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mODOÍ

DO MUNDO, A AMÉRICA LATINA


ENTRE AS GEOMETRIAS, A SENSÍVEL

R O B ER T O P O N T U A L

Este livro l¡ga-se intim am ente á exposipao A rte Agora lil / América Latina: Geometría Sensível,
que o JO RNAL DO BRASIL, a empresa Light e o Museu de A rte Moderna do Rio de Janeiro
decidiram realizar entre junho e julho de 1978, na continuidade de um ciclo de mostras que se
vem desdobrando, no museu em causa e sob o mesmo patrocinio, desde 1976.

A primeira das A rte Agora cuidou de levantar um panorama da jovem criapao plástica brasileira, a
partir de obras de 75 artistas surgidos e /o u afirmados no país do final dos anos 60 até aquela
data. Para conservar-lhe memória, preparou-se um catálogo no form ato tablóide, em papel de jo r­
nal, bem mais inform ativo do que interpretativo. A A rte Agora II, em 1977, agrupou no M A M 12
conhecidos artistas do Brasil — pintores, desenhistas, gravadores e escultores de regióes, ge-
rapóes e tendencias m uito distintas, mas todos identificados com o que fo i a idéia-mestra do
evento: urna Visao da Terra, proposta de amostragem e debate envolvendo urna possível definipao
de arte brasileira. Em term os de profundidade e prolongam ento, já se conseguía, entao, ir além da
pura exibipao de obras, amparando-as didaticam ente através de mesas-redondas e do lanpamento
do livro Visao da Terra, com longas análises sobre o trabalho de cada um dos 12 artistas ali re­
presentados.
O alcance internacional da terceira A rte Agora — esta de 1978 — tornou indispensável cercá-la
dos mesmos ou de maiores cuidados didáticos. Disto, o livro presente é o testem unho mais
¡mediato. Ele nao só reflete e, em parte, registra a presenpa das 200 e poucas obras com ponentes
da mostra, com o, sobretudo, procura ampliar, clarificar e aprofundar os seus objetivos e signifi­
cados. Procura dar-lhe urna espinha dorsal, a garantía de permanéncia da idéia básica com o fo co
de conhecimento e discussao.

Tratemos primeiro, portanto, do que vem a ser a mostra A rte Agora III / América Latina: Geo­
metría Sensível. Na sua origem , estao dados gerais e outros mais particulares. Dentro e fora do
nosso continente, cresce a olhos vistos o interesse em torno da arte produzida por artistas da
e/ou na América Latina. Fenómeno aínda nao avaliado a fundo em todas as suas motivapoes e
implicapóes, inclusive as extra-estéticas, a verdade é que especialmente de 1975 para cá se
acumulam as provas de acelerapao da tendencia. Em fins do ano referido, houve o duplo simpósio
sobre arte e literatura atuais na Am érica Latina, prom ovido pela Universidade do Texas, em Aus-
tin. Em 1977, a Bienal de París, sempre pouco propensa a abrir-se para áreas além do eixo Eu-
ropa/EUA, abrigou um conjunto expressivo de obras oriundas de latino-americanos. E 1978 já nos
ofereceu urna segunda Reuniao Interamericana de Diretores de Museus de A rte, na cidade me­
xicana de Oaxaca, antecedendo a Arte Agora III, a I Bienal Ibero-Americana de Pintura do M é­
xico, o I Encontró Ibero-Am ericano de Críticos de A rte e Artistas Plásticos, em Caracas, e a mos-
7
tra inaugural da série latino-americana da Bienal de S io Paulo volt h
Magia. Um leque de eventos suficientemente comprobatório do interesa?
crescente. 8 Para
e que 0 'tema
ai está Rr,f , ¡tos 06
er>voivente

cresceme. .. v¡r provocando as primeiras preocupapóes com as for-


• ^ ¡ c a ñ is t a Parece Jn e ra É que num sistema em que o consumo de mas-
este zelo /at/no-a/w "“ destino que o esper • mercadona a exaltar é seu fundamental
« s que ° e » da a«e dita latino-amancana pode am granea p ,£ ¡
« atua como regra-de ° “ r estado de 9ra<?a. " expediente para abrir e explorar novos mercados
S ,o írlo , o ™ ° ™ í? S ip u '* ;8° mulro a u S o a a m a n te os asforpos de busca da u™ identidad,
M u lta r de urna hábil nnan p assumir cauteio lembrava o critico e ensaista uruguaio
S r á nacessidadtr da ‘ da ^ ^ '^ o c u p a m o s tanto am sabe, se somos ou nlo
nossa, de um c a rá W jW gm Aust.n: Se no Puestgo clar0 que somos latino-americanos. QUe
Emir Rodríguez Mo.nep9sa ’m0s colocando mal a 9 falando em algumas das línguas orientáis?
Tadno-americanos )á esta australiaP° ?das características do latino-americano é perguntar-se
¡T h» de
Somos wiainw ’S oer¡can0.
- a w d Por
f "°ouéf
que. pu0mra
qudeaS„oCs impuseram da tora asea busca de ,den,idade".

o que é um la tino -* c ensível para nortear a terceira edipao da série Arte


América Latina: Geometría sob a form a de mostra e de livro, sempre
A escolha do tema A" L qual ele velo a cor^ rat'* T * * mencionadas. Menos do que um evento
Agora, e a maneira. p e la 9“ atáncias e as cautelas a a w qye e,e tem de modismo, a Arte Agora
levaram em con» as avocando o fenómenod minuciosa n0 |evantamento de dados e no
festivo, grandioso e 'o q ma¡s organlCa, abrangen g fundam entais na problemática da ar-
III quis ser urna alt®rna - envolvem uma das tj 0 ou construtivista, que se tem anotado
confronto de a do «táte /onstrtrt,vo, ou ^ ^ outrQ ¡c¡pam s¡m
t. iatino-amencana^es» na dos que de^a de agu¡ os que tlm obras Sl)a?

nosicáo ou Dovoam as pagina


is,° ' n0 en,an,° ' ° eve 56 na

0 ponto de partida para a definipao de propósitos da A rte Agora III surgiu quando Angel Kalen-
berg diretor do Museu Nacional de Artes Plásticas de M ontevidéu, me acenou, em meados de
1977, com a possibilidade de apresentar no Brasil a retrospectiva do período construtivista (1928-
1944) de Joaquín Torres García, por ele organizada em 1975 para o Museu de Arte Moderna da
Cidade de Paris. A oferta era atraente, por m uitos m otivos — antes de mais nada, pelo quase
total desconhecimento que ainda mantemos, no Brasil, em relapao ao pensamiento e á obra desse
importantíssimo pintor e teórico uruguaio, morto em 1949 aos 75 anos de idade. Trazendo cerca
de 60 pinturas, diversas délas de grandes dimensóes, e urna série de pequeños objetos em ma-
deira incisa e pintada, de Torres García, estaríamos ao menos comepando a corrigir grave lacuna
no nosso panorama plástico contemporáneo. E, também , a propiciar novos elos para o melhor en­
tendimiento da manifesta vocapáo construtiva, aqui e no resto da Am érica Latina.

