Você está na página 1de 4

ENTREVISTA

Foto: Divulgação/nbpress
Thoran Rodrigues
Fundador e CEO da BigData Corp

Renata Costa

E m 2011, Thoran Rodrigues tinha


27 anos e uma carreira já con-
solidada como consultor na área de
hoje a computação em nuvem disponi-
biliza a qualquer pessoa e a qualquer
empresa o que antes apenas grandes
panhias brasileiras apenas 12% deles
estão implementando estratégias de
big data em suas operações.
tecnologia. Trabalhava há 10 anos em companhias com servidores à disposi-
uma empresa de software e banco de ção poderiam ter”, explica Rodrigues.
dados e, junto com um colega, decidiu Formado em Engenharia da Computa- Revista da SBCC: O que é big data?
se arriscar e abrir uma startup de pro- ção, Rodrigues também fez mestrado Thoran Rodrigues: O termo big data
dutos de tecnologia. em Informática e MBA na PUC do Rio caiu na moda e as pessoas o têm
Ele e o sócio estudaram então os as- de Janeiro e diversos cursos de exten- usado com muitos sentidos. Origi-
suntos que começavam a se destacar são no MIT (Massachusetts Institute nalmente, o termo se aplicava a um
como tendências na área de TI e de- of Technology), nos Estados Unidos. conjunto de informações que tivessem
cidiram investir em dois deles: cloud Além da própria empresa, ele colabora algumas características específicas ou
computing (armazenamento de dados com diversos sites de internet interna- parte delas: um grande volume e muita
em nuvem) e big data. Assim nasceu cionais em consultas sobre big data e variedade de informações não estru-
a BigData Corp, cuja missão é auxiliar cloud computing. turadas, que mudam e se atualizam
empresas de qualquer área e tamanho A Revista da SBCC conversou com o numa velocidade rápida, oriundas de
a coletar, tratar e organizar um grande especialista para desvendar o que é diversas fontes, com vários formatos.
volume de dados com possível valor, big data e como as empresas no Brasil E, especialmente, para ser big data, é
ou seja, um conjunto de informações podem extrair inteligência e valor de preciso que se possa extrair valor des-
que possa ser considerado big data. suas informações. Segundo pesquisa se conjunto de informações.
“Não existe big data com valor potencial do instituto de desenvolvimento de
a ser extraído se não houver os recur- software SAS realizada com diretores Revista da SBCC: Pode dar um
sos computacionais acessíveis, que de Tecnologia da Informação de com- exemplo?

6
SBCC - Mar/Abr - 2014
Thoran Rodrigues: O exemplo mais do ambiente com esses sensores e, a matizados para processar, automatizar
comum e até batido é a informação partir dessas informações captadas, e extrair valor dessa informação. Ima-
das redes sociais. Isso é big data, um computador dinamizava o fluxo gine informações sendo recolhidas de
porque tem um volume enorme de de ar condicionado. Em um servidor sensores e turbinas de uma hidrelétri-
mensagens, conteúdo que as pesso- que esteja sendo muito solicitado, ca, por exemplo, reportando um status
as postam, o perfil delas, status de por exemplo, o sensor avisa a rede x que requeira uma decisão imediata
relacionamento, imagem, texto, vídeo. e o ar condicionado é otimizado para – não seria o tempo de reação que
Além de ser um volume imenso e va- aquele local, a fim de evitar um supe- uma pessoa teria. Por isso a necessi-
riado, ele é alterado o tempo todo. E raquecimento da máquina. Ou seja, dade de processos automáticos para
o valor dessa informação é que você nesse exemplo, foram desenvolvidos analisar essa informação e tomar de-
pode, por meio dela, conhecer melhor processos automatizados em cima da cisões. Um banco de dados comum
as pessoas e suas preferências. informação obtida e analisada. Isso pode ser analisado por uma pessoa,
aponta que a análise de dados de big que pode fazer a modelagem, receber
Revista da SBCC: Como as empresas data pode dar muitos elementos para informação, fazer inputs, controlar os
podem descobrir sua fonte de big data? entender os processos de trabalho, relatórios e tentar identificar padrões.
Thoran Rodrigues: É preciso olhar como funcionam os ambientes e o que Com o big data não se pode depender
para a informação que tem disponí- se pode economizar de tempo e ener- de pessoas.
vel e identificar essas características: gia, só para citar alguns benefícios.
volume, velocidade, variedade e valor Revista da SBCC: Costuma-se dizer
potencial. Se tiver pelo menos duas Revista da SBCC: E como trabalhar que big data implica em usar o “todo
delas, já tem grande chance de ter aí essas informações? pelo todo” da informação para achar
uma questão relacionada a big data. Thoran Rodrigues: É importante sa- respostas, não mais uma amostragem.
Uma empresa, por exemplo, coloca lientar que, por conta desse volume de É isso mesmo?
sensores individuais em cada um dos informação, velocidade e variedade, Thoran Rodrigues: Sim, esse é o caso
servidores de um data center e nas esses dados não são possíveis de do big data. Todo estatístico sabe, mas
várias salas onde estão as máquinas. serem analisados por uma pessoa. Ou a população em geral tem dificuldade
O pessoal faz um mapa em tempo real seja, são necessários processos auto- para compreender, que quando se fala

