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Advento: Esperança Viva

Oque significa ter esperança em tempos difíceis? A esperança é mais do que um sentimento;
não é simplesmente estar sempre otimista ou ter uma atitude “esperançosa”. A Escritura nos
oferece uma compreensão muito mais robusta de esperança. A esperança cristã tem peso,
resiliência e propósito — e Deus é a sua fonte.

Deus, em “sua grande misericórdia [...] nos regenerou para uma esperança viva" (1Pe 1.3). E é
o nosso “Deus da esperança” que nos permite “transbord[ar] de esperança, pelo poder do
Espírito Santo” (Rm 15.13). Essa realidade não é verdadeira apenas em tempos de calmaria;
na verdade, é em tempos difíceis e sombrios que a esperança mostra verdadeiramente seu
valor.

Como Jay Y. Kim escreve em “A esperança é um salto de fé”,

é com isso que a esperança cristã se parece. Não ignora o medo, a ansiedade e a dúvida;
antes, os confronta. Ela se mantém firme, agarrando-se à paz em meio ao caos. Através das
muitas tempestades traiçoeiras da vida [...] a esperança cristã é impulsionada por algo maior
que aconteceu, e por algo maior que vai acontecer novamente.

A esperança é um salto de fé
O Advento nos lembra que a esperança cristã é moldada pelo que aconteceu e pelo que vai
acontecer novamente.
JAY Y. KIM
Nessas reflexões devocionais diárias, meditaremos sobre a esperança do povo de Deus no
Antigo Testamento, à medida que eles confiavam totalmente em Deus nas dificuldades e
sofrimentos. Veremos profecias e promessas de esperança que apontavam para o Primeiro
Advento: a vinda do Messias. Contemplaremos o milagre da esperança que irrompe na
Encarnação, quando “o Verbo se fez carne e habitou entre nós” como um bebê humano,
envolto em faixas e deitado em uma manjedoura (Jo 1.14; Lc 2.12) . E refletiremos sobre nossa
esperança na volta futura de Cristo — o Segundo Advento que esperamos — que traz
perseverança, confiança e alegria para nossa vida cotidiana, apesar das dificuldades que
possamos enfrentar.

Essa é a nossa “esperança viva” ou a nossa “grande expectativa”, como diz a New Living
Translation. Nossa esperança é motivada por nossa expectativa confiante de que essa criança
que nasceu virá um dia, novamente em glória, para restaurar tudo que está errado, e o seu
reino não terá fim.

Advento Semana 1: Ele voltará em glória


Entre duas realidades
Apocalipse 1.4-9; 19.11-16; 21.1-5,22-27; 22.1-5

Quase de imediato, o capítulo de abertura do Apocalipse ergue nossos olhos para contemplar
uma glória que transcende totalmente nossas circunstâncias terrenas. “Eu sou o Alfa e o
Ômega [...] o que é, o que era e o que há de vir”(1.8). Nosso Salvador, que “nos ama e nos
libertou dos nossos pecados”, voltará; “eis que ele vem com as nuvens, e todo olho o verá”
(1.5,7). João passa a descrever uma visão maravilhosa do próprio Cristo — um encontro tão
impressionante que ele caiu “aos seus pés como morto” (v. 17).

Mas bem no meio dessas passagens gloriosas está uma frase que podemos facilmente deixar
escapar: a breve descrição que João faz de sua vida e da vida dos destinatários de sua carta.
Ele relata que é um “companheiro no sofrimento, no Reino e na perseverança em Jesus” (v. 9).
João escreveu o Apocalipse durante o exílio e este livro circulou por uma igreja sofredora, que
enfrentava pressão e perseguição que só aumentariam nas décadas seguintes. Os
destinatários iniciais do Apocalipse viviam entre duas realidades justapostas: sua certeza do
reinado soberano e do glorioso retorno de Cristo; e sua experiência terrena e cotidiana de
espera e sofrimento.

Cerca de dois mil anos depois, ainda vivemos entre essas realidades justapostas. Aqui, entre a
primeira vinda de Cristo e seu retorno glorioso, nossas vidas também podem parecer uma
mistura de reino e confiança com espera e sofrimento.

Não é de admirar que as palavras sinceras de João sobre o sofrimento e a necessidade de


perseverança paciente estejam entrelaçadas em suas visões de glória, pois é a visão do que
está por vir que possibilita e encoraja essa perseverança. Considere as realidades retratadas
no grande final do Apocalipse: Cristo vitorioso, cavalgando um cavalo branco e derrotando o
mal; “novos céus e nova terra” sem tristeza ou morte, onde “agora o tabernáculo de Deus está
com os homens” (21.1,3); e uma Cidade Santa, onde pessoas de todas as nações são reunidas
à luz da glória de Deus. Com essa realidade final e eterna em vista, qualquer circunstância
temporal —a despeito de quão terrível seja— perde a importância.

