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Dinâmica-Parte I

Na Cinemática, estudamos dois tipos de movimento unidimensionais, o MRU e o MRUV.


O MRU é um movimento rectilíneo com velocidade constante. O MRUV é um movimento
rectilíneo com aceleração constante. O primeiro é um caso particular do segundo. As expressões
matemáticas associadas ao MRUV se reduzem às expressões associadas ao MRU quando fazemos
a aceleração igual a zero.
De qualquer modo, a menos das condições iniciais, a grandeza fundamental na descrição
do movimento é a aceleração. Na Cinemática, não estudamos a origem da aceleração, quando ela
aparecia. Por isso se diz que, na Cinemática, estudamos os movimentos sem levar em consideração
as suas causas ou, o que dá no mesmo, sem levar em conta os seus agentes causadores.
Na Dinâmica, estudamos o movimento a partir dos seus agentes causadores. Esses são
chamados de forças. Em poucas palavras: na Dinâmica, estudamos a origem da aceleração. A
Dinâmica está estruturada pelas três leis de Newton.
Na Dinâmica, o objetivo é buscar conhecer as causas dos movimentos. Dado um conjunto
de corpos interagindo uns com os outros, busca descrever as forças que agem sobre cada um deles,
relacionar a resultante dessas forças à respectiva aceleração e, daí, entender o movimento
correspondente no referencial considerado.

Objectivos de aprendizagem
Ao estudar este capítulo, você aprenderá:
 Qual é o conceito de força na física, porque as forças são vectores e o significado da
força resultante sobre um objeto.
 O que acontece quando a força resultante é nula e o significado dos sistemas de
referência inerciais.
 Como a aceleração de um objeto é determinada pela força resultante sobre o objecto e
sua massa.
 A diferença entre a massa de um objecto e seu peso.
 Como se relacionam as forças que dois corpos exercem mutuamente.
 Como usar um diagrama do corpo livre para ajudar na análise das forças resultantes
sobre um objecto.

Para alcançar estes objectivos deverá rever os conceitos de:


 Movimento retilíneo com aceleração constante.
 Movimento de corpos em queda livre.
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 Aceleração como um vector.
 Movimento circular uniforme.
 Velocidade relativa.

Introdução
No capítulo anterior sobre cinemática, descrevemos o movimento de partículas com base nas
definições de posição, velocidade e aceleração. Além da discussão sobre gravidade para corpos
em queda livre, não abordamos quais factores podem influenciar um corpo a se mover da forma
como se move. Na Dinâmica vamos estudar as razões pelas quais as partículas se movem segundo
as trajectórias descritas na cinemática. Vamos verificar que, os corpos próximos da Terra caem para
esta com aceleração constante. Vamos poder responder as perguntas gerais relacionadas às
influências sobre o movimento, como “Qual mecanismo causa alterações no movimento?” e “Por que alguns
corpos aceleram em taxas mais altas que outros?”. Porquê? - a Terra move-se em torno do Sol, descrevendo uma
órbita elíptica. Porquê? - os átomos ligam-se para formar moléculas. Porquê? - que uma mola oscila quando esticada
ou comprimida. Porquê que uma pluma cai mais lentamente que uma bola de futebol? Por que você se sente
empurrado para trás em um carro que acelera para a frente? As respostas para essas e outras questões
semelhantes nos conduzem ao estudo da dinâmica, a relação entre o movimento e as forcas que o
produzem.
Assim, através da observação e do entendimento dos fenómenos, podemos descobrir o
comportamento básico da natureza e assim usá-lo em nosso proveito, por exemplo na engenharia,
no projecto de máquinas que se movam do modo como desejamos.
Portanto, neste primeiro capítulo sobre dinâmica discutiremos as causas da mudança no
movimento das partículas usando os conceitos de força e massa e, ainda, as três leis fundamentais
de movimento que estabelecem as relações entre força e movimento, baseadas em observações
experimentais formuladas há cerca de três séculos por Sir Isaac Newton (1642-1727) Estas leis
constituem os verdadeiros pilares da Mecanica Clássica e foram enumeradas na famosa obra de
Newton, “Principios matemáticos da filosofia natural, publicado em 1686.

