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EU.
Preparaçã o antecipada
II.
Esposa e Mã e
III.
Consagraçã o Inicial
4.
Amizade no Senhor
V.
viagens de caridade
VI.
A serviço dos pobres
VII.
Novos começos
VIII.
Fonte e Modelo de Toda Caridade
IX.
A Companhia de Caridade
Origens
Fotos
Santa Luísa de
Marillac
Irmã Vincent
Regnault, DC .
Nihil Obstat: Rev. John Roos, STL, JCD Censor Librorum
Originalmente publicado em francê s em 1974 pelas Ediçõ es SOS de 106, rue du Bac, 75341 Paris, França,
sob o tı́tulo Louise de Marillac ou la Passion du Pauvre Hier et Aujourd'hui . (ISBN: 02. 7185. 0781. 0).
Copyright © 1983 por Filhas da Caridade de Sã o Vicente de Paulo Provı́ncia Nordeste, Inc.
ISBN: 0-89555-215-9
Todos os direitos reservados. Nenhuma parte deste livro pode ser reproduzida ou transmitida de
qualquer forma ou por qualquer meio, eletrô nico ou mecâ nico, incluindo fotocó pia, gravaçã o ou por
qualquer sistema de armazenamento ou recuperaçã o de informaçõ es, sem permissã o por escrito do
editor.
TAN Books
Charlotte, Carolina do Norte
www.TANBooks.com
1983
AS
FILHAS DA CARIDADE
DOS ESTADOS UNIDOS
DO PASSADO E DO PRESENTE
AS FILHAS DA CARIDADE
DE SAO VICENTE DE PAULO
1633 - 1983
EU.Preparaçã o antecipada
II.Esposa e Mã e
III.Consagraçã o Inicial
4.Amizade no Senhor
V.viagens de caridade
VI.A serviço dos pobres
VII.Novos começos
VIII.Fonte e Modelo de Toda Caridade
IX.A Companhia de Caridade
Origens
Fotos
Capı́tulo I
PREPARAÇAO ANTECIPADA
ESPOSA E MAE
Luı́sa jamais esqueceria seu amado esposo a quem Deus chamou para
si em 23 de dezembro de 1625. Todos os anos ela mandava celebrar uma
missa por ele no aniversá rio de sua morte.
Quanto a ela, Louise estava prestes a experimentar mais uma forma de
pobreza: a viuvez.
Capı́tulo III
CONSAGRAÇAO INICIAL
AMIZADE NO SENHOR
Há poucas cartas de Vincent para Louise que nã o mencionam o instá vel
Michel. Depois de deixar o seminá rio, ele se tornou um estudante de dia em
Saint-Nicolas, residindo com sua mã e, ou na ausê ncia dela, com Vincent. Em
1631 o encontramos no Liceu Jesuı́ta Louis-le-Grand. Louise continuaria a se
preocupar com seu ilho até seu casamento muito adiado, 14 de julho de
1651, que trouxe consigo uma posiçã o no Tesouro. Vicente també m lhe
havia proporcionado um cargo de magistrado de Saint-Lazare encarregado
da justiça em terras que a Congregaçã o da Missã o havia adquirido apó s sua
uniã o com os Cô negos de Saint-Victor.
Luı́sa seria constantemente sustentada por Vicente de Paulo à medida
que avançava no caminho da con iança e da entrega a Deus. Ele escreveu:
"Seja alegre... Honre a inatividade e a vida oculta do Filho de Deus...
Submeta-se à vontade de Deus em tempos de di iculdade... Adore a Divina
Providê ncia, siga-a, nã o a antecipe". Essas palavras formariam o tema
recorrente de sua correspondê ncia nesse perı́odo. Nos julgamentos que se
seguiriam, eles se mostrariam necessá rios. Louise, que teve pouco contato
com sua famı́lia durante a é poca de seu grande prestı́gio, estaria
intimamente unida a eles quando o infortú nio ocorresse.
Em 1629, Michel de Marillac, como Guardiã o do Selo, publicou o Có digo
Michau, uma portaria de 461 artigos que abrangia todas as á reas da
administraçã o pú blica. No entanto, sua rixa com o primeiro-ministro,
cardeal Richelieu, cresceu cada vez mais, envenenada ainda mais pelas
intrigas da rainha-mã e, Marie de Medicis. Quando Luı́s XIII decidiu
depositar toda a sua con iança no cardeal, a ruı́na dos de Marillacs foi
rá pida. Michel foi obrigado a renunciar ao selo e foi preso em Chateaudun
em 12 de janeiro de 1631. Ele morreu lá em 7 de agosto de 1632.
Louis de Marillac, marechal da França, foi preso em 30 de outubro de
1630 no campo de batalha de Felizzo, no Piemonte. Em 8 de maio de 1632,
por suprema ironia, ele ouviu uma sentença de morte pronunciada contra
ele nos pró prios termos da portaria redigida por seu irmã o. Ele foi
executado no dia seguinte na Place de Greve, de acordo com o artigo 344 do
Volume II do Có digo Michau.
Vicente de Paulo sabia o quanto esses acontecimentos haviam a ligido a
sobrinha dos dois destacados membros da famı́lia de Marillac. Em vã o a
esposa de Louis de Marillac, ilha de Cosme de Medicis e tia da rainha-mã e,
tentou ganhar a misericó rdia do cardeal. Infrutı́fera també m foi a
intervençã o de Madame de Combalet, a futura duquesa de Aiguillon e
sobrinha de Richelieu. A pró pria Louise considerou tentar ajudar, mas
Vincent a advertiu: "Tenha cuidado para nã o se envolver muito
profundamente". Mesmo assim, ele tentaria consolá -la. Quando a esposa de
Louis morreu em setembro de 1631, ele escreveu:
O Filho de Deus chorou por Lá zaro; por que você nã o lamentaria
por esta boa mulher? Nã o há mal nisso, desde que, como o Filho de
Deus, você se conforme à vontade do Pai. Estou certo de que o fará .
