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ENDOMETRIOSE

INTRODUÇÃO

 A endometriose é um distúrbio ginecológico benigno definido pela


presença de glândulas e estroma endometriais fora do sítio normal, ou
seja, a cavidade uterina.
 Esse tecido endometrial é histologicamente igual ao do endométrio e
responde assim como ele a ação hormonal.
 A endometriose pode ocorrer em qualquer parte do corpo, sendo os
principais sítios de implantação o peritônio pélvico, ovários, septo
retovaginal e ureter.
 Devido ao fato de ser uma doença hormônio-dependente, a
endometriose ocorre sobretudo na idade reprodutiva, tendo pico de
diagnóstico na terceira década de vida.
 Estima-se que ela possua uma prevalência em torno de 10 a 15%. Porém,
devido ao fato de muitas pacientes serem assintomáticas e a necessidade
crescente de métodos invasivos para o diagnóstico, esses dados são difíceis
de serem quantificados e muitas vezes subestimados.
 A clínica dessa doença é variada, entretanto, quando a paciente apresenta
sintomas, a maioria se queixa de dor pélvica e infertilidade.
 Vale lembrar que a endometriose tem prevalência em torno de 20 a 50% em
mulheres inférteis, e 40 a 50% em mulheres com dor pélvica. Além disso,
tem mais diagnóstico em mulheres brancas e nulíparas.
 Muitas vezes os sintomas se relacionam a proliferação, sangramento e
reação inflamatória local do tecido endometrial nos diferentes sítios,
estimulado pelos esteroides ovarianos.
 O principal método de diagnóstico é a laparoscopia, com ou sem biópsia para
diagnóstico histológico, sendo a maioria dos exames de imagem pouco
sensíveis para essa doença.
 Endometriose se refere ao tecido endometrial fora da cavidade uterina,
já a adenomiose ocorre quando há tecido endometrial dentro do
miométrio. Portanto, são conceitos diferentes e não devem ser
confundidos.

FISIOPATOLOGIA E ETIOLOGIA

 No entanto, existem várias teorias que tentam explicar os mecanismos


dessas doenças. Vale lembrar que nenhuma dessas teorias isoladamente
conseguem explicar adequadamente a presença de endometriose em todos
os locais já descritos.
Teoria da menstruação retrógrada

 Essa teoria surgiu na década de 1920, sendo a mais antiga e aceita.


 De acordo com essa proposta, a menstruação teria uma regurgitação que
poderia implantar e disseminar tecido endometrial por meio das trompas
de Falópio para a cavidade peritoneal.
 Essas células endometriais adeririam ao mesotélio peritoneal,
desenvolvendo suprimento sanguíneo e levando à sobrevivência e
crescimento do implante endometrial.
 Estudos da época evidenciaram que existe maior quantidade de sangue e
tecido endometrial na pelve de mulheres com endometriose, resultado do
refluxo endometrial.
 De acordo com essa teoria, o lugar mais comum de foco de endometriose é o
ovário porque é o local mais fácil para adesão desses implantes que estão
saindo das trompas.
 Além disso, seguindo esse raciocínio explica-se os focos de endometriose no
ovário e na bexiga, no entanto, não explica endometriose no fígado.
 Dessa forma, apesar de 75 a 90% das pacientes apresentarem menstruação
retrógrada, não se sabe o porquê de apenas uma parcela delas
desenvolverem implantes viáveis.
 Acredita-se que a uma maior viabilidade dos implantes está associada a
alterações imunológicas e do líquido peritoneal.

Metástase linfovascular

 Essa teoria permite explicar a presença de focos de endometriose à


distância por meio da disseminação linfática ou hematogênica de tecido
endometrial.
 Sabemos que a região retroperitoneal tem rica circulação linfática,
sugerindo em casos de lesões retroperitoneais isoladas, a propagação
linfática.
 Sendo assim, essa teoria explica focos de endometriose em tecidos
como olho, pulmão, fígado, cérebro, entres outros, apesar de se raro.

