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Curso de Direito
ARTIGO CIENTÍFICO-JURÍDICO
Autores:
Rio de Janeiro
2007
1. O ARTIGO CIENTÍFICO
1.2 Motivadores
Os artigos são usados para tornar público os resultados de um estudo desenvolvido a respeito de um assunto
de interesse restrito ou pontual. Eles servem também como um mecanismo poderoso de divulgação de uma
pesquisa maior, que venha sendo realizada pelo investigador, como, por exemplo, um trabalho de mestrado
ou doutorado.
É também freqüente, na realização de uma grande pesquisa, encontrarem-se elementos interessantes sobre
um determinado assunto, mas que se ligam apenas de forma indireta ao assunto tratado no estudo maior. Se o
pesquisador resolver incluir, em sua dissertação ou tese, o elemento novo com que se deparou, soará como
uma digressão do trabalho principal, avolumando-o desnecessariamente. Esse tipo de situação pode ser
também uma oportunidade para se escrever um artigo. Uma tese, quando feita com profundidade e
seriamente, costuma gerar vários artigos que a ela estão associados.
Os artigos são adequados também para se abordarem temas polêmicos pouco adequados para serem tratados
num livro.
Por fim, dada a sua natureza prática e rica, os artigos costumam ser usados como cumprimento das atividades
curriculares dos cursos de graduação ou de pós-graduação.
1.3 Características
O artigo deverá apresentar algumas características típicas dos estudos científicos:
- O artigo científico deverá ser o resultado de uma investigação que obedeça aos princípios e
métodos da ciência.
1
MARCONI, Marina de Andrade; LAKATOS, Eva M. Técnicas de pesquisa. 3. ed. São Paulo, Atlas, 1996. p. 210.
2
MARCONI, Marina de Andrade. Metodologia Científica: para o curso de direito. 2. ed. São Paulo: Atlas, 2001. p.
96
3
3
Orides Mezzaroba e Cláudia Monteiro falam num tamanho entre 15 e 20 páginas. Cf. MEZZAROBA, Orides;
MONTEIRO, Cláudia Servilha. Manual de Metodologia da Pesquisa no Direito. São Paulo: Saraiva, 2003. O
tamanho máximo de páginas de um artigo poderá variar. Especialmente na área jurídica, onde a construção de um
argumento necessita de extensa fundamentação, é muito comum um artigo científico ficar entre 20 ou 30 páginas.
Esse tamanho poderá mudar, todavia, com a adoção de entrelinhas, espaçamentos e margens diferentes. Atualmente,
é comum o editor estabelecer o tamanho do artigo pelo critério do número de letras, dada a facilidade de
quantificação que esse sistema apresenta nos processadores eletrônicos de texto.
4
CASTILHO, Maria Augusta de. Roteiro para elaboração de monografia em ciências jurídicas. 3. ed. São Paulo:
Sugestões Literárias, 2002. p. 2
4
É o tipo de artigo mais utilizado, o mais conhecido. Pode ser sobre um assunto, uma questão específica de
uma área temática determinada ou sobre qualquer aspecto que importe ser analisado cientificamente. Os
artigos temáticos devem trabalhar com aspectos pontuais contidos dentro de determinadas áreas temáticas,
evitando-se, assim, temas por demais abrangentes.
Um artigo intitulado “A união estável” corre um sério risco de ser, por sua amplidão, um trabalho superficial,
sem qualquer novidade e, portanto, extremamente enfadonho, mesmo aos olhos do mais incipiente estudante
de Direito. Todavia, uma análise sobre “A união estável nas comunidades carentes do Rio de Janeiro: uma
análise jurídica de uma questão social” poderá enfocar questões novas e que chamem o interesse de qualquer
advogado.
Artigo autor/escola
Esse tipo de artigo destina-se à análise crítica sobre a contribuição que intelectuais e pessoas de expressão,
vistas isolada ou conjuntamente, exerceram dentro da área do conhecimento humano em que atuaram.
Mesmo enfatizando a questão do autor, nem sempre o artigo é um estudo de natureza estritamente biográfica,
mas um recorte a respeito de um determinado aspecto de um autor que se queira pôr em evidência. Trabalhos
como “Aleixo Manuel: o primeiro advogado da cidade do Rio de Janeiro” ou “A contribuição do pensamento
weberiano entre juristas brasileiros” podem ser apontados como exemplos desse tipo de artigo.