VIAGENS DE CARIDADE
O exemplo dado pelas Irmã s e Senhoras teve outro resultado prá tico.
As Confrarias nã o eram mais obrigadas a servir o caldo desde que a
administraçã o assumiu essa responsabilidade – coisa pequena hoje, sem
dú vida, mas foi um ganho considerá vel na é poca na luta por um melhor
serviço aos pobres doentes.
O trabalho realizado pelas irmã s no Hotel-Dieu foi um trabalho de
colaboraçã o. Em breve seriam chamados a assumir o controle total dos
hospitais ao redor de Paris e nas provı́ncias. As irmã s foram para Angers, Le
Mans, Nantes, Fontainebleau e Saint-Denis. Seus esforços nem sempre foram
coroados de sucesso, mas Luı́sa soube inculcar em seus coraçõ es a estima
por sua vocaçã o, a consciê ncia da "grande felicidade que tiveram de servir a
Nosso Senhor na pessoa dos pobres". Por toda a parte o seu amor os impeliu
a um serviço de qualidade, ao qual trouxeram a dimensã o humana da
solicitude pela pessoa. Em Saint-Denis, por exemplo, vemos o inı́cio do
trabalho social hospitalar. As raparigas sã o ajudadas a encontrar um
trabalho adequado antes de serem dispensadas.
A guerra, tanto civil quanto estrangeira, abriria mais um campo de açã o
para Louise e suas ilhas. Novos gritos de angú stia tocaram o coraçã o dos
fundadores quando as irmã s partiram para os campos de batalha: Chalons,
1650; Estampes, 1652; Sedan, 1654; La Fé re e Arras, 1656; Calais e Metz,
1658.
Na conferê ncia de 4 de agosto de 1658, para quatro irmã s que se
preparavam para partir para Calais, Vicente disse:
Você foi escolhido para cuidar dos pobres soldados feridos a
serviço do Rei. . . das quatro irmã s já enviadas para lá , uma está morta e
as outras estã o muito doentes. No entanto, apesar disso, outros se
apresentaram para substituı́-los e disseram: "Senhor, aqui estou eu,
bastante pronto". Como todas você s izeram, minhas Filhas. Pois nã o há
um ú nico de você s que nã o diga isso em seu coraçã o e que nã o provaria
isso por açõ es, se fosse necessá rio. . . Entã o, Irmã s, cuidem desses
pobres doentes com grande caridade e doçura, para que vejam que
você s vã o socorrê -los com o coraçã o cheio de compaixã o por eles.
Esse desejo de responder a tudo o que Deus lhes pedia fez com que
Louise e as irmã s se voltassem para outro grupo negligenciado: as jovens
camponesas. Desde suas primeiras visitas à s Confrarias da Caridade,
Mademoiselle Le Gras icou impressionada com sua situaçã o. Sem
oportunidade de escolaridade, eles estavam condenados a uma existê ncia
miserá vel. Gobillon nos conta que, no esforço de remediar a situaçã o, Louise
deu dicas pedagó gicas à professora da escola da aldeia, ou, onde nã o havia,
permaneceu o tempo su iciente para treinar algué m para essa funçã o.
Sua grande lexibilidade na adaptaçã o de mé todos para atender à s
condiçõ es locais foi a chave para o sucesso. Alé m disso, ela buscou a
educaçã o da pessoa como um todo. A instruçã o religiosa nã o era uma
recitaçã o esté ril, mas um meio para compreender a vida. Já em 1631,
Vicente de Paulo escreveu ao pá roco de Bergeres pedindo-lhe que exortasse
seu povo a enviar seus ilhos à escola e citando o sucesso do trabalho de
Louise na educaçã o em Montmirail e Villepreux.
No entanto, neste perı́odo Louise nã o permaneceu em um lugar por
muito tempo. Em um esforço para encontrar jovens capazes de assumir o
trabalho depois de sua partida, ela procurou aqueles que desejavam tornar
Deus conhecido e amado, bem como ensinar os fundamentos da leitura,
escrita e aritmé tica. Em 1632 Vincent escreveu a Louise:
Acho uma excelente ideia ter uma professora em Villeneuve, mas
onde vamos encontrar uma? Só posso sugerir que diga à s mã es de suas
alunas que enviará um o mais rá pido possı́vel e que depois conversará
com elas sobre sua alimentaçã o e moradia.
Marguerite Naseau de Suresnes abriu o caminho. Com o passar dos
anos, outras jovens juntaram-se a Louise. Ela os enviou para ensinar as
menininhas do campo. Ao mesmo tempo, exortou-os a "treinar alguns deles
para ensinar em suas ausê ncias. Isso eles devem fazer por amor de Deus e
sem qualquer remuneraçã o".
Mas as pró prias irmã s precisavam primeiro ser treinadas como
professoras. O tempo foi permitido por regra para o estudo. Louise
frequentemente se encarregava de ensiná -las a ler e escrever "para que
pudessem instruir as menininhas pobres" onde quer que fossem solicitadas.
Escolas foram abertas em Richelieu e Nanteuil. Geralmente, duas irmã s
eram enviadas juntas. De um desses pares, Vincent escreveu: "Os dois servos
dos pobres estã o realizando maravilhas - um com os doentes, outro na
instruçã o de meninas".
Mais tarde, uma espé cie de escola normal foi estabelecida na casa mã e
localizada na paró quia de Saint-Laurent. Como as escolas da cidade estavam
sob a direçã o dos Cô negos de Notre Dame, Louise dirigiu seu pedido para
abrir uma escola em Paris ao seu superior. Ela escreveu:
Espero que Deus seja glori icado por esta obra que permitiria aos
pobres enviar seus ilhos à escola sem custo ou interferê ncia dos ricos.
