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PODER JUDICIÁRIO

TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO

Registro: 2021.0000408393

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos estes autos de Apelação Cível nº


1007234-43.2020.8.26.0704, da Comarca de São Paulo, em que é apelante CREUZA
HONORINDA DA CONCEIÇÃO, é apelado TELEFONICA BRASIL S.A..

ACORDAM, em sessão permanente e virtual da 23ª Câmara de Direito


Privado do Tribunal de Justiça de São Paulo, proferir a seguinte decisão: Deram
provimento parcial, nos termos que constarão do acórdão. V. U., de
conformidade com o voto do relator, que integra este acórdão.

O julgamento teve a participação dos Desembargadores MARCOS GOZZO


(Presidente sem voto), TAVARES DE ALMEIDA E JOSÉ MARCOS MARRONE.

São Paulo, 28 de maio de 2021.

HÉLIO NOGUEIRA
Relator(a)
Assinatura Eletrônica
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Apelação Cível - Digital


Processo nº 1007234-43.2020 .8.26.0704
Comarca: 3ª Vara Cível - Foro Regional XV - Butantã - São Paulo
Apelante: Creuza Honorinda da Conceição
Apelada: Telefonica Brasil S.A.
Voto nº 21.550

Apelação Cível. Ação Declaratória de Inexigibilidade de


Débito com Pedido de Tutela Antecipada e Indenização por
Danos Morais. Sentença de improcedência dos pedidos.
Inconformismo. Negativação de nome em órgão de proteção
ao crédito. Ré que não demonstrou fato impeditivo,
modificativo ou extintivo do direito da autora com relação à
pretensão declaratória, nos termos do artigo 373, II, do
Código de Processo Civil, sendo de rigor a declaração de
inexistência do débito objeto destes autos. Impossibilidade
de se atribuir ao polo ativo o ônus de provar que não
contratou os serviços da requerida. Prova negativa,
conhecida pela doutrina e jurisprudência como “prova
diabólica”, inadmissível em nosso ordenamento jurídico.
Dano moral. Não ocorrência. Apontamentos preexistentes
ao discutido nestes autos, cujas exclusões foram realizadas
somente após a inclusão do que aqui se discute, não
havendo prova de que mencionados débitos tenham sido
declarados inexigíveis em alguma ação judicial.
Aplicabilidade da Súmula nº 385 do Colendo Superior
Tribunal de Justiça. Sentença parcialmente reformada.
Recurso provido em parte, com readequação do ônus de
sucumbência.

Recurso em sede de Apelação Cível que


objetiva a reforma da respeitável sentença de fls. 568/570, que,
em Ação Declaratória de Inexigibilidade de Débito com Pedido de
Tutela Antecipada e Indenização por Danos Morais, julgou os
pedidos improcedentes, com a especificação de que,
sucumbente, arcará a parte autora com o pagamento das custas,
despesas processuais e honorários advocatícios, estes últimos
fixados em 10% (dez por cento) sobre o valor atribuído à causa,
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nos termos do artigo 85, “caput”, e § 2º, do Código de Processo


Civil, observado, em relação à requerente, a suspensão
decorrente da gratuidade da justiça concedida (art. 98, §3º, do
CPC).
A autora apela (fls. 575/591). Realiza uma
breve síntese da demanda e alega que a negativação de seu
nome em órgão de proteção ao crédito foi indevida.
Salienta que a parte apelada não juntou
aos autos qualquer documento que validasse a inclusão indevida,
ou qualquer documento assinado por ela (apelante), ou que
contasse com sua participação e que fosse hábil a comprovar a
efetiva manifestação de sua vontade na celebração do negócio
jurídico, mas somente meras alegações infundadas.
Afirma que a apelada se limitou a anexar
faturas de consumo em sua contestação, sendo que tais faturas
não possibilitam constatar a regularidade da contratação firmada
entre as partes litigantes, nem que o débito tenha sido gerado por
sua utilização.
Argumenta que a requerida deve ser
condenada a lhe pagar dano moral, que não é aplicável ao caso a
Súmula nº 385 do Colendo Superior Tribunal de Justiça, bem
como que o valor pedido para reparação é justo, tendo em vista
que a jurisprudência o tem fixado em até 20 (vinte) salários-
mínimos.
Aduz que os juros de mora devem incidir
desde o evento danoso, e requer o provimento do recurso, com a
reforma da r. sentença, para julgar procedentes os pedidos

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iniciais.
Em contrarrazões (fls. 595/615), a ré
pleiteia seja negado provimento ao recurso.
Apelação Cível tempestiva, isenta de
preparo (fl. 23) e recebida no seu regular efeito.