A ideia de perseverança paciente é repetida várias vezes em Apocalipse 1–3, com frequência
associada a uma linguagem de superação e conquista. A perseverança não é apenas paciente,
mas também tenaz, corajosa e forte. E é isso que Deus nos dá enquanto vivemos entre essas
duas realidades. Em Cristo, como diz o hino clássico, encontramos “força para hoje e
esperança radiante para amanhã”.

Medite em Apocalipse 1.4-9; 19.11-16; 21.1-5,22-27;22.1-5. Como meditar neste futuro afeta
sua perspectiva sobre as circunstâncias atuais? Ore, convidando Deus a fortalecer sua
perseverança e avivar sua esperança para o futuro.
Profetize esperança
Zacarias 9.9-17; Romanos 5.3-5; 8.18-30
“A esperança começa no escuro...”. Nunca consegui me livrar dessas palavras de Anne Lamott.
Essa linguagem de esperança se tornou recentemente um tema em minha vida — não no
sentido abstrato, mas como uma diligência viva, uma luta, um compromisso, uma disciplina
O teólogo Jürgen Moltmann enraizou a linguagem da esperança na ressurreição de Jesus e na
práxis do protesto. Às vezes, a esperança parece ser a única linguagem poderosa o suficiente
para conter o desespero. Ou talvez seja, nas palavras de Lamott, uma espécie de “paciência
revolucionária”.

Seja qual for a ideia de esperança, há algo no fundo de cada um de nós que clama em
expectativa. Às vezes não passa de um sussurro, mas está lá. No entanto, embora a
esperança brote das profundezas da alma, muitas vezes ela surge das sombras. E começa no
caos.

Há momentos em que parece que nunca conseguimos escapar das sombras daquela nuvem
que cobriu a face da terra, durante a crucificação de Jesus. A desolação e o pesar de nosso
mundo se parecem tanto com a escuridão que Elie Wiesel só poderia tê-los chamado de Noite,
ao relatar os horrores de Auschwitz e do Holocausto. Temos de dizer a verdade sobre a dor,
até mesmo sobre a dor da esperança.

Há algum tempo me sentei com minha avó e lhe pedi que me contasse sobre sua vida. No
começo, ela não queria. Posso imaginar as cicatrizes profundas que sua alma carregou ao
longo de 80 anos. Suas histórias eram muito tristes. É difícil descrever o que significou para ela
viver no Sul, na pele de uma mulher negra. Uma palavra parecia captar a audácia de
sobreviver em meio a um mundo cruel: amor. “O Senhor ainda não me decepcionou”, disse ela.

O amor radical, capaz de transformar vidas, uma comunidade e o mundo é, afinal, o caminho
de Jesus. Ele veio pregar as boas-novas do Reino e curar todos os tipos de doenças e aflições.
Profetizar esperança é um amor perigoso.

Martin Luther King Jr. disse: “O poder em sua melhor forma é amor implementando as
demandas da justiça, e a justiça em sua melhor forma é amor corrigindo tudo o que se lhe
opõe”. É isso que significa estar no mundo como profetas de amor, poder e justiça ou, para
usar a linguagem bíblica de Zacarias, ser “prisioneiros da esperança” (9.12). Como alguém
declarou certa vez: “Eu não sei o que o amanhã me reserva, mas sei quem guarda o amanhã”.
Enquanto o amanhã está a caminho, vou profetizar esperança hoje.

“Por que ainda profetizamos esperança”,

Leia Zacarias 9.9-17 e Romanos 5.3-5, 8.18-30. Reflita sobre como a esperança se
apresenta“no escuro”. De que modo o sofrimento produz esperança e amor? Como a primeira
vinda e o futuro retorno de Cristo possibilitam que você profetize esperança hoje?
Vem, Senhor Jesus
João 1.1-5,14; Apocalipse 22.12,13,20
Em seu Evangelho, João diz: “No princípio era aquele que é a Palavra. Ele estava com Deus, e
era Deus.[...]Aquele que é a Palavra tornou-se carne e viveu entre nós”(1.1,14). Temos um
Deus que veio. Ele veio para tornar o intangível tocável e o invisível visível. Ele veio para se
tornar conhecível. Mas nossa esperança não está apenas no fato de que ele veio; está também
no fato de que ele está vindo.

Ele está voltando. Essa promessa é o que pode dar sentido à dor e à frustração que agora
vivemos no planeta Terra. Quando ele voltar, o justo será vindicado. Quando ele voltar, trará
consigo sua recompensa para a zombaria que você enfrentou, por acreditar em um Deus que
não podia ver. Quando ele voltar, todos os seres humanos que tentaram se tornar poderosos e
soberanos cairão por terra, e veremos que sempre houve apenas um governante dos
governantes e um Rei dos reis. De repente, nossa fé se tornará algo que nossos olhos poderão
contemplar. E veremos aquele sobre quem falamos e com quem conversamos [em oração].