Louise teve o cuidado de enfatizar essa preferê ncia por crianças pobres
nas Regras das Filhas da Caridade. Ela escreveu:
As irmã s saberã o que todas as meninas nã o devem ser recebidas
em sua escola, mas apenas aquelas que sã o pobres. No entanto, se a
Providê ncia e a obediê ncia os chamarem para uma paró quia onde nã o
haja mestra para a instruçã o dos ricos e seus pais pedirem com fervor
que os recebam entre seus alunos, devem fazê -lo com a aprovaçã o do
pá roco - mas apenas no dia condiçã o de que os pobres sejam sempre
preferidos aos ricos e que os ricos nã o os menosprezem.
Para Louise e sua primeira professora, o objetivo principal era instruir
essas meninas nas verdades de sua fé . Para ajudá -los, Louise elaborou um
catecismo muito simples, onde o essencial a ser aprendido estava contido
em poucas palavras:
A. Deus, para que possamos amá -lo e servi-lo e para que ele nos
_ leve ao cé u.
Q. _ Como você conhece Deus?
A. Sim.
_
Q. _ Onde está Ele para que possa nos ver?
A. Com grande amor e a con iança de que Ele nos dará tudo o que
_ Lhe pedirmos, assim como Ele prometeu.
Q. _ O que é a Ave Maria?
A. O espı́rito Santo.
_
Q. _ Sã o José nã o era seu marido?
Na casa mã e, outros 1.300 pobres tı́midos foram atendidos, junto com
800 refugiados. Nos arredores de Paris, a morte e a destruiçã o corriam
soltas.
Para enfrentar a situaçã o, Vincent e Louise organizaram um "armazé m
de caridade" onde aceitavam presentes em dinheiro e bens. Todas as guildas
comerciais de Paris deram o que podiam. Os açougueiros davam carne, os
alfaiates davam roupas novas e usadas. . . Tudo foi aceito. As irmã s limpavam
e consertavam tudo o que recebiam. Os pacotes eram enviados por barco da
Ilha Saint-Louis ou transportados por estrada para Villeneuve-Saint-
Georges, Juvisy e Gonesse para serem distribuı́dos em centros
cuidadosamente selecionados. Equipes mé dicas compostas por um mé dico e
enfermeiras irmã s cuidavam dos doentes no que restava de suas casas. 193
aldeias foram salvas como resultado desse esforço coletivo.
Ao longo deste con lito sem im, Louise de Marillac continuou a enviar
suas ilhas para os campos de batalha. Em 16 de setembro de 1658, ela
escreveu: "Nã o sei se você ouviu falar que a irmã Françoise Manceaux e a
irmã Marguerite Menage morreram galantemente enquanto serviam os
doentes e feridos em Calais". Outra irmã foi ferida em Chalons. No entanto,
assim que ela se recuperou, ela e trê s companheiros partiram para os
campos de batalha de Sedan. Eles serviram em hospitais de campanha em
Sainte-Menehoult e La Fere. Outras irmã s foram para Bernay e Angers para
cuidar dos atingidos pela peste. De Paris vieram palavras de encorajamento.
Vicente escreveu:
Acredite que Deus cuidará de você onde quer que você vá .
Permaneça irme e nunca perca a con iança na Divina Providê ncia,
mesmo no campo de batalha. Nã o tema. Nenhum mal te atingirá . Se um
de você s perder a vida, saiba que é uma bê nçã o para ela, pois ela
aparecerá diante de Deus carregada de mé rito, tendo dado sua vida por
caridade.
Louise acrescentou: "Nã o tema o mal, mas suporte o que vier em submissã o
ao prazer divino". Verdadeiramente Louise de Marillac e suas ilhas
encontraram uma maneira de fornecer "melhor serviço" à s vı́timas da
guerra.
No trabalho com os enjeitados, Louise de Marillac descobriu a misé ria
em uma instituiçã o que carecia totalmente de meios para responder aos
objetivos para os quais havia sido criada. Ela se encarregou de reorganizar
completamente o trabalho e colocar as crianças em outro ambiente mais
apropriado. No Hotel-Dieu, ela e suas irmã s trabalharam, junto com as
Damas de Caridade, como voluntá rias. Eles colaboraram com os
administradores e funcioná rios de uma instituiçã o que, embora boa em si
mesma, nã o evoluiu com o tempo.
O trabalho com os idosos seria uma criaçã o completamente nova para
ela. De acordo com Abelly, os fundos deveriam vir de "um rico comerciante
de Paris que havia oferecido a Vincent uma grande soma de dinheiro". O
Irmã o Ducournau, secretá rio de Vicente, a irma que esse dinheiro se
destinava à s casas da Congregaçã o da Missã o, mas que, em seu estilo
habitual, Vicente de Paulo colocava as necessidades dos pobres antes das de
sua companhia. Assim, pediu a seu benfeitor se poderia empregar toda a
soma para abrigar e cuidar de artesã os idosos que, em um perı́odo em que
nã o havia pensõ es ou previdê ncia social, haviam sido reduzidos pela idade e
enfermidade à misé ria. De acordo com um contrato feito em 28 de setembro
de 1647, duas casas foram adquiridas no bairro de Saint-Laurent "para
abrigar, alimentar e vestir quarenta pobres de ambos os sexos".
Louise de Marillac assumiu total responsabilidade pela organizaçã o do
trabalho, bem como pelo fornecimento das irmã s para servir aos idosos. Ela
se entregou de todo coraçã o à sua tarefa, re letindo sobre ela diante de Deus
e aplicando a ela todos os recursos de uma mente e um coraçã o capazes de
discernir as necessidades do futuro e as do presente. Ela diria:
Quanto maior o trabalho, mais importante é estabelecê -lo sobre
uma base só lida. Assim, nã o só será mais perfeito; també m será mais
duradouro.
Como o nú mero de vagas era limitado, o processo de seleçã o foi difı́cil.