Artigo categorial
Nesse artigo existe uma associação entre o artigo do tipo temático com o autor/escola. Como exemplo, pode-
se mencionar os casos de estudo de certas categorias de estudo adstritas a alguns autores ou escolas,
procurando relacioná-las criticamente. Como exemplo, pode-se mencionar um artigo que tenha por título “O
conceito de liberdade na obra de Montesquieu” ou “A visão do negro na literatura brasileira naturalista”.
Resenha científica
Esse tipo de artigo científico é enormemente útil, pois procura analisar criticamente uma obra importante da
literatura especializada, considerada como uma referência pelos especialistas no assunto. Ele não é apenas
um resumo inteligente e preciso sobre o conteúdo da obra em questão, mas traz consigo um estudo criterioso
do contexto específico em que a obra surge, buscando, assim, avaliar sua importância e a natureza da
contribuição que ela representou em seu contexto ou época. As resenhas podem enfocar também um certo
número de obras, ligadas entre si por algum recorte conceitual feito pelo investigador.
ajudará o docente a desenvolver método de estudo, que desenvolverá nele independência crítica e postura
questionadora como fundamento para o exercício criativo de sua futura profissão.
5
CASTILHO, A. C., op. cit., p. 3-4.
6
2. O ESTUDO
2.1 O ato de ler
Ler significa conhecer uma série de elementos, distinguindo a quantidade, relevância e representatividade a
fim de atingir um objetivo, ou seja, em função de uma intenção. A leitura terá validade se o leitor conseguir
apreendê-la e comentar seu conteúdo, utilizando-a como experiência construtiva, como produção de
conhecimento.
Há várias classificações e, entre elas, pode-se apontar a de entretenimento, a de cultura geral ou informativa
e a formativa, que consiste no aprofundamento de conhecimentos.
A leitura só terá valor se o leitor for capaz de entender, avaliar, explicar, discutir e aplicar o que leu, caso
contrário não terá validade ou importância, isto é, sem utilidade prática.
De acordo com Martins6, o processo de leitura segue o seguinte roteiro:
a) leitura de reconhecimento - o primeiro contato com o livro (leitura do título, introdução,
apresentação etc.);
b) leitura seletiva - primeiro, deve-se conhecer a idéia geral do autor, selecionando a essência do
trabalho;
c) leitura crítica ou reflexiva - leitura mais atenta e cuidadosa nos aspectos julgados relevantes.
Pretende-se, nesta etapa, tirar dúvidas, transcrever trechos mais importantes, sublinhar termos ou
frases consideradas essenciais;
d) leitura crítica ou interpretativa - é a fase mais complexa, pois exige interpretação e crítica dos dados
segundo os objetivos propostos.
Para se ter um aprendizado regular e constante, seja para o estudo de uma disciplina, seja para a produção de
um saber sistemático e organizado, torna-se necessário adotar um método para executar o trabalho.
Antes dessa etapa, é necessário estabelecer alguns critérios, tais como estabelecer o objeto de estudo e seu
objetivo, da mesma forma a necessidade de estudar o assunto.
O segundo passo na produção do conhecimento a que se está sujeito é o estudo que também exige disciplina
e dedicação; o processo de estudo exige uma atitude ou ação planejada, segura, constante e rigorosa.
6
MEZZAROBA, Orides; MONTEIRO, Cláudia Sevilha. Manual de metodologia da pesquisa em Direito. São Paulo:
Saraiva, 2003, p.22
7
Exige-se, portanto, uma tomada de posição sobre o tema-problema, adquirindo este a forma de tese, da
proposição central do trabalho que será demonstrada logicamente por meio do raciocínio. Aliás, todo o
discurso científico pretende demonstrar uma posição a respeito do tema a ser problematizado.
A pesquisa científica, portanto, acontece com o propósito de se solucionar uma dúvida, uma questão objetiva
que o pesquisador necessita esclarecer. A pesquisa é uma forma de se buscarem soluções para problemas que
atingem a sociedade ou a um grupo social específico, mas cujas respostas ainda não estejam disponíveis no
estado atual do conhecimento humano. Assim, a alma de uma pesquisa científica é uma questão ou um
conjunto de questões (as chamadas questões norteadoras) a serem respondidas ao longo do trabalho de
investigação.