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Força e Interacções
O conceito de força
Todo mundo possui uma compreensão básica do conceito de força com base na
experiência quotidiana. Quando você empurra ou puxa um corpo, exerce força sobre ele. Da
mesma forma, você exerce uma força sobre a bola ao lançá-la ou chutá-la. Nesses exemplos, a
palavra força está associada ao resultado da actividade muscular e a alguma mudança no estado de
movimento de um corpo. Contudo, forças nem sempre causam movimento em um corpo. Por
exemplo, enquanto você está sentado lendo este livro, a força gravitacional actua sobre seu corpo,
e ainda assim você permanece parado. Você pode empurrar um grande bloco de pedra e, apesar
disso, não conseguir movê-lo.
Esta secção lida com questões que a relaciona entre a força sobre um corpo e a mudança
no movimento deste. Se você puxa uma mola, como na Figura abaixo [….] a), ela estica. Se a mola
estiver calibrada, a distância que ela estica pode ser utilizada para medir a intensidade da força. Se
uma criança puxa um carrinho, como na Figura abaixo […] b), este se move. Quando uma bola de
futebol é chutada, como na Figura abaixo […] c), ela é deformada e colocada em movimento. Esses
exemplos mostram os resultados de uma classe de forças chamada forças de contacto. Isto é,
essas forças representam o resultado do contacto físico entre dois corpos.
Há outras forças que não envolvem contacto físico entre dois corpos; conhecidas como
forças de campo, que podem agir através do espaço vazio. A força gravitacional entre dois corpos
que provoca a aceleração em queda livre é um exemplo desse tipo de força, ilustrada na Figura
abaixo […] d).
Essa força gravitacional mantém os corpos ligados à Terra e dá origem ao que comumente
chamamos de peso de um corpo. Os planetas do nosso sistema solar estão ligados ao Sol sob a
acção das forças gravitacionais. Outro exemplo comum de força de campo é a força eléctrica que
uma carga eléctrica exerce sobre outra, como na Figura abaixo […] e). Essas cargas podem ser um
electrão e um protão formando um átomo de hidrogênio. Um terceiro exemplo de força de campo
é a força que um íman em barra exerce sobre um pedaço de ferro, como mostrado na Figura abaixo
[…] f).
A distinção entre as forças de contacto e as de campo não é tão precisa quanto você pode
ter sido levado a acreditar pela discussão anterior. No nível atómico, todas as forças que
classificamos como de contacto acabam sendo causadas por forças eléctricas (de campo),
semelhantes à força eléctrica de atracção ilustrada na Figura abaixo […] e). No entanto, para o
entendimento dos fenómenos macroscópicos, é conveniente usar ambas as classificações de força.

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Figura […]. Alguns exemplos de forças aplicadas a diversos corpos. Em cada caso, uma força é exercida
sobre a partícula ou corpo dentro da área pontilhada O ambiente externo a esta área fornece essa força.

Inercia e Massa
A propriedade que confere a um corpo a capacidade de resistir a qualquer alteração do seu
movimento, denomina-se inércia. Todos os corpos físicos são inertes, mas a inércia é diferente de
corpo para corpo. A experiência mostra que forças diferentes, actuando sobre um mesmo corpo,
produzem acelerações diferentes, mas proporcionais às forças que as provocam.
F1 F2 F
  ...   m
a1 a2 a […]
Esta constante de proporcionalidade (constante no domínio da mecânica clássica) é a massa
do corpo.

