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e posero-na na porta | da praça, so o portal. assi lho desfez da mente | como desfaz água sal.
Em aquela praç’ havia | um prado mui verd’ assaz, E da Virgem groriosa | nunca depois se nembrou,
em que as gentes da terra | iam tẽer seu solaz mas da amiga primeira | outra vez se namorou,
e jogavam a pelota, | que é jogo de que praz e per prazer dos parentes | logo com ela casou,
muit’ a homẽes mancebos | mais que outro jog’ atal. e sabor do outro mundo | leixou polo terrẽal.
Sobr’ aquest’ ũa vegada | chegou i um gram tropel Poi-las vodas forom feitas | e o dia se saiu,
30 de mancebos por jogarem | a pelot’, e um donzel deitou-s’ o nóvio primeiro | e tam toste s’ adormiu;
andava i namorado, | e tragia seu anel e el, dormindo, em sonhos | a Santa Maria viu,
que sa amiga lhe dera, | que end’ era natural. que o chamou mui sanhuda: | “– Ai meu fals’ e
mentiral!,
R4 33-36 [Refrão = vv. 1-4]
R12 97-100 [Refrão = vv. 1-4]
Este donzel, com gram medo | de xe lh’ o anel torcer
quando feriss’ a pelota, | foi buscar u o põer XIII de mi porque te partiste | e fuste filhar molher?:
podess’; e viu a omage | tam fremosa parecer, 102 mal te nembrou a sortelha | que me dést’; ond’ há
e foi-lho meter no dedo, | dizend’: “– Hoimais nom m’ mester
enchal que a leixes e te vaas | comigo a comoquer,
104 se nom, daqui adeante | haverás coita mortal”.
R5 41-44 [Refrão = vv. 1-4]
R13 105-108 [Refrão = vv. 1-4]
daquela que eu amava, | ca eu be-no jur’ a Deus
que nunca tam bela cousa | virom estes olhos meus; Logo s’ espertou o nóvio, | mas pero nom se quis ir;
porém daqui adeante | serei eu dos servos teus, e a Virgem groriosa | fez-lo outra vez dormir,
e est’ anel tam fremoso | ti dou porend’ em sinal”. que viu jazer ontr’ a nóvia | e si pera os partir,
chamand’ a el mui sanhuda: | “– Mao, falso, desleal,
R6 49-52 [Refrão = vv. 1-4]
R14 113-116 [Refrão = vv. 1-4]
E, os gẽolhos ficados | ant’ ela com devoçom,
dizendo avemaria, | prometeu-lhe log’ entom vês?: e por que me leixaste | e sol vergonha nom hás?;
que des ali adelante | nunca no seu coraçom mas se tu meu amor queres, | daqui te levantarás,
outra molher bem quisesse | e que lhe fosse leal. e vai-te comigo logo, | que nom esperes a crás;
erge-te daqui correndo | e sal desta casa, sal!”
R7 57-60 [Refrão = vv. 1-4]
R15 121-124 [Refrão = vv. 1-4]
Pois feit’ houve sa promessa, | o donzel logo s’ ergeu,
e a omagem o dedo | co-no anel encolheu; Entom s’ espertou o nóvio, | e desto tal medo prês
e el, quando viu aquesto, | tam gram pavor lhe creceu que s’ ergeu e foi sa via, | que nom chamou dous nem
que diss’ a mui grandes vozes: | “– Ai Santa Maria, três
val!” homẽes que com el fossem; | e per montes mais dum
mês
R8 65-68 [Refrão = vv. 1-4] andou, e em ũ’ ermida | se meteu cab’ um pinhal,
As gentes, quand’ est’ oírom, | correndo chegarom i R16 129-132 [Refrão = vv. 1-4]
u o donzel braadava, | e el contou-lhes des i
como vos já dit’ havemos; | e conselharom-lh’ assi: u pois em toda sa vida, | per com’ eu escrit’ achei,
que ordem logo filhasse | de monges de Claraval. serviu a Santa Maria, | madre do muit’ alto rei,
que o levou pois consigo | per com’ eu creo e sei,
R9 73-76 [Refrão = vv. 1-4] deste mund’ a paraíso, | o reino celestial.
Que o fezesse cuidarom | logo todos dessa vez; A Virgem mui groriosa,
mas, per conselho do demo, | ele doutra guisa fez, reinha espirital,
que o que el prometera | aa Virgem de gram prez, dos que ama é ceosa,
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REFERÊNCIAS
CASTRO, Bernardo Monteiro de. As cantigas de Santa Maria: um estilo gótico na lírica ibérica medieval. Rio de
Janeiro: EdUFF, 2006.