O ciclo menstrual normalmente tem uma duração de 28 dias com uma
variação normal de mais ou menos 7 dias. Algumas variações podem ocorrer dentro de uma curva normal, mas algumas vezes ocorrem alterações que podem ser classificadas como Sangramento Uterino Anormal.
O sangramento uterino anormal (SUA) é definido como como
sangramento – agudo ou crônico – proveniente do corpo uterino, com anormalidade – seja na sua regularidade, no volume, na frequência ou duração, em mulheres não-grávidas. (é um sintoma e não um diagnóstico) Acarreta em repercussões físicas, emocionais, sociais e na qualidade de vida da mulher, afetando até 40% de mulheres no mundo e impacta negativamente em sua vida. É importante afastar o diagnóstico de gravidez como causa, pois abortamento, mola hidatiforme e gravidez ectópica cursam com sangramentos e são causas potencialmente fatais. Ocorre com maior frequência nos extremos da vida reprodutiva principalmente na adolescência e perimenopausa onde existe maior quantidade de ciclos anovulatórios ou irregulares. Alguns termos classificatórios têm caído em desuso, mas é importante saber seu significado dado que ainda são vistos na prática médica: Essas formas caíram em desuso pela dificuldade em precisar detalhes do fluxo. Já se demonstrou que não há muito concordância com o que é referido pela paciente e a realidade – por exemplo, a paciente pode referir fluxo forte e, objetivamente, tratar-se de um fluxo considerado normal – e vice-versa.
EPIDEMIOLOGIA
O SUA afeta 30% das mulheres em idade reprodutiva, atingindo até
50% daquelas na perimenopausa. É mais rara em crianças, mas pode ocorrer.
Em 2011, a FIGO (do francês, Fédération Internacionale de Gynécologie et
d’Obstétrique) elaborou o mnemônico PALM-COEIN para guiar médicos na etiologia do sangramento uterino anormal. O mnemônico se refere às principais causas estruturais (PALM) e não- estruturais (COEIN) do SUA, principalmente na menacme. Essa classificação acima leva em conta as principais causas orgânicas, devendo ser excluídas antes da pesquisa de causas disfuncionais. Vamos destrinchar aqui as principais causas em cada faixa etária: 1. Neonatal: pode haver pequeno sangramento nos primeiros dias de vida devido a privação de estrogênio materno obtido pela via transplacentária (sangramento leve, quadro autolimitado) – sangramento disfuncional. 2. Infância: qualquer sangramento anterior à menarca deve ser tratado como achado anormal. Deve-se determinar o local do sangramento para ter certeza de que não se trata de um sangramento uretral ou retal, que podem ser confundidos com sangramento vaginal. Nessa idade, a vagina – mais que o útero – é a principal fonte de sangramento, tendo a vulvovaginite como causa mais frequente. 3. Adolescência: nessa faixa etária, com muito maior frequência as causas são anovulação e coagulopatias (causas disfuncionais). Neoplasias – como pólipos, leiomiomas e neoplasias ovarianas – são menos comuns. No entando, possibilidade de gravidez, doenças sexualmente transmissíveis e abuso sexual não podem ser menosprezada. 4. Idade reprodutiva: problema frequente nessa idade, cerca de 1 em 20 mulheres em fase reprodutiva irá se consultar devido a SUA. Aumentam as taxas de sangramento por gravidez e DST’s. O eixo hipotálamo-hipófise-ovário amadurece e o sangramento anovulatório passa a ocorrer menos frequentemente. Leiomiomas e pólipos endometriais também aumenta com a idade e não pode ser descartado como causa, especialmente acima dos 30 anos. 5. Período perimenopausa: é responsável por 70% de todas as consultas ginecológicas nessa fase. Torna-se frequente o SUA por anovulação, por disfunção do eixo hipotálamo-hipófise-ovário. Reduz-se também o risco de sangramento por gravidez e doenças sexualmente transmissíveis. No entanto, outras etiologias aumentam em frequência, como as neoplasias benignas e malignas.