Massa
Imagine brincar de bola com uma bola de pingue-pongue ou com uma de boliche. Qual
bola tem mais probabilidade de manter seu movimento quando você tenta apanhá-la? Qual delas
tem a maior tendência de permanecer imóvel quando você tenta arremessá-la? A bola de boliche é
mais resistente a mudanças em sua velocidade que a bola de pingue-pongue. Como podemos
quantificar este conceito?
Massa é a propriedade de um corpo que especifica o quanto ele pode resistir a mudanças
na sua velocidade e, a unidade de massa no SI é o quilograma, cujo símbolo é kg.
Quanto maior a massa de um corpo, menos ele acelera sob a ação de determinada força
aplicada. Para descrever quantitativamente a massa, começamos por comparar experimentalmente
as acelerações que determinada força produz em corpos diferentes. Suponha que uma força que
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age sobre um corpo de massa m1 produza uma mudança no seu movimento que podemos

quantificar como sua aceleração a1 , e a mesma força que age sobre um corpo de massa m2 produza

uma aceleração a 2 . A relação entre duas massas é definida como a razão inversa dos módulos das
acelerações produzidas pela força:
m1 a2

m2 a1 [….]
Por exemplo, se determinada força agindo sobre um corpo de massa 3 kg produz uma
aceleração de 4m/s2, a mesma força aplicada a um corpo de massa 6 kg produz uma aceleração de
2 m/s2. Se um corpo tem massa conhecida, a de outro corpo pode ser obtida de medições da
aceleração.
Massa é uma propriedade inerente de um corpo e independente dos seus arredores e do
método utilizado para medi-lo. Além disso, é uma grandeza escalar e, portanto, obedece às regras
da aritmética comum. Ou seja, várias massas podem ser combinadas de um modo numérico
simples. Por exemplo, se você combinar uma massa de 3 kg com outra de 5 kg, a massa total é de
8 kg. Podemos verificar este resultado experimentalmente, comparando a aceleração que uma força
conhecida confere a vários corpos separadamente com a aceleração que a mesma força confere aos
mesmos corpos combinados em uma única unidade.
Massa não deve ser confundida com peso. Massa e peso são quantidades diferentes. Como
ainda veremos neste capítulo, o peso de um corpo é igual ao módulo da força gravitacional exercida
sobre o corpo e varia com a localização. Por exemplo, uma pessoa que pesa 180 N na Terra, pesa
apenas cerca de 30 N na Lua. Por outro lado, a massa de um corpo é a mesma em todo lugar. Um
corpo com massa de 2 kg na Terra também tem esta mesma massa na Lua.

A Primeira Lei de Newton


As leis de Newton tratam da relação entre força e movimento em referenciais inerciais, ou
seja, referenciais fixados em corpos em repouso ou com movimento rectilíneo uniforme. A
primeira pergunta a que elas procuram responder é: o que acontece com o movimento de um corpo livre da
acção de qualquer força? Podemos responder a essa pergunta em duas partes.
A primeira trata do efeito da inexistência de forças sobre o corpo em repouso. A resposta
é quase óbvia: se nenhuma força é exercida sobre o corpo em repouso, ele continua em repouso. A segunda parte
trata do efeito da inexistência de forças sobre o corpo em movimento.
A resposta, embora simples, não é óbvia: se nenhuma força é exercida sobre o corpo em movimento,
ele continua em movimento. Mas que tipo de movimento? Como não há força sendo exercida sobre o corpo,

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a sua velocidade não aumenta, nem diminui, nem muda de direcção. Portanto, o único movimento
possível do corpo na ausência de qualquer força exercida sobre ele é o movimento rectilíneo
uniforme.
A primeira lei de Newton reúne ambas as respostas num só enunciado: um corpo permanece
em repouso ou em movimento rectilíneo uniforme se nenhuma força for exercida sobre ele.
Em outras palavras, a primeira lei de Newton afirma que, livre da acção de forças, todo
corpo fica como está: em repouso se estiver repouso e, em movimento se estiver em movimento
(rectilíneo uniforme). Daí essa lei ser chamada de princípio da inércia.
Vale ressaltar que inércia, na linguagem corrente/quotidiana, significa “falta de acção, de
actividade, indolência, preguiça”, ou algo semelhante. Por essa razão, costuma-se associar inércia a
repouso, o que não corresponde exactamente ao sentido que a Física dá ao termo. O significado
físico de inércia é mais abrangente: inércia é “ficar como está”, ou em repouso ou em movimento.
É importante lembrar, no entanto, que a ideia de o corpo se mover, mesmo que não exista
nenhuma força sobre ele, sempre foi muito difícil de ser aceita. Aliás, durante séculos prevaleceu o
ponto de vista contrário - de que só havia movimento se houvesse força – até o aparecimento dos
trabalhos de Galileu. Para manter o corpo em movimento, não há necessidade de força, como
Galileu percebeu, mas, ao contrário, a existência de força é necessária para fazer o movimento
cessar.
Existem equipamentos experimentais didácticos, como os trilhos de ar, que permitem
observar concretamente a possibilidade do movimento contínuo e uniforme sem acção de força,
até mesmo em sala de aula. A figura a, abaixo, mostra um trilho de ar, enquanto a figura b
representa esquematicamente o seu funcionamento. Dentro de um tubo fechado se injecta ar, que
sai com alta pressão por orifícios na superfície do trilho onde se apoiam suportes deslizadores -
entre a base desses suportes e o trilho forma-se uma película de ar que reduz drasticamente o atrito
entre eles: basta um leve empurrão para que o deslizador se desloque com velocidade praticamente
constante.
Figura […]

