Você está na página 1de 53

1

UFRA - Universidade Federal Rural da Amazônia


Curso: Engenharia de Pesca
Disciplina: Resistencia dos Materiais Utilizados na Pesca
Aula: 03
Título: Nomenclatura da embarcação de pesca a vela
Autor: Prof. Ivan Furtado Júnior
Telefone: (91) 992595513
Email: juniorivan76@gmail.com

Apresentação
Nesta aula apresentaremos os termos relacionados à nomenclatura de
embarcações pesqueiras a vela, que serão utilizados ao longo do curso e suas
respectivas definições.

Objetivos
 Aprender sobre embarcações a vela.
 Conhecer a descrição geral de embarcações pesqueiras a vela.

3.1 Introdução
A origem da navegação tem como base o desenvolvimento das embarcações à
vela. A técnica de capturar a força dos ventos para a navegação surgiu de forma
independente em diversas partes do mundo, como consequência da necessidade de
transportar pessoas e cargas pelas águas (AZEVEDO, 2002).

De tudo quanto há produzido o engenho do homem, nada se compara em


grandeza de concepção e de execução com o navio, e por isso é a
Construção Naval com justa razão considerada uma de suas obras mais
admiráveis e úteis por qualquer face que se encare o navio, grande ou
pequeno, primitivo ou da atualidade, em relação às suas épocas
(CÂMARA-JUNIOR, 1888).

A construção dos veleiros teve tiveram início há milhares de anos, estas


embarcações movidas à vela foram desenvolvidas para a atividade de pesca, para o
comércio e fins militares. Essas embarcações eram eficientes para a navegação quando
o vento estava a favor, porém, extremamente lentas para navegar contra o vento
(CARVALHO, 2013).
2

É certo que enorme é nossa costa, e por isso bem diversas as circunstâncias
e condições de mar e de ventos: mas Bahia, Alagoas e Pernambuco, que
relativamente tão próximas estão, e sujeitas às mesmas causas naturais de
tempo e mar, conservam tipos singulares inteiramente desiguais quanto à
forma do casco, mastreação e velame, e pode-se mesmo dizer que com o
Amazonas, Pará e Rio de Janeiro são as províncias que mais se destacam
em todo o Império quanto a originalidade de tipos de embarcações, sendo a
Bahia a primeira quanto a variedade e número, segundo os misteres a que
estão destinadas (CÂMARA-JUNIOR, 1888).

Na região amazônica, as canoas movidas à vela são utilizadas nas pescarias


(CARVALHO; CHAVES; CINTRA, 2004). As mais utilizadas tradicionalmente são
canoas com vela de espicha, sem retranca, também conhecida como vela do tipo
“morcego” (ALMEIDA; FERREIRA; NAHUM, 2006), outras armações são as dos
tipos curicaca, jangada e bastardo, predominando nas praias do litoral onde os ventos
são mais constantes (ANDRÉS, 1986).
Vale ressaltar que a pesca no litoral nordeste paraense, constitui a principal
atividade econômica para as famílias de pescadores artesanais (SILVA, 2004). Sendo
que a cidade de Bragança se localiza na região estuarina do rio Caeté (BRAGA, 2002).
Bragança, assim como em todo o estuário amazônico e o litoral norte, distingue-se a
atuação de duas frotas pesqueiras, a frota industrial e a artesanal (ISAAC;
BARTHEM, 1995).
Os trabalhos sobre as embarcações pesqueiras são raros, principalmente sobre
os tipos de sistemas de propulsão a vela das embarcações da pesca artesanal, alguns
deles ainda em uso pescarias atuais, desta forma é de grande importância o registro e a
documentação destes que são uns dos mais antigos e tradicionais sistemas de
locomoção e acesso aos locais de pesca.

3.2 O clima e os ventos na área costa do Pará


De acordo com a classificação de Koppen (METEOROPARÁ, 2019), esta área
possui tipo climático Am, subtipo Am². A precipitação pluviométrica média anual
varia entre 2500 mm e 3000 mm, tipicamente tropical, caracterizada por duas nítidas
estações anuais, uma chuvosa de janeiro a junho e outra menos chuvosa de julho a
dezembro (Figura 1 e Figura 2).
3

Figura 1 - Mapa médio da classificação climática para o estado do Pará, segundo método de Koppen.

Fonte: Secretaria Executiva de Ciência e Tecnologia e Meio Ambiente-SECTAM, Núcleo de


Hidrometeorologia - NHM

Figura 2 - Mapa médio da classificação climática para o estado do Pará, segundo Thornthwaite.

Fonte: Secretaria Executiva de Ciência e Tecnologia e Meio Ambiente-SECTAM, Núcleo de


Hidrometeorologia - NHM

Os resultados aqui apresentados tratam de uma análise de dados climáticos,


referentes aos valores médios da temperatura, precipitação, evaporação e estão
representados em mapas. Foram utilizados valores médios mensais de temperatura do
ar, precipitação pluviométrica do período de 1960 a 1990, pelo levantamento em
várias Instituições, tais como a Agência Nacional de Energia Elétrica - ANEEL,
Instituto Nacional de Meteorologia - INMET, Empresa Brasileira de Pesquisa
Agropecuária - EMBRAPA, Instituto de Desenvolvimento do estado do Pará - IDESP,
dentre outras.
O clima da área é equatorial quente e úmido está caracterizado por uma estação
muito chuvosa entre os meses de dezembro e maio e uma estação seca para os demais
meses do ano (SUDAM, 1995). A pluviosidade média anual é de 2.500 mm/ano. A
4

umidade relativa do ar varia entre 80% e 91%. A temperatura média do ar é de 25,2ºC


e 26,7ºC, podendo variar de 20,4ºC a 32,8ºC (MARTORANO et al., 1993). A
salinidade nos diferentes ambientes do estuário bragantino acompanha as mudanças
sazonais da pluviosidade (ESPÍRITO-SANTO, 2002).
Os ventos exercem um papel importante na dinâmica de ambientes costeiros,
como, por exemplo, na formação de ondas, que, ao atingirem a costa, retrabalham,
erodem e/ou misturam os sedimentos depositados nas zonas de intermaré. São
responsáveis, também, pelo processo de transporte litorâneo dos sedimentos nas
diversas zonas das praias.
Os principais ventos que atingem a Costa Atlântica do Salgado Paraense são os
ventos alísios, que possuem direção preferencial NE, com variações para N e E. Estes
ventos sopram ao nível do solo, sendo originados por dois anticiclones subtropicais: o
Anticiclone Tropical Atlântico (ATA) e o Anticiclone Tropical Atlântico Norte
(ATAN). O encontro, na linha do Equador, dos ventos alísios gerados por estes
anticiclones, resulta na Zona de Convergência Intertropical (ZCIT), que corresponde a
uma área de extensão variável, com fracas pressões e poucos contrastes, ventos fracos
e de direções variáveis.
Esta zona sofre deslocamento sazonal que atinge diretamente o litoral paraense
no período chuvoso, com os ventos alísios de NE, constantes e moderados, com
velocidade de até 7,9 m/s (DHN, 1986). Esses ventos são geralmente precedidos de
calmaria e, quase sempre, acompanhados de rajadas violentas e chuva intensa.
Nesta parte são compilados os resultados apresentados no Relatório Técnico
“Levantamento, Tratamento e Análise de Dados de Velocidade e Direção do Vento no
Litoral do Estado do Pará” (FRADE; PINTO, 2000). Neste levantamento foram
utilizadas estações HOBECO, SECOND WIND, CAMPBELL e NRG com
amostragens variando entre 1 e 10 segundos, que foram integradas, através do data
logger, em intervalos de 10 minutos, para o período de 1996 a 2000. As estações na
área do estudo são mostradas na tabela1.
Tabela 1 - Identificação e localização geográfica das estações.
Município Localidade Latitude (S) Longitude (W) Altura (m)
Viseu Viseu 01°13’42,0” 046°01’31,0” 30
Bragança Ajuruteua 00°56’33,0” 047°06’58,0” 30
Salinópolis Atalaia 00°35’39,3° 047°18’45,3” 30
Maracanã Mota 00°37’26,2” 047°25’19,9” 10 e 30
Maracanã Algodoal 00°34’53,0” 047°35’05,8” 30
Marapanim Tamaruteua 00°34’57,7” 047°45’28,8” 10 e 30
Fonte: Frade e Pinto (2000)
5

A variação vertical da velocidade do vento e seu perfil podem ser expressos de


várias maneiras. O módulo da velocidade do vento é, normalmente, expresso em
metros por segundo (m/s) ou quilômetros por hora (km/h).
A velocidade do vento na superfície é zero devido à fricção entre o ar e a
superfície da Terra e aumenta com a altura mais rapidamente próximo da Terra,
diminuindo com a altitude. À altura de cerca de 2 km acima do solo, ou seja, acima da
camada limite planetária, a variação da velocidade em relação ao solo torna-se zero.
Neste trabalho é apresentado um procedimento de extrapolação simples e bem
conhecido, denominado de Lei Exponencial de Hellmann, para determinação da
velocidade média do vento para um perfil vertical. Na Lei de Hellmann, a velocidade
média do vento em uma altura de interesse h2, pode ser determinada, por:
𝑉(ℎ2 ) = 𝑉(ℎ1 ) × [ℎ2 ⁄ℎ1 ]∝
Onde:
h1 = altura da medida (m),
h2 = altura de interesse (m),
V(h1) = velocodade média do vento na altura medida (m/s),
V(h2) = velocodade média do vento na altura de interesse (m/s),
α = expoente de altitude de Hellmann (o valor de α depende da rugosidade do
terreno e da estratificação térmica).
Devido ao pequeno grau de rugosidade, o expoente α é menor nas áreas
costeiras que no interior. De acordo com o Tratado do Mar do Norte, o expoente de
Hellmann é de aproximadamente 0,1249 quando aplicado às regiões costeiras. Para
regiões de florestas e montes, o expoente algumas vezes é de 0,2 a 0,3. Existe uma
tabela para cada tipo de terreno, contendo a classe da rugosidade, z0 (m) e o valor de α
(Tabela 2).