Em seguida, o pesquisador procurará definir suas hipóteses, que são respostas provisórias às suas questões
norteadoras, feitas à luz do estudo exploratório e que ajudarão a nortear a sua pesquisa científica. Em outras
palavras, é o caminho que o raciocínio deverá percorrer no desenvolvimento ao se fundamentar o trabalho.
As hipóteses são previsões ou suposições que podem ser confirmadas ou não ao final da pesquisa. Deve-se
deixar claro que toda pesquisa científica possui uma questão norteadora como motivadora, mas nem toda
questão norteadora produzirá, necessariamente, uma hipótese.
A hipótese pode ser única como suposta resposta à pergunta, ou vir acompanhada de hipóteses secundárias
como variação, quer dizer, como afirmações ou respostas complementares à hipótese básica. São as
chamadas hipóteses secundárias.
Deve-se, ainda, considerar as variáveis que trazem, para a hipótese, conceitos de valor, como qualidades,
quantidades, características, traços especificadores.
2.4 Os caminhos
2.4.1 Tipos de pesquisa
A pesquisa quanto ao nível de desenvolvimento pode ser:
pesquisa exploratória
pesquisa teórica
8
pesquisa aplicada
A exploratória é a pesquisa desenvolvida com a ajuda da bibliografia existente sobre determinado assunto ou
a partir da observação direta de um problema em cuja solução o pesquisador esteja empenhado. Nesse
estágio da investigação, o pesquisador trabalha com obras de referência, como, por exemplo, dicionários
especializados, enciclopédias, manuais bibliográficos, vade mécuns, livros introdutórios ou especializados
sobre o assunto. Essa pesquisa se desenvolve quando ainda não se têm definidas as respostas para um
problema, ajudando a levantar hipóteses que nortearão o desenvolvimento da pesquisa propriamente dita.
A hipótese, lembrando mais uma vez, é uma solução provisória, burilada à luz do estudo exploratório,
proposta pelo pesquisador às questões inicialmente levantadas e que orientará o investigador em toda a
pesquisa.
A pesquisa teórica, que é o estudo desenvolvido com a ajuda da bibliografia existente, é destinada a escolher
um modelo teórico segundo o qual o investigador fará o seu estudo sobre um determinado assunto. Por
modelo teórico entende-se como o ponto de vista que será utilizado para interpretar uma determinada
questão.
Já a pesquisa aplicada, que é o estudo desenvolvido de forma sistemática, obedece aos postulados científicos
e se destina a responder às questões que a pesquisa exploratória não havia conseguido responder. Essa
pesquisa tem por objetivo investigar, comprovar ou rejeitar as hipóteses que tenham sido levantadas quando
da pesquisa exploratória e deverá ainda ter seguido os modelos teóricos eleitos durante a pesquisa teórica.
Quanto ao método, podem ser apontados três tipos principais:
pesquisa experimental
pesquisa de observação
pesquisa bibliográfica
Muito embora esses três tipos de pesquisa se associem em diversos aspectos, apresentando características de
natureza metodológica comuns, eles também possuem peculiaridades que lhe são típicas.
Tendo-se em vista ser o presente trabalho destinado a alunos do Curso de Direito, será dada maior ênfase à
pesquisa bibliográfica. Todavia, torna-se necessário, pelo menos, uma referência às demais modalidades de
pesquisa, antes de entrar no problema da pesquisa bibliográfica.
b. Pesquisa de observação
Conceituação – Ao contrário da pesquisa experimental, em que o investigador mantém sob controle as
variáveis que influenciam no fenômeno estudado, a pesquisa de campo consiste na observação direta das
coisas e fatos tal qual eles ocorrem espontaneamente no mundo real, sem que haja qualquer tipo de
intervenção, por parte do pesquisador, objetivando controlar as variáveis que influenciam o objeto de
investigação. A pesquisa de observação, portanto, se caracteriza por não poder reproduzir o evento sob
situação de controle, o que obriga o pesquisador a manter-se rigorosamente adstrito à observação rigorosa do
evento. Ela pode ser utilizada em disciplinas da área humana, como Psicologia, Antropologia, Política,
Economia, Sociologia, além de outras, mas também nas áreas exatas e biológicas, como Engenharia,
Medicina, Ecologia etc.
