pe. Que pereça da pior forma quem primeiro destilou um perfume.

Bu. Toma este frasco.

Pe. Mas tenho outro.

Ó cruel, deita-te e não me trazes

nada.
184

950 Bu. Farei isto, por Ártemis.

assim, fico descalça. Mas, ó querido,

que votes para fazer as pazes.

Pe. Deliberarei.

Minha mulher me destruiu e me desgastou

e foi-se, além de tudo, depois de me esfolar.

Ai de mim o que vai me acontecer? Com quem treparei?

955 Depois de a mais bela de todas ter me enganado?

Como alimentarei esta criança?

Onde está Cão-Raposa?

Contrata-me uma ama.

960 Cv. Em um terrível mal, ó infeliz,

consomes a alma tendo sido enganado.

E eu tenho compaixão de ti. Aiai.

Pois quais rins suportariam;

qual alma, quais testículos,

qual anca, e qual rabo

965 alongado

e sem trepar nas manhãs?

Pe. Ó Zeus, as convulsões terríveis.

Cv. Eis no entanto o que ela te fez,

a toda odiosa e toda impura.


185

970 Pe. Não, por Zeus, mas querida e toda doce.

Cv. Que doce? Impura, impura.

<Pe. Impura, impura> sim ó Zeus, Zeus.

Oxalá como a um montão de pó

fazendo-a girar e piruetar

975 em um grande furacão com raios

tu a fosses levando; então a deixasses

e ela fosse trazida de novo à terra,

em seguida, subitamente,

sobre esta vara pudesse espetar-se.

Arauto Lacedemônio

980 Onde está o Senado de Atenas

ou os prítanes? Quero falar algo novo.

Pe. Mas o que és tu? Um homem ou um conísalo?

Al. Eu sou um arauto, ó jovem homem, pelos Dióscuros,

venho de Esparta para falar dos tratados de paz.

985 Pe. E é por isso que chegas trazendo uma lança sob o sovaco?

Al. Não, por Zeus, eu não.

Pe. Para onde tu te voltas?

Por que então lanças diante de ti a clâmide? Tens um tumor

na virilha por causa da viagem?


186

Al. Que homem louco, por Castor.

Pe. Mas estás com tesão, ó muito impuro.

990 Al. Não, por Zeus, não; não fales bobagem outra vez.

Pe. E o que é isto em ti?

Al. Um bastão espartano.

Pe. Se é assim, isto aqui também é um bastão espartano.

Vamos, fala-me a verdade como para quem conhece isso.

Como estão as coisas para vós na Lacedemônia?

995 Al. Toda a Lacedemônia está ereta e os aliados

todos estão com tesão; e nos falta Pornelas.

Pe. E de onde este mal vos caiu?

De Pã?

Al. Não, sem dúvida Lampito começou, acredito,

e depois as outras mulheres de Esparta

1000 partindo de uma única linha como corredores

expulsaram os maridos dos pelescudos.

Pe. Como estais então?

Al. Sofremos; pois andamos pela cidade

curvados como se portássemos archotes,

pois as mulheres nem permitem que toquemos

1005 o mirto, antes que todos, em comum acordo,

tenhamos feito as pazes para a Grécia.


187

Pe. Este negócio está jurado em toda parte

pelas mulheres, agora compreendo.

Vamos, o mais rápido vai dizer que enviem para cá

1010 embaixadores com plenos poderes para a reconciliação.

E eu aqui direi ao Conselho que eleja

outros embaixadores, depois de lhes ter mostrado este pênis.

Al. Vou voando, pois falas muito bem em tudo.

Cv Não há fera mais indomável do que uma mulher,

1015 nem fogo, nem é tão depravada nenhuma pantera;

Cm. Isto tu sabias e assim mesmo fazes guerra contra mim,

quando podias, ó perverso, ter em mim uma amiga segura?

Cv. Sabe que jamais deixarei de odiar as mulheres.

Cm. Quando quiseres. Mas agora não vou te deixar

1020 nu assim. Pois vê como estás ridículo.

Vamos, eu de ti me aproximando, vou te vestir a túnica.

Cv. Isto, por Zeus, não fizeste por maldade;

mas foi por uma cólera malvada que eu então me despi.

Cm. De início pareces mesmo um homem, assim não estás ridículo.

1025 E se tu não me zangasses, eu teria tomado e retirado

do teu olho esta pequena fera, que tens aí agora.

Cv. Então era isto que me consumia. Eis um anel.


188

Extrai-a, e depois me mostra, tendo-a arrancado;

porque há muito, por Zeus, que me morde o olho.

1030 Cm. Bem, farei isto; mesmo sendo naturalmente mal humorado.

É um tipo grande de se ver o mosquito que está em ti.

Não vês? Não é este mosquito de Tricorito?

