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Universidade Católica de Moçambique

Instituto de educação à Distância

A consciência Moral

Costa Basílio Oraib, código: 708207962

Curso: Biologia
Disciplina: Filosofia (2º
Ano)

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Aspectos
organizacionai  Bibliografia 0.5
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 Contextualização 1.0
(Indicação clara do
problema
 Descrição dos 1.0
Introdução objectivos
 Metodologia 2.0
adequada ao objecto
do trabalho
 Articulação e domínio 2.0
do discurso académico
(expressão escrita
Conteúdo cuidada, coerência /
coesão textual)
 Revisão bibliográfica 2.0
nacional e
Análise e internacionais
discussão. relevantes na área de
estudo.
 Exploração dos dados. 2.0
Conclusão  Contributos teóricos 2.0
práticos.
Aspectos Formatação  Paginação, tipo e 1.0
gerais tamanho de letra,
parágrafo,
espaçamento entre
linhas
Referênci Normas APA  Rigor e coerência das 4.0
as 6ª edição em citações/referências
Bibliográfi citações e bibliográficas
cas bibliografia.

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Índice
Folha de Feedback.............................................................................................................1

Recomendações de melhoria:............................................................................................2

1. Introdução..................................................................................................................4

Objectivo Geral.................................................................................................................4

Específicos:........................................................................................................................4

1.2. Metodologia............................................................................................................4

2. A consciência moral...................................................................................................5

2.1. Características, para que serve e exemplos.........................................................6

2.2. Consciência moral como autoconhecimento e juiz.............................................7

2.3. Consciência moral como conhecimento indirecto da moralidade..........................7

2.4. Consciência moral como conhecimento directo da moralidade......................8

2.5. Consciência moral como dever.......................................................................8

2.5.1. Para que serve?................................................................................................9

2.6. Delimitação da má consciência frente à consciência moral..........................10

3. Conclusão.............................................................................................................15

4. Referências Bibliográficas....................................................................................16

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1. Introdução
Este trabalho tem por objectivo realizar uma análise do conceito de consciência moral e
mostrar uma conexão entre este conceito e a vontade de potência. A tese central que
pretendo expor e justificar é que a consciência moral é, a experiência fundamental a
partir da qual se pode identificar na ontologia da vontade de potência um carácter
fenomenológico. Admitimos de inicio que a conexão entre consciência moral e vontade
de potência no sentido pretendido soa contra intuitiva. No entanto, gostaria de lembrar
que, quando desenvolvemos um estudo científico, uma de nossas principais tarefas deve
ser nos libertar de uma das mais nefastas formas de violência: a violência cultural
académica. Por mais que ocupe um lugar central no desenvolvimento do pensamento
social e político, nenhuma obra ou conceito está imune de críticas e reformulações. Em
última instância, é a discórdia que estimula a reflexão e o debate de ideias.

Para a realização do trabalho foi usado como método a revisão bibliográfica que
permitiu uma análise e interpretação de diversas obras consultadas. O mesmo é
constituído pela presente nota introdutora, a contextualização onde há o enfoque do
fundamento do mesmo e por fim apresenta-se a conclusão e a respectiva lista
bibliográfica

1.1. Objectivo Geral


 Compreender a consciência moral

1.2. Específicos:

 Delimitar da má consciência frente à consciência moral

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 Identificar as características da consciência moral;

 Realizar uma análise do conceito de consciência moral

1.3. Metodologia
Para a elaboração deste trabalho, recorreu-se a:

Consultas bibliográficas que consistiu na leitura e interpretação de diversas de vários


autores que sustentam sobre o assunto em estudo; e Analise e interpretação que
consistiu na análise de diversas fontes bibliográficas pertinentes neste estudo.

2. A consciência moral
A consciência moral é uma competência avaliadora dos actos pessoais e dos alheios, a
capacidade de discriminar entre o que é o bem e o que é o mal (Catecismo, 2008).
Qual a NATUREZA desta capacidade cuja manifestação no ser humano o eleva à
dignidade de um ser moral?

