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GOVERNO DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO


SECRETARIA DE ESTADO DE POLÍCIA CIVIL
DEPARTAMENTO GERAL DE POLÍCIA TÉCNICO-CIENTÍFICA
INSTITUTO DE CRIMINALÍSTICA CARLOS ÉBOLI

Laudo: ICCE-RJ-SPL- 015380/2021 Ocorrência SPL: 319/2021


Destino: 16ª Delegacia Policial Procedimento: 016-02930/2021

LAUDO DE REPRODUÇÃO SIMULADA

Ao primeiro dia do mês de abril do ano de dois mil e vinte e um, neste Estado do
Rio de Janeiro, no Instituto de Criminalística Carlos Éboli, da Secretaria de Estado de
Polícia Civil, de acordo com a legislação em vigor, o Diretor do ICCE designou os
Peritos Criminais Bruno César Santos de Castro Id. 4379482-3, Leandro Ribeiro Pinto
Id. 4379606-0 e Amaro Moreira Coelho Junior Id. 2965281-2, atendendo a requisição da
Autoridade Policial da 16ª Delegacia Policial para realização de reprodução simulada,
descrevendo com a verdade e com todas as circunstâncias o que encontrarem.

1. HISTÓRICO
Através da CI de número 041223-1016/2021, a Autoridade Policial da 16ª
Delegacia Policial, requisitou a reprodução simulada dos fatos narrados no inquérito
016-02930/2021, na Avenida Vice Presidente José de Alencar, número 1.455, bloco 01,
apartamento 203 do edifício Majestic, situado no Condomínio Cidade Jardim, bairro da
Barra da Tijuca, município do Rio de Janeiro, a fim de esclarecer as circunstâncias das
lesões que levaram a óbito o menor Henry Borel Medeiros. Após a análise dos autos do
inquérito, foram procedidos os exames cujos resultados vão relatados da forma abaixo.
Os exames foram realizados a partir das 14h00min do dia 01 de abril do ano de
2021, acompanhados pela Autoridade Policial Edson Henrique Damasceno (mat.
946.478-5), o Promotor de Justiça Marcos Kac (mat. 1882), bem como outros policiais
civis da 16ª DP, o Diretor do ICCE Denis Guimarães (Id.4379379-7), o Vice-Diretor do
ICCE Liu Tsun Yaei (Id.2965244-8), o Vice-Diretor do IML Marcos Paulo Salles
Machado (Id. 5646952), os Peritos Criminais já mencionados (lotados no ICCE/SEDE) e
os Peritos Legistas (lotados no IML/Centro) Gabriela Graça Suares Pinto (Id. 4177276-
8) e Leonardo Huber Tauil (Id. 4137712-5), os quais assinam o laudo em conjunto. O
casal convocado para participar da reprodução simulada, Monique Medeiros da Costa e
Silva de Almeida e Jairo Souza Santos Júnior, não compareceu, mas seus
representantes estavam presentes e acompanharam os exames, os advogados André
Renato França Barreto (OAB 172132) e Vinícius Grillo (OAB 184001).

2. LOCAL
Identifica-se como sendo uma unidade residencial, identificada como
apartamento 203, situada no bloco 01 do Condomínio Majestic – parte integrante do
complexo denominado “Condomínio Cidade Jardim”.
O apartamento periciado é composto por área de serviço, cozinha,
dependências de empregada, sala, varanda, lavabo, duas suítes, um quarto com
banheiro compartilhado com o closet, que permitia acesso através de duas portas:
social e de serviço.
Durante o exame no apartamento, foi arrecadado um vial ostentando rótulo com
as inscrições “Kigtropin rHGH 10IU Recombiant Human Growth Hormone for Injection”
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no interior do refrigerador da cozinha, bem como diversos do mesmo produto no interior


de um envelope em uma nécessaire dentro de um armário. Além de uma caixa
contendo diversas unidades do produto “Novofine 32G Tip etw”, semelhantes às
agulhas. Também foram coletados dois swabs, realizando esfregaço sobre a superfície
da mesa de centro da sala, visando coletar resquício de material pulverulento de cor
branca. Os vestígios foram acondicionados em embalagem plástica oficial da PCERJ,
lacradas e entregues à Autoridade Policial, bem como as respectivas Fichas de
Acompanhamento de Vestígio (FAV).

3. REPRODUÇÃO SIMULADA
Como os envolvidos, Monique Medeiros da Costa e Silva de Almeida e Jairo
Souza Santos Júnior, não compareceram, o exame consistiu no exame do local e a
reprodução de parte de seus depoimentos, através de tomada de fotografias
reproduzindo seus posicionamentos e movimentações, onde dois Policiais Civis
representaram os envolvidos, Adriana Pinto Escobar Id. 571085-5 e Fábio Luís Ferreira
Teixeira Id. 4373160-0. Foi utilizado um boneco representando o menor Henry Borel
Medeiros.

LEGENDA

Portas

Porta de saída pela sala


Banheiro
Posição atual do Henry Suíte Closet suíte Suíte
infantil
casal infantil

Posição inatual do Henry


Banheiro
Posição atual da Monique Banheiro Suíte suíte
suíte Lavabo hóspedes hóspedes
casal
Posição inatual da Monique

Posição atual do Jairo Varanda

Sala
Posição inatual do Jairo

Trajeto do Henry Croqui 0- Croqui, sem escala, contemplando somente os


cômodos de maior relevância pericial.
Trajeto da Monique

Trajeto do Jairo
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Versão de Monique Medeiros da Costa e Silva de Almeida

1. “Que, já por volta de 20:00H, a declarante decidiu dar banho em HENRY;”

“Que, após o banho, a declarante imediatamente levou HENRY até a cama da suíte do casal,
onde ele dormia normalmente, e o colocou para dormir;”

Banheiro
suíte Suíte
Suíte Closet infantil
casal infantil

Banheiro
Banheiro Suíte suíte
suíte Lavabo hóspedes hóspedes
casal

Varanda

Sala

Foto 01- Visão do corredor entre suítes, indicando a Croqui 01- Trajeto saindo do banheiro da suíte infantil.
Monique saindo do banheiro da suíte infantil para a suíte
do casal, carregando o seu filho Henry.

