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APRESENTAÇÃO

Uma margarida no meio dos


pobres, faz parte das publicações da
Congregação das Irmãs de Caridade de
Montreal – Soeurs Grises de Montréal –
SGM. Quase trinta anos depois de sua
publicação, esta magnífica obra, de
autoria de Irmã Rose-Alma
Lemire,SGM, escrita por ocasião da
canonização de Santa Margarida
d’Youville, continua a alcançar o seu
objetivo de favorecer uma leitura fácil,
concisa e profunda dessa mulher que
marcou a humanidade. Nesse intuito, a
autora nos envolve e nos provoca com a
história da Mãe à Caridade Universal,
assim nomeada pelo Papa João XXIII
na ocasião de sua beatificação.
Santa Margarida d’Youville, a
santa Canadense que marcou a história
do Canadá e da América do Norte,
ultrapassou as fronteiras geográficas e
encontrou morada na devoção popular
da América Latina. Como padroeira de
Paróquias e Comunidades Eclesiais
Missionárias, em áreas urbanas e rurais,
principalmente nas Igrejas do Brasil e
da Colômbia, suas festas são celebradas
com expressões de fervor em confiança
e gratidão por graças e milagres
alcançados.
Margarida d’Youville, casada,
viúva, mãe de dois sacerdotes,
Religiosa Consagrada e fundadora da
Congregação Irmãs de Caridade de
Montreal, da qual se ramificaram mais
cinco Congregações Religiosas, dentre
elas as Irmãs de Caridade de
Ottawa(fundada por Madre Elizabeth
Bruyère)presentes no Brasil. Além das
Congregações de Vida Religiosa
Consagrada, seu carisma é difundido
por batizado/as que se consagram e são
chamado/as de Associados/as de Santa
Margarida d’Youville.
De descende da nobreza à viúva
de François d’Youville, a bisneta do
célebre Pierre Boucher, deixou seus
rastros na história da humanidade como
mulher que transformava as
adversidade em confiança e tudo fazia
para alimentar e dignificar os pobres.
Sua eficácia e atitudes proativas,
contudo, eram regadas à uma fé
inabalável na Providência. Ela confiava
e, como Maria, o milagre acontecia!
Assim, com o seu olhar sempre
fixo em Jesus e nas dores da
humanidade, devotada à Cruz, ao Pai
Eterno e à Divina Providência,
Margarida tornou-se uma flor no meio
dos pobres.

Ir. Maria dos Santos Silva Lopes, SGM


PRÓLOGO

Há pessoas que raramente


falam, deixam poucos escritos e
mesmo assim nos questionam. O
cotidiano de suas vidas se expressa por
gestos que transmitem uma palavra
evangélica.
Margarida d’Youville – nascida
Maria Margarida Dufrost de
Lajemmerais – viveu há mais de dois
séculos. Ela marcou sua época. Uma
particular graça divina em sua vida deu
origem a sua missão. Esta, à luz dos
acontecimentos, tornou-se clara e
imperativa. Com um coração sem
fronteiras e cheio de esperança,
Margarida encarnou sua visão em suas
obras. Consciente de ter recebido uma
missão, ela manifesta a ternura de Deus
pai a todos os irmãos e irmãs,
sobretudo aos pobres nos planos
material, psicológico, intelectual e
social. Mesmo depois da sua morte,
Margarida continuou sua missão. Hoje,
ainda, essa mulher, aberta a todas as
necessidades da sociedade, faz-se
próxima dos pequenos, das pessoas em
dificuldades.
Apresentada pela igreja como
modelo de santidade para todos os
estados da vida, essa grande figura
canadense permanece uma inspiradora
viva. Olhar para ela é sentir-se
interpelado pela doçura:
Você quer dar um sentido a sua
vida? Confie na providência de Deus
Pai e espalhe sua ternura a todos
especialmente aos mais
desfavorecidos, irmãos e irmãs em
quem você serve Jesus Cristo.
Eis o que esta mulher nos diz
pela sua vida toda simples e dedicada,
mulher de coração na mão, a quem o
Papa João XXIII dava, em 1959, o belo
título de: Mãe à Caridade Universal.
UMA MARGARIDA
NO MEIO DOS POBRES

Flor canadense
Foi em Varrenhes, Quebec, no
dia 15 de outubro de 1701, que nasceu
esta mulher, a primeira filha de
Cristophe Dufrost de Lajemmerais e
Marie-Renée Gaultier de Varennes. No
dia seguinte, foi batizada na igreja
paroquial Santa Ana e recebeu o nome
de Maria Margarida. Quem será essa
criança? Perguntam-se os pais felizes,
contemplando o fruto de seu amor...
Eles depositam sua fé em Deus Pai
cujo olhar de ternura se fixa sobre esta
“Flor Canadense” que será um dia a
grande mensageira da sua compaixão
pelos pobres de mil rostos.