De acordo com (Catecismo, 2008), a consciência moral tem uma base racional. Todos
os actos humanos são julgados e avaliados pela razão, em função de valores livre e
racionalmente escolhidos. Não é, pois, “às cegas” que concebemos e realizamos a
acção. É com a intervenção do pensamento que tomamos consciência dos problemas,
que os compreendemos e que equaciona-mos soluções que nos parecem possíveis. A
racionalidade permite-nos analisar criticamente aquilo com que nos deparamos, avaliar
as acções pessoais e as dos outros, confrontando o que queremos fazer com aquilo que
julgamos que devemos fazer.

Segundo Martain (1945. P.188), a consciência moral tem um elemento afectivo. As


relações interpessoais manifestam na consciência uma componente emocional tão forte
que é capaz de dinamizar a acção humana do mesmo modo que a razão. Por vezes,
junta-se à razão, colaborando e reforçando o seu papel, ou, então, opondo-se-lhe e
entrando em conflito com ela. Assim, quer os sentimentos positivos de amor, amizade,
simpatia e fraternidade quer os seus contrários manifestam uma “lógica” própria que
interfere de modo significativo na acção.

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A consciência moral tem uma componente social. É interagindo com os outros e através
do processo de educação que a consciência moral se vai formando. O seu
desenvolvimento passa pela interiorização de um “dever-ser” que lhe vai sendo
apresentado pelos diferentes agentes (família, escola, media, grupo de pares, etc.) no
decorrer do processo de socialização (Martain, 1945. P.188),

Sorabji (2014), a consciência moral é a faculdade que tem o ser humano de juízos de
valor éticas sobre actos certo e errado, sendo guiados nesta maneira de fazer ou não
fazer-lhes. Essa consciência implica não apenas a avaliação de acções moralmente
certas e erradas, mas também intenções.
Através desses parâmetros morais que a consciência individual possui, outros são
julgados também. A noção de consciência moral inclui certos elementos que são
considerados totalmente unidos; A primeira é a consciência referida aos valores e
princípios morais que um indivíduo mantém.

O segundo refere-se à consciência como uma faculdade através da qual o homem pode
conhecer as verdades morais fundamentais. Essa faculdade é chamada de várias
maneiras, como voz da razão, senso moral e voz de Deus, entre outras.

O terceiro elemento refere-se à capacidade de auto-avaliação. Significa que a


consciência manifesta a avaliação de cada indivíduo de suas próprias acções e desejos.
Isso o conecta a sentimentos como culpa, vergonha, remorso ou arrependimento, se algo
foi feito de errado.

De acordo com Paris, (2008), a expressão “voz da consciência” torna-se significativa


para se compreenderem as principais funções / papéis da consciência moral. Ela é, antes
de mais, uma voz que chama, uma voz que julga, uma voz que coage e uma voz que
sanciona. Neste sentido, a consciência moral desempenha as funções/papéis de ordem:

 Apelativa, a consciência moral chama-nos para indicar que há valores, normas e


deveres a que não podemos renunciar, isto é, orienta as nossas acções;
 Imperativa, obriga-nos a agir de acordo com a hierarquia de valores que
assumimos como nossos;
 Judicativa, julga-nos de acordo com o que fazemos, tendo em conta os
ideais/valores que seleccionamos para orientar a nossa vida;

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 Punitiva, sanciona-nos levando-nos a viver de “consciência pesada”, ou seja, a
natureza dos actos praticados determina o aparecimento de sentimentos
incomodativos de culpa, arrependimento, vergonha, remorso, etc.

2.1. Características, para que serve e exemplos


Valderrama Sandoval, (2011), para conhecer as características da consciência moral, é
necessário colocá-las dentro de cada pensamento filosófico que a tratou, pois, de acordo
com o ponto de vista do qual a análise é realizada, existem certas particularidades.