Eles nã o queriam aceitar mendigos pro issionais, mas sim trabalhadores
idosos de boa reputaçã o. Eles procuraram criar uma atmosfera produtiva
agradá vel na casa. Deus ocuparia o primeiro lugar e Vicente frequentemente
vinha falar aos moradores Dele com sua maneira simples e direta. Os textos
que ainda possuı́mos mostram a admiraçã o e respeito que tinha por cada
um deles.
Por sua vez, Louise de Marillac compreendia que o medo de ser um
fardo para os outros era o maior sofrimento da velhice. No programa da casa
ela escreveu: "Para a e icá cia espiritual e temporal da casa, é essencial que
ningué m se sinta inú til, especialmente no inı́cio".
A organizaçã o do trabalho incorporou conceitos que prenunciavam a
terapia ocupacional atual. Os artesã os foram solicitados a montar o icinas
onde os moradores pudessem ser empregados em tarefas que estivessem de
acordo com sua força decrescente, mas que també m fossem interessantes e
lucrativas. Eles puderam assim trabalhar em seus antigos ofı́cios como
tecelõ es, sapateiros, fabricantes de botõ es, rendeiros e costureiros. Eles até
foram contratados para fazer alguns trabalhos para lojas em Paris. Sobre
tudo isso, Louise comentou: "Se algum lucro é obtido com o trabalho, é para
que a casa possa ser ampliada e mais idosos atendidos".
Mas os pró prios moradores també m estavam interessados em lucrar
com seus empreendimentos, já que cada um recebia um quarto do dinheiro
ganho com seu trabalho. Como tudo lhes era fornecido, exceto vinho, isso
lhes dava um pouco de dinheiro para gastos pessoais. A medida provou ser
sá bia, pois na maioria das vezes os ganhos dos homens iam, no todo ou em
parte, para "bom â nimo". Em geral, as mulheres eram um pouco mais
cautelosas em gastar os frutos de seu trabalho.
A intençã o original do contrato de 29 de outubro de 1653, que era
impedir a propagaçã o da mendicidade, "a mã e de todos os vı́cios",
providenciando o atendimento aos trabalhadores idosos do Hospı́cio do
Santı́ssimo Nome de Jesus, foi admiravelmente cumprida — graças ao gê nio
criativo de Louise de Marillac. As notı́cias de seu sucesso logo chegaram à s
Damas de Caridade, que queriam estender o trabalho a todos os mendigos
de Paris. A Companhia do Santı́ssimo Sacramento teve um de seus membros
envolvido exclusivamente neste trabalho. No entanto, a abordagem foi
totalmente diferente. Enquanto as Damas de Caridade trabalhavam
publicamente, os membros da Companhia do Santı́ssimo Sacramento
escondiam suas açõ es caritativas. Isso impediu sua participaçã o em
qualquer trabalho estabelecido. Alé m disso, as Damas pareciam acreditar
que a caridade era mais propriamente o trabalho das mulheres. Em um de
seus documentos lemos:
Se um trabalho é polı́tico, parece que deve ser realizado por
homens. No entanto, se for considerada uma obra de caridade, as
mulheres podem realizá -la da mesma forma que realizaram outros
grandes e difı́ceis exercı́cios de caridade que Deus, em sua bondade,
abençoou.
Mais uma vez, outro grupo de pobres foi "mais bem servido". No
entanto, as fronteiras da França logo se mostrariam estreitas demais para o
zelo caridoso de Vicente e Luı́sa. Em 1653 suas Filhas da Caridade partiriam
para a Polô nia.
Entre as 120 Damas de Caridade do Hô tel-Dieu de Paris, uma se
destacou por sua notá vel beleza e sua extraordiná ria bondade para com os
pobres a quem foi apresentada por Vicente de Paulo. Ela era Louise-Marie
de Gonzague, que se tornou rainha da Polô nia em 1645. Mesmo apó s a
morte de seu marido, Wladislas IV, ela manteve sua posiçã o por seu
casamento com o irmã o do rei morto, John Casimir. Em sua nova pá tria, ela
nunca esqueceu Vicente de Paulo, a quem venerava, chamando-o de "o anjo
do Senhor que traz nos lá bios os fogos ardentes do amor divino que ardem
em seu coraçã o".
Ainda na França, a jovem rainha tinha visto o trabalho dos primeiros
Sacerdotes da Missã o. Conhecia Luı́sa de Marillac e amava as humildes
Filhas da Caridade que se dedicavam aos pobres ao lado das Damas da
Caridade do Hotel-Dieu. Quando a misé ria se abateu sobre seu reino, ela
pediu a ajuda dessas irmã s treinadas por Louise. Eles se juntariam aos
Sacerdotes da Missã o, que chegaram à Polô nia logo apó s sua ascensã o ao
trono. Em uma Conferê ncia datada de 14 de julho de 1651, Vicente falou à s
irmã s do pedido da Rainha:
Isso deve dar-lhes grande coragem, minhas queridas Filhas, para
valorizar as disposiçõ es que Deus lhes deu, porque, pela graça de Deus,
nã o sei se alguma vez alguma de você s se recusou a ir para onde ela
estava. enviei. Nã o, nã o conheço nenhum. . . Eu sei, minhas Filhas, que
pessoas a mais de 600 lé guas de distâ ncia estã o perguntando por
você s; Recebi cartas deles. Sim, pessoas a mais de 600 lé guas de
distâ ncia estã o pensando em você ; e se há rainhas que perguntam por
você , també m sei de outras alé m-mares que perguntam por você .
