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RESENHA CRÍTICA

MARTINS, M. R. Uma abordagem histórica sobre conceitos de força nos séculos


XVII e XVIII: compreensão acerca do processo de transposição didática no contexto
acadêmico. 2020. 285 f. Tese (doutorado em Matemática) - Universidade Estadual de
Maringá, 2020, Maringá, PR.

O conceito de força é um dos conceitos mais importantes dos estudos iniciais da


Física, geralmente iniciando-se seu ensino partindo das definições estabelecidas por
Newton. Nesse cenário, a pesquisadora toma como problemática de pesquisa o conceito
de força e a pouca exploração acerca da natureza de seu conceito, diretamente por meio
histórico, podendo haver distorções nas concepções de professores e consequentemente
dos alunos. Sobre o título: Uma abordagem histórica sobre conceitos de força nos
séculos XVII e XVIII: compreensão acerca do processo de transposição didática no
contexto acadêmico. A pesquisadora relata a importância da abordagem histórica para
esse conceito e a escassez de conhecimentos factuais sobre o conceito presentes na
prática docente.

Como questão de pesquisa a ser respondida, é apresentada: como se deu a


construção de conceitos de força nos séculos XVII e XVIII e como estes são
apresentados nos livros didáticos do Ensino Superior e manifestos nas falas de
professores de Física? Assim, para que se pudesse construir respostas, o objetivo da
pesquisa tornou-se: compreender de que modo os conceitos de força dos séculos XVII e
XVIII alcançam o processo de transposição didática e como a histografia se apresenta
no contexto acadêmico. Dividida em 4 capítulos, versam desde o desenvolvimento
histórico de conceito de força nos séc. XVII e XVIII; perpassam pela teoria da
transposição didática Yves Chevallard e os encaminhamentos metodológicos
empregados na análise dos livros didáticos de Física acerca de força e dos pressupostos
teóricos da pesquisa fenomenológica utilizada na análise das entrevistas com
professores de física; findando na análise e interpretação dos resultados dos livros
didáticos e das entrevistas sobre a perspectiva fenomenológica.

Partindo da análise dos livros didáticos comumente utilizados pelos professores


de física, pode-se depreender alguns resultados como: o conceito de força estar
relacionado à ideia de puxar ou empurrar; como sendo a causa da aceleração;
interpretado como sendo uma interação entre corpos; entendida como uma grandeza
vetorial. Por um lado, algumas interpretações e definições apresentadas nos livros
expressam-se como senso comum, pautados em um pensamento aristotélico, com pouco
caráter histórico. Entretanto, por outro lado, algumas delas apresentavam definições
consistente e favoráveis ao que vem a ser esperado pelos pesquisadores como uma
correta definição de força.

Ao iniciar com as entrevistas, cujo objetivo era analisar as concepções dos


professores universitários, a pesquisadora relata a dificuldade de conquistar o aceite de
participantes para sua pesquisa que vieram a ser cinco professores de física de
instituições públicas de ensino superior do estado do Paraná. Mesmo assim, estes
apresentavam receio de serem sujeitos da pesquisa, expressando pouco suas opiniões,
apresentando poucas explicações, fazendo com que a pesquisadora se dispor a buscar
por maiores exposições e explicações. Após análise das falas, constitui-se oito
categorias de análise, tais como a: compreensão do conceito de força; construção do
conceito de força; importância do conceito de força; força como um conceito intuitivo;
o conceito de força nos livros didáticos; a relativização do conceito de força;
compreensão sobre a História da Ciência; ensino do conceito de força.

Como considerações a pesquisadora apresenta que a abordagem do conceito de


força por meio de seu contexto histórico vem se esvaindo, restando apenas argumentos
de algo pronto e acabado em si. Era esperado esse empobrecimento de aspectos
históricos na definição e construção do conceito de força, distantes daqueles
apresentados nos séculos XVII e XVIII, entretendo essa lacuna histórica tem se tornado
preocupante, pois apresenta-se de forma acentuada na prática de docentes universitários,
não havendo uma demonstração de interesse pelo fato de não terem sido formados
frente a essa abordagem. Havendo a necessidade de se resgatar as origens do conceito
de força, de modo a revelar como se deu o processo de construção, imprecisão e
atribuição de significado desse conceito.

O interesse pela abordagem do conceito de força a partir de recursos à História


da Ciência, demostra um interesse da pesquisadora em investigar a didatização do
professor, sua prática de transpor o saber a ensinar para o saber ensinado. Recomenda-
se a pesquisa à todos que queiram investigar o ensino de conceitos de Física e as
práticas docentes, e aos que queiram compreender as potencialidades do ensino de
Física tendo como recurso a História da Ciência.
Fernando F. Pereira
Seminários II – as perspectivas de pesquisa em Ensino de Ciências e a Matemática
Doutorado em Educação para a Ciência e a Matemática – PCM
Universidade Estadual do Paraná - UEM

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