2.2. Consciência moral como autoconhecimento e juiz


MESSNER (1969), o autoconhecimento pode ser visto como Deus como é o caso dos
cristãos – ou simplesmente um postulado, como Kant, especificando a ideia de uma
autoridade superior que é responsável por sancionar os indivíduos por suas acções.

Também pode ser um filósofo respeitado, como Epicurus argumenta, ou pode ser um
espectador imparcial, como Adam Smith especifica.

O que caracteriza esse tipo de pensamento é que o autoconhecimento está intimamente


relacionado ao papel de julgar, uma vez que a consciência age mais como juiz do que
como observador altruísta.

É por isso que os sentimentos parecem que, em muitos casos, são descritos como
negativos, como culpa, contrição e remorso, como é o caso da tradição católica.

GIUBILINI (2016), existe uma concepção de consciência que se orgulha de seu mérito
moral. Isso pode ser visto nos estóicos latinos, como Séneca, e na tradição protestante
de Lutero. Nisto há uma alegria que surge da consciência da remissão que Deus pode
fazer dos pecados no futuro.

2.3. Consciência moral como conhecimento indirecto da moralidade


De Paulo, na tradição cristã, a consciência interna recebe prioridade. A consciência não
admite a aquisição de conhecimento directo da fonte externa, como é o caso de Deus,
mas é através da consciência que as leis divinas são descobertas dentro de nós. (FUSS,
1964).

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Como a consciência não tem acesso directo a Deus, é errada e falível. É isso que
Thomas Aquinas mantém, que postula a regra da sindresis.

Essa regra, que pode ser declarada como fazer o bem e evitar o mal, é infalível; no
entanto, existem erros na consciência. Isso acontece porque erros podem ser cometidos
quando regras de conduta são derivadas, bem como quando essas regras se aplicam a
uma determinada situação.

Fora da religião, a fonte moral que infunde princípios morais não é Deus, mas a
educação ou a própria cultura.

2.4. Consciência moral como conhecimento directo da moralidade


É Jean-Jacques Rousseau quem argumenta que a boa educação é o que permite a
liberação da consciência da influência corrupta da sociedade. Também garante que é a
educação que fornece os elementos para examinar criticamente e, portanto, é capaz de
substituir as normas recebidas.

Assim, o sentido inato de moralidade aparece na consciência quando é libertado de


preconceitos e erros educacionais. Assim, para Rousseau, a consciência naturalmente
tende a perceber e continuar a ordem correcta da natureza; É por isso que ele afirma que
a razão pode nos enganar, mas a consciência não (Anscombe, 2009).

Tomando a consciência como aquela que permite ao homem acessar princípios morais
directos, ele é visto como intuitivo e afectado pelas emoções. Nesse sentido, David
Hume identificou a consciência como activa com um sentido moral.

2.5. Consciência moral como dever


De acordo com Baliñas (2017), essa posição, a consciência motiva o homem a agir
levando em consideração suas crenças ou princípios morais, de modo que a consciência
gera uma obrigação moral na consciência da pessoa.

Entendida dessa maneira, a consciência tem um carácter subjectivo pelo qual a força
motivacional vem da pessoa e não da penalidade de uma autoridade externa.

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Um representante desse ponto de vista é Immanuel Kant, pois ele concebe a consciência
não apenas internamente, mas como fonte do senso de dever. Isso ocorre porque são
necessários julgamentos internos para motivar-se a agir moralmente.

Para esse filósofo, a consciência é uma das disposições naturais que a mente tem para
que a pessoa seja afectada pelos conceitos de dever.

2.5.1. Para que serve?


Fuss, (1964), a consciência moral é uma parte fundamental da vida de uma pessoa, pois
nos permite entender que tipo de pessoa é. Portanto, a consciência moral tem um ponto
de vista interno e externo que depende dela.