Banheiro
suíte Suíte
Suíte Closet infantil
casal infantil

Banheiro
Banheiro Suíte suíte
suíte Lavabo hóspedes hóspedes
casal

Varanda

Sala

Foto 02- Visão do corredor entre suítes, indicando a Croqui 02- Trajeto chegando na suíte do casal.
Monique chegando na suíte do casal, carregando o seu
filho Henry.
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Destino: 16ª Delegacia Policial Procedimento: 016-02930/2021

Banheiro
suíte Suíte
Suíte Closet infantil
casal infantil

Banheiro
Banheiro Suíte suíte
suíte Lavabo hóspedes hóspedes
casal

Varanda

Sala

Foto 03- Visão da suíte do casal, indicando a Monique Croqui 03- Trajeto chegando na cama da suíte do casal.
deitando o seu filho Henry na cama do casal.

2. “Que, assim que HENRY dormiu, a declarante e JAIRO ficaram na sala assistindo série;”

Banheiro
suíte Suíte
Suíte Closet infantil
casal infantil

Banheiro
Banheiro Suíte suíte
suíte Lavabo hóspedes hóspedes
casal

Varanda

Sala

Foto 04- Visão da sala, indicando a Monique e o Jairo Croqui 04- Localização do casal na sala e do filho Henry
sentados no sofá assistindo televisão, de frente para o na suíte do casal.
corredor central.

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3. “Que, enquanto assistiam série, até 01:50H, aproximadamente, HENRY chegou a acordar e
se levantar umas três vezes, indo até a declarante, que o levava de volta à cama;”

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suíte Suíte
Suíte Closet infantil
casal infantil

Banheiro
Banheiro Suíte suíte
suíte Lavabo hóspedes hóspedes
casal

Varanda

Sala

Foto 05- Visão da sala pelo filho Henry, indicando a Croqui 05- Trajeto do filho Henry saindo da suíte do
Monique e o Jairo sentados no sofá assistindo televisão. casal e chegando na sala pelo corredor central.

Banheiro
suíte Suíte
Suíte Closet infantil
casal infantil

Banheiro
Banheiro Suíte suíte
suíte Lavabo hóspedes hóspedes
casal

Varanda

Sala

Foto 06- Visão do corredor central, indicando a Monique Croqui 06- Trajeto do filho Henry, carregado pela
pegando o seu filho Henry na sala e o levando de volta Monique, saindo da sala e chegando à suíte do casal pelo
para a suíte do casal. corredor central.

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Suíte Closet infantil
casal infantil

Banheiro
Banheiro Suíte suíte
suíte Lavabo hóspedes hóspedes
casal

Varanda

Sala

Foto 07- Visão da cama da suíte do casal, indicando a Croqui 07- Localização da Monique e seu filho na suíte do
Monique deitando novamente o seu filho Henry. casal e do Jairo permanecendo na sala.

4. “Que, como pretendiam assistir mais episódios, ela e JAIRO optaram por irem para o quarto
de hóspedes já que o barulho da televisão incomodaria menos o sono de HENRY;”

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Suíte Closet infantil
casal infantil

Banheiro
Banheiro Suíte suíte
suíte Lavabo hóspedes hóspedes
casal

Varanda

Sala

Foto 08- Visão do corredor entre suítes, indicando o Croqui 08- Trajetos do Jairo saindo sala e indo para a
acesso da Monique e do Jairo para a suíte de hóspedes. suíte de hóspedes, juntamente com a Monique, enquanto
que o seu filho permanecera na suíte do casal.
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5. “permaneceu acordada”; “...assistindo o mesmo episódio por mais 20 minutos,


aproximadamente, no máximo meia hora; Que a declarante acrescenta que não estava
completamente deitada, mas, apenas, recostada na cama, sobre um travesseiro” ; “....ambos
estavam na cama, a qual fica centralizada em frente à televisão, sendo que a declarante
ocupava o lado esquerdo, portanto o mais próximo à porta de saída do quarto;”

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Suíte Closet infantil
casal infantil

Banheiro
Banheiro Suíte suíte
suíte Lavabo hóspedes hóspedes
casal

Varanda

Sala

Foto 09- Visão da suíte de hóspedes, indicando a Croqui 09- Localização de Monique e Jairo na suíte de
permanecia de Monique e de Jairo. hóspedes e permanência do filho Henry na suíte do casal.

.
6. “Que, já por volta de 03:30H, aproximadamente, a declarante acordou, quando viu a TV
ligada e JAIRO dormindo ao seu lado; Que a declarante, então, acordou JAIRO, mexendo em seu
braço, para que fossem para o quarto;”

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suíte Suíte
Suíte Closet infantil
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Banheiro Suíte suíte
suíte Lavabo hóspedes hóspedes
casal

Varanda

Sala

Foto 10- Visão da cama da suíte de hóspedes, indicando a Croqui 10- Localização de Monique e Jairo na suíte de
Monique acordando Jairo. hóspedes e permanência do filho Henry na suíte do casal.

