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UNIDADE 2 – TÉCNICAS BÁSICAS E MODERNAS DE


HARMONIZAÇÃO

Objetivos:

Aplicar e contextualizar os diferentes tipos de acordes na harmonização de melodias;


Aplicar técnicas modernas de harmonização.

2.1 Harmonização Básica

Apesar de, na maioria das vezes o processo de harmonizar uma melodia seja intuitivo e
baseado na experiência, os aprendizes podem aproveitar alguns princípios para auxiliar neste
processo.
Após constatar a tonalidade da música, o primeiro passo é observar a estrutura da
melodia identificando suas notas estruturais. Na maioria das vezes, principalmente em
melodias mais simples e tonais, estas notas estruturais serão baseadas em notas da tríade de
algum acorde (ou tétrade, no caso do acorde dominante). Em alguns casos, poderão se basear
em notas estranhas ao acorde. Outro ponto importante é que na grande maioria dos casos a
música ou uma sessão da música irá terminar com o acorde dominante resolvendo na tônica.
Observe alguns exemplos.
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Figura 37 - Harmonização de Asa Branca de Luiz Gonzaga baseada nas notas estruturais.

Fonte: Elaborada pelo autor.

Figura 38 - Harmonização de Noite Feliz de Franz Gruber baseada nas notas estruturais.

Fonte: Elaborada pelo autor.


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Figura 39 - Notas estranhas ao acorde em Parabéns para você (tradicional).

Fonte: Elaborada pelo autor.

Figura 40 - Harmonia do início da Sonata K 545 de W.A. Mozart baseada em notas estruturais
da melodia.

Fonte: Elaborada pelo autor.

Figura 41 - Harmonização de Pirulito que bate, bate (folclore) baseada nas notas estruturais.

Fonte: Elaborada pelo autor.


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Nos trechos em que a melodia é baseada em escalas ou figurações semelhantes, você


deverá observar qual a tonalidade do trecho em questão, quais as “notas de apoio” e a qual
acorde do campo harmônico da tonalidade elas irão melhor combinar (no próximo capítulo
iremos ver que diferentes acordes de um campo harmônico podem pertencer à mesma função
harmônica). Observe os exemplos:

Figura 42 - Harmonia de trecho em escalas na Sonata K 545 de W.A. Mozart.

Fonte: Elaborada pelo autor.


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Em músicas com a harmonia mais complexa como as do jazz e da bossa-nova, muitas


partes da melodia são notas de tensão do acorde. Observe alguns exemplos:

Figura 43 - Melodia de Misty de Errol Garner com notas de tensão do acorde.

Fonte: Elaborada pelo autor.

Isto também ocorre na música erudita especialmente a partir do período pós-romântico


e impressionista.
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Figura 44 - Melodia do início de Pavane pour une Infante Défunte de Maurice Ravel com notas
de tensão do acorde.

Fonte: Elaborada pelo autor.

A outra maneira de harmonizar é perceber quando a música atinge o repouso na tônica,


quando se afasta deste repouso para a subdominante ou dominante e quando há uma tensão
da dominante para retornar à tônica, assunto que será abordado no próximo capítulo.

2.2 Técnicas Modernas de Harmonização

Também é possível adicionar mais movimento, variedade e colorido harmônico ao


harmonizar as melodias, mesmo as mais simples. Seguem alguns conceitos que podemos
aplicar ao harmonizar ou rearmonizar uma música.
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II - V - I

Significa colocar antes de um acorde dominante (V) o acorde do grau II do acorde a ser
resolvido, que fará uma preparação ao V dando maior diversidade sonora. O grau II é utilizado
para este fim por que, estando situado uma 5ªJ acima do grau V, causa um movimento
harmônico marcante.

Figura 45 - II-V-I em Parabéns para Você (tradicional).

Fonte: Elaborada pelo autor.

Dominante secundário

Significa colocar antes de algum acorde da progressão, o seu respectivo acorde


dominante (acorde maior com 7ª menor situado a uma 5ªJ acima do acorde em questão).
Observe.
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Figura 46 - Dominante Secundário em Que nem Jiló de Luiz Gonzaga.