Cv. Por Zeus, tu me foste mesmo útil, pois há muito ele me escavava,

que, após ter sido retirado, corre de mim abundante lágrima.

1035 Cm. Bem, vou te secar, embora sejas muito perverso,

e vou te beijar.

Cv. Não beijarás.

Cm. Quer queiras ou não.

Cv. Bem, azar para vós; pois sois por natureza bajuladoras,

e esse dito é correto e não se expressa mal,

“nem com estas pestes nem sem estas pestes”.

1040 Mas agora faço as pazes contigo, e daqui por diante não mais

vos farei mal nenhum nem serei disto afetado por vós.

Vamos, tendo nos reunido, entoemos em comum um canto.

Coro

Não nos preparamos

1043/4estr. 1 para falar nenhum mal, ó homens,

1045 de nenhum dos cidadãos;


189

1046/7 mas, muito pelo contrário, falar e fazer

1048/9 todo o bem, pois os males presentes são bastantes.

1050 Vamos, que qualquer um, homem e mulher, anuncie,

1051/2 se alguém precisar tomar um dinheirinho, duas ou três minas;

1053/4 saiba que há lá dentro e temos bolsas.

1055 E se um dia a paz se mostrar,

quem agora tomar emprestado de nós,

o que receber não mais devolva.

Estamos para receber em casa

1058/9estr.2 alguns hóspedes carístios

1060 homens muito nobres.

1061/2 E há algum purê; e um porquinho que eu tinha

1063/4 este sacrifiquei, para que degusteis porções tenras e boas.

1065 Vinde então a minha casa hoje; e é preciso fazer isto

logo de manhã, depois de vos ter banhado

1066/7 e as crianças, em seguida

entrar sem indagar a ninguém,

mas avançar diretamente

1070 como em vossa própria casa, corajosamente, porque

a porta estará fechada.


190

Mas eis que os embaixadores de Esparta arrastando suas barbas

avançam, como se tivessem uma jaula de porco nas coxas.

Homens espartanos, primeiro eu vos saúdo,

1075 Dizei-nos em seguida em que estado chegais.

Embaixador Lacedemônio

Por que é preciso vos dizer muitas palavras?

Pois é possível ver como chegamos.

Coro Babail Fortificou-se terrivelmente este

mal e parece que ainda piorou a inflamação.

1080 E l. Indizível; o que se podería falar? Do modo que quiser

vindo sob quaisquer condições, alguém nos dê a paz.

Coro Mas eis que também vejo os nascidos da terra

como lutadores, tendo dos ventres

os mantos afastados; como aparece,

1085 é atlético o tipo da doença.

Embaixador Ateniense

Quem diría onde está Liberatropa?

Por que nós homens temos estes assim.

Coro E esta doença combina com esta outra.

É certo que pela manhã uma convulsão vos toma?

1090 Ea. Não só isso, por Zeus, mas sofrendo disto nos acabamos.
191

Tanto que se não nos reconciliarmos logo,

não há meio de não termos relações com Clístenes.

Coro Se vós sois prudentes, poreis o manto, para que

algum dos destruidores de hermas não vos veja.

Ea. Sim, por Zeus, tens razão.

1095 El. Sim, pelos Dióscuros,

perfeitamente. Vamos, ponhamos o manto.

Ea. Ó eu vos saúdo espartanos; é vergonhoso o que nos ocorre.

El. Ó caro amigo, seria terrível mesmo o que nos ocorre,

se nos vissem nos masturbando os tais homens.

1100 Ea. Vamos, espartanos, é preciso explicar cada ponto.

Por que vós estais aqui presentes?

El. Para a reconciliação

como embaixadores.

Ea. Eis que falais bem; e nós pelo mesmo

Por que não chamamos então a Liberatropa,

a única que pode nos reconciliar?

1105 El. Sim, pelos Dióscuros, e se quiserdes, ao Liberatropa.

Ea. Mas como parece, nós não precisamos chamá-la;

pois ela como ouviu, eis que sai.

Coro Salve, ó mais viril de todas; eis que é preciso agora tu seres

terrível e delicada, boa e má, venerável e doce, multi-experiente;


192

1110 para que os primeiros gregos pelo teu encanto tomados

cedam a ti e em comum todas as acusações a ti confiem.

Mas não é uma tarefa difícil, se alguém os colhe

cheios de seiva e sem buscarem satisfação entre si.

Mas logo saberei. Onde está a Reconciliação?

1115 Toma e guia primeiro os espartanos,

não com uma mão dura ou arrogante,

nem como nossos maridos por ignorância assim faziam,

mas como convém às mulheres, com toda delicadeza,

se algum não der a mão, guia-o pelo pênis;

1120 vai, guia também estes atenienses;

guia-os tomando aquilo que eles possam dar.