Metaplasia celômica

 Na teoria da metaplasia celômica, células totipotentes, ou seja, com


potencial de se transformar em qualquer tecido do corpo humano,
sofreriam transformação metaplásica, desenvolvendo um tecido
histologicamente distinguível do endométrio normal.
 Essa teoria explica sobretudo os casos de endometriose em pessoas que
não menstruam, como mulheres na pré-menarca e na pós-menopausa, e
nos homens tratados com estrogênio e orquiectomia para carcinoma de
próstata.
 Com isso, explicaria a endometriose em órgãos distantes, como o pulmão.
Apesar de ser uma teoria bem aceita, alguns pontos não são bem
compreendidos por meio dessa hipótese, como ausência de endometriose em
outros tecidos derivados do epitélio celômico e a fisiopatologia de como as
células sofreriam transformação para um tecido viável.
 Como extensão da teoria da metaplasia celômica, surgiu a teoria da indução
que propõe que alguns fatores hormonais ou biológicos, possam induzir a
diferenciação de células indiferenciadas em tecido endometrial.

Teoria dos restos embrionários ou Mülleriana

 Segundo essa teoria, remanescentes dos ductos de Müller se


transformariam em focos de tecido endometrial por resposta a
mediadores de reação inflamatória e ação estrogênica, associada a uma
intermediação permissiva do sistema imune.

Teoria das Células-tronco

 As células-tronco são capazes de transformação em vários tipos


celulares. De acordo com essa teoria, células-tronco endometriais
ativas poderiam se modificar para focos endometriais ectópicos.
 Em conjunto com as teorias de surgimento da endometriose, existem
alterações nos sistemas hormonais e imunes que atuam no favorecimento
dessa doença.
 Fatores hormonais: Apesar das teorias descritas acima, novos estudos
evidenciam que na endometriose ocorre alterações dos tecidos em relação a
resposta a algumas moléculas, aumentando com isso a sua sobrevivência em
uma localização ectópica. Em comparação ao endométrio normal, tecidos de
endometriose exibem níveis aumentados de mediadores inflamatórios, como
de prostaglandina E2, potente indutor da atividade da aromatase nas
células endometriais.
 Sistema imune: Além disso, é inegável o papel do sistema imune na
endometriose. Sabe-se que o tecido endometrial que sofrem refluxo, em
geral, são eliminados por células imunes, como macrófagos, células NK
(natural killer) e linfócitos. Por isso, acredita-se que em mulheres com
endometriose há alterações em fatores de crescimento, citocinas,
imunidade celular e imunidade humoral, permitindo assim, a persistência
do tecido endometrial. Alguns estudos demonstram disfunção dos
macrófagos, células NK e monócitos em algumas mulheres e isso permite a
proliferação do tecido endometriótico. Em relação aos linfócitos T, seu
número está aumentado no líquido peritoneal e sua atividade citotóxica está
alterada naquelas com endometriose. Sobre a imunidade humoral, sabe-se
que anticorpos endometriais da classe IgG são detectados com maior
frequência no soro de mulheres com endometriose. Com isso, sugere-se que
a endometriose pode ser, em parte, uma doença autoimune. As citocinas são
fatores envolvidos na sinalização de células imunes e na endometriose há
níveis elevados da interleucina-1b, fator de necrose tumoral e outras
citocinas envolvidas na patogênese da endometriose.

FATORES DE RISCO

 Existem uma série de fatores que podem ser relacionados ao surgimento da


endometriose. Aparentemente, a endometriose é uma doença poligênica e
multifatorial, resultante da interação genética com fatores ambientais
envolvidos.