Aceita a proposta e confirmada a sua viabilidade, pense! desde logo que ela ganharia dinamismo
se enriquecida com peculiaridades do m om ento que estamos vivendo. A visáo da sala especial
latino-americana na Bienal de Paris e da mostra do Projeto Construtivo Brasileiro na Arte -
1950/1962, em Sao Paulo e no Rio, mais ou menos á mesma época do contato inicial com Ka-
lenberg, convenceu-me da oportunidade de colocar, num único recinto, dois núcleos distintos,
mas naturalmente interligados: no primeiro, as obras construtivo-sim bólicas de Torres García, urna
das matrizes fundamentáis do interesse pelo rigor e a disciplina na arte deste continente; no
segundo, um conjunto qualificado da produpao recente de artistas latino-americanos vivos, todos
concentrados na preocupapáo por um trabalho precisamente construido. O objetivo era estabelecer
urna ponte do comepo do século até a atualidade.

haviam°urS| deHineditisrno, umar vezaquer osS^a' f P° nte f01 geom etria senslvel - nem sequer com
minha p a íé ^ f? 6m diferentes circu^stáncias n r é ti^ 96^ ^ 05 Damián Bayón e Aldo Pellegrini já o
pinturas3 despnhnr° pÓ" ° ' a9 °ra' com” arren¡mImS?A ^ UniCa desej ada novidade n0 seu us0' de
cobre os p x riJ ^ °S,_.escu,turas e objetos n lia tador de um complexo de aproximadamente 200
sível tanto a arn1?8 de Um Per¡odo de 50 anos pXecu9 ^°' de Torres García aos jovens de hoje,
° 8 amP,lttJde quanto a precisSo E' também' de conferir á idéia de geometria sen-

Convém esclarecer um pouco 0380 mdÍSPenSáVeÍS'


metria supoe^c^ioiin9 i:mostra- A junpaond^ mdn¡„d o .term o' antes de indicar aqueles outros artistas
bilidade, animacao a'it fnea2a'. determinapao rinnr &emen.tc?s á primeira vista confitantes - gao-
junpao aparentemp'nt8 tem^ncia' ¡"determinara^9 X' ,exerc:¡ci° da razao; senslvel sugere imprevisi-
nte mais compatível: a n?.Q ° ' prf tlca ¡otuitiva — contrapoe-se a urna segund
9 confronta geom etria e programa. Ao dividir ass
ram pos da disposigao construtiva em arte, pretendía eu isolar operacionaimon*
° A i? e do programa, da mtu.gao e do cálculo, da abertura e da ¿lausura Ho ^ ' 05 pólos da
í é pStr¡ta visualidade, de m odo a langar um pouco mais de luz sobre e S 'b t f u r r lp rjSensorialismo e
da hpram discernir no em prego do partido geom étrico: para um lad? brfurca<?ao W * tantos já
• f f f S T r a outro, a program ada. Mas sabendo, p rim e iro ,^ q » e j * ¿ S E l ? ?eometria sen'
com absoluta nitidez e pureza na obra de arte e, segundo nada í S Jamais se Pr°-
Imánente uc de u
um11 cam inho sobrei o.. o u tro . Rareceu-me
. apenas, de im
lao, uo ¡ ea
m iato,
e d qub
i a at n oo q u e *
", j t pm mais a ver conosco, latino-am ericanos, do que a geometría DrooramaHa 96----- oc"~
S í in d a precisamos investigar cautelosam ente, embora n lo seja d i f S T d e d u z í P?r "?otivos
qU Disse certa vez o escultor colom biano Edgar Negret: "Pensó muitn nn Undamen‘
colombiano. Era um hom em angustiado com o o atual. E produziu urna arte completamente S í '
trária ao seu m undo - urna arte de lógica, rigorosa, g eom étrica". fie ra m e n te con-

Se na pintura e nos objetos de Joaquín Torres García ainda se tem como perceber sernos ai
gum residuo de referénc.a ao m undo concreto - af,nal, para ele o caráter simbólico s e g u T p á ^ o
a passo a exigencia de c o n s tru y o - nos trabalhos dos 26 artistas latino-americanos W ¿2
aceitaram o convite para participar da A rte Agora I I, o abandono de qualquer apoio ñas form a!
nrévlas da realidade exterior á obra, se nao é absolutam ente radical em todos eles, constituí a !
menos urna das primeiras e mais firm es constantes a aproxim á-los. É o que nos provam as Din
turas, desenhos, esculturas, objetos e ambientes dos mexicanos Vicente Rojo e Enrique Carbaial
Sebastian; dos venezuelanos Alejandro Otero e Jesús Rafael Soto; dos colombianos Edgar Negret
Omar Rayo, Carlos Rojas e Ana Mercedes Hoyos; do peruano Orlando Condeso; dos uruguaios
Washington Barcala e Nelson Ramos; dos argentinos Marcelo Bonevardi, Mercedes Esteves e Jac-
ques Bedel; e dos brasileiros A lfredo V olpi, Mira Schendel, Am ílcar de Castro, Arcangelo lanelli
Rubem Valentim, Eduardo Sued, A vatar Moraes, A ntonio Dias, Adriano d'Aquino, Paulo Roberto
Leal, Ronaldo do Regó M acedo e W ilson Alves — alguns residindo há mais ou menos tempo fora
de seus países de origem . Para que a escolha nao se processasse a frió, na distáncia, contatei-os
diretamente nao só em viagens pelo Brasil, com o (com a única excepao de Soto, trocando corres­
pondencia) durante circuito que fiz de New York a Buenos Aires, no inicio deste ano. Cada um
dos artistas citados participa da mostra com trabalhos recentes, na maioria dos casos em número
de cinco; quando reproduzidos no livro, a legenda desses trabalhos vem acrescida de um asteris-

É certo que a selegao dos artistas poderia ser outra, e maior ou menor, dependendo de quem a
fizesse. Mas aqueles que agora a compóem (tres dos originalmente convidados nao puderam
aceitar a convocagao) nela se incluem sob a dupla justificativa da qualidade da obra e de sua
mútua compatibilidade, numa mostra que almeja sobretudo tornar orgánica — isto é, ao mesmo
tempo articulada e flexível — a apresentagao de um tema específico.

O livro, enfim , vai além dos lim ites da pura amostragem das obras. Na sua primeira parte, reúne
sete estudos especialmente preparados para ele, cobrindo desde urna visao geral da vocapao cons-
trutiva na arte da América Latina e da presenga pioneira da obra de Joaquín Torres García, neste
sentido, até o levantam ento do ponto de partida geométrico (e, aquí, nao apenas o sensíveD na
criagao plástica do Brasil, do M éxico, da Venezuela, da Colombia e da Argentina de hoje. Pelos
textos em causa, responsabllizaram-se os críticos Frederico Moráis (1936), autor, entre outros, do
livro Artes Plásticas / A Crise da Hora A tu a l (Rio, 1975); Angel Kalenberg (1936), diretor do
Museu Nacional de Artes Plásticas de M ontevidéu; Jorge Alberto Manrique (1936), diretor do Ins­
tituto de Investigagoes Estéticas da Universidade Nacional Autónom a do México; Marta Traba
(1930), argentina hoje em Caracas, de quem tivemos langada há pouco no Brasil a edigao em por­
tugués de seu Dos Décadas Vulnerables en las A rtes Plásticas Latinoamericanas (México, 1973);
Eduardo Serrano (1939), curador do Museu de A rte Moderna de Bogotá e de quem o último livro
editado foi Un Lustro Visual (Bogotá, 1976), de ensaios sobre a arte contemporánea colombiana; e
Damián Bayón (1915), outro argentino que deixou o seu país e reside atualmente em París, autor
de vários livros, entre os quais A ventura Plástica de Hispanoamérica (México, 1974). Coube a
mim elaborar o estudo a respeito da disposigao construtiva ou construtivista na arte brasileira,
desde o inicio do século.
A parte final do livro compoe-se, de material inform ativo, em texto e imagem, sobre os artistas
que aceitaram incluir-se na mostra A rte Agora III / América Latina: Geometría Sensível. A eles
pediu-se um depoimento inédito em torno do sentido que observam no desenvolvimento de seu
trabalho; quando disto nao se pode dispor (o que ocorreu em menos de um terpo dos casos),
foram utilizados textos anteriores, dos próprios artistas ou daquelesque melhor os focalizaram.

