Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
reflexões multidisciplinares
Adriana Cristina Silva
José Luiz de Paula e Silva
Karol Natasha Lourenço Castanheira
Wanderley Cesar Pedrosa
(orgs.)
Frutal — MG
2020
Revisão
Organizadores
Impressão e acabamento
Editora Ferjal
Capa
Maria Inez Vasconcelos Rodrigues
Desenhos
Luís de Matos
Conselho Editorial
Adlisandra da Silva Santos Castelhano – Mackenzie| FAF
Cacildo Teixeira de Carvalho Neto – UNESP
Danton Heleno Gameiro – UFOP
Iuri Barbosa Gomes – UNEMAT
Josiani Julião Alves de Oliveira UNESP| FCHS
Leonice Domingos dos Santos Lima - Universidade Brasil
Priscila Alvarenga Cardoso Gimenes - UFU
Reginaldo Pereira França Junior – UFCG
Rogerio Ruas Machado – UNIFESSPA
Rosely Aparecida Romanelli - UNEMAT
Rosimár Alves Querino – UFTM
Vanesca Korasaki – UEMG
Inclui bibliografia.
ISBN:
Lidiane Aparecida Alves; Vitor Ribeiro Filho e Adriano Reis de Paula e Silva
2. A VIVÊNCIA DA EDUCAÇÃO AMBIENTAL EM FRUTAL (MG) PELAS
PRÁTICAS ECOLÓGICAS ........................................................................................ 23
Mônica de Sousa Alves; Aline Nunes de Souza e Gercina Aparecida Angelo
3. A PRIMEIRA LIÇÃO DE CASA DO AGRINHO: LAVAR CORRETAMENTE AS
EMBALAGENS DE AGROTÓXICOS ....................................................................... 34
Aida Franco de Lima
GESTÃO
7. A GESTÃO AMBIENTAL É UM DESAFIO DE TODOS .................................... 86
Wanderley Cesar Pedrosa; Lucas Hernane Andrade Leonel e Adriana Cristina Silva
8. APROPRIAÇÃO DOS MODELOS DE PARTICIPAÇÃO PÚBLICA NA
PERSPECTIVA AMBIENTAL ................................................................................ 100
Karol Natasha Lourenço Castanheira; Priscila Kalinke da Silva e Luiz Antonio Feliciano
Considerações Iniciais
de Uberlândia. ribeirofilho.vitor@gmail.com
3 Mestre em Geografia pelo Instituto de Geografia da Universidade Federal de Uberlândia. Professor da
Foi desse modo que nosso mal-estar nasceu no bem-estar. Esse mal-
estar pode ser mensurado pelo grande número de pessoas que
consomem desenfreadamente psicotrópicos e antidepressivos, bem
como no aumento de visitas ao psiquiatra. A maioria das doenças
decorre de uma dupla fonte: somática e psíquica. Existe, porém, uma
terceira probabilidade de cairmos doentes, cuja origem é social ou
civilizatória. Todos esses males considerados privados, e contra os
13
quais lutamos de forma individual, são indicativos do mal-estar geral de
uma civilização submetida à atomização, ao anonimato, às restrições
mecânicas e mutilantes, à perda de sentido. (MORIN, CIURANA e
MOTTA 2007, p. 85).
15
Diante do exposto ninguém duvida que: o período atual acumulou um
grande volume de conhecimentos, ainda que fragmentados, o que leva a eventuais
perdas de sentido do todo; a conjuntura é de grande complexidade, o que nos coloca
em um estado de irresolução, dúvidas e confusões e o caminho para as mudanças
pressupõe a emergência de uma nova racionalidade pautada novas formas de relação
sociedade e natureza.
Apesar da impossibilidade de se “quebrar” o conhecimento cientifico, sua
compartimentação, em distintas ciências foi uma necessidade surgida com a
expansão horizontal (extensão) e vertical (profundidade) do conhecimento, que vem
preocupando os filósofos desde o século XVIII, como Kant e Comte no século XIX
(ANDRADE, 1989). Ao retornar ao filosofo Immanuel Kant (1724-1804), que
considerava o conhecimento como a combinação da sensibilidade e do
entendimento.
Assim sendo, Morin, Ciurana e Motta (2007) propõem o pensamento
complexo de modo a buscar o entendimento da realidade do mundo atual
considerando a rearticulação de saberes. Segundo os autores a complexidade é
entendida como a rede de eventos, ações, interações, retroações, determinações,
acasos, incertezas, contradições etc. Ela diz respeito não apenas à ciência, mas
também à sociedade, à ética e à política.
Segundo Morin, Ciurana e Motta (2007) dentre outros aspectos, o
pensamento complexo embasar-se na incerteza, posto que certeza generalizada é um
mito; e na busca pela articulação e multidimensionalidade, logo seu método está
relacionado ao reaprender a aprender. Logo, para seguir este caminho são
necessários princípios/estratégias como: a dialógica, a recursividade, a
hologramaticidade etc. Sendo que a dialógica pressupõe pensar a inseparabilidade de
contraditórios, a “associação complexa (complementar/concorrente/antagônica) de
instâncias necessárias, conjuntamente necessárias à existência, ao funcionamento e ao
desenvolvimento de um fenômeno organizado”, a recursividade pressupõe a ideia de
autoprodução e a auto-organização, no sentido de que “os efeitos ou produtos são,
simultaneamente, causadores e produtores do próprio processo, no qual os estados
finais são necessários para a geração dos estados iniciais”; a hologramaticidade como
a capacidade de cada parte conter praticamente a totalidade, mas também do todo
estar na parte (MORIN, CIURANA e MOTTA 2007, p. 33-37).
Nesse sentido, os autores alertam para a necessidade de uma educação que
tenha por objetivo uma concepção complexa da realidade e que efetivamente
conduzissse a ela, colaborando para atenuar a crueldade do mundo. Afinal,
16
produziram um efeito demasiado conhecido e sofrido pela humanidade
(MORIN, CIURANA e MOTTA 2007, p.39).
17
de uma forma de educação política com o objetivo de construção de conhecimentos
e mudança do mundo em que se vive. Sendo que, a EA converge como a
“necessidade de vincular uma pedagogia do ambiente a uma pedagogia da
complexidade (capacidade de ver o mundo como sistema complexo e compreender a
causalidade múltipla, indeterminação e interdependência de processos)” (LEFF,
2015, p.250).
Os documentos nacionais sobre a EA adotam perspectiva semelhante. A Lei
9.795/99, que institui a Política Nacional de EA no Brasil, em seu artigo 1º conceitua
EA como “os processos por meio dos quais o indivíduo e a coletividade constroem
valores sociais, conhecimentos, habilidades, atitudes e competências voltadas para a
conservação do meio ambiente, bem de uso comum do povo, essencial a sadia
qualidade de vida e sua sustentabilidade”. Ademais, destaca em seu artigo 2º que “a
EA é um componente essencial e permanente da educação nacional, devendo estar
presente, de forma articulada, em todos os níveis e modalidades do processo
educativo, em caráter formal e não-formal.” (BRASIL, 1999).
De modo similar o artigo 2º das Diretrizes Curriculares Nacionais para a
Educação Ambiental, traz que:
18
esperança regenerando sua vida. Não é a esperança o que faz viver, é o
viver que cria a esperança que permite viver.
• Princípio do inconcebível: todas as grandes transformações ou
criações foram impensáveis antes de ocorrer.
• Princípio do improvável: todos os acontecimentos felizes da história
foram, a priori, improváveis.
• Princípio da toupeira: que cava suas galerias subterrâneas e
transforma o subsolo antes que a superfície se veja afetada.
• Princípio de salvação: é a consciência do perigo que, segundo
Hölderlin, sabe que “onde cresce o perigo, cresce também o que salva”.
• Princípio antropológico: é a constatação de que o Homo
sapiens/demens usou até o presente uma pequena porção das
possibilidades de seu espírito/cérebro. Isso supõe compreender que a
humanidade se encontra longe de ter esgotado suas possibilidades
intelectuais, afetivas, culturais, civilizacionais, sociais e políticas. Nossa
cultura atual corresponde ainda à pré-história do espírito humano e
nossa civilização não ultrapassou a idade de ferro planetária.
Considerações finais
19
Desde a década de 1960/1970 é reconhecida a crise ambiental decorrente da
capitalização da natureza pela globalização, que difundiu em escala planetária o mal
estar da civilização. Entretanto, até os dias atuais a inter-relação das condições
ambientais com as condições de vida carece de maior entendimento, cujo
encaminhamento para mudança perpassa pela educação, essencial para a
internalização e difusão de conceitos, valores e hábitos, a partir do entendimento
pelo cidadão, que este tem papel ativo nas questões socioambientais.
Referências
20
PORTO-GONÇALVES, C. W. Escassez, economia e meio ambiente: o desserviço
de Paulo Guedes, Espaço e Economia [Online], v. 2, n. 17, s/p, jan./abr. 2020.
SANTOS, M. Por uma outra globalização: do pensamento único à consciência
universal. 3ª. ed. Rio de Janeiro: Record, 2000.
. A natureza do espaço: Técnica e tempo. Razão e emoção. 2.ed. São Paulo:
Hucitec, 1997.
21
22
2. A VIVÊNCIA DA EDUCAÇÃO AMBIENTAL EM FRUTAL (MG)
PELAS PRÁTICAS ECOLÓGICAS
Resumo
Este capítulo narra a vivência do Programa de Práticas Ecológicas nas escolas
municipais de Frutal (MG), coordenado pelas Secretarias de Meio Ambiente e
Educação, que segue a linha pedagógica da Alfabetização Ecológica, do pensador
Fritjob Capra. Implantado no ano de 2018 em 12 escolas, abrangendo 5.237
estudantes. Utilizou-se para a pesquisa o método da observação participante e
aplicação de questionário e concluiu-se que houve abertura para reconexão com a
natureza, satisfação e envolvimento das crianças nos dois primeiros anos de
implantação do projeto. Considera-se importante o acompanhamento subsequente
do programa para que se possa mensurar gradativamente o alcance das práticas
ecológicas.
Considerações Iniciais
24
Fundamentação Teórica
25
antropocêntricos, que aprendam o cuidado, a preservação e o conhecimento da
biodiversidade e da sustentabilidade da vida na Terra” (TIRIBA, 2005, s.p).
Sobre o programa
28
FIGURA
Resultados
29
Ambiental, que tem propiciado aos alunos momentos lúdicos, de muito
aprendizado.
30
Considerações Finais
Referências
31
CAPRA, F. Alfabetização ecológica: a educação das crianças para um mundo
sustentável. São Paulo: Cultrix, 2006. 318 pp.
CAPRA, F. The web oflife – A teia da vida: uma nova compreensão científica dos
sistemas vivos. 16ª ed. trad.Newton Roberval Eichemberg. São Paulo: Pensamento-
Cultrix, 2000. p. 24-25.
CAPRA, F. As conexões ocultas. São Paulo: Editora Cultrix, 2002.
CAPRA, F., STONE, M. K. ; BARLOW, Z. Alfabetização Ecológica: a educação
das crianças para um mundo sustentável. São Paulo: Editora Cutrix, 2006.
CORREIA, M. C.. A Observação Participante enquanto técnica de
investigação. Pensar Enfermagem, 13(2), 30-36, 1999.
FRUTAL. Lei nº 5.164, de 29 de Junho de 2005. Institui a inclusão de programas
especiais de educação ambiental e ecossistema regional, para os alunos de 1º e 2º
ciclo do ensino fundamental e educação infantil, nas escolas da rede municipal de
ensino. Disponível em:
https://sapl.frutal.mg.leg.br/media/sapl/public/normajuridica/2005/4322/05164.p
df. Acesso em: 5 de janeiro de 2020.
TIRIBA, L. Crianças, natureza e educação infantil. Tese de Doutorado. PUC-Rio,
Departamento de Educação, 2005. 249 pp.
32
33
3. A PRIMEIRA LIÇÃO DE CASA DO AGRINHO: LAVAR
CORRETAMENTE AS EMBALAGENS DE AGROTÓXICOS
Aida Franco de Lima7
Resumo
Devido ao alto índice de intoxicação por agrotóxicos e acúmulo do lixo na zona
rural, este último originado a partir dos restos de embalagens de agrotóxicos surgiu,
no ano de 1995, no Paraná, o programa Agrinho. O mesmo transita por um caminho
dúbio, pois, ao mesmo tempo em que estimula práticas positivas em relação ao meio
ambiente e ao bem-estar social, é patrocinado por multinacionais do ramo
agroquímico. Como estímulo para o engajamento de alunos, docentes e comunidade,
são distribuídas grandes somas em objetos eletrônicos, dentre outros, e também
automóveis. O Agrinho teve início diante da nova proposta pedagógica que visava
aos temas transversais, sendo o primeiro material destinado a alunos de 1ª a 4ª séries
do ensino fundamental. O presente trabalho é parte de um capítulo da tese
denominada “Iconofagia e incomunicação: a violência na publicidade de alimentos
animalizados, créditos bancários e agrotóxicos, dirigida a jovens e idosos”.
35
tema da cidadania, que incorporou assuntos relativos a trabalho e consumo, temas
locais e civismo.
Em meados de 2002, o programa passou por mais uma ampliação para
contemplar outros temas que se faziam igualmente prioritários: meio ambiente,
saúde, cidadania e trabalho e consumo. Novos materiais foram desenvolvidos, desta
vez para alunos e professores. De acordo com o site oficial, “(...) em 2006, quando o
programa completou 10 anos, realizou-se uma ampla avaliação e com base nesta,
todo o programa foi repensado e a proposta foi acrescida de novos temas e
materiais” (AGRINHO, 2007).
Quando completou doze anos no Paraná, em 2007, o material entregue ao
aluno recebeu outra estruturação, passando a ser organizado por série e não mais por
temas, com o material do professor composto por dois livros. O público foi
ampliando e, além das escolas da rede pública de ensino, também a rede particular de
ensino passou a ser atendida, tendo a proposta pedagógica baseada na
interdisciplinaridade e na pedagogia da pesquisa (AGRINHO, 2007). No ano
seguinte, em 2008, mais de 95% dos 399 municípios do Paraná haviam aderido ao
programa Agrinho. “Ao aderir ao programa os municípios podem solicitar sem
qualquer ônus, capacitação dos professores e envio de materiais para todas as
crianças e adolescentes regularmente matriculados nas escolas públicas municipais ou
estaduais” (AGRINHO, 2007).
Na data em que se comemorou 15 anos do programa, o presidente da
Federação dos Agricultores do Paraná, Ágide Meneguette, destacou seu alcance, em
números, salientando que o Agrinho já havia extrapolado as barreiras do Paraná:
“(...) O Agrinho é uma luminosa vitrine do SENAR-PR, que a cada ano mobiliza
mais de 80 mil professores e cerca de 1 milhão e 600 mil alunos”. (MENEGUETTE,
2010, p. 3).
Com vasto material de apoio online, alunos e professores recebem cartilhas
temáticas, e, como estímulo à produção, anualmente é realizado o Concurso
Agrinho, que concede prêmios, que vão desde produtos eletrônicos à veículos, a
alunos da rede pública e particular, aos melhores desenhos de turmas do primeiro
ano e de educação especial, e a redações do primeiro ao nono ano. Contempla, ainda
com premiações, as experiências pedagógicas e os que obtiveram o título de
Município Agrinho e Escola Agrinho. O prêmio é divido em fase regional e estadual,
tendo várias categorias.
De acordo com o site Agrinho (2010), na cerimônia de comemoração de 15
anos do Programa, em Curitiba, foram premiados 212 alunos e professores, que
concorreram com 5,5 mil trabalhos, dentre desenhos, redações e experiências
pedagógicas. Durante a cerimônia, foram nominados e homenageados com o troféu
“Instituição Amiga” os parceiros do Programa: Governo do Estado, Ministério do
Trabalho e Emprego, Tribunal Regional do Trabalho da 9ª Região, Ministério da
36
Previdência Social, Itaipu Binacional, Ministério Público do Trabalho, Banco do
Brasil, Dow AgroSciences e Receita Federal, além de uma homenagem especial do
Sistema FAEP ao governador em exercício, Orlando Pessuti.
