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FUNDAÇÃO EDSON QUEIROZ

UNIVERSIDADE DE FORTALEZA
CENTRO DE CIÊNCIAS TECNOLÓGICAS

ESTACAS DE DESLOCAMENTO1

Charleide Lemos de Almeida, Francisco Xavier,


Juarez Braga, Thiago de Aquino Távora Torres2
Professor Dr. Marcos Fábio Porto de Aguiar3

RESUMO

O presente trabalho tem como objetivo apresentar e discutir aspectos


relacionados ao conjunto de soluções em fundações denominado “Estacas de
Deslocamento”, composto pelas estacas tipo Franki, de madeira e pré-moldadas de
concreto e aço. Foram abordados detalhes de confecção, controle de qualidade, métodos
construtivos e controles de campo.

PALAVRAS-CHAVE: FUNDAÇÕES, ESTACAS DE DESLOCAMENTO,


ESTACA FRANKI, ESTACA DE MADEIRA, ESTACAS PRÉ-MOLDADAS.

1
Trabalho apresentado como avaliação complementar da disciplina de Fundações, do Curso de
Engenharia Civil da Universidade de Fortaleza (UNIFOR).
2
Estudante(s) do referido Curso de Engenharia Civil da Universidade de Fortaleza (UNIFOR).

3
Engenheiro Civil pela Universidade Federal do Ceará, doutor em engenharia civil na área de
Concentração em Geotecnia (COPPE/Universidade Federal do Rio de Janeiro), mestre em Geotecnia e
Infraestrutura pela Universidade de Hannover - Alemanha (1997).
1. Introdução

O emprego de fundações em estacas remonta à pré-história, com a construção de


palafitas. No livro de Straub publicado em 1964 sobre a história da Engenharia Civil,
encontram-se algumas passagens que ilustram a utilização das estacas no passado. Na
construção de estradas, “em regiões pantanosas ou em regiões em que os materiais
rochosos eram escassos, os romanos recorriam a passadiços de madeira apoiados em
estacas”.
Na Idade Média, o dominicano Fra Giocondo (1433-1515) sugere, na
reconstrução da Ponte della Pietra, Verona, a proteção da fundação de um pilar no meio
do rio por meio de uma cortina de estacas-prancha. Esse mesmo construtor utiliza
estacas na fundação da ponte de Rialto, Veneza.
Em 1485, o italiano Leon Bathista Alberti publica um tratado de construção,
“De re Aedificatoria”, com algumas especificações referentes às estacas: a largura do
estaqueamento deve ser igual ao dobro da largura da parede a ser suportada; o
comprimento das estacas não deve ser menor de 1/8 da altura da parede e o diâmetro
não deve ser menor de 1/12 do comprimento das estacas.
No final do século XVIII o engenheiro francês Jean Rodolphe Perronet,
responsável pela construção das famosas pontes de Neuilly e da Concórdia sobre o
Sena, publicou um ensaio “Sur les pieux et sur les pilots ou pilotis” no qual se
encontram, além de regras práticas sobre comprimento, seção transversal, espaçamento
e qualidade das estacas, algumas indicações sobre a resistência à cravação:
Dentro deste diverso panorama na história da engenharia de fundações,
percebemos o quanto evoluímos e continuamos a evoluir desde então, seja no tocante
aos aspectos construtivos e novas tecnologias, utilização de novos materiais, melhoria
nas concepções e modelos de cálculo, entre outras vertentes que circundam esta ampla
área da engenharia, chamada “um misto de ciência e arte” por Dirceu Velloso e
Francisco de Rezende Lopes.
Neste trabalho abordaremos apenas um pequeno conjunto de soluções em
fundação formado pelas chamadas “Estacas de Deslocamento”. Buscamos elucidar ao
máximo os detalhes da evolução de todos os processos envolvidos desde à confecção
até a cravação das estacas.
2. Estacas Franki

Por Charleide Almeida.