Homens espartanos, colocai-vos perto de mim,

vós aqui, e escutai minhas palavras.

Eu sou uma mulher, mas tenho inteligência.

1125 E de mim mesma não tenho má compreensão,

por ter ouvido muitas palavras do meu pai e

dos mais velhos, não sou mal instruída.

E vos tendo aqui quero vos censurar

em comum e com justiça, vós que de uma só ablução

1130 altares aspergiram como parentes

em Olímpia, nas Termópilas, em Delfos- quantos


193

outros eu diria, se fosse preciso me alongar? -

quando inimigos estão acessíveis com um exército bárbaro,

destruis os gregos e as suas cidades.

1135 Eis que um ponto do meu discurso se completa.

Ea. E eu me destruo com a glande descoberta.

Li. Agora, ó espartanos, pois me dirijo a vós,

não sabeis que vindo uma vez aqui Pericleidas,

o espartano, aos atenienses suplicante prostrava-se

1140 nestes altares, pálido em sua túnica escarlate,

pedindo um exército? E a Messênia então

vos atacava e o deus vos sacudia ao mesmo tempo.

Partindo com quatro mil hoplitas

Címon salvou toda a Lacedemônia.

1145 Isto tendo recebido dos atenienses

arruinais a região de quem recebestes o bem?

Ea. Estes são injustos, por Zeus, ó Liberatropa.

El. Somos injustos; mas este ânus não sei dizer o quanto é belo.

Li. E julgas que eu vos absolverei, os atenienses?

1150 Não sabeis que os espartanos por sua vez,

quando portáveis casacos servis vieram em armas

e mataram muitos homens tessálios

e muitos partidários e aliados de Hípias,


194

únicos a combater convosco nesse dia,

1155 que eles vos libertaram e em vez de casaco servil,

tornaram a envolver o vosso povo em fino manto?

El. Em parte alguma vi uma mulher mais proeminente.

Ea. E eu ainda não vi mais bela vagina.

Li. Por que então, depois de muitos benefícios recebidos,

1160 combateis e não cessais de perversidades?

Por que não vos reconciliais? Vamos, qual o obstáculo?

El. Nós consentimos, se consentirem em nos

entregar este ciclo.

Li. Qual, ó amigo?

El. Pilo,

que há muito pedimos e apalpamos.

1165 Ea. Não, por Posídon, isto não fareis.

Li. Deixai, ó amigo, para eles.

Ea. E depois o que penetraremos?

Li. Reclamai outra região no lugar daquela.

Ea. Eis alguma coisa, entregai-nos primeiro

este Equinos e o golfo Malíaco

1170 que está atrás e as pernas de Mégara.

El. Não, pelos Dióscuros, pelo menos não tudo, ó bom.

Li. Deixai, não fazei questão por um par de pernas.


195

Ea. Quero agora me despir para nu lavrar a terra.

El. E eu antes quero levar excremento, pelos Dióscuros.

1175 Li. Depois de vos reconciliardes, fareis isto.

Mas se é vosso desejo fazer isto, deliberai,

com os vossos aliados ide vos comunicar.

Ea. Quais aliados, ó amiga? Estamos com tesão.

Não achas que se dá o mesmo com todos os nossos aliados,

que desejam trepar?

1180 El. Com os nossos, pelos Dióscuros,

pelo menos.

Ea. Também com os carístios, por Zeus.

Li. Falais bem, pensai agora em vos purificar,

para que nós mulheres, na cidadela possamos vos

acolher como hóspedes com o que temos nos cestos.

1185 Ali juramentos e promessas trocareis entre vós.

E depois a sua mulher tomando

cada um se vá.

Ea. Vamos depressa.

El. Leva-nos aonde tu quiseres.

Ea. Sim, por Zeus, leva-nos bem depressa.

Coro Tapetes bordados, mantos de lã,


196

ant.1 túnicas finas,

1190 e jóias de ouro, de tudo eu tenho,

1191/2 não me recuso em fornecer a todos para levarem

1193/4 às crianças, e para a filha quando for canéfora.

1195/6 Convido-vos todos a tomardes dos meus

1197/8 bens agora em casa, e declaro que nada está tão bem selado

que não se possam retirar os lacres,

1200 e levar o que há dentro.

Mas nada se verá examinando, a não ser que algum de vós

tenha a vista mais aguçada do que a minha.

E se algum de vós não tem trigo, mas deve alimentar

ant.2 os escravos

e muitas crianças pequenas,

1205/6 pode junto a mim tomar grãos moídos, mas o

1207/8 pão de uma quénice é bem substancial para ver.

1209/0 Então quem queira dentre os pobres vá

a minha casa tendo sacos e alforjes; que tomará

grãos. O meu Manes os despejará neles.