Para a edigao do presente volume fo i de fundam ental im portáncia a adesáo do colecionador Gil
berto Chateaubriand, que a ele se dispós a acrescentar sua cháncela editorial. Lembre-se ainaa,
para concluir, p colaboragao prazerosamente dada ao projeto da mostra e do livro P °r °
vasta lista de pessoas e entidades sem as quais o corpo de idéias e de obras que agora g
ao público nao teria ido além da capacidade de imaginar e da vontade de realizar.
9
Dos frutos colhidos comeráo os povoadores
que hao de vir. Teráo assim natureza igual á da
sua comida. Nunca teráo outra Morreráo no
día em que cheguem a té-la distinta.

Do Popol Vuh, o livro de lendas dos maias.

Tupy, o r not tupy, that is the question.

OSWALD DE ANDRADE, Manifestó


Antropófago, 1928.

Possa um dia a térra americana ser digna do


múltiplo monumento que nos transmitiram os
povos desaparecidos

PABLO NERUDA, 1972


A VOCACÁO CONSTRUTIVA
DA ARTE LATINO-AMERICANA
(MAS O CAOS PERMANECE)

FREDERICO MORAIS

0 exame das manifestagóes construtivas na arte é importante notar as afinidades entre a produgáo
latino-americana deve ser feito, simultáneamente, neoconcretista brasileira e as diferentes manifes-
á luz de diferentes enfoques. Existem razóes his­ tagóes construtivas russas.
tóricas, socioculturais, psicológicas e até mesmo
políticas e económicas. Como nagóes dependen­ Os bichos de Lygia Clark (1920), as estruturas-cor
tes, de desenvolvimento subsidiário e ancilar, im­ de Hélio Oiticica (1937), certas obras de Aluísio
portamos, em épocas diferentes, teorjas de arte Carváo (1918) e a pintura de Décio Vieira (1922),
construtiva. Em nosso continente, sao as cha­ tém muito que ver com os contra-relevos óelaXWn,
madas sociedades abertas, de desenvolvimento com os quadros suprematistas de Malevitch —
exógeno, as que manifestaram maior interesse pela aliás, homenageado por Oiticica com um dos seus
arte construtiva européia. Países onde é menor a bólidos. Por sua vez, Gyuia Kosice e Rod Rothfuss,
presenga da cultura pré-colombiana ou mesmo do do grupo Madí, na Argentina, ao negarem a mol­
barroco. Porém, se até pouco tempo a arte cons­ dura e, conseqüentemente, o espago represen­
trutiva estava restrita a Buenos Aires, Montevidéu, tativo, também se aproximaram de Tatlin e Rod-
Caracas e a Rio/Sao Paulo, hoje o geometrismo é chenko, que Dora Vallier e Míchel Seuphorapon-
urna das tendéncias dominantes no México e na tam como os pioneiros dos móbiles e das escul­
Colombia. turas sem pedestal.
Entretanto, creio ser possível caracterizar nossa
vontade construtiva como algo mais profundo e Contudo, alguns artistas, como o brasileiro Sérgio
anterior á própria existencia do construtivismo em de Camargo (1930) e o argentino Leopoldo Torres-
alguns países europeus. O fato de que nao tí- Agüero (1924), já assinalaram possíveis afinidades
nhamos um espago próprio, codificado, onde nos entre nossa concepggo de espago e a dos artistas
mover e agir — ou melhor, urna cultura definida, orientáis. O primeiro fala do espago árabe, que
como a européia — nos levou a assimilar, antes repercutiría no Brasil via península ibérica; o se­
mesmo da Franga, por exemplo, o purismo de Le gundo, do espago extremo-oriental, chegando á
t-orbusier e Ozenfant, a didática da Bauhaus, o América Latina pelo Pacífico e disseminando-se a
construtivism0 e o suprematismo russos, o con- partir da Cordilheira dos Andes. A receptividade
tlsmo de Max Bill. Em urna sociedade como a que Le Corbusier encontrou quando aquí esteve,
a, onde tudo está por fazer, por construir, a ar- em 1929, da parte de nossos melhores arquitetos, é
_' e9rar)d° um esforgo de definigao de um reveladora desta disposigáo ou vontade para a or-
ti(J ri° nacioHale/o u continental, adquire o sen- dem. É dele, como se sabe, o risco original do
rnnct 6 ~r9an'za$a° do real, de transformagao e edificio do Ministério da Educagáo e Cultura, no
rugao de urna nova sociedade. Neste sentido, Rio de Janeiro, cuja construgáo data de 1939 —
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aínda hoje urna das obras mestras de nossa ar-
quítetura. Le Corbusier marcaría profundamente a
obra de Oscar Niemeyer (1907), Lúcro Costa (1902)
e outros arquítetos nossos. Pouco antes, aliás,
chegara a Sao Paulo, e aquí permanecería, Gregorí
W archavchík (1896-1972), trazendo para o Brasil o
espirito funcíonalista dos anos 20.

Se aceitamos a existéncia desta vontade cons-


trutíva latino-americana, podemos avangar um
pouco mais e levantar hipóteses em torno de urna
possível influencia nossa sobre a arte européia e
norte-americana. Com efeito, nao podemos fe­
char os olhos á nossa presenga na Europa e Es­
tados Unidos. O exemplo mais mencionado é o do
cinetismo da Escola de Paris, cujos polos prin­
cipáis sao o ótico, com Vasarely, e o cibernético,
com Schoffer. Apesar do prestigio enorme desses
dois artistas e da influencia por eles exercida, o
cinetismo francés foi dominado, por dentro, pelos
latino-americanos: os argentinos (Le Pare, So­
brino, Garcia-Rossi, Demarco, Marta Boto, etc.),
os venezuelanos (Soto, Cruz-Diez, Debourg),
sendo ainda assinalável a presenga de Sergio de
Camargo. Poderíamos falar do espacialismo de
Lucio Fontana (1899-1968), repercurtindo em
Milao, Itália, a partir de 1948; das antecipagoes
minimalistas de Amílcar de Castro (1920), Franz
Weissmann, Eduardo Ramírez Villamizar (1923) e
Mathias Goeritz (como reconhece o crítico e his­
toriador Gregory Battcock, a propósito de suas
Torres da Cidade Satélite, no México), cinéticas
de Abraham Palatnik (1928), anotadas por Frank
Popper, ou plurisensoriais, de Lygia Clark e Oiti-
cica (estudados por Guy Brett e Udo Kulterman),
bem como Kosice (cuja obra jé mereceu exten­
sas análises de Pierre Restany e Michel Ragon),
que antecipa com suas molduras recortadas as
shaped canvas de Frank Stella. E também po­
deríamos mencionar Tomás Maldonado, á frente
da Escola Superior da Forma, criada por Max Bill,
em Ulm, em 1950; e, principalmente, o uruguaio
Joaquín Torres García, cuja atuagao tricontinental
(Europa, Estados Unidos e América Latina) teve
repercussao profunda.