      A estaca tipo Franki foi introduzida como fundação há mais de 85 anos por
Edgard Frankignoul na Bélgica. Ele desenvolveu a ideia de cravar um tubo no terreno
pelo impacto de golpes do pilão de queda livre numa bucha (tampão) de concreto seco
ou seixo rolado compactado, colocado dentro da extremidade inferior do tubo. Sua ideia
teve sucesso e este método de execução espalhou-se pelo mundo, mostrando eficiência e
produzindo uma estaca de elevada carga de trabalho. Frankignoul constituiu uma
empresa para explorar as patentes, registradas entre 1909 e 1925.
    Este tipo de estaca foi empregado pela primeira vez no Brasil em 1935, na
Casa Publicadora Baptista no Rio de Janeiro. Em são Paulo, em 1936, foram executadas
as estacas no portal de entrada do Túnel Nove de Julho. A partir de 1960, após ter
expirado a licença de patente, o método Franki entrou para domínio público.
   A execução de uma estaca tipo Franki para ser bem-sucedida depende da
observância ao método executivo, do uso de equipamentos adequados e de mão-de-obra
especializada e experiente. Por esta razão o conteúdo deste parágrafo dedica-se à
descrição do método de execução, dos equipamentos envolvidos na execução e da mão-
de-obra especializada que opera os equipamentos e executa a estaca. O parágrafo aborda
também métodos alternativos de execução, principalmente no que diz respeito à
cravação com tubo aberto comumente chamado de cravação com tração.
Também são apresentados os problemas executivos causados por certos tipos de
solo que podem afetar a qualidade da estaca, assim como as técnicas utilizadas na
solução destes problemas.
Por fim se discute o emprego da estaca tipo Franki e os fatores que influem na
sua escolha como fundação.

2.1. O método Franki

Na execução de uma estaca Franki pode-se destacar as seguintes fases:

- Cravação do tubo Franki;


- Execução da base alargada;
- Colocação da armadura;
- Execução da concretagem do fuste com a extração do tubo Franki.

  A elevada potência de cravação do Processo Franki é dada pela variação da


altura de queda do pesado pilão Franki. A altura é variável e assim se adapta
adequadamente a resistência das camadas resistentes a serem atravessadas pelas estacas.
  Quando no solo existe camada resistente com matacões o Processo Franki
permite o emprego da trepanação.

Cravação do tubo FRANKI:

1. Bucha seca e pilão FRANKI caindo em queda livre;


2. Chapa de vedação (marmita) e martelo diesel;
3. Tubo com ponta aberta. O tubo é cravado com auxílio de tração dos cabos e o
solo no interior do tubo sendo retirado com uma vasilha coletora (piteira);
4. a) Abertura do furo por perfuração mecânica;
    b) Colocação do tubo   FRANKI no furo aberto previamente.

2.2. Sequência executiva

1 - Cravação do tubo Franki até ser atingida a região dos matações;


  - Retirada da bucha e início da Trepanação com o pilão Franki;
2 - Trepanação total da camada de matações;
  - Cravação do tudo Franki à tração (se possível);
  - Se o tubo passar, continua normalmente a execução da cravação do tubo
Franki com bucha;
3 - Se o tubo não passa, enche-se o espaço aberto na região dos matações com
solo;
 - Retira-se o tubo Franki
4 - Crava-se outro tubo Franki (Ø<Ø inicial) com cravação normal passando
pelo trecho trepanado anteriormente;
5 - Execução da concretagem da estaca.
2.3. Base alargada

  A principal característica do processo Franki é permitir o alargamento da base,


o que aumenta consideravelmente a capacidade de carga da estaca  ou reciprocamente,
permite obter uma mesma capacidade de carga com profundidade menos em relação a
uma estaca que não tenha a base alargada.
  Este acréscimo de capacidade de carga resulta do aumento da seção da estaca,
bem como de uma melhoria das características mecânicas do solo fortemente
compactado em torno da base. O aumento da seção da estaca nos é dado pelo volume de
concreto injetado na base.

VOLUME DE BASE (litro)


ESTACA 1
BASES 3 3 4 4 5 6 7
00 50 00 50 20 00 00
9 9 1 2 3 4 6
MÍNIMA 0 0 80 70 00 50 00
9 1 2 3 4 6 7
NORMAL 0 80 70 60 50 00 50
1 2 3 4 6 7 9
USUAL 80 70 60 50 00 50 00
2 3 4 6 7 9 1
ESPECIAL 70 60 50 00 50 00 050
VOLUME ÁREA DA DIÂMETRO DA
DA BASE (I) BASE (m²) BASE b (m)
90 0,212 0,52
150 0,292 0,61
180 0,332 0,65
270 0,43 0,74
300 0,478 0,78
360 0,528 0,82
450 0,608 0,88
540 0,694 0,94
600 0,739 0,97
630 0,785 1
750 0,866 1,05
900 0,985 1,12
1050 1112 1,19
INJETADO COMPACTADO

2.4. Energia mínima

a) Para estaca com diâmetro inferior a 450 mm é necessário que os últimos 90 litros
sejam introduzidos na base com uma energia mínima de 1500 KN.m;
b) Para estacas com diâmetro superior a 450 mm é necessário que os últimos 150
litros sejam introduzidos na base com uma energia mínima de 5000 KN.m.