 De acordo com vários estudos, sabe-se que fatores que aumentam os


níveis estrogênicos, estão associados ao risco de endometriose. Por
exemplo, menarca precoce, menopausa tardia, infertilidade e malformações
uterinas.
 Isso se deve ao fato, como explicado no tópico anterior, da resposta
alterada do tecido endometrial ectópico ao estrógeno.
 Sendo assim, espera-se que situações que reduzem o nível de estrógeno,
diminuem o risco de endometriose, como por exemplo a supressão ovariana,
menopausa e amenorreia.
 Além disso, há evidências de aumento da endometriose e severidade da
doença em mulheres com parentes de primeiro grau acometido. Inclusive,
mulheres com história familiar apresentam risco sete vezes maior de
desenvolver doença mais grave, bilateral e mais precoce, sugerindo
fortemente um padrão hereditário da doença.
 Alguns estudos evidenciaram a presença de dois principais genes que
alterados, estão implicados na endometriose.
 O primeiro é o gene EMX2, que codifica um fator de transcrição necessário
para o desenvolvimento do trato reprodutivo.
 O segundo gene é o PTEN, um gene supressor tumoral envolvido na
transformação maligna da endometriose ovariana.
 Em relação as malformações do trato genital feminino, as mais comumente
correlacionadas a endometriose são hímen imperfurado, corno uterino não
comunicante, septos vaginais, estenose iatrogênica de colo uterino e miomas
distorcendo a cavidade uterina.
 Acredita-se que a obstrução do trato de saída do sistema reprodutivo
possa predispor ao aumento da menstruação retrógrada
 Ademais, pesquisas apontam que mulheres mais altas e magras, ou seja, com
menor índice de massa corporal, tem maior incidência de endometriose. A
explicação para isso, seria o fato dessas mulheres apresentarem maiores
níveis de estradiol na fase folicular.
 Além disso, aparentemente, mulheres brancas e asiáticas tem maior
susceptibilidade a ter endometriose. Em relação a cor, possa ser que
mulheres negras tenham menor acesso ao sistema de saúde e,
consequentemente, menor taxa diagnóstica.
 A exposição a toxinas ambientais como a dioxina, produto derivado de
processos de combustão industrial, reduz os níveis de testosterona e de
outros andrógenos e com isso, relaciona-se à endometriose.
 Por fim, o alto consumo de café e álcool também possui maior prevalência
nas mulheres com endometriose, ao contrário da atividade física que é um
fator protetor.
 Uso de anticoncepção oral e risco de endometriose é uma interação
controversa até o momento. Alguns estudos apontam aumento do risco de
endometriose, e outros demonstraram redução. Acredita-se que possa
haver um fator de confusão nessa interação.
 Como o anticoncepcional é uma medicação utilizada para o tratamento de
queixas frequentes na endometriose, como dismenorreia, essa medicação
acaba sendo utilizada frequentemente nessas pacientes.

QUADRO CLÍNICO

 A endometriose pode ser assintomática em cerca de um terço das


pacientes.
 No entanto, nas pacientes sintomáticas os sintomas mais comuns são
dismenorreia que aparece em 78% dos casos sintomáticos, dispareunia,
dor pélvica crônica (DPC) e infertilidade.
 Na endometriose pode ocorrer inflamação e fibrose de algumas estruturas.
Por conta disso, suas manifestações clínicas dependem da distribuição das
lesões.
 Cicatrizes extensas dos oviductos e ovários pode produzir desconforto no
quadrante abdominal e subsequente esterilidade. Além disso, essas
aderências causadas pela endometriose podem impedir a captura e o
transporte do oócito pela tuba uterina.
 Além do impedimento mecânico da ovulação e da fertilização, alterações nas
funções ovariana e imune, bem como na implantação, estão relacionadas a
infertilidade.
 Em relação a dismenorreia e dor pélvica, geralmente ocorre por hemorragia
intrapélvica e aderências periuterinas, além da liberação de citocinas pró-
inflamatórias e prostaglandinas, liberadas pelos implantes endometrióticos
no líquido peritoneal.
 Normalmente, a dismenorreia associada à endometriose precede as
menstruações em 24 a 48 horas e é menos responsiva aos medicamentos
anti-inflamatórios não esteroides (AINEs) e aos contraceptivos orais
combinados (COCs).
 A dor pélvica pode ser cíclica ou crônica.
 No caso da cor crônica, sendo encontrada em 40 a 60% das mulheres com
endometrioses. Nesses casos, alguns estudos revelam que ela pode ser
resultado da invasão neuronal nos implantes endometrióticos.
 A endometriose quando localizada no septo retovaginal, ligamento
uterossacral ou serosa uterina pode levar a dispareunia (relações sexuais
dolorosas). Isso se deve ao fato de que durante o ato sexual pode ocorrer
tensão sobre o septo e ligamentos uterossacrais, precipitando a dor.
 A presença de focos endometriais na parede retal, sobretudo no
retossigmoide, pode produzir dor na defecação. Esse sintoma pode ser
crônico ou cíclico e estar associados à constipação, diarreia ou
hematoquezia cíclica.
 Além disso, quando ocorre o envolvimento da serosa da bexiga pela
endometriose, a paciente pode apresentar disúria, apesar de ser um dos
sintomas menos comuns.
 Algumas pacientes com queixa de dor abdominal podem ter endometriose de
parede abdominal.
 Outra manifestação comum são os endometriomas ovarianos que são cistos
ovarianos que apresentam paredes lisas, têm cor marrom-escura e são
repletos de líquido com aspecto de chocolate.