Passaram-se dois anos antes que trê s irmã s inalmente partissem para
a longa e cansativa jornada pelo Bá ltico e pela Alemanha para se juntar à
rainha em Lowicz. Apó s um perı́odo de adaptaçã o durante o qual as irmã s se
acostumaram ao novo ambiente, a rainha decidiu enviar duas delas a
Cracó via para servir aos pobres, enquanto a terceira icaria com ela. No
entanto, a irmã em questã o, Marguerite Moreau, protestou:
Ah, senhora, o que você está perguntando? Somos apenas trê s
para servir os pobres. Há muitas pessoas no reino mais capazes do que
nó s para servir a Vossa Majestade. Permita-nos, senhora, fazer o que
Deus nos pede aqui e o que fazemos em outros lugares. "O que, você
nã o quer me servir", disse a Rainha. Perdoe-me, senhora, mas foi Deus
quem nos chamou para servir os pobres.
Irmã Marguerite fez seu ponto. A formaçã o dada por Louise estava
dando frutos.
Esta fundaçã o, como tantas outras novas obras, teve um inı́cio difı́cil,
causado principalmente por um funcioná rio nomeado pela Rainha para
supervisionar as irmã s. Nã o satisfeito em supervisionar seu trabalho, o
supervisor tentou controlar suas vidas. O assunto foi inalmente resolvido, e
a rainha pediu irmã s adicionais. Em 1655 eles partiram para Rouen na
primeira etapa de sua viagem para se juntarem a seus trê s companheiros.
No entanto, o avanço das tropas russas em Varsó via obrigou-os a adiar o
restante de sua viagem.
Enquanto isso, as primeiras irmã s continuaram a servir os pobres em
Varsó via e depois na Silı́cia. Os poloneses recuperaram a posse de sua
capital em 1657 apó s um longo cerco durante o qual as irmã s cuidaram dos
feridos. Eles já haviam aberto uma escola na qual agora aceitavam crianças
ó rfã s pela guerra.
Em 1660, outro grupo de irmã s foi escolhido para a Polô nia. Esta foi
uma das ú ltimas alegrias de Vicente de Paulo. Embora Luı́sa nã o tenha
vivido para vê -los partir, ela estava presente na mente e no coraçã o de suas
ilhas, pois foi ela quem formou nelas aquele espı́rito de caridade e
abnegaçã o que faria Sã o Vicente de Paulo exclamar, dez dias antes de sua
morte. morte, "Bendito seja Deus que assim dispô s os coraçõ es de Suas
ilhas. Eles sã o convidados a ir para a Polô nia, e eles estã o prontos!"
No entanto, nã o foi apenas para a Polô nia que eles estavam prontos
para ir. Em 29 de setembro de 1655, a jovem Companhia reuniu-se em torno
de Vicente e Luı́sa enquanto ele lhes falava da alegria de servir aos pobres:
Que consolaçã o ter a certeza de que se está agradando a Deus, que
se está fazendo o que Deus quer e dando alegria a Deus! Que
consolaçã o para um pai ver seus ilhos fazendo sua vontade! Isso vale
para Deus, Irmã s. Ele se agrada de ver pessoas que querem apenas o
que Ele quer. . . Agradeça a Deus por estar associado ao Seu Filho em
dar-Lhe alegria e prazer.
. . . Você deve estar pronto para ir a qualquer lugar, porque está
sendo solicitado por todos os lados. . .
Em Madagascar, nossos senhores nos suplicam que lhes enviemos
Filhas da Caridade para ajudá -los a ganhar almas. Os padres Mousnier
e Bourdaise me dizem que acreditam que este é um passo essencial
para levar a populaçã o local à fé . Eles gostariam de um hospital para os
doentes e uma escola para a educaçã o das meninas. Eles també m
pedem que enviemos alguns dos enjeitados que sabem trabalhar para
que possam ensinar outros. E é por isso que você deve estar preparado
para ir até lá . E uma viagem de 4.500 lé guas e leva seis meses. Irmã s,
estou lhes dizendo isso para que possam ver os desı́gnios de Deus
sobre você s. Portanto, disponham-se, minhas Filhas, e entreguem-se a
Nosso Senhor para irem aonde Lhe agradar.
Você está decidido a ir a todos os lugares sem exceçã o?
"Sim, pai", eles responderam.
Mas você está realmente tã o disposto? Se sim, diga-me.
Todas as irmã s se levantaram e novamente declararam que sim.
NOVOS COMEÇOS
A açã o multifacetada nunca pode ser obra de uma ú nica pessoa. Com o
passar dos anos, o alcance da atividade caritativa à qual Louise de Marillac
dedicou sua vida se ampliou à medida que se aprofundou seu amor por
Jesus Cristo, a quem ela serviu nos pobres. A sua relaçã o com Vicente de
Paulo, que conheceu por volta do ano de 1623, viria a revelar-se decisiva a
este respeito. Antes de seu contato com ele, ela havia ajudado seu vizinho de
forma limitada. Sob sua orientaçã o, seu horizonte se expandiu. Cada vez
mais ela penetrava no misté rio da identi icaçã o de Cristo com os pobres:
"Tudo o que izerdes ao menor dos meus, isso a mim o fazeis". Em breve ela
nã o se contentaria mais em levar algumas guloseimas a um pobre, cuidar de
um vizinho doente, abrigar um necessitado ou arranjar emprego para uma
jovem. Embora esses esforços continuassem por vá rios anos, ela se tornaria,
ao mesmo tempo, Presidente de uma das primeiras Confrarias da Caridade
em Paris, a de sua pró pria paró quia, Saint-Nicolas-du-Chardonnet. Assim,
ela renovaria seus contatos com as famı́lias nobres do elegante bairro do
Marais, e "juntos" serviriam os pobres, inclusive os escravos das galé s.
Depois de um perı́odo de discernimento durante o qual procuraram
descobrir a vontade de Deus em relaçã o a ela, Vicente de Paulo enviou Luı́sa,
em 1629, para visitar as Confrarias da Caridade que ele e seus sacerdotes
haviam estabelecido nas provı́ncias e nos arredores de Paris. . Em
colaboraçã o com as Senhoras da Caridade de toda a França, fez a sua
aprendizagem no serviço corporal e espiritual dos doentes e necessitados.