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7. “Que JAIRO se levantou e foi ao banheiro da suíte de hóspedes, onde estavam;”

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Suíte Closet infantil
casal infantil

Banheiro
Banheiro Suíte suíte
suíte Lavabo hóspedes hóspedes
casal

Varanda

Sala

Foto 11- Visão da suíte de hóspedes, indicando a saída da Croqui 11- Trajeto da Monique indo para a suíte do casal
Monique para a suíte do casal e a saída do Jairo para o e do Jairo indo para o banheiro da suíte de hóspedes.
banheiro da suíte de hóspedes.

8. “Que a declarante foi para o quarto do casal e lá já se deparou com seu filho caído ao
chão;”. Neste ponto da reprodução, os Peritos indagaram os advogados representantes sobre a
posição exata que Monique havia encontrado o seu filho Henry no piso deste cômodo. Os
advogados responderam não ter conhecimento sobre esta informação. Então a equipe pericial
questionou se haveria possibilidade de entrar em contato telefônico com a Monique, tendo
como resposta dos advogados: “Ela está incomunicável”.

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suíte Suíte
Suíte Closet infantil
casal infantil

Banheiro
Banheiro Suíte suíte
suíte Lavabo hóspedes hóspedes
casal

Varanda

Sala

Foto 12- Visão da suíte do casal, indicando a Monique Croqui 12- Trajeto da Monique indo para a suíte do casal
encontrando o seu filho Henry no piso. e a permanência do Jairo no banheiro da suíte de
hóspedes.
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9. “Que a declarante gritou por JAIRO e este veio correndo;”

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Suíte Closet infantil
casal infantil

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suíte Lavabo hóspedes hóspedes
casal

Varanda

Sala

Foto 13- Visão da suíte do casal, indicando a Monique Croqui 13- Trajeto do Jairo indo para a suíte do casal e a
com o seu filho Henry, enquanto que Jairo adentrava. permanência de Monique e seu filho Henry no mesmo
cômodo.
.

10. “Que a declarante e JAIRO se arrumaram rapidamente e levaram HENRY ao hospital BARRA
D’or;”

Banheiro
suíte Suíte
Suíte Closet infantil
casal infantil

Banheiro
Banheiro Suíte suíte
suíte Lavabo hóspedes hóspedes
casal

Varanda

Sala

Foto 14- Visão da sala, indicando Jairo e Monique com Croqui 14- Trajetos do Jairo e da Monique com o filho
seu filho Henry saindo de casa e indo para o hospital. Henry, saindo da suíte do casal e indo para a porta da
sala de acesso ao corredor do prédio.
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Versão de Jairo Souza Santos Júnior

1. “Que MONIQUE demorou um pouco e, já por volta de 21:00H, retornou à sala, disse que
havia colocado HENRY no quarto do casal para dormir, já que ele, HENRY, havia pedido;”

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Suíte Closet infantil
casal infantil

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Banheiro Suíte suíte
suíte Lavabo hóspedes hóspedes
casal

Varanda

Sala

Foto 15- Visão da sala, indicando o Jairo assistindo Croqui 15- Trajeto da Monique, com seu filho Henry, da
televisão e a Monique levando o seu filho para a suíte do sala para a suíte do casal e a permanência do Jairo na
casal. sala.
2. “Que o declarante e MONIQUE permaneceram assistindo série, sendo que, até 01:00H de
segunda-feira....”

Banheiro
suíte Suíte
Suíte Closet infantil
casal infantil

Banheiro
Banheiro Suíte suíte
suíte Lavabo hóspedes hóspedes
casal

Varanda

Sala

Foto 16- Visão da sala, indicando a Monique e o Jairo Croqui 16- Localização do casal na sala e do filho Henry
sentados no sofá assistindo televisão, de frente para o na suíte do casal.
corredor central.
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3. “O declarante se lembra que HENRY acordou e se levantou cerca de duas vezes; Que nestas
ocasiões MONIQUE se levantou e colocou HENRY de volta para dormir no quarto do casal;”

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Suíte Closet infantil
casal infantil

Banheiro
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suíte Lavabo hóspedes hóspedes
casal

Varanda

Sala

Foto 17- Visão da sala pelo filho Henry, indicando a Croqui 17- Trajeto do filho Henry saindo da suíte do
Monique e o Jairo sentados no sofá assistindo televisão. casal e chegando na sala pelo corredor central.

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casal infantil

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suíte Lavabo hóspedes hóspedes
casal

Varanda

Sala

Foto 18- Visão do corredor central, indicando a Monique Croqui 18- Trajeto do filho Henry, carregado pela
pegando o seu filho Henry na sala e o levando de volta Monique, saindo da sala e chegando à suíte do casal pelo
para a suíte do casal. corredor central.

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Banheiro Suíte suíte
suíte Lavabo hóspedes hóspedes
casal

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Sala

Foto 19- Visão da suíte do casal, indicando a Monique


deitando o seu filho Henry na cama do casal. Croqui 19- Localização da Monique com seu filho Henry
na cama da suíte do casal, enquanto que o Jairo
permanecia na sala.

4. “Que, por conta disto, o declarante e MONIQUE decidiram passar para o quarto de
hóspedes, com o fim de que o barulho perturbasse menos o sono de HENRY;”

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casal

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Sala

Foto 20- Visão do corredor entre suítes, indicando o Croqui 20- Trajetos do Jairo saindo sala e indo para a
acesso da Monique e do Jairo para a suíte de hóspedes. suíte de hóspedes, juntamente com a Monique, enquanto
que o seu filho permanecera na suíte do casal.
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5. “Que já no quarto de hóspedes, seguiram assistindo a série Narcos, até que o declarante
dormiu;”

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Suíte Closet infantil
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suíte Lavabo hóspedes hóspedes
casal

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Sala

Foto 21- Visão da suíte de hóspedes, indicando a Croqui 21- Localização de Monique e Jairo na suíte de
permanecia de Monique e de Jairo. hóspedes e permanência do filho Henry na suíte do casal.

