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Rio de Janeiro
2021
Uma análise do poema “O Juiz Democrático” de Bertold Brecht perpassando pelo
conceito de política dos Sofistas e de Aristóteles
Do ponto de vista dos Sofistas, segundo Cassin, uma das formas de compreender a
política é por meio da linguagem. No entanto, em O Juiz Democrático, nota-se que o italiano
possui uma dificuldade com a língua, e por isso, em todos as respostas de seu exame, ele
repete uma única coisa: um número, “1492”. Dessa forma, constata-se um longo embate entre
o juiz e o italiano, visto que o italiano não praticava a retórica e, segundo o pensamento dos
Sofistas, a retórica é o elemento fundamental que perpassa o conceito de política. Visto isso,
para tomar decisões no meio da política, era imprescindível fazer uso da retórica, do debate,
do discurso, uma vez que só se vence um debate através da arte de bem falar, de bem
argumentar para, assim, alcançar a verdade, característica que o italiano não domina e, por
isso, o italiano é eliminado várias vezes no exame.
Por outro lado, é possível explorar o poema também pela perspectiva do grande
filósofo Aristóteles, através de seu livro Política, em que decorrem os conceitos da relação da
política. Desse modo, tendo em vista que Aristóteles classifica como fazer política “aqueles
que pensam como os seres humanos devem ser e, principalmente, como os seres humanos
agem no mundo”. Nessa perspectiva, compreende-se que no conto do Brecht, a relação de
embate entre o juiz e o italiano pode ser descrita a partir dos conceitos de philia e ética, sendo
a ética, um conceito que antecede a política, mas não a determina, como aponta Aristóteles.
Ao longo do poema ocorre uma atitude do juiz que se baseia no exercício do conceito de
philia, de Aristóteles, uma vez que ela se baseia em “agir eticamente perante o outro”, ou seja,
uma compreensão do juiz acerca do italiano possuir um desconhecimento daquela língua que
percorre pela construção de um senso de comunidade, levando em consideração o outro nas
suas ações no mundo, visto que o italiano trabalhava duro como o juiz e os outros cidadãos,
exercendo e compartilhando o mesmo bem comum.
Por isso, a ação “compreensiva" do juiz com o italiano devido ao seu esforço e o fato
dele trabalhar duro para ganhar a vida se assemelha a relação com a ética de Aristóteles, já
que a relação da ética com a política tem a ver com uma forma de “boa conduta com o outro”.
Diante disso, pode-se dizer que foi a atitude do juiz, em comparação aos conceitos dos
Sofistas e de Aristóteles, que fizeram com que o juiz tivesse uma atitude democrática e
“empática” pelo italiano que há meses estudava e trabalhava duro para conseguir a sua
cidadania.
Além disso, nota-se também uma espécie de “hierarquia de alma” de acordo com a
ideia de Platão, podendo ser visto na cena em que Macedo fala que o criado não escutaria a
ave por não ter um “preparo científico” (ASSIS, p. 5). Assim, pode-se associar a imagem do
criado a dos não filósofos, uma vez que só os filósofos obtinham desde o nascimento a
propensão a pensar, a conhecer o mundo e também a fazer filosofia, já que a filosofia era,
segundo Platão, o ponto mais superior de se conhecer o mundo.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
Cassin, Barbara. “Como a política é uma questão de logos”. In O Efeito Sofístico. Editora 34,
2005, p. 65-75.
Platão. “A República” – livros I e VII. São Paulo: Martins Fontes.
Aristóteles. “Política”. Livro I, capítulos 1 e 2.; Livro III, capítulos 1, 2, 3, 4 e 5.
Amóra, A. L. A. C. “Mas há mesmo lojas de belchior?' Considerações sobre os problemas
metafísicos em Ideias de Canário”. In: XIV Congresso Internacional da Associação Brasileira
de Literatura Comparada - ABRALIC, 2015, Belém do Pará. Caderno de resumos do XIV
congresso internacional da ABRALIC. Belém do Pará: ABRALIC / UFPA, 2015. -
https://abralic.org.br/anais/arquivos/2015_1455908425.pdf último acesso: 16/10/2021.