A in luê ncia discreta mas irme de Vicente de Paulo continuou a guiar
Louise para a dedicaçã o total de sua vida ao serviço dos pobres. A
colaboraçã o deles icou cada vez mais pró xima. Desde os primeiros dias de
seu relacionamento, Vincent a manteve informada de seus esforços
apostó licos. Agora, poré m, ele suscitou sua participaçã o ativa e pediu seu
conselho: "O que você acha, mademoiselle?"
Novos projetos se seguiriam em rá pida sucessã o, à medida que toda a
gama de misé rias humanas se tornasse aparente para seus zelosos coraçõ es.
O sucesso e o fracasso marcaram esses empreendimentos. Mas houve muito
mais sucessos do que fracassos, pois tudo foi cuidadosamente e em oraçã o
considerado antes de ser empreendido. Vicente costumava dizer: "Nosso
Senhor quer que O sirvamos com prudê ncia. O contrá rio é chamado de zelo
excessivo". Se a má xima era de Vincent, sua aplicaçã o era frequentemente
reiterada por Louise. Em uma ocasiã o ela escreveu:
Como eu queria re letir sobre esta obra diante de Deus, percebi
que devo examinar todos os aspectos dela: seu inı́cio, sua continuaçã o e
sua possı́vel conclusã o. Quanto maior o trabalho, mais importante é
estabelecê -lo sobre uma base só lida. Assim será mais perfeito e mais
duradouro.
Por im, o pró prio Vicente lembrou as recomendaçõ es dadas por Cristo,
Suas promessas e o exemplo que deixou aos seus seguidores. Ele entã o
passou a falar de oraçã o mental:
A oraçã o, minhas ilhas, é uma elevaçã o da mente a Deus, pela qual
a alma se desprende, por assim dizer, de si mesma, para buscar Deus
em si mesma. E uma conversa da alma com Deus, um intercâ mbio do
espı́rito em que Deus lhe ensina interiormente o que deve saber e fazer,
em que a alma diz a Deus o que Ele mesmo lhe ensina a pedir.
. . . A alma se vê em Deus e se conforma a Ele em todas as coisas.
. . . E na oraçã o que Ele ilumina seu entendimento com verdades
incompreensı́veis para quem nã o ora. . . que Ele in lama as vontades. . .
e toma posse de coraçõ es e almas.
Este amor cada vez maior de Deus e dos pobres levou as Filhas da
Caridade a se entregarem mais completamente a Deus por voto. Muito cedo
em sua vida, Louise de Marillac havia dedicado todo o seu ser ao Senhor da
Caridade. Ao voto de viuvez de 1623, acrescentou o voto de consagrar-se à
formaçã o dos servos dos pobres. Em 1624, na é poca de sua "experiê ncia
pentecostal" na igreja de Saint-Nicolas-des-Champs, ela havia previsto que
"chegaria o tempo em que [ela] poderia fazer votos de pobreza, castidade e
obediê ncia e que isso ser feito vivendo com outros, alguns dos quais fariam
o mesmo."
Nesse perı́odo, Louise admitiu que nã o via como isso seria possı́vel. Em
seu relato do evento, ela nos diz:
Compreendi, ainda, que isso ocorreria em um local destinado a
auxiliar o pró ximo, mas nã o conseguia imaginar como isso aconteceria,
pois tal coisa exigiria muito ir e vir.
A COMPANHIA DE CARIDADE
Este mesmo tema se repetiria vá rias vezes, à medida que Vicente de
Paulo e Luı́sa de Marillac procuravam ajudar as irmã s a crescer na
compreensã o e no apreço de sua vocaçã o e de sua consagraçã o no meio do
mundo, o que era um coisa no sé culo XVII . Em 14 de junho de 1643, Vicente
disse:
Você també m deve re letir que seu principal negó cio, aquele que
Deus requer especialmente de você , é a diligê ncia em servir aos pobres
que sã o seus senhores. Oh sim, Irmã s, elas sã o suas mestras. Portanto,
você deve tratá -los com gentileza e gentileza, re letindo que é para esse
propó sito que Deus os uniu, para esse propó sito Ele estabeleceu sua
Companhia.
A discussã o seguiu: "Irmã , o que você acha?" Depois de receber vá rias
respostas, ele se voltou para outra irmã : "Irmã Vincent, por favor, diga-me,
quem sã o aqueles que podem estar dormindo?" Ele entã o fez a mesma
pergunta aos outros presentes. E assim foi, com cada uma expressando seus
pensamentos de forma simples e humilde.
Quando o assunto lhe parecia particularmente importante, Vincent nã o
hesitava em fazer algumas perguntas diretas. Em uma Conferê ncia sobre
oraçã o mental encontramos a seguinte troca:
Irmã Anne de Saint-Germain-de-l'Auxerrois, minha ilha, você faz
oraçã o mental todas as manhã s?
Sim, padre, por meia hora, e à s vezes por trê s quartos. . .
E você , irmã Henriette, que está com os escravos da galera, você
reza?
Pai, nã o podemos ouvir o reló gio, e por isso à s vezes nã o somos
exatos sobre isso. . .
Há algué m aqui de Saint-Sulpice? Irmã , você é exata sobre a
oraçã o?
As vezes fazemos, mas nem sempre, por causa do remé dio que
devemos levar para os pobres.
Ela entã o deixou a casa da duquesa para voltar ao serviço dos pobres.
Chegaria o momento em que os vá rios apostolados que surgiram em
resposta aos apelos urgentes dos pobres deveriam ser coordenados. Em
1641, alé m de servir os pobres nas paró quias e cuidar dos enjeitados e dos
escravos das galé s, as irmã s cuidavam dos doentes em hospitais e
ensinavam meninas no campo. E isso foi apenas o começo. Novos apelos
estavam sempre sendo dirigidos a eles.