Um universitário poderá igualmente desenvolver uma pesquisa de observação na área do Direito, em que ele
queira apurar, por exemplo, o problema do descumprimento das leis de trânsito, num bairro onde tenha sido
registrado um alto índice de acidentes automobilísticos.
9
Ele poderá então se deslocar para o local e observar diretamente que tipo de imprudência é mais comumente
praticada nas ruas, faixa etária aproximada do motorista, policiamento na localidade, áreas mais atingidas por
acidentes, condições dos equipamentos de trânsito (semáforos, placas sinalizadoras, estado de conservação
do asfalto etc.).
Esse estudante poderá também proceder a entrevistas com moradores na localidade ou com especialistas
sobre a questão do trânsito, utilizando, em cada intervenção, métodos diferentes de pesquisa de campo.
c. Pesquisa Bibliográfica
Conceituação – É a pesquisa que incidirá sobre a bibliografia de um tema, ou seja, é a pesquisa que se faz a
partir do conjunto de livros, artigos, ensaios e de outras formas de escritos a respeito dum determinado
assunto. Assim, a pesquisa bibliográfica não decorre apenas da leitura de livros, mas também de todo texto
publicado de uma maneira geral. Essa bibliografia é composta de trabalhos de diferentes autores, que
utilizaram, por sua vez, modelos teóricos distintos, segundo suas opiniões e convicções pessoais,
constituindo um manancial intelectual que normalmente se caracteriza pela pluralidade de opiniões, às vezes,
discordantes entre si.
A pesquisa bibliográfica é a mais utilizada pelo estudante de Direito bem como pelo próprio advogado, que
às vezes também recorre às fontes.
Fontes – Trata-se de um conceito que pode variar de uma circunstância para outra, sendo difícil sua definição
de forma rígida. Na maior parte das vezes, as fontes são os textos fundamentais, originais ou básicos cuja
interpretação e discussão crítica gera a fortuna bibliográfica correspondente. A fonte é sempre o suporte mais
básico da informação. A Constituição Federal poderia ser apontada como um exemplo de fonte, no plano
legal, para uma pesquisa que tivesse o Direito Civil como objeto, enquanto que os textos de Afonso Arinos
de Melo Franco poderiam ser vistos como uma bibliografia (fonte secundária dentro dessa mesma pesquisa).
Mas, se a pesquisa fosse de caráter biográfico, tendo por título, por exemplo, “A importância de Afonso
Arinos de Melo Franco no processo de democratização do Brasil”, os escritos desse importante senador da
República, inclusive aqueles publicados na imprensa, passariam à condição de fonte e não mais apenas
bibliografia.
Lembretes:
a delimitação do objeto é a escolha de uma questão específica dentro de um tema mais abrangente;
10
para se fazer a delimitação do objeto de pesquisa, deve-se antes proceder a uma pesquisa exploratória;
a delimitação do objeto deve ser tal que possa ser anunciada pelo título e pelo sub-título do trabalho de
pesquisa científica.
b. Levantamento bibliográfico
Escolhido o tema e delimitado o objeto de investigação, será feito um estudo preliminar do problema,
também chamado de pesquisa exploratória. Esse estudo preliminar inicia-se com a leitura da bibliografia
existente sobre o assunto, devendo-se começar pelas obras de referência, partindo-se em seguida para os
artigos e livros específicos, entre os quais devem ser privilegiados os mais recentes, cuja elaboração
pressupõe o conhecimento das obras mais antigas.
Nesta etapa do trabalho, o pesquisador ainda está buscando, na bibliografia disponível, respostas para a
questão que o motiva ao estudo em causa. Sua leitura procura uma resposta para um problema específico.
Pode ser que ele encontre a resposta, mas também pode ocorrer o contrário. Se ele encontrar a resposta, a
análise preliminar do problema se encerra e a questão estará resolvida, não havendo necessidade de
desenvolvimento de uma pesquisa científica − à falta de questões não há pesquisa científica. Mas se ele não
encontrar a resposta para aquela questão, ou ainda se a resposta que a bibliografia correspondente oferecer
não for suficiente, então esse estudioso estará com uma demanda de uma pesquisa científica na mão.