37
(saúde)”; „Por que a água é um recurso natural renovável mas limitado
(água)?”; “A sobrevivência do homem depende da biodiversidade
(biodiversidade)”; “O que você pode fazer para evitar o efeito estufa
(clima)”; e “Qual a importância do solo para o equilíbrio ambiental
(solo)?”. (LUZ, 2000, p. 2).
Luz (2000) afirma que o Agrinho surgiu como um projeto piloto para tratar
unicamente de agrotóxicos, tendo claro seu objetivo, que “consistira em fazer com
que as crianças se acostumassem com os venenos na lavoura, preparando-as para que
no futuro se tornassem um mercado dócil e sem alternativas” (LUZ, 2000, p. 2). Nas
palavras do autor, tal contexto já ocorria dentro das escolas da rede pública, numa
parceria do governo do Paraná com as “indústrias de venenos”.
38
Eles estão em histórias em quadrinhos, jogos e passatempos. (LUZ,
2000, p. 2)
39
Luz (2000) traz à tona o posicionamento do médico e então deputado
federal Rosinha (PT-PR) e do especialista em agroquímica e engenharia genética,
Sebastião Pinheiro. Com ironia, Rosinha (apud LUZ, 2000, p. 1) afirma: “(...) de fato,
o Agrinho é um sucesso; um sucesso na formação de futuros consumidores de
agrotóxicos. Se não fosse assim, se fosse algo preocupado com o meio ambiente, o
Agrinho orientaria para uma agricultura alternativa, ecológica, e não para o uso de
venenos”. Na opinião de Pinheiro (apud LUZ, 2000, p. 1), “(...) estão preparando um
mercado futuro, treinando crianças para aceitar os agrotóxicos. E isso é apresentado
como política pública de proteção! Tudo sob o beneplácito do Ministério Público,
dos governos, da Embrapa. É uma imoralidade”.
O autor conclui que não é preciso esperar as crianças crescerem para que
fosse ampliada a venda de agrotóxicos. Segundo dados da Secretaria de Agricultura e
Abastecimento do Paraná, desde a implantação do programa, em 1996, até o ano
2000, houve um aumento de mil toneladas no consumo de pesticidas no estado. “Na
safra 1995/96 o consumo era de 41 toneladas; na de 1998/99 o consumo subiu para
42 mil toneladas. Em suma: o Agrinho já é um sucesso para o comércio de venenos”
(LUZ, 2000, p. 1).
Na concepção do especialista em agroecologia, Valdemar Arl, o modelo da
denominada “Revolução Verde”, baseado na integração agroindustrial por meio da
organização das cadeias produtivas ou base tecnológica, mostrou-se altamente
excludente e danoso ao meio ambiente.
40
insuportáveis resultando em grande êxodo rural, concentração de renda
e das terras, e consequente exclusão social (ARL, 2011, p. 1).
41
tem sido gratificante graças ao entusiasmo e dedicação de todos (GIL,
2012, p. 5).
Alexius (2011) diz que sente um frio pela espinha quando lê uma matéria
jornalística que diz que “o projeto visa 'conscientizar' as novas gerações de
agricultores (inocentes crianças) da utilização correta de venenos agrícolas com
segurança para o ser humano e o meio ambiente.” (ALEXIUS, 2011, s/p). Ele utiliza
o termo “macabro” para caracterizar as informações seguintes:
42
professoras, não sei se estou mesmo vendo isso ou se é um delírio!
(ALEXIUS, 2011, s/p).
43
síntese, constitui-se de uma mensagem publicitária, paga, com aspecto de reportagem,
de matéria jornalística. A meta é que o conteúdo integre-se naturalmente ao veículo
em que está inserido, de modo a não ser interpretado como matéria paga e, portanto,
conquistando a credibilidade que os textos jornalísticos normalmente costumam ter.
“Implicitamente, o publieditorial visa “passar a perna” no leitor que, desavisado, pode
„comer gato por lebre‟, ou seja, ver uma matéria onde, na verdade, existe publicidade”
(BUENO, 2006, p. 1).
Arl (2011) elenca 14 pontos críticos em relação ao Agrinho. Em sua análise,
o programa não questiona o modelo adotado com base na Revolução Verde. Apesar
de evidenciar algumas consequências ambientais, ele as trata como resultantes de
abusos ou erros no uso das tecnologias. “Basicamente sugere ajustes para diminuir
essas consequências. Não trata das questões agrárias e sociais de fundo, como
concentração das terras, êxodo rural, concentração da renda e exclusão social” (ARL,
2011, p. 1).
Outra crítica apontada é com relação ao material de apoio utilizado que cita
os agrotóxicos, adubos químicos e outros agroquímicos como único caminho para a
produção de alimentos. “Isso é uma visão equivocada de fertilidade. Propõe o
modelo agroquímico, artificializando a possibilidade de fazer produção em ambientes
crescentemente degradados” (ARL, 2011, p. 1).
44
citando inclusive exemplos. Depois associa os problemas ao uso
irresponsável. Levanta algumas das questões problemáticas em
debate, mas não sugere nenhuma medida de suspensão ou
proibição, mesmo diante da gravidade dos riscos e da
inconsistência das informações técnicas (ARL, 2011, p. 1).
45
Considerações Finais - O Agrinho na berlinda
Referências
46
FAEP. Federação da Agricultura do Estado do Paraná. Boletim Informativo.
Programa Agrinho - dez anos: Saúde, meio ambiente, cidadania e combate ao
trabalho infantil, 2005. Disponível em: https://url.gratis/0t6Tr Acesso em: 05 jul.
2020.
FAEP/SENAR. Interatividade e metodologia de projetos. Disponível em:
http://ead.sistemafaep.org.br/interatividade-e-metodologia-de-projetos.php Acesso
em: 29 ago. 2014.
GIL, Fabian. Agrinho 15 Anos Comunicação Social do Sistema FAEP.
Disponível em: http://issuu.com/sistemafaep/docs/agrinho15anos/5 Acesso
em: 26 ago. 2014.
GUBERT, Raphaela; TORRES, Patricia Lupion. A formação continuada à
distância de professores no Programa Agrinho: uma proposta de educação
ambiental. Disponível em: https://url.gratis/B7YoG Acesso em: 27 ago. 2014.
INPEV. Tipos de Lavagem – Tríplice Lavagem. Disponível em:
http://www.inpev.org.br/logistica-reversa/tipos-lavagem Acesso em: 26 ago. 2014.
LUZ, D. No Paraná crianças são usadas para difundir o uso de agrotóxicos -
Doutrinação de 1.200.000 jovens visa mais garantir o mercado do que
promover a educação ambiental. Disponível em:
http://folhadomeio.com.br/publix/fma/folha/2000/02/agr101.html Acesso em:
27 ago. 2014.
MENEGUETTE, Á.. ―Uma luminosa vitrine do SENAR-PR‖ - Principais
trechos do discurso do presidente do Sistema FAEP. AGRINHO 15 ANOS.
Comunicação Social do Sistema FAEP. Disponível em:
http://issuu.com/sistemafaep/docs/agrinho15anos/5 Acesso em: 26 ago. 2014.
PROGRAMA AGRINHO. Programa de Responsabilidade Social do Sistema
FAEP e seus parceiros. Histórico. Disponível em: https://url.gratis/3VXFH
Acesso em: 26 ago. 2014.
SENAR – GOIÁS. Agrinho – Treinamento de Professores - 2ª turma.
Disponível em: http://www.senargo.com.br/site/site.do?idArtigo=234 Acesso em:
26 ago. 2014.
47
48
4. NA CONSTRUÇÃO DE UMA SOCIEDADE SUSTENTÁVEL, A
IMPORTÂNCIA DA EDUCAÇÃO AMBIENTAL NAS ESCOLAS
Resumo
A instituição da temática de educação ambiental nas escolas pode ser apontada como
uma das formas mais eficazes para a conquista de uma sociedade sustentável. As
escolas tornaram-se aliadas, para o alcance do desenvolvimento sustentável, sendo
pauta principal dos debates mundiais e nacionais sobre o meio ambiente, desde que
remodeladas, convertendo-se em espaços de conscientização ambiental, onde o
desenvolvimento do senso crítico, a disseminação de novas práticas de uso dos
recursos naturais, o incentivo ao respeito à vida e a mudança de comportamento.
Este trabalho vem objetivar uma análise à legislação brasileira acerca de educação
ambiental e a sua implantação no país.
Considerações Iniciais
E-mail: cristinej@hotmail.com.
49
Desenvolvimento Sustentável (2005-2014); e, em 2012, com a implantação da
educação ambiental nos currículos escolares do MEC, determinados parâmetros
foram criados para que a educação ambiental fosse incluída desde a educação
infantil, ensino fundamental, ensino médio, até a educação superior, incluindo
também a educação especial, quilombola e indígena.
Criada em 2012, a partir de conferências promovidas pelo MEC, a Comissão
de Meio Ambiente e Qualidade de Vida na Escola (Com-Vida) e o programa Escolas
Sustentáveis estão sendo apontados como fones basilares para o fortalecimento das
políticas de educação. Grohe (2015, p.24), afirma: “O programa Escolas Sustentáveis
incentiva a reflexão e prioriza o diálogo entre os conhecimentos científicos, culturais
e os saberes locais, ao mesmo tempo em que propõe a gestão democrática da escola
com a comunidade escolar”.
Neste trabalho realizamos um levantamento da aplicação dos programas
governamentais, como inspiradores para a implantação da educação ambiental de
forma transversal e integral na totalidade das escolas brasileiras.
O tema educação ambiental, foi explorada por meio de atualização bibliográfica
relativa ao tema, mostrando um histórico dos principais eventos mundiais
relacionados ao meio ambiente, com uma retrospectiva da construção da legislação
brasileira sobre o tema.
No final dos anos 1960, início dos anos 1970, as questões ambientais
começaram a ser discutidos, baseados em demonstrações científicas sobre as
deteriorações que estavam sendo sentidas no planeta, com a degradação do meio
ambiente pela exploração dos recursos naturais. Com o dispêndio descontrolado da
industrialização, na destinação dos resíduos sólidos, muito menos a preocupação
com a reparação dos danos causados, causando impacto ambiental.
O despertar da consciência e da sensibilidade social para os problemas
ambientais, segundo Meadows, Randers e Meadows (2007), se dará quando a
sociedade se deparar com os limites do crescimento pelo esgotamento dos recursos
naturais. Jacobi (2005), já previa que a partir de então, é confirmado que os
processos econômicos e sociais precisavam ser revistos.
Nos anos 70, a educação ambiental passa a ter relevância estratégica na
busca pela qualidade de vida, pois se torna imprescindível alterar a forma de encarar
os problemas ambientais que se apresentavam no planeta. Em 1972, a Organização
das Nações Unidas (ONU) realiza em Estocolmo a primeira grande conferência
mundial sobre o meio ambiente da qual participaram representantes de 113 países.
Nesta conferência, foi elaborada a Declaração de Estocolmo que demarcou alguns
princípios, como a relevância dos recursos naturais para a espécie humana, a
50
necessidade de preservar culturas, respeitar etnias, crenças e de ter equidade social.
Das recomendações estabelecidas na Declaração, a mais importante é a que ressalva
a necessidade de realizar a educação ambiental como instrumento estratégico na
busca da melhoria da qualidade de vida e na construção do desenvolvimento (LIMA,
1999).
No ano de 1977, a UNESCO, junto com o Programa das Nações Unidas
para o Meio Ambiente (PNUMA), realiza na Geórgia, a Conferência de Tbilisi, as
discussões levantadas enfatizam a necessidade da abordagem interdisciplinar para o
conhecimento e a compreensão das questões ambientais por parte da sociedade
como um todo (PHILIPPI JUNIOR; PELICIONI, 2014), além de estabelecer
princípios norteadores, salientando o caráter interdisciplinar, critico, ético e
transformador da educação ambiental. Sendo essa conferência apontada como um
dos eventos relevantes para as condutas que a educação ambiental adotada em vários
países do mundo, inclusive no Brasil. Em 1987, quando foi produzido o Relatório
Brundtland – Nosso Futuro Comum, na Noruega, neste a designação
Desenvolvimento Sustentável, é apontada como a melhor definição para o ato
satisfazer necessidades presentes sem o comprometimento das gerações futuras em
atender as suas próprias necessidades.
O Brasil foi um dos países pioneiros em deliberar sobre a questão
ambiental e sinalizar ações governamentais efetivas em relação ao meio ambiente em
sua Constituição Federal de 1988. O artigo 225 da Constituição expressa:
53
edição do Programa Mais Educação, Brasil (2010), onde a construção de escolas
sustentáveis passa a constituir as políticas públicas do Brasil.
Escolas Sustentáveis
54
O livro Meio Ambiente no século 21: 21 especialistas falam da questão
ambiental nas suas áreas de conhecimento, no capítulo: Alfabetização ecológica: um
desafio para a educação do século 21, Capra (2008) apresenta a experiência ocorrida
no Centro de Ecoalfabetização, que fundou, em 1995, junto com Peter Buckley e
Zenobia Barlo, localizado em Berkeley, Califórnia, O Centro desenvolve, nos níveis
da escola primária e secundária, um sistema de educação para uma vida sustentável,
com uma pedagogia centrada na compreensão da vida e que reacende o senso de
participação.
No currículo, estão atividades como o plantio de hortas orgânicas e o seu
uso no preparo de alimentos na escola. Segundo Capra (2008), a experiência na horta
restabelece a conexão das crianças com os fundamentos da alimentação e, ao mesmo
tempo em que integra, torna-as mais interessadas nas outras atividades da escola.
Além disso, o Centro mantém projetos estudantis para a recuperação e exploração de
bacias hidrográficas, programas de educação ecológica voltados para a justiça
ambiental, além de organizar parcerias entre fazendas e escolas para desenvolver o
aprendizado.
De acordo com Capra (2008), pesquisas que iniciaram na década de 1950,
indicam que expor crianças a um ambiente rico em experiências sensoriais e desafios
cognitivos tem resultados duradouros, já que na primeira infância a sensibilidade do
cérebro a influências ambientais é mais intensa. Cientistas e psicólogos estão cada
vez mais convencidos de que o desenvolvimento infantil repleto de experiências
sensoriais e desafios cognitivos tem efeitos benéficos, que podem durar por muito
tempo, enquanto que não participar de tantas experiências pode inibir o
desenvolvimento neurológico futuro.
As escolas do Centro trabalham com projetos que usam como referência a
horta ou a recuperação de um curso d‟água, por exemplo. Isso só acontece porque o
espaço educacional se transformou numa verdadeira comunidade de aprendizagem,
onde professores, alunos e administradores estão conectados em uma rede de
relações, trabalhando juntos. “O ensino não acontece de cima para baixo, mas existe
uma troca cíclica de informações. O foco está na aprendizagem, e todos no sistema
são ao mesmo tempo mestres e aprendizes” (CAPRA, 2008, p. 28).
Considerações Finais
Referências
57
FONSECA, M.J.C.F. A biodiversidade e o desenvolvimento sustentável nas escolas
do ensino médio de Belém (PA), Brasil. Educ. Pesqui., FAP UNIFESP, [s.l.], v. 33,
n. 1, p.63-79, abr. 2007.
GROHE, S.L.S. Escolas sustentáveis: três experiências no município de São
Leopoldo. 2015. 136 f. Dissertação (Mestrado) - Curso de Pós Graduação em
Educação, Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul, Porto Alegre,
2015.
JACOBI, P.R. Educação ambiental: o desafio da construção de um pensamento
crítico, complexo e reflexivo. Educação e Pesquisa, São Paulo, v. 31, n. 2, p. 233-
250, maio/ago. 2005.
LIMA, G.F.C. Questão ambiental e educação: contribuições para o debate.
