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© 2006, by Instituto Histórico e Artístico de Paraty

Direito desta edição reservado para


Instituto Histórico e Artístico de Paraty

Instituto Histórico e Artístico de Paraty


Presidente: Maria José S. Rameck
Vice Presidente: José dos Santos Pádua Filho
Secretário: Amaury Barbosa
Tesoureiro: Diuner Mello
Coordenadora de Projetos: Clarice Muhlethaler de Souza
Especialista em Arquivologia; Alda do Nascimento Soares

Diagramação e Capa
Cláudio Marcelus Teixeira
Márcio Franco - (Sócio IHAP): Reconstituição do sinete da vila em cores

Ficha Catalográfica elaborada pela Biblioteca Municipal


Fábio Villaboim: Paraty - RJ

M46p
Mello, Diuner
Paraty Estudante/ Diuner Mello; Instituto Histórico e Artísti
co de Paraty e Valle Sul Construtora Ltda.; Guaratinguetá, SP; Frei Galvão Gráfica
e Editora, 2006

75 p. il.

l. História do Brasil
2. Paraty, RJ: História

I - Título
CDD 981.532 pa
1ª Edição: Agosto/2006

Índice:

Apresentação
Prefácio
Dados Gerais __________________________________ 01
Símbolos Municipais ____________________________ 11
Breve Histórico ________________________________ 15
Cronologia Histórica ____________________________ 24
Monumentos Religiosos _________________________ 29
Monumentos Civis e Militares ____________________ 36
Vultos Ilustres _________________________________ 47
Lendas _______________________________________ 49
Festas Religiosas e Populares _____________________ 52
Danças Folclóricas _____________________________ 59
Artesanato ____________________________________ 62
Culinária _____________________________________ 65
Bairros da Cidade e Outras Localidades _____________ 66
Toponímia ____________________________________ 77
Bibliografia ___________________________________ 79
Publicações Sobre Paraty ________________________ 81

Apresentação

A Valle Sul Construtora Ltda., quando


procurada pela Presidente do Instituto Histórico e Artístico de Paraty,
solicitando apoio para uma publicação sobre a história do Município
destinada ao ensino fundamental, aderiu imediatamente à idéia.
Nossa empresa, atuando em Paraty há quase
vinte anos, realizando obras de dragagem, drenagem, construção de
muros de arrimo e pavimentação, considerou a importância desse projeto
por tratar-se também de uma obra, desta vez voltada para a educação
patrimonial, conhecimento e preservação da Vila de Nossa senhora dos
Remédios de Paraty.

A Valle Sul Construtora Ltda. possibilita com


esta parceria a edição do “Paraty Estudante” que terá distribuição
gratuita para os alunos do ensino público de 5ª a 8ª séries, contribuindo
para a formação da geração futura, uma vez que, ajudando a conhecer o
passado, certamente estaremos construindo o futuro.

Valle Sul Construtora Ltda.


Prefácio

Na comemoração dos seus trinta anos de


fundação o Instituto Histórico e Artístico de Paraty em parceria com a
Valle Sul Construtora Ltda., optou por partilhar este aniversário
oferecendo aos alunos do ensino fundamental, “Paraty Estudante”, de
autoria de Diuner Mello.

Com a finalidade de preencher a lacuna


existente com relação ao estudo da história local nas escolas, os
exemplares serão gratuitamente distribuídos aos estudantes de 5ª a 8ª
séries do ensino público.

Agradecemos ao autor, sócio fundador do


IHAP, que mais uma vez atendendo o chamado se faz presente no estudo
de nossa memória e esperamos que esta publicação seja integrada à grade
curricular, conscientizando o professor e aluno que, ainda que estejamos
no Século XXI, LIVROS ainda são necessários para o conhecimento da
História.

Agradecemos especialmente a:

Diretores da Valle Sul Construtora Ltda. que, acreditando no projeto,


fizeram com que ele se tornasse realidade, investindo nessa obra de
Educação e Cidadania;
Benedito José Melo, sócio do HIAP, pelo apoio, sempre;
Márcio Franco e Daniel Lara pelos trabalhos de ilustração;
Nosso Muito Obrigado.

Instituto Histórico e Artístico de Paraty


Maria José S. Rameck
Presidente

DADOS GERAIS

Não se conhece a data de fundação do povoado que originou a cidade de Paraty,


porém o Município foi criado por Carta Régia de Dom Afonso VI, em 28 de Fevereiro
de 1667, quando este território se separou da Vila da Ilha Grande, hoje Angra dos
Reis. Está situado na microrregião fisiográfica da Baía da Ilha Grande e integra a
Região Turística da Costa Verde juntamente com Angra dos Reis e Mangaratiba.

Aspectos físicos
Extensão Territorial: 930,7 Km²
Limites: ao Norte com Angra dos Reis (RJ)
ao Sul com Ubatuba (SP)
a Leste com o Oceano Atlântico
a Oeste com Cunha (SP)
Coordenadas: Latitude Sul: 23º56’26’’
Longitude Oeste: 46º19’47’’
Altitude da sede : 2 metros acima do nível do mar
Clima: tropical, quente e úmido
Temperaturas: Máxima 38º; Mínima 12º e Média anual 27º.
Índice pluviométrico anual: 2.384 mm.
População: Urbana: 14.066 hab.
Rural: 15.478 hab.
Total: 29.544 hab.(Censo 2000/IBGE)

Relevo: É predominado pela Serra do Mar e caracteriza-se pelo mergulho da serra no


oceano, encontro do mar com a montanha, o que dá origem a praias, pontas, ilhas e
reentrâncias que formam enseadas e baías. O relevo apresenta-se montanhoso em
alguns lugares em outros, extensas e férteis várzeas. A Mata Atlântica, que recobre a
Serra do Mar no Município, é considerada Reserva da Biosfera pela Unesco. Seus
picos mais importantes são: O Pico da Macela com 1.870 m. de altura; o Pico do
Papagaio com 1.207 m. de altitude e o Pico do Cairuçu com 1.090 m.

Hidrografia: Inúmeros rios nascem na região montanhosa e deságuam no mar. Os


mais importantes por seu volume d’água ou extensão são: Mambucaba, Taquari,
Graúna, Perequê-açu, Matheus Nunes, dos Meros e Pedras Azuis. Formam estes rios
várias cachoeiras das quais se destacam: do Funil, do Iriri, da Pedra Branca, dos
Penhas e do Corisco.

Baía de Paraty: Parte integrante da Baía da Ilha Grande, abriga inúmeras praias e
ilhas. Dentre as praias mais importantes por sua beleza ou extensão podemos citar:
Batangüera, Tarituba, São Gonçalo, Prainha da Praia Grande, Jabaquara, Pontal,
Paraty Mirim, Praia Grande e Pouso da Cajaíba, Sono, Antigos e as da Trindade:
Cepilho, de Fora, do Meio e do Caixadaço. As mais importantes ilhas são: do Araújo,
do Algodão, da Cotia, do Cedro, Deserta, Sapeca, Mantimento e das Bexigas.

Aspecto Administrativo
O Município divide-se em três distritos:
Primeiro: a Sede: Paraty, que tem por limite ao Norte o Rio Taquari e ao
Sul o Rio dos Meros;
Segundo: Paraty Mirim, limitado pelo Rio dos Meros e a
divisa com Ubatuba;
Terceiro: Tarituba, que compreende a área entre o Rio Taquari e a divisa
com Angra dos Reis.
O Município é administrado por um Prefeito, eleito a cada quatro anos, possui
Câmara de Vereadores, composta por 9 vereadores, também eleitos a cada quatro
anos. O Poder Executivo subdivide-se em várias Secretarias e Departamentos.
É Comarca de 1ª Entrância, com Vara Cível, Criminal, Promotoria e Defensoria
Públicas, Juizado de Pequenas Causas.

Educação e Cultura
A rede de ensino no município conta com 46 unidades escolares, assim
distribuídas:
Ensino Fundamental: 33 escolas municipais
4 escolas estaduais
5 escolas particulares
Ensino Médio: 2 escolas estaduais
2 escolas particulares
Curso Profissionalizante: 1 escola estadual
1 escola particular
Bibliotecas Escolares: 2 estaduais
1 municipal
Biblioteca Pública: Biblioteca Municipal Fabio
Villaboim
Museu de Arte Sacra -federal
Museu de Mineralogia - particular
Centro de Artes e Tradições Populares - federal
Pinacoteca Marino Gouveia - IHAP
Muitas organizações e entidades não governamentais dedicam suas
atividades à cultura. Dentre elas destacam-se: o Instituto Histórico e Artístico de
Paraty, mantenedor da Biblioteca Municipal, do Arquivo Histórico do município e da
Pinacoteca Marino Gouveia, que exibe valioso e importante acervo de artes plásticas;
a Associação Paraty Cultural, administradora da Casa da Cultura; a Associação Casa
Azul, organizadora da Festa Literária Internacional de Paraty; o Grupo Contadores de
História, proprietário do Teatro Espaço com espetáculos de teatro de bonecos e o Sítio
Ecológico Caminho do Ouro; O Silo Cultural José Kleber e a Associação Nhandeva.

Saúde:
O serviço público de saúde possui:
1 Hospital c/ 50 leitos (antiga Santa Casa de Misericórdia)
com Clínica Médica, Pediátrica, Obstétrica e Cirúrgica.
1 Centro de Saúde - CIS
1 Centro de Atendimento Psico-social - CAPS
1 Centro de Especialidades Odontológicas - CEO
7 Módulos da Estratégia de Saúde da Família
10 Sub Postos de Saúde
1 Laboratório de Análises Clínicas
1 Departamento de Vigilância em Saúde com Vigilância
Sanitária, Epidemiológica e Ambiental.
Vários consultórios médicos e odontológicos, laboratórios de análises clínicas, além
de uma clínica médica particular estão em funcionamento atualmente. Conta também
o município com farmácias e drogarias.

Saneamento Básico
O serviço de abastecimento d´água é de competência municipal e
atende a cidade e bairros limítrofes com água somente clorada; algumas localidades
rurais contam com pequenas represas junto a cachoeiras e rios, sem qualquer
tratamento.
Não existe tratamento sanitário de esgoto: as águas servidas são
despejadas nos rios sem qualquer tratamento.

Serviço de Comunicação
O Município dispõe de correio e telégrafo, telefonia fixa e celular, duas
emissoras de rádio, 2 jornais impressos e um via internet e provedores de internet.

Serviços Diversos
O Município conta com Delegacia de Polícia Civil, DPO da Polícia
Militar, Corpo de Bombeiros, Coletoria Estadual, Defesa Civil, Agência da
Capitania dos Portos, Bancos e
Escritórios do IBAMA, do DETRAN, do Instituto Estadual de Florestas, do Instituto
do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, do SEBRAE, da EMATER, da OAB e
da concessionária de energia elétrica, além de Fórum e Cartórios de Registro Civil,
Notarial, de Imóveis e Eleitoral.
As comunidades, tanto rurais como urbanas, têm associações de
moradores que lutam por melhorias em suas localidades e se unem no Conselho
Municipal de Associação de Moradores de Paraty - COMAMP e o Fórum de
Desenvolvimento Integrado e Sustentado - DLIS.

Transporte
As únicas rodovias que atendem o município são a Rodovia Mario
Covas (BR 101- Rio/Santos) e a Paraty-Cunha. A primeira pavimentada e de tráfego
permanente e a segunda pavimentada em parte e que por este motivo fica intransitável
por ocasião de fortes chuvas. Várias empresas são concessionárias deste serviço e
linhas de ônibus servem o município, ligando internamente seus povoados e às
cidades de Guaratinguetá, Ubatuba, Angra dos Reis, Rio de Janeiro e São Paulo.
Existe um pequeno aeroporto que permite o pouso de pequenas aeronaves, sem porém
existir linha de transporte diário e sim vôos charter.

Reservas Indígenas
Existem no Município duas Reservas Indígenas: a aldeia Araponga, na
localidade do Patrimônio e a Aldeia do Paraty Mirim. São índios oriundos do sul do
país, da etnia tupi-guarani , que aqui chegaram há pouco mais de 20 anos; pertencem
ao grupo Mbyá e se auto denominam “Nhandeva”, que quer dizer: “gente nossa” ou
“verdadeiro guarani”. Apesar das limitações físico-geográficas buscam preservar a
identidade e a cultura de suas nações e produzem rico e variado artesanato em cipós,
madeira , contas e sementes, que comercializam nas ruas da cidade.

Unidades de Conservação Ambiental


Aproximadamente 80% da área do Município é ocupada por unidades de conservação
ambiental:
• Parque Nacional da Serra da Bocaina: Criado em 8 de Junho de 1972 pelo
Decreto nº 70.694, abrange toda a Serra do Mar e se estende por outros municípios do
estado do Rio de Janeiro e de São Paulo. Abriga inúmeros e raros exemplares da flora
e fauna nativas da Mata Atlântica como cedros, jacarandás, peroba, canela, oitis,
onças, jaguatirica, macacos, pacas, porcos do mato, aves e pássaros silvestres como
sabiás, papagaios, tucanos, periquitos, macucos, socós, jacutingas e gaviões, entre
muitas outras espécies.
• Parque Estadual do Paraty Mirim: Criado em 29 de Novembro de 1972 pelo
Decreto-Lei Nº 15.927, engloba a Enseada do Paraty Mirim e o Saco do Mamanguá. É
altamente recortado em sua geografia e exibe em seu interior inúmeras praias
abrigadas, ilhas, enseadas, rios e cachoeiras.
• Área de Proteção Ambiental Cairuçu: Mais conhecida como APA Cairuçu,
abrange a região compreendida entre o Rio Matheus Nunes e a divisa com Ubatuba.
Foi criada em 1983 pelo Decreto nº 89.243, de 27 de Dezembro. Nela estão incluídas
63 ilhas da Baía de Paraty e se superpõe, em alguns lugares, ao Parque Nacional da
Serra da Bocaina e ao Parque do Paraty Mirim. Em sua área existem diversas
madeiras nobres e grande diversidade de animais, aves e pássaros silvestres.
• Reserva Ecológica da Juatinga: Criada em 30 de Outubro de 1992 pela Lei
estadual Nº 17.991, está sob a responsabilidade do Instituto Estadual de Florestas. Em
seu interior encontram-se manguezais, costões rochosos, praias abrigadas e oceânicas,
ilhas, rios, cachoeiras e pequenas comunidades caiçaras. Superpõe-se à parte da APA
Cairuçu.
• Área de Proteção Ambiental da Baía de Paraty: criada em 11 de Outubro de
1984 pela Lei Municipal Nº 685 e complementada posteriormente, protege o Saco do
Mamanguá, a Enseada do Paraty Mirim e a Baía de Paraty desde a Ponta do Boi até a
Boa Vista. Considera também as encostas do Morro do Forte, da Ilha do Tu e os
manguezais destas áreas como Zona de Proteção da Vida Selvagem.
• Estação Ecológica Tamoios: Criada pelo Decreto nº 98864, de 30 de Outubro
de 1992.
• APA das Praias de São Gonçalo e São Gonçalinho: criada pela Lei Municipal
1.239, de 11 de Junho de 2001.

Áreas de Proteção Histórica e Paisagística


Com a finalidade de preservar o conjunto arquitetônico da cidade de
Paraty, seu entorno imediato e a paisagem do município, algumas edificações e
determinadas áreas foram tombadas pelos governos federal e estadual. São elas:
• Sítio Histórico de Paraty: O quadrilátero compreendido entre o mar e a Rua da
Patitiba e entre os Rios Perequê-açu e o Patitiba, foi considerado Monumento
Histórico do estado do Rio de Janeiro pelo Decreto l.450, de 18 de Setembro de 1945,
quando foram elaboradas as primeiras leis de proteção ao conjunto arquitetônico e
sua malha urbana.
• Tombamento pelo Serviço do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional: Em
13 de Fevereiro de 1958, o mesmo sítio histórico foi inscrito no Livro do Tombo
Arqueológico, Etnográfico e Paisagístico. Posteriormente esta área foi ampliada,
englobando a Santa Casa de Misericórdia, o Forte Defensor Perpétuo e suas
adjacências.
• Monumento Nacional: O Decreto 58.077, de 24 de março de 1966, converteu
todo o Município em Monumento Nacional, fixando áreas especiais de proteção do
sítio tombado.

Aspectos Sócio-econômicos
Paraty origina-se de um povoamento português junto a uma aldeia dos
índios guaianá, por volta do final do Século XVII. Sua população é conhecida
genericamente como caiçara - habitante do litoral sul do estado do Rio de Janeiro e
norte do Paraná - fruto da miscigenação de índios e brancos à qual se agregaram
depois a raça e a cultura dos negros africanos.
Vários foram os ciclos econômicos do município que, por ordem podem
assim ser definidos:
Ciclo Portuário 1600/1880;
Ciclo do Ouro 1700/1750;
Ciclo da Cana-de-açúcar 1700/1900;
Ciclo do Café 1800/1900;
Ciclo do Turismo 1960 até hoje.
O período compreendido entre 1900 e 1960 caracterizou-se por acentuada decadência,
uma vez que o porto de Paraty deixou de ser utilizado para a exportação do café e
outros produtos produzidos no Vale do Paraíba, os quais passaram a ser transportados
para o porto do Rio de Janeiro, através da estrada de ferro. Neste tempo o município
viveu da produção de café, milho, feijão, aves, ovos, farinha de mandioca, banana,
aguardente, peixe e camarões secos, tamancos e esteiras, vendidos nas cidades
vizinhas.
O Ciclo do Turismo iniciou-se com a construção da Estrada Paraty-
Cunha pela qual os paulistas vinham veranear e consolidou-se com a Estrada Mario
Covas - BR 101 (Rio/Santos) que transformou o turismo sazonal em diário. Hoje
Paraty é o 18º destino turístico do País e o 5º na demanda de franceses e ingleses. Em
razão deste movimento implantaram-se aqui mais de duas centenas de hotéis e
pousadas, cerca de 50 restaurantes, mais de uma dezena de agências de turismo, cerca
de 100 embarcações destinadas exclusivamente ao turismo náutico, além da
exploração dos atrativos culturais e naturais, das trilhas centenárias ou não e das festas
religiosas e populares.
Em razão da fama de excepcional qualidade de sua aguardente, a
produção deste destilado tomou novo alento com mais de sete engenhos que seguem a
tradicional técnica de fabricação.
O artesanato local, que compreende cestaria, colcha de retalhos e
trabalhos em madeira, se qualificou e melhorou sua produção, agregando-lhes maior
valor, qualidade e beleza. A localidade do Mamanguá despontou como centro
produtor de miniatura de barcos em caixeta, remos e outros produtos em madeira,
além de covos (armadilha para peixes) e tapitis ou tipitis (cesto para prensar
mandioca) e esteiras.
A produção de farinha de mandioca, típica da região, foi ampliada
sensivelmente, existindo hoje mais de 50 casas-de-farinha. É a farinha mais usada na
culinária local, seja em residências ou em restaurantes.
Recentemente Paraty passou a ser considerada pólo gastronômico em
razão de seus inúmeros restaurantes e pela diversidade de sua culinária. Existem
restaurantes de típica cozinha caiçara, francesa, italiana, tailandesa, japonesa, indiana
e vegetariana. À qualidade alia-se a generosa quantidade servida. Tal é a fama de sua
gastronomia que aqui se realiza, anualmente, a Folia Gastronômica com a presença de
chefs famosos do Brasil criando iguarias com os produtos locais.
Hoje portanto, a economia paratiense pode ser assim distribuída: 75%
direta e indiretamente do turismo; 15% da pesca; 10% da indústria de aguardente e
agricultura.