Que tipos de livro devem ser usados pelo iniciante da pesquisa durante essa etapa? Como já foi dito, ele
deve utilizar as obras de referência, que ajudarão o pesquisador a iniciar seu estudo, com informações
preliminares e sucintas sobre o tema, indicativos conceituais, relação da legislação afeta ao problema tratado
e, especialmente, indicações bibliográficas essenciais para o estudo daquela matéria. Já foi destacada, no
caderno “Como escolher um livro”, é muito importante procurar amealhar indicações orais da bibliografia
junto a professores e mesmo junto a colegas de sala. Mas o levantamento bibliográfico deverá ser feito
também nas obras que são especializadas nessa área.
Infelizmente, poucos pesquisadores dão atenção, hoje em dia, às obras de referência para orientar os
primeiros passos de um trabalho científico. A seleção bibliográfica que se deve fazer no início da elaboração
de um projeto de pesquisa científica, todavia, sob a égide de um estudo preliminar é a alma desses estudos
preliminares que subsidiarão toda a elaboração futura do projeto e uma base segura para o desenvolvimento,
numa segunda etapa, da própria pesquisa científica. Para que o aluno tenha uma idéia mais clara da
importância que uma obra de referência apresenta em seu projeto, é recomendável a leitura do caderno
“Como escolher um livro”.
desenvolvimento da pesquisa. O pesquisador deverá escolher o seu elenco de questões norteadoras a partir de
uma reflexão objetiva e crítica. Apenas as mais essenciais deverão ser escolhidas e, mesmo assim, somente
após um estudo exploratório inicial, onde sejam estudados aspectos um pouco mais profundos do que
aqueles que são do conhecimento do leigo. Quer dizer, a questão norteadora enunciada por um pesquisador
deve corresponder à “dúvida” de um especialista, isto é, de alguém que estudou o assunto com uma certa
profundidade e que toma conhecimento de que aquela questão não está resolvida pela bibliografia
especializada
É sempre bom lembrar que o pensamento científico distingue-se do vulgar exatamente pelo seu rigor em
questionar os fenômenos a partir de suas causas.7
As possibilidades são infinitas, mas o pesquisador deverá escolher o seu elenco de questões norteadoras a
partir de uma reflexão objetiva e crítica. Apenas as mais essenciais deverão ser escolhidas e, mesmo assim,
somente após um estudo exploratório inicial, onde sejam estudados aspectos um pouco mais profundos do
que aqueles que são do conhecimento do leigo, ou seja, a questão norteadora enunciada por um pesquisador
deve corresponder à dúvida de um especialista, isto é, de alguém que estudou o assunto com uma certa
profundidade e que toma conhecimento de que aquela questão não está resolvida pela bibliografia
especializada.
O passo seguinte será pôr em prática a pesquisa em si.
d. Aplicação da metodologia
Este é o momento em que o cientista inicia o trabalho de pesquisa propriamente dita. Passada a fase da
delimitação do objeto de investigação (pesquisa exploratória) e da preparação do artigo (pesquisa teórica),
chega o momento de o pesquisador colocar em prática tudo o que foi previsto. Agora se está fazendo uma
pesquisa aplicada.
O trabalho, a partir desse momento, se constitui em ler e em fichar os livros e artigos que o levantamento
bibliográfico preliminar indicou e ainda os demais que a pesquisa for apresentando. É o momento de
responder às questões norteadoras, checar eventuais hipóteses que o estudo preliminar sugeriu eliminar
aquelas que a prática da pesquisa demonstrou ser inviáveis (não se constitui em erro o pesquisador descobrir
que uma de suas hipóteses estava errada ou imperfeita), criticar a fortuna bibliográfica existente etc.
Além disso, procurar-se-ão, na Internet, discussões mais atuais, levantar sites idôneos que opinem sobre a
questão tratada na pesquisa e buscar ainda publicações eletrônicas concorrentes.
É esse o momento também em que alguma pesquisa de campo poderá ser utilizada como complemento da
bibliográfica em curso. O acadêmico de direito poderá, especialmente nos casos em que ainda for pequena a
fortuna crítica sobre a questão sob análise, utilizar-se dessa pesquisa. Da mesma forma, o estudioso deve
obedecer ao que foi planejado, ser rigoroso na apuração dos resultados e não ir além da evidência dos fatos
gerados pela investigação científica.