Tabela 2 - Classe de rugosidade, z0, e expoente α.


Classe de Comprimento da
Tipo de terreno Expoente α
rugosidade rugosidade, z0 (m)
Áreas hídrica 0 0,001 0,01
Áreas de campo aberto 1 0,120 0,12
Fazendas com edificações e 2 0,250 0,16
arbustos
Fazendas com muitas 3 0,300 0,28
árvores, floresta e vilas
Fonte: Frade e Pinto (2000)
6

Na tabela 3 se encontram os dados eólicos coletados nas estações implantadas


na área de estudo.
Em 1805 o almirante irlandês Sir Francis Beaufort (1774-1857), ao serviço da
marinha inglesa, idealizou uma tabela que escalava a força do vento por 12 partes,
tendo esta sido reconhecida pelo Almirantado Inglês em 1838. O Comitê
Meteorológico Internacional adotou-a em 1874, (Tabela 4).
7

Tabela 3 - Dados eólicos coletados nas estações implantadas na área de estudo.


Velocidade
N° dados de Velocidade Velocidade
Max.
velocidade Percentual de dados Max.
Período
Min.
Período Calculada Direção predominante
Estação de coleta de Período
e direção validados por categoria Registrada Registrada
(m/s) p/
dados eólicos de coleta (m/s) (m/s)
dos ventos altura de 2m
coletados
Velocidade Direção

Nordeste - leste (cerca de 50°) -


Praia de Ajuruteua nov/96 - meses de maior velocidade; Norte -
93.891 100.00% 100.00% 10,01 set/98 6,19 abr/97 9,74
(Bragança/PA) mar/99 Nordeste (cerca de 40°) - meses de
menor velocidade.

Leste (cerca de 90°) - meses de maior


Praia do Atalaia fev/98 -
46.117 96,67% 100.00% 7,31 out/98 4,19 mar/99 7,11 velocidade; Norte - leste (cerca de
(Salinópolis/PA) abr/99
80°) - meses de menor velocidade.

Nordeste - leste (cerca de 60°) -


mar/97- meses de maior velocidade; Nordeste
Viseu/ PA 73.853 75,11% 100.00% 5,88 out/98 3,18 abr/97 5,72
jul/99 (cerca de 45°) - meses de menor
velocidade.

Norte - Nordeste (cerca de 45°) -


Praia da Princesa
jan/96 - meses de maior velocidade; Leste
(Algodoal/Maracan 104.369 96,82% 100.00% 8,49 set/96 3,82 mai/97 8,26
fev/98 (cerca de 50°) - meses de menor
ã/PA)
velocidade.

Leste (cerca de 80°) - meses de maior


Vila de Tamaruteua jun/98 -
60.398 90,37% 95,65% 5,53 set/99 2,87 mai/99 5,38 velocidade; Nordeste-Leste (cerca de
(Marapanim/PA) fev/00
70°) - meses de menor velocidade.

Leste (cerca de 80°) - meses de maior


ago/98 -
Mota 75.908 95,01% 93,53% 9,27 out/98 4,47 mai/99 9,02 velocidade; Nordeste-Leste (cerca de
mar/00
50°) - meses de menor velocidade.

Fonte: Frade e Pinto (2000)


8

Tabela 4 - Escala de Beaufort.


Velocidade Símbolo Altura da
Força Descrição Aspecto do mar
(m/s) meteorológico vaga (m)
0 0 a 0,2 Calmaria Mar de azeite 0
Rugas na água em forma de escamas, sem cristas de
1 0,3 a 1,5 Vento leve 0 a 0,10
espuma
Pequenas vagas curtas, mas marcadas; cristas translúcidas,
2 1,6 a 3,3 Brisa leve 0,10 a 0,25
mas não rebentam
Pequenas vagas mais alongadas, as cristas começam a
3 3,4 a 5,4 Brisa suave (Bonançoso) 0,25 a 1,00
rebentar, espuma vítrea; alguns carneiros
4 5,5 a 7,9 Vento moderado Pequenas vagas alongadas, mais carneirada 1,00 a 1,50
5 8,0 a 10,7 Vento fresco Vagas médias de forma alongada, aumenta a carneirada 1,50 a 2,50
Vagas grandes em formação; cristas espumantes com
6 10,8 a 13,8 Vento forte (Frescalhão) 2,50 a 4,00
ronciana
As vagas acumulam-se a espuma alonga-se em fieiros
7 13,9 a 17,1 Vento rápido 4,00 a 5,50
esbranquiçados na direção do vento
Vagas medianamente altas, mas compridas; as cristas
8 17,2 a 20,7 Ventania rebentam em turbilhão, a espuma estende-se em fieiros 5,50 a 7,50
nítidos na direção do vento
Vagas altas, fieiros densos, o mar enrola, a ronciana
9 20,8 a 24,4 Ventania forte 7,50 a 10,0
diminui, por vezes, a visibilidade
Vagas muito altas, de cristas compridas e pendentes,
ronciana em lençóis estirados em faixas brancas, superfície
10 24,5 a 28,4 Ventania desenfreada 10,0 a 12,0
da água esbranquiçada, o rolo é violento e caótico, má
visibilidade
Vagas excepcionalmente altas, mar coberto de faixas de
12,00 a
11 28,5 a 32,6 Tempestade espuma, os picos das cristas são poeira de água, má
16,00
visibilidade
O ar está saturado de espuma e ronciana, mar
12 >32,7 Furacão ou ciclone >16,00
completamente branco, péssima visibilidade
Fonte: Mendonça e Dani-Oliveira (2007)
9

Comparando os dados obtidos nas estações, com a escala Beaufort de ventos, se pode
observar que a intensidade dos ventos na área de estudo para altura de 2 m, estão no máximo
na classe 5 (vento fresco). No caso de mar aberto as vagas estariam na casa 1,5 a 2,5 m de
altura.

3.3 Caracterização dos principais aparelhos vélicos utilizados nas embarcações

3.3.1 Velame - É o conjunto de todas as velas existentes a bordo de um navio e divide-se em


duas classes: redondo e latino.
Velas Redondas - São as que envergam de bombordo a estibordo. Têm quatro lados. A
parte da vela que enverga na verga chama-se gurutil, aos lados são testas e a parte inferior a
esteira. Os ângulos das velas redondas (cantos) tomam os nomes de punhos; os punhos
superiores denominam-se punhos do gurutil e aos punhos inferiores dá-se o nome de punhos
das escotas. As velas redondas e latinas possuem umas forras paralelas ás esteiras, com
pedaços de linha ou estivado, que vão de uma face à outra e que servem para diminuir a área
da vela, quando há muito vento, denominando-se forras dos rises ou risadura.

Figura 3 - Vela redonda.

Fonte: http://i25.tinypic.com/2v7xdns.jpg
10

Velas Latinas - São as que se envergam de proa à popa e podem ser quadrangulares e
triangulares. As velas quadrangulares envergam as testas (lado de vante) nos mastros, o
gurutil (lado superior) nas caranguejas, a esteira (lado inferior) nas retrancas e a valuma (lado
da ré). As velas latinas triangulares envergam-se nos estais; o gurutil (lado que enverga no
estai), esteira (lado inferior) e a valuma (lado da ré). Os ângulos (cantos) tomam os nomes de
punhos; ao ângulo formado pelo gurutil e testa, de uma vela latina quadrangular chama-se
punho da boca; ao ângulo formado pela testa e esteira chama-se punho da amura ao ângulo
formado pela esteira e valuma, chama-se punho da escota e ao ângulo formado pela valuma e
gurutil chama-se punho da pena. Nas velas latinas triangulares, o ângulo formado pelo gurutil
e esteira chama-se punho da amura; ao ângulo formado pela esteira e valuma chama-se punho
da escota e ao ângulo formado pela valuma e gurutil chama-se punho da pena. As velas latinas
que envergam nas vergas, cuja posição é oblíqua, denominam-se bastardas. As velas latinas
quadrangulares que usam uma vara que vai do punho da amura ao punho da pena denominam-
se velas de espicha. As velas quadrangulares, cujo gurutil enverga numa pequena verga,
denominam-se velas de pendão.
Carangueja é a verga superior de uma vela latina quadrangular que se chama vela de
carangueja.

Figura 4 - Vela carangueja

Fonte: http://i32.tinypic.com/2dilyd3.jpg
11

Figura 5 - Punhos das velas.

Fonte: http://i26.tinypic.com/r6xqw3.jpg

Balões - Velas triangulares com muito Saco feitas de tecido muito fino. São utilizadas
nas mareações a partir da bolina folgada. O punho da escota é montado de barlavento no lais
do Pau de Spi, armando para vante do estai. Existem vários tipos de balões para usar
consoante a força do vento e a mareação a seguir.
12

Figura 6a - Aparelhos de velas latinas.