No sentido interno, é a possibilidade de escolher, com base em um código ético, o


caminho ou a acção a seguir. Essa escolha também se baseia em saber que cada acção
tem sua consequência e que, como tal, o ser humano é responsável (SORABJI, 2014).

Essa interioridade também permite avaliar pensamentos, actos, hábitos e modo de vida;
Obviamente, julgamentos de valor aparecem nesta avaliação.

Além disso, essa interioridade tem uma relação directa com o exterior, pois, com base
nesses valores morais, é que o homem agirá, e não apenas isso, mas também julgará as
acções dos outros.

Portanto, a consciência moral é o que permite que os seres humanos percebam o que
vale, o que é valioso na vida, o que é bom ou, pelo menos, percebem o que não vale a
pena ou não fugir.

Exemplos
Quanto à exemplificação da consciência moral, deve-se lembrar que isso tem a ver com
os valores morais de cada indivíduo; Isso implica que, em alguns casos, eles também
podem ser aceitos por toda a sociedade. Por outro lado, em outros casos, eles
representam apenas o valor moral individual ou a escolha.

Julgar como corajoso uma pessoa que se jogou no mar tempestuoso para salvar outra
pessoa que está se afogando.

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 Sinto muito por qualquer palavra ou acção tomada.
 Não grite com quem ofender ou agredir, considerando que ele merece respeito,
mesmo que não o aplique.
 Diga a verdade, mesmo que isso implique que outras pessoas não aceitem bem.
 Pedir desculpas a uma pessoa depois de tê-la ofendido, por ter percebido que
algo foi feito ou dito algo errado.
 -Respeite a propriedade e a propriedade de outras pessoas.
 N Não seja infiel, se isso traz sentimentos de culpa ou arrependimento; ou
simplesmente ser fiel porque, além de ser uma demonstração de amor a alguém,
impede que os fiéis se sintam culpados.
 Não tire sarro ou tire vantagem de pessoas com qualquer deficiência física,
mental ou emocional.

2.6. Delimitação da má consciência frente à consciência moral

Se, de início, parecia estranho postular um sentido para a noção nietzschiana de


consciência moral que não estivesse vinculado à má consciência, agora, supondo que
nossa interpretação até aqui se justifique, parece estranho precisamente o oposto: que a
má consciência possa ter alguma coisa a ver com a consciência moral! No entanto, não
pode haver dúvida quanto a esta conexão, e não apenas devido à proximidade lexical
que, de outro modo, seria esdrúxula. Não obstante, antes de dar atenção aos termos nos
quais a má consciência é directamente exposta, há um breve aforismo que precisamos
considerar a fim de localizar sua delimitação frente à noção mais ampla de consciência
moral:

Medida e meio-termo - De duas coisas muito elevadas: medida e meio-termo, é


melhor não falar nunca. Alguns poucos lhes conhecem as forças e acenos, a
partir dos misteriosos caminhos das experiências e revoluções mais íntimas:
honram nelas algo divinas e têm pudor de levantar a voz. Todos os restantes
quase não escutam quando delas se chega a falar, e acham que se trata de tédio e
mediocridade: talvez com excepção daqueles que um dia entreouviram um ruído
comprometedor proveniente daquele reino, mas o confrontaram tapando os
ouvidos. A lembrança disto então os torna envilecidos e indignados 
(SANTIAGO, s/d).

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Toda esta caracterização evoca para nós aquilo que se descortina no interior do afecto
do comando. Contudo, o mais interessante é que o aforismo prossegue apresentando
duas outras maneiras pelas quais este mesmo fenómeno pode ser interpretado. Estas
duas outras interpretações pertencem àqueles que de alguma maneira desconhecem a
experiência indicada pelos termos medida e meio-termo. O sentido que este
desconhecimento assume corresponde a alguma forma de esquecimento ou distracção
relativamente à memória desta experiência, uma vez que ela é constitutiva de toda
experiência. Trata-se de um desconhecimento casual, inconsciente e involuntário.
Medida e meio-termo soam como tédio e mediocridade.  Tédio sugere uma repetição
monótona.

