Processo disciplinar nº19/DEDP-DPF/NL/2022

Auto de Defesa do Arguido: Manuel João (Inspetor da Policia)

Respondendo a nota de acusação deduzida no processo

disciplinar que contra ele foi instaurado, vem MANUEL
JOÃO, representado pelo seu Advogado, Dr. Milton João
Siculeque, com carteira profissional nº2481, contactável
pelos nºs 842495780/873333375, deduzir a sua defesa nos
seguintes termos:

Vem o arguido acusado da prática de varias pretensas infrações, com base na imputação que lhe
é feita dos seguintes factos:

a. Ter cometido o tipo legal de crime de homicídio agravado, o que constitui violação dos
deveres gerais previstos nas alíneas a), b), g), h), do artigo 6, e deveres especiais,
constantes das alíneas h), q) e r) do numero 1 do artigo 7 do RDPRM vigente conjugado
com as alíneas c) do artigo 42 e alienas a), b), e g) do numero 1 do artigo 43 do Estatuto
Geral dos Funcionários e Agentes do Estado;

Ora,

No articulado I da nota de acusação diz que o arguido foi detido no dia 02 de Fevereiro pela
SERNIC, via direção Provincial de Niassa – Lichinga, indiciado pela prática do crime de
Homicídio agravado. Facto que não constitui verdade;

Excias,

II

Na verdade o arguido foi detido no dia 31 de Janeiro de 2022 no distrito de Cuamba durante as
cerimónias fúnebres do seu cunhado que em vida respondia pelo nome de CONCEIÇÃO
LAGOAS, por sinal a vítima do Crime de que vem sendo inocentemente indiciado. Nesta mesma
cerimonio encontrava-se sentado no meio de duas individualidades nomeadamente, antigo
Secretario de Mobilização e Propaganda do Partido Frelimo- Cuamba, senhor André Castande,
antigo Chefe da meteorologia do distrito de Cuamba senhor Namaumbo, isto só para citar
algumas pessoas. Na devida altura o arguido portava consigo um envelope A4 contendo copias
do tal despacho que o arguido teria solicitado ao seu chefe de departamento de ética disciplina
policial no dia 28 de Janeiro de 2022. Depôs de ter sido remetido no banco BCI – Agência de
Cuamba, e o tal envelope o arguido teria deixado com o senhor André Castande para este
guardar enquanto este saia ou acompanhava os homens do SERNIC.

Pelo que estes dois senhores são testemunhas da minha detenção no dia 31 de Janeiro de 2022
em Cuamba, igualmente a sua família horas depois do mesmo dia um dos agentes da SERNIC do
distrito de Cuamba teria se dirigido ao local da cerimonia e tendo solicitado a mulher do arguido
e o ajudante do malogrado afim de prestar declarações na SERNIC onde estes, digo a Esposa,
tomou conhecimento que o seu marido encontrava-se detido no comando distrital da PRM de
Cuamba através da SERNIC, e que aguardava a sua evacuação a Lichinga as 18h do mesmo dia,
minutos depôs a sua esposa dirigiu-se ao comando na companhia da sua irmã afim de encontrar-
se com o marido para perceber o que havia acontecido;

Entretanto,

III

Ainda bem que a douta acusação no articulado I faz o uso do termo ´Indiciado´, o que quer dizer
que contra ele apenas pesam suspeitas de ter praticado o tipo legal de crime que vem sendo
acusado, e visto que o processo ainda se encontra na fase de instrução preparatória, e nem se
quer foi acusado, é ainda prematuro concluir que o arguido cometeu o referido crime visto que
nem se quer foi julgado e condenado;

IV

Excias, os cidadãos na República de Moçambique gozam do principio de Presunção de Inocência

ate a decisão final a ser proferida pelo tribunal através de uma sentença, o que quer dizer que o
presente processo disciplinar nem se quer devia ser instaurado visto que o processo-crime que o
arguido vem sendo acusado ainda esta sendo investigado pelas instancias competentes, e não há
nenhuma decisão ate então;

Ora,
 V

Facto curioso dá-se pelo facto da presente acusação, concretamente no articulado V dizer o
seguinte: «Dos trabalhos investigativos realizados pelo SERNIC, ter-se concluído que o arguido
Manuel João é chefe da quadrilha que praticou o crime de homicídio agravado», esta é uma
posição maléfica, inventada, e de ma fé;

De onde surge este pensamento de que a SERNIC concluiu as investigações? Somente para
esclarecer, o processo esta neste momento na fase de Instrução preparatória e a SERNIC ainda
não conclui nada, ainda esta numa fase investigativa;

VI

Facto curioso ainda, da-se pelo facto da nota de acusação entrar em contradição consigo mesma,