Na época de Galileu não havia a possibilidade de observar experimentalmente o


movimento de um móvel na ausência de forças, por isso ele recorreu a alguns argumentos muito
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interessantes que ficaram conhecidos como experiências de pensamento. Duas delas são descritas e
ilustradas a seguir:
Conexões filosóficas
Experiências de pensamento são raciocínios lógicos sobre situações que nem
sempre podem ser realizadas ou cuja execução prática difere das conclusões
obtidas a partir desse raciocínio, como os paradoxos. São como experiencias
realizadas no “laboratório da imaginação”. Além das experiências de pensamento de
Galileu, destacam-se as de Einstein, fundamentou suas teorias da relatividade,
restrita e geral, em notáveis experiências de pensamento.
Portanto, como vimos na Parte I, um corpo em movimento pode ser observado de
qualquer número de sistemas de referência. A Primeira Lei do Movimento de Newton, às vezes
chamada Lei da Inércia, define um conjunto especial de sistemas de referência chamados referenciais
inerciais.
Essa lei pode ser enunciada da seguinte maneira: “Se um corpo não interage com outros corpos, é
possível identificar um sistema de referência em que o corpo tem aceleração zero”.
Na ausência de forças externas e quando visualizado a partir de um referencial inercial, um
corpo em repouso permanece em repouso e um corpo em movimento continua em movimento
com uma velocidade constante (isto é, com velocidade constante em linha recta).
Tal sistema de referência é chamado referencial inercial
Em termos mais simples, podemos dizer que, quando nenhuma força age sobre um
corpo, a aceleração do corpo é zero. Se nada age para alterar o movimento do corpo, sua
velocidade não muda. Da Primeira Lei, concluímos que qualquer corpo isolado (que não interage com
seu ambiente) ou está em repouso ou está em movimento com velocidade constante. A tendência
de um corpo de resistir a qualquer tentativa de mudança de sua velocidade é chamada inércia.
Considere uma nave espacial viajando no espaço bem distante de qualquer planeta ou
qualquer outro tipo de matéria. A nave espacial necessita de algum sistema de propulsão para alterar
sua velocidade. No entanto, se o sistema de propulsão é desligado quando a nave espacial atinge a

velocidade v , ela “viaja” no espaço com essa velocidade, e os astronautas desfrutam de uma
“viagem livre” (isto é, nenhum sistema de propulsão é necessário para mantê-los em movimento
na velocidade).
Finalmente, lembre-se sobre a proporcionalidade entre força e aceleração”

A Primeira Lei de Newton nos diz que a velocidade de um corpo permanece constante se
nenhuma força actua sobre ele; o corpo mantém seu estado de movimento. A proporcionalidade
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anterior nos diz que, se uma força agir, uma mudança ocorre no movimento, medida pela
aceleração. Essa noção formará a base da Segunda Lei de Newton; logo forneceremos mais detalhes
sobre este conceito