É o relatório.

Cuida-se de Ação Declaratória de


Inexigibilidade de Débito com Pedido de Tutela Antecipada e
Indenização por Danos Morais, na qual a autora alegou, em
síntese, que, ao realizar tentativa de compra a prazo junto ao
comércio, teve o seu crédito negado, sob o argumento de
existência de apontamento em seu nome.
Aduziu que realizou pesquisa junto ao
órgão de proteção ao crédito e foi surpreendida com a informação
de anotação negativa da requerida em seu nome, mas que
desconhece o débito que lhe foi imputado.
Vejamos.
Observa-se que durante a instrução do
feito em 1º grau a companhia telefônica juntou as faturas de fls.
53/94, cujo endereço não confere com aquele indicado pela
autora em sua inicial (fl. 1), e os registros de chamadas de fls.
95/510, que, por sua vez, não demonstram a contratação de
serviços entre as partes.
Ademais, a requerida afirmou em sua
contestação de fls. 27/52 que “a Parte Autora habilitou a linha

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telefônica n.º (11) 99765-0087 e o pacote de serviços Vivo Pós


7GB, em 27.06.2018” (fl. 36, “in fine”), mas, para comprovar sua
assertiva, reproduziu apenas algumas “telas sistêmicas”,
conforme se depreende de fls. 37 e seguintes.
Consigna-se, todavia, que referidas “telas”
não têm a propriedade de demonstrar a pretendida contratação,
por serem documentos unilateralmente produzidos.
Sobre o tema, confiram-se os seguintes
julgados deste Egrégio Tribunal de Justiça do Estado de São
Paulo:
“Apelação - Ação declaratória de
inexistência de débito - Alegação de desconhecimento do débito -
Contrato de telefonia - Inserção nos órgãos de proteção ao
crédito - Pedido improcedente, com condenação do autor ao
pagamento de multa de 2% sobre o valor da causa pela prática
de ato atentatório à dignidade da justiça - Pleito de reforma -
Possibilidade - Preliminar - Razões de fato e de direito
expressamente alinhavadas na r. sentença - Nulidade afastada -
Empresa requerida que apenas apresentou telas sistêmicas
unilaterais, que são incapazes para demonstrar a validade do
débito impugnado - Ônus de provar fatos impeditivos,
modificativos e extintivos do direito do autor nos termos do art.
373, II, do Código de Processo Civil de 2015 - Inexigibilidade do
débito declarada (...)”. (Apelação cível nº
1001021-32.2016.8.26.0099, E. 19ª Câmara de Direito Privado,
Rel. Des. Cláudia Grieco Tabosa Pessoa, j. em 08.08.2016).
“Apelação. Ação Declaratória de

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Inexistência de Débito c/c Indenização por Danos Morais. 1. A


relação jurídica entabulada entre as partes é de consumo, nos
termos do artigo 2º e 3º, do Código de Defesa do Consumidor. 2.
Tendo em vista a verossimilhança das alegações do autor e a
sua hipossuficiência, impõe-se a inversão do ônus da prova no
caso concreto, nos termos do artigo 6º, VIII, do CDC. 3.
Demonstrado que a ré não se desincumbiu do ônus que lhe
competia, pois a mera alegação de exercício regular de direito
não é suficiente para conferir exigibilidade à cobrança, mormente
quando inexistente descrição, ainda que mínima, da pertinência
do valor cobrado. Os documentos juntados pela ré às fls. 98/108
tampouco se prestam a comprovar a correção das cobranças,
pois trazem telas sistêmicas unilateralmente confeccionadas, com
apontamentos genéricos sobre o débito, os quais não são hábeis
a comprovar o efetivo uso do serviço (...)”. (Apelação cível nº
3003595-44.2013.8.26.0084, E. 34ª Câmara de Direito Privado,
Rel. Des. Kenarik Boujikian, j. em 17.02.2016).
“Apelação. Ação de indenização por danos
morais. Anotação de dados em cadastro de inadimplentes. Autor
que alega desconhecer o contrato que originou o apontamento.
Réu que apresentou telas sistêmicas de computador como prova
da contratação. Documento unilateralmente produzido, que não
se presta para demonstrar, de forma satisfatória, a licitude do
crédito reclamado. Dano moral reconhecido. Prova.
Desnecessidade. Dano in re ipsa. Precedentes. Verba
indenizatória bem fixada. Sentença mantida. Recurso não
provido”. (Apelação cível nº 1012286-09.2014.8.26.0032, E. 21ª