.
6. “Que num dado momento, o declarante foi acordado por MONIQUE para que fossem ao
quarto de casal;”

Banheiro
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Suíte Closet infantil
casal infantil

Banheiro
Banheiro Suíte suíte
suíte Lavabo hóspedes hóspedes
casal

Varanda

Sala

Foto 22- Visão da cama da suíte de hóspedes, indicando a Croqui 22- Localização de Monique e Jairo na suíte de
Monique acordando Jairo. hóspedes e a permanência do filho Henry na suíte do
casal.
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7. “Que se levantou e foi ao banheiro urinar;”

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Suíte Closet infantil
casal infantil

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Banheiro Suíte suíte
suíte Lavabo hóspedes hóspedes
casal

Varanda

Sala

Foto 23- Visão da suíte de hóspedes, indicando Jairo se Croqui 23- Trajeto do Jairo indo para o banheiro da suíte
levantando para ir ao banheiro da suíte de hóspedes. de hóspedes e a permanência de Henry na suíte do casal.

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8. “Que enquanto estava no banheiro, ouviu MONIQUE lhe chamando de forma alterada,
diferente do que normalmente faz;”

Banheiro
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Suíte Closet infantil
casal infantil

Banheiro
Banheiro Suíte suíte
suíte Lavabo hóspedes hóspedes
casal

Varanda

Sala

Foto 24- Visão do Jairo no banheiro da suíte de hóspedes. Croqui 24- Localização do Jairo no banheiro da suíte de
hóspedes e a permanência de Henry na suíte do casal.
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9. “Que o declarante se dirigiu até o quarto do casal e se deparou com MONIQUE sentada na
cama, com HENRY no colo, falando que este estava gelado e com o olho "virando";”

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suíte Suíte
Suíte Closet infantil
casal infantil

Banheiro
Banheiro Suíte suíte
suíte Lavabo hóspedes hóspedes
casal

Varanda

Sala

Foto 25- Visão da suíte do casal, indicando a Monique Croqui 25- Trajeto do Jairo indo para a suíte do casal e a
com o seu filho Henry, enquanto que Jairo adentrava. permanência de Monique e seu filho Henry na suíte do
casal.
.

10. “Que o declarante, imediatamente, colocou as duas mãos no braço de HENRY e percebeu
que ele estava realmente com a temperatura bem abaixo do normal e com a boca aberta,
parecendo que estava respirando mal, sendo que não sabe precisar se estava ou não
respirando;”

Banheiro
suíte Suíte
Suíte Closet infantil
casal infantil

Banheiro
Banheiro Suíte suíte
suíte Lavabo hóspedes hóspedes
casal

Varanda

Sala

Foto 26- Visão da suíte do casal, indicando a Monique Croqui 26- Localização de Jairo, Monique e seu filho
com o seu filho Henry, enquanto que Jairo tocava o seu Henry na suíte do casal.
filho.

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11. “Que, diante do quadro, o declarante pegou uma manta, ajudou a enrolar HENRY e, com
MONIQUE, se dirigiu imediatamente ao hospital BARRA D`or;”

Banheiro
suíte Suíte
Suíte Closet infantil
casal infantil

Banheiro
Banheiro Suíte suíte
suíte Lavabo hóspedes hóspedes
casal

Varanda

Sala

Foto 27- Visão da suíte do casal, indicando a Monique Croqui 27- Localização de Jairo, Monique e seu filho
com o seu filho Henry, enquanto que Jairo colocava uma Henry na suíte do casal.
manta no Henry.

Banheiro
suíte Suíte
Suíte Closet infantil
casal infantil

Banheiro
Banheiro Suíte suíte
suíte Lavabo hóspedes hóspedes
casal

Varanda

Sala

Foto 28- Visão da sala, indicando Jairo e Monique com Croqui 28- Trajeto do Jairo e da Monique com o filho
seu filho Henry saindo de casa e indo para o hospital. Henry, saindo da suíte do casal e indo para a porta da
sala de acesso ao corredor do prédio.
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4. ANÁLISE TÉCNICA
Realizada a reprodução e analisados os depoimentos e peças técnicas do
inquérito, passam os Peritos Criminais infra-assinados a apresentar as seguintes
considerações:

1) As versões de Monique e Jairo divergem dos depoimentos das médicas


pediatras do Hospital Barra D’or, Maria Cristina de Souza Azevedo e Viviane
dos Santos Rosa. A primeira profissional declara ter ouvido do casal que eles
escutaram um barulho no quarto, se dirigiram até o cômodo para ver o que
havia acontecido, ocasião em que se depararam com Henry pálido, com as
mãos e pés gelados e sem respirar. Conforme informado no trecho do seu
termo de declaração de número CI: 037622-1016/2021.
“...a declarante esclareceu que, durante o atendimento, concomitante às
manobras que ela, inclusive, realizava ouviu de quem hoje sabe se tratar de
MONIQUE MEDEIROS DA COSTA SILVA DE ALMEIDA e de JAIRO SOUZA
SANTOS JUNIOR que haviam escutado um barulho no quarto e foram até lá
para ver o que havia acontecido, ocasião em que se depararam com a HENRY
"pálido, com as mãos e pés gelados e sem respirar”;”

A segunda médica afirma ter ouvido narrativa semelhante apenas de Monique.


Conforme informado no trecho do seu termo de declaração de número CI:
037674-1016/2021.
“....a declarante afirma que ouviu da mãe da vítima, que ora sabe chamar-se
MONIQUE MEDEIROS DA COSTA SILVA DE ALMEIDA, que ouviu um barulho
no quarto, se dirigiu até o local e encontrou a criança "fria, gelada, com as mãos
roxas e com dificuldade para respirar";”

As duas profissionais, bem como a médica pediatra Fabiana Barreto Goulart


Deleage, declararam ainda terem notado lesões no corpo do menino e
afirmaram que chegou ao hospital em óbito.