Barbara Duncan e sua assistente Susan Bradford


prepararam para o catálogo da exposigáo de
Torres García no Museu de Arte da Universidade
do Texas, em Austin, em 1974, o mais completo
levantamento sobre a obra/vida do artista. A
leitura_ da cronología de Torres García e de sua
atuagao internacional nao deixa margem a qual-
quer dúvida sobre a extraordinária repercussao de
suas idéias. Poder-se-ia objetar, com um certo
chauvinismo, que a obra da brasileira Tarsila do
Amaral, sobretudo aquela realizada entre 1923 e
1933, especialmente a fase Pau-Brasil, é mais
coesa, uniforme e plásticamente mais fascinante
do que a do artista uruguaio. Mas, ainda assim, é
¡negável que a influencia do form ulador do con­
certó de universalismo construtivo foi bem maior,
podendo ser assinalada mesmo na obra de alguns
FRANZ WEISSMANN / escultura metálica / 1975 artistas brasileiros.
torre da empresa Sepia (Belo Horizonte)
' ENRIQUE CARBAJAL SEBASTIAN Em New York, por exemplo, onde esteve de 1920
Diptasa / metal / 60x60x60cm / 1977
a 1922, JTG fez amizade com Joseph Stella, Max
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AMiLCAR DE CASTRO / Escultura / chapa de ferro / 71cm alt. / 1967
col. Museu Nacional de Belas Artes (Rio)

Weber, Marcel Duchamp e também com Ka- ta Sidney Jannis, quando expós a obra do artista
therine Dreier, a qual logo comepou a comprar uruguaio, visitou ¡numeras vezes sua galería, an-
obras suas para a Sociedade Anónima que fu n ­ tecipando-se na explicapao do significado de sua
dara com o criador dos ready-mades naquele mes- obra aos visitantes), Adolf Gotlieb, Mark Rothko e
mo ano. Na Europa, foi amigo de Friedrich Vor- Louise Nevelson.
demberg-Gildewart, Michel Seuphor e Piet Mon-
drian. Decidido a reunir os artistas abstratos, Torres García regressou a Montevidéu em 1934,
apesar da diversidade de estilos, TG conseguiu in- depois de 43 anos de ausencia. Nesse mesmo ano
teressar no seu projeto o crítico Seuphor, que fundou ali a Associación de Arte Construtivo, com
reuniu em sua casa, entre outros importantes ar­ a intenpao de divulgar suas idéias por toda
tistas europeus, além dos citados, Jean e Sophie América Latina. Entre 1936, ano em que visitou
Taeuber-Arp, Russolo, Vantongerloo e Herbin. Buenos Aires pela primeira vez, e 1943, publicou a
Com eles, fundaría o grupo Cerde et Carré, em revista Círculo e Quadrado, na qual divulgou tex­
1930, e seria a sua forpa motriz. Até o nome do tos de sua autoría e de construtivistas europeus.
grupo, diz Susan Bradford, sugere a influencia de
Dois anos depois de seu retorno, terminou o
Torres García. O próprio Seuphor, co-fundador do
M onum ento Cósmico, implantado no Parque
grupo, de acordo com os principios de TG, viu no
Rodó, em Montevidéu e, em 1944 publicou, na
círculo e no quadrado emblemas da totalidade das
coisas. O mundo racional e o mundo sensorial, a Argentina, sua obra síntese, Universalismo Cons­
térra e o céu, a geometría de linhas retas e a trutivo. De Montevidéu escreveu para a revista
geometría de linhas curvas, o homem e a mulher, A rturo (1944), de onde saíram as idéias geradoras
Mondrian e Arp. Como desdobramento do Cerde dos grupos Arte Concreto-Invención (1945) e
et Carré, surgida, um ano depois, outro grupo, o Madí (1946), ativos em Buenos Aires. A pintora
Abstraction-Création, tendo á frente Herbin, Van­ portuguesa María Helena Vieira da Silva, que
tongerloo e Beothy. Bradford, Werner Haftmann sempre esteve ligada á Escola de Paris, enquanto
e Jacqueline Barnitz reconhecem a influéncia de residiu no Brasil manteve contatos permanentes
Torres García sobre Barnett Newmann (este, con- com Torres García e com o grupo da revista Ar-

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EDUARDO RAMIREZ VILLAMIZAR
Construyo como Nave Espacia/ / metal pintado / 1976

turo. E ela, que desde 1930 compartilhava das própria pintura, o argentino Torres-Agüero fala de
¡déias de TG, aínda que nao as manifestasse em um geometría caliente, Tomasello de urna "c o r
sua pintura, servíu como urna espécie de ponte, mais viva e sensual" em seus relevos, enquanto
pela qual passavam ao Brasil as idéias construtivas Villamizar observa que "dentro de nossa exu­
do artista uruguaio. O prestigio de Torres García berancia, meu geometrismo parece frió, árido, eu
no Brasil cresceu sobretudo a partir da Bienal de sei, mas perto de outras geometrías que vao até
Sao Paulo, em 1959, da qual obras suas partici- ao extremo, o meu é quase lírico. Estou próximo
param. Theon Spanudis, crítico e poeta neocon- do romantismo". No cinetismo de Soto emerge
creto, no número de se t./ou t. de 1959 da revista como qualidade principal um lirismo próximo dos
paulista de arte Habitat, analisa A Significapao ritmos naturais; Volpi envolve sua geometría em
Americana e Mundial de Torres García, reco- ritmos aquáticos e aéreos, fazendo a cor navegar
nhecendo sua influencia sobre vários artistas em pinceladas vibráteis sobre a tela; o cinetismo
brasileiros. Ali, Spanudis diz ser ele “ a primeira de Le Pare e seu grupo desdobra-se em happenings
voz original e ¡ndependente das Américas a incor­ de participaqáo pública; e o neoconcretismo de
porar em sua arte as antigas idéias plásticas das Lygia Clark e Oiticica antecipa o plurisensorialis-
civilizaqoes deste continente". Vários artistas mo que depois seria moeda corrente na body-arte
latino-americanos, em depoimentos talados ou na arte povera. A crítica latino-americana (Angel
escritos, confirmam terem sido influenciados Kalenberg, Severo Sarduy, Mário Pedrosa, Jorge
pelas idéias de Torres García: Rubem Valentim Alberto Manrique, Juan Acha, entre outros) é
(Brasil), Eduardo Ramirez Villamizar (Colombia), unánime em constatar o caráter orgánico de nossa
Carlos Mérida (México), Fernando de Szyszlo arte construtiva. Urna geometría que vai além da
(Perú), Roberto Ossaye (Guatemala), entre ou- geometría - "minha arte nao é rigorosa, é feita
tros. com rigor", diz Torres-Agüero. Em um dos vários
ensaios que compóem o livro El Geometrismo
Porém, é importante assinalar, a presenta latino­ Mexicano (Universidade Nacional Autónoma do
americana na arte internacional tem um sentido México, 1977), Juan Acha diz que "n o cinetismo
Riáis vitalista e orgánico. Referindo-se á sua de todos estes latino-americanos aflora também
17
um lirismo que cabe figurar como t- ■
nosso, já que o registramos em m u i m ^ t e
latino-americanos, é um lirismo estra u arti$tas
jetividade norte-americana, ainda que ai- oh
sibilidade francesa ou italiana", enquant1á SC
rique, no mesmo livro, nota a inexistñ -
México de um geom etrism o puro: o a u a 9 no
ali, é "um geometrismo orgánico, com . existe-
ponente inevitável de vitalidade". Se no B •0rT''
neoconcretos foram buscar em Susanne LaS'' °s
nogao de organism o vivo, reintroduzindiT96^
pressao pessoal e subjetiva como valor e 3 ex‘
dade, contra a ortodoxia concretista um Gi 9Uali‘
Gerzso (México) e um Marcelo Bonévardi (a er
tino residente nos Estados Unidos) estabelp98n'
urna ponte aparentemente inviável entre6CerT1
metria e surrealismo. Seo-