Ambiente & Sociedade, NEPAM/UNICAMP, Campinas, ano II, nº 5, 135-153,
1999.
MEADOWS, D.; RANDERS, J.; MEADOWS, D. Limites do crescimento. São
Paulo: Qualitymark, 2007.
PHILIPPI JUNIOR, A.; PELICIONI, M.C.F. Educação ambiental e
sustentabilidade. 2. ed. Barueri: Manole, 2014.
TRAJBER, R; SATO, M. Escolas sustentáveis: incubadoras de transformações nas
comunidades. REMEA – Revista Eletrônica do Mestrado em Educação
Ambiental, Rio Grande, v. 32, p.1-9, set. 2010.
VELASCO, S.L. Anotações sobre a “Rio+ 20” e a educação ambiental
ecomunitarista. REMEA – Revista Eletrônica do Mestrado em Educação
Ambiental, Rio Grande, v. especial, p.93-109, mar. 2013.
58
59
5. PROPOSTA DE UM PROJETO EM EDUCAÇÃO AMBIENTAL
UTILIZANDO METODOLOGIAS ATIVAS E TECNOLOGIAS DE
INFORMAÇÃO E COMUNICAÇÃO NO ENSINO SUPERIOR
Resumo:
A prática da educação ambiental no Ensino Superior tem se apresentado como um
desafio, o que requer uma prática pedagógica capaz de refletir e de inserir nas aulas e
na vida cotidiana uma motivação ambiental transformadora (DORNFELD, 2016). A
ação transformadora da educação, no aspecto retratado neste estudo, é
potencializada por meio das tecnologias da informação e da comunicação (TICs).
Para a aplicação das TICs nas atividades didáticas, os docentes possuem um leque de
recursos tecnológicos, aplicativos e mídias sociais com uma experiência prática -
apprenticeship (MERCADO, GOMES, SILVA, 2018). A fim de cumprir com este
objetivo educacional, a proposta deste capítulo é fornecer instrumentos aos docentes
das diversas disciplinas para que os alunos elaborem um Projeto em Educação
Ambiental. As atividades da aula serão presenciais ou à distância, com a utilização
das TICs e das metodologias ativas, em plataforma do Google for Education.
Palavras-chave: Aprendizagem Baseada em Projetos. Educação Ambiental. Google
Classroom. Zoom Meeting.
Considerações Iniciais
10 - Doutor em Ensino de Ciências e Matemática pela Universidade Cruzeiro Do Sul (UNICSUL), São
Paulo, SP. Prof. Assistente da Universidade do Estado de Minas Gerais e do Instituto Municipal de
Ensino Superior de Bebedouro (IMESB), Bebedouro, SP. Contato: josney.silva@uemg.br
11 - Pós-doutora em Estudos Urbanos e Regionais/ UFRN. Profa. Adjunta da Universidade do Estado
64
Delineamento do projeto em educação ambiental
65
Execução do plano Atividades de produção Grupos de alunos
67
mais possíveis até que o professor devolva a atividade ao aluno após a avaliação,
podendo atribuir uma nota a cada atividade. Os alunos podem anexar tanto arquivos
gerados em seu computador ou celular, como gerar documentos pelos aplicativos do
Google Drive.
O Google Classroom pode ser utilizado como apoio às aulas presenciais, assim
como de forma híbrida, em que o professor disponibiliza anteriormente o material
necessário ao estudo prévio dos alunos. Mas as ferramentas de comunicação
possibilitam não apenas uma reunião virtual entre os membros de um grupo de
alunos, como também podem ser utilizadas desde o início das atividades, com a
formação dos grupos, a proposição de realização do projeto e a escolha do tema a ser
desenvolvido.
A Prodemge, empresa de tecnologia da informação do Governo de Minas
Gerais, elaborou um comparativo entre diversas soluções para realização de
videoconferências (Quadro 2). O comparativo destaca algumas características
importantes para se considerar na hora de efetuar uma escolha, como a capacidade
de pessoas na videoconferência, o compartilhamento de tela, a existência de um chat
entre os participantes, a possibilidade de desativar o som dos demais participantes,
viabilidade de gravar a reunião, oportunidade de trocar arquivos e a integração com
ferramentas de colaboração.
68
Quadro 2 - Comparativo entre soluções para realizar videoconferência.
Fonte: Prodemge (2020)
Considerações finais
Referências
72
73
6. A PARTICIPAÇÃO DAS FAMÍLIAS NAS ESCOLAS PÚBLICAS À
LUZ DA GESTÃO DEMOCRÁTICA
Resumo
O presente artigo tem como objetivo discutir sobre o processo de gestão
democrática, tendo como referência a inserção das famílias no âmbito da escola
pública. O intuito de se estudar esse tema surgiu após verificarmos o sentimento de
vazio e frustração por parte dos servidores da escola em relação à ausência da
participação das famílias nas tomadas de decisões, nos projetos e nas atividades
propostas pela escola. A eleição para gestor educacional, apesar de ser uma ação
extremamente positiva e democrática, por si só, não garante o êxito do processo
democrático como um todo. Possibilitar formas de participação, não somente dos
representantes nos órgãos colegiados mas de toda a comunidade, é uma tarefa que
precisa ainda ser amadurecida e melhor trabalhada nas escolas públicas,
desenvolvendo a consciência de que a participação pode ser geradora de conflitos,
negar isso seria camuflar a realidade, pois a relação humana é produtora de opiniões
divergentes. Esperamos, com esse trabalho de pesquisa e análise, colaborar no debate
e reflexão de um assunto tão urgente nas discussões, ações e estudos na educação
pública. Acreditamos que essa análise possa servir como parâmetro da compreensão
da realidade e também como possível meio de alerta ao gestor e equipe escolar no
sentido de produzir instrumentos que venham garantir o engajamento das famílias,
de modo que todos desenvolvam o senso de pertencimento e responsabilidade para
com os resultados almejados pela instituição. Ao gestor, cabe a condução do
processo democrático, de forma que se estabeleça como líder, seja fomentador,
principalmente, da participação familiar e atue como agente criador de espaços para
o engajamento e compromisso de todos.
Considerações Iniciais
74
medidas de inserção das famílias dentro do contexto escolar e ações que vislumbrem
o atendimento dessa importante e democrática estratégia de gestão.
Objetiva-se com tal pesquisa colaborar para uma maior aproximação dos
diferentes sujeitos partícipes do processo de gestão, profissionais e demais
integrantes da comunidade escolar.
Na perspectiva de que a gestão pressupõe construção coletiva, observamos
que nos Projetos Político-Pedagógicos – PPP - analisados, as finalidades se baseiam
na Lei de Diretrizes e Bases da Educação (LDB), em seu artigo 2º, que diz: “A
educação, dever da família e do Estado, inspirada nos princípios de liberdade e nos
ideais de solidariedade humana, tem por finalidade o pleno desenvolvimento do
educando, seu preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação para o
trabalho”. Dessa forma, a escola se coloca como meio para proporcionar a formação
cidadã, reconhecendo essa necessidade como primordial no fazer pedagógico, tendo
o aluno como centro de todas as atenções.
A Constituição Federal (C.F. art. 206) estabeleceu princípios para a educação
brasileira, sendo a gestão democrática, um deles, conforme se observa no item VI. A
LDB, em seu artigo 14, estabelece que “os sistemas definirão as normas da gestão
democrática”, tendo como princípios a participação coletiva na elaboração do PPP e
a instituição de conselhos escolares com a participação da comunidade escolar. Nesse
sentido, a gestão escolar democrática significa mais do que mudanças na estrutura
organizacional da escola e de padrões carregados de burocracia; é preciso entender
que o fazer coletivo faz a diferença, permitindo que todos sejam tratados com
igualdade na escola.
É notório que a gestão democrática pressupõe a presença de choque,
conflitos, divergências, atritos e competição. Negar o conflito é camuflar a realidade,
pois a interação humana é produtora de rupturas. Tudo isso faz com que a escola
seja de fato um “organismo vivo” formado por seres autônomos e pensantes, não
apenas por seres subservientes, que obedecem ao “status quo” sem maiores
questionamentos. Os pais devem sair da condição de pessoas que, simplesmente,
cumprem ordem, para sujeitos partícipes que influenciam e colaboram na tomada de
decisões. A escola é espaço privilegiado de inserção social, onde a família se apropria
da prerrogativa de instituição basilar e transformadora da sociedade. Espera-se, nessa
proposta de debate e reflexão, dar a contribuição devida ao processo de
fortalecimento da gestão democrática nas escolas pelo viés da participação familiar.
Foram aplicados questionários sob a perspectiva da abordagem qualitativa
(consultando por amostragem integrantes de todos os segmentos, sendo 04 pais, 02
professores, 02 gestores e 02 servidores) para obtenção de dados e informações, com
o propósito de identificar como o gestor e outros sujeitos educacionais veem a
participação das famílias neste processo. Pretende-se investigar o ambiente escolar,
através da observação e interação com as experiências vivenciadas em seu cotidiano,
75
inclusive a partir da ampla vivência do autor deste trabalho no cotidiano das escolas
ao longo de aproximadamente 30 anos, no intuito de compreender como se efetiva a
participação das famílias no contexto escolar.
É importante refletir sobre a importância da gestão escolar democrática para
a concretização da formação cidadã e propor meios para que a participação das
famílias saia do campo intangível das intenções e parta para a concretude de ações
afirmativas na construção da gestão democrática. Analisar como ocorre a efetiva
participação da família no âmbito escolar, suas dificuldades de inserção, seus desafios
e os resultados positivos que poderão advir dessa interação.
Através da própria vivência no cotidiano escolar por mais de duas décadas
nas escolas foi possível observar uma barreira quanto à participação das famílias,
confirmada pelos próprios professores. É neste sentido, que o gestor possui um
papel privilegiado para colaborar com a mudança deste fato, visto que, munido das
ferramentas de um líder servidor e competente, poderá conduzir o processo de
maneira que seja efetivada a participação familiar, não com o objetivo exclusivo de
obedecer ordens, mas de inferir na realidade. Assim Lück destaca a importância do
papel do gestor na construção deste processo:
76
A escolha do tema supracitado ocorreu devido ao fato de, ao longo de quase
30 anos de convívio com as escolas, tanto no papel de educador quanto de gestor,
verificar que há um sentimento de vazio e frustração por parte dos servidores das
escolas quando se trata da participação das famílias nas tomadas de decisões, nos
projetos e nas atividades propostas pelas escolas. Para tanto, esperamos que essa
análise sirva como parâmetro da compreensão da realidade e também como possível
meio de alerta para os gestores e equipes no sentido de produzir instrumentos que
venham garantir o engajamento das famílias, de modo que todos desenvolvam o
senso de pertencimento e responsabilidade para com os resultados almejados pela
instituição. Nesse sentido, Freire (2003, p. 43) já nos alertava de que como seres
políticos, os homens não podem deixar de ter consciência do seu ser ou do que está
sendo, e “é preciso que se envolvam permanentemente no domínio político,
refazendo sempre as estruturas sociais, econômicas, em que se dão as relações de
poder e se geram as ideologias”. A vocação do ser humano não é de ser dominado,
massacrado, modelado ou dirigido, mas, de “ser mais”, fazer e refazer a sua história,
intervindo no seu meio.
Na análise dos Projetos Político Pedagógicos das Escolas Municipais que
ampararam este artigo, constata-se o desejo das escolas em oferecer uma educação
de qualidade voltada para a formação cidadã, colocando-se como instrumento de
contextualização e globalização dos saberes para a formação crítica e política de seus
alunos, tendo-os como sujeitos e objetos do processo de ensino e aprendizagem. No
bojo dos planos, está explicitado que é preciso fortalecer os vínculos com a família,
os laços de solidariedade humana e tolerância recíproca em que se assenta a vida
social.
A democracia é um processo que está sempre em construção e a escola deve
ser promotora dos valores da democracia, de forma visceral, mostrando à
comunidade seu papel dinamizador, como espaço da igualdade e da justiça. A
representação simples e metódica de membros em órgãos colegiados pode
representar avanços, porém, representação nem sempre é sinônimo de participação.
Todo o corpo de representados também deve estar inserido no contexto escolar,
ciente das decisões e propensos a inferir quando necessário.
Desenvolvimento
77
Gestão provém do verbo latino gero, gessi, gestum, gerere e significa:
levar sobre si, carregar, chamar a si, executar, exercer, gerar. Trata-se de
algo que implica o sujeito. Isto pode ser visto em um dos substantivos
derivado deste verbo. Trata-se de gestatio, ou seja, gestação, isto é, o
ato pelo qual se traz em si e dentro de si algo novo, diferente: um novo
ente. Ora, o termo gestão tem sua raiz etimológica em ger que significa
fazer brotar, germinar, fazer nascer. Da mesma raiz provêm os termos
genitora, genitor, gérmen. (Cury 2002, p. 45)
78
com o processo de eleição para diretor já cristalizado há anos, porém com gestores
quase déspotas.
Por outro lado, também reconhecemos que há grandes gestores que aplicam
a democracia em suas ações, sem terem sido eleitos pela comunidade. Diante dessa
constatação, acredito ser necessária uma intervenção junto às autoridades políticas,
na qual as famílias reivindiquem eleições visando atuar mais efetivamente no espaço
escolar e assim se sentirem mais envolvidas. É preciso ainda organizar uma
formação mais apropriada para os futuros gestores, compreendendo os ditames e
desafios da gestão democrática de fato e de direito.
É fundamental o envolvimento de todos os entes da comunidade escolar nas
atividades de planejamento, nas tomadas de decisões, no desenvolvimento das
atividades escolares e no monitoramento das ações. Não se pode pretender a
presença das famílias apenas em reuniões e assembleias orquestradas, com roteiros
pré-estabelecidos, numa visão maniqueísta em que o gestor se posiciona como
senhor absoluto da verdade escolar. Constituir um senso de pertencimento, em que
os atores se também engajados, desenvolvendo um protagonismo ímpar para que
haja um desejo de “fazer parte”, sentir-se incluído. Os pais não podem ser figurantes,
devem ser trazidos à luz das decisões tomadas em coletividade. Já dizia o poeta que
“aquele que ama, cuida”. Só posso amar aquilo que conheço e constituo parte
integrante, não sujeito alheio, distante do processo. O gestor deve intensificar as
ações para construir possibilidades e retirar do anonimato as famílias, sem descuidar
do dado de que a composição familiar hoje é bastante heterogênea e deve ser
respeitada em suas singularidades.
Paulo Freire, em seus estudos de significativa sabedoria pedagógica, colabora
no presente artigo com uma afirmação de que “o mundo não é. O mundo está
sendo. Não sou apenas objeto da história, mas seu sujeito igualmente. No mundo da
história, da cultura, da política, constato não para me adaptar, mas para mudar”
(Freire, 1983, p. 98). Essa mudança somente será concretizada na convivência escolar
se for dado voz e vez às famílias. O lugar a ser ocupado pelos pais e mães é cadeira
cativa, é de direito. Dentro da perspectiva de que cuidar do filho é privilégio e
obrigação do pai e da mãe, o tempo todo, e que não existe ex-filho, mas sim ex-
aluno, é que precisamos ofertar os espaços escolares, tangíveis e intangíveis, para que
todos possam colaborar na gestão justa e democrática.
Segundo Delors (1998, p. 21), a prática escolar deve preocupar-se em
desenvolver quatro aprendizagens fundamentais, que serão para cada indivíduo os
pilares do conhecimento. Aprender a conhecer indica o interesse, a abertura para o
conhecimento, que verdadeiramente liberta da ignorância. Aprender a fazer, mostra a
coragem de executar, de correr riscos, de errar mesmo na busca de acertar. Aprender
a ser que explicita o papel do cidadão e o objetivo de viver. Por fim, o aprender a
conviver que traz o desafio da convivência, pois apresenta o respeito a todos e o
79
exercício de fraternidade como caminho do entendimento. Sob o viés deste último
pilar, amparamos nossa argumentação.