2) Visando determinar o intervalo de tempo entre a ocorrência das lesões e o


óbito de Henry, foi analisado o vídeo do elevador que mostra a saída dos
envolvidos com o menino no colo em direção ao hospital, bem como o
prontuário médico.
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Destino: 16ª Delegacia Policial Procedimento: 016-02930/2021

2.1) Em análise do vídeo, nota-se que Henry está extremamente pálido, devido
ao choque hipovolêmico, e que o lábio está cianótico, conforme apresentado no
Frame 01. Na filmagem do elevador iniciada às 04h09min (vide Frame 02), a
vítima tem abolição de motilidade e de tônus muscular, com consequente fácies
hipocrática, sendo esse um sinal abiótico ou imediato de morte, o que significa
que o óbito tinha ocorrido há pouco tempo.

Frame 01- Imagem de Henry no vídeo do elevador, que mostra a saída dos
envolvidos com o menino no colo em direção ao hospital.
.
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Destino: 16ª Delegacia Policial Procedimento: 016-02930/2021

Frame 02- Imagem de Henry no vídeo do elevador, que mostra a saída dos envolvidos com o menino no
colo em direção ao hospital. Horário em destaque na extremidade superior direita.
.

2.2) Em análise do prontuário médico do Hospital Barra D’or, constam as


seguintes informações: (a) admissão às 04h39min da madrugada de 08/03/21
(dados na etiqueta gerada pelo sistema do hospital); (b) queixa principal:
parado; criança deu entrada às 03h50min em parada cardiorrespiratória, relato
do casal de que ouviram um barulho no quarto da criança e levantaram para
ver, a criança pálida e gelada, sem resposta a estímulos verbais e táteis; (c)
nota-se palidez cutâneo mucosa, cianose labial, em parada cardiorrespiratória,
hipotonia generalizada, trismo (leia-se rigidez mandibular); (d) 04:29h* realizada
IOT (intubação oro traqueal), difícil em virtude de rigidez de mandíbula; (e) na
evolução subsequente: saturação de O2 50%, temperatura 34 graus, cianótico
central e periférica, rigidez de mandíbula, trismo e assistolia, hipotônico,
equimose em membro superior esquerdo, antebraço distal, membros inferiores,
ausência de pulso central e periférico, ausência de perfusão, extremidades frias
e cianóticas, neurológico não responsivo, glasgow 3....
* Cabe explicar em relação à divergência de horários observada na folha de
admissão que a médica que fez o primeiro atendimento colocou o horário como
03h50min, porém a etiqueta gerada automaticamente pelo hospital contém a
informação de 04h39min, condizente com o horário da filmagem do elevador às
04h09min. Da mesma forma, consta na etiqueta o horário de 04h39min, apesar
da intubação ter sido feita às 04h29min, pois é comum pacientes graves terem
seu atendimento iniciado antes da confecção da referida etiqueta.
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** Cabe também explicar que a saturação de 76% anotada não corresponde à


realidade uma vez que o menor foi ventilado artificialmente e sabe-se que
valores de saturação medidos abaixo de 80% não são fidedignos.
A rigidez fica evidente em duas a três horas após a morte, considerada nas
primeiras três horas por alguns autores, podendo ser mais rápida na criança,
sendo iniciada na mandíbula e seguindo em sentido crânio caudal. Não foram
encontradas referências, nas literaturas científicas médico-legais, pertinentes ao
início de rigidez cadavérica inferior a 60min. Considerando ser a rigidez um
fenômeno de instalação precoce, podemos admitir que se inicie em menos de
duas horas após a morte. Está claro no prontuário médico que o menor
apresentava rigidez de mandíbula e estava em hipotonia global, o que significa
que havia se iniciado a marcha da rigidez que estava ainda na face (inicia-se na
mandíbula) e não havia acometido ainda o pescoço e membros superiores na
sequência esperada o que ocorre em até seis horas subsequentes, o que
significa que nesse horário (04h39min), havia no máximo três horas da morte
através dos dados sobre rigidez e hipotonia, o que é compatível com a
temperatura de 34 graus por ter-se iniciado também o fenômeno de
resfriamento. Dessa forma podemos afirmar que a morte não pode ter sido
antes de 01h30min, uma vez que às 04h39min só havia rigidez de mandíbula.
Considerando dados da literatura em que lesões hepáticas desta natureza
podem demorar até quatro horas para morte, salientando que na prática temos
maior percentual entre duas e três horas, podemos afirmar que o trauma que
causou a morte ocorreu a partir das 23h30min. Cabe destacar que o tipo de
lesão encontrado no fígado não causa morte imediata, sendo a sucessão de
eventos desde o trauma até a morte ocorrida depois das 23h30min e até o limite
de 03h30min. Dentro deste intervalo de tempo estimado, desde a ocorrência
das lesões até o óbito, se encaixa o trecho do depoimento de Monique, quando
declara que por volta de 01h50min, aproximadamente, o menino chegou a
acordar e se levantar por cerca de três vezes, indo até a mãe na sala, que o
levava de volta à cama todas as vezes. Esta ação é confirmada no depoimento
de Jairo, que declara ter corrido o mesmo por volta de 01h00min. Cabe
ressaltar ainda que Monique declara ter dado banho em Henry por volta das
20h, quando afirmou não ter notado lesões no corpo da criança. E em
depoimento, as médicas pediatras afirmam que o menino deu entrada em óbito
no hospital. As afirmativas ratificam que as lesões e o óbito do menino
ocorreram dentro do apartamento.