Fonte: http://i26.tinypic.com/3469h0y.jpg
13

Figura 6b - Aparelhos de velas latinas.

Fonte: http://i28.tinypic.com/k2h279.jpg
14

3.3.2 Massame - É o conjunto de todos os cabos existentes a bordo e que se divide em fixo e
de laborar.
Massame Fixo - É o conjunto dos cabos que aguentam a mastreação: ovéns, brandais,
estais, patarrazes e cabrestos.
Ovéns - São os cabos que aguentam os mastros de bombordo a estibordo e fazem parte
das enxárcias.
Enxárcias - É o conjunto de ovéns, colhedores (cabos que gurnem no poleame surdo
para tesarem os ovéns), enfrexates (espécie de degraus feitos de cabos ou madeira que servem
para os marinheiros subirem e descerem), sapatas ou bigotas (peças de poleame surdo).
Brandais - São cabos fixos que servem para aguentar os mastros e mastaréus de
bombordo a estibordo e de popa à proa.
Estais - São cabos fixos que servem para aguentar os mastros e mastaréus de proa à
popa.
Patarrazes - São cabos fixos que servem para aguentar o gurupés, paus da bujarrona e
giba de bombordo a estibordo.
Cabrestos - São cabos fixos à roda de proa e ao gurupés, paus de bujarrona e giba, que
servem para aguentá-los no sentido da proa à popa.
Estribos - São cabos fixos que prendem aos terços das vergas um para cada lais,
formando seio, que servem para os marinheiros andarem por cima deles.
Andorinhos - São cabos fixos aos vergueiros das vergas e ao seio dos estribos, que
servem para suportar o peso dos marinheiros quando utilizam os estribos.
Guarda-Mancebos - São cabos fixos existentes no gurupés, paus da bujarrona e giba,
que servem para os marinheiros se segurarem.
Vinhateiras - São cabos fixos aos vergueiros das vergas com cerca de 0,5m de
comprimento, com pinha de boça num dos chicotes, servindo para os marinheiros se
agarrarem quando na manobra das velas.
Massame de Laborar - São todos os cabos que servem para a manobra das velas do
navio.
Escotas - São cabos de laborar que se ligam aos punhos das escotas das velas que
servem para caça-las.
Adriças - São cabos de laborar que servem para içar ou arriar as velas; as velas latinas
quadrangulares possuem duas adriças, uma da boca (que iça a boca da carangueja), outra do
pique (serve para repicar a carangueja).
15

Braços - São cabos de laborar, um em cada lais das vergas redondas, que servem para
braceá-las para vante ou para ré.
Amantilhos - São cabos de laborar, um em cada lais das vergas redondas, que servem
para amantilhá-las, isto é, aguentar os lais para as vergas não arquearem.
Amuras - São cabos de laborar, que nas velas redondas servem para amurar os papa-
figos, isto é, rondar o punho da escota de barlavento o mais avante possível.
Bolinas - São cabos de laborar usados nas testas das velas redondas, que servem para
quando os navios navegam de bolina, puxar as testas de barlavento o mais avante possível. As
bolinas compõem-se de poa, amante e bolina, de modo a formar um pé-de-galinha com três
pernadas.
Estingues - São cabos de laborar, que servem para carregar os punhos das escotas aos
lais ou aos terços das vergas.
Brióis - São cabos de laborar, que servem para carregar as esteiras das velas redondas
até ao gurutil.
Sergideiras - São cabos de laborar idênticos às apagas, mas empregados nas gáveas.
Abraçadeiras - São cabos de laborar empregados nos navios redondos que tenham
vergas dobradas ou partidas, servindo de amantilhos às vergas baixas. O aparelho dos paus de
surriola e de carga fazem parte do massame de laborar e bem assim o aparelho dos turcos. O
aparelho do pau de surriola compõe-se de amantilho (serve para arria-lo ou içar). Gaios
(servem para aguenta-lo de vante para a ré), patarrazes (servem para aguenta-lo de ré para
vante), cabo de vaivém (serve para os marinheiros se segurarem, quando necessitam de saltar
para as embarcações que estão amarradas), escada do quebra-costas (serve para as guarnições
das embarcações subirem ou descerem por elas, quando estejam amarradas ao pau),
andorinhos (um ou dois em cada pau, possuindo um sapatilho no chicote inferior para nele
amarrar a embarcação). O aparelho dos paus de carga compõe-se de amantilho e guardins que
servem para puxar o pau para bombordo ou estibordo.
3.3.3 Poleame - É o conjunto de todos os moitões, cadernais, patescas, catrinas, papoilas,
bigotas, sapatas, caçoilos, polés, existentes a bordo de um navio e divide-se em poleame de
laborar e surdo.
Poleame de Laborar - É todo aquele que possui roldanas, tais como: moitões,
cadernais, patescas, catrinas e papoilas.
16

Poleame Surdo - É todo aquele que não possui roldanas, tais como: bigotas, sapatas,
caçoilo e polés.
Moitões - São peças de poleame de laborar, só com uma roldana, empregadas em
muitos serviços do navio.
Cadernais - São peças do poleame de laborar, com duas, três ou quatro roldanas e que
são empregadas a bordo dos navios. Os cadernais com quatro roldanas tomam o nome de
andorinhos e são empregados nos aparelhos reais.
Patescas - São peças de poleame de laborar, só com uma roldana, e a alça possui uma
abertura para dar entrada ao seio dos cabos. São muito empregadas para retornos dos cabos.
Catrinas - São uma espécie de moitões, por terem apenas uma roldana. São de ferro e
muito empregadas nos lais dos paus de carga.
Papoilas - São peças de poleame de laborar só com uma roldana, sendo a caixa em
forma alongada, e são empregadas junto dos mastros reais dos navios de vela para dar
passagem aos cabos da manobra das referidas velas. O conjunto das papoilas na mesa toma o
nome de mesa das papoilas.
Bigotas - São peças de poleame surdo, com três furos na caixa e são empregadas nos
cabos fixos, onde gurnem os colhedores para os rondar.
Sapatas - São peças de poleame surdo. Existem sapatas lisas e sapatas dentadas e
qualquer delas serve também para rondar os cabos fixos dos mastros. A caixa da sapata lisa
tem uma abertura lisa por onde passam os cordões do colhedouro; a caixa da sapata dentada,
possui também uma só abertura, mas com dois dentes para separarem os cordões do
colhedouro.
Caçoilos - São peças de poleame surdo com um ou dois furos e são empregadas para
dar a direcção aos cabos da manobra das velas.
Polés - São peças de poleame surdo, ainda actualmente empregadas em navios à vela e
também para suspensão dos toldos, tomando estas o nome de polé do prigalho.

3.4 Caracterização de algumas pequenas embarcações pesqueiras a vela do Brasil

O Brasil é o País mais rico em diversidade de barcos tradicionais do mundo. Cada


região, possui um tipo específico de embarcação, adaptado às condições locais de clima,
navegabilidade, heranças culturais e dinâmica econômica (IPHAN, 2011).
17

O estudo das embarcações brasileiras no ano de 1988, por intermédio de Antônio


Alves Câmara, descreveu algumas embarcações do litoral brasileiros (CÂMARA-JUNIOR,
1888). Sendo que dentre as embarcações à vela observadas por ele temos:
(1) Jangada
As jangadas são usadas na costa do Brasil, desde a Bahia (baía de Todos os Santos) até
o Ceará. As jangadas de pesca da Bahia (Figura 7) em geral eram construídas de seis paus
roliços, denominados “paus de jangada” feitos de Apeiba tibourbou que eram unidos por três
ou quatro cavilhas (hastes que unem peças da construção de uma embarcação) de madeira,
que atravessavam os quatro paus do centro, sendo que os dois paus laterais, um em cada lado,
eram encavilhados, mais elevados, nos paus que lhes ficavam juntos. Estes paus eram
chanfrados avante e a ré. Os dois paus do centro eram chamados “meios”, os dois dos lados
destes eram chamados “bordos” e os dois dos extremos laterais chamados “papús”.
Essas jangadas possuíam dois bancos, formados de quatro pés encavilhados no meio
dos “bordos” e inclinados para cima no plano longitudinal, sobre os quais se assentava uma
tábua na parte superior em um suporte feito neles. O banco de vante, chamado de “banco do
mastro grande” e o banco de ré chamado de “banco do mestre”.

Figura 7 - Jangada de pesca da Bahia.

Fonte: http://1.bp.blogspot.com/-icHboel-
khk/VPusxOlk2hI/AAAAAAAAQ04/oL1xozUiSLE/s1600/DSC03259.JPG
18

Na junção dos “meios” (paus do centro) era feita uma pequena ranhura, por onde era
colocada a tabua de bolina, que chegava a atingir cinco metros de comprimento, com largura
de meio metro e que era introduzida na ranhura verticalmente e depois era inclinada na parte
superior para vante, descansando sobre o banco do mastro grande e ficando presa pelo esforço
da água a ré na parte inferior.
Entre os dois bancos havia uma cruzeta (peça transversal na extremidade de uma
haste) chamada “aracambuz” encavilhada nos bordos, que servia para descansar o mastro da
mesena (vela latina quadrangular), e para prender as linhas e utensílios de pesca, cabaça com
água, corda e poita (objeto pesado que faz as vezes de âncora em embarcações miúdas), para,
no caso de virar a jangada, nada se perder. Alguns pescadores, porém, usavam o aracambuz
em forma de banco, onde amarravam o mastro.
O banco do mastro grande (Figura 8) tinha um furo, ou enora, no centro, por onde
passava o mastro, que ia descansar em uma castanha (peça de madeira, fixada por meio de
abas ou orelhas e com abertura destinada a sustentar um cabo), que era fixada nos “meios”
(paus do centro) com pequenas cavilhas de madeira. Em frente a ré do aracambuz havia outra
castanha, colocada da mesma forma da anterior, que servia para escorar o pé da verga (peça
de madeira disposta transversalmente num mastro) da mezena.