7
ENTREVISTA

de olhar para o todo, é preciso ter em então uma análise automática da in- na conta telefônica desse cliente, o
mente que correlação não implica em formação. Processamos e tratamos a que para ele, representa algo na faixa
causalidade. Isso é superimportante, informação a fim de gerar um modelo de milhões de reais. Foi um excelente
porque é um erro crasso tentar achar de dados padronizado por meio da resultado e nem o cliente e nem nós
padrões e fazer correlações erradas. aplicação de algoritmos. A análise nos sabíamos, inicialmente, o que obtería-
Por exemplo: você tem a informação mostrou, entre outras coisas, que era mos dos dados.
de que pessoas com câncer usam sa- feito um número enorme de ligações
pato. Então usar sapato dá câncer? É telefônicas durante a madrugada e de Revista da SBCC: Além de uma pos-
um tipo de conclusão que se pode tirar longuíssima duração. sível melhoria em custos, o que as em-
e que está equivocada, óbvio. É um presas podem ganhar com big data?
padrão que se repete na informação Revista da SBCC: Era um indicativo Thoran Rodrigues: Elas melhoram
sobre as pessoas com câncer, mas é de algum desvio do trabalho. processos e descobrem novas oportu-
um padrão que está acontecendo por Thoran Rodrigues: Sem dúvida. O nidades de negócio, porque às vezes
acidente. A tecnologia não tem esse que estava ocorrendo: as pessoas a análise não é de um conjunto de
olhar de correlações. O computador informações internas, mas externas à
apresenta resultados e é fácil para ele As informações vêm empresa, como as redes sociais, e que
identificar que esse padrão é apenas pode fazer a companhia perceber que
de variadas fontes
um acidente. pode atender alguma necessidade do
e com formatos mercado. Na verdade, o beneficio de-
Revista da SBCC: E como organizar diferentes, e em pende da natureza da informação que
esses dados dentro de uma empresa? grande quantidade. pode ser processada.
Thoran Rodrigues: Não tem jeito, é ne-
É necessário
cessário contratar tecnologia e analistas Revista da SBCC: Atualmente, qual é
que trabalhem com big data. Como eu profissionais o principal desafio para uma empresa
disse, as informações vêm de variadas especializados para trabalhar seu big data?
fontes e com formatos diferentes. Só estruturar, padronizar Thoran Rodrigues: O mais difícil é
gente especializada para conseguir es- os empresários se convencerem da
e tratar esses dados
truturar, padronizar e tratar os dados. obrigatoriedade de se automatizar os
processos. É difícil fazê-los entender
Revista da SBCC: A empresa, então, que não se pode depender de pes-
precisa saber o que procurar, o que soas para tratar o volume imenso de
ela quer encontrar de resposta nesse dentro do call center estavam usando informações implicadas no big data.
monte de informações? o período da madrugada, quando não Acho muito interessante fazer uma
Thoran Rodrigues: Ela não precisa havia supervisor, para ligar para suas analogia com a revolução industrial.
querer saber. Para dar um exemplo famílias no Nordeste e ficar pendura- Na época, foi escandaloso trocar
prático: fizemos um trabalho de análi- das no telefone. Outro achado foram pessoas por máquinas, mas nem por
se das contas telefônicas de um clien- números de telefone que eram disca- isso acabou o emprego. As pessoas
te. Claro que esse era um gasto muito dos mais de duas mil vezes por mês. tiveram de sofisticar o seu trabalho
significativo para a empresa dele, Ou seja, eram números usados para e aprenderam a fazer novas coisas.
porque tinha vários setores, inclusive cometer fraude contra a empresa. A Hoje é a mesma coisa. Estamos co-
call center. Então esse cliente recebia, pessoa ligava para esse número, uma locando máquinas para produzir bens
a cada final de mês, um monte de secretária eletrônica atendia, e era co- de informação. Então as pessoas
conta das operadoras de telefonia. Ele brado o custo de ligação, porém sem estão migrando do trabalho braçal de
imaginava que deveria haver algum efetivação do trabalho. Com essas e análise de banco de dados para uma
valor ali que poderia ser reduzido, mas outras descobertas, foi possível che- função mais nobre que é olhar para os
não sabia o quê, nem como. Fizemos gar a uma economia de cerca de 20% dados e fazer perguntas.

8
SBCC - Mar/Abr - 2014

Você também pode gostar