Assim, em 1646, apó s anos de oraçã o e planejamento, Louise de
Marillac e Vincent de Paul, con iantes no apoio da rainha, buscaram e
obtiveram a aprovaçã o do Arcebispo de Paris para a pequena Companhia.
Uma vez assegurado o reconhecimento da Igreja na França, os fundadores
começaram a envolver as irmã s diretamente na administraçã o da
comunidade. Revelando inusitada sabedoria sobrenatural e humana, os
fundadores reuniram as irmã s que formariam o primeiro Conselho da
Companhia em 28 de junho de 1646. Vicente disse-lhes:
Pela graça de Deus, minhas Irmã s, este Conselho que a Divina
Providê ncia estabeleceu será um passo para a ordem e estabilidade em
sua Companhia. Estamos aqui reunidos para aconselhar sobre alguns
assuntos necessá rios, bem como sobre a maneira como você s devem se
governar, e para determinar como Mademoiselle Le Gras ou a Irmã
Serva [como é chamada a superiora] devem conduzir as reuniõ es.
Uma vez feito isso, cada irmã , por sua vez, seria convidada a dar sua
opiniã o e as razõ es que a sustentavam. A decisã o inal, poré m, seria a da
Superiora:
Depois de ouvir todas as opiniõ es, a Irmã Serva seguirá a que
julgar mais adequada. Se ela nã o achar nenhum deles aceitá vel, ela
dirá : "Nã o vamos resolver este assunto hoje. Vamos re letir sobre isso
diante de Deus." Se ela deseja buscar mais conselhos, ela pode dizer:
"Vou discutir isso com o padre Vincent. Veremos o que será melhor".
As atas dessas reuniõ es do Conselho revelam a base só lida sobre a qual
se constituiu a jovem Companhia. Eles contê m normas para a vida
apostó lica, princı́pios de prudê ncia e sabedoria para sucessivas geraçõ es de
Filhas da Caridade.
Direta ou indiretamente, os pobres estiveram presentes em todas essas
deliberaçõ es. O Conselho reuniu-se para decidir se “é conveniente enviar
duas irmã s todas as tardes para visitar os pobres doentes da paró quia, para
consolá -los”. Em outro lugar foi registrado:
O primeiro assunto a ser discutido é se devemos ou nã o enviar
irmã s à Picardia para ajudar a irmã Guillemine e trê s outras irmã s que
foram enviadas há muito tempo para servir os doentes e pobres desta
regiã o que a guerra do ano anterior havia reduzido à ruı́na.
Para que os pobres fossem bem servidos, buscavam os meios para ter
bons servidores dos pobres e colaborar com outras pessoas e grupos que
cuidavam deles. Em vá rias ocasiõ es, Louise de Marillac e Vincent de Paul
levantaram a questã o das condiçõ es de admissã o na Companhia. Louise
disse que temia particularmente "a fugacidade que tornaria algumas jovens
totalmente inadequadas para o serviço dos pobres". Vincent entã o
elaboraria sobre este ponto:
Certamente é verdade que algué m deve ser chamado por Deus
para qualquer vocaçã o. Sem tal chamado, nã o há nada alé m de
vacilaçã o e inconstâ ncia. Uma vocaçã o de Deus é essencial para
perseverar. E por isso que você s devem se entregar a Deus para
escolher bem entre as pessoas que desejam ingressar na Companhia.
Você deve veri icar, na medida do possı́vel, se elas tê m ou nã o as
qualidades fı́sicas, mentais e espirituais necessá rias para uma Filha da
Caridade. Devemos ter muito cuidado com isso, caso contrá rio
transformaremos a Companhia em uma enfermaria onde outras Filhas
da Caridade serã o necessá rias para cuidar dos membros em vez de
servir aos pobres.
A vocaçã o das Filhas da Caridade, com o dom total de si que ela exigia,
é de inida em termos prá ticos por Louise de Marillac numa carta dirigida ao
Irmã o Ducournau, secretá rio de Vicente, em janeiro de 1658. Trata- se de
algumas jovens que foram buscando admissã o na Companhia. Ela lhe disse:
Essas meninas. . . quem quiser se juntar à s Filhas da Caridade deve
ser informado de que nã o somos uma ordem religiosa. Nem eles podem
trabalhar em um hospital e nunca serem movidos. Devem ir
continuamente à procura dos pobres doentes em diversos lugares e
prestar-lhes um serviço e icaz. Eles devem saber que estarã o muito mal
vestidos e nutridos e isso. . . quando se juntam à Companhia, nã o
devem ter outro desejo senã o servir a Deus e ao pró ximo com todo o
seu ser.
Para Luı́sa de Marillac como para Catarina de Sena, o amor a Deus e o
amor ao pró ximo eram insepará veis. A fundadora frequentemente citava as
palavras de Deus a esta alma ardente para suas primeiras Filhas da
Caridade:
Uma alma que me ama verdadeiramente ama també m o pró ximo,
porque o amor por Mim e o amor ao pró ximo sã o uma e a mesma coisa.
Seu amor pelo pró ximo é a medida do seu amor por Mim. Eu lhe dei
este meio para provar e exercitar seu amor por Mim. Você é ú til para
Mim na medida em que é ú til para o pró ximo. A alma que ama a Minha
verdade nunca se cansa de se dedicar ao serviço dos outros.
Duzentos anos depois, outro santo, Joã o da Cruz, diria a mesma coisa:
A medida que o amor ao pró ximo cresce, o amor de Deus aumenta
em nó s. Da mesma forma, quanto mais amamos a Deus, maior será
nosso amor ao pró ximo, pois ambos os amores tê m o mesmo objeto e a
mesma causa.
