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1.

Tipos de Argumentos

A classificação dos discursos argumentativos varia bastante conforme os autores. Vamos centrar a nossa atenção em apenas quatro
tipos:
- Dedutivos
- Indutivos
- Analógicos
- Falaciosos

Argumentos dedutivos (tipo silogísticos). Nestes argumentos a verdade das premissas assegura a verdade da conclusão. Se as
premissas forem verdadeiras e o seu encadeamento adequado, a conclusão será necessariamente verdadeira. Os argumentos
dedutivos não acrescentam nada de novo ao que sabemos.

Exemplo:
Todos os homens são mortais. João é homem. Logo, João é mortal.

Argumentos indutivos. Neste caso, a conclusão ultrapassa o conteúdo das premissas. Embora estas possam ser verdadeiras, a
conclusão é apenas provável .

Exemplo:
Todos banhistas observados até hoje estavam queimados pelo sol. Logo, o próximo banhista que for observado estará queimado
pelo sol. (argumento indutivo - generalização, previsão)

Argumento por Analogia. Neste tipo de argumentos parte-se da semelhança entre duas coisas, para se concluir que a propriedade
de uma é a mesma que podemos encontrar na outra. As diferenças especificas são ignoradas.

Exemplo:
Marte é um astro como a Terra. A Terra é habitada. Logo, Marte é também habitado.

2. Falácias Informais

Distinção entre falácias formais e Informais:


a) as falácias formais são constituídas por raciocínios inválidos de natureza dedutiva.
b) as falácias informais compreendem os restantes tipos.

Falácias cujas premissas, sob o ponto de vista lógico, não são relevantes para a conclusão. O importante é o seu impacto
psicológico:
Apelo à Piedade ( Argumentum ad Misericordiam). Faz-se apelo à misericórdia do auditório de forma a que a conclusão seja
aceite.

Exemplo: Sr. Juiz não me prenda, porque se o fizer os meus filhos ficam desamparados.

Apelo à Ignorância (Argumentum ad Ignorantiam). Utiliza-se uma premissa baseada na insuficiência de evidências para sustentar
ou negar uma dada conclusão.

Exemplo:
1. Ninguém provou que Deus existe. Logo, Deus não existe.
2. Ninguém provou que Deus não existe. Logo, Deus existe.

Apelo à Força ( Argumentum ad Baculum). Pressão psicológica sobre o auditório.

Exemplo: As minhas ideias são verdadeiras, quem não as seguir será castigado.

Apelo à Autoridade ( Argumentum ad Verecundiam). Faz apelo à autoridade e prestígio de alguém para sustentar uma dada
conclusão.

Exemplo: Einstein, o maior génio de todos os tempos, gostava de batatas fritas. Logo, as batatas fritas são o melhor alimento do
mundo.

Contra a Pessoa ( Argumentum ad Hominem). Coloca-se em causa a credibilidade do oponente, de forma a desvalorizar a
importância dos seus argumentos.
Sofismas lógicos:

Petição de Princípio (Petitio Principi). Pretende-se provar uma conclusão, partindo de uma premissa que é a própria conclusão.

Exemplo: Toda a gente sabe que as autarquias são corruptas. Por isso não faz sentido provar o contrário.

Falsa Causa (Post hoc ). A conclusão é extraída de uma sucessão de acontecimentos.

Exemplo: O dinheiro desapareceu do cofre depois do João ter saído da loja. Logo....

Falso Dilema. Apenas são apresentadas duas alternativas, sendo omitidas todas as outras.

Exemplo: Quem não está por mim, está contra mim.

Falácias silogísticas:

Quatro termos

Termo médio não distribuído

Ilícita maior – quando o termo maior (T) está distribuído na conclusão e não está distribuído na premissa.

Ilícita menor – quando o termo menor (t) está distribuído na conclusão e não se encontra distribuído nas premissas.

Filosofia, Retórica e Democracia

Retórica, democracia...e sofistas! Que relação?··-


Nas sociedades democráticas, o regime político deve ser baseada no diálogo e na procura colectiva das
melhores soluções para os problemas humanos, assim na democracia o poder obtém-se através da
palavra, usada com persuação, nas assembleias.
Os sofistas eram conhecidos como mestres da retórica, ou seja, dedicavam-se à tarefa de ensinar
conhecimentos gerais, gramática e a arte de eloquência aos cidadãos candidatos à participação activa
na vida política, pois a retórica é a arte de persuadir através da palavra, a arte de falar com eloquência
com o objectivo de conseguir o assentimento ou convencimento do auditório.
Deste modo, a democracia depende da retórica, visto que através do confronto de ideias e da
persuação chega-se a um consenso que permite assim resolver os problemas das sociedades.

A maneira de trabalhar a retórica é diferente entre sofistas e filósofos;


Sofistas (professores que andavam pelas cidades; foram muito importantes):

- contactavam com pessoas e culturas diferentes circulavam livremente, ou seja, nunca estavam no
mesmo sítio
- ensinavam as pessoas (candidatos a participar na vida política) a defender as suas ideias, através da
utilização correcta das palavras
- Trouxeram o acesso à cultura, para quem podia pagar -» partir daí, os sofistas passaram a ser mal
vistos pois ganhavam dinheiro à custa da formação que davam
- começaram a utilizar a retórica segundo os seus interesses, ou seja, de uma maneira falaciosa
(interessavam-se mais pelas técnicas de eloquência, pela beleza do discurso).