 Em alguns casos, ocorrem endometriomas em cicatriz abdominal após


procedimentos como cirurgia uterina ou cesariana.
 Em casos raros, a endometriose pode envolver intestino delgado, ceco,
apêndice ou colo retossigmoide e levar à obstrução intestinal. Esse quadro
ocorre quando o implante endometrial envolve a parede intestinal no aspecto
transmural e levar a um quadro clínico e radiográfico consistente com
malignidade.
 Os acometimentos extra-abdominais são raros, mas podem apresentar
sintomas graves. Lesões pleurais estão associadas a dor pleurítica e
pneumotórax recorrente no período menstrual, denominado pneumotórax
catamenial.
 Além disso, acometimento do sistema nervoso pode cursar com cefaleias ou
convulsões catameniais.
 No exame físico de uma paciente com endometriose através da inspeção e
palpação abdominal podemos ver endometriose em cicatriz de episiotomia ou
em cicatriz cirúrgica.
 Através do toque vaginal, podemos encontrar nódulos formados por tecido
endometrial no septo retovaginal. Nesses casos, encontra-se nodulações
dolorosas na parede vaginal posterior.
 A palpação abdominal e/ou pélvica, pode revelar anormalidades anatômicas
sugestivas de endometriose. Também podemos palpar uma massa anexial
cística que é um endometrioma em ovários durante a palpação abdominal.
 No exame especular, o colo de útero pode conter focos de endometriose
que a depender da fase do ciclo menstrual, pode-se apresentar de cor
vermelho, marrom ou roxeado. Essas lesões podem ser sensíveis ou sangrar
ao contato.
 Estudos têm demonstrado uma associação entre endometriose e câncer,
sobretudo neoplasia ovariana, maior naquelas que utilizaram reposição
hormonal apenas com estrogênio.
 Além disso, a uma associação entre a endometriose e neoplasias em geral,
como câncer de mama, de ovário e linfoma não-Hodgkin. Apesar disso, os
dados sobre endometriose e câncer ainda são preliminares e não permitem
concluir sobre uma associação real entre os fatores.

DIAGNÓSTICO

 De acordo com a European Society of Human Reproduction and Embriology


(ESHRE) o diagnóstico de endometriose suspeitado com base na história,
sinais e sintomas.
 Em seguida, esse diagnóstico é corroborado pelo exame físico e técnicas
de imagem.
 Isto torna o diagnóstico difícil, pois o exame físico geralmente tem
limitada capacidade diagnóstica na endometriose, mesmo na presença de
endometrioma. Além disso, muitas pacientes são oligo ou assintomáticas,
retardando o diagnóstico.
 Ainda no quadro clínico, vale lembrar que a correlação dos sintomas com o
período menstrual tem grande importância para a suspeita disgnóstica.
 Os exames laboratoriais podem ser solicitados para excluir outras
causas de dor pélvica, através de hemograma, dosagem sérica ou
urinária de gonadotrofina coriônica humana, exame e culturas de urina,
culturas vaginais e esfregaços do colo uterino podem ser realizados
para excluir infecções ou complicações da gestação.
 Feito isso, os exames de imagem têm demonstrado avanços na avaliação
inicial da paciente com endometriose, principalmente no descarte de
diagnósticos diferenciais.
 Entretanto, eles não conseguem dar o diagnóstico definitivo.
 Dentre os exames de imagem destacam-se:
1. Ultrassonografia transvaginal: (USG TV) é um exame simples,
barato e amplamente difundido. Contudo, dificilmente encontra
pequenos focos de endometriose e focos com pouca atividade. Porém,
na presença de um grande endometrioma fica fácil fechar o
diagnóstico, pois eles se apresentam como massas bem delimitadas.

Além disso, a USG TV consegue identificar aderências pélvicas e


acometimento por endometriose profunda. A ultrassonografia retal,
ecoendoscopia e técnicas como sonovaginografia, que envolve
instilação de solução salina na vagina para maior precisão na
localização de endometriose retovaginal, têm sido recomendadas
para o diagnóstico de endometriose do septo retovaginal e dos
ligamentos uterossacrais.
2. Ressonância magnética (RM): A RM possui ressonância magnética
alto custo, é pouco disponível em nosso meio e não deve ser solicitada
de rotina em qualquer suspeita de endometriose. Entretanto, é o
exame que apresenta melhores taxas de sensibilidade e
especificidade na avaliação da paciente com endometrioma e
endometriose profunda.
3. Tomografia computadorizada (TC): Esse exame é mais utilizado
para diagnosticar e avaliar a extensão da endometriose intestinal,
determinando a presença e a profundidade de lesões
endometrióticas intestinais.