2.5. Armadura

   A armadura longitudinal, no processo Franki, pode ser melhor distribuída ao


longo do fuste da estaca de maneira a cobrir os diagramas de esforços atuantes.
 O processo Franki necessita de, no mínimo, quatro barras longitudinais para
permitir o controle da concretagem do fuste da estaca.
  O diâmetro das barras depende fundamentalmente do tipo do terreno, bem
como da maneira de como o fuste é concretado. O número máximo de barras é limitado
pelo diâmetro e pelas condições de concretagem das estacas.
 Na armadura longitudinal pode ser usado qualquer tipo de aço, sendo que a
armadura de pé deverá ser sempre em aço CA-25, bem como a espira horizontal, devido
a natureza peculiar de execução da estaca.
  A espira é amarrada e soldada nas barras longitudinais, conforme indicação
abaixo. Em um trecho de 3,00 metros abaixo da cota de arrasamento a espira não pode
ser soldada, ficando apenas amarrada.

2.6. Concreto

  O concreto utilizado no processo Franki, devido à grande energia de


apiloamento, tem característica própria, particular, chegando a ser um traço
experimental.

 Concreto da base alargada:


 O concreto utilizado tem um fator água/cimento variando entre 0,20 a 0,28
(conforme as condições do terreno local) com o seguinte traço:

- 1 saco de cimento de 50 Kg;


- 90 l de areia;
- 140 l de pedra 2 (Estacas Ø <= 400mm) ou
- 140 l de pedra 3 (Estacas Ø >= 400mm).

 Concreto de Fuste - Apiloado:


a) Traço Normal:

O concreto utilizado tem um fator água/cimento da ordem de 0,45 com o


seguinte traço:

- 1 saco de cimento 50 Kg;


- 90 l de areia;
- 80 l de pedra 1;
- 60 l de pedra 2;
- Consumo de cimento: 310 Kg / m³.

b) Traço para carga majorada:

O concreto utilizado tem um fator água/cimento da ordem de 0,45 com o


seguinte traço:

- 1 saco de cimento 50 Kg;


- 88 l de areia;
- 65 l de pedra 1;
- 65 l de pedra 2;
- Consumo de cimento: 325 Kg/m³.

c) Traços Especiais - Solos agressivos:

- 1 saco de cimento 50 Kg1 saco de cimento 50 Kg;


- 63,26 l de areia60,40 l de areia;
- 49,5 l de pedra 144,61 l de pedra 1;
- 49,5 l de pedra 244,61 l de pedra 2;
- Fator a/c = 0,45Fator a/c = 0,45;
- Consumo de cimento: 450 Kg/m³.

 Concreto de Fuste – Vibrado


O concreto utilizado tem de ser plástico com o "slump" compreendido entre 8 e
12 com o seguinte traço:

- 1 saco de cimento 50 Kg;


- 80 l de areia;
- 85 l de pedra 1;
- 35 l de pedra 2;
- Consumo de cimento: 360 Kg/m³.

  Poderá, a critério do engenheiro da obra, ser utilizado um agente retardador de


pega em percentagem a ser determinada, conforme as condições peculiares da obra.
3. Estacas de Madeira
4. Estacas Metálicas

Por Juarez Braga.