Durante a chamada pesquisa aplicada, o investigador irá produzir o seu fichário de documentação pessoal, na
qual ele irá reunir as fichas onde ele anotou, de forma sistemática e cuidadosa, o conhecimento apreendido
durante o estudo do material bibliográfico correspondente. Nessas fichas, ele anotará também eventuais
observações de caráter pessoal, fará transcrições, cotejará a bibliografia especializada etc.
Lembrete
- A pesquisa aplicada é o momento em que o pesquisador irá desenvolver todas as atividades que ele
planejou no projeto de pesquisa científica.
- Na pesquisa aplicada, ele irá ler livros, artigos, sites e demais fontes que o ajudarão a responder às
questões norteadoras enunciadas em seu projeto de pesquisa.
7
Cf. RUIZ, João Álvaro. op. cit. p. 96 e seg.
12
3. MARCO TEÓRICO
O marco teórico do artigo científico seguirá as instruções abaixo e as observações feitas no item Elaboração
de um artigo científico, apresentado, inclusive, com a análise de um artigo científico para ajudar os alunos a
melhor compreenderem a construção do seu texto. Assim, a estrutura do artigo jurídico-científico, com base
constitucional, deverá ter a seguinte estrutura:
_________________________________________________________________________
3. Resumo: É uma síntese do trabalho concluído, razão porque só deve ser elaborado ao término do
estudo, numa apresentação concisa dos pontos relevantes do texto, realçando finalidade, resultado,
conclusão. Pode ser considerado como ementa, tal a concisão com que deve ser elaborado, devendo
ser em torno de 100 palavras, num texto de parágrafo único, e redigido em 3ª pessoa.
_____________________________________________________________________________________
4. Sumário – constitui-se no roteiro do artigo e deve ser elaborado, ainda que provisoriamente, antes de
se iniciar o trabalho. Tem a função de proporcionar uma visão de conjunto de todo o trabalho,
indicando a ordenação seqüencial dos assuntos desenvolvidos. É essencial para a disciplina do
trabalho porque revela a estruturação do pensamento do autor ao iniciar a construção de sua
argumentação e o caminho percorrido no desenvolvimento do estudo. Deve ser formado entre 3 a 5
itens ou subitens.
Ex: Tema : “As concepções do direito e a ideologia dominante”
6. Desenvolvimento do artigo
Parte I – A abordagem constitucional do tema – a natureza jurídica do tema remete obrigatoriamente
ao marco teórico constitucional. Dentro dessa linha, a discussão temática sofre, no primeiro momento de
sua elaboração, a abordagem constitucional, ou seja, as referências constitucionais que emolduram a
proposta de trabalho. O olhar do pesquisador não pode se deter no universo particular da questão
jurídica, a compreensão de que a ordem jurídica deve ser lida e apreendida sob a lente da Constituição,
14
de modo a realizar os valores nela consagrados, ou seja, a reinterpretação de seus institutos sob uma
ótica constitucional.8
Parte II – A discussão teórica do tema - Corresponde ao corpo do trabalho em que o assunto é
apresentado e demonstrado, na seqüência lógica estabelecida no Sumário. Compreende os itens e
subitens, a discussão das hipóteses jurídicas que se pretendem comprovar. Pressupõe uma exposição,
demonstração e argumentação de idéias, a partir de uma linha de raciocínio dedutivo do tema escolhido
apontando para a comprovação da temática do trabalho.
A lógica do raciocínio dedutivo é aplicada a cada item do trabalho. O primeiro parágrafo traduz o
pensamento do ser demonstrado nos demais parágrafos, sendo estes apoiados na idéia central. A
continuidade da discussão levará inevitavelmente à síntese integradora.
O emprego do raciocínio dedutivo acompanha todo o trabalho. O pesquisador fundamenta os pressupostos
teóricos de sua pesquisa, expressa a idéia síntese, a comprovação da tese que produziu. Sempre que
necessário, recorre-se ao uso de citações da legislação, doutrina e jurisprudência, que se tornam a
fundamentação teórico-jurídica do que se pretende comprovar com o estudo do tema. Inserir citações não dá
tecnicidade ou argumentação ao texto. Importa que a citação, literal ou parafraseada, esteja contida no plano
do texto, seja de raciocínio complementar, seja passível de comentário conclusivo do pesquisador. A simples
transcrição de artigos ou posicionamentos jurídicos, sem a devida contextualização, além de prejudicar o
desenvolvimento do trabalho, em nada lhe acrescenta, a não ser o tratamento descritivo que deve ser evitado
num trabalho de natureza científica.