Moldada pelos acontecimentos

Com sete anos de idade,


Margarida fica órfã do pai que tanto
amava. Compreende a dor de sua mãe
e a consola da melhor maneira possível
e procurando ajudá-la. A instabilidade
dos recursos materiais deixa um mal
estar no lar dos Lajemmerais que têm
seis filhos. Chegou-se quase à
mendicância. Entretanto, graças a
influência do célebre bisavô Pierre
Boucher, Margarida se beneficia de
dois anos de estudos nas Ursulinas de
Quebec, das quais a mística Madre
Maria da Encarnação é fundadora. Ali
adquiriu uma sólida formação e ao
mesmo tempo, Margarida se inicia à
contemplação de Deus Pai e do
Coração de Jesus. Ela medita também
as Santas Vias da Cruz, livro austero
para uma criança dessa idade.
Mas quem vai lhe mostrar
como enfrentar o sofrimento inevitável
e como crescer na fé durante as
provações.
De volta ao lar, a adolescente
faz-se educadora dos seus irmãos e
irmãs, assumindo ao mesmo tempo,
tarefas domésticas. Ela se torna apoio e
ao mesmo tempo, confidente de sua
mãe, que se admira da maturidade da
sua grande moça. A graça e a distinção
de Margarida a fazem cedo destacar-se.
Já se projeta para ela um futuro cheio
de promessas. Cedo, fala-se de pedido
de casamento.
Eis que o novo casamento de
sua mãe com um migrante de pouca
sabedoria fez fracassar esse primeiro
amor de Margarida. Ela sente uma
mágoa profunda que esconde aos seus,
mas continua lhes trazendo reconforto
e afeto. Mais tarde em Montreal, junto
a sua família, Margarida frequenta a
classe burguesa. Ela encontra um
jovem e apaixona-se por ele.
Margarida radiante de alegria, casa-se
com François d’Youville no dia 12 de
agosto de 1722, na igreja Nossa
Senhora de Montreal.
François revela-se logo um
homem inconstante, aventureiro, cheio
de ambição pelo dinheiro, e ligado ao
tráfico de aguardente com os índios.
Margarida profundamente ferida pelas
indiferenças do seu esposo e as
reclamações da sogra “implicante”
com quem ela mora, sofre igualmente
as longas ausências de François. Ele
não está presente ao nascimento de seu
primeiro filho... No seu coração,
Margarida vive o drama do amor que
quer permanecer fiel apesar de tudo, o
que a fará dizer mais tarde: Será que
existe felicidade na vida, maior do que
um lar unido? Todos os bens do mundo
não se igualariam a isso1 Entretanto,
cada vez que François volta ao lar,
Margarida multiplica para ele as
atenções delicadas.
Grávida do sexto filho, três
tinham falecido, ela vela com amor ao
seu esposo na doença que vai levá-lo à
morte em julho de 1730.

Atraída pelo Pai

Desde a morte de seu esposo,


Margarida trabalha arduamente para
prover a sua subsistência e a dos seus
filhos. O último não sobreviverá.
Apesar das longas horas de trabalho,
ela acha meio de reservar momentos

1
Carta aos Sr. e Srª Figuery, de 20 Agosto de
1766.
para a oração e de se engajar em
diversos movimentos da paróquia.
Deus Pai a favorece com graças
especiais. Ela fará esta confidência
numa carta, poucos anos antes de seu
falecimento: Deus Pai faz o objeto da
minha grande confiança há mais de
quarenta anos2. Sabendo-se amada por
ele com um amor particular, ela se abre
à graça que deixa nela um lugar para
todos, especialmente aos mais
desfavorecidos. Sua visão de Deus
como Pai lhe faz descobrir que todos os
seres humanos são irmãos e irmãs para
amar.