Filósofos:

- interessavam-se mais pela investigação


- fugiam às necessidades materialistas
- visavam o esclarecimento e a compreensão, utilizando uma linguagem clara que promovesse a
procura do conhecimento

Na Grécia, qualquer pessoa podia exprimir as suas ideias, dizer o que estava mal ou bem - nascimento
da democracia (igualdade de deveres e direitos; justiça para todos; liberdade de expressão – para
aqueles que participavam na organização estrutural das cidades)

Democracia – “poder do povo”


Os Dois Usos da Retórica

O conceito de retórica é conhecido: caracteriza-se pela a arte de bem falar diante de um público
para ganhar a sua causa. Isto vai da persuasão à vontade de agradar: tudo depende da causa que
se apoia e do que motiva alguém a dirigir-se a outrem. O carácter argumentativo está presente
desde o início: justificamos uma tese com argumentos de forma a torná-los mais credíveis, mas o
adversário faz exactamente o mesmo: neste caso, a retórica não se distingue em nada da
argumentação. Para os antigos, a retórica englobava tanto a arte de bem falar – ou eloquência –
como o estudo do discurso ou as técnicas de persuasão até mesmo de manipulação.

Podemos classificar a retórica em dois sentidos opostos: o bom e o mau uso da retórica.

Fala-se de bom uso da retórica, ou de retórica branca, quando se permite que os elementos do
auditório ajuízem e se expressem de modo congruente e crítico. A este respeito fala-se de uso ético
da retórica ou de persuasão. Relativamente ao mau uso da retórica ou retórica negra, este aplica-se
quando a argumentação degenera numa forma de ludibriar o auditório, em função de abuso da
retórica ou de manipulação.

Persuadir não é a mesma coisa que manipular. A grande diferença reside na intenção do orador. No
caso da persuasão, o objectivo é apenas provocar a adesão, apelando a factores racionais e
emocionais. O poder da persuasão é tão antigo como a humanidade. O sucesso da persuasão vai
além da força dos seus argumentos, diz respeito também a personalidade credível e responsável do
orador. O modo como os outros o encaram enquanto profissional e pessoa e o timing certo (hora H)
e adequado são factores decisivos. Por exemplo, a altura em que se pede um aumento de salário é
tão ou mais importante do que o modo como o faz.

O vestuário, a voz, a simpatia, a energia e o entusiasmo são também imprescindíveis e


determinantes.

No caso da manipulação, existe uma intenção deliberada de desvalorizar os factores racionais,


apelando a uma adesão estritamente emocional. No próprio discurso é utilizado um arsenal de
argumentos como técnica de convencimento, ainda que possam ser na sua maioria ilusórios. Posto
isto, a manipulação é encarada como um discurso baseado em falácias, onde é patente a intenção
de confundir o auditório.

Nas técnicas de manipulação actuais, os oradores criam parte de uma vasta encenação, onde
recorrem a uma enorme variedade de armas para seduzir, encantar e manipular. As formas
manipulação mais conhecidas são as realizadas pelos regimes ditatoriais. Podemos, neste caso,
identificar facilmente quem as faz, com que objectivos e os meios que utiliza. Trata-se de um
manipulação com rosto, que coloca desde logo os cidadãos de sobreaviso em relação àqueles que as
planeiam e executam. A censura, a propaganda e a violência repressiva sobre os "desviantes" são
os seus meios privilegiados. Em Portugal, através da censura, a informação era manipulada não
apenas tendo em vista omitir factos relevantes, mas também deformar o conteúdo da informação
veiculada de modo a que a mesma se ajuste às ideias dos censores. A censura foi um dos
instrumentos mais utilizados pela ditadura (1926-1974) para a manipulação da opinião pública: a
informação que era autorizada era previamente mutilada. A restante era simplesmente proibida.

Outra das formas de manipulação que assombrou o mundo ocorreu na Alemanha. O ditador Adolfo
Hitler foi o primeiro a integrar a retórica em gigantescos espectáculos de propaganda, produzindo
um poderoso efeito hipnótico sobre os auditórios. Segundo Hitler “Quanto maior é a mentira, maior
é a chance ela ser acreditada”.

Outro aspecto que ainda não havia sido mencionado e com o qual somos constantemente
bombardeados é a publicidade. Sempre que ligamos a televisão é inevitável o confronto com um
anúncio sobre uma qualquer marca. Todo o conjunto de cores, linguagem e até mesmo a música
chamam a nossa atenção. O marketing e a publicidade são peritos na construção de discursos que
nos seduzem e fascinam exercendo uma pressão da qual é sensivelmente impossível resistir.

A meu entender, considero que empregar diversos utensílios como a mentira e o engano afim de
atingir os seus propósitos, omitindo factos importantes e não dando ao auditório autonomia para
tomar ele mesmo as suas próprias decisões conscientes, é uma total falta de ética por parte de
quem o faz. Afinal de contas quem é que deseja ser enganado, ludibriado, aldrabado? Eu, pelo
menos não. E, além disso, gosto de tomar as minhas próprias decisões sem ser influenciada e\ou
manipulada. Por esta linha de raciocínio, sou a favor da retórica branca. Penso que a retórica pode
ser, aliás deve ser usada, mas a sua finalidade não deveria vir apetrechada de segundas intenções
maioritariamente negativas. 

Cada indivíduo tem o direito de escolher o que quer para si e para a sociedade que o rodeia de livre
e espontânea vontade. Porque as pessoas não são marionetas.

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