O Nome “Paraty”
O nome Paraty, segundo Teodoro Sampaio, ilustre geógrafo e historiador brasileiro,
em “O Tupi na Geografia Nacional”, significa: jazida do mar, o golfo, lagamar e
informa ainda, não confundir com Pirati: peixe da família das tainhas muito comum
na região. Alguns historiadores porém acreditam e informam que o nome da cidade se
originaria do nome do peixe, outros que seria “viveiro de peixes”. Melhor a definição
de Teodoro Sampaio.
Outra dúvida atual é a grafia correta do nome do Município e cidade, se com “y” ou
com “i”. O governo municipal adota a grafia Paraty. Originalmente, no Séc. XVI ,
escrevia-se “Paratii”, isto para informar que a palavra era oxítona. Ao longo do Século
XVIII começaram a aparecer em documentos diversas formas gráficas: Paratii, Paraty,
Parathy e até mesmo Pirati, porém a forma mais usual era a grafia com Y, letra então
recém-adotada pelo alfabeto português. Essa grafia ficou sendo utilizada até a reforma
ortográfica de 1943, quando o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística - IBGE,
resolveu alterar a grafia antiga e consagrada. E fez isto contrariando o Vocabulário
Ortográfico Oficial, aprovado pela Academia Brasileira de Letras que diz: “os
topônimos de tradição histórica secular não sofrem alteração alguma na sua grafia,
quando esteja já consagrado pelo consenso diuturno dos brasileiros. Sirva de exemplo
o topônimo “Bahia” que conservará esta forma quando se aplicar em referência ao
Estado e à cidade que tem esse nome”. A grafia Paraty era, àquela época e ainda hoje,
mais que secular, portanto o município está cumprindo a legislação.
Para se cumprir a citada legislação, Paratiense se escreve com “i”.

SÍMBOLOS MUNICIPAIS

São Símbolos Municipais, por lei: o Brasão de Armas, a Bandeira e o


Hino Oficial.

O Brasão

Aprovado pela Lei Nº 259, de 30 de Novembro de 1960.


Descrição: Escudo português, esquartelado, (lembra a origem lusitana
do Brasil); tendo no primeiro quartel, de campo verde, um turbante de penas sobre
duas flechas cruzadas, tudo de ouro, (referência ao índio Guaianá, primitivo habitante
da região); no segundo quartel, em vermelho, um antigo carimbo, elíptico, gravado
com as armas de Portugal, ladeado da palavra Remédios, posta metade de cada lado,
em sentido vertical, entre o Brasão de Portugal e a vinheta lateral, (carimbo brasonado
que era usado para autenticar a documentação e atos do governo); no terceiro, de ouro,
o contorno do município, tendo como fundo à direita um campo de prata e à esquerda
um fundo azul, tudo carregado de um peixe de prata, (uma referência ao peixe que
representa a piscosa e
12
alentada orla marítima, uma das riquezas da região); no quarto, pormenor de uma casa
colonial, mostrando um beiral e uma grade de ferro, tudo de prata e preto sobre um
campo azul, (referência ao casario colonial e sua condição de Monumento Nacional).
Como suportes, à direita, um galho de café, frutado e na sua cor, e, à esquerda, uma
haste de cana, (lembra o café e a cana, riquezas naturais, a segunda proporciona o
fabrico da afamada e reputada aguardente de Paraty). Um listão de vermelho com os
seguintes dizeres, de prata, 1660 PARATY 1844, (recorda sua elevação à Vila e à
categoria de Cidade). Conjunto encimado pela coroa mural de cinco torres de prata,
que é de cidade, tendo ao centro uma flor de Liz de ouro, (a flor de Liz lembra que o
Orago da cidade é Nossa Senhora dos Remédios). Metais e Esmaltes: Ouro: força;
Prata: Candura; Vermelho: intrepidez; Azul: serenidade; Verde: abundância.

A Bandeira

Aprovada pela Lei Municipal nº 373, de 2 de Agosto de 1967.


Descrição: De formato normal das bandeiras oficiais, tem o símbolo
do município as três cores tradicionais que há séculos ornamentam as casas de nossa
cidade, hoje Monumento Nacional, que são: vermelho, branco e azul. Composta de
três faixas verticais nas cores acima, conterá na do meio, (branco) o Brasão de Armas
do município, na faixa azul, junto ao mastro, uma estrela maior simbolizando o
Primeiro Distrito, e na azul, duas estrelas menores simbolizando o Segundo e Terceiro
Distritos. As estrelas colocadas em forma triangular, lembrando a grande influência
que a Maçonaria exerceu na história do município. Em 1967, uma lei municipal
alterou a data para 1667, data oficial de elevação a vila.

O Hino Oficial

Exaltação a Paraty

Paraty cidade a beira mar


Meu cantinho adorado
Tens o céu bordado de estrelas
És tu Paraty amado.

Um leito de cetim feito de rosas


Um belo pedacinho do Brasil
Paraty, oh minha terra
És linda como um céu de anil

Letra de autoria de Aldmar Gomes Duarte Coelho e música do maestro


Benedito das Flores, mais conhecido como Maestro Potinho. Tornou-se hino oficial
através da Lei Municipal Nº 587, de 19 de Setembro de 1980.
Nas festas cívicas e populares, costuma ser executada também a
marcha-rancho, de autoria do poeta José Kleber, considerada hino extra-oficial e
popular da cidade.

A Bela Adormecida

Quando a sonhar me vejo na cidade


A bela adormecida ao pé do mar
E bebo a tarde e sinto a madrugada
E a noite de permeio é só luar.

É sol e mar, é praia e serenata


São pedras ladrilhando a minha rua
O mar passeia solitário na calçada
Espelhando a lua cheia nos beirais e nas sacadas!

Vida!
Como é boa para a gente viver
Amo!
Como é bom a gente amar aqui
Na praça, no cais, na praia...
Tudo isso é Paraty
É Paraty, é Paraty!

BREVE HISTÓRICO

A região da baía da Ilha Grande foi descoberta em l502 por Gonçalo


Coelho , na segunda expedição ao Brasil, segundo alguns historiadores. Nesta ocasião
vários nomes foram dados a acidentes geográficos para servirem de referência aos
futuros navegantes. Assim surgem os nomes: Ilha Grande, Angra dos Reis Magos,
Pico do Frade e Ponta Fragosa. Mas o descobrimento desta região não deve ser
confundido com o início de seu povoamento por portugueses. Ela começou a ser
povoada somente por volta de 1530, quando a expedição de Martin Afonso de Souza
veio ao Brasil em busca do caminho para as Minas de Potosi. Fundou ele o povoado
de São Vicente e deu porções de terras para que alguns viajantes ficassem morando no
Brasil. Estes moradores, os “vicentinos”, aos poucos foram se espraiando pelo litoral
na direção norte e sul, criando pequenos povoados. Moradores de São Vicente
chegaram à região de Angra dos Reis em 1556, quando Antonio de Oliveira e sua
mulher Dª. Genebra Leitão de Vasconcelos receberam uma sesmaria na Ilha Grande.
Desde o início da colonização portuguesa esta região era muito
visitada por navios franceses que comerciavam pau-brasil, animais exóticos e peles
com os índios tamoios. Já haviam estado ali, entre outros, o aventureiro e cronista
alemão Hans Staden e o Pe. José de Anchieta. Hans Staden conta em livro a sua
permanência como prisioneiro dos índios tamoios, na aldeia do chefe Cunhambebe,
em 1554. Na crônica de suas viagens refere-se, especificamente, às aldeias do Cairuçu
(Ocara Açu), do Ariró, Mambucaba e Taquari. Ao Padre José de Anchieta se atribui a
denominação de uma enseada na região da Cajaíba, o Pouso, onde teria ele dormido,
em 1563, quando viajava como refém dos Tamoios para Iperoig, na região de
Ubatuba. Em seu “Poema à Virgem” escreveu aquele jesuíta:
“Eu venho do rio Parati
para ver a rainha
adornando a cabeça
em sua honra
De Parati trago apenas
O que minha rede contém
ainda que não o comas, Senhora
está seco, não estragará”.
Nele cita uma iguaria da culinária indígena, o peixe seco, ainda
comum na região das praias do Sono, Ponta Negra e Trindade.
Vindos de São Vicente ou da Ilha Grande, aqui chegaram os primeiros
povoadores no final do Século XVI. Mas, não existe, ou pelo menos não se conhece,
qualquer documento que informe a data destes acontecimentos, por isso não se sabe a
data de fundação de Paraty.
Outros escritores porém, informam que a fundação do povoado, sob a
proteção de São Roque, aconteceu quando da passagem da expedição de Martim
Afonso de Souza, em sua viagem do Rio de Janeiro a São Vicente, pela costa, em
1531, no dia 16 de Agosto, dia de São Roque.
A primeira citação do nome Paraty, somente vai aparecer em 1596,
quando por aqui passou a expedição de Martim Corrêa de Sá que, vinda do Rio de
Janeiro, daqui partiu com mais de 2.700 homens entre índios e soldados para a região
do Vale do Paraíba, buscando aprisionar e escravizar índios. Para atingir as terras do
vale a expedição utilizou-se de uma antiqüíssima trilha de índios que cortava a Serra
do Mar, a “Trilha dos Guaianás”. Na descrição de suas aventuras, Anthony Knivet,
um aventureiro inglês e participante da expedição, disse que no porto de “Paratec”
viviam os índios Guaianás, amigos dos portugueses, com quem negociavam diversos
animais selvagens e âmbar. Não fala porém da presença de portugueses aqui.
O certo é que a partir de então este lugar passa a ser ponto de entrada e
passagem obrigatória para os que buscavam o sertão, subindo o caminho da serra.
Vindos do Rio de Janeiro em barcos, daqui subiam a serra até atingir São Paulo e o
interior e por aqui entravam as mercadorias vindas da Europa. Em virtude da
movimentação existente nesta região, do desenvolvimento do comércio de gêneros
alimentícios, tecidos e especiarias, enriqueceu o povoado.
Da antiga situação, sobre o Morro do Forte, mudou-se o povoado para
a várzea entre os rios Paraty-Guaçu e Patitiba, parte de uma sesmaria de Maria Jácome
de Melo e por ela doada para a construção do novo povoado. Junto ao Rio Paraty-
guaçu construiu-se uma pequena capela dedicada a N. S. dos Remédios, atendendo
exigência da doadora. A outra exigência era que não se molestassem os índios que
aqui viviam, o que não se cumpriu. Aqui instalado, rapidamente cresceu o povoado,
que era, então, parte integrante da Vila de N. S. da Conceição da Ilha Grande.
Em l644, por vontade de seus moradores, investiu-se no título de vila,
mas aos 26 de julho do mesmo ano, o Ouvidor Geral João Velho de Azevedo a fez
retornar à jurisdição da Ilha Grande. Logo depois, em 1660, outra revolta popular
liderada pelo Primeiro Capitão Domingos Gonçalves d’Abreu separa Paraty da Ilha
Grande. Duraram sete anos as desavenças entre as duas vilas: Ilha Grande defendia o
retorno da subordinação do povoado, alegando ser Paraty um couto de malfeitores,
sem Justiça e Câmara formada; Paraty buscava sua emancipação falando do
movimento do porto e de sua posição estratégica na entrada do caminho para o sertão.
Em Carta Régia de 28 de Fevereiro de l667, Dom Afonso VI reconheceu a nova vila
com o nome de Vila de Nossa Senhora dos Remédios de Paraty. Em Outubro do
mesmo ano instalou-se a primeira Câmara Municipal e nomearam-se os juízes e
autoridades da nova vila. Estes acontecimentos aceleraram o desenvolvimento
comercial, o plantio de cana-de-açúcar e a fabricação de aguardente e açúcar.
A descoberta de ouro no interior das Minas Gerais, no final do Século XVII,
transformou a Vila de Paraty na porta de entrada para os que, aos milhares, buscavam
enriquecer no “eldorado” brasileiro. Seu porto passou a ser então o local de embarque
do ouro e pedras preciosas para a cidade do Rio de Janeiro, de onde seguia para
Lisboa. Grande quantidade de ouro e riquezas saiu desta vila, protegido por suas
muitas fortificações ao longo da baía e por sua milícia; o movimento era intenso com
a entrada de tecidos, ferramentas, gêneros alimentícios e escravos para abastecer São
Paulo e as minas. A isso se somou a grande produção de aguardente, embarcada para a
Europa como aperitivo, levada como dinheiro para a compra de escravos na África e
transportada para a minas para “alimentar” os escravos.
No início dos Setecentos estes fatos fizeram surgir na vila casas de
alvenaria de pedra, duas novas igrejas, a complementação do traçado urbano com a
abertura de novas ruas e sua ocupação, a construção de fortalezas, duas Casas de
Registro de Ouro, uma na Estrada da Serra, a da Cachoeirinha e outra na Estrada de
Ubatuba, a do Curralinho. Paróquia desde a criação da vila, em 1725, foi elevada à
condição de Paróquia Colativa. Em 1720, quando foi criada a Província de São Paulo,
independente das Minas Gerais, Paraty ficou incorporada a ela, mas, a Carta Régia de
16 de Janeiro de 1726 anexou esta vila à Província do Rio de Janeiro.
Em 1711, quando o corsário francês Duguay-Trouin invadiu a cidade
do Rio de Janeiro e exigiu resgate para sua libertação, o Capitão Francisco do Amaral
Gurgel levou daqui 580 homens armados para defender aquela cidade.
A utilização cada vez mais crescente da nova estrada do Rio de Janeiro
para as Minas Gerais, através da Serra dos Órgãos, não causou na vila grande impacto
porque o porto continuava a receber as mercadorias destinadas a São Paulo e ao sul de
Minas Gerais. Havia aumentado significativamente a produção dos 100 engenhos de
aguardente e 2 de açúcar, além do cultivo de gengibre e mandioca, que se comerciava
com o resto do país.
O plantio do café, no início do século XIX, trouxe grandes
modificações aos engenhos. Diante do alto preço deste produto, muitos abandonaram
a produção de aguardente e passaram a cultivar café. O porto passou então a receber
do alto Vale do Paraíba a produção do café lá plantado e conduzido até aqui, serra
abaixo, em grandes tropas de burros. O progresso ainda era imenso: construiu-se mais
uma igreja, deram continuidade às obras da nova matriz iniciada no século anterior,
edificaram um hospital e ensinava-se latim na Cadeira de Gramática Latina.
A chegada da Família Real Portuguesa no Rio de Janeiro trouxe o luxo
e o bem viver da Europa para o Brasil. Em razão de sua proximidade com corte, a
Vila de Paraty se transformou: Companhias Líricas se apresentavam no Teatro
Dramático; cadeirinhas de arruar passaram a ser utilizadas ao invés das redes; louças e
prataria inglesa e portuguesa enfeitavam as casas e serviam a mesa; melhor mobiliário
e tecidos caros sobejavam nos muitos armazéns à disposição da clientela ávida por
novidades da Corte.
Novas ruas foram abertas no centro urbano; deu-se continuidade ao
calçamento das já existentes com pedras irregulares; surgiram novas construções,
mais elegantes; casas térreas se transformaram em sobrados e muitos deste tipo foram
construídos; fizeram-se novos aterros para avançar a vila sobre o mar e derrubaram-se
construções antigas para um melhor e mais perfeito arruamento.
Em 1813, por Decreto de 17 de Dezembro, foi a vila enobrecida com o
título de Condado, sendo seu primeiro titular Dom Miguel Antonio de Noronha
Abranches Castelo Branco. A Lei Provincial nº 302, de 12.03.1844 elevou a vila à
categoria de Cidade, com o nome de Paraty.
Mas o plantio do café não se mostrou rentável na terra exaurida; além
disso, as despesas com os numerosos escravos e serviçais aumentavam a cada dia
inviabilizando qualquer lucro. Muitas fazendas foram então abandonadas ou vendidas;
proprietários perderam suas terras por dívidas contraídas com a compra de escravos,
mercadoria de altíssimo valor naquela época. Poucos engenhos ainda produziam a
aguardente, que de tão boa qualidade fizera tanta fama, agregando a si o nome da
cidade.
No final do Século a construção da estrada de ferro ligando o Rio de
Janeiro a São Paulo através do Vale do Paraíba levou para aquela região a rota do
comércio, isolando Paraty e fazendo cessar o movimento do porto. A este fato somou-
se a libertação dos escravos que, retirando a mão-de-obra dos engenhos, das fazendas
e do porto, fez com que grande parte da população abandonasse a região em busca de
futuro mais promissor.
Não se pode olvidar a imensa e valiosa contribuição dos negros escravos ao
progresso e construção de Paraty, principalmente nos Séculos XVIII e XIX. Para cá
vieram milhares de escravos da África para trabalhar nas plantações de cana-de-
açúcar, fabricação de aguardente e, posteriormente, no plantio, colheita e
beneficiamento do café. A mão-de-obra escrava esteve também presente nos trabalhos
de carga e descarga do cais do porto, nas tropas serra acima, no calçamento, conserto
e manutenção das ruas, caminhos e estradas, na construção das casas residenciais,
prédios públicos e das igrejas. A vida dos “negros de ganho”, alugados para serviços
particulares ou públicos na cidade, lhes permitiu uma vida menos sacrificada, porém
muito trabalhosa. Viviam com a família dos proprietários na mesma casa, ocupando
os quintais ou porões; participando, de alguma forma, da vida familiar, ao contrário
dos escravos das fazendas, que moravam em senzalas, verdadeiros cárceres, isolados e
insalubres.
De sua cultura nos legaram alguns costumes, danças, festas e culinária e,
principalmente, a devoção a São Benedito, fortemente arraigada na comunidade
paratiense.
As primeiras décadas do século XX encontraram a cidade fazendo
enorme esforço para manter o que restava do progresso, com construção de pontes,
instalação de luz elétrica, publicação de alguns jornais, exportação de aguardente,
milho, feijão e farinha de mandioca para as cidades vizinhas. Mas de pouco adiantou
esta tentativa. Algumas décadas depois a cidade contava somente com pouco mais de
500 moradores, o hospital da Santa Casa estava fechado, o comércio era insignificante
e poucos os engenhos. Muitas casas ruíram e a pobreza era geral.
Em 1945 o sítio histórico de Paraty foi considerado Monumento
Estadual pelo Decreto-Lei nº 1.450, numa visão futurista do então Interventor Ernani
do Amaral Peixoto, descendente de raízes paratienses.
A década de 50 veio modificar substancialmente a vida de Paraty com
a construção de uma estrada de rodagem ligando Paraty à cidade de Cunha, no estado
de São Paulo. Por esta estrada alcançava-se a cidade de Guaratinguetá e a Via Dutra
que une as duas grandes metrópoles brasileiras, Rio e São Paulo. A viagem de barco -
a lancha da carreira - em dias alternados, para as cidades de Angra dos Reis e
Mangaratiba, o único meio de transporte que ligava a cidade ao resto do país,
continuou a existir. A nova estrada porém, possibilitava um maior e melhor fluxo de
transporte, em menor tempo, com mais segurança e qualidade. Por ela começaram a
descer os paulistas que, eternos aventureiros, buscavam o litoral perdido dos sonhos e
o encontravam nesta cidade abandonada, diferente, com ruas tortas calçadas de pedras
irregulares, igrejas simples e despojadas, festas e danças antigas e, acima de tudo, um
povo hospitaleiro e gentil. Apesar de sérios problemas como a constante queda de
barreiras, deslizamento da pista e outros menores, eles adquiriram velhas casas, às
vezes em ruínas, e as restauraram com capricho e bom gosto para veraneio. A cada dia
mais aumentava a demanda de visitantes, não só nas temporadas, mas também nos
feriados prolongados.
No turismo a cidade encontrou seu destino. Foram abertos hotéis e
restaurantes, pequenas lojas passaram a vender o artesanato local: colchas de retalho,
crochês, gamelas, cestos e peneiras entre tantos outros. O pescado destinava-se agora
aos restaurantes e o excedente podia ser mandado para São Paulo; os barcos, antes
destinados somente à pesca, passaram a ser utilizados em passeios pelas praias e ilhas;
diante da escassez de quartos em hotéis, alugavam-se casas e oportunidades e
empregos novos surgiam a cada dia.
No dia 13 de Fevereiro de 1958, o Instituto do Patrimônio Histórico e
Artístico Nacional inscreveu o centro histórico de Paraty no Livro do Tombo
Arqueológico, Etnográfico e Paisagístico, ditando leis e normas para a preservação da
arquitetura e do paisagismo da cidade.
Finalmente, em 24 de Março de 1966, pelo Decreto nº 58.077, foi todo
o Município de Paraty convertido em Monumento Nacional.
A construção da Estrada Rio-Santos, BR 101, iniciada em 1970 e
aberta ao tráfego em 1976, consolidou a vocação turística de Paraty no momento em
que a tornou mais acessível. Paraty deixou de ser um lugar de veraneio e transformou-
se em opção de turismo para o ano inteiro. Novo interesse imobiliário como o da
década de sessenta se fez sentir, agora não mais dirigido somente à compra e venda de
imóveis no centro e sim em todo o litoral, ilhas e serras, com a construção de marinas
e condomínios.
Toda esta movimentação fez com que novos instrumentos de
preservação fossem criados, desta vez visando proteger o meio ambiente. Foram
criados o Parque Nacional da Serra da Bocaina, em 1972, que abrange a maior parte
do município; as Áreas de Proteção Ambiental do Cairuçu e Tamoios e a Reserva
Ecológica da Joatinga, para preservação da parte litorânea e insular, além dos
santuários de vida marinha lá existentes.
Na cidade novos serviços foram implantados como agências, guias de
turismo e marinas; o passeio de barco passou a ser feito por embarcações especiais,
saveiros e lanchas, mais confortáveis e rápidas. Na década de 90 instalaram-se na
cidade as operadoras de mergulho oferecendo cursos e explorações. As praias ao
longo da estrada começaram a ser freqüentadas e as da Trindade transformaram-se no
lugar preferido da juventude e dos aventureiros, que lá praticam esportes náuticos. A
construção de uma estrada ligando a BR 101 à Trindade transformou de vez aquele
povoado: abriram-se bares, restaurantes e pequenas pousadas. Serviços como aluguel
de barcos para passeios ao Caixadaço e à Praia Brava estão hoje à disposição dos
turistas. O acesso a estas praias facilitou a freqüência a outras, através de trilhas na
mata: Praia do Sono, Ponta Negra, Antigos Grande e Pequeno. A região da Cajaíba,
acessível de barco, transformou-se na mais nova aventura dos turistas. São
constantemente visitadas e se fazem acampamentos nas Praias Grande, Deserta,
Itaoca, Pouso e Martim de Sá que, mesmo dentro da Reserva Ecológica da Joatinga,
vem apresentando grande demanda turística.
As trilhas antiqüíssimas existentes na serra são visitadas e percorridas
com guias especializados em Ecoturismo, combinando esta atividade com educação
ambiental, visando a preservação, preocupação maior neste Século XXI.
O clima bucólico e o perfil da cidade atraíram pintores, fotógrafos,
escultores, ceramistas, músicos e outras atividades artísticas, com a instalação de
vários ateliês e espaços particulares destinados às artes.
A iconografia mais antiga de Paraty que se conhece é uma aquarela de Jean Baptiste
Debret, datada de 1827 e uma de Ernesto Hasenclever, de 1838. A partir da década de
40 vários pintores visitaram Paraty e a retrataram em suas obras; dentre estes se
destacam: Armando Vianna, Djanira, Pellegata, Bonadei e Takaoca. Influenciados por
todo este movimento artístico e, principalmente por Djanira, surgiram vários pintores
locais.
Vários filmes, novelas e mini séries foram filmadas aqui desde a década de 1940:
Estrela da manhã, Brasil Ano 2000, Como era gostoso meu francês, Azilo muito
louco, Gabriela, o Sorriso do Lagarto, entre outros.
No atual momento Paraty está estudando a melhor maneira de cumprir as
exigências da Unesco com relação à sua candidatura a Patrimônio da Humanidade.