Mas tom em os a questao pelo lado racional n


entender de Juan Acha, no ensaio citado o
geometrismo (eu preferiría dizer, a arte cons
trutiva) latino-americana é urna m anifestado tar­
día, mas desejada, das forgas racionáis. Em urna
comunicagao que fiz ao Seminário sobre Política e
Processos de Am ostragem de Arte, promovido
pelo XI Salao de A rte Contemporánea de Cam­
piñas, em novembro de 1977, procurei mostrar
como as grandes exposigoes intemacionais do
tip o Documenta de Kassel, bienais de Veneza e
París, exercem urna form a de colonizagao sobre a
JOAQ UIN TORRES GARCIA arte mundial, como que determinando, juntamente
ComposÍQao Construtiva com as m u ltin a cio n a l do mercado, o tipo de arte
óleo sobre madeira / 58x41cm / 1932 a ser realizado por países e continentes. De acordo
col Familia Torres García (Montevidéu) com esta divisáo de tarefas, por exemplo, a
América Latina deve persistir na prática de urna
arte figurativa, emocional, fantástica, mágica,
ficando as tendencias analíticas e abstratas para
os anglo-saxoes. E se, no plano teórico, Marta
Traba insiste no "to m predominantemente
m ítico da sociedade latino-americana" a Bienal de
Sao Paulo, como sempre funcionando a reboque
das demais bienais intemacionais, estimula o
comportamiento acima mencionado. A próxima
edigao da Bienal paulista, a primeira inteiramente
dedicada ao exame da arte produzida no nosso
continente, terá como tema Mitos e Magia. Poris-
so tudo, Acha entende que "o geometrismo im­
plica, na América Latina, um saudável corretivo de
toda urna tradigáo individualista e emocionalista
da arte e da cultura".

Este saudável corretivo foi estimulado, de inicio,


por alguns estrangeiros, que por aqui passaram,
ficaram e/ou até assumiram novas cidadanias. E,
nao por pura coincidencia, ocuparam justamente
os países onde a arte construtiva desempenha
papel destacado. Em suas entrevistas, conferen­
cias, cursos, artigos, projetos ou obras, deixaram
marcas profundas, seja pelo tom polémico, im­
pondo revisóes, réplicas e autocríticas dos locáis,
seja pela transferencia de experiencias, estimulan­
do a criatividade e fazendo surgir novos talentos
ou tendencias. Mesmo internamente, o deslo-
camento de alguns artistas e críticos latino­
americanos entre as capitais do Continente teve o
mesmo efeito. Por exemplo, os argentinos Tomás

18
SERGIO DE CAMARGO / Relevo 351 i madeira pintada / 50x50x3cm /1971
col. Gilberto Chateaubriand (Rio)

Maldonado e Jorge Romero Brest. O primeiro é se reunir em torno do Grupo Ruptura, em Sao
autor do projeto original da Escola Superior de Paulo (1952), base do concretismo paulista, e do
Desenho Industrial, prevista inicialmente para fun­ Grupo Frente (1953), base do neoconcretismo
cionar no Museu de Arte Moderna do Rio, mas, carioca. Da repercussao das viagens de Brest por
afinal, inaugurada como entidade autónoma, em diversos países latino-americanos dá conta Fer­
1962. E o segundo, que fundara com Emilio nando de Szyszlo (1927) no depoimento que pres-
Petorutti e Lucio Fontana, a Academia Altamira, tou ao crítico peruano Mirko Lauer (Indagación y
em Buenos Aires, durante algum tempo frequen- Collage, Mosca Azul, 1975): "Este nao convenceu
tada por Sérgio de Camargo, e que criou a revista tanto os pintores (creio que neste sentido era
Ver y Estimar, aqui realizou conferencias em 1948 alimento demasiado sofisticado para a juventude
e 1953. Sua passagem pelo Brasil, em 1948, antes artística), mas convenceu o crítico Juan Acha,
da exposipao de Max Bill e da inaugurapao da que, desde entao, retomou a atitude romeriana de
Bienal de Sao Paulo, em 1951, e em seguida, por crítico criador, fomentando através de sua colu-
ocasiáo da mostra dos concretos argentinos, no na em Eí Comércio um grupo de artistas".
Museu de Arte Moderna do Rio, em 1953 — mos­
tra que ele apresentou — foi sem dúvida esti­ Já mencionei a influencia de Torres García no
mulante para os artistas que, pouco depois, iriam continente e poderia falar da presenpa de

20
Grete Stern, fotógrafa da Bauhaus, em Buenos
Aires, em cuja residencia foi realizada a primeira
mostra Madí. No Brasil, além de Le Corbusier,
tivemos a visita, em 1950, de Max Bill, que rea-
lizou exposipáo individual no Museu de Arte de
Sao Paulo. Um ano depois era premiado na I
Bienal de Sao Paulo com sua famosa escultura
Unidade Tripartida. A obra de Bill provocou gran­
de impacto em alguns artistas brasileiros, que
depois percorreriam os caminhos construtivos,
dentro e fora do país. Mencionada Franz Weiss-
mann (1914) Mary Vieira (1927) — que se mu­
daría para a Suípa, ali unindo-se a Bill, no Grupo
Alianza - e Almir Mavignier (1925), como Mary
até hoje vivendo na Europa, em Hamburgo, na
Alemanha, depois de ter ensinado em Ulm.