Segundo a NBR 6122, as estacas metálicas podem ser constituídas por perfis
laminados ou soldados, simples ou múltiplos, tubos de chapa dobrada ou tubos sem
costuras e trilhos. Essas estacas devem ser retilíneas e seu raio de curvatura não deve ser
maior que 400m ou apresentar flecha máxima de 0,3% do comprimento do perfil.
A solução de fundações em estacas metálicas não é nova, sendo que até há
pouco tempo, por problemas econômicos, se restringia à utilização de trilhos
provenientes da substituição de linhas de trem ou tubulações velhas vendidas no
mercado como sucata, que apresentam as seguintes desvantagens, como a baixa carga
estrutural que esses elementos possuem por serem materiais reutilizados.
No caso de trilhos usados, é frequente a necessidade de composição de dois ou
três trilhos soldados longitudinalmente para se formar uma estaca com capacidade
estrutural maior. Com isso aumenta-se a inércia e a área de aço visando diminuir torções
e flambagem durante a cravação, porém com a desvantagem dos custos elevados;
A utilização no Brasil dos perfis metálicos como elementos de fundações
profundas tem ganhado grandes avanços. Até pouco tempo, as estacas metálicas eram
tidas apenas como soluções alternativas para casos especiais, como exemplo: nos pilares
de divisa, em estruturas de contenções, para atravessar lentes de pedregulhos ou
concreções ou quando se queriam reduzir as vibrações decorrentes da cravação de
estacas de deslocamento. Por este motivo, durante muito tempo houve falta de perfis
adequados no mercado para a utilização em fundações (como alternativo utilizado:
trilhos soldados, tubos metálicos, perfis laminados, perfis soldados).
Este cenário tem mudado, e hoje já há disponíveis perfis de um mesmo grupo,
com mesma altura interna e dimensões externas praticamente iguais; o que permite a
criação de estacas metálicas de seção transversal decrescente com a profundidade. Isso é
possível devido à redução, devido a atrito lateral, da carga resultante na estaca.

4.1. Vantagens e Desvantagens:

As estacas metálicas apresentam vantagens e desvantagens quanto ao seu uso e


ao impacto que causam no próprio terreno e nas áreas que circundam a cravação das
estacas. Desse modo iremos numerar a seguir as vantagens e desvantagens que se
aplicam a esse tipo de estaca de deslocamento.
A ausência de vibração quando se implantam os perfis por meio de percussão ou
como a perfuração com equipamentos de hélice contínua, ou seja, provocam um
pequeno deslocamento do solo. Nesse caso, substituem-se com muita vantagem as
gaiolas de armação por uma peça estrutural de aço, tendo como resultado a consequente
diminuição de mão-de-obra e agilização dos serviços ou ainda reaproveitá-las no caso
de serem utilizadas para serviços temporários. Outra vantagem seria a cravação em
solos de difícil transposição, sem ocasionar o deslocamento de estacas vizinhas já
cravadas (como ocorre em estacas pré-moldadas de concreto e Franki) e sem perdas de
estacas quebradas.
Pode-se ressaltar, também, a resistência a esforços elevados de tração, na
mesma grandeza de cargas de compressão, e de flexão; além de trabalharem cargas
horizontais e cargas combinadas. Um fator importante quanto ao dimensionamento e
aplicação da estaca é a disponibilidade no mercado de grande número de bitolas
possibilitando a otimização entre as cargas atuantes e as cargas resistentes e a facilidade
no manuseio e armazenamento, pois apresentam um menor volume quando comparado
a estacas pré-moldadas de concreto. Quanto a comparação com a estacas pré-moldadas
de concreto, elas se sobressaem devido a ausência de quebras, pois seu limite de
plasticidade é maior do que as estacas de concreto.
Quanto às desvantagens na utilização de estacas metálicas pode ressaltar que
apresentam um alto custo de execução quando comparadas a outros tipos de estacas.
Outro fator que devem ser levados em conta no que diz respeito a solução geotécnica é
o fato do lençol freático na região e a presença de solos corrosivos, pois estes fatores
podem atacar a estrutura de fundação, comprometendo a segurança e viabilidade do
projeto.

4.2. Flambagem e capacidade de carga

Segundo a NBR6122/96, é necessário verificar a flambagem das estacas apenas


quando a tiverem suas cotas de arrasamento acima do nível do terreno, devido a uma
eventual corrosão, ou quando perfurarem solos moles. Desse modo, pode-se concluir
que não a existência de flambagem no caso de estacas que permanecem totalmente
enterradas. No que se diz respeito a capacidade de suporte de carga da estaca metálica,
deve-se levar em conta a seção, perímetro e comprimento das estacas, entretanto, essas
características não são diretamente proporcionais, devendo-se verificar em tabelas os
valores de tensão de escoamento dos perfis em função do material.
Quando nos deparamos com solos de alta resistência, visando a capacidade de
ponta das estacas para perfura-los, pode-se soldar dois segmentos de perfis para
aumentar a área de contato com o solo.