CRONOLOGIA HISTÓRICA
Século XVI

1531 - Provável início do povoamento de Paraty, no alto do morro depois chamado da


Vila Velha, hoje em dia Morro do Forte.
1596 - A expedição de Martim Correa de Sá chega ao núcleo populacional chamado
de Paraty para subir a trilha dos índios Guaianá até o vale do Paraíba e daí, chegar às
Minas Gerais. Esta expedição foi narrada detalhadamente por Antony Knivet em sua
obra “Estranhos Fados e Vária Fortuna”

Século VII

1600 - O núcleo paratiano começa a aparecer no cenário histórico brasileiro.


1606 - Chega à Paraty o Capitão-Mor João Pimenta de Carvalho, que concede
sesmarias a paulistas e angrenses, razão pela qual o núcleo fica sujeito à jurisdição da
vila de Angra dos Reis.

1636 - Por conta do crescimento populacional do núcleo no Morro da Vila, Maria


Jácome de Mello doa légua e meia de sua sesmaria para a construção de um povoado,
entre os rios Perequê-Açu e Patitiba, local que hoje em dia, é o centro histórico de
Paraty.
1640 - O povoado é transferido do Morro da Vila Velha (hoje Morro do Forte) para o
local atual (Centro Histórico).
1660 - Revolta popular suspende a subordinação política de Paraty à Angra. Paraty
foi a primeira cidade brasileira a ter sua autonomia política concedida por escolha
popular. No mesmo ano construiu-se um pelourinho (como símbolo de autonomia),
na Praça da Matriz.
1667 - Em 28 de Fevereiro a Carta Régia de Dom Afonso VI eleva o povoado à
condição de vila: surge a Villa de Nossa Senhora dos Remédios de Paratii.
1693 - Com a descoberta do ouro em Minas, a trilha dos Guaianá se torna o Caminho
do Ouro do Rio de Janeiro para as Minas Novas dos Cataguás e do Rio das Velhas. É
o início do Ciclo do Ouro na Colônia.

Século XVIII

1700 - O nome parati vai se firmando como sinônimo de aguardente de qualidade.


1703 - Fundação de uma Casa de Registro do Ouro, próximo à localidade da Taboão,
então pertencente à vila de Paraty e de um reduto para a defesa do povoado.
1711 - Paraty possui 400 casas, sendo 40 sobrados.
1720 - A Vila de Paraty é anexada à Capitania de São Paulo.
- Embora não oficialmente inaugurado, já se utiliza, mesmo precariamente, o
novo caminho do Rio de Janeiro às Minas pela Serra dos Órgãos.
1726 - A Vila de Paraty volta a pertencer ao Rio de Janeiro.

1729 - Frei Agostinho de Santa Maria descreve o “populoso e crescente entreposto


comercial de Paraty”.

1730/1750 - O porto da Vila de Paraty é o segundo mais importante em carga e


descarga na Colônia, perdendo apenas para o do Rio de Janeiro.

1767 -Inauguração oficial do novo caminho entre Rio e Minas pela Serra dos Órgãos,
que encurtava em muitos dias aquele, via Paraty.
1778 - Paraty já possuía 70 engenhos de destilação e produziu naquele ano 1554 pipas
de 470 litros cada uma (730.380 litros) de aguardente de primeira linha.
1781 - Uma sumaca parte de Paraty para Buenos Aires com aguardente e escravos.
1790 - Havia 92 engenhos de aguardente em funcionamento em Paraty e a população
era de 6.672 homens livres e escravos (sem contar mulheres e crianças), sendo 69% de
origem rural.
1799 - Funcionam na província do Rio de Janeiro 616 engenhos de açucar e 213 de
aguardente, sendo 100 em Paraty e a população da Vila é de 8.025 habitantes.

Século XIX

1805 - Paraty possui 948 “fogos” (casas residenciais, térreas ou assobradadas).


Verificou-se na Vila a presença de mais de 5 mil escravos (zonas rural e urbana).
- José Antonio Valente menciona que, por em razão de sua qualidade, a
aguardente local é 7 mil réis mais cara do que todas as demais.
1813 - A Vila recebe o título de Condado. O primeiro Conde de Paraty foi D. Miguel
Antonio de Noronha Abranches Castelo Branco.
1822 - Passam pela Vila 160.914 cabeças de homens, escravos e animais.
1829 - Aprovação do Código Municipal de Posturas.
1840 - Paraty já possuía 1573 “fogos” e somavam 49 os engenhos em atividade.
1844 - 12 de Março, pela Lei Provincial nº 302, Paraty é elevada à categoria de
cidade.
1855 - Uma ferrovia ligando o vale do Paraíba ao Rio de Janeiro torna obsoleto o
Caminho Velho do Ouro e do café, e vai encerrando, pouco a pouco, as atividades
comerciais paratienses.
1888 - A Abolição da escravatura elimina a principal mão de obra do Império e dos
engenhos paratienses.
1892 - O censo contou naquele ano 12.488 habitantes no município.

Século XX

1908 - A cidade recebe medalha de ouro na Exposição Industrial e Comercial do Rio


de Janeiro com uma pinga azuladinha (Azulada do Peroca).
1910 - Com sua economia limitada apenas à produção (diminuta) de aguardente,
banana e mandioca, Paraty entra em decadência.
1945 - O isolamento a que Paraty ficou sujeita desde o início do século foi o auge de
sua decadência e, paradoxalmente, o que conservou intacta a arquitetura setecentista
do seu Centro Histórico.
1945 - 18 de Setembro, pelo Decreto-Lei nº 1.450, Paraty é declarada Monumento
Histórico Estadual.

1950 - Abertura da Estrada Paraty-Cunha, seguindo paralelamente o traçado do


Caminho Velho do Ouro, ligando a cidade ao Vale do Paraíba (Guaratinguetá).
1958 - 13 de Fevereiro - Paraty é Registrada nos Livros do Serviço do Patrimônio
Histórico e Artístico Nacional.

1966 - 24 de Março, pelo Decreto nº 58.077, o Município é declarado Monumento


Histórico Nacional.

1973 - Abertura da Estrada Rio-Santos (Br-101) : início do Ciclo do Turismo na


cidade.

MONUMENTOS RELIGIOSOS

Igreja Matriz de Nossa Senhora dos Remédios

Por ocasião da fundação do povoado, ergueu-se uma pequena capela


dedicada a São Roque sobre o atual morro do Forte, onde então se encontravam
construídas as primeiras moradias. Porém em 1646, Dona Maria Jácome de Melo
doou a área situada entre os rios Perequê-açu e Patitiba para a construção do novo
povoado exigindo que nele se construísse uma capela dedicada a Nossa Senhora dos
Remédios, santa de sua devoção. Esta primeira capela foi demolida em 1668 e em seu
lugar construída uma igreja maior, de pedra e cal, obra que só terminou em 1712.
Contava a nova matriz com sete altares, sendo duas capelas internas. Em l787, por ser
a igreja pequena para a população - cerca de 2.700 pessoas - foram iniciadas as obras
de um novo templo em local próximo ao antigo.
Esta obra por ser grandiosa custou ao povo grande soma de dinheiro e,
por falta de ajuda financeira, teve sua construção paralisada várias vezes. Custeou e
administrou sua finalização a piedosa senhora paratiense, Dona Geralda Maria da
Silva, que por isto recebeu do Imperador Dom Pedro II o título de Dona do Paço. Seu
pai, Roque José da Silva encontra-se sepultado sob a escada do coro desta igreja. A 7
de setembro de 1873 foi a igreja entregue ao culto público, precedendo à sua benção,
uma procissão em que se transladaram as imagens da Igreja da Santa Rita para a
Matriz, costume que se conserva até hoje por ocasião da festa da padroeira.
De estilo neoclássico, sobressai por sua imponência e apresenta a
sobriedade e o despojamento característicos deste estilo, em que as grandes massas se
contrapõem ao ritmo dos vãos.

Destacam-se nesta igreja a imponência da edificação, suas torres inacabadas, as


imagens das antigas capelas, retábulo das capelas internas, do Século XVIII e a pia
batismal, do Século XVII. São dignas de especial atenção as imagens da Semana
Santa, em tamanho natural, de vestir ou de roca. Detalhe curioso são as torres
inacabadas e o fundo da edificação por terminar. Acredita-se que isso aconteceu não
só pela falta de recursos e mão-de-obra escrava, mas também porque a igreja teria
afundado, inclinando-se perigosamente para a frente, devido ao seu peso e à
inconsistência do terreno.

Igreja de Santa Rita

Edificada em 1722 pelos pardos libertos sob a invocação de Menino


Deus, Santa Rita e Santa Quitéria. Alguns anos depois foi reparada e reedificada com
aumento por devotos brancos que passaram a utilizá-la como matriz durante a
construção daquele novo templo. É a igreja mais antiga da cidade em virtude da
demolição da capelas de São Roque e da antiga matriz.
Este templo exibe fachada em estilo rococó com seu traçado sinuoso e
apresenta nos elementos internos que a integram as características do rococó,
notadamente na talha policromada do altar-mor que possui, ladeando o frontão, os
únicos anjos orantes em altares de Paraty. Numa tentativa de dar unidade entre seus
altares, quando foi concluída a restauração do altar-mor, foram pintados os dois
colaterais de canto que apresentam, assim, uma pintura nova. Seus altares são
dedicados a Santa Rita, Nossa Senhora da Conceição e Nossa Senhora do Carmo.
Detalhes interessantes nesta igreja são o gradil de suas sacadas internas,
em madeira e finamente trabalhados, e o cemitério contíguo à igreja, no estilo de
columbário, separado do corpo da igreja por um adro e um jardim. Neste jardim existe
um poço a cujas águas a população atribui efeitos curativos e milagrosos. Este
cemitério assim como sua torre sineira datam de meados do século XIX.
Nela funciona hoje o Museu de Arte Sacra de Paraty, sob a
responsabilidade do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional - IPHAN -,
com exposição permanente de imagens, prataria, alfaias e objetos sacros da paróquia.
Apenas durante a Festa de Santa Rita são celebrados nesta igraja os ofícios religiosos
e as procissões.