3) Em depoimento da empregada doméstica, Leila Rosangela de Souza Mattos


declara ter chegado ao apartamento por volta de 07h30min e estranhou apenas
a luz acesa da sala. Na suíte de hóspedes, havia um travesseiro como se
alguém tivesse recostado, porém não apresentava que alguém tivesse dormido,
pois a cama estava arrumada. A cama da suíte do casal estava desarrumada,
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como de costume, como se alguém tivesse dormido. Declarou ainda que a


poltrona da suíte do casal estava com encosto em contato com a cama, bem
como um travesseiro em contato com o encosto, como de costume, pois era
comum Henry dormir na referida cama, e a poltrona servia para escorar Henry,
evitando que caísse. Acrescentou ainda que havia um tapete pequeno de cada
lado da cama.
Com base nesse depoimento, a possibilidade de queda da criança por
rolamento da cama durante o sono, é nula, uma vez que a poltrona impediria tal
ação.

4) Em depoimento, Monique declara que não sabe precisar a posição exata em


que seu filho estava no piso. Porém, afirma que não era de bruços, pois pôde
ver que os olhos estavam revirados. Quando questionada sobre as lesões
constatadas no corpo de Henry, a declarante afirma que leu o laudo e sabe que
foi constatada ação contundente, hemorragia e laceração hepática. Quando
indagada sobre o que acredita que tenha causado tais lesões, Monique afirma
que não tem certeza, mas imagina que seu filho tenha acordado, ficado em pé
sobre a cama, se desequilibrado ou até tropeçado no encosto da poltrona e
caído ao chão.
Como base nos depoimentos de Leila e Monique, os Peritos reproduziram as
condições em que o menino dormia e posicionaram o boneco no piso,
simulando a posição mais provável caso tenha caído nas circunstâncias
narradas por Monique, que seriam em decúbito dorsal ou lateral direito e nas
proximidades da poltrona e da cama. Vide imagens a seguir.
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Foto 29- Visão do boneco simulando posição de Henry dormindo na cama da suíte do casal.

Foto 30- Visão do boneco simulando posição de Henry dormindo na cama da suíte do casal.
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Foto 31- Visão do boneco simulando posição de Henry no piso.

Foto 32- Visão do boneco simulando posição de Henry no piso.


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Nas circunstâncias narradas por Monique, caso tivesse ocorrido uma queda da
cama (71 centímetros de altura em relação ao piso), ou do topo do encosto da
poltrona (104 centímetros de altura em relação ao piso), ou de qualquer outro
ponto do quarto, seja da escrivaninha (75 centímetros de altura) ou até mesmo
da estante modular fixada na parede (120 centímetros de altura do ponto mais
baixo e 207 centímetros de altura do ponto mais alto), em nenhum desses
casos seriam produzidas múltiplas lesões dispersas (externas e internas) em
diferentes regiões do corpo do menino (frente e verso), conforme mostram os
esquemas de lesões. Seguem também medições realizadas no quarto e o
croqui.

Foto 33- Visão da medição da altura da cama da suíte do Foto 34- Visão ampliada da foto anterior.
casal.

Foto 35- Visão da medição da altura do encosto da Foto 36- Visão ampliada da foto anterior.
poltrona.

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Foto 37- Visão da medição da altura da escrivaninha. Foto 38- Visão ampliada da foto anterior.

Foto 39- Visão da medição da altura da estante. Foto 40- Visão ampliada da foto anterior.

Foto 41- Visão da medição da altura da estante. Foto 42- Visão ampliada da foto anterior.

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Foto 43- Visão da medição das distâncias da cama em Foto 44- Visão ampliada da foto anterior.
relação ao quarto.

Foto 45- Visão da medição das distâncias da cama em Foto 46- Visão ampliada da foto anterior.
relação ao quarto.
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Acesso ao corredor
entre suítes

Acesso ao
banheiro da
suíte

Croqui 29- Croqui da suíte do casal, com medidas e posicionamento do mobiliário.9

Cabe destacar ainda que o Laudo de Resposta aos Quesitos do IML,


formulados na C.I. 042570-1016/2021, descreve de forma minuciosa todas as
lesões, ressaltando que as lesões descritas com tamanho de 10 mm podem
corresponder a marcas de pressão digital, ou seja, são lesões condizentes com
as produzidas mediante ação violeta. A multiplicidade de segmentos do corpo
onde foram encontradas equimoses é compatível com mais de uma contusão.
As equimoses presentes na face palmar da mão direita, na região suprapatelar
direita, na face lateral do joelho direito, na face medial do tornozelo direito e na
região infrapatelar esquerda, bem como no terço superior do braço direito e
inferior do antebraço esquerdo não podem ter sido produzidas em uma única
contusão (ação). As lesões constatadas no corpo são sugestivas de diversas
ações contundentes e diversos graus de energia, sendo que as lesões intra-
abdominais foram de alta energia. A presença de infiltrações hemorrágicas em
couro cabeludo em três regiões distintas (parietal direita, occipital e frontal)
correspondem a três ações contundentes distintas, ou seja, uma queda de
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altura não produziria tais lesões. A quantidade de lesões externas não pode ser
proveniente de uma queda livre.
LEGENDA DE LESÕES
1 03 (três) escoriações de 4 mm cada, aproximadamente, do lado esquerdo da região nasal
com pouca reação inflamatória. (Lesões post mortem)
2 03 (três) erosões de mucosa em lábios com pouca infiltração hemorrágica ao redor. (Lesões
post mortem)
3 02 (duas) escoriações em regiões mentonianas, sendo a superior arredondada e a inferior
longitudinal, medindo, aproximadamente, 4 mm cada. (Lesões post mortem)
4 Ferida punctória com infiltração hemorrágica ao redor, com cerca de 7 mm, semelhante as
produzidas em procedimento hospitalar.
5 Ferida punctória com infiltração hemorrágica ao redor, com cerca de 7 mm, semelhante as
produzidas em procedimento hospitalar.
6
Equimose arroxeada de 40 x 35 mm, com bordas irregulares.