4.3. Processo de cravação

Quanto ao processo de cravação das estacas metálicas, elas podem ser cravadas
por martelos de queda livre, martelos hidráulicos, martelos a diesel, martelos
pneumáticos ou martelos vibratórios. Essa escolha do tipo de cravação vai ser resultante
das características do solo, do comprimento da estaca que se quer utilizar e,
principalmente, do nível de barulho e vibração que ela pode provocar nos centros
urbanos. Desse modo, a escolha do martelo é de fundamental importância para o
processo de execução, pois ele proporcionará um melhor desempenho. Segundo a NBR
6122, para estacas de carga admissível até 1000KN, quando empregado martelo de
queda livre, a relação entre o peso do pilão e o peso da estaca deve ser o maior possível.
Quanto ao controle do processo de cravação, se faz o emprego pela nega,
repique e por carregamento dinâmico.
A nega consiste na penetração permanente de uma estaca causada pela aplicação
de golpes um pilão. Geralmente, ela é medida por uma série de dez golpes , que ao ser
fixada ou fornecida, deve ser sempre acompanhada do peso e da altura de queda do
pilão ou energia de cravação.
O repique consiste na parcela elástica do deslocamento máximo de uma seção da
estaca, decorrente da aplicação do golpe de um pilão.

4.4. Método de execução

No projeto de fundações, as seções e comprimentos dos perfis serão


determinados pelo engenheiro responsável pelo dimensionamento do projeto de
fundações, com base nas características e comportamento dos solos, obtidas por meio de
sondagens SPT ou outros métodos geotécnicos.
Inicialmente, será feito a locação dos pontos de cravação das estacas pela
topografia, que podem ser auxiliados por meios de gabaritos de madeiras, que o
cruzamento das linhas esticadas a partir dele mostrará o eixo das estacas a serem
cravadas. Após a locação, será mobilizada a máquina de cravação com o martelo
adequado de acordo com o tamanho da seção da estaca e a profundidade que se deseja
obter na cravação. No caso de não ter atingido a cota desejada após a cravação, será
necessário a emenda de perfis após a cravação, até que a mesma se encontre na cota de
projeto. Essa emenda será efetuada por meio de uma solda no topo do perfil e outra
solda de duas talas opostas, ou seja, em relação a suas almas. Quanto a execução da
solda, é necessário verificar que a resistência da emenda ficará com a mesma resistência
da estaca, a fim de manter a segurança da estrutura.
Após realizado a cravação e, se necessário, a emenda, será feita a ligação de
estacas e blocos. Nos blocos que tiverem 3 ou mais estacas que não estiverem alinhadas,
a penetração do perfil no bloco será de 20 cm desde que não haja esforços de tração. No
caso de blocos de uma estaca ou de estacas alinhadas, a penetração do perfil terá que ser
de 30 cm. Portanto, para finalizar o processo de execução, será feito provas de cargas
em locais pré-determinados, a fim de verificar a estabilidade e suporte das estacas.
5. Estacas Pré-Moldadas de Concreto
Por Thiago de Aquino T. Torres.

O rígido controle de qualidade que podemos exercer tanto na confecção quanto


na cravação de estacas faz do concreto o material que melhor se adequa a estes fins,
principalmente quando falamos de estacas pré-moldadas.
No tocante à fabricação, as estacas pré-moldadas podem ser confeccionadas em
concreto armado ou protendido, adensado por vibração (método mais comum) ou
centrifugação. Este último utiliza uma forma metálica cilíndrica vazada nas
extremidades, no interior da qual é colocada a armadura e o concreto é regularmente
distribuído. A forma é submetida à uma velocidade de giro constante sobre roletes por
um determinado período de tempo, após o qual um dos lados é ligeiramente levantado
para permitir o escoamento do excesso de água e de finos pela extremidade vazada.
O processo de centrifugação faz com que a massa de concreto se distribua
uniformemente ao longo da face interna da forma, produzindo assim uma estaca circular
de seção vazada. Os agregados são ordenados conforme sua densidade, sendo que o
escape tangencial direciona a água e as partículas mais finas para o centro da peça. Daí
a importância do controle rigoroso do tempo de rotação a fim de evitar a separação total
dos materiais.
Na fabricação de estacas pré-moldadas de concreto, o processo de cura (tanto
para as estacas vibradas como para as centrifugadas) é feito à vapor, de modo a acelerar
a desforma e a estocagem ainda que tal processo acelere o ganho de resistência apenas
nas primeiras horas (o período necessário para o ganho total de resistência permanece o
mesmo).
As estacas pré-moldadas de concreto são fabricadas em diferentes seções
transversais, porém sua viabilidade de fabricação, influenciada por fatores como o peso
unitário da estaca (proporcional ao quadrado do diâmetro ou do lado), é fator limitante
na escolha de seus parâmetros geométricos. Podemos citar:

 Circulares: Maciças (diâmetro máximo de 40cm) ou vazadas (diâmetros


maiores);
 Quadradas (máximo 30cm de lado);
 Hexagonais e Octogonais.
Outro fator importante é o “levantamento” das estacas para posicionamento de
cravação ou para descarga. O ponto de levantamento é calculado a partir da relação de
equilíbrio entre os máximos momentos fletores positivo e negativo. Obtemos assim o
parâmetro (x/l), onde (x) é o ponto de levantamento e (l) o comprimento da estaca. No
caso de um ponto, temos (x/l = 0,29) (levantamento pelo terço), e no caso de dois
pontos temos (x/l = 0,207) (levantamento pelos quintos).
No tocante às armaduras, o cálculo em 30% o valor dos momentos máximos
para compensar eventuais choques na manipulação da estaca, e os estribos devem
possuir menor espaçamento nas extremidades por conta da concentração de tensões
nessas regiões durante a cravação.
Para efeitos de transporte, seu comprimento é limitado a 12 metros por conta dos
impedimentos e exigências legais para o tráfego de estacas maiores. Caso haja
necessidade de maiores comprimentos de estacas, as peças devem ser emendadas. De
acordo com a NBR 6122/10 (Projeto e Execução de Fundações), as emendas em estacas
devem ser preferencialmente do tipo “soldável”, sendo toleradas as emendas por “anéis
metálicos” ou “luvas de encaixe” (tipo macho e fêmea) apenas quando não houver
esforços de tração tanto na cravação como na utilização.
Um problema frequente na confecção de estacas pré-moldadas de concreto diz
respeito ao aparecimento de fissuras (aberturas inferiores a 1mm) e trincas (aberturas
superiores a 1mm) na peça. A não abordagem destes tópicos pela NBR 6122/10, bem
como a carência de limites devidamente normalizados gera grande polêmica entre
projetistas, proprietários e fabricantes de estacas. Quando recusar uma estaca?
No livro Fundações: Teoria e Prática, na seção dedicada às estacas pré-
moldadas, Urbano Rodriguez sugere a adoção dos seguintes parâmetros para aceitação
ou rejeição de estacas total ou parcialmente enterradas:

 Classe 1 – Fissuras Transversais: Segue-se o estabelecido em Anexo


da NBR 7480 para identificação de fissuração nociva. Caso as fissuras
estejam fora das faixas estabelecidas, devem ser marcadas e monitoradas
durante seu içamento e aprumo. Caso as fissuras se fechem até os limites
aceitáveis, a estaca pode ser cravada normalmente;
 Classe 2 – Fissuras Longitudinais: Fissuração rara ao longo do eixo da
peça. Sua ocorrência é suficiente pra a rejeição da estaca;
 Classe 3 – Trincas Transversais: Prenúncio de uma possível superação
do estado elástico das armaduras longitudinais. A estaca deve ser
rejeitada;
 Classe 4 – Trincas Longitudinais: Muito comuns durante a cravação de
estacas vazadas em solo mole, ocorrem por conta da pressão radial na
parte interna da estaca, similar às de um pistão hidráulico. A ponta da
estaca deve ser fechada para evitar essa ocorrência;
 Classe 5 – Desagregações: Ocorrem por motivos diversos, geralmente
pancadas acidentais. As regiões podem ser recuperadas;
 Classe 6 – Ruptura no corpo da Estaca: Caso ocorra durante a
descarga ou o içamento, a estaca pode ser recuperada. Caso ocorra
durante a cravação, deve-se proceder com análise criteriosa e, de acordo
com a causa e a profundidade de ocorrência, a estaca poderá ser extraída,
cortada e recuperada ou abandonada;
 Classe 7 – Esmagamento da Cabeça da Estaca: Similar à situação
anterior, sendo válidas as mesmas precauções. Pode ocorrer devido a
folgas no capacete, deficiência no coxim ou devido à cravação forçada.