Movida pelo amor

Quem se aproxima de Deus, o


irradia. É o que fará Margarida pela sua
bondade que se transforma em
caridade audaciosa. Ela não se contenta
em visitar os pobres no Hospital Geral

2
Carta ao Sr. Abade da Isle-Dieu, de 12 de
Outubro de 1766.
e em consertar suas roupas, ela vai
mesmo até mendigar para poder
enterrar os criminosos executados na
praça pública não muito longe da sua
morada. Além disso, esta jovem viúva,
que pelo seu trabalho consegue pagar
as dívidas de seu esposo, sente-se
chamada a se engajar cada vez mais.
Seu diretor espiritual, o senhor
Gabriel Dulescoat, sacerdote de São
Sulpício lhe disse um dia esta palavra
profética: Deus a destina a uma grande
obra... você levantará uma casa em
decadência3.
Margarida não conhece as
dimensões da missão que a espera.
Todavia, no segredo do seu coração, a
exemplo de Maria, a mãe de Jesus, ela
se prepara para acolher o Projeto e
Deus sobre ela.

Ponto de partida da grande aventura


3
Citado por Srª Etienne Michel Faillon,p.s.s.
em Vida de Srª d’Youville, fundadora das
Irmãs da Caridade de Ville-Marie, na Ilha de
Montréal, Hospital-Geral, 1852,p.19.
No dia 21 de novembro de
1737, na festa da Apresentação de
Maria ao Templo, Margarida acolhe na
sua casa, uma senhora cega que será
em breve seguida outras a seguirão...
Muitas outras senhoras necessitadas.
Este gesto de hospitalidade é o ponto
de partida de uma aventura que a levará
longe no serviço aos pobres. O amor
nunca diz “Basta” e Margarida também
não o diz.

Momentos solenes

O exemplo incentiva. Vendo


agir essa jovem viúva, três mulheres
sentem-se chamadas para aliviar o
sofrimento humano. E no dia 31 de
Dezembro de 1737, Margarida
d’Youville, Louise Thaumur de la
Source, Catherine Cusson e Catherine
Demers se consagram ao Pai para se
dedicarem juntas aos desfavorecidos
daquele lugar. Exteriormente nada
mudou, mas a graça faz seu caminho.
As quatro associadas não podem
pensar que este momento decisivo será
um dia considerado como a data da
fundação da Congregação das Irmãs de
Caridade de Montreal “Soeurs Grises”.
Somente a partir de 30 de
outubro de 1738, Margarida e suas
associadas optam por uma vida em
comum, e, isso numa casa mais
espaçosa, a casa Le Verrier, alugada
alguns meses antes. O primeiro gesto é
ajoelhar-se diante da imagem de Nossa
Senhora da Providência e se consagrar
a Maria, modelo no exercício da
caridade. Elas colocam sobre a
proteção de Maria sua obra a serviço
dos pobres.

Sob o vento da adversidade

A população não olha com bons


olhos a união desse grupo de mulheres
com a viúva d’Youville. Também,
enquanto caminham juntas para o
ofício paroquial de “La Toussaint”
festa de todos os santos, foram
insultadas ao ponto de lhes atirarem
pedras. As calúnias continuam. Até um
padre recusa lhes dar a comunhão.
Margarida vive tudo isso no silêncio.
Sua pena é grande ao ver membros de
sua família no meio dos acusadores.
Seus dois cunhados assinam um
abaixo-assinado contra a proposta do
senhor Louis Normant, superior de São
Sulpício, de confiar o Hospital Geral
dos Irmãos Charon, às “Soeurs Grises”
como eram chamadas.

Dentro de pouco tempo uma


terrível dor de joelho imobiliza essa
incansável “mãe dos pobres”. A
ciência médica é incapaz de aliviá-la.
O grupo das associadas vive uma
grande provação: uma delas, Catherine
Cusson, falece em 1741. Margarida
suplica sempre mais ao Pai a sua
própria cura.

Depois de sete anos de


sofrimentos, subitamente se sente
curada. Além disso, uma primeira
candidata à vida religiosa quer
partilhar o cuidado dos pobres. Ela é
seguida de muitas outras. A esperança
dilata os corações.

A cruz desinstala...

Muitos indigentes são acolhidas


na Casa Le Verrier onde elas, apesar de
mal acomodadas, vivem felizes.
Acontece que durante a noite do dia 31
de Janeiro de 1745, um incêndio
destrói completamente este abrigo de
caridade. De pé, na neve, descalça,
Margarida reconforta suas
companheiras e aos seus pobres. Ela
promete não os abandonar. Nada
restou, a não ser uma grande confiança
em Deus Pai, uma coragem audaciosa
para recomeçar tudo... Uma releitura
do acontecimento fará Margarida
dizer: Nós tínhamos talvez coisas
demais... viveremos doravante, mais

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