Figura 8 - Banco do mastro grande, com enfoque na castanha, ao fundo a pinambaba ou tapinambaba de cabo
azul.

Fonte: https://c73707f526b7f246b765-
e47d093ef35bbdcf7c0c38983e073d56.ssl.cf1.rackcdn.com/GaleriaImagem/61476/jangadas-da-bahia_6.jpg
19

Nos papús avante e a ré haviam forquilhas cravadas, chamadas “cambichos” com o


vértice para cima, que serviam para fixar a amura (cabo com que se mareiam as velas
redondas e latinas de diversas maneiras) e escota (cabo de laborar que segura uma vela pelo
punho quando enfunada) da vela.
O mastro grande era um pau roliço com um furo, que servia de gome, por onde
passava a adriça (cabo ou corda que se utiliza para içar velas) da vela, que era ao mesmo
tempo estai (cada um dos cabos que sustentam a mastreação para vante). Este mastro tinha a
posição vertical (Figura 9). A vela era quadrangular e cosida na verga, que era fina e flexível.
O mastro da mesena era semelhante ao mastro grande, porém, em menor dimensão,
inclinado para vante e escorado ou amarrado no aracambuz. Em vez de gorne tinha uma
abertura no topo, onde laborava a adriça da vela, que era triangular e cosida na verga, cuja
extremidade ficava presa em uma castanha fixa nos “meios”. A escota da vela passava no
topo de ré dos paus que compunham a jangada, diferindo nisso da grande por passar pelos
cambichos. As velas eram feitas de panos de algodão industrializado.

Figura 9 - Jangada de seis paus, enfocando o mastro grande, um pouco atrás o aracambuz com aduchas do cabo,
deitada no centro a tábua da bolina.

Fonte: https://marsemfim.com.br/wp-content/uploads/2017/12/jan-1--768x1155.jpg
20

As jangadas eram governadas por um leme em forma de esparrela, com um punho fino
e a pá muito larga, o qual se encaixava na abertura dos “meios”, quando ela navegava à popa
(a favor do vento) e entre estes e os “bordos” quando navegava à bolina (contra o vento),
sempre a barlavento (lado de onde sopra o vento) para que o timoneiro tivesse mais firmeza e
poder equilibrá-las (Figura 10).
As jangadas, quando não estão em uso, são encalhadas com o auxílio de rolos de
madeira, sobre os quais rolam até um local mais alto onde a maré não atinge.
Figura 10 - Jangada de seis paus, enfocando o banco do mastro grande, leme e cambicho.

Fonte: https://c73707f526b7f246b765-
e47d093ef35bbdcf7c0c38983e073d56.ssl.cf1.rackcdn.com/GaleriaImagem/61476/jangadas-da-bahia_14.jpg

No aracambuz eram pendurados os anzóis, bicheiros, cuia de molhar a vela, a


quimanga que era uma medida (recipiente) de madeira em que punham a farinha (Figura 11),
a pinambaba ou tapinambaba que era uma grande aducha feita com as linhas de pescaria
colhidas em uma cruzeta de madeira e o samburá que é um cesto bojudo e de boca estreita,
feito de cipó ou taquara, muito usado para carregar iscas e petrechos de pesca, e para recolher
o pescado (Figura 12).
21

Figura 11 - Jangada enfocando a quimanga.

Fonte: https://jangadajourney.files.wordpress.com/2015/06/quimanga-1.jpg

Figura 12- Samburá.

Fonte: https://cdn.olhares.pt/client/files/foto/big/237/2371796.jpg

Na proa da jangada tinha um torno (prego de madeira, quadrado ou roliço) fincado no


bordo para fosse segurada pelos jangadeiros durante a operação de encalhe e na popa outros
dois inclinados para fora, que eram chamados de “caçadores” (Figura 13).
22

Figura 13 - Jangada de tábuas, enfocando o banco de governo e os caçadores.

Fonte: https://jangadajourney.files.wordpress.com/2015/06/banco-do-govc3aarno-and-
calc3a7adores.jpg?w=288&h=288&crop=1

As jangadas de pesca do Ceará (Figura 14) eram mais aprimoradas em suas formas e
mais reforçadas devido aos fortes ventos que ocorrem no litoral. Nelas o banco do mastro era
assentado sobre dois pés, chamados pernas, que atravessavam a tábua da carlinga (entalhe
onde se apoia o mastro) e outras duas tábuas longitudinais pregadas nos bordos, chamadas
tamancos. Nos extremos desse banco e em duas cavilhas atravessadas nos paus da jangada,
equidistantes da enora, eram passadas muitas voltas de cabo para vante e para ré e depois
atracadas de um e outro lado as pernas do banco por cabos também. Esta forma de prender
com maior segurança o banco chamavam de cabrestos.

Figura 14 - Jangada de pesca do Ceará.

Fonte: Câmara, 1888


23

A bolina tinha de um lado no alto uma parte saliente, com uns 20º de inclinação, para
não poder descer mais, nem ficar mais inclinada para a ré, a sua parte superior, que é presa a
uma corda com uma pinha (laço no chicote de cabos para impedir que corram). Os três pés do
aracambuz eram fincados também em tábuas encavilhadas nos paus e eram conhecidos pelo
nome de espeques (cada um dos tornos de madeira nas jangadas, nos quais se amarram cordas
ou cabos).
Sobre o meio, quando a jangada era de cinco paus (Figura 15), pregavam outra tábua
no sentido longitudinal, passando também por baixo da carlinga, onde abriam um retângulo
no meio, para passar a tábua da bolina, ao qual davam o nome de “casa da bolina”.
Os quatro pés dos bancos de assentar e os caçadores atravessavam duas tábuas fixas
nos bordos e eles próprios, chamados machos do governo, os quais se prolongavam até o
extremo dos bordos e eram por sua vez reforçados por outra atravessada e neles entalhada e
pregada, apelidada de “travessa da popa”.

Figura 15 - Jangada de cinco paus.

Fonte:
https://ia800302.us.archive.org/BookReader/BookReaderImages.php?zip=/26/items/travelsinbrazil00inkost/trave
lsinbrazil00inkost_jp2.zip&file=travelsinbrazil00inkost_jp2/travelsinbrazil00inkost_0024.jp2&scale=4&rotate=
0

O “meio” era chanfrado no extremo a ré e reforçado de um lado ao outro com calços


de madeira, denominados “fêmeas do governo”, deixando duas aberturas, para que o leme
trabalhasse sempre entre um macho e uma fêmea do governo e não estrague os paus.
24

No centro desse “meio”, estava a casa da zinga (remo articulado na popa de


embarcação) abertura elíptica feita em suplemento de madeira, que lhe era cravada do lado
superior e passava por baixo da travessa de popa. O torno da proa era chamado “tolete da
poita”.
A enora do banco do mastro era igual a grossura dele na parte superior, mas por baixo
a elíptica era muito maior. A carlinga era uma forte tábua com um furo no centro e uns cinco
a oito furos de cada lado em linhas paralelas e oblíquas a direção dos paus da jangada,
formando diagonais, os quais serviam de carlinga, cada um por sua vez, conforme a força e
direção dos ventos em relação a mareação do pano. Assim eram conhecidos o furo do terral
(vento terral) o da viração, do largo, da bolina, etc (Figura 16).
A abertura por onde passava a esparrela, ou bolina era guarnecida de cortiça pregada
nos paus com tornozinhos de madeira para não os gastar e para apertar a tábua da bolina, que,
conforme a força do vento e rumo, que seguiam em relação a ele, abaixavam, suspendiam ou
a tiravam quando navegam a popa. A tábua da bolina também era colocada na vertical ou
inclinada.

Figura 16 - Jangada de cinco paus, enfocando a carlinga com seus diversos furos.

Fonte: http://portal.iphan.gov.br/uploads/ckfinder/images/Diversas/AL_IMAT/JangadadePau07(2).jpg

A maneira de colocar a tábua da bolina em posição conveniente, assim como o pé do


mastro em uma das diversas carlingas, de que dispunham, constituía a maior habilidade dos
jangadeiros de Alagoas, Pernambuco e Ceará, do que precisavam ter os da Bahia por causa do
sistema de velas que era diferente (Figura 17).
25

Figura 17 - Jangada de pesca do Ceará com todos seus elementos exceto a vela.