Trabalhar a aceitação da diversidade, da riqueza das novas ideias, do frescor
de relações construídas no respeito e na fricção que faz oxigenar as sociedades. Água
parada produz lodo e é ambiente propício para a proliferação de insetos que
provocam doença. Traçando um paralelo, a escola também não pode permanecer
estagnada, com gestor sentado em trono lúgubre, escorado em uma gestão insossa,
homogeneizadora e incolor, distante das boas sugestões advindas das famílias. Todos
devem ofertar suas contribuições: alunos, pais, servidores têm também o dever de
colaborar na gestão. O favorecimento dessa participação implica no surgimento de
novas ideias, novas perspectivas, novos olhares.
Romper com a cultura da submissão e do autoritarismo é um dos desafios
para o gestor nesses novos tempos. Alunos passivos e omissos poderão se tornar
cidadãos com postura similar, alienados, sem iniciativas de interromper ciclos de
miséria e aceitação da realidade imposta, sem engajamento social, sem a possibilidade
de colaborar na transformação da sociedade, objetivo maior da escola.
Escola deve ser filtro da sociedade, levando ao aluno o conhecimento
edificado pela humanidade ao longo da história, valorizando a cultura local e
incentivando a descoberta de novas produções humanas, sem que isso caracterize a
formatação de preconceitos e entraves. Fomentar a mensagem positiva das boas
obras, em detrimento das propostas controversas de algumas produções que
vislumbrem apenas a erotização precoce, exaltação do consumismo, banalização da
violência, incentivo velado ao consumo de bebidas alcoólicas. Tudo isso pode ser
construído a partir da conquista das famílias para a efetivação desses propósitos.
Devemos incentivar o potencial da oralidade, dando voz aos anseios da
família, trazendo-as também para a responsabilidade de zelar pelo bom
funcionamento da instituição. Extrair das famílias a timidez oral para uma postura de
proatividade e interesse é tarefa do gestor que necessita desenvolver estratégias que
levem à exploração do potencial da comunidade. Todos têm a capacidade de “gestar”
(produzir, preparar, esperança de vida nova), pois essa condição é inerente ao ser
humano. Gestamos o tempo todo nossas vidas. Viver é um ato gestor: cuidar da
própria existência e dos seus é uma forma singular de administrar, gerir, exercer o
comando com responsabilidade.
Ao transcorrer do processo, é necessário ainda fazer surgir uma avaliação
contínua, em que, por meio de enquetes, ouvidoria e assembleias, medindo o nível e
os resultados das participações, priorizando a qualidade da participação, não somente
a quantidade, sem deixar-se levar para a frustração recorrente da ausência de alguns.
As famílias têm de sentir-se parte, com a ocupação e a territorialização dos espaços,
com a devida orientação e apoios, criando oportunidades de lazer, preparo e cultura,
a partir de movimentações propostas também pela comunidade, como eventos,
80
festividades e jogos. Dar publicidade dessa participação efetiva também é dever do
gestor no intuito uma valorização diante de toda a comunidade, propondo o
surgimento de novos parceiros e incentivando o engajamento e interação entre as
famílias.
É importante que a escola promova o diálogo, espaço para a construção da
cidadania e o surgimento de seres propensos a encontrar a felicidade. Escola é
ambiente da coletividade, de encontro, de mobilidade humana, de troca de
experiências. Assim, pensamos a gestão democrática como uma forma bastante
eficaz de produzir meios para a consolidação desses propósitos.
Para tanto, essa análise pretende ser parâmetro da compreensão da realidade
e também como possível meio de alerta para os gestores e equipes no sentido de
produzir instrumentos que venham garantir o engajamento das famílias, de modo
que todos desenvolvam o senso de pertencimento e responsabilidade para com os
resultados almejados pela instituição.
Possibilitar formas de participação, não somente dos representantes nos
órgãos colegiados, mas de toda a comunidade é uma tarefa que precisa ainda ser
amadurecida e melhor trabalhada nas escolas públicas, desenvolvendo a consciência
de que a participação pode ser geradora de conflitos e competições e que negar isso
seria camuflar a realidade, pois a relação humana é produtora de opiniões
divergentes. É justamente nessas fricções que o processo avança, aprimora-se, pois, a
democracia fundamenta-se na relação humana, na sua capacidade de desenvolver o
dom da convivência, interpretação livre do que já afirmou Delors (2000, p. 19). Ao
gestor, deve ser vencido o medo da participação das famílias, e serem considerados
elementos integrantes de um processo de construção.
Pretende-se, com este artigo, colaborar no debate e reflexão de um assunto
tão urgente nas discussões, ações e estudos na educação pública. É preciso agir
visceralmente para progredir nesses propósitos e intenções. Ao gestor, cabe a
condução do processo democrático, de forma que se estabeleça como líder e que seja
fomentador da participação e atue como agente criador de espaços para o
engajamento e compromisso de todos. Assim, Cury reforça nossa argumentação.
Pela arte de interrogar e pela paciência em buscar respostas que
possam auxiliar no governo da educação, segundo a justiça. Nesta
perspectiva, a gestão implica o diálogo como forma superior de
encontro das pessoas e solução dos conflitos. (CURY, 2005, p. 102)
82
promover a inserção das vozes múltiplas dos segmentos que compõem a escola nas
decisões e nas ações desencadeadas no ambiente escolar.
Considerações Finais
Referências
83
FREIRE, P.. Educação como prática para a liberdade. 14a Edição, Rio de
Janeiro: Paz e Terra, 1983.
LIMA, A.. Políticas Educacionais e o Processo de “Democratização” da Gestão
Educacional. In: LIMA, Antônio Bosco de (org.).Estado, políticas educacionais e
gestão compartilhada. São Paulo: Xamã, 2004.
LÜCK, H. A dimensão participativa da gestão escolar. Gestão em Rede. Brasília, n.
9, p. 13-17, ago. 1998
Projeto Politico Pedagógico (PPP) das Escolas Municipais Antônio Aparecido de
Queiroz e Vicente de Paulo, 2015.
SEVERINO, A.. Metodologia do Trabalho Científico. 23.ed. rev. atual. São
Paulo: Cortez, 2007.
TRIPP, D.. Pesquisa-ação: uma introdução metodológica - Universidade de
Murdoch (2005) – Material de Estudo do Curso Educação Pública Municipal
84
85
7. A GESTÃO AMBIENTAL É UM DESAFIO DE TODOS
Resumo
Ao discutirmos a gestão ambiental é preciso levar em consideração a gestão do
ambiente urbano enquanto espaço comum, ou seja, um espaço onde todas as pessoas
são responsáveis em manter uma organização socioambiental. No entanto, em se
tratando de um espaço comum, é preciso preservar para podermos viver e sobreviver
em sociedade e verificar se a partir da gestão ambiental é possível introduzir
perspectivas para a melhoria de qualidade de vida e um desenvolvimento sustentável.
Logo compreender a gestão ambiental torna-se objeto deste estudo. E, para enfatizar
os objetivos e responder ao problema exposto, foi realizada revisão da literatura,
com busca em sites especializados na temática, como forma de pressuposto teórico e
análise do presente estudo. Discutimos a preservar o meio ambiente é preservar a
vida, a política ambiental brasileira e a gestão ambiental. ressaltamos que é de
fundamental importância que se tenha uma gestão ambiental eficiente e que seja
capaz de transformar a realidade da sociedade a partir das simples práticas de não
poluir o solo, eliminar o uso abusivo de agrotóxicos, descartar os resíduos sólidos em
locais pré-estabelecido pela política ambiental local.
Considerações Iniciais
14 Assistente Social, graduado pela UNIUBE. Doutor e Mestre em Serviço Social, pela UNESP -
Franca, Especialista em Administração e Planejamento de Projetos Sociais, pela Universidade Gama
Filho, docente dos cursos de Serviço Social, Administração e Pedagogia da faculdade de Frutal- FAF.
15 Administrador, graduado pela Faculdade de Frutal – FAF, gerente Supermercado JB loja 08.
16 Economista, Mestre em Sustentabilidade Socioeconômica Ambiental pela Universidade Federal de
Ouro Preto, 2017. Docente da Universidade do Estado de Minas Gerias (UEMG)-Unidade Frutal.
86
problemas de toda ordem necessitando de soluções o quanto antes, com as
mudanças acontecendo surgem os desafios da gestão ambiental.
A gestão ambiental precisa ser compreendida como um processo de
transformação que perpassa pela evolução do homem e o processo de produção
desenhada pelo próprio homem ao longo da história da humanidade, trazendo a ideia
que é preciso destruir para construir os objetos que venham atender as suas
necessidades. No entanto, esse processo de agressão ao meio ambiente na tentativa
de construir objetos para atender as necessidades humanas tem suas consequências
na atualidade e deve ser objeto de conhecimento, para que o Estado fomente
políticas ambientais que sejam capazes de conter o desequilíbrio ambiental
provocado pela evolução do homem sendo ele o engajador das organizações e
comunidades. Há um longo caminho pelo qual deverão passar as sociedades e os
governos, baseado em educação e comunicação.
É preciso compreender o que realmente é o meio ambiente, Reigota (2004,
p.14) aponta que é um “lugar determinado ou percebido, onde os elementos
naturais e sociais estão em relações dinâmicas e em interação. Essas relações
implicam processos de criação cultural e tecnológica e processos históricos e sociais
de transformação do meio natural e construído”. Percebemos que ao discutir o
meio ambiente é preciso levar em consideração o social, a cultura, e a tecnologia.
Nesse sentido, ao discutirmos a gestão ambiental urbana é preciso levar em
consideração a gestão do ambiente urbano enquanto espaço comum, ou seja, um
espaço onde todas as pessoas são responsáveis em manter uma organização
socioambiental.
No entanto, em se tratando de um espaço comum, é preciso preservar para
podermos viver e sobreviver em sociedade e verificar se a partir da gestão ambiental
é possível introduzir perspectivas para a melhoria de qualidade de vida e um
desenvolvimento sustentável. Logo compreender a gestão ambiental torna-se objeto
deste estudo.
O objetivo do presente estudo é discutir a gestão ambiental enquanto
compromisso de toda sociedade. Para atingirmos o objetivo foi realizada revisão da
literatura e consulta as legislações ambientais, como forma de pressuposto teórico e
análise do presente estudo.
Faz-se necessário conciliar industrialização, novas tecnologias e
desenvolvimento sustentável, a partir do desenvolvimento de algumas etapas, tais
como a sensibilização e mudanças de atitudes das pessoas com as questões
ambientais, a mobilização social e levar informações, planejar ações, observar e
avaliar os resultados.
Poderia se afirmar que o maior desafio da Gestão Ambiental, seja
compreender que é um dos elos para alavancar o desenvolvimento sustentável,
entender que é o mecanismo de gerenciamento de reservas naturais do planeta, e que
87
a simplicidade em lidar com essas questões são a chave para muitos impasses de
situações insolúveis.
89
O momento atual, no que se refere a meio ambiente, é reflexo de uma
série de erros e decisões tomadas no passado. Encontramo-nos num
ponto em que devemos basicamente reduzir os impactos desses erros,
que nos foram deixados como legado, por uma geração, e trabalhar sob
o enfoque da prevenção e da precaução para que as mesmas falhas não
sejam repetidas.
No Brasil de 1930 a 1960 não teve uma política ambiental ou mesmo uma
instituição ambiental para gerir e controlar o uso dos elementos naturais. Tínhamos
apenas as políticas setoriais que apreciavam a questão ambiental, com foco tão
somente na exploração dos recursos naturais. A principal preocupação era a
administração ou o “controle racional” dos recursos naturais, visando o melhor uso
econômico por parte das empresas em nome do desenvolvimento do capital.
Em 1934 ocorrem os primeiros passos para a elaboração de uma política
ambiental brasileira com a elaboração do primeiro Código Florestal, Decreto no
23.793/1934, a proteção do solo para uso da agricultura e o Código das Águas,
Decreto no 24.643/1934, com interesse no aproveitamento da água para as
hidrelétricas, ou seja, ambas as legislações estavam voltadas para a administração dos
recursos naturais.
Em 1937 estabelece a política de preservação de áreas ambientalmente
protegidas que culminou, com a criação do Parque Nacional do Itatiaia, o que
resultou a partir daí, na criação de diversos Parques Nacionais, na qual a
administração e fiscalização estavam sobre a responsabilidade do Serviço Florestal
Federal, órgão este vinculado ao Ministério da Agricultura.
A Lei Nº 5.197/1967, que preconiza sobre a Proteção a Fauna brasileira, no
mesmo ano foi criado o Instituto Brasileiro de Desenvolvimento Florestal – IBDF,
com a incumbência de fazer o Código Florestal bem como toda legislação de
proteção dos recursos naturais renováveis no território brasileiro.
90
Em 1973, é criada a Secretaria Especial de Meio Ambiente - SEMA, a
primeira instituição para tratar dos assuntos ambientais em nível federal, dedicando
ao controle da poluição industrial e urbana. O resultado da Criação da SEMA foi
imediatamente copiado pelos estados de São Paulo a Companhia de Tecnologia de
Saneamento Ambienta – CETESB em 1973 e a Fundação Estadual de Engenharia
do Meio Ambiente – FEEMA, na cidade do Rio de Janeiro em 1975.
A luta na defesa do meio ambiente não para, a Lei Nº 6.938/81, culminou na
criação do Sistema Nacional do Meio Ambiente – SISNAMA, estabelecendo a
Política Nacional do Meio Ambiente, definindo os princípios, as diretrizes, os
instrumentos e atribuições para os Estados da Federação. Ganen (2013) aponta que a
Politica Nacional de Meio Ambiente foi considerado um documento inovador, não
somente por tratar de um tema ainda pouco discutido, mas ser descentralizador.
De modo geral, as normas ambientais aprovadas em nível federal na década
de 1980 estavam vinculadas à organização institucional, ao controle da poluição e
degradação ambiental e ao fortalecimento dos mecanismos de participação social no
campo ambiental.
Em 1985 foi instituído o Ministério de Desenvolvimento Urbano e Meio
Ambiente, com o papel de deliberar sobre as políticas e coordenar as atividades
governamentais na área ambiental. Nesse período o Conselho Nacional do Meio
Ambiente – CONAMA, aprovou resoluções referentes ao licenciamento ambiental,
que regulam a aplicação do instrumento até a atualidade, uma vez que não foi
aprovada uma legislação específica sobre o tema – Resoluções no 001/1986 e no
009/1987, que tratam, respectivamente, do Estudo de Impacto Ambiental - EIA e
do Relatório de Impacto Ambiental – RIMA.
O movimento Frente Verde teve um papel fundamental no processo de
elaboração da Constituição Federal de 1988 – CF/88, precisamente no Artigo 225 ao
definir: meio ambiente ecologicamente equilibrado, como um direito do cidadão. O
Artigo 170 também traz ao direito de propriedade, à gestão urbana e ao
gerenciamento dos recursos hídricos.
No entanto, para o cumprimento destas novas garantias constitucionais
previstas na CF/88, foi necessário o desenvolvimento de legislação federal específica,
bem como o fortalecimento das ações dos Estados. A CF/88 traz a descentralização
da política ambiental e uma estruturação de instituições estaduais e municipais de
meio ambiente, como a criação de órgãos e/ou secretarias, e também os conselhos
estaduais e municipais de meio ambiente, resultado da definição da temática
ambiental como competência curadora comum entre União, estados e municípios.
No ano de 1989 foi criado o Fundo Nacional de Meio Ambiente – FNMA,
conforme previsto na Lei Nº 7.797 de 10 de julho, com objetivo de contribuir, como
agente financiador, através da participação social, para implementar a Política
Nacional do Meio Ambiente.
91
Criado pela Lei no 7732/1989, o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e
dos Recursos Naturais Renováveis – IBAMA, é uma autarquia federal vinculada ao
MMA. Dentre suas competências estão: executar e fazer executar a política nacional
do meio ambiente, e promover a preservação, a conservação, o uso racional, a
fiscalização em todo território nacional.