Em sua segunda viagem ao Brasil, em 1953, Max


Bill fez urna conferencia no MAM carioca sobre o
tema O Arquiteto, a Arquitetura e a Sociedade,
que repetiría na Faculdade de Arquitetura e Ur­
banismo, em Sao Paulo. Na ocasiáo, em entrevis­
tas, fez severas críticas (e quase sempre injustas,
reconhepa-se) á arquitetura brasileira. A res­
posta veio com Lúcio Costa, que em entrevista á
revista Mánchete (4.6.53) se diz envergonhado de
abordar pormenores para rejeitar urna crítica
viciosa e carregada de velhos recalques pueris
contra os principios de Le Corbusier. O edificio do
Ministerio, malgrado o desamor com que é tratado
pelo crítico e pelos encarregados da sua conser-
vapáo, há de ser sempre considerado pela opiniao
profissional isenta, um dos marcos fundamentáis
da arquitetura contemporánea. O Brasil, de raiz
barroca, estava impregnado do racionalismo de Le
Corbusier, daí a énfase com que Lúcio Costa
defendeu estas duas vertentes de nossa arqui­
tetura das críticas de Bill.

Também no final dos anos 40, apareceu em


Popayan, Colombia, térra natal de Edgar Negret
(1920), o escultor construtivo basco Jorge Oteiza.
Vinha viajando desde Buenos Aires em missáo
oficial e sua estada na Colombia estava relacio­
nada aos programas governamentais de cerámica.
Porém, homem culto, esteta e pensador, além de
escultor, Oteiza fez conferencias, publicou artigos
na imprensa sobre arte pré-hispánica, sobre arte e
sobre o meio cultural da Colombia e América
Latina em geral, atraindo a atengao dos artistas
colombianos. Oteiza foi quem mais estimulou
Negret, no inicio de sua carreira. Este mais tarde
visitaría Oteiza na Espanha. Apresentando o es­
cultor colombiano em mostra no Museu de Betas A L M IR M A V IG N IE R / Para a Frente, p ara A trá s
óle o sobre tela / 100x70cm / 1967
Artes, em Caracas, Oteiza define a arte como
"fabricapao do silencio", como "poética da JE S Ú S R A FA E L SOTO / Vibraqóes M e tá lic a s
ausencia". No Brasil, contudo, a escultura de a lu m in io ano d izad o e lateo / 27x30x12cm / 1969
Oteiza, vista na Bienal de Sao Paulo, quase nao foi m ú ltip lo É ditio n s D enise René (Paris)
percebida por artistas e críticos.

Quase á mesma época chegava ao México Ma-


thias Goeritz (1915), exercendo, também, ¡me­
diata influencia através dos ateliés de educapáo
visual, desenho básico e desenho industrial, or­
ganizados em distintos centros universitários. A
obra mais importante de Goeritz, realizada em
parceria com o arquiteto Luiz Barragán, é o con-
21
junto de cinco torres da Cidade Satén*
mexicana, datado de 1957/58 - " !? da. cap¡tai
sionante espetáculo policrómico" nn^JrT1pres
Xavier Moyssen, Foi também Goéritz dlZer de
sável pelos convites feitos a diversos e resp°n-
construtivos de diferentes países para r a r lt0re»
projetos escultóricos para a Cidade Univer^A3^
época das Olimpíadas de 1968, e que aindah ■ ' á
encontram ali. A influencia de Goeritz nao °l6se
de crescer no México, grapas á evidenci*853
geometrismo, sobretudo no tocante aos j0v d°
com os quais frequentemente se associa corrin08'
do grupos. POn'

Nascido em Londres, em 1900, formado em par¡


Carlos Raúl Villanueva só regressaria a Caracas em
1929. Era, portanto, á semelhanga de Torres Gar­
cía, um estrangeiro. Nos anos 50, Villanueva
desempenhou importante papel aglutinador das
artes plásticas, ao procurar integrar no seu projeto
da Universidade de Caracas (1952/57) a obra de
varios artistas de tendencia construtiva: Calder
Arp, Léger, Alejandro Otero, etc.

Sempre existiu, em todos os países e continentes,


em todas as épocas, a polaridade crise/cons-
trugao ( = barroco/renascim ento, romantis-
mo/neoclássico, expressionismo/cubismo, pop.
art/op-art, etc.). As razoes dessa polaridade,
da maior importancia de um ou outro polo, variam
de contexto a contexto, de época para época. Por
outro lado, a medida que se deslocam no espago e
no tempo, as tendencias vao perdendo ou ga-
nhando novos significados.

A primeira vista, a arte co n stru tiva adquire sig-


nificagao apenas nos países de econom ía avan-
pada ou desenvolvida, de m aior estabilidade social
e política: Alem anha, Suíga, Holanda. Nesses
países, a arte construtiva dá énfase sobretudo aos
aspectos form áis, ao em prego de m ateríais in­
dustriáis, á qualidade de execugao, etc. Entretan­
to, as primeiras manifestapóes co n stru tiva s eu-
ropéias ocorreram na URSS quando ali aínda se
vivía a euforia da revolugao de 1917, co in cid in d o,
portanto, com as profundas modif¡capóes sociais
e políticas. Os principáis construtivistas aderiram
francam ente á nova situagao, alguns deixando,
inclusive, o campo puram ente especulativo para
levar á praxis social as idéias construtivas. Tra-
tava-se, afinal, de construir urna nova realidade,
física e ideológica. Com a tom ada do poder pelos
burócratas, o construtivism o russo fo i com o que
congelado, apesar de florescer na Bauhaus, via
Lissitsky, ou nos Estados U nidos, via Pevsner/
Gabo. Vale dizer, floresceu no exterior o cons­
trutivism o mais form alista, mais acessível ou mais
LEOPOLDO TORRES AGÜERO / Pintura
tinta acrílica sobre tela / 120x80cm / 1970
viável em term os de m ercado. O construtivism o
revelador da verdadeira alm a russa (M alevitch) ou
JU LIO LE PARC / Tramas Alternadas ideológico (Tatlin, Rodchenko) fo i m elhor com-
metal laqueado e polido, e serigrafia
30x30x30cm / 1968 preendido na Am érica Latina. O que pode ser ex­
m últiplo Editions Denise René (París) plicado p or urna coincidencia de propósitos. Ao
nivel puram ente especulativo, no campo restrito
da Historia da A rte , tratava-se de, com o dizia Lis­
sitsky, “ decretar o fim do quadro com o represen-
ta g a o ", para, "d a térra fertilizada pelos cadáveres
do quadro e seus autores” , edificar um novo es-
22
papo, urna nova arte, urna nova r ,
com o diriam os cinéticos russn* ^ alldade „
liderados por Lev Nusberg f UnH?0s anos ra
novo = cinetista. E se em urna m S 0 horneé
Bauhaus, pedia-se a morte da arte i esta?a° rS
Tatlin, o m anifestó construtivista de A T ' " 0'116 de
proclam ava o fim da atividade esDer i (1920)
trabalho artístico, propondo-se em tro S ?AVa do
urna "a rte edificapao da vid a ". a 1Aratov)

M uitos viram no Branco Sobre Branco


levitch, urna postura negativista da arte' N ^ a"
dade, esta chegada ao zero, ao nada nao Ver'
ser encarada com o um niilismo á ocidental °0Pode
negativismo, o vazio ou absurdo existencia ! ^ 0
Esta negapao em extrem o da cor e da forma '
pintura suprematista acabou por revelar u na
presenpa maior, a do próprio espapo como cok!
significante. " A ausencia do objeto torna-se as9
sim, pura presenpa da abstrapao", diz Dora
Vallier, que ve em M alevitch urna terceirafonteda
arte abstrata (ao lado do espiritualismo fim-de-
século de Kandinsky e da teosofía de Mondrian)
"este fenóm eno típicamente russo que foi o nulís­
imo". Para Nicholas Berdiaeff^o niilismo primitivo
russo, entendido como negapao radical do mundo
tal qual ele é, é essencialmente, urna "pesquisa da
verdade". O que se deseja é o fim do mundo mau,
sua destruipao e o advento de um mundo novo!
"Q ue o niilismo preparou o terreno da revolupaoé
coisa certa", concluí Dora Vallier.