Fonte: http://site1382380002.hospedagemdesites.ws/wp-content/uploads/2014/05/CENTRO-DE-TURISMO-18-
.jpg

A vela era triangular entralhada em corda feita de fio, ou de embira, e cosida na verga,
que servia também de mastro, o qual era enfiado na enora do banco respectivo. O punho da
escota era fixo em uma retranca com boca de lobo e feita de pau paraíba. A jangada em geral
não tem menos que 5,5 metros de comprimento e para avaliarem a porção de pano, que deve
levar a vela, mediam a grossura das mimburas (os dois paus extremos de que se compõe a
jangada) e por ela calculavam. Assim, tendo 0,8 m de circunferência, deveria gastar a vela
uma peça e meia de algodão, ou 50 m de tecido, tendo 0,9 m duas peças e assim por diante.
A uns dois metros de distância do penol (ponta) da verga uma corda era amarrada no
aracambuz para arqueá-la, e força-la a uma posição determinada, e destruir o balanço, que a
verga tem por causa da sua flexibilidade e oscilação da jangada no mar. Essa corda também
servia para ferrar a vela. Existia também outra corda que era amarrada a vante, chamada
“ligeira”, que tinha a mesma serventia. Usavam também uma corda fixa na verga e com uma
alça, onde metiam a mão os tripulantes colocados a barlavento, com o corpo afastado para
fora da vertical, para aguentar a jangada, quando navegavam a bolina com vento fresco afim
dela não virar.
Na proa da mimbura de bombordo haviam outros calços dos lados para correr a poita
com o tauassú, e dar volta. Para fundearem, usam de uma pedra chamada tauassú ligada a uma
corda, e apertada por paus com pontas, que servia de âncora, presa a uma corda de embira, a
que chamam poita (Figura 18).
26

Figura 18 - Poita (com tauassú) utilizada para fundear a jangada.

Fonte: http://a4.pbase.com/u44/alexuchoa/upload/33634809.ancoraejangadaiguape.jpg

O banco de ré era chamado de “governo” onde o mestre sentava. Na popa estava


pregada uma travessa de madeira, que tinha nos extremos dois toletes encavilhados nos paus
da jangada, que serviam para neles se fixarem os caçadores.
Os dois “meios” na popa tinham uma abertura angular com calços de madeira
pregados por cima para poder trabalhar o leme sem desgastar os paus, assim como entre os
“meios” e os “bordos”, onde havia um calço interno no meio, e outro superior no bordo.
O leme era um remo com uma pá muito larga, e o punho relativamente muito fino, o
qual só trabalhava a barlavento, a menos que a jangada não estivesse com o vento na popa.
Para a manobra destas embarcações bastavam dois homens, o patrão, ou mestre, e o moço, a
que denominam coringa. Quando saiam para a pescaria de agulhas, levavam dentro outra
jangada pequena, a que chamavam de “bote”, onde saia um homem para auxiliar o serviço do
lançamento da rede.

A tipologia das embarcações a vela do Ceará tem na jangada seu maior ícone, com
origem nos primitivos nativos, tendo evoluído ao longo das formas: jangada de
timbaúba ou jangada de raiz, de piuba e de tábuas (SANTOS; SANTOS, 2012),
complementada por canoas encavernadas e botes já com influência construtiva
europeia. A existência da jangada e sua perpetuação até os dias atuais se mantém,
sendo a transformação para a de tábuas (Figura 19) em 1944 pelo carpinteiro
artesanal do Iguape, Posidônio Soares, o seu maior salto construtivo e que se
conserva na atualidade sem maiores modificações (BRAGA, 2013).
27

Figura 19 - Jangada de tábuas do Ceará.

Fonte: https://a4.pbase.com/u14/alexuchoa/upload/38657139.jangadanicanoCumbucohorizontal.jpg

Segundo Braga (2013) as velas utilizadas pelas jangadas do Ceará são do tipo latina
triangular (Figura 20) e que conforme verificado, com a experiência dos mestres jangadeiros,
o ataque ao vento é maior, sob um ângulo na faixa de 35º a 40º. O tamanho da vela, está
relacionado diretamente ao tamanho da embarcação, cuja confecção requer conhecimento e
experiência. A vela, pela sua lateral da testa, é fixada ao mastro da jangada por cabo fino que
passa pela corda de entralhe e o contorna, num processo que se denomina envergadura da vela
(Figura 21).
O “pano” (tecido) preferido e utilizado na praia da Redonda - CE é o denominado
“meia lona” da marca Fluminense, conhecido no comércio com “algodãozinho de vela”,
comprado em peças com 10 metros de comprimento e largura infestada de 1,80 m. Na região
da praia da Baleia - CE utiliza-se de preferência o tergal (BRAGA, 2013).

Figura 20 - Vela latina triangular: 1- corda de cima (baluma ou valuma); 2 - corda do mastro (testa); 3 - corda de
baixo (esteira); 4 - tranca (retranca); 5 - mastro; 6 - toco e 7 - emendas e ponteira da curva.

Fonte: Braga, 2013


28

Figura 21 - Parte superior da vela latina triangular: 1 - envergadura da vela; 2 - corda do mastro (testa); 3 - corda
de cima (baluma ou valuma); 4 - ponteira da emenda do mastro e 5 - emenda do mastro.

Fonte: Braga, 2013

(2) Canoa
A canoa é um dos primeiros tipos de embarcações de pesca usados pelo homem, são
construídas de um único tronco ou de tábuas e cavernas de madeira. Algumas canoas de
tronco da Bahia, têm o fundo completamente chato, com pequeno tosamento na borda, para
aumenta-la na popa, que é onde corre mais perigo de soçobrar uma canoa, quando pelo mau
tempo é forçada a correr, acrescentam uma tábua na borda até um quarto do comprimento da
embarcação que chamavam de “cangalha”. Quando a cangalha se prolongava até a proa da
canoa, passava a se chamar bacussú. Quando a canoa era curta em relação a boca (maior
largura da seção mestra da embarcação) e o pontal (distância medida na vertical da seção
mestra da embarcação, desde a linha da base moldada do casco até a parte de cima do vau do
convés corrido mais alto), era conhecida como “batelão”.
As canoas em geral tinham dois mastros com velas triangulares (Figura 22), as
maiores, porém, tinham três mastros. As velas eram chamadas; a de vante “mezena de proa”,
a do centro “vela grande”, e a de ré “mezena de ré”. Os dois bancos de vante, por onde
passam os mastros em enoras, eram fixos, o de ré é móvel (Figura 23).
29

Figura 22 - Canoa de pesca de dois mastros da Bahia.

Fonte: https://i.pinimg.com/originals/de/5d/9a/de5d9a846b94d94c4066c5e119baffcc.jpg

O espaço entre o bico de proa e o banco do mastro grande era dividido em quatro
partes, e nas três intermédias eram abertos furos para as diversas posições da amura da vela
grande, conforme a mareação. Quando navegavam à bolina, era amurada no primeiro furo, ao
largo no segundo, e a popa no terceiro, lugar este a sotavento, onde trabalha sempre a escota
da mezena de proa.

Figura 23 - Canoa de pesca de três mastros da Bahia.

Fonte: Câmara, 1888

A mezena de proa amurava no bico de proa e no centro, e a de ré também a meio da


embarcação, ficando a barlavento só a da vela grande. A mezena de ré tinha duas amuras fixas
30

as bordas em buracos, que mantinha o respectivo punho a meio. O mastro grande era um
pouco inclinado para vante, os outros dois eram verticais.
As velas eram triangulares, sem rises e cosidas nas vergas. Os mastros eram paus
roliços, que passavam pelas enoras dos bancos, e descansavam nas carlingas no fundo da
canoa, e tinham furos na parte superior por onde passavam as adriças; sendo quanto ao
comprimento, maior “o grande”, depois “o de proa”, e depois “o de ré”, e assim as respectivas
vergas. Haviam vergas grandes, que excediam em comprimento ao das respectivas canoas.
A madeira empregada era geralmente a pindaíba branca (Xylopia frutescens), que é
muito leve e flexível.
Quando navegavam a bolina com vento fresco, os tripulantes se colocavam em pé na
borda de barlavento agarrados em cabos com balso (nó que se arma num cabo para içar
objetos ou um homem que vá trabalhar no mastro ou no costado), a que chamavam
“brandaes”, fixos ao mastro grande, e assim eles iam se afastando da vertical para fora até
ficarem horizontalmente, a proporção que o vento refrescava, movimento que exigia atenção
para os que navegavam a vela em embarcações miúdas, por ser o vento muito variável em
força e direção. Também costumavam arriar a amura (cabo que prende a parte inferior da vela
e a mantém estendida do lado donde sopra o vento), mas não a escota.
Haviam na proa de algumas das canoas do alto gavietes (peças à proa ou à popa da
embarcação, para suspender objetos pesados que estejam no fundo do mar) semelhantes aos
das lanchas de navios de vela, com pernadas fixas em um barrote por ante avante, e com uma
roldana para facilitar o suspender a poita, com que fundeavam.
A poita era formada de um pau com dois furos, que eram atravessados por duas
cavilhas, que apertavam uma pedra, e cruzavam nas extremidades. Nesse cruzamento
amarravam um cabo, que prendia também na pedra, e em pequena distância faziam um nó de
azelha (argola pequena), onde era fixada a amarra.
A espadela, ou bolina, era uma tábua, que se fixava a borda por sotavento para
substituir o pé de caverna, que a canoa não tinha, e fazê-la barlaventear. Elas tinham em geral
de 2 a 2,5 metros de comprimento, e 0,5m de largura. Sempre eram feitas de madeira muito
pesada. Sua forma era retangular, sendo a parte superior curva, grossa no centro, afinando
para as extremidades, que terminavam em roda quase em aresta. Tinham uma alça na parte
superior, que prendiam em um torno móvel encavilhado por dentro em furos da borda de
sotavento, correspondentes, aos que trabalhavam a amura da vela grande.
31

A bolina tinha dois furos, um em cima, que servia para fixar um cabo a canoa para não
se perder, outro mais em baixo, onde se fixava a alça, que passava por cima da borda, e
atracava por dentro. Quando navegavam à popa a tiravam, ao largo era fixada no buraco de ré
da canoa, quando navegavam a bolina no segundo furo da canoa, e, quando o vento era muito
ponteiro, no terceiro furo da canoa. As dimensões das canoas variavam entre 7, 22 m de
comprimento, 0,66 a 1,2 m de boca, e 0,4 a 0,7 m de pontal.
No Rio de Janeiro as canoas de tronco, bordadas ou de voga (Figura 24) eram as que
tinham um suplemento de madeira em toda a borda da popa à proa, a que denominam
bordadura, sendo que a parte de vante e de ré tomam o nome de sobreproa e sobrepopa. Elas
tinham bancada avante com enora para o mastro, a qual era sempre fixa na borda do casco.