A década de 1990 foi marcada pela criação da Secretaria de Meio Ambiente
da Presidência da República - SEMAM/PR, uma vez que a questão ambiental ficou
em evidência com os preparativos para a Rio-92 no Brasil. O Brasil se preparou para
a conferência por meio da Comissão Interministerial de Meio Ambiente - CIMA,
coordenada pelo Ministério das Relações Exteriores - MRE, com representação de
23 órgãos públicos, que culminou na elaboração de um relatório que nomeava o
posicionamento brasileiro frente à questão ambiental.
Na conferência foram assinados importantes acordos ambientais tais como:
a) as Convenções do Clima e da Biodiversidade; b) a Agenda 21; c) a Declaração do
Rio para o Meio Ambiente e Desenvolvimento; e d) a Declaração de Princípios para
as Florestas.
Em 1991 iniciou o Programa Nacional de Meio Ambiente (PNMA), marco
do primeiro grande investimento do Banco Mundial realizado pelo governo federal
para investir no campo ambiental.
A Lei no 8.490/1992 cria o Ministério do Meio Ambiente (MMA) e as
principais finalidades do MMA são planejar, coordenar, supervisionar e controlar as
ações relativas ao meio ambiente, bem como formular e executar a política nacional
do meio ambiente, tendo em vista a preservação, conservação e uso racional dos
recursos naturais renováveis (Lei no 8.746/1993). Com a finalidade de estabelecer: a)
política nacional do meio ambiente e dos recursos hídricos; b) política de
preservação, conservação e utilização sustentável de ecossistemas, e biodiversidade e
florestas; c) proposição de estratégias, mecanismos e instrumentos econômicos e
sociais para a melhoria da qualidade ambiental e do uso sustentável dos recursos
naturais; d) políticas para integração do meio ambiente e produção; e) políticas e
programas ambientais para a Amazônia Legal e por fim, f) zoneamento ecológico-
econômico.
Em 1998 foi criada a Lei Nº 9.605/1998 de Crimes Ambientais colocando o
Brasil na vanguarda por ter um direito penal ambiental.
Dando continuidade as ações ambientais, em 2000 foi criado o Sistema
Nacional de Unidade de Conservação da Natureza – SNUC através da Lei Nº
9.985/2000 e a Agência Nacional de Águas - ANA, uma autarquia federal vinculada
ao MMA, com o objetivo de implementar, em sua esfera de atribuições, a Política
Nacional de Recursos Hídricos conforme a Lei no 9.433/97.
A Agenda 21 brasileira, foi lançada em 2002, embora sua preparação tenha
iniciado em 1997, O processo de construção da Agenda 21, envolveu consultas
92
públicas e a realização de seis estudos temáticos: 1) cidades sustentáveis; 2) redução
das desigualdades sociais; 3 agricultura sustentável; 4 ) gestão de recursos naturais; 5)
ciência e tecnologia para o desenvolvimento sustentável e 6) infraestrutura e
integração regional – que embasou o documento final.
O ano de 2007 foi marcado pela criação o Instituto Chico Mendes para
Conservação da Biodiversidade - ICMBio, uma autarquia vinculada ao MMA.
E em 2012, o marco principal foi à realização da Conferência das Nações
Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável – CNUDS conhecida como a Rio+20,
no Rio de Janeiro. A presente conferência marcou os 20 anos da realização da Rio-92
como os objetivos de:
a) assegurar a renovação do compromisso político para o desenvolvimento
sustentável;
b) avaliar os avanços e os hiatos nos processos de implementação das principais
decisões quanto ao desenvolvimento sustentável; e c) identificar desafios novos e
emergentes.
A Rio+20 é considerada um dos maiores eventos até então realizado pelas
Nações Unidas, a Rio+20 contou com a participação de chefes de Estado ou seus
representantes de 190 países. De acordo com o Ministério do Meio Ambiente –
MMA (2015) as mudanças proporcionadas pela Rio +20 seguem o ritmo de seu
documento final, que foi considerado enfraquecido e quem do esperado. A Rio+20 é
um ponto de partida e que não se pode duvidar que os processos lançados na
conferência trarão impacto na implementação de políticas públicas e de acordos
internacionais. A pasta destaca, como conquistas, o reconhecimento da erradicação
da pobreza como maior desafio, o consenso quanto à necessidade de transição para
padrões de produção e consumo sustentáveis e o ingresso da inclusão social como
cerne do debate.
Para o Brasil, o ponto positivo é a redução do desmatamento, que deixou de
ser a principal causa de emissão de gases de efeito estufa no país. Conforme o
inventário nacional divulgado em 05 de junho pelo Ministério da Ciência, Tecnologia
e Inovação (MCTIC), a prática corresponde agora a 22% das emissões, ficando atrás
da agropecuária (35%) e do setor energético (32%) (MCTIC, 2016).
A trajetória percorrida pela política ambiental federal indica que ocorreram
evidentes avanços, tanto no que se refere à estruturação institucional, quanto no
estabelecimento de importantes marcos legais. No entanto, a existência de desafios a
serem superados no que se refere ao aperfeiçoamento das funções da governança
ambiental e da aplicação de seus princípios – os quais, em seu conjunto, contribuem
paro o aumento da capacidade de resposta do Estado aos problemas ambientais.
Uma análise histórica da política ambiental brasileira demonstra uma visão
de responsabilidade compartilhada na proteção da natureza, entre Estado e
sociedade. De um lado o Estado com poder de regulamentar e gerir as questões de
93
meio ambiente, e de outro, a sociedade ativa na construção e fiscalização dessas
políticas ambientais. Nota – se uma quebra de paradigma quando o Estado ao
chamar para si essas ações, desnutrindo fóruns como o Conselho Nacional de Meio
Ambiente, esse rompimento com nossa tradição de política ambiental iniciou uma
série de medidas que eliminam a participação da sociedade e a corresponsabilidade da
sociedade, logo restringiu o poder de proteção ambiental ao Estado.
A Gestão Ambiental
94
ambiente. Campos (2002) complementa informando que a Gestão Ambiental
consiste na administração do uso dos recursos ambientais, por meio de ações ou
medidas econômicas, investimentos e potenciais institucionais e jurídicos, com a
finalidade de manter ou recuperar a qualidade de recursos e desenvolvimento social.
Em se tratando de Gestão ambiental Donaire (2009, p. 86) aponta quatro
categorias fundamentais para se ter uma excelente gestão ambiental:
Habilidade técnica: "para poder avaliar as diferentes alternativas, em relação
a insumos, processos e produtos, considerando-os sob o aspecto ambiental e seu
relacionamento com os conceitos de custos e de tempo". A habilidade técnica a ser
utilizada na gestão ambiental é fundamental para o excito da gestão. Sem essa técnica
ação fica comprometida, o que poderá comprometer todo o desempenho da gestão
ambiental.
Habilidade administrativa: "relacionada com o desempenho das tarefas do
processo administrativo: planejar, organizar, dirigir e controlar, pois, caberá a ele a
responsabilidade de executar a política de meio ambiente ditada pela organização".
Não podemos eximir o quanto é importante o planejamento, a organização e o
controle das ações no processo de gestão ambiental.
Habilidade política: "para sensibilizar os demais administradores da empresa,
que lhe podem dar apoio e respaldo organizacional no engajamento da temática
ambiental, propagando e consolidando a ideia de que sua atividade, antes de ser uma
despesa a mais para a organização, é uma grande oportunidade para a prospecção de
novas formas de redução de custos e melhoria de lucros". Uma oportunidade que
pode gerar lucros para a organização gestora, quer ela empresa, Organização Não
Governamental – ONG entre outros, uma vez que os consumidores estão tomando
uma consciência da importância da preservação ambiental.
Habilidade de relacionamento humano: "para conseguir a colaboração e o
engajamento de todos os funcionários para a causa ambiental da empresa, pois o
sucesso desse empreendimento está intimamente ligado à participação coletiva e à
incorporação desta variável à cultura da organização". Nesse sentido, é importante
envolver todos os funcionários Donaire (2009, p. 102) sinaliza que:
95
comunidade. Dias (2009) sinaliza que é importante ter um conjunto de regras,
procedimentos e, sobretudo meios para podermos implantar uma política ambiental.
No entanto, de quem é a responsabilidade ambiental? A responsabilidade
ambiental é de todos nós cidadãos que estamos sobre a terra. A responsabilidade
ambiental é de todas as organizações vinculadas ao setor empresarial, público,
privado, educação e também da família, a família é uma das organizações que tem
maior poder de transformação da realidade ambiental. Donaire (2009) salienta
quanto a importância do treinamento dos gestores ambientais e que deve levar em
consideração o processo de tomada de decisão.
Manter o equilíbrio ambiental é um desafio para todos, neste momento em
que todas as atenções estão voltadas para os problemas ambientais, a gestão pode ser
compartilhada com toda população, partido do local, da rua que eu moro, bairro, da
cidade, do país, depende de como estamos articulando as ações e do envolvimento
de todos no processo de transformação da realidade que estamos inseridos. A isso
denominamos de responsabilidade coletiva, onde todos são responsáveis pelo meio
ambiente independentemente da posição que ocupa na atual sociedade, por disso
defendemos que a responsabilidade é de todos.
Para que essa responsabilidade seja compartilhada, cabe ao poder público,
buscar estratégias para implantar as ações de proteção e destinar de forma correta os
resíduos gerados pela população. E a população tem que ter consciência de que é
responsável pelo meio ambiente e que essa responsabilidade perpassa pela qualidade
de vida. Dias (2009, p. 89) aponta que “a gestão ambiental é o principal instrumento
para obter um desenvolvimento sustentável”. Portanto, é possível termos uma gestão
dos resíduos sólidos eficiente, e que seja capaz de envolver toda a comunidade.
Generalizando a Gestão Ambiental é o resultado natural da evolução da
percepção humana em relação à utilização dos recursos naturais. A união de técnicas,
conhecimentos, tanto por parte da sociedade, organizações e governo, em busca de
soluções e alternativas para manter o equilíbrio ambiental, reduzindo ou recuperando
a degradação do meio natural.
Vale destacar que a partir da educação ambiental utilizada como um
instrumento da Gestão Ambiental, tem o poder de persuasão, possibilitando ampliar
os horizontes de atuação, replicando os conceitos aprendidos para diferentes
situações de proteção ao meio ambiente (RIBEIRO, 2007).
Considerações Finais
Referências
97
FIORILLO, C..; RODRIGUES, M. Direito Ambiental e Patrimônio Genético.
Belo Horizonte: Del Rey, 1996.
GANEM, R. (Org.). Legislação brasileira sobre meio ambiente. Brasília: Câmara
dos Deputados, 2013. v. 1. (Fundamentos constitucionais e legais).
GOLDEMBERG, J.; BARBOSA, L. M. A legislação ambiental no Brasil e em São
Paulo. Revista Eco 21, Rio de Janeiro, n.96, nov. 2004. Disponível em:
http://www.eco21.com.br/edicoes/edicoes.asp?edi%E7%E3o=96. Acesso em: 27
set. 2019.
HOGAN, D. J. População e Meio Ambiente: a emergência de um novo campo de
estudos. In: HOGAN D. J. (Org.) Dinâmica populacional e mudança ambiental:
cenários para o desenvolvimento brasileiro. Campinas: Núcleo de Estudos de
População-Nepo, 2007. p.13-49.
MINISTÉRIO DO MEIO AMBIENTE – MMA. Histórico Brasileiro, 2015.
Disponível em: <http://www.mma.gov.br/edu-cacao-ambiental/politica-de-
educacao-ambiental/historico-brasileiro>. Acesso em: 18 de mar. 2020.
MORALES, Angélica Góis Müller. Formação do Educador ambiental:
(re)construindo uma reflexão epistemológica e metodológica frente ao curso de
especialização em educação, meio ambiente e desenvolvimento - UFPR. In: VI
EDUCERE- CONGRESSO NACIONAL DE EDUCAÇÃO, 2006, Curitiba.
Anais do VI Educere. 2006. Disponível em:
http://www.pucpr.br/eventos/educere/educere2006/anaisEvento/paginas/03_aut
ores-f.htm. Acesso em 15 de mar.2020.
REIGOTA, M. Meio ambiente e representação social. São Paulo: Cortez, 2004.
RIBEIRO, Lore Margarete M. Educação Ambiental: uma análise como instrumento
de gestão ambiental. E-Revista Facitec, v.1 n.1, Art.2, março. 2007.
POTT, C. M.; ESTRELA, C. C., Histórico ambiental: desastres ambientais e o
despertar de um novo pensamento. 2017. Disponível em:
<http://www.scielo.br/pdf/ea/v31n89/0103-4014-ea-31-89-0271.pdf> acesso em
27 de set. 2017
98
99
8. APROPRIAÇÃO DOS MODELOS DE PARTICIPAÇÃO PÚBLICA
NA PERSPECTIVA AMBIENTAL
Resumo
Objetiva-se por meio deste capítulo produzir uma revisão de literatura sobre
participação pública em assuntos de meio ambiente, a partir do resgate de modelos
inseridos no campo da Compreensão Pública da Ciência. Apesar da Declaração de
Budapeste (1999) referendar a necessidade de uma alfabetização científica, nota-se
ainda a prevalência do modelo de déficit cognitivo, no qual acentua a dicotomia entre
experts e leigos. No cenário ambiental a intervenção de empresários e atores
políticos autointeressados acentuam ainda mais a distância entre governos e
sociedade civil. Apresenta-se, portanto, outros modelos que prezam pelo
engajamento e o letramento científico-ambiental como fomento a democracia
participativa. Como metodologia, este trabalho recorre à revisão de literatura
buscando além de referências do campo da Compreensão Pública de Ciência e
Tecnologia, autores que falam sobre democracia digital e jornalismo ambiental.
Considerações Iniciais
Coordenadora da Extensão da Universidade do Estado de Minas Gerais. Frutal, Minas Gerais, Brasil. E-
mail: priscila.kalinke@uemg.br.
19 Doutor em Educação pela Unicamp. Docente e Coordenador do Curso de Publicidade e Propaganda
Formação Científica
Para que um país esteja em condições de atender às necessidades
fundamentais da sua população, o ensino das ciências e da tecnologia é
um imperativo estratégico […] Hoje, mais do que nunca, é necessário
fomentar e difundir a alfabetização científica em todas as culturas e em
todos os sectores da sociedade, [...] a fim de melhorar a participação
dos cidadãos na adopção de decisões relativas à aplicação de novos
conhecimentos (DECLARAÇÃO DE BUDAPESTE, 1999).
102
Essas diferentes concepções de ciência influencia como a alfabetização
científica ou letramento é postulado. Para Chassot (2006), a ciência é considerada
uma linguagem, assim, ser alfabetizado cientificamente é saber ler a linguagem em
que está escrita a natureza. Seria, portanto: “O conjunto de conhecimentos que
facilitariam aos homens e mulheres fazer uma leitura do mundo onde vivem”
(CHASSOT, 2000, p. 19). Os alfabetizados cientificamente não apenas devem ter
facilitada a leitura do mundo, mas precisam entender as necessidades de transformá-
lo. Ao valer desse raciocínio, Chassot (2006,2010) questiona o fato do saber
científico ser praticamente vetado àqueles que não pertencem à comunidade
científica.
O princípio da democracia como elemento básico para a formação da
cidadania justifica a aderência de pesquisadores à alfabetização científica (DeBOER,
2000; BYBEE, 1997; FOUREZ, 1997). Outros pesquisadores, no entanto, entendem
a alfabetização científica como um mito, sendo insuficiente para formar cidadãos
aptos a participar de decisões oferecendo opiniões articuladas e fundamentadas
(ATKIN e BLACK, 2003; FENSHAM, 2002a, 2002b; SHAMOS, 1995,
ACEVEDO, 2005).