A tempestade assume então outro modo de ser, a saber, de uma agitação barulhenta
constantemente amortecida em qualquer teor contundente por um ater-se e concentrar-se
no que quer que se encontre a cada vez aberto imediatamente na experiência, a despeito
da força destas coisas rapidamente se esvair.

Este aforismo é a raiz das três figuras ou tipos centrais da Genealogia da Moral: nobre,
escravo (ou “vulgar”, “comum”, etc.) e sacerdote. Estas três figuras correspondem a três
modos de escuta, isto é, modos de engajamento relativamente à consciência moral:
afirmá-la, ignorá-la e negá-la. À afirmação corresponde, como já pudemos depreender,
uma certa relação com a consciência moral cujo processo possibilita o acontecimento da
eclosão do afecto de comando. Ignorar a escuta, por sua vez, pode ser entendido como
uma distracção, cujo teor fica mais claro, por exemplo, na seguinte passagem:

A natureza vulgar se caracteriza pelo fato de nunca perder de vista a sua


vantagem e pelo fato de este pensamento de uma vantagem e finalidade ser até
mais forte que os mais fortes impulsos nela existentes: não permitir que esses
impulsos a desencaminhem para acções despropositadas - eis sua sabedoria e
amor-próprio. Comparada a ela, a natureza superior é insensata: - pois o
indivíduo nobre, magnânimo, que se sacrifica, sucumbe mesmo a seus instintos,
e em seus melhores momentos sua razão faz uma pausa  (SANTIAGO s/d).

O tipo vulgar não tem ouvidos para seus próprios impulsos, mesmo os
mais fortes. Um pensamento o orienta: aquele que prescreve uma
vantagem e finalidade. Vantagem significa: algo prazeroso, confortável,

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inofensivo. Minimizar e se possível erradicar o sofrimento e a frustração;
esta é a finalidade do agir vulgar. Certamente, por detrás deste
pensamento há afectos e impulsos, que tornam os homens “escravos
momentâneos do afecto e da cobiça” (GM/GM II, 3, KSA 5.296).

São os impulsos projectados pelos afectos que se sobrepuseram àquele impulso mais
profundo e misterioso, o único que se vincula, não a algo determinado e já aberto, mas
ao tempestuoso e velado: o instinto de liberdade, a vontade de potência. O impulso
determinado pela configuração visível dos afectos requer a conservação de seus
parâmetros de orientação. Toda a vontade torna-se então dependente da conservação do
que já se abriu anteriormente. Trata-se da desmedida do impulso de conservação.

A desmedida consiste no fato de que a teimosia em ater-se aos impulsos vinculados ao


real já aberto corresponde a um ater-se ao elemento mais fraco, ontologicamente
debitaria do impulso profundo ligado à tempestade e à liberdade. Consequentemente,
tende-se a um contínuo enfraquecimento da capacidade de suportar os fenómenos tal
como são e aparecem, e a um empenho progressivamente doentio em substituir o real
por uma fantasia cristalizada e decrépita, cujas raízes são experiências outrora reais e
pujantes, mas agora caducas. É o que se pode depreender de uma passagem
extraordinariamente compacta e cheia de implicações, não apenas éticas, e ontológicas,
mas também para um método de pensar: “Chamo de mentira não querer ver algo que se
vê,  não querer vê-lo tal como se vê (…). A mentira habitual é aquela com que se mente
a si mesmo; mentir para os outros é, relativamente, uma excepção” (SORABJI, 2012).

No entanto, há uma terceira possibilidade humana, estranha e problemática: “a natureza


de uma aristocracia sacerdotal esclarece por que precisamente aí as antíteses de valores
puderam bem cedo interiorizar-se e tornar-se mais intensas” (VALDERRAMA
SANDOVAL, 2011).

