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O Burro de Balaão e A Mortificação Corporal
O Burro de Balaão e A Mortificação Corporal
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Ao entrarmos na época da Quaresma - um tempo particularmente dedicado à
mortificação corporal e ao jejum - fazemos bem em considerar a sabedoria e conselhos do
santo Bispo de Genebra que vai mostrar o verdadeiro caminho da devoção para aqueles de
nós que vivem no mundo (e não na clausura de um mosteiro ou convento).
Os monges e as freiras, que são sustentadas pela vida comum do mosteiro ou convento e
que são, para além disso, guiados tanto pela regra da sua Ordem como pela sabedoria do
seu superior, devem praticar a mortificação exterior de uma maneira ligeiramente diversa
daquela dada àquelas pessoas cuja vocação é viver fora no mundo.
Seguindo a Regra de S. Bento, os religiosos de clausura podem fazer jejum numa refeição
por dia durante toda a Quaresma, e abster-se de qualquer carne (não durante a
Quaresma, mas durante o ano). Muitas comunidades tradicionais adicionam mais
austeridade (incluindo a disciplina ou o cilício). Todas estas práticas são boas e bem
ajustadas para a vida monástica, mas são dificilmente concretizáveis por aqueles que
vivem no mundo.
Como é que um homem casado, que não só tem os deveres da sua ocupação (que podem
envolver trabalho físico) mas também as tarefas da vida da casa, sustentar-se com uma
dieta de uma refeição por dia sem carne? Poderá uma mãe que educa os filhos em casa
praticar proveitosamente a disciplina a meio do dia de escola?
Ainda assim, S. Francisco e eu não defendemos o pôr de parte todas as formas de jejum e
mortificação - não, nada disso! Antes, recomendamos apenas que a prática da
mortificação corporal seja adaptada para servir a vocação do penitente.
“Se conseguem aguentar o jejum, farão bem em jejuar em certos dias para além daqueles
prescritos pela Igreja. [...] Mesmo que não façamos jejum muitas vezes, o inimigo tem
grande medo de nós quando vê que conseguimos jejuar. Quartas, Sextas e Sábados são os
dias em que os primeiros Cristãos observavam rigorosamente a abstinência e vós devíeis,
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portanto, escolher alguns deles para jejuar tanto quanto a vossa devoção e o julgamento
do vosso director vos aconselhar.”
Ao longo do ano, podem ter um bom proveito fazendo algum pequeno sacrifício em todas
as Quartas, Sextas e Sábados - para além de se abster da carne em todas as Sextas do ano,
de acordo com um costume antigo. Durante a Quaresma, pode ser bom aumentar a
intensidade desta mortificação corporal ao abster-se da carne em cada um destes três
dias.
Em vez de privar o corpo do sono, S. Francisco de Sales recomenda uma disciplina mais
prudente:
“Devemos usar a noite para dormir, cada um de acordo com a sua disposição, para obter
aquilo que é necessário para passar o dia com utilidade. Muitas passagens da Escritura, o
exemplo dos santos e a razão natural recomendam-nos fortemente a manhã como a
melhor e mais proveitosa parte do dia. [...] Assim, eu penso que é prudente para nós ir
descansar cedo à noite para que possamos acordar cedo pela manhã."
Viremo-nos agora para o exemplo que o burro do profeta pagão Balaam nos dá no que
toca à razão da mortificação corporal.
Nessa altura, Balaão bateu três vezes no burro (com grande severidade) - e notamos que o
burro fez uma ferida ao pé de Balaão no processo. Ainda assim, o burro não ia para a
frente, pois temia o Anjo mais do que o profeta.
Depois, por um poder milagroso, a boca do burro abriu-se e falou para Balaão e o Anjo do
Senhor revelou-se-lhe. Balaão caiu por terra e percebeu que o pobre burro não tinha feito
nada de mal, mas que ele tinha acabado de ficar em falta - o burro não merecia as
pancadas, mas ele merecia ser cortado pelo Anjo. Pelo seu arrependimento, o Anjo
permitiu a Balaão continuar a sua viagem.
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Lemos na Introdução à Vida Devota:
"Vês Filoteia, apesar de Balaão ser a causa do mal, ele bate e derrota uma pobre besta que
não o podia evitar."
É o que se passa connosco muitas vezes. Uma mulher vê o seu marido ou a sua criança
deitados doentes e de repente começa a jejuar, a usar cilício e disciplina, como David fez
numa ocasião parecida. Infelizmente, minha amiga, também tu derrotaste a pobre besta,
castigaste o corpo, mas isso não pôde remediar o mal, nem foi a razão pela qual a espada
de Deus estava apontada a ti. Corrige o teu coração, que tem como ídolo o teu marido e
que tolera as muitas falhas da criança, preparando-a para o orgulho, a vaidade e a
ambição.
Oh pobre alma, se a tua carne pudesses falar como o burro de Balaão, dir-te-ia 'Homem
infeliz, porque me atacas? É contra ti, oh minha alma, que Deus prepara vingança. És tu
que és o criminoso. Porque usas os meus olhos, as minhas mãos e os meus lábios para a
devassidão? Porque me incomodas com pensamentos impuros? Alimenta os bons
pensamentos e eu não farei maus movimentos. Evita as más companhias e eu não serei
estimulado para a luxúria. És tu, ai de mim! que me atiras para as chamas e depois não
queres que me queime. Lanças fumo para os meus olhos mas não queres que se inflamem.
Em tais casos Deus dir-vos-à sem dúvida: Batei, quebrai, rasgai e esmaguei o vosso
coração em pedaços, pois é especialmente contra ele que a minha ira se levante (cf. Joel
2, 13). Para curar a comichão não há tanta necessidade de limpar e lavar como de
purificar o sangue e purificar o fígado. Por isso também, para ser curar dos vícios, é de
facto bom mortificar a carne, mas é ainda mais necessário limpar os nossos afectos e
purgar os nossos corações.
Mas, acima de tudo e em qualquer lugar, não devemos nunca começar austeridades
corporais sem o conselho do nosso director espiritual.
in New Theological Movement
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