Em Apocalipse 22, Jesus diz: “Eis que venho em breve! A minha recompensa está comigo, e
eu retribuirei a cada um de acordo com o que fez. Eu sou o Alfa e o Ômega, o Primeiro e o
Último, o Princípio e o Fim”(v. 12,13). João registra: “Aquele que dá testemunho destas coisas
diz: ‘Sim, venho em breve!’” (v. 20). E é como se João não tivesse mais nada a dizer antes de
encerrar sua carta, exceto isto: “Amém. Vem, Senhor Jesus!”(v. 20).

Quando olhamos para o futuro, as coisas em nossa nação podem não correr do jeito que
queremos. A economia pode não estar do jeito que achamos que deveria. Nas ruas, mais
crianças podem ser alvo de balas perdidas, do tráfico sexual ou das drogas. Nosso casamento
pode estar em crise, podemos enfrentar doenças, podemos nos preocupar com nossos netos.
Em tudo isso, porém, há esta esperança: Apesar de tudo isso,vem, Senhor Jesus.

Seja o que for que enfrentemos, sabemos que ele está voltando. Um dia desses, o céu se
abrirá, o anjo soará sua trombeta e o mundo todo o verá, ao mesmo tempo. Toda a criação
responderá, quando nosso Senhor descer dos portais do céu para dizer: Agora é a hora de
redimir minha igreja. Amém. Vem, Senhor Jesus.

Medite em João 1.1-5,14 e Apocalipse 22.12,13,20, considerando o foco duplo do Advento:


Jesus veio e está voltando. O que significa para você dizer: “Apesar de tudo isso, vem, Senhor
Jesus”?
Advento e apocalipse
Marcos 13.24-37; Lucas 21.25-28

Durante o Advento, ouvimos passagens das Escrituras que são permeadas por uma linguagem
que fala de trevas, tribulação e apocalipse. Os Evangelhos de Mateus, de Marcos e de Lucas
contém um capítulo totalmente apocalíptico. Em Marcos 13, Jesus diz: “Nação se levantará
contra nação, e reino contra reino” (v. 8). A passagem fica ainda mais sombria à medida que
avança. “Mas naqueles dias, após aquela tribulação, ‘o sol escurecerá e a lua não dará a sua
luz; as estrelas cairão do céu e os poderes celestes serão abalados’” (v. 24,25).

Por que Jesus está falando dessa forma sobre morte e destruição, em vez de falar de ovelhas,
pastores e hostes celestiais?

Na Bíblia, os escritos apocalípticos surgem da catástrofe. Os israelitas eram um povo que


desfrutava do favor de Deus; o Senhor havia lhes prometido um futuro de segurança e
prosperidade. Mas, então, foram conquistados e forçados a ir para o exílio, no império
babilônico. Humanamente falando, não havia esperança para eles. Quando os israelitas se
viram em crise, ocorreu uma “emergência teológica”. Foi a partir dessa emergência que um
novo modo de pensar apocalíptico tomou forma. Tudo começou com a segunda metade de
Isaías (capítulos 40–55) — escrita durante o cativeiro da Babilônia, quando tudo parecia tão
desesperador — e floresceu a partir daí. Na época de Jesus, a linguagem apocalíptica já
estava em toda parte.

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Today&utm_medium=ad&utm_content=&utm_campaign=Systematic Theology 2
A teologia apocalíptica é, acima de tudo, a teologia da esperança — e a esperança é o polo
oposto do otimismo. O otimismo falha quando é tragado pela escuridão. Em contraste, a
esperança é encontrada em algo que está além da história humana. É encontrada no Deus
encarnado.

No Evangelho de Lucas, quando Jesus fala apocalipticamente de “sinais no sol, na lua e nas
estrelas” e da “angústia das nações”, ele termina dizendo que a humanidade “verá o Filho do
Homem vindo numa nuvem com poder e grande glória” (21.25-27). Jesus está falando de sua
segunda vinda. Está nos dizendo que nossa grande esperança não vem de qualquer progresso
humano, mas dele mesmo. Ele possui um poder soberano que independe da história humana.
Apesar da aparente escuridão, Deus em Cristo está moldando nossa história de acordo com
seus propósitos divinos.

O Advento nos diz para olharmos diretamente para a escuridão e nomeá-la pelo que ela é. Mas
este não é o fim da história. Jesus disse: “Levantem-se e ergam a cabeça, porque estará
próxima a redenção de vocês” (v. 28).

Fleming Rutledge

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