TESTE RÁPIDO
1. Qual das seguintes afirmações é mais correcta? (a). É possível que um corpo tenha movimento
na ausência de forças sobre ele. (b). É possível ter forças agindo sobre um corpo na ausência de movimento
do corpo. (c). Nem a afirmação (a) nem a (b) estão corretas. (d). Ambas as afirmações (a) e (b) estão
correctas.
2. A resultante das forças exercidas sobre um bloco apoiado sobre um plano é nula. Você
pode afirmar que esse bloco está parado em relação a esse plano?
3. Critique a seguinte argumentação: um automóvel está numa estrada rectilínea horizontal com
velocidade constante, ou seja, com movimento rectilíneo uniforme. Se desligarmos o motor, o automóvel vai reduzir
sua velocidade e parar. Logo, só existe movimento rectilíneo uniforme enquanto há força - a força do
motor -, o que contraria a primeira lei de Newton.

A Segunda Lei de Newton


A Primeira Lei de Newton explica o que acontece com um corpo quando a resultante das
forças exercidas sobre ele é nula: ou permanece em repouso, ou move-se em linha recta com
velocidade constante. Essa lei permite definir um referencial inercial e, ainda, identificar a força
como o que causa mudanças no movimento.
A Segunda Lei de Newton responde à outra questão possível: o que ocorre quando o corpo está
sob a acção de força resultante não nula? É claro que, nessa situação, o corpo não pode estar nem repouso
nem em movimento rectilíneo uniforme, pois esse é o caso da primeira lei, em que a resultante é
nula. Se não pode estar em repouso nem movimento com velocidade constante, o corpo
certamente deve ter aceleração. Mas como é essa aceleração? Do que ela depende? A resposta dada por

Newton é que essa aceleração, a tem a mesma direcção e sentido da força resultante F R . Se a
força resultante for constante, a aceleração também será. Veja a figura abaixo:

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Imagine que você esteja empurrando um bloco de gelo por uma superfície horizontal sem

atrito. Quando você exerce uma força horizontal F no bloco, ele se move com uma aceleração a
. Experiências mostram que, se você aplicar uma força duas vezes maior no mesmo corpo, a

aceleração duplica. Se você aumenta a força aplicada para 3 F , a aceleração é triplicada, e assim por
diante.
Com base nessas observações, concluímos que a aceleração de um corpo é directamente
proporcional à resultante das forças agindo sobre ele. Fazemos alusão a esta proporcionalidade em
nossa discussão sobre aceleração, também sabemos, pela secção anterior, que o módulo da
F
a
aceleração de um corpo é inversamente proporcional à sua massa: m.
Essas observações experimentais são resumidas na Segunda Lei de Newton: “Quando vista
de um referencial inercial, a aceleração de um corpo é directamente proporcional à resultante das forças que agem
sobre ele e inversamente proporcional à sua massa”
Escrevemos esta lei como:

a
F
m […]

Em que  F é a força resultante, que é a soma vectorial de todas as forças agindo sobre
o corpo de massa m. Se o corpo consiste em um sistema de elementos individuais, a força resultante
é a soma vectorial de todas as forças externas ao sistema. Quaisquer forças internas – isto é, forças
entre os elementos do sistema – não estão inclusas porque não afectam o movimento de todo o
sistema. A força resultante, às vezes, é chamada de força líquida, soma de todas as forças, força total ou
força de desequilíbrio.
A Segunda Lei de Newton na forma matemática é uma afirmação desta relação que torna
a proporcionalidade anterior uma igualdade1:

 F  ma [...]
É a representação matemática da Segunda Lei de Newton
Observe que a Equação […] é uma expressão vectorial e, portanto, equivalente às seguintes
três equações de componentes:

[…]

1
A Equação […] é válida apenas quando a velocidade escalar do corpo é muito menor que a velocidade da luz.
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Segunda Lei de Newton na forma de componentes
A Segunda Lei de Newton apresenta um novo modelo de análise, a partícula sob a acção
de uma força resultante. Se uma partícula, ou um corpo que pode ser assim modelado, estiver sob
a influência de uma força resultante, a Equação […], a afirmação matemática da Segunda Lei de
Newton pode ser usada para descrever seu movimento. A aceleração é constante se a força
resultante assim for. Portanto, a partícula sob uma força resultante constante terá esse movimento
descrito como uma partícula sob aceleração constante. Certamente, nem todas as forças são
constantes e, quando não são, a partícula não pode ser modelada como se estivesse sob aceleração
constante.
Investigaremos situações neste capítulo e no próximo que envolvem tanto forças
constantes quanto variáveis.