 Além disso, na presença de infertilidade, sangramento e dismenorreia


pode-se realizar a histeroscopia, para afastar outras doenças que
cursem com os mesmos sintomas.
 A colonoscopia pode ser indicada nas lesões múltiplas que acometem a
mucosa intestinal e para afastar outras doenças que causem sangramento e
dor.
 Enquanto que a cistoscopia tem indicação na suspeita de endometriose
vesical próxima aos óstios ureterais.
 O diagnóstico final da endometriose é realizado por laparoscopia.
 A laparoscopia com biópsia do tecido é o exame padrão-ouro no
diagnóstico da endometriose.
 Algumas sociedades defendem que além da laparoscopia, também deve ser
realizado a biópsia da lesão. No entanto, o Ministério da Saúde (2016),
afirma que não é necessário a biópsia para confirmação histopatológica, pois
há alta correlação entre achados laparoscópicos e histológicos, e a
comprovação histológica seria desnecessária a investigação.
 A laparoscopia permite tanto o diagnóstico como o tratamento da paciente,
pois permite a visualização e a descrição das lesões.
 Vale lembrar que a laparoscopia só deve ser realizada se não for possível
obter o diagnóstico e tratamento de maneiras menos invasivas e após ter
sido feita toda a avaliação por meio dos métodos de imagem.
 Novos trabalhos estão tentando empregar marcadores para facilitar o
diagnóstico da endometriose.
 O CA125 é um dos marcadores mais pesquisados em endometriose, pois
apesar de aumentar na menstruação de pacientes com ou sem endometriose,
naquelas que têm endometriose mais avançada têm maiores níveis de CA-
125.
 Contudo, esse marcador não possui níveis de sensibilidade e especificidade
bons o suficiente para ser empregados de rotina no rastreio e diagnóstico
dessa patologia.
 Outros marcadores são a interleucina-6, interleucina-8, fator de necrose
tumoral e interferon-gama.
 Por fim, várias condições apresentam quadro clínico similar à endometriose
e por isso, devem ser descartadas na avaliação diagnóstica.
 Outras causas de dor pélvica crônica são adenomiose, aderências pélvicas,
doença inflamatória pélvica e massas pélvicas.
 Causas não ginecológicas de dor pélvica também devem ser avaliadas, como
síndrome do cólon irritável, cistite intersticial, fibromialgia e disfunções
musculoesqueléticas do assoalho pélvico.

CLASSIFICAÇÃO E SÍTIOS ANATÔMICOS

 A extensão da endometriose pode variar muito entre as pacientes.


 Por conta disso, existem uma classificação da American Society for
Reproductive Medicine (ASRM) que avalia de forma objetiva essa extensão.
 Essa classificação, além da extensão da doença, permite diferenciar entre
doença superficial e invasiva, correlacionar os achados cirúrgicos e os
resultados clínicos e descrever a morfologia da lesão endometriótica
como branca, vermelha ou preta.
 Ela engloba a profundidade da invasão, grau de envolvimento ovariano,
presença de aderências e comprometimento do fundo de saco de
Douglas.
 De acordo com esse estadiamento, a endometriose é classificada em 4
estágios.
 No entanto, essa classificação apresenta algumas limitações, pois não
correlaciona o prognóstico da doença e o nível de dor. Além disso, nessa
classificação não estão incluídas algumas localizações de endometriose,
como o intestino, no estadiamento da doença.

 A endometriose pode se desenvolver em qualquer sítio.


 O mais comum é encontrar a endometriose em áreas pélvicas, como
ovário, peritônio pélvico, fundo de saco e ligamentos uterossacrais.
 Mas também pode ocorrer no septo retovaginal, ureter e, raramente,
bexiga, pericárdio, cicatrizes cirúrgicas e pleura podem ser afetados.
TRATAMENTO

 O tratamento da endometriose pode ser dividido em clínico, expectante ou


farmacológico, cirúrgico ou a combinação de ambos.
 A escolha vai depender dos sintomas específicos, sua gravidade,
localização das lesões endometrióticas, objetivos do tratamento e
desejo de conservar a fertilidade da paciente.
 Por exemplo, se a infertilidade o objetivo principal, utilizará um tratamento
que preserve a fertilidade, sem supressão da ovulação.
 Por outro lado, se a paciente apresentar sintomas dolorosos intensos e
constantes e não desejar mais ter filhos, justifica-se a cirurgia definitiva.