A m orte da pintura também foi decretada por


Ferreira Gullar na sua Teoría do Nao-Objeto, na
qual diz que "o próprio conceito de arte vacila, se
nao a tomamos na aceppao fundamental de ex­
periencia primeira". O neoconcretismo, no enten­
der do crítico brasileiro, "é urna redescoberta do
mundo: as formas, as cores, o espapo nao perten-
cem a esta ou aquela linguagem artística, mas á
experiencia viva e indeterminada do homem".
Mário Pedrosa chegou a referir-se ao neocon­
cretismo como a pré-história da arte brasileira,
"n ao porque fosse o primeiro movimento, mas
porque buscava as origens ou fundam entos". E o
escultor Amílcar de Castro diz que seu gesto cons-
trutor, "é pura surpresa. Espontáneo como se
fosse o primeiro - aquele que fundamenta a
comunhao com o fu tu ro ". O que se percebe, por­
tanto, nesta seqüéncia que vai da morte da pintura
a recuperapao do gesto primeiro, é a antevisao, ou
mais do que isso, a fundapao de urna nova arte,
um novo ser. Construpao.
ALUiSIO CARVAO / Branco e Preto
nanquim sobre papel / 14x14cm / 1959
O construtivism o russo, portanto, surge no
ALUiSIO CARVÁO / Superficie Farfalhame m om ento em que se preparavam profundas
metal prensado e pendurado / 1975 mudanpas no plano económico e social, quando
se pretende dar o salto do subdesenvolvimento.
Construir: "esculpir o fu tu ro ". Urna das obras
mais utópicas ou visionárias do construtivismo
russo é o M onum ento a Terceira Internacional",
urna gigantesca escultura-edificio, de ferro e
vidro, com diferentes movimientos rotatorios.

Nao estaría ai, também, um dos objetivos da arte


construtiva entre nós? Nos manifestos madistas,

24
ABRAHAM PALATNIK / MobiHdade / campos m agnéticos / 40x40x40cm / 1959-72

concretistas ou neoconcretistas nao sao feitas pode ser um instrum ento eficaz de transformagao
alusoes as possíveis implicagóes políticas desses da sociedade, quer construir urna nova realidade,
movimentos, mas esta ausencia nao nos impede inclusive no plano social e político. O artista cons­
de localizar em suas propostas urna p re se n ta tru tivo sonha de olhos abertos, quer esculpir o
política ou o desejo utópico de renovar e tra n sfo r­ fu tu ro no presente. O gesto construtivo é um ges­
mar a sociedade. Afinal, dentro da perspectiva da to fu ndador de mundos. Gesto prim eiro, aberto ao
arte construtiva, o fazer artístico deve ser en­ fu tu ro . Nao se trata, portanto, de copiar ou imitar
carado como um esforgo de ordenagao do caos o existente, o já gasto e, portanto, im perfeito; mas
(qualquer que seja o nome ou a origem que se dé a de inventar, de fazer surgir um m undo novo,
ele). Pretende o artista co n stru tivo transform ar o claro, lim po, transparente, criar, com o diz ainda o
caos em cosmos — "faze r da pedra crista l", mesmo Joao Cabral, " o espago de um m undo de
deseja "o perfil claro e so la r", co m o diz o poeta luz limpa e sadia, portanto, ju s to ".
Joao Cabral de Mello Neto. Entre expressar a crise
ou a construgao, prefere o segundo cam inho, pois
considera mais útil revelar o hom em ñas suas Ora, nao creio que se possa considerar mera coin-
memores possibilidades do que m ostrá-lo fra g ­ cidéncia o aparecimiento dos m ovim entos cons-
mentado e caótico. A arte encarada nao com o tru tivo s argentinos no m om ento em que a Europa
a®ao ° u escapismo, mas com o "u m m odo mais se apresenta destruida pela guerra ou que esses
Taru a 6 se estar no m u n d o ", com o diz G iulio m ovim entos correspondam a urna consciencia
artp Argan a propósito da Bauhaus. O projeto da crescente de nossas possibilidades económicas,
utómrnnSn Ut'V-a ® fundam entalm ente otim ista. E etc. Há um paralelismo de situagoes entre a ex-
• U artista construtivo acredita que a arte pansao das idéias construtivas e o esforgo de
25
"o dos diversos países latino-americanos
un¡f¡ca<?a nnlítico e económico: conferencias do
n0 campo P ) r .q de j anejro ( 1947), Bogotá
Méx'C° ' ú|' jma resultando na criapao da Or-
(1948), f dQS EStados Americanos. Nao importa
9ani nFA como depois outros projetos vazios - a
se a uc I ara 0 Progresso e a Operapao Pan-
Al¡an?a Y _ n§o alcanparam os resultados
Amer|can submissao ou burocracia, ou se a
desejaa ' |_at¡n0 _Americana de Livre Comércio
A sSa'i r ) também nao cumpriu seus objetivos
(A -micos é certo também que há m uito a
eCDAi decretou a falencia do modelo desen vol-
■ tista o desarrollismo latino-americano, subs-
vim®m anQS so pelos mi/agres económ icos
1 -dos na crista de profundas modificapoes
sU£ !° com sensíveis derrotas para a demo-
cracía em nosso continente.

m~0 se p0de inferir, porém, apressadamente que o


fm do sonho desenvo/vimentista seja também o
fm do sonho construtivo, pois se os paralelismos
existem, a arte está sempre á frente da realidade.
O certo é que ñas décadas de 40/50 há urna coin­
cidencia de objetivos entre as ideologías cons-
trutivas no plano cultural, o desenvolvimentismo
no plano económico e as alianpas c o n tin e n ta l no
plano político. No Brasil, por exemplo, a década
construtiva por excelencia é a do desenvolvimen-
tismo - Juscelino Kubitschek e seu Plano de
Metas, antecipado pela criapao da Petrobrás, da
Eletrobrás, do Banco Nacional de Desenvolvimen- RUBEM VALENTIM / Pintura / óleo sobre tela / 1965
to Económico e do processo económ ico deno­
minado de substituigáo de importagoes. A o rápido
crescimento e modernizapao das grandes cidades
corresponde também a ambipao de nossa bur­
guesía de superar a condipáo, como país, de mero
exportador de matérias-primas minerais, de país
agro-exportador. Este esforpo modernizador e o
crescimento demográfico das cidades vao gerar
novas formas culturáis — da bossa-nova ao con-
cretismo, iniciando a revisao da obra daqueles ar­
tistas, como Portinari (1903-1962) e Di Cavalcanti
(1897-1976), que representam o estágio anterior:
urna estrutura patriarcal e agrária. A década
desenvolvimentista, que é também a do nacio­
nalismo, e que tem no Instituto Superior de Es-
tudos Brasileiros (ISEB) o seu principal organismo
teórico, sua fábrica de ideologías, no plano da arte
se inicia com a Bienal de Sao Paulo, a primeira em
1951, idealizada por um capitao de indústria, de
origem italiana, e se encerra, 10 anos mais tarde,
com a ¡naugurapao de Brasilia, que se ergue no in­
terior do país para significar "q u e o fu tu ro tec­
nológico, económico e social deste país nao mais
se construirá á revelia do corapao e da inteligén-
r f ' ‘ ' Dma?. er9 uer-se-á sob o signo da a rte ",
aro, Brasilia "fo i aurora que nao deu so l", e des-
e o inicio estava fadada a agravar as contradi-
s, muito mais que resolvé-las e aplainá-las.