Unidade de força
A unidade de força no SI é o newton [símbolo N], que é definida como a força que, durante
acção sobre uma massa de 1 kg produz uma aceleração de 1 m/s2. Com base nessa definição e na
Segunda Lei de Newton, vemos que o newton pode ser expresso em termos das unidades
fundamentais de massa, comprimento e tempo:
1 N =1 kg ⋅1 m/s2 Definição de newton

TESTE RÁPIDO
1. Um corpo não sofre aceleração. Qual das seguintes opções não pode ser verdadeira para
o corpo? (a). Uma única força age sobre o corpo. (b). Nenhuma força age sobre o
corpo. (c) Forças agem sobre o corpo, mas elas se cancelam.
2. Você empurra um corpo, inicialmente em repouso, por um assoalho sem atrito com
uma velocidade constante por um intervalo de tempo ∆t, resultando em uma velocidade
final v para o corpo. Você, então, repete a experiência, mas com uma força que é duas
vezes maior. Qual é o intervalo de tempo necessário agora para atingir a mesma
velocidade final v? (a) 4∆t (b) 2 ∆t (c) ∆t (d) ∆t/2 (e) ∆t/4.
3. Considere um camião mantendo a mesma velocidade e o mesmo sistema de freios ao
percorrer o mesmo trecho da estrada. Em que condições ele percorre uma distância
maior durante a freagem? (a) carregado; (b) descarregado.
4. Explique.

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A mesma força resultante de módulo FR é aplicada a dois corpos de massas m1 e m2
separadamente. Verifica-se que a aceleração do corpo de massa m1 é um terço da
aceleração do corpo de massa m2. Qual a razão entre as massas m1 e m2?
5. Sempre que o motorista pisa no acelerador o carro acelera? Explique.

A Terceira Lei de Newton


As duas primeiras leis de Newton relacionam força e movimento. A terceira lei procura
descrever força como o resultado da interacção entre dois corpos, isto é, transmite a noção de que
as forças sempre são interações entre dois corpos:
Imagine a seguinte situação: um patinador está parado junto à parede. Para se movimentar,
ele empurra a parede para a frente e desloca-se para trás. Quem exerceu força sobre quem? O patinador
sobre a parede ou a parede sobre o patinador? A resposta é: um exerceu força sobre o outro. Não há como
separar a acção do patinador da reacção da parede, ou vice-versa. Enquanto o patinador empurra
a parede, a parede empurra o patinador. São forças simultâneas que têm sempre o mesmo módulo
e direcção, mas sentidos opostos. Veja a figura abaixo:

Se dois corpos interagem, a força F 12 exercida pelo corpo 1 (patinador) sobre o corpo 2

(parede) é igual em módulo e oposta em sentido à força F 21 exercida pelo corpo 2 sobre o corpo1:

F 12   F 21 […]
Quando for importante designar forças como interacções entre dois corpos, usaremos esta

notação em subscrito, em que F ab significa “a força exercida por a sobre b”. A terceira lei, ilustrada
nas figuras acima e abaixo, é equivalente a declarar que as forças sempre ocorrem em pares, ou
que uma única força isolada não pode existir. A força que o corpo 1 exerce sobre o corpo 2

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pode ser chamada força de acção e a que o corpo 2 exerce sobre o corpo 1, força de reacção. Na realidade,
qualquer uma das forças pode ser chamada acção ou reacção.
A força de acção é igual em módulo à de reacção e oposta em sentido. Em todos os casos,
as forças de acção e de reacção agem sobre corpos diferentes (pontos de aplicação diferentes) e
têm de ser do mesmo tipo. Por exemplo, a força que age sobre um projéctil que cai livremente é a

força gravitacional exercida pela Terra no projéctil F g  F Tp (T = Terra, p = projéctil), e seu


módulo é mg. A reacção desta força é a força gravitacional exercida pelo projétil sobre a Terra

F pT   F Tp . A força de reacção F pT deve acelerar a Terra em direcção ao projéctil exactamente

como a força de acção F Tp acelera o projéctil em direcção à Terra. No entanto, como a Terra tem
massa muito grande, sua aceleração por causa dessa força de reacção é desprezível de tão pequena.

