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O Último Cabalista de Lisboa Intel

Quem é Richard Zimler?


Richard Zimler nasceu Nova Iorque, em 1956. Formou-se em Religião Comparativa na
Universidade de Duke e em Jornalismo na Universidade de Stanford. Depois de se formar,
trabalhou durante oito anos como jornalista na zona administrativa da Baía de São Francisco.
Mudou-se para Portugal em 1990, residindo desde então na cidade do Porto. Deu aulas na
Escola Superior de Jornalismo e na Universidade do Porto durante 16 anos, tendo lecionado
disciplinas na área do Jornalismo. Obteve a nacionalidade portuguesa em 2002.

Ao longo da sua vida, Zimler tem publicado vários romances,como Meia-Noite ou o Princípio
do Mundo,  A Sétima Porta tendo alguns dos quais tornado-se  bestsellers em diversos
países, e já ganhou prémios como e o Herodotus Award , a Medaha de Honra da Cidade do
Porto e vários dos seus romances foram foram propostos para o Prémio Literário Internacional
IMPAC, um dos mais prestigiados a nível internacional
Resumo da história

O primeiro livro do autor, publicado em 1996, tem uma história impactante, intrigante e conta as
aventuras verídicas de Beremias Zarco, um dos sobreviventes do Massacre do Rossio (ou
simplesmente Pedro Zarco de nome cristão, de que vos falarei mais à frente). O livro foi
baseado em manuscritos encontrados numa antiga casa em Istambul, que contam a odisseia
vivida pelo próprio Beremias, tendo sido escrito na primeira pessoa.

A narrativa passa-se em 1506, época em que os judeus eram perseguidos em Portugal e


muitos foram convertidos para Cristãos-novos, como é o caso de Beremias Zarco e a sua
família. No entanto, estes continuavam a praticar a sua religião ás escondidas.

Tudo se inicia com a morte do tio de Beremias, Abraão Zarco, respeitado iluminador da
célebre escola cabalística de Lisboa, e de uma jovem rapariga, encontrados sem vida numa
cave secreta onde faziam as iluminuras e os rituais da sua religião junto com o
desaparecimento de um manuscrito. Inicialmente, Beremias pensa que é obra cristã, devido á
perseguição feita pelos mesmos na altura, mas no entanto descobre que Abraão foi degolado
de uma forma ritual, que só judeus conhecem. Indicando assim que o assassino deve ser uma
pessoa próxima. Começa aí uma grande investigação. A história desenrola-se e, após nos
serem descritos os terrores sentidos pelos judeus, e a forma como estes viviam, de uma
maneira que nos faz querer saber mais e sentirmo-nos realmente em 1506, Beremias descobre
que o tio pressentia a violência que se abateria sobre os portugueses de confissão judaica, e
dedicava-se a fazer sair do país, através de uma rede de passadores clandestinos, importantes
manuscritos para a fé hebraica e pessoas que queriam fugir do país; é um destes
contrabandistas, por dinheiro, trai e mata o velho Abraão. Beremias, assim, sem fé e vinga a
morte do tio e foge com o dinheiro e família restante que tem para Constantinopla(hoje
instambul), um sítio onde os judeus eram aceitados, acabando por morrer aí.

https://www.significados.com.br/cabala/ curiosidade o que é a cabala

Cabala é um genéro de filosofia da vida que engloba um conjunto de ensinamentos


relacionados com Deus e o universo.

É uma escola de pensamento espiritual que tenta decifrar o conteúdo da Torá (os primeiros
cinco livros do Antigo Testamento da Bíblia), acreditando que os segredos do Universo foram
revelados por Deus, de forma codificada, naqueles livros.

A cabala também é vista como uma filosofia de vida que ensina aos cabalistas formas de
superar obstáculos para evoluir e atingir a paz espiritual, sendo passada de geração em
geração pelos mais velhos.
A perseguição aos judeus em Portugal

Tudo começou com a expulsão dos judeus em Espanha, sendo obrigados a converter-se ao
cristianismo ou abandonar o país, em 1492, tendo-se refugiado cerca de 100 mil judeus em
Portugal.

Desde sempre, o povo judaico era olhado com desconfiança pelos portugueses, devido a
trabalharem para o rei na cobrança das rendas. No entanto, inicialmente foram bem recebidos
pelo Rei D. João II, uma vez que muitos deles eram ferreiros, carpinteiros e artesões, mão de
obra que Portugal precisava, tendo apenas de pagar uma renda para permanecer, mas as
coisas foram começando a piorar com o passar do tempo.

Pouco tempo antes de morrer, ordenou que os filhos menores de judeus fossem retirados das
suas famílias e enviados para São Tomé, que precisava de ser povoada. Contudo a ilha tinha
um grande número de animais selvagens, especialmente crocodilos, o que levou à morte de
grande parte das crianças.