O uso da argumentação como forma de comprovação deve ser vista com extremo cuidado, pois uma das
características do discurso científico é nada afirmar sem comprovar ou justificar 9. Comprova-se primeiro
com fatos empíricos, observáveis, e, em seguida, com argumentos racionais e com os chamados argumentos
de autoridade – de autores, doutrina, teorias científicas, jurisprudências – evitando-se as afirmações gratuitas
e manifestações de cunho pessoal sem respaldo na bibliografia utilizada.
Devem-se evitar também a subdivisão excessiva e os detalhamentos inúteis que apenas somam número de
linhas, sem nada acrescentar ao trabalho. Não devem ser trazidos exemplos, fatos recentes ou experiências
próprias. O texto é de natureza técnica, o pesquisador é impessoal em sua análise, daí os verbos serem
conjugados na 3ª. pessoa. No desenvolvimento do trabalho devem ser buscados os raciocínios lógicos e
coerentes que resultarão na análise e reflexão da temática proposta pelo autor.
_____________________________________________________________________________________
7. Considerações finais
É o momento em que o autor se posiciona integralmente diante do tema estudado. Constitui-se em ponto de
convergência natural de tudo quanto antes foi desenvolvido. É um retorno à Introdução, uma passagem por
seu Desenvolvimento, sendo uma resultante que expresse a síntese da pesquisa realizada. Resgata-se a
problematização da pesquisa e demonstra-se o que foi esclarecido ao longo de sua argumentação. Trata-se de
um texto relativamente curto, enunciando o que se expôs e comprovou na trajetória percorrida. Na correta
definição de Andrade10 “é a menos extensa, porquanto não admite nenhum fato novo, nenhum argumento
novo”. É uma síntese interpretativa dos principais argumentos apresentados. Compõe-se de uma estrutura
específica e de caráter pessoal, não se incluindo nenhuma citação ou referência, direta ou indireta, à
legislação, doutrina ou posição jurisprudencial de qualquer autor específico, mantendo-se a impessoalidade
do texto no uso dos verbos na 3ª pessoa. A conclusão é a finalização de todo trabalho.
8
CANOTILHO, J.J.Gomes;MOREIRA, Vital apud BARROSO, Luís Roberto. Neoconstitucionalismo e
constitucionalização do direito. Revista da EMERJ, v.9. nº 33, 2006, p.68.
9
SALOMON, Délcio Vieira. Como fazer uma monografia. 3ª. Ed. São Paulo: Martins Fontes, 1994
10
ANDRADE, Maria Margarida de. Como preparar trabalhos para cursos de pós-graduação – noções práticas. 5.ed.
São Paulo: Atlas, 2000, p. 152
15
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Procurou-se, ao longo do trabalho, demonstrar a permanência da questão ideológica no pensar do
Direito. Sem que fosse o objetivo principal, a busca de definição completa do fenômeno ideológico,
evidenciou-se, nos diversos momentos da experiência jurídica, a maneira pela qual a ideologia aparece
mascarada no pressuposto da vontade natural, do contraponto sociológico, na necessidade econômica ou
ainda na aspiração política.
Ao escolher o jusnaturalismo e o positivismo como elementos essenciais do fenômeno jurídico,
comprovou-se a perenidade do substrato ideológico tanto no direito natural como na concepção positivista.
É certo também não se poder afirmar a prevalência da ideologia sobre essas vertentes jurídicas.
A função ideológica da teoria jusnaturalista, enquanto defensora de um idealismo de atos e condutas,
ao longo da história, acomodou-se aos movimentos sociais, ainda que fornecendo a medida do sonho para a
realização dos anseios humanos, nas diferentes formas de convivência humana experimentada pela
humanidade. Da pureza cristã da salvação, o idealismo da revolução francesa, aos modernos movimentos de
recuperação de valores éticos, subsiste a noção do mais puro direito natural.
Quanto ao direito positivo, mesmo transmudado em vários matizes, encontrou no contexto social a
justificação para sua elaboração. Mesmo a experiência da teoria pura do direito tenha estabelecido divisor
fundamental para compreensão do fenômeno jurídico, não faltaram ideólogos e pensadores buscando, no
conjunto das relações sociais, as justificativas para um Direito mantenedor de situações sócio-econômicas
produzidas para controle daquelas relações.