Igreja de Nossa Senhora do Rosário e São Benedito


Hoje é conhecida simplesmente como Igreja do Rosário, teve sua
construção iniciada em 1725, por pedido de Manuel Ferreira dos Santos e seu irmão
Pedro e destinava-se aos pretos escravos que ajudaram na sua feitura. A Irmandade de
Nossa Senhora do Rosário dos Pretos de Paraty foi criada em 20 de agosto de 1750, e
reedificou este templo por volta de 1757.
Possui fachada de gosto clássico, com influência maneirista, comum ao
Século XVIII. Os altares de São Benedito e de São João Batista apresentam a mais
importante talha das igrejas de Paraty, de sóbria elegância e unidade formal,
destoando do altar principal, de fatura bem posterior. É a única igreja de Paraty com
altares dourados, mas o douramento é obra do início do século passado. A obra foi
executada por um pintor que ficou conhecido como “João Dourador”. O altar de São
Benedito foi mandado dourar por Manoel Francisco de Souza, líder político local, em
pagamento de uma promessa e os outros dois pela irmandade. Observa-se que o altar
de São Benedito é o mais ricamente dourado.
É de se notar nesta igreja a base do púlpito, em pedra e o abacaxi que,
no teto da nave, serve de suporte ao lustre de cristal, bem como a inexistência de
sacadas laterais internas que nas outras igrejas destinavam-se às autoridades.

Originalmente uma torre ao lado desta igreja pertencia à Câmara Municipal, que a
mandou construir em 1844 como torre sineira da Câmara. Esta torre, comum a todas
as casas de Câmara e Cadeia da época, destinava-se a convocar o povo para ouvir a
leitura de editais e proclamas e dar alarme por ocasião de desastres naturais como
enchentes, incêndios ou possíveis ataques e invasões. A atual torre lateral, em
alvenaria, data de 1852, conforme solicitação da Irmandade, registrada no Livro de
Atas da Câmara Municipal. O costume de soar o sino para avisos de alarme
permaneceu até bem pouco tempo.

Igreja de Nossa Senhora das Dores

Hoje chamada de Capela das Dores ou Capelinha, foi construída em


1800 pelo Pe. Antonio Xavier da Silva Braga e algumas devotas. Foi a capela da
moda no tempo do império, por ser a mais nova. Em 1901 foi quase totalmente
reformada pelo Pe. João César Iera. A Irmandade de Nossa Senhora das Dores foi
criada no mesmo ano por provisão do Bispo de Petrópolis e só permitia a admissão de
mulheres.
Exibe fachada assimilada ao gosto do Século XVIII e seus altares são
dedicados a Nossa Senhora das Dores, Nossa Senhora da Piedade, cuja imagem
encontra-se hoje no Museu de Arte Sacra e Senhor Bom Jesus.
Merecem especial atenção o rendilhado das sacadas internas e o
cemitério, em estilo de columbário, que circunda o pátio interno. A torre desta igreja,
como a da Santa Rita, tem sobre a cúpula um galo marcador da direção dos ventos.

Passos da Paixão

São pequenos altares públicos destinados às procissões “dos Passos” ou


“do Encontro” e “do Enterro”, na Semana Santa.. Dos seis existentes restaram dois
originais que se situam, um na Rua do Comércio e outro na lateral da igreja da Santa
Rita. Os outros quatro, demolidos em 1929, foram reconstruídos recentemente pelo
IPHAN, que utilizou as portas originais que estavam guardadas na Matriz: dois estão
localizados na Rua do Comércio e dois na Rua Dona Geralda.
Cruz das Almas

É um altar público, um oratório, existente na Rua Presidente Pedreira.


Trata-se de uma construção do século XIX e, segundo alguns, destinava-se à última
oração dos que, condenados à morte, dirigiam-se ao Largo do Rocio, local da
execução. Diz-se também, chamar-se “Caixa de Ossos” ou “Caixa das Almas” e
destinava-se a arrecadar esmolas para a Irmandade de São Miguel e Almas, que as
empregavam na celebração de missas pelos defuntos. O certo é que este local já era
conhecido por este nome no Século XVIII. A população mantém até hoje o costume
de nela acender velas, às segundas-feiras, para as almas, bem como depositar imagens
de santos, quebrados ou não, que não querem ter mais em suas casas.

Capela da Santa Cruz da Generosa

Situa-se à margem esquerda do rio Perequê-açu, no Beco do Propósito


e foi mandada construir por Dona Maria Generoza, em 1901, no lugar onde morreu
afogado um escravo liberto de nome Theodoro, quando pescava em uma “Sexta-feira
de Passos” (sexta-feira antes da Semana Santa). Não é capela de culto oficial, mas
nela ainda hoje se celebra a festa da Santa Cruz, quando são cantadas as ladainhas
populares, conhecidas com ladainha “da roça”.

As Irmandades Religiosas

A partir do Séc. XIV a Igreja Católica assumiu e passou a dirigir as


antigas confrarias e guildas medievais, transformando-as em Irmandades Religiosas
e Ordens terceiras, exceto a Guilda dos Pedreiros Livres, hoje conhecida como
Maçonaria.
Na cidade nunca existiram conventos ou casas de Ordens Religiosas como
Beneditinos, Carmelitas, Franciscanos, etc. Aqui foram criadas irmandades leigas que
dedicavam suas atividades ao louvor e festejos de seus santos padroeiros e às obras de
caridade. Existiam nas igrejas diversas irmandades. Na Igreja Matriz: as Irmandades
do Santíssimo Sacramento, Nossa Senhora dos Remédios, Senhor dos Passos, São
Miguel e Almas e São Roque; na Igreja de Santa Rita: a de Santa Rita, a do Menino
Jesus e a Confraria de Nossa Senhora da Conceição; na Igreja do Rosário: a de Nossa
Senhora do Rosário e de São Benedito e na Capela das Dores, a Irmandade de Nossa
Senhora das Dores.
Quase todas estas irmandades religiosas foram extintas na década de
1950, por ordem do Bispo Diocesano. A única que ainda existe é a Irmandade do
Apostolado da Oração, que cuida dos altares e das alfaias, e foi fundada em 1907 pela
Sra. Zulmira do Amaral Costa.

Igreja de Nossa Senhora da Conceição de Paraty Mirim

Está construída junto à Praia do Paraty Mirim, sede do Segundo


Distrito do Município, cerca de 15 km da cidade e foi edificada por Antonio da Silva,
por provisão de 23 de fevereiro de 1720 e renovada com paredes de pedra e cal pelo
Coronel Jorge Pedroso de Souza. Foi consagrada em 8 de dezembro de 1746. É uma
igreja simples, com um só altar, dedicado a Nossa Senhora
da Conceição, cuja imagem, em madeira, se encontra no Museu de Arte Sacra de
Paraty. Detalhe curioso é a não existência de torre e estar o sino assentado na parede
lateral da igreja sob uma
viga de pedra. A memória popular fala da existência da estátua de um pequeno
elefante que ficava colocada sobre o telhado de uma casa contígua à igreja,
desaparecida misteriosamente sem que ninguém saiba onde se encontra atualmente.

Igreja de Nossa Senhora dos Remédios do Corumbê

É uma pequena ermida, de fachada simples, com pequena torre lateral e


está construída sobre uma pequena elevação, fronteira ao mar. Seu singelo interior
exibe duas colunas torcidas, ornadas de folhas e frutos de videira e uma imagem da
Nossa Senhora dos Remédios, ambas do Séc. XVII. Estas peças, que provavelmente
pertenceram à segunda Matriz construída na cidade, foram doadas para a capela pelo
Mons. Helio Bernardo Pires, vigário de então. No dia 7 de Setembro de 1921, uma
solene procissão transladou aquela imagem da cidade para a nova Capela.

MONUMENTOS CIVIS E
MILITARES

Câmara Municipal

A primeira Casa da Câmara e Cadeia foi construída na esquina de um


quarteirão que existia entre a Praça da Matriz e a Rua Dona Geralda, fazendo esquina
com a rua da Cadeia. Por seu mau estado de conservação foi demolida, passando a
Câmara e Cadeia a funcionar em sobrados alugados até ser construído o prédio no
Largo da Santa Rita, onde se instalou a Casa de Detenção. De acordo com a
documentação consultada, o Senado da Câmara funcionou no sobrado da esquina da
Rua do Comércio com a Rua da Ferraria e, finalmente, na esquina das ruas do
Comércio com Dr. Samuel Costa, alugando e posteriormente adquirindo o imóvel,
onde se encontra até hoje.
Este prédio apresenta uma característica um tanto comum nesta cidade: a parte térrea
de frente para a Rua Dr. Samuel Costa data do Século XVIII e a parte superior e o
acréscimo da Rua do Comércio são do Século XIX. Nota-se que a parte inferior era
destinada a armazém ou depósito e a parte superior a moradia.
É interessante conhecer no Salão Nobre as “Varas de Vereança”,
bastões que eram conduzidos pelas autoridades nas ocasiões festivas e solenes; os
sofás da antiga Loja Maçônica, destinados aos aprendizes, com seu triângulo forrado
em vermelho e encimado por uma estrela de cinco pontas; o dossel sobre a mesa da
presidência e as cópias das antigas cadeiras e tribunas.

Casa da Cultura

Edificada em 1754 para servir de residência e armazém, foi reformada


e ampliada em l761 e 1860. No início do século passado nela funcionou uma escola
mista e, posteriormente, um clube da cidade, que ao longo dos anos desfigurou suas
dependências internas e a fachada.
Devolvido ao governo municipal na década de 1990 foi transformado em Casa da
Cultura. A edificação foi recentemente restaurada pela Fundação Roberto Marinho e
abriga exposição permanente sobre a história, vida, cultura e arte da região. Com
linguagem moderna e interativa, permite consulta a documentos da história local,
entrevistas, fotos e objetos de arte e artesanato de vivência da comunidade. Possui
loja, livraria, sala de exposição temporária, pátio e auditório.
Notar a treliça em madeira das sacadas, o florão e a cartela com as
datas de edificação e reformas sobrepostos à porta de entrada e o pátio interno de
ventilação e iluminação.

Santa Casa da Misericórdia

Foi fundada em 12 de outubro de 1822, dia da aclamação do primeiro


imperador e recebeu por padroeiro São Pedro de Alcântara, santo do nome de Sua
Majestade Imperial, como reza o seu estatuto. No prédio, especialmente construído
para hospital, sua arquitetura singular mostra as exigências da época para uma casa
de saúde. Vale ressaltar o envidraçado do pátio interno, o portão de entrada, o sistema
de ventilação nos tetos dos quartos e o busto de Dom Pedro I, colocado no pátio por
ocasião das comemorações do Sesquicentenário da Independência do Brasil. Não está
aberto à visitação pública, pois nele hoje funciona o Hospital Municipal. A Irmandade
da Santa Casa de Misericórdia, fundada em 1822, que administrava o hospital e suas
obras de caridade, foi extinta recentemente, após ter o Município encampado suas
instalações e bens.
Anteriormente, o hospital funcionava na casa da Rua da Matriz,
esquina da Rua de Ferraria, onde hoje está instalado o Asilo de Velhos São Vicente de
Paulo. É uma edificação interessante, com corredor central de acesso a grandes
enfermarias, imenso pé-direito e um pátio interno de iluminação e ventilação, balizado
por colunas redondas de alvenaria.

Chafariz de Mármore

Está situado à Praça do Pedreira, antigo Largo do Domingos Ourives, e


foi mandado construir pelo Conselheiro Luiz Pedreira do Couto Ferraz, Barão do Bom
Retiro, então Presidente da Província do Rio de Janeiro. Inaugurado em 1851 pelo
próprio presidente, servia para abastecer a cidade de água, já que não existia ainda o
sistema de distribuição para as residências. Junto a ele ficava o “poço da lavagem”,
local de lavagem de roupas e onde os tropeiros davam de beber às suas tropas. No ato
da inauguração do chafariz, o Presidente usou um copo de ouro que a cidade lhe havia
oferecido como agradecimento.O Presidente deu este copo à Santa Casa, onde D.
Pedro II, quando de sua passagem por Paraty, em 1863, o viu e sugeriu que se
vendesse para auxiliar nas obras de misericórdia.
Foi considerado no Relatório do Governo da Província como o mais belo Chafariz de
todas as cidades fluminenses. Na década de 1960 foi removido de seu lugar original
para evitar que o trânsito dos automóveis e caminhões lhe causasse dano irreparável.

Sobrado dos Bonecos

Apesar da beleza de sua fachada é uma das últimas construções do Séc. XIX. Nela já
se notam elementos que caracterizam o estilo “Belle Epoque”, como as volutas das
colunas,o gradil das sacadas e os batentes de granito em seus dois pavimentos. Sobre
a platibanda, que arremata a cimalha de telhas de louça pintada, existiam cinco
estátuas, provavelmente representando os cincos continentes, que foram vendidas na
década de 1930.

Fortes e Fortalezas

Existiu, no Século XVIII, no Largo da Santa Rita, no local onde hoje


funcionam a Biblioteca Municipal Fábio Villaboim e o Instituto Histórico e Artístico
de Paraty, um quartel destinado ao alojamento das tropas da Fortaleza da Patitiba,
situada na foz daquele rio. Desativado, entrou em ruínas e foi demolido em meados do
Século XIX. Em 1872 já se encontrava construída, no mesmo local do antigo quartel,
a antiga “Casa de Detenção”, mais conhecida como Cadeia Pública, que lá funcionou
até 1980, quando foi entregue pelo Governo do Estado à Municipalidade, passando a
sediar a Secretaria de Turismo e Cultura. Supõe-se que o gradeado das janelas e as
portas das celas tenham pertencido à primeira cadeia pública que, juntamente com a
Câmara Municipal se situava na Praça da Matriz. Atualmente neste prédio estão
instalados a Biblioteca Municipal Fábio Villaboim, com acervo aberto à consulta
pública e aos sócios e a sede do Instituto Histórico e Artístico de Paraty, responsável
pelo acervo histórico do município, entre outras atividades.
O quartel demolido, juntamente com o Forte Defensor Perpétuo, o da
Ilha das Bexigas, Iticupê, Ponta Grossa, Ilha do Mantimentos e Ilha dos Meros fazia
parte do sistema defensivo do porto de Paraty. Alguns datam do Século XVIII, outros
do XIX. A Estrada da Serra, por onde escoavam as riquezas das Minas Gerais, era
guarnecida por um quartel junto à Casa de Registro da Cachoeira. Resta somente o
Forte Defensor Perpétuo; canhões, trincheiras e ruínas assinalam a localização das
antigas fortalezas e pontos de defesa.
Os canhões da Fortaleza da Patitiba estão atualmente assestados no
Largo da Santa Rita e na Praça do Porto.

Documentos do Século XIX citam um Quartel General do Governo Militar da Vila, de


onde despachava o Governador Militar. Supõe-se que este prédio seja o que está
situado à Rua da Matriz, esquina com a Rua da Ferraria, e agrega hoje uma residência
e uma pousada. A parte térrea, com seus portais de pedra é a construção primitiva e
nele funcionaria o quartel. O sobrado é bem posterior. Notar os vestígios das grades,
superpostas às janelas e portas, a enxovia (cela insalubre ao rés do chão), um pequeno
sobrado sem porta para a rua e a calha de pedra na cimalha, a única existente em
Paraty. No interior desta edificação ainda restam janelas gradeadas, ladeadas por
“namoradeiras”, que são pequenos bancos de pedra, característicos do Século XVIII.

Forte Defensor Perpétuo

Situado no Morro do Forte, antes chamado Morro da Vila Velha por


lá ter existido o primitivo povoamento, foi construído em 1703 com a finalidade de
defender o porto do ouro. Restaurado em 1822, recebeu o título de Defensor Perpétuo
em homenagem ao Imperador Dom Pedro I, que tinha este título.
Notar as trincheiras, os canhões, o terrapleno, as celas e a Casa da
Pólvora, uma das poucas que ainda existem no país.
Restaurado pelo IPHAN, está aberto à visitação pública e nele está
instalado o Centro de Artes e Tradições Populares de Paraty, com exposição
permanente do artesanato paratiense.

O Portão de Ferro

Era a antiga entrada da cidade e data provavelmente do Séc. XVIII, mas


não se pode precisar a data de sua construção. Dela restam somente os portais de
pedra , a guarita das sentinelas e o poço. Ali se fiscalizava a entrada e a saída das
tropas e a identificação dos passantes. Era fechado às l8:00 horas ao soar um tiro de
canhão do Forte Defensor Perpétuo e reaberto ao trânsito às 6:00 horas com um novo
tiro de canhão.
Está situado no final da Rua Presidente Pedreira, atrás do Estádio
Municipal.

O Cais do Porto

Quando o povoado ainda estava instalado no Morro da Vila Velha, as


embarcações que chegavam a Paraty fundeavam, desde a foz do Rio Perequê-açu até
as faldas daquele morro, onde se fazia, inclusive, mercado público. Posteriormente, os
navios fundeavam em frente à igreja da Santa Rita. Três rampas existiam para as
embarcações de fundo chato, como mostra a aquarela de Jean Baptiste Debret, pintada
em 1827. Mercadorias e viajantes eram transportados para a terra nas costas de
carregadores, escravos ou livres, que se prestavam a este serviço, comuns em todos os
portos. Alguns proprietários de armazéns mandavam construir suas próprias rampas
de desembarque.
Em 1851, a Câmara Municipal obteve do Governo da Província um empréstimo para
as obras da Praça do Mercado e ponte de embarque e desembarque. Esta ponte, de
pedra, foi aterrada pela grande enchente de 1862. Em 1893 foi efetuada a construção
de uma nova ponte, na qual se usaram pedras e pranchões de madeira. A partir de
1920, de acordo com as necessidades, esta ponte sofreu várias reformas que a
ampliaram em extensão e largura.

Banca do Pescado

Sempre foi um lugar de grande importância, visto que ali, além da


venda e fiscalização do produto, era ponto de encontro quase que obrigatório de toda a
população. Era onde se trocavam notícias, novidades e se ficava sabendo dos últimos
acontecimentos.
Documentos oficiais, desde 1829 reclamavam do estado de ruína da
edificação que, em 1841, foi reformada passando a abrigar sua administração e
instalando junto ao prédio um lampião que deveria ficar aceso por toda a noite para
servir de indicação do porto. Vem sofrendo, ao longo dos anos, várias reformas para
se adaptar às novas exigências da população e às normas de higiene e saúde públicas,
o que descaracterizou suas feições originais.