Uma aristocracia sacerdotal: um tipo híbrido entre nobre e vulgar, que ao mesmo tempo
contrapõe nobreza e vulgaridade. O sacerdote é um tipo criador, mas rebelado contra a
própria experiência de criação. Pretende apossar-se daquilo que nela se abriu para assim
apossar-se de suas condições de possibilidade e submetê-las ao interesse da
conservação. O sacerdote torna-se, portanto, um catalisador e propulsor da vulgaridade,
pois cria meios para alimentar a fantasia de que a superação da finitude é uma

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possibilidade humana. À medida que o nobre é testemunha e afirmador da finitude, e
também fonte de imprevisto e instabilidade, o sacerdote o odeia e quer erradicá-lo
enquanto possibilidade humana. Por detrás desta projecção de ódio sobre a figura do
nobre, esconde-se um auto negação, pois o próprio sacerdote conhece a experiência que
abomina.

Neste sentido, “já se percebe com que facilidade o modo de valoração sacerdotal pode
derivar daquele cavalheiresco-aristocrático e depois desenvolver-se em seu oposto”
(VALDERRAMA SANDOVAL, 2011).

Esta força criadora de meios de obstrução e negação da criação é o ressentimento, o


amargor pelo sofrimento e vulnerabilidade outrora intensamente experimentados como
constitutivos de toda experiência a partir da experiência distintiva da nobreza. Assim:

Enquanto toda moral nobre nasce de um triunfante Sim a si mesma, já de


início a moral escrava diz Não a um “fora”, um “outro”, um “não-eu” -
e este Não é seu ato criador. Esta inversão do olhar que estabelece
valores - este necessário dirigir-se para fora, em vez de voltar-se para si -
é algo própria do ressentimento: a moral escrava sempre requer, para
nascer, um mundo oposto e exterior, para poder agir em absoluto - sua
acção é no fundo reacção (VALDERRAMA SANDOVAL, 2011).

Contudo, o outro é uma projecção de si mesmo e exteriorizá-lo é um recurso para


afastar-se dele enquanto si mesmo. O outro é estranho, e portanto tido como ameaçador,
mas estes mesmos atributos estão sempre também em si mesmo, e são eles que se
gostaria de esconjurar. O ato criador do sacerdote, fantasioso e sedutor, é uma imagem
de positividade absoluta, cujo significado subterrâneo não é a afirmação, mas a negação
da negatividade constitutiva de toda positividade. Malgrado a lição da lógica, neste caso
a negação da negação não equivale a uma afirmação, mas a uma potencialização
exponencial da negação. Projectam-se imagens de negatividade absoluta para combater,
com elas, toda e qualquer negatividade. Porém, a negatividade não cessa de emergir por
si mesma, e o testemunho da nobreza não cessa de fazê-la brilhar como natural e
inexorável. Um antigo fragmento de Heráclito pergunta: “Como alguém poderia
manter-se encoberto face ao que nunca se deita?” (Fuss, 1964).

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Má consciência aparece quase como sinónimo de consciência da culpa, isto é, de
determinação da culpa a partir da consciência que se fixa em um pensamento enquanto
prescrição e dever-ser para todo o real.  Observando com mais detalhe e minúcia, é mais
exacto afirmar que a consciência da culpa é o produto e instrumento da má consciência.

Vejo a má consciência como a profunda doença que o homem teve de contrair


sob a pressão da mais radical das mudanças que viveu - a mudança que
sobreveio quando ele se viu definitivamente encerrado no âmbito da sociedade e
da paz. (…) Para as funções mais simples sentiam-se canhestros, nesse novo
mundo não possuíam mais os seus velhos guias, os impulsos reguladores e
inconscientemente certeiros - estavam reduzidos, os infelizes, a pensar, inferir,
calcular [Berechnen], combinar causas e efeitos, reduzidos à sua “consciência”
[Bewusstsein], ao seu órgão mais frágil e falível! (BALIÑAS, 2017).