Figura 24 - Canoa de voga do Rio de Janeiro.

Fonte: Câmara, 1888

O mastro era feito de um caibro fino, geralmente de jaquetibá (Cariniana legalis), bem
como a verga, que preferiam de taquaruçu (Guadua angustifolia) por ser leve, forte e flexível.
A vela era um redondo, ou mais propriamente um retângulo, com muita esteira (sulco) em
relação à guinda (altura do mastro). A adriça ficava colocada a um terço da verga, e passava
por um furo feito no mastro, e dava a volta na sua bancada (Figura 25).
32

Figura 25 - Canoa de voga com enfoque na adriça a um terço de verga.

Fonte:
http://4.bp.blogspot.com/-
Mvkgal_cxr8/UKzuxvNK9mI/AAAAAAAAAPk/EjfLfkFktb8/s1600/TRAQUETE.jpg

Essas embarcações pouco, ou nada barlaventeavam; porque eram de fundo de prato, e


muito rasas, e não usavam de espadela (bolina). Quando velejavam “a bolina folgada”
amuravam a vela na borda da canoa a vante; mas quando navegavam “a popa” amuravam a
vela na bancada junto ao mastro (Figura 26). Pela muito pequena boca em relação ao
comprimento destas embarcações, eram armadas com vela baixa, mas com muita superfície
da parte de sotavento, que é mais de metade do todo, era necessário muito cuidado na
manobra de cambá-la para não virar a canoa. Para isso arriavam a vela, e iam colhendo a parte
de sotavento até à verga, em cujo laés (extremidade) davam um cote (laço simples dado em
um cabo) com a própria escota, prolongavam a verga com o mastro, cambavam e amuravam.
A vela por si se desfraldava (soltava ao vento), o timoneiro desfazia o cote puxando pela
escota.
33

Figura 26 - Canoa de voga com enfoque na amuragem da vela.

Fonte:
http://4.bp.blogspot.com/-
izo9hjhSZoM/US6HvyHilhI/AAAAAAAAAWw/sSGhQjDU6qs/s1600/canoa+lua+traquete.jpg

(3) Saveiro
Os saveiros (Figura 27) são embarcações cuja construção se assemelha a dos escaleres
(embarcação miúda, de proa fina e popa larga, movida a vela), porém, com maior boca,
menos pontal e em geral são quase de fundo de prato. Os bancos dos mastros e o da popa,
onde sentam as bancadas de ré, são fixos e os bancos intermediários são móveis e descansam
nos dormentes ou serretas (cada uma das tábuas colocadas no fundo da embarcação, entre a
sobrequilha e as escoras, para proteção do fundo) entre os braços das cavernas.

Figura 27 - Saveiro de pesca de um mastro.

Fonte:
https://www.gazetadopovo.com.br/ra/mega/Pub/GP/p2/2008/11/01/VidaCidadania/Imagens/Saveiro_Reconcavo
_Baiano_0111.jpg
34

O mastro de vante era sempre colocado em uma bancada no bico de proa, e a verga era
mais comprida do que a embarcação. Os saveiros de pesca (Figura 28) usavam duas velas,
sendo que a mezena, que era a vela de ré, era cassada (presa) na popa em um dos furos, que
tinha no espelho da popa (Figura 29).

Figura 28 - Saveiro de pesca de dois mastros.

Fonte: Câmara, 1888

Figura 29 - Saveiro com enfoque no furo no espelho de popa onde é presa a vela mezena.

Fonte: https://marsemfim.com.br/wp-content/uploads/2013/04/cb_1154.jpg

Estas embarcações (Figura 30) navegavam até perderem a terra de vista, nas pescarias
chamadas de sondar, e demoravam de um a dois dias fora, o que é notável por serem de boca
aberta. Apesar de não terem a velocidade das grandes canoas de três velas, são atualmente
preferidas a elas por poderem trabalhar com metade do pessoal, e oferecerem mais
comodidade. As amuras das velas dos saveiros, como das canoas, eram chamadas de “cairos
ou caros”.
35

Figura 30 - Saveiro de dois mastros.

Fonte: http://rafaelveloso.com.br/wp-content/uploads/2016/02/Saveiro-O-Tal-Foto-Luis-Pereira-IMG_3662-
800x445.jpg

(4) Garoupeira
A garoupeira era uma embarcação destinada à pesca da garoupa nos parcéis dos
Abrolhos, na Bahia, tinha a popa fechada, era muito fina na popa e larga na proa, tinha
também convés e borda falsa e o cadaste era inclinado. Tinha dois mastros e gurupés. No
mastro da proa armavam uma grande vela redonda, e no da popa uma vela triangular,
chamada “burriquete”, cuja retranca era fixa, e atravessava a borda falsa (Figura 31).

Figura 31 - Garoupeira.

Fonte: Câmara, 1888

Usavam também uma bujarrona (vela de proa, de forma triangular, que se enverga
num dos estais do velacho) à proa (Figura 32). Quando pescavam sobre os parcéis não
fundeavam, o faziam com o burriquete cassado, para aproarem ao vento. Estas embarcações,
quando usavam a vela latina quadrangular em lugar da redonda, tomam a denominação de
“perné”, na Bahia.
36

Figura 32 - Vela bujarrona.

Fonte: http://www.aramaca.com.br/wp-content/uploads/2016/04/Aramaca_Mini-Site-0105_Saveiros-da-Bahia-
11.jpg

Todas as garoupeiras empregavam âncoras e amarras de ferro. Usavam um gaviete


(peça, geralmente de ferro, dotada de rolete na extremidade de fora, colocada à proa ou à popa
de embarcação para se suspenderem por ela objetos pesados que estejam no fundo do mar) no
bico de proa a boreste para suspender com cabo o tauassú, com que fundeavam, o qual era
semelhante aos das jangadas.
A vela tinha quatro forros de rises e amurava no bico de proa, de forma que a tralha da
testa servia de estai. Tinham uma pequena canoa para a tripulação. Usavam também um
bastardo (cabo que compõe o enxertário da verga de gávea) à ré. A ostaga (cabo) da adriça
servia de brandal (cabo com uma das pontas presa no topo do mastro maior de embarcação
miúda, e com a outra ponta em alça, na qual se penduram homens para fora, com os pés
apoiados na borda, para contrabalançar a inclinação do barco, quando este navega à bolina). A
verga tinha só um braço (cabo usado para movimentar a verga no sentido horizontal) a
barlavento.

(5) Canoa-costeira (Cúter) do Maranhão


A Canoa-costeira do Maranhão (Figura 33) é uma embarcação manobreira de um
único mastro e velas latinas. São montadas a partir de pranchões, sendo compostas por sete
peças: um cepo, duas curvas de empolador, duas curvas do cintado e duas voltas de costado.
A elas são fixadas a quilha na parte inferior e a sobre-quilha na parte superior, tem como
característica principal o formato da proa e da popa, constituídas por peças de madeira de
forma aproximadamente triangular denominadas espelhos, onde se fixam externamente o
talhamar (na proa) e o cadaste (na popa, abaixo do leme) (ANDRÈS, 1998). Apresenta um
tamanho médio de 12 metros de comprimento (ALMEIDA; FERREIRA; NAHUM, 2006).
37

Figura 33 - Canoa-costeira do Maranhão.

Fonte:
http://4.bp.blogspot.com/-
cczKKscaIoo/Uk2IsErMcII/AAAAAAABnCk/B0uOPCSjyGk/s1600/Cas246SaoLuisCosteira210913.JPG

Os espelhos são reforçados internamente pelas cambotas, peças similares as cavernas.


Na proa o talhamar e o beque são fixados em perfeito ajuste formando uma única peça com
função de sustentar e prender, por meio da trinca, o pau da giba, que na sua parte posterior é
encaixado na bita (coluneta de madeira onde as amarras se prendem e enrolam) (ANDRÈS,
1998).
O mastro está situado no primeiro terço avante e possui acentuada inclinação para a ré,
atravessa o convés pela enora e vai fixar-se na carlinga que está presa na sobrequilha. O
aparelho da vela usa uma vela latina quadrangular muito repicada (inclinada) dando a
impressão de ser triangular (Figura 34). Na proa há uma vela de estai (bujarrona) que arma no
pau da giba (ANDRÈS, 1998).

Figura 34 - Aparelho de velas da canoa-costeira do Maranhão.