Ruas e Praças

As atuais ruas e praças do centro histórico são praticamente as mesmas


de um século atrás, apenas com novas denominações:
Rua Fresca: Alegre, das Dores e do Mar
Rua da Praia: Nova da Praia e Dr. Pereira
Rua Dona Geralda: da Praia e do Mercado
Rua da Matriz: da Lapa e Marechal Santos Dias
Rua do Comércio: da Patitiba e Tte. Francisco Antonio
Rua Domingos Gonçalves de Abreu: do Gragoatá
Rua Aurora: Salvador do Couto e do Couto
Rua Santa Rita: da Santa Rita
Rua da Lapa: da Peneirinha e Maria Jácome de Melo
Rua da Ferraria: Rua do Rocio e Com. José Luiz
Rua Dr. Samuel Costa: Rua do Rosário
Rua da Cadeia: Rua Direita, do Imperador e Mal. Deodoro
Praça da Bandeira: Praça do Porto
Largo da Santa Rita: Praça da Cadeia e Amaral Peixoto
Praça da Matriz: Praça do Imperador e Mons. Hélio Pires
Praça do Chafariz: do Rocio, da Lavagem e do Pedreira
Largo do Rosário: por detrás do Rosário
Praça da Bandeira: Praça do Porto e do Mercado Permaneceram com as denominações
originais o Beco do Propósito, a Rua da Capela, o Buraco Quente e a Rua do Fogo, as
duas últimas, antigas áreas de prostituição do cais do porto. A Rua do Fogo, no Século
XVII, ligava a antiga Matriz ao cais do porto e, posteriormente, à Igreja de Santa Rita.
Com a urbanização e o novo arruamento da vila, dela restou somente o trecho atual,
entre o Largo da Santa Rita e a Rua da Lapa com a largura original das ruas de então.
O entortamento das ruas teria sido obra do arruador Francisco Fernandes da Silva,
que justificava este fato para distribuir o sol pelas casas e evitar o vento encanado,
prejudicial à saúde. Porém, diante das reclamações dos moradores, foi solicitada a
demissão do referido arruador e sua substituição por outro mais competente.
A esquina da Rua Domingos Gonçalves de Abreu com a Rua da
Ferraria chamava-se “O Canto da Peça”, por nela existir uma peça de artilharia, um
pequeno canhão.
Existia, também, uma grande área pública, destinada ao uso comum da
população, onde descansavam e pastavam as tropas de muares e onde se fazia
pequeno comércio, chamada Largo do Rocio. Iniciava-se no Portão de Ferro e
estendia-se em direção ao mar, findando na atual Rua João do Prado. Era ladeado por
grandes chácaras, na atual Av. Roberto da Silveira, e casas de moradia e comércio na
Rua Presidente Pedreira.
O abandono desta área era permanente foco de reclamação dos
moradores em razão da presença de quilombolas, vadios e tropeiros e das arruaças.
Por determinação do Ouvidor Geral, em Correição, decidiu-se pela limpeza,
organização e urbanização daquela área para evitar tais problemas.
Calçamento das Ruas

As ruas do centro histórico mantêm o traçado original, acrescidas de


uns poucos alargamentos como a Rua da Cadeia e a Dr. Samuel Costa; são
entrecruzadas regularmente, apresentando uma ligeira curvatura que forma, no
conjunto, um leque aberto. As horizontais vertem suas águas para os Rio Perequê-açu
e Patitiba, as verticais derramam suas águas para o mar. As ruas têm o formato de um
canal, que permite rápido escoamento das águas pluviais e das águas das marés de lua
cheia ou nova, que entram cidade a dentro. Este engenhoso sistema de escoamento de
águas é encontrado ainda em algumas cidades portuguesas.
O calçamento das ruas iniciou-se em 1776, por ordem do Ouvidor
Geral Antonio Pinheiro. As obras começaram e ser feitas em frente à Igreja do
Rosário e se estenderam até meados do século passado.

A Malha Urbana

Atribui-se à Maçonaria o traçado da malha urbana do centro histórico e


sobre sua curvatura e esquinas desencontradas existem duas versões: permitiria e
facilitaria a defesa da cidade em caso de ataques piratas ou distribuiria o sol e os
ventos de maneira uniforme por todas as casas, ventilando seus pátios internos, à
moda mourisca. A segunda hipótese é mais plausível, mas também pode ser a soma
das duas colocações.
São encontrados nas encruzilhadas das ruas três cunhais de pedra
lavrada, que formam um triângulo que, segundo voz corrente, é o símbolo maçônico
por excelência, que representa Deus. Sobre a Maçonaria é interessante lembrar que,
seus integrantes - artífices, negociantes e profissionais liberais - eram conhecedores de
muitas técnicas e realmente tiveram participação atuante em Paraty desde o Século
XVIII. Uns poucos sobrados exibem em suas fachadas duas faixas verticais, repletas
de desenhos geométricos aos quais se atribuem conotações maçônicas. Outro detalhe
interessante é que a maioria das casas setecentistas tem suas portas e janelas pintadas
de azul-hortênsia, que é a cor da maçonaria simbólica ou operativa.

O Caminho do Ouro ou Estrada Real


Os Guaianás, primeiros habitantes de Paraty, usavam uma trilha na
serra que ligava suas duas aldeias, a de Paraty e a do Vale do Paraíba, na região de
Taubaté. Em meados do Século XVII, o governo mandou abrir e melhorar este
caminho, ligando-o a São Paulo e às minas da região. Foi então que através dele as
riquezas produzidas nas Minas Gerais desceram para o porto de Paraty e foram
enviadas para o Rio de Janeiro e de lá para Portugal. Por ele subiram os que
buscavam enriquecer nas minas de ouro e diamante e as tropas de muares e escravos
com gêneros alimentícios, vestuários, móveis e utensílios destinados àquela região.
Para a fiscalização dos tributos e do fluxo dos viajantes foram instalados ao longo do
trajeto Casas de Registro. No Século XVIII este caminho chegava até a cidade de
Diamantina (MG). Posteriormente, foi por esta mesma estrada que trafegou o café
produzido no Vale do Paraíba paulista.
O Caminho da Serra foi alargado e melhorado durante o seu uso.
Alguns trechos foram calçados, estivados e alargados. Seu tráfego permanente foi de
vital importância para o progresso de Paraty, que sempre viveu do comércio e do
movimento de seu porto.
Sem uso, no final do Século XIX, aos poucos foi sendo coberto pela
mata e sofreu sucessivos desbarrancamentos de suas margens. Restam no município
aproximadamente 12 km desta estrada, em sua maior parte dentro do Parque Nacional
da Serra da Bocaina. Recentemente foram recuperados cerca de 3 Km. Que exibem
impressionante calçamento de pedras irregulares. Este trecho situa-se entre a
localidade dos Penhas, onde se encontra fixado um marco e as fronteiras do parque.
Hoje, por programa do Ministério do Turismo, está incluído no Projeto de
Roteirização Turística da Região Sudeste e se chama Estrada Real. Do caminho
original, calçado, restam alguns trechos nas cidades por onde passava, porém os mais
longos e mais bem conservados encontram-se em Paraty e Diamantina.

Antigas Fazendas
Das centenas de fazendas aqui existentes poucas restaram e, dentre
estas, sobressaem a Fazenda da Itatinga, do Bom Retiro, do Bananal e da Boa Vista.
Nesta última, que se situa em frente à cidade, viveu até seus oito anos, Julia da Silva
Bruhns, mãe do escritor alemão Thomas Mann, prêmio Nobel de Literatura. Júlia
nasceu em Paraty, filha de pai alemão, Johan Ludwig Herman Bruhns, e mãe
brasileira, Maria Senhorinha da Silva, na região da Graúna e rio Pequeno em 14 de
agosto de 1851. Após a morte de sua mãe foi levada por seu pai para a Alemanha e lá
se casou com o Senador Alemão Thomas J. Heirinch Mann.
Quase todas as fazendas destinavam-se ao plantio de cana-de-açúcar e à
produção de aguardente e farinha de mandioca. Grande era a quantidade e excelente a
qualidade da aguardente aqui produzida que acabou adotando o nome da cidade. Até
meados do século passado pedia-se nos bares uma Paraty e não uma cachaça. No
Século XIX muitas fazendas substituíram o plantio de cana por café, então
comercialmente mais rendoso.
Com a decadência do município no final dos oitocentos e início dos
novecentos, as fazendas e os engenhos foram sendo abandonados, porém restaram na
região moradores que deram origem a pequenos povoados como Mamanguá, Pedras
Azuis, Corisco, Penhas e Graúna, entre tantos outros.

VULTOS ILUSTRES
Algumas personalidades destacaram-se na história de Paraty. Eis
algumas delas:

Domingos Gonçalves de Abreu. Tinha a patente de Alferes. Não se conhece o local e


a data de seu nascimento e falecimento. Liderou a revolta popular que em 1660
separou Paraty da Vila da Ilha Grande (Angra dos Reis). Este ato foi reconhecido por
Dom Afonso VI que, em 28 de Fevereiro de 1667, cria a Vila de Nossa Senhora dos
Remédios de Paraty.

Francisco do Amaral Gurgel. Nasceu no Rio de Janeiro. Em 1710, quando era Capitão
Mor em Paraty, conduziu 580 homens armados, municiados e pagos para defender a
cidade do Rio de Janeiro invadida pelo corsário francês Duguay Trouin.

Geralda Maria da Silva. Nascida em Paraty em 1807 (?) e falecida em 20 de Fevereiro


de 1890 era filha reconhecida de Roque José da Silva e Andreza Maria de São José.
Senhora rica e piedosa administrou e custeou as obras de conclusão da Igreja Matriz.
Em reconhecimento foi agraciada por Dom Pedro II com o título de Dona de Palácio.

José Luiz Campos do Amaral. Nasceu em Paraty a 14 de Junho de 1790 e falecido a


22 de Julho de 1861. Ocupou diversos e importantes cargos civis e militares em
Paraty. Era Cavaleiro Fidalgo da Casa Imperial, Comendador da Ordem de Cristo e
Oficial da Imperial Ordem da Rosa.

Manuel Eufrázio dos Santos Dias. Nasceu em Paraty a 8 de Junho de 1840 e faleceu
em 2 de outubro de 1915. Participou da
Guerra do Paraguai onde se sobressaiu por sua valentia e coragem. Recebeu a
patente de Marechal de Campo. Era Cavaleiro da Ordem de São Bento, Cavaleiro
Oficial da Ordem da Rosa, Oficial da Ordem de Avis e recebeu a Medalha de Ouro
por Mérito Militar.

Maria Jácome de Mello. Não se conhece o local nem data de seu nascimento e morte.
O historiador Alípio Mendes situa seu nascimento em Angra dos Reis, no início de
1600 e sua morte no final daquela centúria. Doou as terras entre os Rios Perequê Açu
e Patitiba, que faziam parte de sua sesmaria, para a construção do povoado de Paraty.

Samuel Nestor Madruga Costa. Nascido em Paraty em 18 de Novembro de 1882 e


falecido em 24 de Setembro de 1930. Fazendeiro, advogado e político, foi Deputado
Provincial e o primeiro Prefeito de Paraty. Distinguiu-se sobremodo como jornalista,
poeta e historiador.

Salvador Carvalho do Amaral Gurgel. Nasceu em Paraty em 16 de Fevereiro de 1762


e faleceu em Moçambique, na África. Era médico e clinicava em Vila Rica, hoje Ouro
Preto, onde participou da Inconfidência Mineira junto com Tiradentes e outros. Preso,
foi julgado e condenado à morte, mas teve sua pena comutada e transformada em
degredo para Inhambane - Moçambique. Seus restos mortais se encontram atualmente
no Panteão dos Inconfidentes, no Museu da Inconfidência, em Ouro Preto, Minas
Gerais.
LENDAS

Várias lendas povoam o imaginário popular de Paraty, algumas ligadas


a tesouros enterrados, encantos e outras comuns a diversas regiões do Brasil como o
Boitatá, Mula-sem-cabeça, o Lobisomem, o Curupira, etc. As mais conhecidas e
divulgadas até hoje são:

A Serpente da Matriz
Conta que uma criança, filha de um relacionamento extraconjugal foi
enterrada viva sob os pés de imagem de Nossa Senhora dos Remédios. Por
encantamento esta criança transformou-se em uma grande serpente, cuja cabeça fica
sob os pés de imagem da Virgem e o corpo se estende ao longo do Rio Perequê-açu.
Se algum dia tirarem a imagem do lugar, a serpente, livre, se movimentará e destruirá
a cidade. Outra versão diz que o encantamento se quebrará se a criança-serpente for
amamentada por uma virgem.

O Tesouro da Trindade
Diz-se que na região da Trindade foi enterrado por piratas ingleses um
fabuloso tesouro, fruto de saque à Catedral de Lima, no Peru e que sua localização
estaria indicada em estranhas inscrições nas pedras junto à praia do Caixadaço. No
século passado, muitas pessoas, munidas de mapas e informações orais, vasculharam
a região à procura deste tesouro, não conseguindo encontrá-lo. Encontraram somente
restos de móveis e muitas ossadas humanas que, transportadas para a praia deram
origem ao cemitério local. Dizem os antigos paratienses, que este tesouro teria sido
encontrado pelo armador naval Roque José da Silva, razão de sua imensa fortuna, que
após sua morte foi herança de sua filha Geralda Maria da Silva. Parte desta riqueza
teria sido aplicada nas obras de construção da nova Igreja Matriz.

A Noiva da Igreja da Santa Rita


Uma moça da cidade, às vésperas de seu casamento, amanheceu morta,
o que causou grande tristeza na cidade, consternação de seus pais e desespero de seu
noivo. Após o enterro no cemitério da Igreja da Santa Rita, o noivo, inconsolável,
permaneceu no jardim da praça da igreja, lamentando a sua sorte. Ninguém conseguiu
retirá-lo dali. À noite, ele viu sair da porta do cemitério um vulto vestido de noiva que
veio beber água no chafariz que fica defronte à Igreja. Aproximou-se e reconheceu sua
noiva e perguntou-lhe o que fazia ali, àquela hora. Ela respondeu que vinha beber
água, pois havia morrido com sede e, sumiu no ar. Desesperado ele procurou os pais
da moça, as autoridades, contou a história e disse que sua noiva fora enterrada viva.
Pela manhã resolveram abrir a sepultura para verificar o fato. Encontram o corpo da
moça de bruços no caixão.

A Mãe do Ouro
Conta-se que a Mãe do Ouro, um encantamento, dona de um grande
tesouro em ouro, tem três moradas na região: na toca do Ouro, no Pico do Frade e no
Morro do Cairuçu. A cada sete anos ela muda de moradia e quem estiver no local em
que ela chegar e ver onde guarda seu tesouro passará a ser dono da imensa fortuna.

A Praga do Irmão Joaquim


Vivia aqui um irmão leigo, de ordem religiosa, que se envolveu na
política local e desagradou toda a população reclamando dos seus maus costumes e
hábitos. Tanto fez que o expulsaram da cidade. Ao atravessar o Rio Perequê-açu,
retirou as sandálias dizendo que daqui não levaria nem a poeira dos sapatos e que a
cidade, amaldiçoada, cairia em desgraça e não progrediria por séculos. Atribui-se ao
mesmo Irmão Joaquim a praga rogada a uma família que rira de sua perna inchada e
doente. Vaticinara que os filhos dela, até a quinta geração, nasceriam e sofreriam a
mesma doença: teriam a perna inchada. Hoje, passadas as gerações amaldiçoadas, a
família já não apresenta esta deformidade.

O Corpo Seco da Toca do Cassununga


Diz a lenda que um homem muito mal, que teria seviciado sua própria
mãe e passado a vida a fazer maldades, ao morrer não foi sepultado no cemitério e
sim na Toca do Cassumunga, porque nem Deus, nem o diabo queriam seu corpo. Por
castigo e sina, saí da sepultura em determinadas noites e vaga pela região
assombrando os que por lá passam.

FESTAS RELIGIOSAS
E POPULARES

O isolamento de Paraty no início do século passado permitiu que a


comunidade mantivesse sem grandes alterações muitas das festividades de seu
calendário religioso e popular. As mais importantes festas religiosas são:
Semana Santa
As solenidades se concentram nos últimos dias da Semana:
- Quinta-feira - celebração da missa da Ceia, cerimônia do Lava-pés, adoração do
Santíssimo Sacramento, na Matriz.
- Sexta-feira - Procissão do “fogaréu”, na qual o povo conduzindo fifós (uma
espécie de tocha) e velas percorre as ruas da cidade carregando a imagem de “Nosso
Senhor da Cana-verde”, em marcha acelerada, entoando a ladainha de Todos os
Santos. Esta procissão sai da Matriz pela porta lateral e entra em todas as outras
igrejas pela porta lateral, saí pela porta da frente e retorna à igreja de origem. Ela
representa a prisão de Cristo e durante sua passagem as ruas ficam às escuras.
Antigamente só os homens dela participavam, sendo as mulheres proibidas inclusive,
de assistir à sua passagem das janelas das moradias.
Pela manhã sai da Matriz uma procissão de homens conduzindo a imagem do “Senhor
dos Passos” e da Capelinha uma procissão de mulheres conduzindo a imagem de
Nossa Senhora das Dores que, percorrendo caminhos diferentes, se encontram em
frente à Igreja da Santa Rita onde o sacerdote faz um sermão alusivo ao
acontecimento; daí ser também conhecida como “Procissão do Encontro”. Durante o
trajeto esta procissão pára em frente aos “Passos da Paixão”, que são estações da Via
Sacra. Encerra-se a procissão na Matriz onde então se apresenta a cena da
Crucificação, com imagens e atores. Hoje esta encenação acontece, à tarde, após a
cerimônia da Adoração da Cruz.
À noite realiza-se a “Procissão do Enterro”, quando o esquife do Senhor Morto
percorre as ruas da cidade, sob um pálio, carregado por homens encapuzados,
seguidos pela imagem de Nossa Senhora da Soledade. Finda a procissão segue-se o
“beija-mão” da imagem do Cristo Morto.
Nos últimos anos um espetáculo teatral, “Um homem chamado Jesus”, de autoria e
direção de Themilton Tavares, vem sendo apresentado à noite, no bairro do Pontal,
com a participação de atores locais.
- Sábado - Até bem pouco tempo após a Missa de Aleluia acontecia a procissão da
Ressurreição, quando o Santíssimo Sacramento era conduzido, sob pálio, pelas ruas
iluminadas e as moradias exibiam alfaias, alcatifas e flores nas janelas para
comemorar aquele acontecimento. Até meados do século passado esta procissão
acontecia por volta de 6:00h. do domingo, ao raiar do dia.
As procissões desta comemoração são belíssimas pela participação de imagens do
Século XVIII, de rara beleza, em tamanho natural e pela intensa participação devota
do povo.