5.1. Cravação de Estacas

O processo de cravação de estacas pré-moldadas pode se dar através de


prensagem, vibração ou percussão. Dependendo do tipo de solo, a cravação pode ser
auxiliada por perfuração prévia, a seco ou com o uso de lamas estabilizantes (para
situações de terrenos muito resistentes), ou utilizando-se jato d’água ou de ar
(“lançagem”) para o caso de areias muito compactas. Independentemente dos recursos
auxiliares, o processo final de cravação sempre será por percussão.
O processo de cravação por prensagem foi inicialmente desenvolvido para
viabilizar o reforço de fundações. Passou a ser utilizado para fundações normais quando
da necessidade de se evitar vibrações, barulho e outros inconvenientes. Tal processo
executivo tem grandes vantagens sobre os demais, principalmente por conta da
realização de provas de carga (com até 1,5 vezes a carga de trabalho) em todas as
estacas cravadas dessa forma, conferindo ao estaqueamento um controle de qualidade
ainda não atingido por qualquer outro método.
A cravação por prensagem utiliza macacos hidráulicos montados em estruturas
de reação. Um fator limitante do processo é que o solo deve ter boa capacidade de
suporte já que, inicialmente, a construção ficará assente apenas sobre os blocos de
coroamento, concretados com os furos previstos para a passagem das estacas. Além
disso, a cravação deve ser aos pares, e executada simetricamente em relação ao eixo dos
pilares. As estacas prensadas podem ser do tipo tubular metálica ou de concreto.
O processo de cravação por vibração foi desenvolvido na antiga União Soviética
para a melhoria da eficiência de cravação de estacas metálicas. Consiste em um
equipamento que transmite vibrações de alta frequência para a estaca, podendo ser
utilizado tanto para a cravação como para a remoção da mesma. Devido às grandes
vibrações transmitidas ao solo e obras próximas, além de problemas operacionais, é um
método de uso restrito e que tem caído em desuso ao longo dos anos.
A cravação de estacas por percussão - processo mais utilizado - utiliza-se de
pilões em queda livre ou automáticos (martelo diesel). O topo da estaca deve ser
preparado para o amortecimento dos golpes e uniformização das tensões aplicadas
através da instalação de um capacete dotado de “cepo” e “coxim”. As maiores
limitações do processo são o barulho e a emissão de gases (provenientes do martelo
diesel), razão pela qual os pilões automáticos costumam ser utilizados apenas em obras
afastadas dos centros urbanos.

5.2. Controle de Campo

De máxima importância no processo de cravação de estacas pré-moldadas é o


controle da capacidade de carga contra a ruptura, que é função tanto da resistência
estrutural do material quanto da resistência do solo que envolve e dá suporte a estaca.
O controle engloba a análise da integridade e continuidade estrutural dos
elementos da estaca, verificação e comparação entre as profundidades atingidas e as de
projeto e análise da interação estaca-solo, onde deve ser verificada a ocorrência dos
fenômenos de relaxação e cicatrização que correspondem, respectivamente, à
diminuição e ao aumento da capacidade de carga com o tempo após a cravação. Tais
fenômenos ocorrem por conta das mudanças ocorridas nas características de resistência
do solo ao final da cravação.
Outro fenômeno que deve ser monitorado é o do “levantamento” de estacas.
Ocorre que, durante a cravação de estacas muito próximas, as vibrações propagadas
pelo solo podem “desligar” as emendas das estacas vizinhas, ocasionando o
levantamento. O controle topográfico das cotas de topo das estacas identificará o
fenômeno e, em caso de confirmação, as estacas devem ser recravadas. Vale lembrar
que a ocorrência desse fenômeno é suficiente para a exigência de emenda por solda,
conforme já abordamos anteriormente.
Outros aspectos importantes no controle de campo, de acordo com a
metodologia de cravação das estacas, são:

 Por prensagem: Controle realizado em três etapas, sendo que nas


duas primeiras a estaca é carregada até 1,5 vezes sua carga de
trabalho, permanece em carga durante 5 minutos e após isso é
descarregada. Na última etapa a estaca é carregada até a carga de
trabalho, permanece em carga por 10 minutos e é descarregada. Após
cada etapa, segue-se a medição dos recalques, e o critério de
aceitação é que a média dos recalques nas duas primeiras etapas não
deve ultrapassar 10mm. Na terceira etapa, o recalque não pode
ultrapassar o menor dos recalques das etapas iniciais;
 Por percussão: Pode ser realizado por prova de carga estática ou
dinâmica, pela “nega” e pelo “repique”. A “nega”, método menos
confiável por conta da dispersão, consiste na penetração permanente
da estaca causada pela aplicação de um golpe de pilão (medida em
geral por uma série de dez golpes). O repique é a medida da parcela
elástica do deslocamento máximo de uma seção da estaca decorrente
da aplicação de um golpe de pilão. A análise por instrumentação
dinâmica teve seu início em 1983 e tem como principal vantagem a
sua velocidade e a possibilidade de verificar mais facilmente os
fenômenos de relaxamento e cicatrização.