Ora vejamos,

No articulado I da nota de acusação, empregou-se o termo Indiciado, e no articulado V da mesma

acusação empregou-se já vem concluir, ou seja, na mesma nota de acusação V.Excias concordam
que o arguido esta sendo apenas indiciado, e não foi considerado culpado. Estas situações,
tornam a vossa acusação bastante profusa, precipitada, e infundada, e danos a perceber que
V.Excia sabe muito bem que o arguido esta sendo apenas indiciado, o que se torna prematuro
tirar qualquer conclusão;

De acordo com o saudoso nosso presidente Samora Machel, o que passamos a citar «os que dão
informações deturbadas ou falsa aso seus superiores, induzindo-os a tomar decisões erradas,
esses também são criminosos» fim de citação;

Ora,

VII

Se por acaso o arguido vier a ser declarado inocente pelo tribunal (o que temos a certeza que
ira acontecer) numa altura em que V.Excias já tenham decidido pela expulsão, como será
interpretada a vossa decisão?
Por esta razão solicitamos a V.Excias que aguarde pela conclusão do processo-crime de
Homicídio-agravado que-se encontra ate então na fase de instrução preparatória, e não tomem
qualquer decisão precipitada;

VIII

O arguido declara que é inocente, não cometeu o tipo legal de crime que vem sendo acusado e
muito menos possui uma quadrilha. Todas as declarações que o arguido deixou ficar ate então,
seja em sede do primeiro interrogatório, assim como na fase do inquérito que deu origem ao
presente processo disciplinar, constitui verdade;

No dia da ocorrência dos factos o arguido encontrava-se a trabalhar no seu local de trabalho atual
(Comando Provincial da PRM, no departamento de policiamento comunitário), na companhia do
seu colega Génito Avelino, inspector principal da policia, igualmente por volta das 10h50 o
arguido teria recebido uma chamada da sua cunhada residente em Cuamba, o qual lhe
comunicava do sucedido e que pedia ao arguido que ligase para alguns colegas que trabalham
naquela região distrital de Mauá e Metarica para comunicar o que estava acontecer naquela
região a fim de pedir socorro, e depôs do arguido terminar a chamada contou o que estava
acontecer ao seu colega Génito, e este, no mesmo instante efectou uma chamada ao chefe das
operações provincial da PRM do Niassa, onde lhe comunicou do delito.

Seguidamente o arguido também efectou uma chamada ao comandante distrital da PRM em

Mauá a fim de lhe comunicar o que estava acontecer na sua área de jurisdição a fim de pedir
socorro, mas sem sucesso visto que não foi atendido, tendo finalmente enviado uma sms com o
mesmo conteúdo, igualmente efectou outra chamada ao diretor da DIC do Comando distrital da
PRM em Metarica, onde este confirmou ter conhecimento da ocorrência e que esforços estavam
sendo feitos para neutralizar os malfeitores;

Estando ainda o arguido no serviço, terá sido recebido em audiência do chefe de departamento da
Ética disciplina policial no seu gabinete onde este ia solicitar a cópia do seu despacho, para se
fazer presente no banco BCI onde o arguido tinha um processo da sua conta salarial para efeitos
de atualização.
A sua presença efectiva no serviço pode-se também confirmar através do livro de ponto do dia
24 a 28 de Janeiro, não sabe o porque o indiciam neste crime visto que nunca fez parte de
nenhuma quadrilha;

IX

Excias,

Tudo quanto o arguido escreveu e subscreveu neste documento que lhe serve de contestação
conteve integralmente no âmbito do exercício do seu direito co o cidadão num Estado que ainda
se pretende democrático, de, de enquanto visado de um acto com que discordou e divergiu,
contra ele se insurgiu, usando os meios e a constituição lhe coloca ao dispor;

Nestes termos deve o presente processo disciplinar ser

arquivado, por não se mostrar provado que o arguido tenha
praticado qualquer acto suscetível de ser considerado como
crime ou infração disciplinar, ou, que se determine a
suspensão do procedimento disciplinar por um período
máximo de um ano ate que-se conclua o processo-crime
pendente nos termos do nº 4 do artigo 56 do Regulamento
Disciplinar da Policia da Republica de Moçambique
(aprovado pelo Decreto nº 84/2014 de 31 de Dezembro),
visto que caberá ao tribunal apos o julgamento, mediante a
produção da prova definitiva, concluir se o arguido
cometeu o crime de que vem sendo indiciado ou não.

Termos em que,

Clama Pela Justiça

Prova testemunhal

Génito Avelino – Inspetor Principal da Policia; Nazário – Superintendente da Policia;

André Castande – Residente em Cuamba, e o senhor Namaumbo; ajudante do finado e sua
esposa.

Junta: Procuração Forense, Copias de Livro de Ponto doa dia 24 a 28 de Janeiro

Lichinga, 25 de Março de 2022

O Advogado

Milton João Siculeque

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CP 2481/OAM