Festa do Divino Espírito Santo


A Festa do Divino Espírito Santo, apesar do progresso e dos anos tem
mantido suas primitivas comemorações, sem que tenha se desfigurado o aspecto
ingênuo, religioso e popular assimilado durante séculos. Não muito longe se
encontram estes festejos da descrição de Câmara Cascudo no Dicionário do Folclore
Brasileiro.
Aqui ainda existe a participação da folia nas procissões das bandeiras e
no bando precatório. Durante a novena a tradicional procissão das bandeiras
vermelhas tendo ao centro uma pomba branca - símbolo do Divino Espírito Santo -
percorre as ruas da cidade acompanhada da folia e banda de música. Às vésperas da
festa, no sábado, persiste a distribuição de carne aos pobres e a farta distribuição de
almoço ao povo. As danças folclóricas: Dança dos Velhos, Ciranda, Cateretê e outras
ainda são dançadas para o Imperador; as figuras da “Miota”, “o Arreliado do Boi”, o
“Cavalinho” e o “Peneirinha” divertem o povo e a garotada nas noites de sábado e
domingo. O Imperador preside as cerimônias distribuindo lembranças e medalhas,
soltando um preso comum como indulgência imperial e recebendo ainda as
homenagens das autoridades locais e distribui doces para as crianças. Na parte
religiosa, preside às procissões e tem assento ao lado direito do altar, em trono
ricamente ornado, ostentando as insígnias imperiais: Coroa e Cetro de prata.
É uma festa móvel, celebra-se 50 dias após o Domingo de Páscoa.

Festa de Nossa Senhora do Rosário e São Benedito


Muito semelhante à festa do Divino, esta festa podia chamar-se a
“Festa do Divino dos Pretos Escravos”. Nela existem as procissões com bandeiras,
acompanhadas de folia e banda e o bando precatório. As bandeiras desta festa, porém,
são brancas e têm a imagem dos oragos uma em cada lado. Na véspera da festa que se
comemorava a 27 de Dezembro e hoje no terceiro domingo de novembro, existia a
distribuição de carne aos pobres e comida ao povo. Na missa festiva são coroados o
Reis e a Rainha de São Benedito, que em seguida distribuem doces. Presidem a
procissão de encerramento e assistem às danças folclóricas do jongo e outras de
origem africana, usando sempre seus atributos reais: Cetro e Coroa de prata.

Outras Festas

A festa de Nossa Senhora dos Remédios, padroeira da cidade, é somente uma festa
religiosa, com ladainhas, missas e procissões. Celebra-se de 30 de agosto a 8 de
setembro.
A festa de Santa Rita é realizada em sua igreja, no terceiro domingo de
julho, e consta, também, de ladainhas, missa e procissão.
A Festa de São Pedro, padroeiro dos pescadores, acontece na Ilha do
Araújo com novena preparatória e uma belíssima procissão marítima que sai do cais
de Paraty até a ilha. É uma festa móvel que se realiza no domingo mais próximo ao
dia 29 de Junho, dia do santo.
No Bairro da Ilha das Cobras, celebra-se em 1º de Maio a Festa de São
José Operário, com grande participação popular, shows musicais e diversões.
Realizam-se na zona rural e litorânea muitas outras festividades
religiosas em homenagem aos padroeiros e padroeiras das comunidades lá existentes.
Todas as festa aqui costumam terminar com leilão de prendas, apresentações musicais
e fogos de artifícios.
Por ocasião de algumas festas religiosas, é comum a colocação, junto à
igreja, de um mastro votivo, pintado nas cores dedicadas ao santo, encimado por um
quadro com o registro do santo festeja, tanto na cidade como em todo o município.
Na cidade, algumas famílias ainda conservam a tradição de rezar
ladainhas aos seus tradicionais santos, como São João Batista, Santa Ana, Santa Cruz,
São Bom Jesus e São Pedro. São festas domésticas e particulares com a participação
de parentes e amigos.
Não mais se realizam as festas de Santo Antonio, com distribuição de
pão bento; de São Roque, quando se distribuíam fitas medidas no santo e usadas
contra as enfermidades epidêmicas e o Setenário de Nossa Senhora das Dores.
Sobrevive a de Santa Terezinha, com a distribuição de rosas bentas, por uma devota.

Por ocasião do Natal, no período entre 8 de Dezembro e 20 de Janeiro, poucos grupos


de reisados ainda visitam as casas na cidade e zona rural. Os “Reis”, como são
popularmente conhecidos, visitam algumas casas a cada noite, para, em versos,
cantarem louvações ao nascimento de Jesus. Na última casa, a apresentação é
encerrada com animada ciranda, comes e bebes. As Pastorinhas, grupo de meninos e
meninas que apresentam um auto natalino, já não se apresentam há anos, o que é
lamentável.

As Festas populares mais importantes são o Carnaval e o Festival da


Pinga e Produtos Típicos de Paraty.

Carnaval:
A originalidade do carnaval paratiense está na presença dos mascarados, que
começam a aparecer logo depois do Dia de Reis. Caracterizam-se eles por vestirem
roupas enormes que lhes cobrem todo o corpo e usam máscaras feitas de papel machê.
Andam em grupos ou solitários, não falam, emitem ruídos e assustam os transeuntes,
especialmente as crianças. As máscaras mais comuns são as de caveira, de chifres e as
horrorosas e deformadas. São feitas por camadas superpostas de tiras de papel,
coladas com cola de trigo, sobre uma forma de barro. Não raro são feitas pelos
próprios brincantes para evitar que sejam reconhecidos. O tríduo carnavalesco é
animado por blocos e baterias e pela banda de música que percorrem o centro
histórico arrastando multidões, à moda dos trios elétricos. Destacam-se por sua
beleza, originalidade ou criatividade os blocos da Lama e os Assombrosos do Morro.
A Banda de Música Santa Cecília anima as ruas com suas marchinhas carnavalescas
tradicionais.
Como em todas as cidades do interior, as bandas de músicas animam todas as festas,
sejam religiosas, cívicas ou populares. Em Paraty sempre existiram bandas; as mais
conhecidas foram a Lira da Juventude e a Vinte e Cinco de Dezembro. A Sociedade
Musical Santa Cecília, atualmente participa das festas na cidade, na zona rural e
litorânea, e é composta por diversas pessoas da comunidade, das mais diversas
profissões.

Festival da Pinga:
Foi criado em 1982 pela Associação Comercial e Industrial de Paraty com a
finalidade de divulgar a tradicional aguardente local. A data escolhida, o terceiro final
de semana de agosto, tem a intenção de atrair turistas em um mês considerado de
baixa estação. Consta de stands dos engenhos produtores e shows musicais. A
produção de aguardente em Paraty data do séc. XVII e de tão famosa incorporou o
nome da cidade : Paraty é sinônimo de pinga. Em sua fabricação se destila o caldo de
cana fermentado e não o já fervido para apurar o açúcar.

Festa Literária Internacional de Paraty


A Festa Literária Internacional de Paraty, criada em 2003, é organizada pela
Associação Casa Azul e busca reunir na cidade todas as atividades ligadas à literatura,
com palestras, debates, mesas redondas e outros eventos que reúnem escritores
famosos do Brasil e do exterior. A cada ano a FLIP homenageia um autor brasileiro de
renome e, juntamente com a programação destinada aos adultos, organiza a
“Flipinha”, para o público infanto-juvenil das escolas locais que participam de
círculos de leitura e outras atividades ao longo do ano. Evento de fama internacional,
vem se impondo como a mais expressiva do Calendário Cultural do Município.
Paralelamente à FLIP foi criada e acontece a Off FLIP, com programações literárias,
musicais e teatrais; esse movimento cultural é voltado para os escritores e artistas
paratienses, com lançamento de livros, concursos literários e espetáculos que dão
visibilidade aos talentos locais.
Realizam-se hoje, ao longo do ano, vários eventos de caráter cultural,
religioso, esportivo e gastronômico, criados para atender à demanda do turismo e
também para oferecer
oportunidade de lazer e diversão ao povo local e visitantes, além de fortalecer a
cultura local. Dentre estes sobressaem: o Carnamar, a Folia Gastronômica, o Paraty
Cine, a Semana da Cultura Negra, o Festival da Primavera, o Encontro de Teatro de
Rua, o Dança Paraty, a Mini Maratona, o Fest Juá, shows Musicais e eventos
evangélicos.

DANÇAS FOLCLÓRICAS

Muitas são as danças folclóricas de Paraty e podemos dividi-las em


dois segmentos: dança de salão e danças de grupo. Vamos conhecer as mais
executadas.

Danças de Salão
O primeiro grupo é formado pelas danças que toda a população
conhece e participa; constituem um baile que antigamente chamava-se Chiba e hoje é
vulgarmente conhecido como Ciranda:
- Ciranda - Dança de roda, cavalheiros por fora e damas por dentro, que desenvolve
sua evolução na marcação do cantador. É costume que os músicos fiquem dentro da
roda para melhor organizar a dança. Durante o canto marcam-se as evoluções:
Balanceia, volta e meia volta, trocar de par, continuar com o mesmo par, Olha a
chuva, olha a cobra, é mentira, etc. Homens e mulheres postados em volta da roda de
dançadores aguardam o tumulto e a confusão criada pelos comandos “ troca de par e
mesmo par” para se misturarem e lhes roubar o par.
- Cana-verde-de-mão: Dança de origem portuguesa com características próprias no
Brasil, o que a diferencia. Formam-se grupos de dois pares que, ao som da música,
fazem evoluções: os homens dão uma volta em torno de sua dama tomando-a pela
mão e em seguida se dirigem à dama do outro par e fazem a mesma evolução em
sentido contrário. Lembra em muito o “grand chaine”, ou “garranchê” das quadrilhas
juninas. Dependendo da habilidade dos pares, as evoluções podem ser mais
aceleradas, mais lentas ou mesmo evoluir sem se tocar e a grandes distâncias.
- Cana-verde-valsada: Os pares dançam abraçados fazendo evoluções normais a uma
valsa.
- Canoa: música valsada na qual os pares dançam juntos por todo o tempo.
- Arara: É a mesma dança da canoa na qual um dançador, sozinho e de chapéu na
cabeça passeia entre os pares e à marcação do cantador: Olha o arara, olha o arara,
passa pra outro que o arara vai ficar, coloca o chapéu na cabeça de um rapaz e passa
a dançar com sua dama. Assim vai se repetindo e o último a ficar com o chapéu e sem
dama é o arara, ou seja o bobo.
- Marca de lenço: É igual a dança do arara, só que desta vez é uma mulher que fica
sem par e leva sobre seus ombros um lenço. Ao canto de estribilho coloca o lenço
sobre o ombro de outra mulher e lhe toma o par para dançar.
- Felipe: É uma dança em que os pares evoluem pelo salão abraçados até que ao
canto do refrão: Quá, quá, quá, quá, quá, namora Felipe que não faz má, os pares se
separam e a dama segurando a mão do par, gira em volta de si mesma e torna a se
abraçar com seu par.
- Caranguejo: Dança de roda na qual os pares dão-se as mãos, alternando-se homem e
mulher, rodando pelo salão. E obedecendo à marcação do cantador batem os pés e as
mãos, se enlaçam e rodam e os homens passam adiantam-se para dançar com a dama à
sua frente. Durante a evolução, os dançadores evoluem para o centro e para fora da
roda à marcação de Olha a onda.

Danças de Grupo:

São aquelas que exigem número certo de pares e possuem evoluções


especiais que não poderiam ser feitas por muitos dançadores.
- Chiba Cateretê: O Chiba consiste em um sapateado forte, evolução entre os
pares e os músicos. Os pares ficam frente a frente, em fila, depois do canto de um
“repente” os pares evoluem: as mulheres giram suas saias rodadas, enquanto os
homens sapateiam freneticamente à sua volta, ao som do “mancado”. O mancado é
quem, com dois tamancos, marca o ritmo das evoluções.
- Dança dos Velhos: Esta dança é uma sátira aos velhos, nela os brincantes se
apresentam vestidos de velhos do Século XIX, perucas brancas e bengalas. A dança se
divide em três partes: marcha de entrada, contradança ou allegro e fadinho. Na
primeira os velhos se apresentam como eles são: trôpegos, curvados e trêmulos; na
segunda parte apresentam-se como gostariam de ser: ágeis, eretos, divertidos e
irreverentes e finalmente na terceira aparecem como poderiam ser: cansados, curvados
e trôpegos, porém com dignidade, porte e elegância.
- Dança das Fitas: É uma homenagem à árvore e é conhecida em todo o mundo, com
alguns diferenças em cada lugar. Meninos e meninas, carregando um grande mastro
de madeira, encimado por flores das quais pendem largas fitas coloridas, caminham
dançando e no centro do espaço erguem o mastro. Postados rapaz e moça, lado a lado,
seguram uma das fitas e, em graciosa evolução, giram em torno do mastro: meninos
pela direita e meninas pela esquerda e o movimento da alternância dos dançadores,
por dentro e por fora, trançando as fitas, fazem um belo tecido geométrico.
Não mais se dançam aqui o Jongo e o Chiba Cruzado, o Caiapó, a Marujada e
o Coquinho. Outras danças como a Marrafa, a Flor do Mar e a Tontinha são somente
dançadas pelo Grupo Folclórico de Tarituba e pela Associação dos Amigos da Cultura
em algumas festas e em ocasiões especiais.

ARTESANATO

O artesanato paratiense é muito variado. São peças confeccionadas em


diversos materiais e que são utilizadas no dia-a-dia do povo em seus trabalhos,
decoração, brincadeiras e festas. Vejamos de forma genérica este artesanato, por sua
matéria prima e utilização.
Madeira: Canoas, remos, gamelas, fusos, moendas, colheres,
miniaturas de barcos. São usados na pesca, na
fabricação de farinha de mandioca e de aguardente, na
confecção de doces e alimentos e para brincadeiras e
decoração.
Taquara: Taboa e bambu: Covos, samburás, cestos, peneiras, esteiras, tapitis, gaiolas,
pipas e papagaios e bonecos folclóricos. São utilizados na pesca, nos engenhos e
fábricas de farinha de mandioca, para dormir, para prender pássaros e para brincar.
Linhas e Tecidos: Redes de pesca, tarrafas, crochê, tricô, bordados, colchas de
retalhos e bonecas. Empregados na pesca, na decoração de casas, para cobrir camas,
como agasalho e brinquedo.
Papel: Pipas, papagaios, flores, máscaras. Utilizadas nas brincadeiras infantis, na
decoração de casas e igrejas e no carnaval.
As máscaras do carnaval paratiense são feitas em papel machê, porém, a
técnica paratiense consiste em se cortar pequenas tiras de papel que são levemente
molhadas e, com a ajuda de cola de trigo ou maisena, coladas uma sobre as outras,
dando-lhes o formato da forma de barro que lhe serve de molde. São usadas pelas
crianças e adolescentes no período entre o Dia de Reis e o Carnaval. As formas e
máscaras são as mais diversas: caras de animal, monstros, caveiras ou simplesmente
rostos humanos. Depois de secas as máscaras são pintadas com cores vivas, ao gosto
do artesão. Geralmente são feitas pelos próprios brincantes, no quintal de suas casas,
para que não sejam depois reconhecidos na rua. Os mascarados costumam andar em
bando ou grupos, vestem-se com roupas grandes e velhas para evitar que sejam
reconhecidos e, habitualmente, levam uma vara ou bastão para com ela disfarçar o
modo de andar. A vara nunca é usada para atingir alguém. Às vezes se vestem de
mulheres com grandes peitos e bundas enormes e nunca falam, emitem grunhidos e
sons ininteligíveis.
Várias são as figuras carnavalescas tradicionais de Paraty:
O Voronoff: Fantasia que consiste em uma grande e redonda cabeça, feita em papel
machê, usada sobre os ombros do brincante que usa túnica fortemente colorida e
capa sobre as costas. Diz a tradição tratar-se de um médico russo que fazia
experiências de transplante de órgãos em seres vivos, homens e animais.
O Peneirinha: Consiste a fantasia em uma grande peneira colocada sobre a cabeça,
recoberta com um grande pano branco, amarrado à cintura. Veste calça com a
braguilha para trás e prende uma vara à altura da cintura, onde veste o paletó, com
o abotoamento para trás. Fica parecendo um duende: uma imensa cabeça sobre um
corpo de anão, parecendo andar de costas. Diz-se que era a fantasia preferida dos
homens casados ou autoridades que não podiam ou não queriam ser reconhecidos.
A Minhota ou Miota: É uma grande boneca feita com armação de bambu que é
recoberta com blusa e saia longa e rodada. Sua cabeça é feita em tecido e tem um
longo e fino pescoço, móvel, que se movimenta sob o controle do brincante que
está dentro da armação. Seu nome original - Miota - mostra sua origem, a região
do Minho, em Portugal, onde estes bonecos são chamados de gigantões. Aqui se
diz que ela é muito faladeira e fofoqueira, estica o pescoço para ver o que se passa
no interior das casas e contar aos outros. Costuma participar das brincadeiras da
Festa do Divino Espírito Santo. Hoje o Bloco Carnavalesco “Assombrosos do
Morro”, desfila no carnaval somente com grandes bonecos inspirados nesta figura
folclórica.