Depois de morrer, em 1495, não deixou herdeiros, mas sucedeu-lhe D. Manuel I, que era seu
primo direito. Nos seus primeiros anos de reinado, tudo parecia bem, uma bem que D. Manuel
tinha mais tolerância, mas as coisas mudaram drasticamente. D. Manuel queria unir a
Península Ibérica e para isso teria de casar com a filha dos reis de Castela, Isabel de Aragão.
Para se casar com ela, os reis de Espanha exigiram que os judeus fossem expulsos de
Portugal, assim como em Espanha. D. Manuel, emite, assim, uma ordem de expulsão a todos
os judeus até outubro de 1497. Tinham duas hipóteses, sair do país ou converterem-se ao
cristianismo. Apesar disso, a ideia do monarca não era a expulsão e sim a conversão dos
judeus. Assim, manda retirar os menores de 14 anos ás famílias para serem entregues a
cristãos-velhos, o que resultou numa matança, uma vez que muitos judeus degolaram e
atiraram os seus filhos a poços.

D. Manuel tinha mentido e prometido a ajuda a sair do pais aos judeus e, assim, com a
aproximação do prazo de saída, muitos judeus foram para Lisboa, onde iriam partir. Mas aí, foi
demonstrado verdadeiro plano do monarca: converter os judeus á força, e dando-lhes novos
nomes (como é o caso de Beremias) torturando-os durante dias e por fim, batizando-os á força,
daí a expressão “batizado em pé” originando assim cristãos-novos, isto é, judeus que
foram convertidos ao cristianismo, quer á força quer por boa vontade.

Aqui nasce o Criptojudaísmo: judeus que faziam uso da religião cristã apenas em público e
continuava a praticar a religião, preservando os seus cultos e práticas do judaísmo
clandestinamente. Daqui surgiu, por exemplo, a alheira, um enchido com carne de aves, que
servia para imitar os chouriços com carnes de vaca e porco, que os judeus não comiam.

Mesmo assim, os cristões continuavam oprimidos, com leis como a proibição de casamento
entre eles e de negócios com judeus. Mas o pior dia ainda estava por chegar

Os judeus, como já referi atrás, eram acusados de serem os culpados da peste e fome que
era sentida na altura e, assim, Dia 19 de abril de 1506, iniciada por frades dominicanos, gerou-
se uma revolta popular que tinha como objetivo matar e torturar todos os acusados de serem
judeus. Durante a Semana Santa daquele ano, milhares de judeus foram queimados-vivos,
espancados e torturados no Rossio e por toda a Lisboa, no que ficou conhecido como O
Massacre de Lisboa.

D. Manuel puniu os culpados, no entanto o mal já estava feito e muito judeus fugiram para o
Brasil, Holanda e Constantinopla (como é o caso de Beremias)

Após isto, a opressão só viria a piorar com o aparecimento da Inquisição, que perseguia todos
os que não fossem cristãos. Foi aqui, que a importância das mulheres no judaísmo sobressaiu

Anteriormente, as funções mais importantes da religião eram atribuídas aos homens. No


entanto, após a proibição da prática do judaísmo, as mulheres acabaram por assumir este
papel, uma vez que eram elas que ficavam em casa a fazer serviços domésticos. Obrigadas a
parecer cristãs perante a sociedade, as matriarcas das famílias judaicas viram o lar como uma
possibilidade de passar aos seus descendentes sua antiga fé.  Era na cozinha, local de
destaque das casas judaicas, que o judaísmo feminino se desenvolveu. Naquele ambiente
familiar “as mulheres, a beira do fogo, cozinhavam os alimentos e contavam histórias de seu
povo e tradições para os filhos. No entanto, a sua resistência não passaria em branco para os
Inquisidores, que viam essas mulheres como um inimigo a abater. Muitas foram perseguidas,
presas e em alguns casos mortas.

Foi apenas por volta de 1770 que Marquês de Pombal viria a acabar com todas as leis de
opressão aos judeus, após de 3 séculos de perseguição.

Hoje em dia, existe um monumento em Lisboa em homenagem aos judeus, situado no Largo
de São Domingos, local onde se deu grande parte da matança.

Concluindo, O Último Cabalista de Lisboa é um livro com uma história misteriosa e que, por
ter uma descrição pormenorizada de tudo, nos faz sentir dentro de Lisboa em 1506 e que nos
mantém bem presos ao sofá mas que ao mesmo tempo nos educa sobre a história de Portugal,
nomeadamente a forma como os judeus viviam e foram perseguidos ao longo dos tempos,
sendo um livro que todos os portugueses devem ler. Por esse motivo, aconselho que todos o
leiam.

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