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Câmara de Direito Privado, Rel. Des. Silveira Paulilo, j. em


09.11.2015).
Além disso, dentre outras deliberações do
juízo “a quo”, intimadas as partes a especificarem as provas que
pretendiam produzir (fls. 561/562), a companhia telefônica se
limitou a dizer que em nada modificava os termos narrados em
sua defesa, bem como que reiterava a contestação apresentada
(fl. 565).
De tal sorte, tem-se que a ré não
demonstrou fato impeditivo, modificativo ou extintivo do direito da
autora com relação à pretensão declaratória, nos termos do artigo
373, II, do Código de Processo Civil, sendo de rigor a declaração
de inexistência do débito objeto destes autos (fls. 21/22).
Pois, na espécie, não há se falar que cabia
à autora o ônus de provar que não contratou os serviços da
requerida, expediente que significaria a produção de uma prova
negativa, conhecida pela doutrina e jurisprudência como “prova
diabólica”, inadmissível em nosso ordenamento jurídico.
Veja-se, a respeito, a jurisprudência deste
Egrégio Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo:
“Ação declaratória de inexistência de
débito - Inclusão do nome do autor nos órgãos de proteção ao
crédito - Inicial que versa sobre fato negativo - Prova que não
pode ser exigida do autor (prova diabólica) - Ônus da prova do
réu quanto à existência do débito negativado (...)”. (Apelação
Cível nº 1028911-98.2015.8.26.0577, 24ª Câmara de Direito
Privado, Rel. Des. Jonize Sacchi de Oliveira, j. 23.06.2016).

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“Dano moral - Inserção do nome da autora


em cadastros de proteção ao crédito - Fato incontroverso - Débito
inexigível - Ré não trouxe qualquer indicio de que os serviços
permaneceram à disposição da autora de forma satisfatória, não
se podendo impor a esta a prova negativa de que não houve a
prestação dos aludidos serviços (prova diabólica) - Dano
caracterizado - Indenização bem fixada - Sentença mantida -
Recurso não provido”. (Apelação Cível nº
1003011-17.2015.8.26.0609, 21ª Câmara de Direito Privado, Rel.
Des. Maia da Rocha, j. 07.06.2016).
No que diz respeito ao pretenso dano
moral, anota-se que o extrato de fls. 511/513, juntado pela
requerida, traz apontamentos preexistentes ao discutido nestes
autos, cujas exclusões foram realizadas somente após a inclusão
do que aqui se discute, não havendo prova de que mencionados
débitos tenham sido declarados inexigíveis em alguma ação
judicial.
Aplica-se ao caso, pois, a Súmula nº 385
do Colendo Superior de Justiça, do seguinte teor, para afastar a
pretensão indenizatória: “Da anotação irregular em cadastro de
proteção ao crédito, não cabe indenização por dano moral,
quando preexistente legítima inscrição, ressalvado o direito ao
cancelamento”.
Assim, reforma-se em parte a r. sentença,
para que os pedidos iniciais sejam parcialmente procedentes,
com a declaração de inexistência do débito objeto destes autos,
devendo ser oficiado ao órgão de proteção ao crédito, em 1º

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grau, para a sua baixa, após o trânsito em julgado deste v.


acórdão.
E observado que as partes ficaram
reciprocamente vencedoras e vencidas, repartem-se entre elas
custas e despesas processuais, nos termos do artigo 86, “caput”,
do Código de Processo Civil, com fixação de verba honorária em
10% do valor atualizado da causa para os patronos de cada uma
delas, a ser pago pelo “ex adverso”, com base no artigo 85, § 2º,
do mesmo Diploma Legal, anotada a justiça gratuita concedida à
autora à fl. 23.
Ante o exposto, por meu voto, dá-se
provimento em parte ao recurso, com readequação do ônus de
sucumbência.

Hélio Nogueira
Relator

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