Fonte:
http://3.bp.blogspot.com/-5-
NW_bR7F7E/TexO9KhTUlI/AAAAAAAABmY/wTUgWJ9qpjI/s400/a+DSCN0995_05-27-11_15-17-53.jpg
38

(6) Bote
Muito semelhante a Canoa-costeira do Maranhão, na prática, a principal diferença
entre os dois modelos reside no formato de proas e popas, a proa do bote é “de risco”, isto é,
as tábuas do costado se unem no talhamar formando um “V”, em vista superior. Já a popa é
denominada “rabo de pato” devido ao seu formato arredondado e ausência de espelho (Figura
35). Apresentam o mesmo aparelho vélico da canoa-costeira do Maranhão (ANDRÈS, 1998).

Figura 35 - Bote a vela.

Fonte: http://www.amazonworld.com.br/site/imgs/maranhao/0007.jpg

(7) Biana
Uma das características mais marcantes da biana é possuir a proa bem lançada, que se
eleva pronunciadamente a partir do meio, acentuando o efeito do alvoro. Estruturalmente as
bianas (Figura 36) são feitas com cavernas de três paus, que apresentam um desenho que
tende ligeiramente à letra "V", fazendo no fundo uma perfeita concordância com a quilha de
seção triangular (ANDRÈS, 1998, ALMEIDA; FERREIRA; NAHUM, 2006).

Figura 36 - Biana a vela

Fonte: https://www.brana.com.br/wp-content/uploads/2016/12/biana2.jpg
39

O leme é grande e apresenta ferragens em diversas alturas, pois quando necessita


navegar em águas rasas, é levantado e preso nos ganchos mais altos, o mastro é colocado no
primeiro terço do barco e o aparelho de vela mais utilizado é a vela de espicha com retranca,
mas existem outras variações como a curicaca, onde o pé do pique é preso ao mastro com um
estropo junto a enora. Também são armadas com velas do tipo “jangada” ou do tipo
“bastardo” (ANDRÈS, 1998).
São três os principais tipos de velame utilizados nas pescarias artesanais (ANDRÉS,
1986): a armação do tipo curicaca é uma vela triangular com retranca comprida na qual tanto
o pique como a retranca está enfurnada junto ao mastro. Este pode arriar no sentido proa-popa
para diminuir o balanço do barco, enquanto que a armação do tipo jangada é uma vela com
retranca permanentemente atada a um mastro alto e delgado que pode arriar. O topo do mastro
se curva para a popa, quando a vela é içada. A armação de bastardo é triangular, cujo pique é
levantado por um cabo que se prende, em furo, no topo do mastro curto. A vela é estendida
por uma retranca que descansa no banco do mastro (Figura 37), (ALMEIDA; FERREIRA;
NAHUM, 2006).

Figura 37 - Variações dos aparelhos de vela das embarcações: Biana e Igarité.

Fonte: Almeida, Ferreira e Nahum, 2006

O comprimento das bianas, varia entre cinco e meio metros até nove metros, onde as
bianas maiores que sete e meio metros podem ter seções mais largas na popa terminando em
um amplo espelho. As bianas do tipo abertas são barcos menos possantes, com um
comprimento médio em torno de sete metros (ALMEIDA; FERREIRA; NAHUM, 2006).

(8) Igarité
A igarité (canoa verdadeira) (Figura 38) é um dos modelos de embarcação mais
genuínos do Maranhão, por ser encontrado exclusivamente na região do golfão (ANDRÈS,
1998). Apresenta características de semelhança com a biana e difere desta pela forma da
caverna mestra, que tende para um "U," enquanto que na biana tende para um "V". Não
40

apresenta quilha e no plano longitudinal apresenta um perfil talhado e em meia lua e tem de
cinco a seis metros de comprimento (ALMEIDA; FERREIRA; NAHUM, 2006).

Figura 38 - Igarité a vela

Fonte: https://marsemfim.com.br/wp-content/uploads/2017/06/primeira-cruz-barcos-004.jpg

As igarités durante a navegação, mantém os espelhos da proa e popa quase tocando a


linha de flutuação (linha d’água), enquanto que as bianas deixam um pequeno trecho da
quilha acima da linha de flutuação normal. As igarités podem ter diferentes tipos de aparelhos
de velas, contudo a armação mais utilizada é a vela de espicha, sem retranca, também
conhecida como vela do tipo "morcego" (ALMEIDA; FERREIRA; NAHUM, 2006).

(9) Vigilenga
As vigilengas eram as igarités empregadas na pesca do mar e do rio. A origem de seu
nome é da cidade da Vigia, a que pertenciam (Figura 39).
Em meados dos anos 40 no mercado do Ver-o-Peso em Belém do Pará as embarcações
movidas a vela chamadas de vigilengas eram as mais utilizadas, eram muito parecidas a
canoa-costeira do Maranhão, também usavam velame com uma vela de estai, triangular, e
uma vela latina quadrangular muito repicada (inclinada) dando a impressão de ser triangular
(Figura 40), tanto que, Penteado (1949) relatou que possuíam duas velas, ambas triangulares,
mas de tamanhos desiguais. A maior delas achava-se colocada entre o mastro e a popa,
chegando sua base a ultrapassar esta última, o que a fazia ficar suspensa, em parte, por sobre
as águas. A outra vela era muito menor em virtude da posição do mastro, que aparecia
colocado mais próximo da proa (Figura 41) (PENTEADO, 1949).
41

Figura 39 - Vigilenga na cidade de Vigia nos anos 50.

Fonte:
https://static.wixstatic.com/media/599a27_494278125cc54b9596ebdb27361ddd47~mv2.jpg/v1/fill/w_976,h_682
,al_c,q_85,usm_0.66_1.00_0.01/599a27_494278125cc54b9596ebdb27361ddd47~mv2.webp.

Figura 40 - Vigilengas no Ver-o-Peso, com vela grande quadrangular (abril de 1957).

Fonte: https://fauufpa.files.wordpress.com/2012/05/ver-o-peso-04.jpg?w=640&h=416
42

Figura 41 - Vigilengas no Ver-o-Peso, com suas velas enfunadas (abril de 1957).

Fonte: https://fauufpa.files.wordpress.com/2012/05/vp09.jpg?w=640&h=413

As embarcações vigilengas constavam de duas porções distintas: o bailéu (assoalho


em embarcação sem ponte), colocado entre o mastro e a proa; e o tolda (primeira coberta da
embarcação), que fica entre a popa e o mastro (Figura 42) (PENTEADO, 1949).

Figura 42 - Vigilenga no porto de Belém mostrando o bailéu e a tolda da embarcação (1926).

Fonte: https://tokdehistoria.files.wordpress.com/2014/11/i0011995-18px001056py003230.jpg?w=657&h=414.

A tolda é um compartimento de madeira, fechado por três lados, que resguarda o porão
da canoa, onde se aloja a carga; daí o nome de “baixo da tolda” (Figura 43), que lhe é
reservado. Toda canoa possui dois ou três varejões (Figura 44), usados para impeli-la através
das águas dos igarapés, que atravessam regiões onde a densa vegetação marginal impede a
43

penetração do vento; os seus tripulantes deixam, nessa ocasião, o mastro colocado em


forquilhas ou amarrado em árvores existentes às margens dos igarapés, pois a altura dos
mastros normalmente dificulta sua passagem sob a copa das árvores, que muitas vezes se
entrecruzam por sobre o leito do curso d’água (PENTEADO, 1949).

Figura 43 - Vigilenga mostrando seus tripulantes, que aparecem sustentando de pé os varejões, que serão
utilizados no igarapé.

Fonte: Penteado, 1949.

Figura 44 - O interior da vigilenga, percebe-se perfeitamente o “baixo da tolda”, onde era guardada a carga.

Fonte: https://fauufpa.files.wordpress.com/2012/05/vp02.jpg?w=640&h=987.
44

3.4 Caracterização das embarcações pesqueira a vela no município de Bragança - vila


Bonifácio (Estudo de caso)

A curicaca ainda é um aparelho vélico muito utilizado nas embarcações de pesca da


vila Bonifácio, trata-se de uma vela latina triangular, sendo uma variação do aparelho da
Canoa-costeira do Maranhão, em que o pique (repique) e a tranca (retranca) são acoplados no
pé do mastro, possibilitando o uso da vela triangular (Figura 45).

Figura 45 - Vela curicaca em canoa do Maranhão.

Fonte: https://i.pinimg.com/originals/8b/ae/97/8bae977c27dc8ffc2a8c16a52e669695.jpg

A figura 46 a seguir mostra o aparelho vélico usado nas embarcações da vila


Bonifácio.
45

Figura 46 - Vela curicaca em canoa na vila Bonifácio.

Fonte: Rosilda Maia Faria 2019

3.4.1 Caracterização dos materiais utilizados para fabricação das velas curicacas

No estudo realizado na vila Bonifácio no município de Bragança foi verificado que o


material utilizado para a confecção da vela curicaca triangular das embarcações artesanais é a
lona de polietileno. As lonas de polietileno possuem três camadas, são 100% impermeáveis e
são usadas por serem extremamente leves, fortes, bastante flexíveis apresentam também
grande resistência à abrasão, possuem ilhoses metálicos nas bordas e têm durabilidade em
torno de dois anos (Figura 47).
Em entrevista realizada com um dos pescadores responsáveis pela confecção das velas
na vila Bonifácio no município de Bragança, foi relatado que:
“Algum tempo atrás nós fazía as velas com fazenda de algodão, o pano era tingido
com tintó vermelho (quando questionado por quê o TINTOL vermelho? Respondeu
que acreditava que a tinta vermelha dava mais durabilidade ao tecido). Para a tintura
46

do tecido nós colocava água e o tintó em uma lata grande no fogo, depois de ferver
nós botava o tecido molhado e deixava ferver junto com a água por uns tantos
minutos, depois tirava o pano e colocava em uma corda para escorrer e secar”
(conforme pescador José).