7
Equimose arredondada violácea de cerca de 10 mm de diâmetro.

8
Equimose arroxeada de 40 x 35 mm, com bordas irregulares.

9
Equimose avermelhada de 20 mm em região abdominal periumbilical.

10
Equimose violácea em disposição longitudinal, medindo 50 x 20 mm.

11
Equimose violácea arredondada de 10 mm de diâmetro.

12
Equimose violácea arredondada de 10 mm de diâmetro.

13
Equimose arroxeada de 40 x 35 mm, com bordas irregulares.

14
Equimose violácea e amorfa, medindo 30 mm em maior eixo.

15
Equimose arredondada e violácea de 15 mm de diâmetro.

16
10 (dez) lesões de 10 mm, violáceas, de aspecto semelhante.

17
Equimose violácea de forma mal definidas, medindo 50 x 30 mm.

18
Equimoses violáceas e amorfas, medindo 40 mm em maior eixo na região tenar esquerda.

19
Equimose violácea e amorfa, medindo 30 mm em maior eixo na região tenar direita.

20 Ferida punctória com infiltração hemorrágica ao redor, com cerca de 7 mm, semelhante as
produzidas em procedimento hospitalar.
21
Infiltração hemorrágica em fronte, região parietal direita e occipital.

22
Contusão renal e laceração hepática, ambos à direita.
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23
Contusão pulmonar, principalmente à direita.

4 3

5 13

20
10

18
19

9
7

11

12

Croqui 30- Figura humana, simulando o corpo de Henry, indicando o esquema de lesões da região anterior
externa.10
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17

16

15

14

Croqui 31- Figura humana, simulando o corpo de Henry, indicando o esquema de lesões da região posterior
externa. 10
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Croqui 32- Figura humana, simulando a parte superior do corpo de Henry, indicando o esquema de lesões da região
anterior interna. 11
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21

23

22

Croqui 33- Figura humana, simulando a parte superior do corpo de Henry, indicando o esquema de lesões da região
posterior interna. 11
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5) Buscando contextualizar o caso em questão com a literatura, foram


encontrados os seguintes trabalhos acadêmicos:

5.1) O artigo intitulado como Pediatric short-distance household falls:


biomechanics and associated injury severity (THOMPSON et al., 2011) teve por
objetivo determinar, dentre o público pediátrico, a gravidade dos respectivos
ferimentos gerados a partir de quedas acidentais domiciliares de curta distância
e investigar a associação entre as lesões e o ambiente de queda. Crianças de 0
a 4 anos que compareceram ao pronto-socorro com histórico de queda curta de
móveis foram incluídas no estudo. Avaliações foram realizadas usando dados
coletados por meio de registros médicos, entrevistas e investigações de cenas.
O estudo concluiu que crianças de 0 a 4 anos envolvidas em queda domiciliar
de curta distância não sofreram ferimentos com risco de vida, e nenhuma
criança neste estudo apresentou ferimentos moderados ou graves em múltiplas
regiões do corpo. Os autores ressaltaram que as quedas domiciliares de curta
distância constituem uma ocorrência comum em crianças; porém, histórias
falsas fornecidas pelos cuidadores são igualmente recorrentes na tentativa de
ocultar traumas abusivos.

5.2) O artigo intitulado como Pediatric nonaccidental abdominal trauma: what


the radiologist should know (SHEYBANI et al., 2014) teve por objetivo orientar e
alertar o profissional radiologista quanto ao possível abuso infantil e motivar um
interrogatório apropriado sobre o mecanismo de lesão relatado. Quando uma
lesão abdominal em abuso for identificada, o radiologista deve examinar
minuciosamente as imagens em busca de evidências de locais de lesão devido
à alta taxa de múltiplas lesões nesses pacientes. O trabalho fez referência a um
estudo epidemiológico de crianças hospitalizadas nos Estados Unidos (LANE et
al., 2012), onde trauma não acidental foi responsável por mais de um quarto de
todas as hospitalizações por lesão abdominal em crianças menores de um ano.
Em bebês e crianças de 0 a 4 anos, o abuso foi responsável por pelo menos
15% das lesões abdominais contusas, o trauma não acidental foi responsável
pela maior porcentagem (até 40%) das lesões abdominais traumáticas que
exigiram internação nessa faixa etária (TROKEL et al., 2004, 2006). Portanto, a
lesão abdominal em trauma não acidental é frequentemente grave. Em
comparação com o trauma acidental, as lesões por trauma não acidental
resultam em maiores taxas de laparotomia exploradora e a um aumento de seis
vezes na chance de morte. Lesões intra-abdominais representam apenas uma
pequena porcentagem (0,5%-11%) de todas as lesões em trauma não
acidental, mas as taxas de mortalidade relatadas variam de 9% a 45%,
tornando o trauma intra-abdominal a segunda forma mais comum de abuso
infantil fatal, após traumatismo craniano. Quase metade das crianças abusadas
com trauma abdominal requer cirurgia de emergência, em comparação com 5%
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daquelas sem trauma abdominal. Ademais, foi possível destacar que, embora a
taxa de lesão intestinal seja desproporcionalmente alta no trauma não acidental,
órgãos sólidos (incluindo o fígado, o pâncreas e o baço) são mais
frequentemente lesados. Traumas renais são menos frequentes e geralmente
são vistos com várias outras lesões. E os autores concluíram que lesão
abdominal em trauma não acidental é uma causa reconhecida de hospitalização
em crianças maltratadas e que as mesmas são frequentemente graves e têm
altas taxas de intervenção cirúrgica.