104
Ao pensar o processo de divulgação acerca das questões ambientais, o
jornalismo, por exemplo, trabalha em sua amplitude com o modelo de déficit
cognitivo, a partir da função proeminente de informar. Segundo Bueno (2007, p.35):
Modelo 2 Contextual
Reconhece a capacidade dos sistemas sociais e representações
midiáticas, sendo assim os indivíduos processam a informação não
Características
como recipientes vazios, mas de acordo com suas experiências
anteriores, o contexto cultural e as circunstâncias pessoais.
Destinado a públicos específicos que possuem a capacidade de
Aplicação
conhecer rapidamente assuntos particulares.
Apesar de reconhecer as implicações do contexto nas respostas e de
que as pessoas não são recipientes vazios, parece ainda assim, uma
versão sofisticada do modelo anterior, pois ainda se concentra sobre a
Crítica resposta dos indivíduos às informações. Como recorre a metodologias
de marketing e abordagens demográficas tem gerado crítica, pois pode
se destinar como uma ferramenta de mensagens para alcançar objetivos
específicos. A meta pode não ser a compreensão, mas a aquiescência.
Quadro 02: Modelo Contextual
Fonte: Elaboração própria a partir de Brossard e Lewenstein (2009)
105
O modelo contextual pode ser pensado a partir de práticas educativas que
reconheçam na experiência do sujeito um universo simbólico importante a ser
explorado como referencial para explicação. Ao resgatar a ideia do jornalismo
ambiental, arriscamos dizer que exerceria a função pedagógica, a quem Bueno (2007,
p.35) pontua que tem por finalidade explicar as causas e soluções para os problemas
ambientais “e à indicação de caminhos (que incluem necessariamente a participação
dos cidadãos) para a superação dos problemas ambientais”.
Em Frutal, Minas Gerais, por exemplo, o projeto de Práticas Ecológicas
proposto pelo município atua neste sentido, em propiciar por meio do ensino a
vivência ambiental dentro do seu contexto.
Considerações Finais
108
Bobino (2000), já alertava sobre algumas “promessas” não cumpridas pela
democracia real em contraste com a ideal e que, em certa medida, são obstruções
para a democracia deliberativa: o poder invisível e o cidadão não-educado.
Por isso, mesmo indo na contramão de alguns pesquisadores referência na
área, a alfabetização científica tem sim que ser pensada como uma componente
básica para a cidadania. E a escolha do (s) modelo (s) de participação deve (m) ser
articulada (s), não somente para mostrar iniciativas interativas, mas, também, como
formas eficazes que estimulem o diálogo entre governo e sociedade civil na
formulação de políticas públicas ambientais.
Referências
110
111
9. BLOCKCHAIN COMO TECNOLOGIA SUSTENTÁVEL E
TRANSPARENTE DE GOVERNANÇA NO ÂMBITO DA
ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA BRASILEIRA
Resumo
20 Especialista em Direito Empresarial e Tributário pelo Centro Universitário de Rio Preto (UNIRP).
Especialista em Direito Administrativo e em Direito Constitucional pela Universidade Anhanguera
(UNIDERP). Mestrando em Propriedade Intelectual e Transferência de Tecnologia para a Inovação
(PROFNIT) junto à Universidade do Estado de Minas Gerais (UEMG). Frutal/MG, Brasil. E-mail:
henrico.br@gmail.com
21 Doutora em Engenharia Urbana pela Universidade Federal de São Carlos (UFSCAR). Professora de
ensino superior da Universidade do Estado de Minas Gerias (UEMG) Unidade Frutal e da Faculdade de
Tecnologia do Estado de São Paulo (FATEC) de São José do Rio Preto. Professora de pós-graduação
stricto sensu do Programa Nacional PROFNIT. Avaliadora do MEC/INEP. São José do Rio Preto/SP,
Brasil. E-mail: miriam.bueno@uemg.br
112
Considerações Iniciais
115
O compliance, tradicionalmente debatido com maior vigor no âmbito da
iniciativa privada, relaciona-se com a Administração Pública sob duas perspectivas: a)
nas relações entre a iniciativa privada e a iniciativa pública; b) com a possibilidade de
transposição de boas práticas de compliance para o âmbito da própria Administração
Pública. Ambos os aspectos interessam aqui no que diz respeito ao ambiente
organizacional público, com três bases: governança, gestão de riscos e
sustentabilidade. Importante destacar que aliar o compliance a tecnologias disruptivas,
como a blockchain, pode se mostrar uma solução interessante (GERCWOLF, 2019, p.
89-91).
Dessa forma, o estímulo à implementação de mecanismos de compliance é
um método de incentivo à sustentabilidade. O compliance público, apesar de carente
aplicação efetiva generalizada, mostra-se importante, em razão da corrupção
incrustada na estrutura de desenvolvimento econômico (KOVTUNIN et al, 2019, p.
119). Aliás, o compliance aplicado ao âmbito da Administração Pública é prática que
encontra demonstração efetiva em outros países, com resultados positivos (SOUZA;
MACIEL-LIMA; LUPI, 2018, p. 18-19).
117
mundo, com estimativa de redução de US$ 12 bilhões em economias anuais de
despesas (VIEIRA, 2018, p. 95).
Análise de resultados
118
Dessa forma, a resposta à pergunta de pesquisa formulada pode ser
respondida positivamente ao se apontar a blockchain como solução sustentável.
Considerações Finais
Referências
119
AZEVEDO, E. et al. Corrupção, governança e desenvolvimento: uma análise
seccional de dados para o Brasil. GCG: revista de Globalización, Competitividad
y Gobernabilidad, v. 12, n. 1, 2018, p. 48-62.
AZEVEDO, M. de et al. O Compliance e a Gestão de Riscos nos Processos
Organizacionais. Revista de Pós-Graduação Multidisciplinar - RPGM, v. 1, n. 1,
p. 179-196, 2017.
BELEZAS, F. et al. A Blockchain nos modelos de negócio da Economia
Colaborativa. In: IBERIAN CONFERENCE ON INFORMATION SYSTEMS
AND TECHNOLOGIES (CISTI), 14.º, 2019, Coimbra, Portugal. Anais […].
Disponível em https://doi.org/10.23919/CISTI.2019.8760602. Acesso em: 24 jul.
2020.
BOVÉRIO, M.; SILVA, V.. BLOCKCHAIN: uma tecnologia além da criptomoeda
virtual. Revista Interface Tecnológica, v. 15, n. 1, p. 109-121, 2018. Disponível
em: https://doi.org/10.31510/infa.v15i1.326. Acesso em: 24 jul. 2020.
BRASIL. Coordenação-Geral de Tecnologia da Informação da Receita Federal do
Brasil. Portaria n.º 55, de 3 de julho de 2019. Altera a Portaria Cotec n.º 54, de 08
de junho de 2017, que dispõe sobre as formas e critérios de segurança da informação
para o acesso a dados da Secretaria da Receita Federal do Brasil (RFB) por órgãos
convenentes ou por órgãos e entidades da Administração Pública Federal direta,
autárquica e fundacional. Disponível em: http://www.in.gov.br/web/dou/-
/portaria-n-55-de-3-de-julho-de-2019-187434049. Acesso em: 24 jul. 2020.
BRASIL. Lei n.º 12.527, de 18 de novembro de 2011. Regula o acesso a
informações previsto no inciso XXXIII do art. 5.º , no inciso II do § 3.º do art. 37 e
no § 2.º do art. 216 da Constituição Federal; altera a Lei n.º 8.112, de 11 de
dezembro de 1990; revoga a Lei n.º 11.111, de 5 de maio de 2005, e dispositivos da
Lei n.º 8.159, de 8 de janeiro de 1991; e dá outras providências. Disponível em:
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2011-2014/2011/lei/l12527.htm. Acesso
em: 24 jul. 2020.
BRASIL. Lei n.º 12.683, de 9 de julho de 2012. Altera a Lei n.º 9.613, de 3 de
março de 1998, para tornar mais eficiente a persecução penal dos crimes de lavagem
de dinheiro. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2011-
2014/2012/lei/l12683.htm. Acesso em: 24 jul. 2020.
BRASIL. Lei n.º 12.846, de 1.º de agosto de 2013. Dispõe sobre a
responsabilização administrativa e civil de pessoas jurídicas pela prática de atos
contra a administração pública, nacional ou estrangeira, e dá outras providências.
Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2011-
2014/2013/lei/l12846.htm. Acesso em: 24 jul. 2020.
BRASIL. Lei n.º 12.850, de 2 de agosto de 2013. Define organização criminosa e
dispõe sobre a investigação criminal, os meios de obtenção da prova, infrações
penais correlatas e o procedimento criminal; altera o Decreto-Lei n.º 2.848, de 7 de
120
dezembro de 1940 (Código Penal); revoga a Lei n.º 9.034, de 3 de maio de 1995; e dá
outras providências. Disponível em:
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2011-2014/2013/lei/l12850.htm. Acesso
em: 24 jul. 2020.
BRASIL. Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão. Instrução Normativa
n.º 01, de 19 de janeiro de 2010. Dispõe sobre os critérios de sustentabilidade
ambiental na aquisição de bens, contratação de serviços ou obras pela Administração
Pública Federal direta, autárquica e fundacional e dá outras providências. Disponível
em: https://www.comprasgovernamentais.gov.br/index.php/legislacao/instrucoes-
normativas/407-instrucao-normativa-n-01-de-19-de-janeiro-de-2010. Acesso em: 24
jul. 2020.
BRASIL. Ministério Público Federal. Caso Lava Jato: Resultados. 2020. Disponível
em: http://www.mpf.mp.br/grandes-casos/lava-jato/resultados. Acesso em: 24 jul.
2020.
BRASIL. Receita Federal do Brasil. Portaria RFB n.º 1788, de 19 de novembro de
2018. Altera a Portaria RFB n.º 1.639, de 22 de novembro de 2016, que estabelece
procedimentos para disponibilização de dados de que trata o Decreto n.º 8.789, de
29 de junho de 2016. Disponível em:
http://normas.receita.fazenda.gov.br/sijut2consulta/link.action?visao=anotado&idA
to=96666. Acesso em: 24 jul. 2020.
CARDOSO, J.; PINTO, J. Blockchain e Smart Contracts: Um Estudo Sobre
Soluções para Seguradoras. In: CONGRESSO DE GESTÃO, NEGÓCIOS E
TECNOLOGIA DA INFORMAÇÃO (CONGENTI), 2.º, 2019, Aracaju, SE,
Brasil. Anais [...]. Disponível em:
https://eventos.set.edu.br/index.php/congenti/article/view/9618. Acesso em: 24
jul. 2020.
CASTAÑEDA-AYARZA, J.; NEVES, C.; TEIXEIRA, A.. Pesquisa Bibliográfica
sobre os Estudos Científicos Relacionados com o Bitcoin e a Blockchain. Contextus
- Revista Contemporânea De Economia E Gestão, v. 17, n. 3, p. 66-87, 2019.
Disponível em: https://doi.org/10.19094/contextus.v17i3.41986. Acesso em: 24 jul.
2020.
COSTA, A.. Corrupção e cultura política em tempos de crise: implicações para a
democracia brasileira. Observatório Político, Working Paper n. 84, Lisboa,
Portugal, 2018.
DUBOIS, A.; SILVÉRIO, A.; TOLENTINO-NETO, L.. Educar para a
sustentabilidade: Administração Pública Federal Brasileira em foco. REMEA-
Revista Eletrônica do Mestrado em Educação Ambiental, v. 34, n. 3, p. 55-71,
2017. Disponível em: https://doi.org/10.14295/remea.v34i3.7113. Acesso em: 24
jul. 2020.
121
GERCWOLF, S. Compliance na administração pública federal: instrumento
de governança, gestão de riscos e sustentabilidade. 2019. 100f. Dissertação
(Mestrado em Direito Político e Econômico) - Universidade Presbiteriana
Mackenzie, São Paulo, SP, Brasil. 2019. Disponível em:
http://tede.mackenzie.br/jspui/handle/tede/4153. Acesso em: 24 jul. 2020.
GREVE, F. et al. Blockchain e a Revolução do Consenso sob Demanda. In:
VERDI, Fábio; UEYAMA, Jo; ROSSETO, Silvana (orgs.). SIMPÓSIO
BRASILEIRO DE REDES DE COMPUTADORES E SISTEMAS
DISTRIBUÍDOS (SBRC), 1.º, 2018, Porto Alegre, Brasil. MINICURSOS. Porto
Alegre: Sociedade Brasileira de Computação, 2018. Disponível em:
http://143.54.25.88/index.php/sbrcminicursos/article/view/1770. Acesso em: 24
jul. 2020.
FORTINI, C.; MOTTA, F. Corrupção nas licitações e contratações públicas: sinais
de alerta segundo a Transparência Internacional. A&C-Revista de Direito
Administrativo & Constitucional, v. 16, n. 64, 2016, p. 93-113. Disponível em:
http://www.revistaaec.com/index.php/revistaaec/article/view/240/615. Acesso
em: 24 jul. 2020.
KOVTUNIN, L. et al. Programas de compliance no setor público: instrumento de
combate à corrupção e incentivo à transparência. Revista São Luis Orione, v. 2, n.
14, p. 108-120, 2019.
LAURINHO, Í.; DIAS, L.; MATTOS, C. Corrupção e ineficiência em licitações de
governos locais e desenvolvimento humano: novas reflexões. Revista de
Contabilidade e Organizações, v. 11, n. 30, p 57-70, 2017.
MARTINS, G.. Avaliação do blockchain aplicado no processo de compras de
uma organização. 2019. 84 f. Dissertação (Mestrado Engenharia de Produção) -
Escola Politécnica, Universidade de São Paulo, SP, Brasil, 2019.
MOUGAYAR, W. Blockchain para negócios: promessas, prática e aplicação da
nova tecnologia da internet. Rio de Janeiro: Alta Books, 2017.
MOURA, L.; BRAUNER, D.; JANISSEK-MUNIZ, R. Blockchain e a Perspectiva
Tecnológica para a Administração Pública: Uma Revisão Sistemática. Revista de
Administração Contemporânea, v. 24, n. 3, p. 259-274, 2020.
NARAYANAN, A. et al. Bitcoin and cryptocurrency technologies: a
comprehensive introduction. Princeton: Princeton University Press, 2016.
PAIVA SOBRINHO, R. et al. Tecnologia Blockchain: inovação em Pagamentos por
Serviços Ambientais. Estudos Avançados, v. 33, n. 95, p. 151-176, 2019.
PINHEIRO, T. Sustentabilidade e contratações públicas no Brasil: Direito,
Ética Ambiental e Desenvolvimento. 2017. 174 f. Tese (Doutorado em Ciência
Ambiental) - Instituto de Energia e Ambiente, Universidade de São Paulo, São Paulo,
SP, Brasil, 2017.
122
PINHO, José A.; SACRAMENTO, A. O círculo vicioso da corrupção no Brasil:
limites estruturais e perspectivas de rompimento. Revista do Serviço Público, v. 69,
2018, p. 181-208.
REIS, A.; ALMEIDA, F.; FERREIRA, M. Relações entre Corrupção Percebida e
Transparência Orçamentária: um estudo com abordagem cross-national. Revista
Contemporânea de Contabilidade, v. 15, n. 37, p. 158-177, 2018.
RODRIGUES, C. Uma análise simples de eficiência e segurança da Tecnologia
Blockchain. Revista de Sistemas e Computação, v. 7, n. 2, p. 147-162, 2017.
SAMPIERI, R.; COLLADO, C.; LUCIO, M. Metodologia de Pesquisa. 5. ed.
Porto Alegre: Penso, 2013.
SANTOS, C. Tecnologia Blockchain: Uma proposta de implementação na
Universidade Federal do Tocantins. 2018. 73 f. Dissertação (Mestrado em
Modelagem Computacional de Sistemas) – Universidade Federal do Tocantins,
Palmas, TO, Brasil, 2018.