Após a secagem era realizado o corte do tecido e a montagem em um barracão da vila,


o tamanho dos pedaços da lona era de acordo com o comprimento da tranca e do pique da
embarcação da vela encomendada.

Figura 47 - Lona de polietileno

Fonte: Rosilda Maia Faria 2019

3.4.2 Etapas para a confecção das velas curicacas

Atualmente, todas as velas são confeccionadas com lonas de polietileno, de acordo


com os pescadores a mudança para a lona deve-se ao fato da resistência, durabilidade e leveza
que o material apresentar em relação ao tecido de algodão.
Os materiais necessários para a confecção da vela de lona são: fita métrica, trena,
tesoura, ilhós, tubo de linha (nylon) poliamida nº 12 da marca MIADE, fio de (nylon)
poliamida multifilamento título 210/12 e cabo de polietileno 3/8” (10 mm) ou de ½” (12 mm)
para fazer as laterais de contorno da vela, cobrindo todo o perímetro.
Exemplo: Para confecção de uma vela curicaca triangular de uma canoa medindo de
4,0 m de comprimento é utilizada uma peça de lona (7,0 m x 4,0 m) que corresponde a 28
metros quadrados, a altura do mastro mede cerca de 1,5 m, com verga medindo 3,0 m de
altura (esteira da vela), retranca medindo 3,0 m de altura (testa da vela) e valuma medindo 7,0
m (Figura 48). Para fazer as laterais de contorno da vela com perímetro equivalente a 13 m de
comprimento total.
47

Figura 48 - Embarcação artesanal com vela do tipo curicaca

Fonte: Rosilda Maia Faria 2019

De acordo com os pescadores a montagem da vela é realizada em um barracão,


primeiramente a lona é aberta no seu comprimento, conforme o tamanho da vela é feito o
corte da lona, esse corte é realizado de dois tamanhos uma parte maior (parte superior da vela)
e outra menor (parte inferior da vela). Somente após essa etapa está pronto para ser costurado,
sendo estas faixas encaminhadas para costura simples (Figura 49).
A construção da vela e a costura da lona é feita de cima para baixo, pois de acordo
com o mestre, havendo alguma diferença a lona pode ser facilmente cortada na lateral da base
inferior, não influenciando no resultado final. (BRAGA, 2013).
A vela curicaca, de forma triangular é envergada em mastro, a verga está na direção do
plano diametral do barco, de proa a popa, essa disposição permite que seja movimentada para
captar o vento em qualquer direção (HOLZHACKER, 1975).
48

Figura 49 - Embarcação artesanal com vela do tipo curicaca

Fonte: Rosilda Maia Faria 2019

A costura utilizada é a simples (costura reta), para a emenda das partes, pois a vela
recebe vento pelas duas faces conforme a direção da navegação, sendo normal receber o vento
por um lado na ida e pelo o outro na volta. As bordas da vela curicaca confeccionada de lona
são embainhadas nas suas três laterais com a lona, entralhadas com cabo de polietileno de 8
mm (Figura 50).

Figura 50 - laterais da vela embainhadas

Fonte: Rosilda Maia Faria 2019

Sendo que a vela pela lateral da testa, é fixada ao mastro da embarcação por cabo fino
que passa pela corda de entralhe e o contorna, num processo que se denomina envergadura da
49

vela. A vela é composta por vários acessórios sendo estes identificadas a seguir (Figuras 51,
52 e 53).

Figura 51 - Encaixe da verga no pé do mastro - carangueja

Fonte: Rosilda Maia Faria 2019

Figura 52 - Roldanas; braçadeira; cabos e o mastro de uma embarcação a vela

Fonte: Rosilda Maia Faria 2019


50

Figura 53 - Vela do tipo curicaca

Fonte: Rosilda Maia Faria 2019

Exercício 01
Forme um grupo de 4 (quatro alunos) e façam uma busca na internet de imagens dos
equipamentos náuticos relacionados abaixo. No final, montem um relatório com o nome dos
equipamentos, suas respectivas imagens e a fonte da imagem (cópia do link). Não se
esqueçam de inserir os nomes dos membros de cada grupo no relatório.
Ovéns
Enxárcias
Brandais
Estais
Patarrazes
Cabrestos
Estribos
Andorinhos
Guarda-Mancebos
Vinhateiras
Escotas
Adriças
Braços
Amantilhos
51

Amuras
Bolinas
Estingues
Brióis
Sergideiras
Abraçadeiras
Moitões
Cadernais
Patescas
Catrinas
Papoilas
Bigotas
Sapatas
Caçoilos
Polés
52

REFERÊNCIAS

ALMEIDA, Z. S.; FERREIRA, D. S. C.; NAHUM, V. J. I. Classificação e evolução das


embarcações maranhenses. Boletim do Laboratório de Hidrobiologia, v. 19, p. 31-40, 2006.
ANDRÈS, L. P. C. C. Embarcações do Maranhão. São Paulo: Audichromo. 1998. 129 p.
AZEVEDO, G. As origens da navegação à vela. 2002. Disponível em: <https://
http://www.guilhermeazevedo.com/naveg/naveg23.PDF. Acesso em 03 agosto 2017.
BRAGA, C. A. Atividade pesqueira de larga escala nos portos de desembarque do rio
Caeté, Bragança, PA. Dissertação (Mestrado em Biologia Ambiental) - Universidade Federal
do Pará. Bragança, 2002.
BRAGA, M. S. C. Embarcações a vela do litoral do estado do Ceará: construção,
construtores, navegação e aspectos pesqueiros. 2013. 344 f. Tese (doutorado em ciências
marinhas tropicais) - Universidade Federal do Ceará. Fortaleza, 2013.
CÂMARA-JUNIOR, A. A. Ensaio sobre as construções navaes indígenas do Brasil. Rio de
Janeiro, Typographia G. Leuzinoer & Filhos, 1888. 143 p.
CARVALHO, I. R. S. Projeto de uma empilhadeira manual de barcos à vela do tipo
dingue e optimist. Rio de Janeiro. Universidade Federal do Rio de Janeiro, 2013.
CARVALHO, R. C. A.; CHAVES, R. A.; CINTRA, I. H. A. Análise de custos e rentabilidade
de embarcações industriais envolvidas na captura de Piramutaba, Brachyplatystoma vaillantii
(Valenciennes,1940), no estuário do rio Amazonas, litoral Norte do Brasil. Belém. Boletim
Técnico-Científico do Cepnor. v. 4, p. 45-56, 2004.
ESPÍRITO SANTO, R. V. Caracterização da atividade de desembarque da frota
pesqueira artesanal de pequena escala na região estuarina do Rio Caeté, município de
Bragança- Pará-Brasil. Bragança, 2002. Dissertação (Mestrado em Ecologia de
Ecossistemas Costeiros) - Universidade Federal do Pará, Campus de Bragança.
FRADE, L. C. S.; PINHO, J. T. Levantamento, Tratamento e Análise de Dados de
Velocidade e Direção do Vento no Litoral do Estado do Pará, Relatório Técnico,
GEDAE/ELETRONORTE, UFPA, 2000.
HOLZHACKER, R. Dicionário ilustrado de navegação à vela. In: Enciclopédia do Mar: São
Paulo, Editora abril, 1975, 257 p.
IPHAN. Patrimônio Histórico e Artístico Nacional. Barcos do Brasil. Brasília, 2011. 52 p.
ISAAC, V. J.; BARTHEM, R. B. Os recursos pesqueiros na Amazônia brasileira. Boletim do
Museu Paraense Emílio Goeldi, v.11. p. 295-339, 1995.
MARTORANO, L. G. et al. Estudos climatológicos do Estado do Pará, classificação climática
(Köppen) e deficiência hídrica (Thornthwhite, Mather). Belém, Sudam/Embrpa, SNLCS,
1993.
METEOROPARÁ, Classificação Climática do Pará (Método de Köppen). Disponível
em:<http:/www.meteoropara.hpg.ig.com.br/matdidatico/classificacao.htm>. Acessado em: 06
de janeiro de 2019.
PENTEADO, A. R. Vigilengas do baixo-amazonas. Boletim Paulista de Geografia. n. 2, p.
32-42, 1949.
53

SANTOS, C.; SANTOS R. H. A pesca no mar de Almofala e no Rio Aracati-Mirim:


histórias dos pescadores Tremembé. 2012. Monografia de graduação do magistério
indígena Tremembé Superior - MITS - Universidade Federal do Ceará. Sobral, 2012. 83 p.
SILVA, B. Diagnóstico da pesca no litoral paraense. Programa de Pós-graduação em
Zoologia. Museu Paraense Emilio Goeldi. Universidade Federal do Pará. Belém, 2004.
SUDAM - Superintendência do Desenvolvimento da Amazônia. Atlas climatológico da
Amazônia brasileira. Superintendência da Amazônia / PHCA. Belém, 1995. 125 p.

Você também pode gostar