Durante a festa do Divino Espírito Santo, em Paraty temos também a figura do Boi e
do Cavalinho.

O Boi: Conhecido como “Boi-da-Festa” ou “Boi Bumbá” é uma


armação de bambu, com o formato do dorso do animal, cabeça e chifres. Esta
armação é recoberta por tecido estampado que cai até o chão, como uma grande saia.
Por baixo desta armação, vai uma pessoa que imita os movimentos de um boi,
investindo contra o povo, ameaçando chifrá-lo e fazendo-o correr. O boi é sempre
acompanhado por seu dono, o capinha, vestido de vaqueiro.
O Cavalinho: É uma armação de bambu, no formato de um pequeno cavalo, recoberta
por papel machê ou tecido em toda armação e à sua volta. No centro, uma abertura
permite que o brincante possa vesti-lo até a altura da cintura, de modo que suas pernas
fiquem escondidas e possam movimentar o brinquedo. Assim, cavaleiro sobre seu
cavalo, ele dirige o boi em suas brincadeiras evitando que ataque o povo. O cavaleiro
veste-se de peão: camisa xadrez, lenço colorido ao pescoço e chapéu de palha na
cabeça. Às vezes usa chicote de couro para ameaçar o boi. São acompanhados por um
tocador de caixa, e pelo povo que canta o refrão: “É o boi, é o boi, é o boi, é o boi, é o
boi”.
CULINÁRIA

A culinária paratiense é tipicamente caiçara, uma mistura de iguarias indígenas,


portuguesas e algumas de uso africano. A indígena nos legou pratos como o “Azul
Marinho”, o peixe enrolado em folha de banana e assado na fogueira (sobre ela ou
debaixo da areia sob a fogueira), o peixe e a ovas secas de tainha e outros peixes. As
bebidas são os chás feitos de ervas nativas, e um refresco feito com a casca do
abacaxi. Acima de tudo, nos legaram a farinha de mandioca.
A culinária portuguesa trouxe o peixe assado em telha canal, as sardinhas assadas na
brasa, o cozido de carnes; a africana a galinha ao molho pardo, o gengibre, etc.
Na doçaria, aqui se criou o “Pé-de-Moleque”: feito com melado, farinha de mandioca
e gengibre; o “Massapão”: feito com calda de açúcar, ovos e coco ralado; o “Manuê-
de-Bacia”: feito com melado, trigo e ovos.
Também, na culinária paratiense, não podemos nos esquecer dos
camarões secos, e do tradicional “Camarão Recheado”, hoje chamado de “Casadinho”
. Outro prato criado aqui para alimento das tropas que subiam serra acima foi a
“Farofa de Feijão”, até hoje servida no almoço da Festa do Divino, e que vai dar
origem ao “Feijão Tropeiro” das Minas Gerais e a “Paçoca-de-Carne Seca”, socada
com banana “bacubita” (banana ouro), que acompanha o café nas fazendas e tropas.
Famoso é também o “Café de Caldo-de-Cana”, (café feito com caldo da cana ao invés
de água) e o “Cuscuz de Farinha de Milho”, com ou sem coco ralado, para
acompanhar o café.
Eventualmente, são promovidos festivais de camarão, comidas e doces
típicos na cidade, ilhas, região rural e litorânea.

BAIRROS DA CIDADE E OUTRAS LOCALIDADES

Patitiba :
É um dos mais antigos bairros da cidade. Citações sobre este logradouro
são encontradas em documentos do Século XVIII. Seu nome - Patitiba - é um nome
indígena, tupi, e significa “lugar de muito pati”. O pati é uma palmeira que produz um
palmito amargo. Desdobrando a palavra : pati = palmeira de palmito amargo + tiba =
muito. Um rio, o Patitiba, era o seu limite ao sul e ao norte limitava-se com um
estreito canal, que se situava onde é hoje a Rua Jango Pádua. Na margem direita do
Rio da Patitiba, no final da Rua da Fortaleza, hoje chamada de Abel de Oliveira, foi
construída no início do Século XVIII uma fortaleza, que integrava o sistema defensivo
do porto de Paraty.
Documentos do Século XVIII informam que o acesso a este bairro se
fazia ao final da Rua do Comércio, chamada naquele tempo de Rua da Patitiba, no
lugar conhecido como “Buraco Quente”. O Dr. Samuel Costa, em seus artigos
publicados no jornal “A Razão” , com o título de “Paraty no anno da independência”,
informa que este era o bairro preferido dos tropeiros e marinheiros. Era conhecido por
suas arruaças domingueiras que, não raras vezes, levava a Milícia da Vila a intervir e
prender os arruaceiros. Era portanto, um lugar habitado por pescadores e pessoas
pobres e malvistas.
Juntamente com a Chácara é um dos primeiros bairros que surgiram,
exatamente, em razão do crescimento da vila e da valorização dos imóveis do centro,
o que expulsou os mais pobres para a periferia, isto ainda nos anos 1700. Porém, com
a decadência do município no final do século passado, seus moradores abandonaram
suas propriedades, que ruíram em grande parte.
Na metade deste século somente existiam neste bairro umas 3 ou 4
casas, todas na Rua da Patitiba, hoje chamada Dr. Derly Ellena. Neste tempo então,
com a abertura da Estrada Paraty-Cunha, que permitiu a vinda dos primeiros paulistas,
- os turistas - é que o bairro tornou a ser ocupado por maior número de moradias. A
especulação imobiliária levou os mais pobres a venderem suas propriedades no Centro
Histórico e passaram a construir e morar na Patitiba.
Hoje é um bairro que conta com boa infra-estrutura : serviço de coleta
de lixo, abastecimento d’água, limpeza das vias públicas, rede de iluminação pública e
residencial, ruas calçadas e asfaltadas. Não é só residencial, como também oferece
pousadas e hotéis e desenvolve pequeno comércio: farmácias, lanchonetes, bares,
supermercado e prestadores de serviço como locadoras de vídeo, dentistas, barbeiros,
etc.

Chácara :
É o primeiro bairro a surgir na cidade, ainda no Século XVIII e resulta
da expansão da vila, ao longo da Rua do Rocio, hoje Presidente Pedreira, que era o
acesso natural ao caminho da serra que ligava Paraty a São Paulo e às Minas Gerais.
Às margens desta rua, surgiram então as primeiras casas residenciais e comerciais.
Com a decadência do município, no final do Século XIX, muitas moradias ruíram,
restando apenas três do lado esquerdo e umas doze do lado direito. Os fundos das
casas desta rua eram ocupados por algumas chácaras, daí o nome do bairro. Estas
chácaras eram conhecidas pelos seguintes nomes:
• Chácara do Pe. Hélio Pires - terras do atual loteamento Parque Imperial;
• Chácara da Dona “Maroca” Gama - terras que ficam entre a Av. Roberto da Silveira e
a Chácara da Saudade, entre a Rua da Floresta e a Rua Alfredo Sertã;
• Chácara da Saudade, de propriedade do Sr. João da Silva Miranda - terras situadas
entre a Av. Roberto da Silveira e o Rio Mateus Nunes e a Rua da Floresta e a chácara
do “Seu Niquinho”;
• Chácara do Portão de Ferro - Desde a Av. Roberto da Silveira até o Rio Perequê-
açu e desde a Rua Oséas Martins de Almeida até onde está hoje a rua de acesso à
Ponte Hilton Silva, que liga o bairro ao Caborê.
• Chácara do “Seu Niquinho” de propriedade do Sr. Antonio Mello, daí a chácara ter
seu apelido - “Niquinho”. - terras que ficavam entre a Av. Roberto da Silveira e o
Rio Mateus Numes e onde está hoje a rua de acesso ao aeroporto e a Chácara da
Saudade.
O bairro está centrado na Av. Roberto da Silveira, sua principal via de comunicação e
acesso ao Centro Histórico. Constitui-se o bairro de inúmeras casas residenciais, de
comércio e serviços. Está classificado como Zona Mista no Plano Diretor do
Município. Neste bairro existe um lugar conhecido como “matadouro”, assim
chamado desde quando para lá foi transferido o matadouro municipal, que hoje não
existe mais..

Pontal :
Juntamente com os bairros da Patitiba e Chácara, é um dos mais
antigos da cidade. No princípio era composto por duas grandes propriedades. De uma
delas, em 1822, desmembrou-se uma parte para a construção da Santa Casa de
Misericórdia de Paraty. Limita-se este bairro com o mar, o Rio Perequê-açu, o Rio da
Jabaquara e terras do Caborê.
Sua ocupação foi, durante muitos séculos, esparsa e pouca. Mais
tarde, evitando a proximidade do hospital e a possibilidade de se contrair doenças
incuráveis, algumas construções começaram a surgir junto à ponte do citado rio.
Somente no século passado intensificou-se a construção naquele bairro, quando a
Colônia de Pesca Z 17 adquiriu uma área fronteira ao mar e nela permitiu o
assentamento de pescadores. Mais tarde a Municipalidade deu algumas áreas
marginais ao rio para paulistas e mineiros, que nelas construíram casas de veraneio.

Hoje, parte do Morro do Forte se acha construída e também a área que faz limite com
o bairro do Caborê.
Possui este bairro todas as melhorias que os outros e nele se situam
dois importantes monumentos históricos: a Santa Casa da Misericórdia, hoje Hospital
Municipal e o Forte Defensor Perpétuo. O primeiro data de 1822 e o segundo de 1703.
Nele também se situa o Cemitério Público Municipal, desde 1850, quando foi
transferido da Praça da Matriz por causa da epidemia de cólera que havia na cidade.
Sempre foi residencial, pouco é o comércio lá existente. Os seus
principais atrativos são a praia e a área junto ao Rio Perequê-açu, usada para a prática
de futebol e eventos.
Seu nome vem de sua conformação geográfica inicial: A praia
avançava muitos metros sobre o mar, formando uma ponta, daí - Pontal; O nome
original é “Pontal do Caborê”.

Jabaquara:
Na verdade este local só há pouco tempo passou a se chamar bairro da
Jabaquara; antes era praticamente, zona rural, devido ao seu isolamento do centro
urbano. Estranhamente em Paraty chama-se - A Jabaquara - e não - O Jabaquara -
como em São Paulo. Limita-se este bairro com o Rio Jabaquara, o mar, e a Estrada
Rio-Santos, nos fundos e em um de seus lados.
Sua ocupação era umas duas casas de pescadores, junto à praia e lá
existia um imenso caixetal. Somente em 1955, quando a empresa S. A Paraty
Industrial adquiriu esta propriedade e nela projetou um loteamento é que se
intensificou sua ocupação. Os lotes deste empreendimento imobiliário foram quase
todos vendidos a moradores das cidades do alto Vale do Paraíba, (Guaratinguetá,
Lorena, Cruzeiro e Piquete) que aqui queriam ter casas de veraneio. Infelizmente o
empreendimento não se implantou de imediato, ficando os lotes abandonados por
muitos anos; alguns foram invadidos e ocupados. Depois da construção da Estrada
Rio-Santos, o novo proprietário resolveu ativar o
loteamento, complementando a venda dos lotes restantes. A partir daí aceleram-se as
construções, possuindo o bairro, hoje, boas casas residenciais e pousadas. É servido
de rede de iluminação pública e residencial, bem como de água.
Possui dois atrativos interessantes: a praia, cuja areia preta serve de
pintura corporal ao “Bloco da Lama” no carnaval, e a Toca do Cassumunga, antiga
morada indígena, e valioso sambaqui arqueológico.
Jabaquara, na língua tupi quer dizer : o esconderijo ou refúgio de
fujões. Talvez se refira à própria Toca do Cassununga. E “cassununga”, também em
tupi, significa vespa zumbidora ou ruidosa; talvez seja o nome indígena para a
mamangava, que hoje chamamos de “furão”, comum naquela região nos meses de
verão.
Ilha das Cobras
A área onde está situado este bairro é resultado da abertura de um novo leito para o
Rio Patitiba, já então conhecido como Matheus Nunes, leito este aberto por ordem do
Padre Hélio Bernardo Pires, no meados do Século XX. Era, inicialmente, uma área
alagadiça onde as cobras, trazidas pelas freqüentes enchentes ficavam. Tinha por
limites, de um lado o novo leito do Rio Matheus Nunes, de outro o mar e nos outros
dois um canal que partia do Rio Mateus Nunes, em diagonal, para o mar. Daí o seu
nome de “Ilha”, pois ficava realmente separada do continente.
Seus primeiros habitantes foram o Sr. Augusto “Cobrinha”, o Sr. Estevão “Abóbora”,
o Sr. João Neves Martins e o Sr. Reinaldo de Souza Fontes. Com a abertura da
Estrada Paraty-Cunha, na década de 1950, e o início do que se chama “Ciclo do
Turismo”, muitas famílias começaram a vir da zona rural e costeira para a cidade à
procura de emprego e renda. Não tendo onde morar, instalaram-se nesta área, então
sem proprietário conhecido. Tempos depois, surgiu o Dr. Felipe Tortorella com título
de propriedade da área, já então razoavelmente povoada. A disputa entre os
posseiros/moradores e o proprietário durou alguns anos e resultou na aquisição da
citada área por parte da Prefeitura Municipal, que assim regularizou aquela situação
de conflito.
Com a construção da Estrada Rio-Santos, na década de 1970, muitas
propriedades rurais e costeiras foram cortadas pela rodovia, devendo seus
proprietários receber a respectiva indenização. Aconteceu que a maioria dos
moradores ocupava as terras rurais e costeiras sem qualquer título legal de
propriedade e assim, não podendo provar o domínio da terra, não podiam receber o
pagamento pelas terras desapropriadas. Sem ter onde morar ou plantar, vieram para a
cidade e passaram a residir naquele local, em casas miseráveis, construindo uma
verdadeira favela. Na área junto ao mar se instalaram os oriundos da região costeira
do município, que tinham na pesca seu principal trabalho e estavam mais
acostumados a conviver com o mar, suas enchentes e marés. Lá continuaram suas
atividades pesqueiras, a construção de canoas caiçaras e instalaram estaleiros para a
construção e reformas de pequenas embarcações.
Com o crescimento da população, o canal que separava a ilha da terra firme foi
sendo aterrado por seus moradores e pela municipalidade, resultando não ser mais
hoje uma ilha, guardando somente o seu nome de origem.
É hoje um bairro populoso, no qual não resta mais o aspecto de favela,
possuindo boas residências, pousadas, escola, comércio intenso e variado. Quase
todas as ruas têm pavimentação, iluminação pública, coleta de lixo e é atendida por
abastecimento d’água. Nele concentra-se um grande número de templos evangélicos e
uma igreja católica.
Alguns atribuem o seu nome “Ilha das Cobras” ao apelido de seu primeiro
morador, o Sr. Augusto “Cobrinha”, outros às cobras que se refugiavam na ilha
durante as enchentes do rio e lá ficavam.

Parque da Mangueira:
É a continuação natural da expansão do bairro da Ilha das Cobras,
mesmo antes de ser aterrado o canal que os separava. Limita-se de um lado com a
Ilha das Cobras, na Rua Central, e de outro com loteamento Portão de Ferro, com o
campo de pouso e o Rio Matheus Nunes.
A intensa ocupação deste bairro aconteceu pelas mesmas razões que na
Ilha das Cobras e deviam, na verdade, formar um só bairro. É hoje, provavelmente, o
bairro mais populoso da cidade, possuindo excelente comércio e serviços, ruas
pavimentadas, rede de iluminação elétrica e água. Nele está situada a maior e mais
importante escola municipal - a Escola da Mangueira.
Recebeu o nome de Parque da Mangueira por causa de uma grande e
velha mangueira, até hoje preservada e bem cuidada por seus moradores. Há uma
história interessante, do início do século passado, a respeito de uma mangueira
naquela região.Não se sabe se é a mesma que ainda existe. Diz a história que a esposa
de um juiz, por sofrer de moléstia respiratória, foi aconselhada por seu médico a
caminhar pelos campos, ao alvorecer, para respirar ar puro e medicinal. Certa
madrugada, andando por aquelas bandas, ouviu o choro de uma criança. Procurou e
encontrou, debaixo da copa de uma mangueira, um recém-nascido. Pegou-o e o levou
para casa, dando-lhe conforto, alimento, assistência e carinho. Resolveu então adotar
aquela menina e deu-lhe um nome bastante estranho : Violante Aurora do Brasil
Mangueira. Violante porque seria fruto de um amor escuso, violado; Aurora do Brasil
por que foi achada ao alvorecer, no Brasil; e Mangueira, para lembrar o lugar onde
fora encontrada. Foi levada a seguir para o Rio de Janeiro, onde cresceu e foi educada.
Dizem que, anos depois, veio a Paraty, conhecer o lugar em que havia nascido, e era
muito rica. Se a história é verdadeira, não se sabe.

Caborê :
É o bairro mais recente de Paraty e é o resultado da implantação de um
loteamento feito pelos herdeiros do Sr. Octávio Gama, há pouco mais de vinte anos.
Foi sendo implantado muito devagar, em grandes lotes, que depois foram
desmembrados em lotes menores.
Seus limites são o Bairro do Pontal, na altura da antiga Delegacia de
Polícia, o Rio Perequê-açu, a Estrada Rio Santos, as terras da Jabaquara e o rio do
mesmo nome.
Neste bairro está concentrado o maior número de hotéis e pousadas de
Paraty, mas também é área residencial, tranqüila e sossegada, com casas de muito
bom gosto, em grandes áreas verdes.
Seu desenvolvimento e crescimento somente aconteceram
recentemente, com a construção da Av. Octávio Gama, que margeando o rio, liga o
bairro ao Pontal à cidade e da Ponte Hilton Silva, que liga o bairro à entrada da
cidade. Suas ruas receberam, por sugestão de seus moradores, somente nomes de
pássaros e árvores.
Há grande divergência quanto ao seu nome: o lugar sempre foi
conhecido pelo povo da cidade e por seus proprietários como “Camborê”; seus atuais
moradores, reunidos em associação, decidiram que o bairro devia chamar-se
“Caboré”, pois não encontraram o nome - Camborê - nos dicionários da língua tupi, e
sim Caboré, que é uma pequena coruja. O Cartório do Registro de Imóveis de Paraty
possui livros, nos quais, desde o início do século passado, aparece o nome desta
localidade como “Caborê”. Optou-se pela forma ortográfica mais antiga, a registrada
nos documentos cartorários.