SANTOS, M.; OLIVEIRA, A.; OLIVEIRA, N.. Compliance na administração
pública: uma análise crítica sobre a natureza do instituto no setor público diante de
outros mecanismos de controle. Lex Cult Revista do CCJF, v. 3, n. 2, p. 94-108,
2019..
SILVEIRA, D.; CÓRDOVA, F. A pesquisa científica. In: GERHARDT, Tatiana
Engel; SILVEIRA, Denise Tolfo (orgs.). Métodos de Pesquisa. Porto Alegre:
Editora da UFRGS, 2009.
SOARES, K. et al. Critérios de Sustentabilidade Ambiental na Administração Pública
Federal: Vantagens e Desvantagens com Base na Instrução Normativa 01/2010.
Conexões - Ciência e Tecnologia, v. 11, n. 3, p. 50-63, 2017.
SOUZA, S.; MACIEL-LIMA, S.; LUPI, A. Aplicabilidade do compliance na
administração pública em face ao momento político atual brasileiro. Percurso, v. 1,
n. 24, p. 1-22, 2018.
TRANSPARÊNCIA INTERNACIONAL. Índice de Percepção da Corrupção
2019. Disponível em: https://ipc.transparenciainternacional.org.br. Acesso em: 24
jul. 2020.
VIEIRA, J. A representação social do blockchain no Brasil. 2018. 119 f.
Dissertação (Mestrado em Gestão Empresarial) - Escola Brasileira de Administração
Pública e de Empresas, Fundação Getúlio Vargas, Rio de Janeiro, RJ, Brasil. 2018.
123
124
10. CONSTRUÇÃO SOCIAL DAS SERPENTES: UMA INVESTIGAÇÃO
ETNOBIOLÓGICA EM SALINAS-MG
Resumo
A construção coletiva do conhecimento é um processo marginalizado de forma
recorrente, não havendo espaço para essa discussão dentro do conhecimento
científico nas academias. Silva e Melo Neto (2015) trouxeram essa provocação,
questionando essa queda de braço que o conhecimento científico insiste em
perpetuar ao indagarem “O que se está falando ao pôr em evidência a relação entre o
saber popular e o saber científico?”. Apesar das tentativas de sufocamento dos
saberes tradicionais, sua característica nômade e oral permite que ele permaneça e se
reinvente. A etnobiologia é a ciência que vem a desenvolver uma ponte entre essas
duas ciências e é por meio dela que este trabalho teve por objetivo investigar a
construção social das serpentes pela perspectiva dos frequentadores do Mercado
Municipal de Salinas-MG, determinando-se assim os aspectos biofílicos com relação
às serpentes. Foram realizadas entrevistas semi-estruturadas e a escolha dos
entrevistados foi definida pelo método de snow-ball. As entrevistas foram gravadas e
o conteúdo gerado transcrito, preservando as peculiaridades linguísticas populares,
mantendo seu sentido e adequando-o para o registro etnobiológico. Concluiu-se que
há uma relação de biofilia mista. Quando negativa, culmina, muitas vezes, com o
abate destes animais e transmissão oral das lendas criadas na região onde há a
22
1 Mestre em Medicina Veterinária pela UNESP. Docente do Instituto Federal de Educação, Ciência
e Tecnologia do Norte de Minas Gerais (IFNMG). Salinas, Minas Gerai, Brasil. E-mail:
thais.castanheira@ifnmg.edu.br
23
Licenciado em Ciências Biológicas pelo Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do
Norte de Minas Gerais (IFNMG). Salinas, Minas Gerai, Brasil. E-mail: arturrodriguessbio@gmail.com
24 Graduando em Medicina Veterinária pelo Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do
Norte de Minas Gerais (IFNMG). Salinas, Minas Gerai, Brasil. E-mail:
fredericooliveira.medvet@gmail.com
25
Doutor em Medicina Veterinária pela UNESP. Docente do Instituto Federal de Educação, Ciência e
Tecnologia do Norte de Minas Gerais (IFNMG). Salinas, Minas Gerai, Brasil. E-mail:
eduardo.garrido@ifnmg.edu.br
125
impregnação do termo “maldade” e “vingança”. Quando positiva, embora também
leve ao abate dos animais, estes são usados para práticas medicinais locais.
Considerações Iniciais
Materiais e Métodos
Resultado e Discussão
Foram registradas dez entrevistas, das quais quatro eram homens e seis
mulheres. A idade dos entrevistados variou de 42 a 96 anos. Quanto à escolaridade,
um entrevistado não declarou; seis declaram com ensino fundamental incompleto;
um com ensino fundamental completo; um com ensino médio completo, um com
ensino superior incompleto. Este último, declarou ter realizado cursos técnicos em
medicina tradicional chinesa. Quanto à religião, nove declararam-se católicos e um
presbiteriano. Quanto ao ofício, este se apresentou de maneira diversa e sobreposta,
aos ofícios tradicionais encontrados no Mercado Municipal de Salinas-MG. Destoou-
129
se uma massoterapeuta e uma aposentada, pois foram indicadas como especialistas
(Tabela 1).
Os entrevistados que apresentaram maior número de atribuições negativas
às serpentes inseriram em suas palavras os termos “mau” e “vingativo”. Estas
respostas parecem indicar uma relação com a escolaridade dos indivíduos, uma vez
que estes entrevistados possuíam ensino fundamental incompleto. Enquanto os
entrevistados com ensino fundamental completo, ensino médio completo e superior
incompleto apresentaram uma percepção ecológica mais ampla do contexto das
serpentes em relação ao grupo com menor escolaridade. Diferente do encontrado
por Batistella, Potter e Vale (2005) não houve grande discrepância entre os
conhecimentos entre homens e mulheres, bem como entre diferentes níveis de
formação educacional.
Também é interessante notar que há uma forte tendência em associar
representações nocivas (como as palavras com conotação negativa) às cobras em
algumas comunidades (BARBOSA et al., 2007).
Todos os entrevistados apontaram as lavouras, principalmente em meio à
colheita e áreas de pasto como os principais locais de conflito (encontro) entre
pessoas e serpentes no município de Salinas-MG. Outros complementaram como
locais adicionais fontes de água fresca e locais frescos; casas e locais de criação de
animais. Outros ainda não relataram encontros diretos, somente reproduziram
histórias passadas oralmente das experiências de outras pessoas ou apenas ter visto
uma jiboia na estrada.
Idade
Entrevistado Sexo Escolaridade Religião Ofício
(anos)
Fundamental Açougueiro /
01 60 Homem Católico
Completo Lavrador
Fundamental Feirante de
02 65 Mulher Católica
Incompleto temperos
Fundamental Feirante de
03 69 Mulher Católica
Incompleto temperos
Lavrador /
Fundamental feirante de
04 55 Homem Católico
Incompleto cereais e
hortaliças
Lavrador /
Fundamental feirante de
05(a) 58 Mulher Católica
Incompleto cereais, frutas e
hortaliças
130
Lavrador /
Médio feirante de
05(b) 60 Homem Presbiteriano
Completo cereais, frutas e
hortaliças
Superior
06 42 Mulher Católica Massoterapeuta
Incompleto
Fundamental
07 76 Mulher Católica Cozinheira
Incompleto
Fundamental
08(a) 96 Mulher Católica Aposentada
Incompleto
08 (b) 44 Homem ND Católico Comerciante
Tabela 1. Perfil dos entrevistados do experimento quanto a idade, sexo,
escolaridade, religião e ofício.
ND: não declarado.
Fonte: Elaboração própria
Chamei meu primo para ir lá matar pra mim, aí meu primo foi lá [...] ai
ele foi abrindo assim com a espingarda, abrindo, abrindo, ai quando
olhou, ela tava lá me esperando, fez a rudia e ficou com a cabeça e com
a linguinha pra fora. Valença que não fui! Fui lá mais nunca, ia de
manhã cedo pegar coisa na roça, cascavel tá lá dormindo no sol, no
meio da estrada, mas eu chego lá e nem mexo com ele e nem matar.
Porque disse que se a gente matar ela, mal morta que ela não morre e
fica esperando a gente. (Entrevista 7).
E meu pai me contava a história, diz que um menino tinha uma roça
do outro lado do córrego, e lá tinha uma madeira que ele trévessava pra
ir na roça né, e que um dia que ele matou uma cobra, cortou a cabeça
dela e ela foi embora, e que o homem foi embora também pra São
Paulo e ficou lá por muitos anos, meu pai me contava, ele foi embora e
ficou por muitos anos lá, quando ele voltou, uns vinte anos atrás, que
ele falou assim: “ Ah, eu vou lá ver aquele lugar lá.” – que ele tinha
roça, que ele ficava, era minador, que a água minava né, aí que ele foi,
disse que quando ele foi travessando lá que ela ficou esperando ele,
virou igual uma linha, e que ele foi travessando que ela pegou ele e
132
matou, ele morreu na hora, tava igual um fiinho de cabelo assim,
quando se matar a cobra não pode deixar ela ir embora, tem que matar
ela ou deixar embora sem mexer ou então matar, porque ir embora mal
morta, diz que se ela viver que ela espera a gente, assim o povo conta
né. (Entrevista 7)
134
Entre as crenças descritas, o entrevistado 5 relatou que a ingestão oral da
peçonha poderia salvar a pessoa do veneno e tentou recordar a forma de extração do
veneno para tal fim:
Entrevistado 5a: Se... se matar ela na hora e tirar o veneno dela e dá à
pessoa pra tomar um pouquinho, a pessoa é curada do veneno dela.
Pesquisador: E como que tira o veneno dela?
Entrevistado 5a: Eu não sei se é cortado na barriga, onde que é. Eu não
sei te explicar isso daí, mas eu já vi falando isso daí. Que esse povo de
antigamente sabia.
135
Considerações Finais
Referências
BAILEY, K.D. Methods of Social Research, New York: Free Press, 4ª Ed., 2008,
p. 588.
BARBOSA, A.R. et al. Abordagem etnoherpetológica de São José da Mata – Paraíba
- Brasil. REVISTA DE BIOLOGIA E CIÊNCIAS DA TERRA. v.5, n.2, 2007.
BASTOS, S.N.D. Etnociências na sala de aula: uma possibilidade para Aprendizagem
Significativa. In: Anais. XI Congresso Nacional de Educação (EDUCERE).
Pontífica Universidade Católica do Paraná, Curitiba. 2013.
BONI, V.; QUARESMA, S.J. Aprendendo a entrevistar: como fazer entrevistas em
Ciências Sociais. Em Tese, v. 2, n. 1, p. 68-80, 2005.
BATISTELLA, A.M.; POTTER, C.C.; VALE, J.D. Conhecimento dos moradores da
comunidade de Boas Novas, no Lago Janauacá - Amazonas, sobre os hábitos
alimentares dos peixes da região. Acta Amazonica, v.35, n. 1, p. 51-54, 2005.
CARDOSO, J.L. et. al; Animais peçonhentos no Brasil. São Paulo: Sarvier, 2ª Ed.,
capítulo. 4, 2009.
CAMARGO, A.C. Serpentes e a indústria farmacêutica. Pesquisa FAPESP. Ed. 56,
2000. Disponível em: https://revistapesquisa.fapesp.br/serpentes-e-industria-
farmaceutica/. Acesso em: 29/07/2020. (FOLODUN, OWOLABI, & OSAHON,
2008)
136
COSTA NETO, E. et al. O “louva- a-deus-de-cobra”, Phibalosoma sp. (insecta,
phasmida), segundo a percepção dos moradores de Pedra Branca, Santa Terezinha,
Bahia, Brasil. Sitientibus - Série Ciências Biológicas, v. 5, n. 1, p. 33-38, 2005.
137
SOUZA, E., WERNECK, F., MATOS, L.; FRAGA, R. Zootherapy in the Amazon:
green anaconda ( Eunectes murinus ) fat as a natural medicine to treat wounds. Acta
Amazonica, 47(4), 341-348, 2017.
WILSON, E. Biophilia: The human bond with other species. Cambridge:
Harvard University Press, 1984.
YUE, S.; BONEBRAKE, T.C.; GIBSON, L. Human-snake Conflict Patterns in a
Dense Urban-Forest Mosaic Landscape. Herpetological Conservation and
Biology. v.14, n.1. p.143–154. 2019.
ZANETTI, F.; FRANÇA, S. As ciências e a democratização do conhecimento.
In:CONSTANTINO, E. (org). Percurso da pesquisa qualitativa em psicologia.
São Paulo: Arte & Ciência, 2007.
138
139
11. APRENDIZAGEM COOPERATIVA SOBRE PRODUÇÃO
SUCROALCOOLEIRA NO ENSINO DE QUÍMICA
Resumo
O manuscrito apresenta e discute relatos escritos sobre a receptividade discente na
aprendizagem cooperativa com uso de textos de divulgação científica (TDCs). A
proposta fez parte de uma sequência didática elaborada para ensino-aprendizagem de
aspectos relacionando meio ambiente no processo de produção sucroalcooleira. A
sequência didática foi estruturada e aplicada a 128 participantes da 1ª série do ensino
médio de uma escola da rede estadual de Minas Gerais. Os participantes formaram
pequenos grupos e, cada integrante exerceu determinada função para o
desenvolvimento das atividades cooperativas conforme orientações do método
Jigsaw. As atividades foram aplicadas na disciplina de Química e Tecnologia da Informação:
Editoração de Textos desenvolvidas semanalmente por 4 meses de duração. Uma
avaliação geral das atividades foi aplicada solicitando relatos escritos para questão:
“Descreva suas impressões sobre como foi trabalhar em pequenos grupos para
realização das atividades. Informar pontos positivos e pontos negativos”. As
impressões escritas foram separadas em: (I) Cerca de 78,2% (n=100) apresentaram
pontos positivos: trabalhar de forma menos dependente do professor e maior
autonomia para falar o que pensa sobre o assunto. (II) Cerca de 21,8% (n=28)
relataram pontos negativos: necessidade de acompanhamento do professor para
articular os trabalhos do grupo e o excesso de discussão dentro do grupo para decidir
o que escrever ou apresentar oralmente. Os relatos escritos e discutidos apontam
para uma boa aceitação da sequência didática orientada e desenvolvida por meio do
26 Mestrado em Ciências (Química Analítica) pelo Instituto de Química de São Carlos da Universidade
de São Paulo (IQSC/USP). Professor na Escola Estadual Alonso de Morais Andrade. Itapagipe, Minas
Gerais, Brasil. E-mail: fsilvarezende@gmail.com.
27 Mestrado em Educação e Formação Humana pela Universidade Estadual de Minas Gerais (UEMG).
140
método cooperativo Jigsaw que favoreceu o desenvolvimento de habilidades
importantes que em uma aula tradicional não seriam desenvolvidas adequadamente.
Palavras-chave: Ensino de Química. Meio Ambiente. Método Jigsaw. Textos de
Divulgação Científica. Revista FAPESP.
Considerações Iniciais
141
Partindo dos exemplos acima descritos, a presente proposta didática visou
unificar os pontos discutidos abordando a temática de problemas ambientais
vinculados a produção sucroalcooleira por meio de atividades voltadas em um
processo de ensino-aprendizagem cooperativo adotando o método Jigsaw com auxílio
de TDCs extraídos da Revista FAPESP. Para tanto, o presente trabalho apresenta e
discute relatos escritos sobre a receptividade discente em relação a aprendizagem
cooperativa utilizada no desenvolvimento das atividades com TDCs.
Metodologia
142
Figura 1. Esquema básico do método cooperativo de aprendizagem Jigsaw
Fonte: Fatarelli et al.(2010).
143
Após apresentação de cada atividade ocorria a formação do grupo de
especialistas (2º momento da Fig. 1). Nesta formação, cada grupo engajou-se na
produção argumentativa sobre as questões designadas de forma a permitir a
contribuição de suas ideias na resolução. Após a exposição de todos os pontos de
vista, os grupos iniciaram uma discussão, com o intuito de chegar a um consenso
sobre o que deveria ser respondido, fazendo com que cada participante escrevesse
em sua folha a mesma resposta (LEITE et al., 2013).