Figura […] Terceira Lei de Newton. (a) A força F 12 exercida pelo corpo 1 sobre o corpo 2 é igual em módulo e

oposta em sentido à força F 21 exercida pelo corpo 2 sobre o corpo 1. (b) A força F pm exercida pelo martelo sobre

o prego é igual em módulo e oposta em sentido à força


F mp exercida pelo prego sobre o martelo.

EM RESUMO:
As forças são exercidas sempre aos pares; não existe acção sem reacção. Essa é a ideia
fundamental da terceira lei de Newton, que pode ser enunciada da seguinte maneira: “Se um corpo A
exerce uma força sobre um corpo B, o corpo B exerce sobre A uma força de mesmo módulo e direção, mas de sentido
contrário. Esse enunciado equivale a outro, mais simples: “A toda acção corresponde uma reacção igual e
contrária”.
Embora correto, esse enunciado simplificado não destaca o facto de a acção e a reacção
serem exercidas em corpos diferentes, o que o enunciado proposto torna evidente: a acção de A é
exercida em B; a reacção de B é exercida em A. É por essa razão que acção e reacção, embora
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iguais e contrárias, nunca têm resultante nula - não é possível somá-las vectorialmente, pois elas
não estão aplicadas ao mesmo corpo.
Veja outros exemplos:

A esfera vermelha movimenta-se em direcção à esfera azul em repouso (a) e com ela colide

frontalmente (b). Nessa interacção, a esfera vermelha exerce uma força F A (acção) sobre a esfera

azul, e esta exerce uma força F R (reacção) sobre a esfera vermelha. Essas forças não se equilibram

porque F R é aplicada na esfera vermelha (c), enquanto F A é aplicada na esfera azul (d). Em
condições ideais, se as esferas tiverem massas iguais, depois da interacção, a esfera vermelha parará
e a esfera azul passará a se movimentar com a mesma velocidade da esfera vermelha (e). A terceira
lei de Newton completa o conjunto de leis que estabelece as bases das relações entre força e
movimento para referenciais fixados em sistemas em repouso ou em movimento retilíneo uniforme
(referenciais inerciais).

Atenção
A Terceira Lei de Newton é uma noção tão importante e muitas vezes mal compreendida.
Aqui fica uma chamada de Atenção da Armadilhas. Nela, as forças de acção e reacção actuam sobre
corpos diferentes. Duas forças actuando sobre o mesmo corpo, mesmo se forem iguais em módulo
e opostas em sentido, não podem ser um par acção-reacção.

TESTE RÁPIDO
1. Pai e filho passeiam de carro. Num dado momento o carro morre (motor vai abaixo).
Como a bateria está descarregada, o pai pede ao filho que empurre o carro. Estudante do Ensino
Médio, o filho argumenta: “Não adianta empurrar. Qualquer acção que eu faça será igual e contrária à reacção
do carro - ele nunca vai sair do lugar!”. Critique essa argumentação.

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2. Qual o módulo da força resultante F que comunica ao corpo de massa 5,0 kg a
aceleração de módulo 2,0 m/s2?
3. (i) Se uma mosca colidir com o para-brisa de um carro em movimento rápido, quem
sofre uma força de impacto com maior intensidade? (a) A mosca. (b) O carro. (c) A mesma força
é sofrida por ambos.
(ii) Qual delas sofre a maior aceleração? (a) A mosca. (b) O carro. (c) A mesma aceleração
é sofrida por ambos.
4. Qual das seguintes é a força de reacção para a força gravitacional actuando sobre seu
corpo enquanto está sentado em sua cadeira? (a) a força normal da cadeira (b) a força que você
aplica no assento da cadeira (c) nenhuma dessas.

[tem continuidade]
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