Depreende-se também que essas correntes, antes de se conflitarem, convergem, na medida em que o
movimento histórico tem confirmado a permanência de um direito natural na legitimação do direito positivo.
Se, eventualmente, ao sabor de novas formulações sociais, o direito positivo acaba eclipsando o direito
natural, permanece o substrato ideológico em determinadas uniformidades da conduta humana oriunda de
uma força divino-natural.
Não há como renunciar às regras, aos limites, às normas de convivência social. Elas integram o
próprio senso comum do homem, sedimentado por toda sua história de reconhecimento do mundo
circundante. Porém, é na elaboração das regras onde se afigura com maior intensidade a ideologia, que os
conceitos de valor sobre os objetos tornam-se postulados do ordenamento jurídico de qualquer grupo social.
Conclui-se que o Direito, por depender de fatos sociais que constituem a eficácia do sistema
normativo em seu conjunto e sendo também revestido de uma ideologia específica, pode ser, finalmente,
entendido com ideologia, mais precisamente, como uma ideologia específica do poder.
8. Referências
Parte obrigatória de qualquer trabalho científico, diz respeito ao material utilizado na pesquisa. Trata-se da
relação sistematizada das obras que foram consultadas, gerais ou específicas, abrangendo livros, revistas
especializadas, periódicos, publicações oficiais, Internet que serviram de fundamento teórico para o
desenvolvimento do estudo.
A relação de todas as fontes utilizadas – textualmente citadas ou parafraseadas pelo autor – deve compor as
referências, devendo ser sistematizada em ordem alfabética e redigida conforme disposto nas normas da
ABNT.
BARROS, Aidil Jesus da Silveira; LEHFELD, Neide Aparecida de Souza. Fundamentos de metodologia
científica: um guia para iniciação científica. 2. ed. São Paulo: Makron Books: Prentice Hall, 2000
BASTOS, Lília da Rocha; PAIXÃO; Lyra; FERNANDES, Lúcia Monteiro. Manual para elaboração de
projetos e relatórios de pesquisa, teses e dissertações. 3. ed. Rio de Janeiro: Zahar, 1979.
BEAUD, Michel. A arte da tese: como preparar e redigir uma tese de mestrado, uma monografia ou qualquer
outro trabalho universitário. Trad. Glória de Carvalho Lins. 4. ed. Rio de Janeiro: Bertrand, 2002.
BITTAR, Eduardo Carlos Bianca. Metodologia da Pesquisa Jurídica. 2. ed. São Paulo: Saraiva, 2002.
CASTILHO, Maria Augusta de. Roteiro para elaboração de monografia em ciências jurídicas. 3. ed. São
Paulo: Sugestões Literárias, 2002.
CERVO, Amado; BERVIAN, Pedro. Metodologia Científica. 5. ed. São Paulo: Prentice Hall, 2002.
ECO, Umberto. Como se faz uma tese em ciências humanas. Trad. Ana Falcão Bastos e Luís Leitão. 2. ed.
Lisboa: Presença, [1977]
HÜHNE, Leda Miranda. Metodologia Científica: caderno de textos e técnicas. 7. ed. Rio de Janeiro: Agir,
2002.
LEVENTOGLU, Izabel; BARBOSA, Ari Francisco; RIBEIRO, Marcus Tadeu Daniel. A pesquisa científica.
Rio de Janeiro: Rio, 2004.
MARCONI, Marina de Andrade. Metodologia Científica: para o curso de Direito. 2. ed. São Paulo: Atlas,
2001.
MARCONI, Marina de Andrade; LAKATOS, Eva M. Técnicas de pesquisa. 3. ed. São Paulo, Atlas, 1996.
MEZZAROBA, Orides; MONTEIRO, Cláudia Sevilha. Manual de Metodologia da Pesquisa no Direito. São
Paulo: Saraiva, 2003.
NASCIMENTO, Dinalva Melo do. Metodologia do trabalho científico: teoria e prática. Rio de Janeiro:
Forense, 2002.
RUIZ, João Álvaro. Metodologia científica: guia para eficiência nos estudos. São Paulo: Atlas, 1980.
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