A estimativa das tensões de compressão decorrentes dos golpes de pilão tem


base na Teoria da Equação da Onda ou de simplificações formuladas por Lopes e
Almeida (1985) ou Gambini (1982).
Um problema recorrente na cravação de estacas por percussão em camadas
espessas de argila mole é o encurvamento das mesmas, ainda sejam tomados cuidados
com o prumo durante a cravação. Tal fenômeno é chamado Instabilidade Dinâmica
Direcional, e é complexo devido à dificuldade de monitoração da retilineidade do fuste
da estaca após a cravação. Esse monitoramento é raramente executado, sendo citados
apenas oito casos na ampla pesquisa realizada por Chan e Hanna (1979).
O tratamento teórico desse fenômeno ainda é muito recente, não havendo,
portanto, meios seguros de quantificá-lo na fase de projeto.
6. Conclusão

No presente trabalho, buscamos apresentar e discutir aspectos relacionados ao


conjunto de soluções em fundações denominado “Estacas de Deslocamento”, composto
pelas estacas tipo Franki, de madeira e pré-moldadas de concreto e aço.
Dentro da abordagem dos detalhes de confecção, controle de qualidade, métodos
construtivos e controles de campo, pudemos observar a variedade de soluções das quais
dispõe o engenheiro de fundações para a concepção de seus projetos, cabendo a si
analisar cada variante sob a ótica da eficiência, aliando segurança e economia para a
obra e seus investidores.
7. Referências Bibliográficas

HACHICH, Waldemar [et al]. Fundações – Teoria e Prática. São Paulo. Ed. Pini,
1996.
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. Projeto de Estruturas de
Concreto – NBR 6118. Rio de Janeiro, 2014.
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. Projeto e Execução de
Fundações – NBR 6122. Rio de Janeiro, 2010.
8. ANEXO – QUESTIONÁRIO

1. Comente o processo de fabricação de estacas pré-moldadas de concreto


por centrifugação, bem como as precauções necessárias para evitar falhas
na confecção.

R.: A fabricação por centrifugação consiste na utilização de uma forma metálica


cilíndrica vazada nas extremidades, no interior da qual é colocada a armadura
e o concreto é regularmente distribuído. A forma é submetida à uma
velocidade de giro constante sobre roletes por um determinado período de
tempo, após o qual um dos lados é ligeiramente levantado para permitir o
escoamento do excesso de água e de finos pela extremidade vazada. O
processo de centrifugação faz com que a massa de concreto se distribua
uniformemente ao longo da face interna da forma, produzindo assim uma
estaca circular de seção vazada. Os agregados são ordenados conforme sua
densidade, sendo que o escape tangencial direciona a água e as partículas
mais finas para o centro da peça. Daí a importância do controle rigoroso do
tempo de rotação a fim de evitar a separação total dos materiais.

2. Comente a importância da análise de fissuração e trincamento das estacas


pré-moldadas de concreto.

R.: Um problema frequente na confecção de estacas pré-moldadas de concreto diz


respeito ao aparecimento de fissuras (aberturas inferiores a 1mm) e trincas
(aberturas superiores a 1mm) na peça. A não abordagem destes tópicos pela
NBR 6122/10, bem como a carência de limites devidamente normalizados
gera grande polêmica entre projetistas, proprietários e fabricantes de estacas.
Quando recusar uma estaca? No livro Fundações: Teoria e Prática, na seção
dedicada às estacas pré-moldadas, Urbano Rodriguez sugere a adoção
parâmetros para aceitação ou rejeição de estacas total ou parcialmente
enterradas.
3. Cite os principais aspectos a serem monitorados no controle da cravação
de estacas.

R.: O controle engloba a análise da integridade e continuidade estrutural dos


elementos da estaca, verificação e comparação entre as profundidades
atingidas e as de projeto e análise da interação estaca-solo, onde deve ser
verificada a ocorrência dos fenômenos de relaxação e cicatrização que
correspondem, respectivamente, à diminuição e ao aumento da capacidade
de carga com o tempo após a cravação. Outros fenômenos que devem ser
monitorados são: “levantamento” de estacas, tensões dinâmicas devido a
cravação e a instabilidade dinâmica direcional.

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