Fonte: Elaborada pelo autor.

Figura 47 - Dominante Secundário em Asa Branca de Luiz Gonzaga.

Fonte: Elaborada pelo autor.


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Diminuto de passagem

Significa tocar antes de algum acorde o acorde diminuto situado a um semitom a seguir..
O acorde diminuto de passagem também pode ser entendido como um dominante secundário
com a fundamental omitida.

Figura 48 - Diminuto de passagem em Pirulito que bate, bate (folclórica).

Fonte: Elaborada pelo autor.

Dominante Substituto (Sub V)

Na música popular este termo corresponde ao acorde bII7 – acorde dominante sobre
grau II (maior com 7ª menor) abaixado em meio tom – substituindo o V7 para resolver na
tônica (meio tom abaixo).
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Figura 49 - SubV em Noite Feliz de Franz Gruber.

Fonte: Elaborada pelo autor.

Neste contexto, este acorde é considerado dominante por possuir o mesmo trítono
característico do acorde dominante do grau V7. Observe isto em Dó Maior:

Figura 50 - Mesmo trítono no V7 e SubV.

Fonte: Elaborada pelo autor.


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Acordes de empréstimo modal (AEM)

São acordes oriundos do tom homônimo correspondente. Por exemplo, na tonalidade


de Dó maior, utilizar algum acorde do campo harmônico de Dó menor e vice-versa, observe:

Figura 51 - AEM em Asa Branca de Luiz Gonzaga.

Fonte: Elaborada pelo autor.

Dominante sem função dominante

São acordes com as características de acorde dominante (maior e com 7ª menor) que
não resolvem no próximo acorde e nem criam expectativa de resolução. Eles atuam de modo a
enriquecer a sonoridade harmônica. O número romano da análise será o de seu grau no campo
harmônico com as devidas notas de tensão e alterações. Um exemplo comum é o I 7 e o IV7 no
blues.
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Figura 52 - Sequência de acordes numa progressão 12 bar blues.

C7 | C7 | C7 | C7 | F7 | F7 | C7 | C7 | G7 | F7 | C7 | C7 |
Fonte: Elaborada pelo autor.

Tríades de estrutura superior

Basicamente, significa um acorde com tensões que pode ser considerado como uma
tríade sobre outra. Observe os exemplos:

Figura 53 - Exemplos de tríades de estrutura superior.

Fonte: Elaborada pelo autor.


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Atividade

Tente encontrar alguns dos tipos de harmonização que estudamos na música abaixo:

Figura 54 - Chorinho pra Ele de Hermeto Pascoal.

Fonte: Elaborada pelo autor.


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Resumo

Nesta Unidade, pudemos colocar em prática o que estudamos na Unidade 1. Vimos


através dos exemplos que o acompanhamento por meio de acordes está subordinado à
melodia. Desta maneira, o primeiro ponto abordado nesta Unidade foi o de observar as
características estruturais de uma melodia como, por exemplo, as notas estruturais e de apoio,
os arpejos e as escalas para então decidirmos qual acorde utilizar. É importante lembrar que,
apesar de terem sido apontados determinados acordes na harmonização das melodias
propostas, diferentes possibilidades também são possíveis, portanto, o aluno é convidado a não
ter medo de investigar e explorar novos caminhos. E foi neste intuito que também foram
apresentados alguns métodos para se obter uma maior variedade de acordes que podem ser
utilizados inclusive, para substituir alguma harmonização prévia. Entretanto, observe que estes
procedimentos são oriundos da estrutura inicial da respectiva harmonização base cujo
entendimento é de crucial importância.

Referências

GUEST, Ian. Harmonia: método prático. Rio de Janeiro: Lumiar, 2006. 2. v.


ALMADA, Carlos, Harmonia funcional. 2. ed. Campinas: UNICAMP, 2012.
TINE, Paulo José Siqueira. Hamonia: fundamentos de arranjo e improvisação. Recife: Atlas,
2011.
GUEST, Ian. Arranjo: método prático. São Paulo: Irmãos Vitale, 2009. 3. v.

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