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A sua esperança é bíblica?

Russell Shedd
Publicado em 30.10.2008

A Bíblia inspira esperança. De Gênesis até o Apocalipse há uma corrente animadora de antecipação. A catástrofe no
Jardim de Éden provocou a ira de Deus contra os culpados e contra a terra que os sustentaria, mas não falta a nota
cristalina de esperança. O Proto-evangelho (Gn 3:15) anuncia a boa nova de um futuro bem melhor, Deus não
abandonou o pecador à sua miséria.
 
Noé construiu a arca porque Deus inculcou esperança no seu coração. A raça não foi aniquilada porque Deus
revelou uma visão de um futuro melhor. O chamado de Abraão para deixar sua terra e parentela foi alicerçado em
esperança. “Em ti serão benditas todas as famílias da terra” (Gn 12:3). Quatrocentos anos de escravatura no Egito
não conseguiram apagar totalmente essa chama de esperança. Deus confirmou com braço forte a Sua promessa de
liberdade e independência sob o comando do soberano Senhor.
 
Os profetas foram enviados com mensagens de juízo e de condenação. Mas, no meio de lutas, invasões, apostasia
e adultério espirituais, os porta-vozes de Deus não deixaram de descrever quadros de vitória e salvação nos
horizontes futuros. Isaías escreveu assim 200 anos antes do Exílio: “Consolai, consolai o meu povo, diz o vosso
Deus...a glória do Senhor se manifestará e toda a carne a verá... Eis que o Senhor Deus virá com poder e o Seu
braço dominará; eis que o seu galardão está com ele, e diante dele, a sua recompensa” (40:1-10). Não era para
Israel cair no poço fundo da depressão e desespero porque Deus promete voltar a mostrar os Seus cuidados
amorosos especiais.
 
Esperança na Bíblia é assim. Em meio de terríveis aflições e sofrimentos provocados pela rebeldia e pecado do Seu
povo, Deus promete uma mudança radical que alegraria o coração mais desesperado. Assim, o pessimismo se
anula nas promessas de bênçãos de Deus quando a disciplina terá alcançado o seu efeito desejado.
 
Paulo vai ainda mais longe. Declara que a fé e o amor dos colossenses existiu “por causa da esperança que vos
está preservada nos céus”(1:5). Em o Antigo Testamento a esperança na restauração do Povo Eleito. Em o Novo
Testamento, crer na promessa de Deus da provisão da vida eterna na gloriosa presença de Deus, produz fé no
Senhor Jesus e amor fraternal. “Na esperança (ou ‘pela’), fomos salvos” (Rm 8:24) sugere que a fé é gerada pela
esperança nas promessas de Deus.
 
Sentidos distintos da palavra “esperança”
 
Devemos notar dois sentidos neste vocábulo. Primeiro, aquele que comunicamos quando dizemos, “Espero que este
remédio me faça bem”, ou “Espero que Roberto volte para casa antes de meia-noite”. Quer dizer, temos certa
confiança que possivelmente um evento há de se concretizar. Desejamos que aconteça, mas carecemos de certeza.
 
A esperança “viva” (1 Pe 1:3) não é a assim. Comunica a mais completa segurança, uma vez que é acompanhada
pela garantia de Deus. Aguardamos a “bendita esperança” da vinda de Cristo, não com dúvidas, mas com inteira
certeza. Se mantivermos firme a esperança que desde o princípio ganhamos, não deve haver dúvidas acerca da
conversão genuína (Hb 3:14). A insegurança surge justamente no momento em que essa confiança for abalada.
Quando diminui a certeza sobre o futuro que Escrituras chamam de “vida eterna”, apaga-se a luz da esperança.
 
Se já fomos justificados mediante a fé e também experimentamos a paz com Deus, entramos diretamente na porta
aberta pela fé para nos firmarmos na graça. Tudo isto, Paulo assevera, nos proporciona exultar na esperança da
glória vindoura (Rm 5:1,2). Significa que a segurança e a paz que a graça de Deus produz por meio do perdão total
e contínuo de Deus (justificação), também mantém a alegria que antecipa a manifestação futura da glória de Deus.
 
Nem a tribulação que Deus nos manda para produzir a perseverança e desenvolver o caráter de Cristo
(“experiência”) devem abalar a esperança cristã. Pelo contrário, aqueles que, como Paulo, mais aflição passam, são
os que mais esperança possuem (Rm 5:3,4). O desespero e pessimismo se afastam diante do brilho celeste do
futuro prometido por Deus. Essa esperança, garante Paulo, não confunde, porque está unida ao amor que Espírito
Santo derrama nos corações daqueles que põe sua confiança plenamente na fidelidade de Deus (Rm 5:5).
 
Conclusão
 
A esperança bíblica precisa de raízes bem firmes nas promessas de Deus. A graça que o Senhor despejou sobre
nós pecadores, pagando o altíssimo preço da nossa culpa, é a graça que nos assegura que temos plenos direitos de
ocupar nosso lugar na casa do Pai (Jo 14:1).

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