O serviço de Jesus Cristo na pessoa dos pobres foi a força uni icadora
na vida das Filhas da Caridade. Todo o seu tempo e energia deveriam ser
gastos no amor e no serviço a Deus e ao pró ximo. Em 4 de maio de 1650,
Louise escreveu à Irmã Cecile Agnes:
Em nome de Deus, minha irmã , exorto-a a ser muito gentil e cortê s
com os pobres. Você sabe que eles sã o nossos mestres e que devemos
amá -los com ternura e respeitá -los muito. Nã o basta que esses
sentimentos estejam profundamente enraizados em nossos coraçõ es.
Devemos dar testemunho deles por meio de cuidados gentis e
amorosos.
A motivaçã o para este dom total de si ao serviço dos pobres foi sempre
"o puro amor de Deus". Freqü entemente, a resposta à caridade nã o era
apenas ingratidã o, mas agressã o aberta. Em uma dessas ocasiõ es, Louise
escreveu:
Oh, minhas irmã s, se você s soubessem como iquei recentemente
consolada quando soube que uma de nossas irmã s foi atingida por um
pobre e nã o fez nada para se defender. Infelizmente, ele era um mestre
duro, mas devemos suportar seu ataque. Somos os servos dos pobres e
devemos suportar seus abusos.
Parece que, apesar dos fracassos humanos, eles foram capazes de levar
o amor de Deus aos necessitados com o dom total de si mesmos ao serviço
de Cristo na pessoa dos pobres. Vicente de Paulo reforçou essa crença em
sua Conferê ncia de 4 de março de 1658, quando disse:
Filhas minhas, o nome de cada uma de você s foi escrito no livro da
caridade quando você s se entregaram a Deus para servir os pobres e,
em particular, no dia em que izeram seus votos, você s receberam este
nome que Deus lhes deu. . Portanto, você deve viver em conformidade
com o nome que carrega, pois foi o pró prio Deus quem o deu à
Companhia. . . foram as pessoas que, vendo o que você estava fazendo e
o serviço que nossas primeiras irmã s prestavam aos pobres, lhe deram
este nome, que permaneceu como o mais adequado ao seu modo de
vida.
Até seu ú ltimo suspiro, seus pensamentos e suas oraçõ es estavam com
suas irmã s e com os pobres. Queria manter-se informada sobre os cuidados
dispensados aos numerosos pobres que vinham à casa-mã e em busca de
alimentos. Ela morreu como viveu: uma Serva dos Pobres . Suas ú ltimas
palavras para suas ilhas testemunham sua vida e seu legado:
Tome muito cuidado para servir os pobres;
Acima de tudo, vivam juntos em grande união e cordialidade;
Amar uns aos outros imitando a união e a vida de Nosso Senhor;
Tome a Santíssima Virgem como sua única mãe .
Casas da Companhia em 1660, incluindo 25 casas em Paris.
ORIGENS
Sainte Louise de Marillac: Correspondência 1627 - 1660, Meditações, pensees, avis . Esta obra foi
publicada em 1961 a partir de textos de manuscritos preservados nos arquivos da casa mã e das
Filhas da Caridade, 140 rue du Bac, Paris, França.
São Vicente de Paulo: correspondência, entretiens, documentos . 14 volumes. Editado por Pierre
Coste. Paris: Lecofre-Gabalda, 1925.
Alé m dessas duas referê ncias, també m foram retiradas citaçõ es de:
Baunard, Mons. Louise de Marillac (Mademoiselle Le Gras), fondatrice des Filles de la Charite de
Saint Vincent de Paul . Terceira ediçã o. Paris: Jean de Gigord, 1921. De particular importâ ncia é a
lista de documentos relativos à s Filhas da Caridade e Luı́sa de Marillac, conservada no Arquivo
Nacional da França, encontrada na pá gina VII desta obra.
Flinton, S. Margaret. Sainte Louise de Marillac: l'aspect social de son oeuvre . Bruxelas: Desclee,
1953.
Sã o Vicente e Santa Luı́sa discutem as necessidades dos pobres.
Sã o Vicente lê a Regra à s primeiras Damas da Caridade. (Desenhos usados com a gentil permissão da
CEME Publishers, Salamanca, Espanha.)
Uma Conferê ncia antecipada. Nestas Conferê ncias, Sã o Vicente instruiu as Filhas e com Santa Luı́sa
compartilharam seus pensamentos sobre a vocaçã o de uma Filha da Caridade.
Sã o Vicente, Santa Luı́sa (à direita de Sã o Vicente) e Senhoras da Caridade. Em primeiro plano estã o os
enjeitados, uma Filha da Caridade e uma ama de leite.
Sã o Vicente implora à s Senhoras da Caridade que nã o abandonem os enjeitados: "Se você abandonar
esses pequeninos, o que Deus dirá , já que foi Ele quem os chamou para cuidar deles?" St. Louise é a
segunda da direita.
Filhas da Caridade no Hospital de Angers. Sã o Vicente exortou-os a cuidar dos doentes com grande
doçura, vendo neles Jesus Cristo.
Uma das primeiras Filhas da Caridade levando uma bebida aos doentes.
Sã o Vicente e Santa Luı́sa no Hospı́cio do Santı́ssimo Nome de Jesus, onde os idosos foram atendidos e
habilitados a continuar trabalhando em seus ofı́cios. Sã o Vicente vinha muitas vezes falar-lhes de Deus.
Um close-up mostrando St. Louise.
Uma pá gina das Regras Particulares para as Irmã s das Aldeias.
Figura de cera cobrindo as relı́quias de Santa Luı́sa na capela da casa mã e.
A assinatura de Santa Luı́sa de Marillac.
O selo de Louise de Marillac e da Companhia das Filhas da Caridade. A inscriçã o latina diz A Caridade de
Cristo nos Impulsiona .
Vitral mostrando St. Louise, St. Vincent e Filhas da Caridade.
Está tua de Santa Luı́sa de Marillac erguida na Bası́lica de Sã o Pedro, em Roma, por ocasiã o de sua
canonizaçã o.