Outras localidades em Paraty destacam-se como sedes de distrito ou


como áreas de interesse turístico:

Paraty Mirim
É a sede do Segundo Distrito do Município. Nesta região situava-se uma importante
fazenda de açúcar e era o porto natural para embarcar a produção das fazendas da
região. Foi um importante núcleo populacional a ponto de chamar-se “Pequeno
Paraty”. A Frequesia de São João Batista do Mamanguá, criada pela Lei nº 14, de 13
de abril de 1836, foi transferida para o Paraty Mirim em 14 de Outubro de 1853,
quando a igreja, alfaias, terrenos destinados a cemitério, casa de escola e residência do
pároco foram compradas de Manoel José de Souza, proprietário daquela fazenda, pelo
Governo Imperial. Recebeu por Orago Nossa Senhora da Conceição através do
Decreto nº 717, de 21 de Outubro de 1854, confirmada por Deliberação de 18 de
Janeiro de 1855. Em suas terras está situada a aldeia Nhandeva, dos índios Guaranis.
Possui belíssima praia, manguezais extensos e grandes ilhas em sua abrigada enseada.
A memória local registra a venda de escravos naquela praia.

Tarituba
Sede do Terceiro Distrito do Município. É um povoamento de pescadores e exibe a
vida mansa e pacata da gente afeita às lides do mar. As águas calmas de suas praias
atraem inúmeros visitantes durante todo o ano. Já serviu de cenário para filmes e
novelas. Seus moradores guardam com carinho e cultivam suas mais caras tradições
como as festas religiosas e principalmente suas danças. Somente lá se conservam
algumas das danças típicas de Paraty como o Cateretê e o Tira o Chapéu.

Quilombo do Campinho da Independência


Comunidade formada por negros descendentes de escravos das fazendas da região que
se reuniram nas terras da antiga fazenda da Independência, após a libertação da
escravatura. Isolados, mantiveram algumas formas de tradição e cultura e perderam
outras que procuram atualmente resgatar, como a dança do Jongo e a Capoeira. A
comunidade foi reconhecida, no ano de 1999, como remanescente quilombola e
recebeu a titulação definitiva da posse das terras que ocupam. Lá se realiza, no mês de
Novembro, a Semana da Cultura Negra, com palestras, reuniões, apresentações de
danças e shows musicais.
Documentos informam a existência de outros quilombos no município: um à margem
do rio Perequê-açu, na serra e outro na localidade da Graúna

Trindade
Região litorânea ao sul do município teve sua ocupação iniciada em
princípios do Século XX por famílias vindas do norte do estado de São Paulo. Na
década de 70 daquele século, sofreu intensa e violenta ação por parte dos proprietários
da Fazenda Laranjeiras que queriam expulsar os moradores para lá construir um
condomínio de alto luxo. Resistiram bravamente a todas as tentativas de expulsão e
transformaram o lugar em importante pólo turístico em razão da beleza de suas praias,
mata e cachoeiras. Abriga hoje inúmeras pousadas e restaurante e é a localidade mais
visitada depois da cidade. Seus moradores costumam chamá-la de Vila da
Trindade.Esteve sempre presente no imaginário dos moradores de Paraty uma lenda
sobre a existência naquela região, de um rico tesouro, abandonado por piratas, e, não
raro foram os aventureiros que o buscaram, nada encontrando porém.

Mamanguá
O Saco do Mamanguá é uma extensa reentrância na costa que permite
a entrada do mar por cerca de 8 Km. Abriga grandes mangues, verdadeiro berçário
marinho de grande importância para o povoamento das águas da Baía da Ilha Grande.
Nos Séculos XVIII e XIX muitas fazendas distribuíam-se por aquela região e, conta a
lenda local, que lá eram vendidos clandestinamente, os escravos desembarcados na
região do Pouso da Cajaíba, após a proibição legal do tráfico negreiro. A comunidade
dedica-se à pesca e à produção de artesanato em madeira, especialmente as miniaturas
de barcos, gamelas, remos, esteiras, covos e tapitis.

TOPONÍMIA

Algumas localidades de Paraty ainda hoje conservam seus nomes de


origem indígena, guaianá ou tupi que, em sua maioria, informam sobre determinado
aspecto geográfico ou características locais. Vejamos alguns:
Açu = grande
Araraquara = refúgio ou paradeiro das araras
Caboclo = tirado ou procedente do mato
Caçununga = vespa zumbidora ou ruidosa
Cairuçu = grande queimada
Cajahiba = muita cajazeira
Caputera = o meio da mata
Carapitanga = o rio vermelho
Catimbau = o pau muito alvo, branco
Graúna = pássaro preto
Guaianá = gente aparentada, parente
Guarapiranga = o arrebol, o nascer do sol, papagaio vermelho
Guiti = oiti
Indaiatiba = sítio dos indaiás (cocos que caem)
Ipanema = água ruim, podre
Iriri = a ostra
Itaoca = casa de pedra, furna, toca
Itatinga = pedra branca, mármore, cal, gesso
Jabaquara = o refúgio ou esconderijo de fujões
Juatinga = fruto branco com espinhos
Jundiaquara = morada do jundiá (peixe de água doce com a cabeça aramada de
barbatanas)
Jurumirim = boca pequena, pequena barra
Mamanguá = a comida de reunião ou dentro da cerca, o pasto
Mambucaba = o furo, a passagem, a abertura, o rasgão
Mirim = pequeno
Ocara-açu = aldeia grande
Ocaruçu = praça ou terreiro grande
Panema = ruim, inútil, estéril
Paraty = A jazida do mar, o golfo, o lagamar
Patitiba = sítio dos patis (palmeira que dá cordas ou tiras)
Perequê (piraiquê) = lugar onde o peixe entra para desovar ou comer
Sernambi = próprio de orelha (concha branca com a qual os índios faziam brincos.
Tapera = ruínas, aldeira extinta
Taquari = rio das taquaras
Tarituba = lugar de frutas em cacho
Toque Toque = o que tapa ou impede a visão, ponta ou saliência da costa que cobre a
vista em certa direção
Tu = batido, tocado, molhado ou queimado
Bibliografia:

Abreu, Capistrano de / Caminhos antigos e povoações do Brasil:


São Paulo: Sociedade Capistrano de Abreu; Ed. Briguiet,
1930.
Amaral, Edelweis Campos do / Personalidades ilustres e genealogia. Inédito,
1977/78.
Anchieta, José de / Poesias. Transc. trad. e notas de M. de L. de
Paula Martins. Belo Horizonte: Itatiaia, São Paulo: Edusp,
1989.
Araújo, José de Souza Azevedo Pizzarro e / Memórias históricas
do Rio de Janeiro. Rio de Janeiro: Imprensa Nacional; MEC,
1945.
Cascudo, Luis da Câmara / Dicionário do Folclore Brasileiro,
Tomos I e II, Rio de Janeiro: INL, 1962
Casadei, Thalita de Oliveira / Paraty, uma vida uma saudade. -
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Secretaria de Turismo e Cultura de Paraty, Paraty, Rio de


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Rameck, Maria José S. e Mello, Diuner (org.) / Roteiro documental acervo público de
Paraty; 1801 - 1883, Câmara Municipal de Paraty, Instituto Histórico e Artístico de
Paraty, Guaratinguetá,SP: Gráfica e Editora Dias, 2004.
Wanderlei, Renan / 400 anos de Pinga. Inédito, 2000

Fontes:
• Câmara Municipal de Paraty
• Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística -IBGE
• Instituto Histórico a artístico de Paraty
• Biblioteca Municipal Fábio Villaboim
• Secretaria Municipal de Educação de Paraty
• Secretaria Municipal de Saúde de Paraty

Publicações sobre Paraty

• Análise das ações de intervenção na porção do estado do Rio de Janeiro:


um estudo de caso no município de Paraty / Mariana de Faria Benchimol. UERJ,
2004 (monografia)
• Apontamentos para a história do Rio de Janeiro, Angra dos Reis e Ilha
Grande / Carl Egberto Vieira de Mello - Prefeitura Municipal de Angra dos Reis,
1987.
• Crime e cotidiano em Paraty: 1840 - 1888 / Washington Denner dos Santos
Cunha - Instituto de Filosofia e Ciências Humanas/UERJ, 1994 (monografia)
• Danças típicas da Festa do Divino Espírito Santo de Paraty / Themilton
Tavares - [s.e], 1995.
• Descaminhos / Marcos Caetano Ribas. Estação Liberdade, 2001
• A dimensão política da cultura negra no campo: uma luta, muitas lutas /
Neusa Maria Mendes Gusmão - USP/FFLCH, 1990. (tese de doutorado)
• Enciclopédia Caiçara /org. Antonio Carlos Diegues. Hucitec/NUPAUB, vol.
3,4, e 5, 1002.2006
• Estudos das transformações nas formas de ocupação do solo, no traçado
urbano e na arquitetura de Paraty ao longo do tempo / Fernanda Craveiro Cunha -
USP/FAPESP, 2004. (monografia)
• Estudo de impacto ambiental. Pavimentação da estrada Paraty-Cunha
(RJ 165) / Fundação Pro Vita, 1990, 2 vol.
• Evolução urbana e fundiária de Parati do século XVII até o século XX,
em face da adequação das normas de seu patrimônio cultural. / Isabelle Cury -
Universidade de São Paulo - FAU/USP, 2002 (Tese de Mestrado)
• Festa do Divino Espírito Santo: Manual do Festeiro / Diuner Mello - Ed.
Estímulo, 2003.
• A história do caminho do ouro em Paraty / Marcos Caetano Ribas - Contest
Produções Culturais, 2003.
• História e planejamento para um espaço turístico / Ângela Maria Moreira
Martins - UFRJ/PROARQ, 1998. (tese de mestrado)
• Júlia Mann: Uma vida entre duas culturas / (org.) Dieter Straus e Maria A
Sene - Estação Liberdade, 1997.
• Mamanguá: berçário marinho e reduto tradicional caiçara / Paulo Nogara
[et al.] - Edição do autor, 2005
• Mobilidade social e apropriação do espaço de Parati / Laura Bahia Ramos
Moure. UFRJ, 2003 ( dissertação de Mestrado.
• Modo de fazer / Marcos Caetano Ribas e Rachel Joffily Ribas - Fundação
Ford, 1983/84.
• O nosso lugar virou um parque: estudo sócio-ambiental do Saco do
Mamanguá - Parati - RJ / Antonio Carlos Diegues e Paulo José Nogara-
NUPAUB/USP, 1999.
• Notícia histórica e geográfica de Angra dos Reis/ Honório Lima - Livraria
São José, 1972.
• Parati a cidade e as festas / Marina de Mello e Souza - Ed. UFRJ/Tempo
Brasileiro, 1994.
• Paraty, caminho do ouro / Heitor Gurgel e Edelweis Amaral - Liv. São José,
1973.
• Paraty e a maçonaria / Diuner Mello. Litteris Ed., 2006
• Paraty, encantos e malassombras: guia cultural, histórico, festas e
folclore/ Thereza e Tom Maia - Ed. dos autores, 2005.
• Paraty no anno da Independência, outros textos e poemas / Samuel Costa.
Org. Diuner Mello - Ed. Litteris, 2000.
• Paraty: para ti, guia cultural / Thereza e Tom Maia - Ed. Stilano, 2000.
• Paraty, Religião & folclore / Thereza Regina de Camargo Maia e Tom Maia -
Cia Ed. Nacional, 1975.
• Paraty: roteiro do visitante / Diuner Mello - Associação Pró Paraty
Patrimônio da humanidade, 2002
• Paraty: uma vida, uma saudade / Thalita de Oliveira Casadei - Ed. Sol
Nascente, 1998.
• Pesquisa histórica: Parati / Ministério da Cultura/IPHAN, 2003.
• Plano de desenvolvimento integrado e proteção do bairro histórico do
Município de Paraty - CNPI/FINEP, 1972.
• Pré-história de Paraty. / Alfredo Mendonça de Sousa - Instituto Superior de
Cultura Brasileira, 1987.
• Presidiários de Anchieta em Parati / A L. de Morais Coutinho. Imprensa
Oficial, 1953 (relatório)
• Revisão e atualização da legislação urbanística - Secplan, 1979
• São Gonçalo, Paraty: memória e história; conflito e resistência de uma saga
caiçara / Erenice Silva Bianchini. UFF, 2000 (monografia)
• Roteiro documental do acervo público de Paraty: 1801 - 1883 / Sel. e org.
Maria José S. Rameck e Diuner Mello - Câmara Municipal de Paraty/Instituto
Histórico e Artístico de Paraty, - Graf. e ed. Dias, 2004.
• Seminário de Planejamento e Patrimônio Mundial: Paraty- Dezembro de
2001 - Rede Globo, Prefeitura Municipal e Fundação Roberto Marinho.
• Seminário patrimônio natural em núcleos históricos - Paraty, RJ / Serviço
Público Federal, 1992
• Silvio Romero, juiz / José Alberto da Silva - [s.e.], 1955
• Terra de pretos, terra de mulheres: terra, mulher e raça num bairro rural
negro / Neusa M. Mendes de Gusmão - Fundação Cultural Palmares, 1995.
• The manumission of slaves in colonial Brazil: Paraty 1789 - 1822 / James
P. Kiernan - New York University, 1976 (Tese de doutorado).
• Trajetória de vida de um capitão-mor na colônia: Miguel Telles da Costa
e a inquisição / Rachel Mizrahi Bromberg - USP/FFLCH, 1981.
• Tricentenário de Paraty - Notícias históricas, de J.S.A Pizarro e Araújo -
Revista do IPHAN/MEC, nº 22, 1960.
• Vale do Paraíba: a estrada real: caminhos e roteiros / José Luiz Pasin - Ed.
Santuário, 2004.
• Vamos Indo na ciranda, mestre Chiquinho de Tarituba: de bailes e
histórias / Antonio Ezequiel [et al.] - DP & A, 2004.
• Vária Fortuna e estranhos fados / Antony Knivet- Editora Brasiliense, 1947

Romances e outros

• Ana em Veneza / João Silvério Trevisam - Ed. Best Seller, 1994.


• Crônicas de Paraty / José Carlos de Oliveira Freire - Imp. Velha Lapa, 1998.
• A dama da Rua do Comércio / Avelino Medina - Ed, Litteris, 2005.
• Depois da tempestade / Zezito Freire (José Carlos de Oliveira Freire - Ed.
Caravansai, 2005.
• Enseada violenta / José Carlos de Oliveira Freire - Ed. Litteris, 2001.
• Gamboão / José Carlos de Oliveira Freire - Ed. Litteris, 1998.
• Juthay / José Carlos de Oliveira Freire - Ed. Litteris, 2000.
• A menina e a coruja. / Irma Zambrotti - VJR Ed. Associados, 1998.
• O organista que caiu do céu / José Carlos de Oliveira Freire, - Ed. Litteris,
2001.
• Praia do Sono / José Kleber - Liv. São José, 1957
• Trindade. / Themilton Tavares - Ao livro Técnico, 1993.
• Vertentes do Paraíso / José Kleber - Massao Ohno e M. Lydia Pires e
Albuquerque ed., 1983
MAPA DA CIDADE
MAPA DO MUNICÍPIO

ORELHA DA CAPA E CONTRACAPA

Muito nos honrou o convite da Presidente do Instituto Histórico e


Artístico de Paraty para escrever um trabalho sobre Paraty, destinado aos estudantes.
Há muito tempo, questionávamos os Secretários Municipais de
Educação sobra a adoção de um texto que informasse aos estudantes muito sobre o
lugar onde viviam, que, a eles, cabia conhecer e, conhecendo, o mar e respeitar.
Esta obra contém todas as informações atualmente disponíveis sobre o
município e, acima de tudo, pretende instigar os educadores a salvar e resgatar nossas
expressões culturais, algumas em risco de desaparecer para sempre. Portanto,
trabalhos escolares, feitos por alunos e professores, poderão evitar tal desastre. Cabe a
eles resgatar as danças tradicionais: dança das fitas, dança dos velhos, jardineira e
jongo, entre outras, que deveriam fazer parte da animação cultural; reviver a
apresentação das “Pastorinhas”; pesquisar e escrever a biografia do patrono de sua
escola, entre muitas outras atividades. Enfim, mostrar a força e a pujança de ser
paratiense e preservar a cultura de nossas ancestrais.
Talvez o trabalho esteja aquém do desejado, porém acreditamos ser de
imensa valia ao preencher a lacuna até então existente nesta área de conhecimento.
Com esta contribuição, confiamos à nossa juventude a responsabilidade
de, com conhecimento zelar e preservar para o futuro a história e as tradições de nosso
município.
Diuner Mello

OO autor é sócio fundador do Instituto Histórico e Artístico de Paraty,


da Associação Pró Paraty Patrimônio da humanidade, da fundação Cultural Paraty e,
atualmente integra o Comitê Executivo Municipal Pró Unesco. No ano de 2003 foi
agraciado pela Câmara Municipal de Paraty com a Comenda Inconfidente Salvador do
Amaral Gurgel pelos relevantes serviços prestados à preservação da história do
Município.
Obras Publicadas:
• Paraty, Roteiro do Visitante
• Paraty no Anno da Independência
• A festa do Divino Espírito Santo em Paraty, Manual do Festeiro
• Roteiro Documental do Acervo Público de Paraty, 1803-1883
• Paraty e a Maçonaria

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