6. Climatério: o sangramento que ocorre após a menopausa
frequentemente é causado por doenças benignas. Destacam-se as atrofias do endométrio e da vagina, bem como pólipos endometriais benignos. Neoplasias malignas, como o carcinoma de endométrio, se tornam mais frequentes. Menos comumente, tumor ovariano produtor de estrogênio pode acarretar hiperplasia endometrial que cursa com sangramento. Neoplasias ulcerativas vulvar, vaginal e cervical também são possíveis etiologias. É interessante, assim como na fase pré-puberal, estabelecer corretamente a fonte anatômica do sangramento. AVALIAÇÃO INICIAL E DIAGNÓSTICO
Ao se deparar com um sangramento uterino anormal, é necessário
primeiramente excluir a gravidez – por meio do exame beta-HCG. De preferência, realizar o teste quantitativo pois os valores de beta-HCG associados ao período de amenorreia podem ajudar no diagnóstico diferencial de doenças como a doença troflobástica gestacional (DTG). No contexto de emergência, no qual uma paciente chega com sangramento agudo e intenso, com hipovolemia e anemia, é necessário – antes de partir em busca do diagnóstico etiológico – estabilizá-la hemodinamicamente com o uso de soluções coloide e cristaloide, estancar o sangramento e, se necessário, realizar transfusão. As condutas iniciais serem feitas pensando na abordagem inicial ao paciente grave. Indicam-se, para a diminuição do sangramento agudo: estrogênio endovenoso (não disponível em nosso meio), contraceptivo oral combinado monofásico em multidoses, progestagênio oral em multidoses e ácido tranexâmico. Já em contexto ambulatorial, excluída a gravidez, iremos partir para uma investigação etiológica mais detalhada. Uma história detalhada deve ser colhida, tanto do sangramento como de antecedentes, levando a idade em consideração. Pesquisar fatores de risco para câncer de endométrio, coagulopatias, medicações em uso e doenças concomitantes. É imprescindível também o exame físico completo: pesquisar sinais de Síndrome dos Ovários Policísticos (SOP), resistência insulínica, tireodeopatias, petéquias, equimoses, lesões da vagina ou colo do útero e tamanho do útero. Para investigação complementar, um hemograma, dosagem de ferritina e USG pélvica. Caso a USG identifique lesão estrutural – que se encaixariam no PALM – o tratamento se dará de maneira distinta para cada tipo de patologia. Caso a USG não identifique qualquer lesão estrutural, o tratamento farmacológico – baseado em hormonioterapia – ou cirúrgico pode ser estabelecido. O tratamento farmacológico terá o objetivo de reduzir ou cessar o sangramento, melhorando a qualidade de vida da paciente. Será sempre a primeira linha do tratamento, deixando o tratamento cirúrgico para casos não resolvidos pelo medicamento. TRATAMENTO
Tratamento de causas não estruturais
Tratamentos cirúrgicos
Ablação endometrial
Constitui uma medida menos invasiva que a histerectomia, consistindo em um
procedimento que destrói o endométrio até sua camada basal, impedindo sua regeneração. Seus melhores resultados se mostram em úteros com histerometria inferior a 10cm. Atualmente, há duas classificações: primeira geração, que ocorre por via histeroscópica; e segunda geração, que é feita com balões térmicos. Há vários métodos de destruição do endométrio: laser, vaporização, crioablação, balão térmico, etc.) A ablação por histeroscopia permite ainda o estudo anatomopatológico. Histerectomia
É o último tratamento que pensaremos em fazer no SUA de causa não
estrutural. É idealmente apenas realizado em pacientes que não possuem desejo de futura concepção. No mais, é um tratamento que apresenta alto índice de satisfação devido ao fato de curar o sangramento uterino definitivamente.
Tratamento de lesões estruturais
Pólipos Mioma
O tratamento farmacológico é a primeira opção antes da cirurgia, tendo
como opções as mesmas do tratamento do SUA não-estrutural. Caso não haja resposta, indica-se a cirurgia, que pode ser realizada via histeroscopia, laparoscopia ou laparotomia, a depender das características do tumor - em número, localização, tamanho e considerando se há desejo de concepção – e da paciente. Caso a lesão seja majoritariamente intracavitária, pode-se realizar a abordagem exclusivamente histeroscópica. Lesões grandes e com componente intramural importante devem ser realizadas via laparoscopia ou laparotomia. Adenomiose