O âmbito da sociedade já estabelecida e cristalizada é o âmbito natural ao tipo vulgar,


devido à crescente utilidade assumida pela consciência enquanto fixadora dos costumes
que garantem a estabilidade e a conservação. Ambiente, assim, também propício para a
acção do sacerdote. Pois este super valoriza a consciência enquanto fundamento de toda
orientação humana e em detrimento dos impulsos, à medida que sacraliza e dá
profundidade ontológica ao costume - tipicamente, mas não necessariamente, sob a
forma da religião  e fixa então pela primeira vez a moral naquele sentido
conhecidamente atacado por Nietzsche. A má consciência é, portanto, a postura
fundamental de engajamento refractário ao aparecer espontâneo de realidade, que torna
o ressentimento predominante e se projecta em uma consciência da culpa cujo conteúdo
são os pensamentos que formam o conjunto das prescrições da moral vigente enquanto
um dever-ser imposto à própria realidade.

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3. Conclusão

O combate sobre à moral e à má consciência pode agora ser situado no âmbito de uma
ética mais ampla e que conta com elementos não apenas críticos, mas também positivos.
Pois, tal como antecipado na introdução deste ensaio, apresentaram-se argumentos para:
1) diferenciar consciência moral e má consciência e, 2) identificar conexões essenciais
entre consciência moral e vontade de potência. Resta pensar nosso terceiro ponto, a
saber, a ideia de que má consciência e vontade de potência (à qual poderíamos, agora,
associar a consciência moral) pudessem formar uma espécie de dilema ético. Combater
a má consciência promovendo a consciência moral? Em um texto de seu período mais
crítico, Nietzsche afirma explicitamente:

A tarefa dos pensadores contemporâneos não é meramente erodir criticamente os


“valores eternos”. A pressão do “martelo” da crítica tem por principal finalidade forjar
uma nova consciência moral. Isso é decisivo, pois se a crítica permanece apenas no
nível teórico e intelectual, sem tocar a afectividade e a postura humanas, não pode
produzir nada genuinamente transformador. Significa: o ataque à moral enquanto
conjunto de pensamentos dotados de valor prescritivo a ser refutado por outro conjunto
de pensamentos não atinge o seu subterrâneo e força motriz, a saber, a má consciência.
Esta só pode ser superada através de uma transformação da consciência moral. Somente
esta transformação é uma transvaloração, isto é, não tanto ou prioritariamente uma
mudança de conteúdo dos valores, mas de seu modo de ser.

Impõe-se o problema, portanto, de como cultivar esta transvaloração. Bem cedo


Nietzsche já intuíra que a crítica e a transformação ao nível do pensamento não é
suficiente, mas tem um valor preparatório importante:

Ao invés de uma simples escolha entre duas opções predeterminadas, o decisivo para o
problema de uma superação da má consciência é um demorado empenho em pensar
estes estranhos fenómenos, pensar sem qualquer expectativa de resultado ou garantia de
sucesso. Neste esforço de pensar de outro modo, há um esforço de desaprender
(umzulernen). Desaprender, aprendendo a expor-se a possibilidades.

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4. Referências Bibliográficas
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Edição 124, em Filosofia. Cambridge University Press. Original: Instituto Real de
Filosofia -1958-. (pdf). Recuperado de cambridge.org.
Catecismo da Igreja Católica, 1749-1761 João Paulo II, Enc. Veritatis Splendor, 6-VIII-
1993, 71-83

FUSS, Peter (1964). Consciência Ética Revista Internacional de Filosofia Social,


Política e Jurídica. Vol. 74, Num. 2. Recuperado de journals.uchicago.edu.
GIUBILINI, Alberto (2016). Consciência Enciclopédia de Stanford de filosofia.
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MESSNER, Johannes (1969). Ética geral e aplicada: uma ética para o homem de hoje.
BALIÑAS, Carlos (trad). Manuais de Coleta da Biblioteca do Pensamento Atual ”. Vol.
19. Rialp. Madrid Enciclopédia do Novo Mundo (2017). Consciência
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