Posteriormente, os integrantes retornam ao grupo de base, e cada um expôs o
conhecimento adquirido no grupo de especialistas. Cada participante necessitou
aprender para explicar aos colegas de forma clara o que aprendeu em uma atmosfera
de coletividade.
No geral, a sequência didática elaborada contemplava o desenvolvimento
de atividades como (I) leitura e interpretação do texto para discussão de questões
específicas, (II) realização de um fórum de discussões em espaço da rede social
Facebook, (III) apresentação oral e debate entre os grupos cooperativos dos relatos
escritos, (IV) confecção de um banner para apresentação oral ao público externo a
série dos participantes e (V) registro escritos nos questionários elaborados para
avaliação geral das atividades.
As atividades foram aplicadas junto a disciplina de Química e Tecnologia da
Informação: Editoração de Textos desenvolvidas semanalmente, sendo 50 min em
cada disciplina, durante 4 meses do 2º semestre do ano letivo. Na última etapa, a
avaliação geral das atividades foi aplicada solicitando relatos escritos, entre elas:
“Descreva suas impressões sobre como foi trabalhar em pequenos grupos para
realização destas atividades. Você pode informar os pontos positivos e negativos”.
Para avaliar e facilitar a organização das respostas escritas por cada participante foi
utilizado como referencial o trabalho desenvolvido por Fatarelli e colaboradores
(2010). Para cada entrevistado, um termo de consentimento livre e esclarecido
(TCLE) foi entregue para leitura e concordância me participação da entrevista em
acordo com Comitê de Ética e Pesquisa (CEP).
Resultados e discussões
144
mais independente durante o processo de ensino e aprendizagem de Química.
Algumas das opiniões se encontram a seguir.
Participante: “O método adotado permite trabalhar mais dentro do
grupo e menos dependente do professor de química”.
145
Os pontos negativos foram registrados por cerca de 21,8% (n=28) dos
participantes discorrendo sobre pontos que consideram importante uma reavalização
ou reconsideração por parte do professor em futuras proposições de sequência
didática desta natureza. A necessidade de acompanhamento do professor para
articular os trabalhos do grupo foi elucidada por alguns integrantes:
Considerações Finais
147
Debates em grupo, possibilidade de (re) elaboração do conhecimento,
troca de informações mediante dúvidas, exposição oral do conhecimento produzido
e postura ativa na busca pela compreensão da cinética das reações químicas são
alguns pontos proporcionados que podemos destacar em favor da proposta.
Além disso, as respostas escritas demonstram melhor compreensão de
conceitos e relações entre meio ambiente e produção sucroalcooleira conforme
foram trabalhados aos moldes da estratégia adotada. Tanto que, grandes partes
demonstraram interesse em participar novamente de atividades desta natureza por
ter possibilidade uma forma diferente de aprender quando comparada as aulas
tradicionais desenvolvidas pelo professor da disciplina.
Referências
148
SOARES, A.; COUTINHO, F.. Leitura, discussão e produção de textos como
recurso didático para o ensino de Biologia. Revista Brasileira de Pesquisa em
Educação em Ciências, vol. 9, n.2, 2009.
TRAVASSOS, E.. A educação ambiental nos currículos: dificuldades e desafios.
Revista de Biologia e Ciências da Terra. Volume 1, Número 2 – 2001.
149
150
12. AGRICULTURA URBANA EM LORENA (SP): NOTAS SOBRE OS
SIGNIFICADOS DO PLANTAR EM ESPAÇOS URBANOS
Resumo
Entre as maneiras de uma cultura ser compreendida, o cotidiano se apresenta como
um ponto chave para tais descobertas. No entanto, esse entendimento transita entre
as luzes e as sombras da observação realizada. Ao andar pelas ruas da cidade de
Lorena (SP), nota-se a existência de plantas em calçadas, portões, terrenos e quintais.
Desvinculando-se da necessidade de imparcialidade e neutralidade, necessárias às
abordagens científicas, são possíveis apreender o familiar e o natural que sobressaem
ao olhar contemplativo. Logo, o imaginário tem espaço nessa dinâmica para contar
um pouco sobre os costumes individuais e coletivos que permeiam as sensibilidades
desses lugares vividos. A interação, através de entrevistas, os vínculos, pelas
conversas informais, e a fotografia, sob o olhar dos colaboradores, servem como
ferramental no auxílio ao método sócio-histórico de investigação utilizado na
pesquisa. O intuito do projeto foi entender o valor afetivo e político da agricultura
urbana, caracterizado pelo plantar em espaços citadinos públicos ou privados. Esses
lugares em que o verde conversa com o concreto da cidade e as relações humanas se
tecem de forma orgânica. A ambientação do espaço é quase toda responsabilidade de
quem o vivencia diariamente, porém, isso pode e deve ser incentivado por ações
sociais e governamentais. Jardins, hortas e pomares se apresentam como fontes de
alimentos constantes, sejam eles de forma afetiva ou literal. Esse trabalho procura
pontuar alguns desses percursos.
MBA em Gestão de Marketing e Negócios no Centro Universitário Teresa D‟Ávila, Lorena-SP, Brasil.
Email. pesquisadorcnpq@gmail.com
32 Graduanda em Jornalismo pelo Centro Universitário Teresa D‟Ávila, Lorena-SP, Brasil. Email.
thayna.castro11@hotmail.com.
151
Palavras-chave: Agricultura urbana. Ambiência. Hortas urbanas. Segurança
Alimentar. Cotidiano.
Considerações Iniciais
152
sustentabilidade, à preservação da biodiversidade, à saúde mental e ao favorecimento
dos interesses e fortalecimentos dos valores das comunidades locais”.
Os pilares para a agroecologia, ainda segundo Machini (2007, p. 105), versam
na tentativa “de expor uma outra racionalidade à compreensão do que seria um
agroecossistema, voltando ao olhar não apenas para a produção de uma determinada
espécie, mas às relações simbióticas, de interação entre pessoas e outros seres” ao
mesmo tempo na “valorização de formas de manejo, conhecimento, construções
humanidade-natureza locais”.
Essas questões – agricultura urbana, hortas comunitárias, práticas
agroecológicas e produção orgânica – estão presentes na característica plural de
práticas de “agriculturas urbanas”, responsáveis por borrarem a divisão moderna das
fronteiras entre urbano e rural.
Responsáveis por 20% dos alimentos do mundo, segundo dados da FAO, a
agricultura familiar como práticas de produção, distribuição e venda de alimentos no
perímetro urbano é marcada pela sua variedade e imprecisões conceituais, embora
exista uma profusão de estudos que estabeleçam definições e comparações a
exemplo das investigações recentes de Machini, (2017), Nagib (2016), Rostichelli
(2013). Essas agriculturas associadas ao ecossistema urbano são também marcadas
pela variedade de tipos de cultivos (em casa, no quintal, em espaços públicos), para
fins comerciais ou não.
Machini (2017) frisa justamente que essas práticas não só dizem respeito às
“resistências”, mas igualmente às “reinvenções” das práticas de plantio e da própria
ideia de cidade, bem como se torna um dispositivo político fundamental nesses
contextos.
153
Com vistas a problematizar os lugares da cidade onde o ato de plantar se
concretiza, em especial, refletir sobre a estética das ambiências, a constituição das
relações e afetos nesses espaços, este capítulo apresenta a síntese do projeto de
iniciação cientifica “Espaço e sustentabilidade: as transformações socio-ambientais
em torno da agricultura urbana”. Uma pesquisa realizada pela graduanda Thayná
Carolina Oliveira Loureto de Castro, sob a orientação do Prof. Luiz Antonio
Feliciano, no período de agosto de 2018 a julho de 2019, na cidade de Lorena (SP),
com bolsa PIBIC-CNPq. Por meio de uma abordagem sócio-histórica (FREITAS,
2003) e fenomenológica (MAFFESOLI, 2010), a pesquisa buscou relacionar a
produção de hortas urbanas ao ato dinâmico de vivenciar o lugar. Utilizou-se da
fotografia como recurso prático para identificar a importância dada ao lugar, por
meio da escolha do registro imagético. Esse texto traz algumas problematizações que
emergem desses entrelaçamentos e imbricações.
156
As etapas desenvolvidas foram, primeiramente, as leituras necessárias para
construção de um corpo teórico que deram base à ida ao campo. Apesar de a
pesquisa bibliográfica acontecer constantemente, ela foi de mais intensidade nos
primeiros meses. No campo, primeiramente o esforço se concentrou na identificação
dos lugares que possuíam hortas ou pomares, quintais, jardins, públicos ou privados.
Isso foi a porta de entrada para se chegar aos sujeitos que iriam colaborar com o
projeto de pesquisa, através das entrevistas.
De acordo com levantamento, realizado informalmente, não havia hortas
comunitárias em Lorena. Com isso, ampliou-se para hortas urbanas e quintais com
alimentos. Essa etapa se concentrou em procurar iniciativas coletivas também. As
buscas aconteceram por meio de conversas informais com conhecidos e grupos de
troca de informações sobre plantio e compra e venda de alimentos. Logo, obteve-se
uma lista relativamente grande de indicações de lugares e pessoas.
Como a pesquisa possuía o foco no modelo qualitativo foram escolhidas
pessoas em diferentes contextos sociais e culturais para que gerassem material de
contribuição mais aprofundado. Selecionou-se, então, 08 nomes – para preservar o
anonimato dos entrevistados, optou-se por identificá-los numericamente –,
que, ao final, foram reduzidos para 04 entrevistados. Percebendo a dificuldade de
abertura da maior parte dos entrevistados, foi modificada a forma de abordagem.
Pessoas que eram conhecidos de conhecidos possuíam maior facilidade em se abrir
para a pesquisa. Dessa forma, foi necessário o desenvolvimento de vínculo social
com as pessoas que iriam ser entrevistadas.
O entrevistado 01 é recém-formado na faculdade e fazia parte de um projeto
que trabalhava com plantio agroflorestal de horta e na reabilitação de dependentes
químicos. Não possuía nenhum vínculo social com a pesquisadora que foi ao campo.
Mesmo o projeto não existindo mais, foi escolhido por conta do envolvimento e
proximidade maior com o conceito de horta comunitária na cidade de Lorena.
A entrevistada 02 está na faculdade, mora em uma república e havia
começado uma horta no quintal há três semanas. Foi escolhido por conta do
ambiente coletivo em que se encontrava e pelo tempo relativamente curto de contato
com plantio.
O entrevistado 03 é um senhor que possui uma horta orgânica em um
terreno arrendado há cerca de três anos e meio, na cidade de Lorena. Nesse lugar, ele
planta apenas com o intuito de venda e trabalha sozinho. Foi escolhido por conta do
aproveitamento de um espaço que poderia ser apenas um terreno baldio.
O entrevistado 04 é casado e tem um filho de quase 01 ano. Em seu quintal,
possui um pomar e uma horta há mais ou menos 01 ano. Entretanto, se envolve com
atividades de plantio há mais de 10 anos. Foi escolhido por conta do histórico de
experiências tanto coletivas, quanto individuais.
157
Após serem entrevistados, os entrevistados 02, 03 e 04 lançaram seus olhares
pessoais sobre os seus espaços cotidianos por meio da fotografia. Cada um tirou
cerca de cinco fotos. O entrevistado 01 preferiu escolher algumas fotos do projeto
que havia participado anteriormente, que foram produzidas em conjunto na época, já
que não seria possível gerar novas imagens nesse momento. Cada fotografia feita foi
analisada conjuntamente com as conversas gravadas nas entrevistas e aquelas
realizadas de maneira informal. Percorreu-se um caminho até que as pessoas se
abrissem à gravação. As conversas informais não gravadas continham informações
relevantes para análise das perspectivas fotográficas e, portanto, também foram
usadas.
158
Esse sentimento era parecido com o do entrevistado 01 quando falava das
muitas vivências durante o projeto, que promovia a reabilitação de dependentes
químicos por meio de atividades relacionadas ao plantio agroflorestal. O que
confirma a existência de algo maior do que um simples terreno. Na forma como o
entrevistado 01 contava sobre as experiências vividas neste lugar, era possível sentir
uma nostalgia. Havia um sorriso ao falar das partes que mais gostava de participar e
um leve desapontamento ao explicar o desfecho do projeto.
Nas falas sobre o espaço em si, a entrevistada 02 compartilhou que sempre
quis ter um lugar para plantar e colher seu próprio alimento. Quando viu que o
quintal da sua república poderia ser útil devido à presença de terra boa, se perguntou:
"Por que não?". Fazia 03 semanas que ela havia iniciado sua horta e já imagina o
momento em que ela iria poder colher seu próprio legume. O espaço é relativamente
pequeno, apenas um canteiro.
Os sentimentos relacionados ao espaço também se repetem com o
entrevistado 04. Ele planta no quintal da sua futura casa. Só escolheu esse terreno
por conta das árvores frutíferas, de mais de dez anos de idade, presentes ali. A casa
está em construção, saindo do zero. Já a horta, está a todo vapor há mais de um ano
e meio. É possível observar o amor e dedicação pelo quintal, que segue a lógica
agroecológica, sendo floresta, pomar e horta ao mesmo tempo. Ele conta seus planos
de criar um quintal de atividades recreativas para seu filho. O entrevistado
compartilhou que quer implantar uma tradição, começada em Janeiro de 2019, em
sua família. A ideia é que todo início de ano, seja feita uma “palmitada” com o
palmito que sair da sua horta.
Pode-se notar que há um ambiente sensorial construído nestes espaços
habitados. É visível que a relação com o espaço em que se planta é importante e
responsável por criar significados e relações pessoais. E são elas que fazem com que
a ambientação do espaço possa ser criada. Os sentimentos são expressos de formas
diferentes. Porém, a maior parte das vezes, trazem boas sensações aos conviventes.
Considerações Finais
Referências
161
FREITAS, M... “A perspectiva sócio-histórica: uma visão humana da construção do
conhecimento”. In: FREITAS, Maria T. de A.; SOUZA, Solange J. e.; KRAMER,
Sonia (Orgs.). Ciências humanas e pesquisa: leitura de Mikhail Bakhtin. São
Paulo: Ed. Cortez, 2003. – (Coleção questões da nossa época; v. 107).
IBGE – INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA. Censo
demográfico 2010. Rio de Janeiro: IBGE, 2010a. In:
https://biblioteca.ibge.gov.br/visualizacao/periodicos/93/cd_2010_caracteristicas_
populacao_domicilios.pdf. Acesso: 02/11/2019.
MACHINI, M.. Nas fissuras do concreto: política e movimento nas hortas
comunitárias da cidade de São Paulo. 2017. Dissertação (Mestrado em Antropologia
Social) - Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas, Universidade de São
Paulo, São Paulo, 2017.
MAFFESOLI, M.. “Ecosofia: sabedoria da Casa Comum”. In. Revista FAMECOS
(Online). Porto Alegre, v. 24, n. 1, janeiro, fevereiro, março e abril de 2017.
. “A terra fértil do cotidiano”. In. Revista FAMECOS, Porto Alegre, nº 36,
agosto de 2008. Quadrimestral.
NAGIB, G.. Agricultura urbana como ativismo na cidade de São Paulo: o caso da
Horta das Corujas. 2016. Dissertação (Mestrado em Geografia Humana) -
Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas, Universidade de São Paulo, São
Paulo, 2016.
ROSTICHELLI, M.. Entre a Terra e o Asfalto: a região metropolitana de São Paulo
no contexto da agricultura urbana. 2013. Dissertação (Mestrado em Geografia
Humana) - Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas, Université de São
Paulo, São Paulo, 2014.
THIBAUD, J.. “A cidade através dos sentidos”. In. Cadernos PROARQ, 18, 2017
THE WORLDWATCH INSTITUTE. "O Estado do Mundo - Inovações que
nutrem o Planeta". In: https://www.akatu.org.br/wp-
content/uploads/2017/04/EstadodoMundo2011 _portugues.pdf. Acesso em:
02/11/2019
162
163