No entanto da minha porta,

eu aviso, não se aproxime, mas

1215 cuidado com a cadela.


197

Ea. Tu, abre a porta. É preciso te afastares.

Vós, por que estais aí? Será que eu vos queimarei

com esta tocha? É um ato grosseiro demais.

Eu não o faria. Mas se é absolutamente preciso fazer isto,

1220 para vos agradar, nós sofreremos a pena.

Ateniense

E nós contigo a sofreremos também.

Não vos afastais? Lamentareis longo tempo os cabelos.

Ea. Não vos afasteis, para que os espartanos saiam

livremente lá de dentro, tendo se banqueteado?

1225 At. Eu jamais vi um banquete como este.

Na verdade os espartanos estavam mesmo graciosos;

e nós, pelo vinho, muito sábios convivas.

Ea. É correto, porque sóbrios não temos bom senso.

Se falando, eu convencer os atenienses,

1230 iremos sempre ébrios como embaixadores a todo lugar.

Pois atualmente quando vamos à Lacedemônia

sóbrios, logo pomos os olhos no que agitaremos;

assim não ouvimos o que possam dizer,

mas o que não dizem, isso suspeitamos que é,


198

1235 e declaramos de uma coisa o seu contrário.

Mas hoje tudo nos agradava; tanto que se alguém

cantasse Telamon, quando devesse cantar Clitágoras,

aprovaríamos e juraríamos falso.

Mas eis que eles retornam ao mesmo

1240 local. Não ireis aos corvos, ó vítimas do chicote?

At. Sim, por Zeus; pois eis que estão saindo.

El. Ó caro amigo, toma as flautas,

para que eu dance a dipodia e cante uma bela canção

para os atenienses e para nós mesmos ao mesmo tempo.

1245 Ea. Toma então as flautas, pelos deuses;

que tenho mesmo prazer em vos ver dançar.

El. Envia ao jovem homem,

Memória, tua musa,

que nos conhece e aos atenienses

1250/1 quando estes em Artemísio

atacavam movidos por um deus

os navios e venciam os medas;

nós, por outro lado, Leônidas nos

1255 conduzia como a javalis

aguçando, creio, suas defesas; e muita

espuma em torno das mandíbulas crescia,


199

1258/9 e ao mesmo tempo ela escorria pelas nossas pernas.

1260 Pois os guerreiros persas não eram menos

numerosos do que os grãos de areia.

Caçadora que mata as feras,

vem aqui, deusa virgem,

às alianças,

1265 para nos manteres unidos por um longo tempo.

1266/7 Que doravante haja uma amizade fecunda,

1268/9 graças aos pactos, e possamos cessar

1270 com as ardilosas raposas.

Ó aqui vem, aqui,

Ó virgem caçadora.

Ea. Vamos, agora, depois de tudo o mais bem sucedido,

levai estas, ó espartanos, e vós estas outras;

1275 Que o marido se coloque junto à sua mulher e a mulher

junto ao seu marido, em seguida, pelos bons acontecimentos

tendo dançado em honra aos deuses, guardemo-nos

para que no futuro não erremos mais.

Conduz o coro, conduz as Graças,

1280 e invoca Ártemis

e seu irmão gêmeo, chefe de coros,


200

bom Curandeiro, e o deus de Nisa,

1283/4 Baco, cujos olhos brilham entre as Mênades,

1285 Zeus iluminado pelo fogo, e a

augusta esposa bem-aventurada;

e em seguida as divindades, as quais irão nos servir

como testemunhas sem esquecimento

da doce tranqüilidade,

1290 que a deusa Cípris fez..

Coro Alalai, ié pean

saltai para o alto, iai,

como em uma vitória, iai.

Euoi, euoi, euai, euai.

1295 Ea. Então mostra tu, após uma nova, uma outra canção.

El. Taígeto amável deixa ainda

musa Lacônia, e vem, vem glorificar

o deus de Amiclas digno de nosso respeito

e Atena do Templo Brônzeo

1300 e os valentes Tindáridas,

que se divertem às margens do Eurotas.

Eia avança mais,

1303/4 Ó eia leve salta, para que cantemos Esparta


201

que ama os coros dos deuses,

e o bater dos pés,

e as moças como poldras

às margens do Eurotas

saltam, com pés fortes

1310 levantando poeira,

e os cabelos se agitam

1312/13 como os das Bacantes brandindo o tirso e brincando.

E a filha de Leda vai à frente

1315 casta corega, bela de se ver.

1316/7 Vamos, com uma mão contorna de uma fita a cabeleira e com pés salta

1318/9 como um veado, e, ao mesmo tempo, faz um som a ajudar o coro,

1320/1 E por sua vez a deusa toda guerreira, a do Templo Brônzeo, canta.

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