5.3) O artigo intitulado como Distinguishing inflicted versus accidental abdominal


injuries in young children (WOOD et al., 2005) teve por objetivo comparar as
distintas lesões presentes em crianças menores de 6 anos com trauma
abdominal causado por acidente de alta velocidade, baixa velocidade e lesão
infligida. Os autores realizaram uma revisão retrospectiva (1991-2001) em um
centro urbano de trauma pediátrico dos respectivos prontuários por admissão
de crianças com lesões abdominais. Lesões acidentais foram definidas como de
alta velocidade (acidente de veículo motorizado ou queda maior que três
metros) ou de baixa velocidade (trauma doméstico, acidente de bicicleta ou
queda menor que três metros). O trauma infligido foi definido como uma
constelação de lesões inexplicáveis, confissões de um perpetrador ou revelação
da vítima. A partir das 121 crianças avaliadas pelo estudo, foi possível concluir
que aquelas com lesões abdominais infligidas têm maior probabilidade de sofrer
lesões mais graves, múltiplas lesões e recorrem com a demora em busca de
atendimento médico em comparação àquelas com trauma abdominal acidental.

5.4) O livro intitulado como Child abuse: medical diagnosis and management
(LASKEY & SIROTNAK, 2009) destaca que o abuso é responsável por cerca
de um quarto das lesões abdominais graves em bebês. O trauma abdominal é a
segunda causa de morte em abuso infantil, após trauma cranioencefálico
abusivo. Uma pesquisa da década de 1980 descobriu que 45% a 50% das
crianças com trauma abdominal contuso, atribuído ao abuso, morreu. Dados
mais recentes mostraram taxas de mortalidade mais baixas, mas as crianças
que sofreram abuso são ainda em maior risco. Em um estudo com crianças de
0 a 9 anos hospitalizadas com trauma abdominal, 9% das crianças com abuso e
3,4% de crianças com trauma abdominal acidental morreram. Outro estudo
encontrou uma taxa de mortalidade de 11% em crianças com trauma abdominal
infligido. As quedas são frequentemente um mecanismo de lesão relatado, mas
quedas domésticas curtas é uma causa improvável de trauma abdominal
significativo. Mesmo se todas as lesões fossem significativas, as taxas de
lesões intra-abdominais são baixas. Lesões de víscera oca são especialmente
improváveis para resultar de quedas curtas ou quedas de escada. Um estudo
revisou 677 casos de queda de escada e 312 casos publicados de lesões de
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vísceras ocas e demonstrou que nenhum caso se sobrepôs. Trauma intra-


abdominal significativo também é incomum em quedas de alto nível. Em um
estudo com mais de 300 crianças caindo 4,5 metros ou mais, apenas 0,9%
dessas quedas resultaram em lesões intestinais. Lesões hepáticas, esplênicas
e renais foram relatadas em 1,2%, 2,4% e 0,9% dessas quedas de alto nível,
respectivamente.

6) REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

1. Thompson, A. K. et al; Pediatric short-distance household falls: Biomechanics


and associated injury severity; Accident Analysis and Prevention 43 (2011) 143–
150.
2. Sheybani, E. F. et al; Pediatric Nonaccidental Abdominal Trauma: What the
Radiologist Should Know; radiographics.rsna.org; Janeiro-Fevereiro 2014;
Volume 34; Número 01.
3. Wood, J. et al; Distinguishing Inflicted versus Accidental Abdominal Injuries in
Young Children; The Journal of Trauma: Injury, Infection, and Critical
Care; Novembro 2005; Volume 59; Artigo 5; pág. 1203-1208.
4. Laskey, A. e Sirotnak, A.; Child Abuse Medical Diagnosis and Management; 4a
Edição; American Academy of Pediatrics; EUA; 2009.
5. Franklin, R.; Medicina Forense Aplicada; Editora Rubio; Brasil; 2018.
6. Hercules, H.; Medicina Legal - Texto e Atlas; Livraria Atheneu; Brasil; 2014.
7. Gomes, H.; Medicina Legal; Freitas Bastos Editora; Brasil; 1942.
8. França, G.V.; Medicina Legal; Editora Guanabara Koogan; Brasil; 2011.
9. https://www.visual-paradigm.com/. Acesso em 06/04/2021.
10. https://pt.dreamstime.com/ilustra%C3%A7%C3%A3o-stock-anatomia-do-
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GOVERNO DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO
SECRETARIA DE ESTADO DE POLÍCIA CIVIL
DEPARTAMENTO GERAL DE POLÍCIA TÉCNICO-CIENTÍFICA
INSTITUTO DE CRIMINALÍSTICA CARLOS ÉBOLI

Laudo: ICCE-RJ-SPL- 015380/2021 Ocorrência SPL: 319/2021


Destino: 16ª Delegacia Policial Procedimento: 016-02930/2021

5. CONCLUSÃO

Diante do fulcro dos exames realizados no local, através da reprodução


simulada, das considerações médico-legais, análises dos artigos científicos, todos
descritos no Capítulo Análise Técnica, conforme preceitua a Criminalística Moderna, os
Peritos Criminais e Peritos Legistas constituíram elementos técnicos de convicção que
descarta a possibilidade de um acidente doméstico (queda), visto que todas as lesões
citadas anteriormente apresentavam características condizentes com aquelas
produzidas mediante ação violenta (homicídio). Afirmam os signatários que as lesões
produzidas na vítima e o seu óbito, conforme descrito no Capítulo Análise Técnica,
ocorreram no interior do apartamento no intervalo de tempo entre 23h30min e
03h30min.
Nada mais havendo a acrescentar encerra-se o presente LAUDO que segue
assinado pelos Peritos Criminais e Legistas.

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