Utopias á parte, a arte construtiva nao seria entre


nós, latino-americanos, a manifestapáo cultural de
sociedades industriáis, terciárias ou avanpadas,
mas de sociedades em fase inicial de arranque
ec°nómico, como na URSS, mantidas as dife-
27
nnlttico e económico. Aliás, me trutiva, um processo de antropofagia.
ras de Pr0Jf¡°r(? no caso brasileiro, que Sao
re Se sintomático- n°Q nQ Brasi| um estágio in- A arte construtiva nao se apresenta igual em todo
p a ( \n " repre o n ra d o '- vinculou-se de pre- o continente. Se ao Sul, os movimientos cons­
paU Sal mais ava"¡ £ m0 Suípo-alemao-holandés, tru tivo s vieram respaldados em urna intensa
düíncia ao concreS o s industriaiizado, porém, m ovim entapáo teórica — levando á formapáo de
f nquanto o R® ' JJ __ mostrou-se majs sensíyel grupos, publicapao de manifestos, planos-pilotos,
S lú d ic o e c! f n russo. A s manifestapoes tardías revistas, gerando polémicas e dissidéncias — no
o construtivsmo^ j americano podem ter as Centro e no Norte nao existem, a rigor, movimien­
5o c o o s t - u W ^ S c a s , entre elas o petrtleo, tos ou grupos, mas um encontró espontáneo de
Resmas razoes eco q prob|ema é mais especi- artistas que trabalham com propostas similares.
eno"an“ ncul! í “ l: a persistencia do mural,smo No Sul, a polarizapao teórica opunha dois cam­
pos: o ótico e o orgánico, a lógica e a intuipáo, a
S T d o u trin a oficial.
m áquina e o corpo, o visual e o plurisensorial,’ o
tem po, com o m ovim ento, e o espapo, como
Estas considerapóes nao excluem , obviam ente, as durapao, etc. Nos demais países, estas oposipoes
observapóes feitas antes a respeito da existencia existem, mas ao nivel individual: Negret/Villa-
de urna vocapao construtiva em nosso continente mizar, S oto/C ruz-D iez, G oeritz/Sebastian. Se
o Brasil em particular. Pelo contrario: terá sido madistas, invencionistas e concretos argentinos
stamente esta vontade de ordem que levou a lutaram contra o surrealismo, os concretos e
- modelos construtivos tao logo se neoconcretos armaram barricadas para conter o
dilúvio tachista. Quer dizer, em ambos os casos,
urna oposipao as form as autom áticas de arte. No
M éxico, insurgem-se contra o muralismo e, na
távamos preparaaus y a ia --------------------------------- Colombia (onde, a meu ver, está surgindo um dos
alguns países europeus e dos Estados Unidos, polos mais interessantes da arte construtiva em
muitas idéias construtivas, com o vim os. Inclusive nosso Continente), Villamizar diz ter reagido á
porque, já antes da vinda de Le Corbusier, Bill, violencia do expressionismo m ostrando seu con­
Oteiza, Goeritz, etc., a nossos países, Torres Gar­ trario. E no seu entender, o contrário da violencia
cía aliciava artistas e teóricos para apoiar o seu é a ordem. Depoimento, aliás, m uito parecido
universalism o construtivo. Nao se quer aludir com com o que me fez recentemente Rubem Valentim
¡stoa nenhum processo de retrocolonizapáo. (1922), para quem a necessidade de ordenar, de
construir e de elaborar suas form as com rigor era
Entretanto, urna visao excessi va m ente eurocen- urna oposipao ao caos e aos excessos reinantes na
trista da cultura ocidental tende a localizar no paisagem física e cultural de seu Estado natal, a
velho continente a origem de todos os movimien­ Bahía.
tos, tendencias, teorías, etc. M uita gente séria e
responsável, porém, já se deu conta de nossa O exame, neste ensaio, das tendéncias cons­
contribuipáo á arte construtiva internacional — ou trutivas da arte latino-americana nao significa, a
melhor, da peculiaridade dessa contribuipáo. Nao priori, urna tomada de posipao contra outras te n ­
apenas o caráter orgánico, vitalista, sensível e déncias existentes e igualmente válidas: fantás­
caliente de nossa produpáo construtiva, e das an- tico, a figurapáo crítica, etc. O exame de nossa ar­
tecipapóes minimalistas, cinéticas e plurisenso- te construtiva nao visa eliminar ou aplainar as con-
riais, mas também a ¡ntrodupao de símbolos tradipoes existentes, como procurei m ostrar. Nes­
(Torres García), de urna m aior vinculapao com te caso, tao válida quanto a arte ordenada e cons­
nossas raízes culturáis (Rubem Valentino, Carlos truida pode ser urna outra que assuma e manifesté
Mérida). Se podemos entender a arte construtiva claramente o nosso caos. Inclusive porque, como
em nosso continente como um saudável corretivo tem procurado mostrar o pintor e teórico argen­
aos excessos místicos e mágicos, emocionáis e tino Luis Felipe Noé, existe também urna estrutura
irracionais, como quer Juan A cha, é conveniente no caos, ou melhor, o caos é estrutura. A crítica,
lembrar que passada a fase inicial, que se manifes- por outro lado, nao deve manter-se em posipoes
ta, em cada país, como um período de limpeza, de rígidas: o apoio a esta ou aquela tendéncia depen­
assepsia, de "servipo m ilitar o b rig a tó rio " (como de das circunstáncias do m om ento ou de muitos
i™ 'arsila do Amaral em relapao ao cubism o), outros fatores, inclusive extra-artísticos. Talvez
9 se9uida (as oposipoes C o n cre to /M ad i, nao seja o caso, hoje, de continuar defendendo
urna arte construtiva em países onde ela já existiu
adantar~mo/ neoconcret'sm° ) há um esforpo de
(onde a "v a n g u a rd a ", hoje, pode estar, porexem -
contraía?- n.oasa rea|idade: variada, dispersa,
plo, com a figurapáo crítica); em outros, pelo con­
a arte lú.d'ca- ^ ® nesse m om ento, quando
trário, mesmo quando a arte construtiva resvala
nosso ser S^rutlva ¡a se encontra im pregnada de
para um certo decorativism o, pode ser útil urna
Podar. Q,¡0a®,nossa alma, que com epam os a ex-
r dizer, haveria, tam bém , na arte cons­ tom ada de posipao ao seu lado.

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