TRATAMENTO CLÍNICO

 Em relação ao tratamento clínico, nas pacientes assintomáticas, com


diagnóstico acidental de endometriose, pode-se adotar uma conduta
expectante.
 Nas pacientes sintomáticas, como o tecido endometriótico tem resposta
hormonal, pode-se utilizar medicações que levam a um período com
ausência de menstruação ou amenorreia.
 Dentre os medicamentos estão os análogos do GnRH que simulam a
menopausa, o gestrinona ou danazol que levam a amenorreia ou os
anticoncepcionais orais e progestágenos.
 Todos esses tratamentos são não invasivos, todavia, têm a desvantagem
para a mulher que quer engravidar.
a) Análogos do GnRH: Em relação aos análogos do GnRH, eles levam a
diminuição de gonadotrofinas e hipoestrogenismo. Dessa forma,
ocorre amenorreia e redução da atividade dos focos de
endometriose.
Os efeitos adversos são decorrentes da diminuição dos níveis de
estrogênio (fogachos, ressecamento vaginal, diminuição da libido,
alteração de humor, cefaleia e depleção óssea).
O tratamento por mais de seis meses deve ser associado à reposição
hormonal para diminuir os efeitos do hipoestrogenismo.
b) Anticoncepcional oral (ACO): O ACO alivia a dismenorreia e pode ser
utilizado de forma cíclica ou contínua. Eles causam inibição da
ovulação com diminuição dos níveis de gonadotrofinas, diminuição
do fluxo menstrual e decidualização dos focos de endometriose.
c) Progestágenos: Esses medicamentos provocam decidualização e
atrofia dos focos de endometriose.
Apresentam como efeitos adversos mais frequentes sangramento
irregular, ganho de peso, acne e edema. Pode ser utilizados em
comprimidos, formas injetáveis, implantes e dispositivos
intrauterinos (DIU).
d) Danazol e gestrinona: O danazol é um androgênio oral que inibe o
LH e a esteroidogênese, e eleva os níveis de testosterona livre.
Os efeitos adversos mais comuns incluem hirsutismo, acne e
alteração de voz.
A gestrinona é um progestágeno/antiestrogênio e produz inibição da
esteroidogênese ovariana. Os efeitos adversos são decorrentes dos
efeitos androgênicos e antiestrogênicos.
 Além disso, para melhor a dor, comum na endometriose, estão indicados
medicamentos analgésicos e anti-inflamatórios não esteroides (AINEs),
como ibuprofeno, o naproxeno e o ácido mefenâmico.
 Esses agentes inibem de forma não seletiva as isoenzimas COX-1 e/ou COX-
2. Ambas enzimas são responsáveis pela síntese das prostaglandinas
envolvidas na dor e na inflamação associada à endometriose.
 Outras medidas, como acupuntura e atividade física, podem ser efetivas no
manejo da dor pélvica.

TRATAMENTO CIRÚRGICO

 O tratamento cirúrgico pode ser realizado por meio de laparoscopia ou


laparotomia. Tendo como objetivo a retirada do tecido endometriótico.
 O tratamento cirúrgico consiste na cauterização dos focos de
endometriose associada à lise de aderências, procurando restabelecer a
anatomia normal da pelve.
 Além disso, pode-se retirar áreas de fibrose via laparoscopia, desfazer
endometrioma, e reposicionar as trompas, para facilitar uma possível
gestação.
 Endometriomas devem ser manejadas cirurgicamente.
 O tratamento medicamentoso pode levar à redução temporária do tamanho
do cisto, mas não consegue eliminá-lo.
 Eles podem ser somente drenados ou drenados e ter sua cápsula
cauterizada.
 Além disso, pode-se fazer a cistectomia, com retirada completa da lesão.
Sendo que essa última opção possui melhores taxas de redução dos
sintomas. Porém, nesses casos também há maior dano ao parênquima
ovariano, podendo alterar a reserva ovariana.
 A histerectomia total associada à anexectomia bilateral é reservada a
pacientes com doença extensa e que não desejam ter filhos.
 Outra abordagem inclui a neurectomia pré-sacral, que tem demonstrado
diminuir dispareunia e dismenorreia.
 Em alguns casos de endometriose, pode ser necessário a ressecção vesical
parcial, reimplante ureteral, ressecção digestiva, colostomia, a depender da
extensão da doença.
 Vale lembrar que mesmo com intervenção cirúrgica, a paciente precisa
ser tratada clinicamente. Não adianta fazer cirurgias sem tratar
clinicamente, pois pouco tempo depois, as alterações, como endometriomas e
aderências, podem retornar.
 Por isso, toda paciente que é tratada cirurgicamente, obrigatoriamente, tem
que fazer o tratamento combinado para evitar que a doença volte.

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