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Questões e Comentários

Marcelo Senna - 2 de maio de 2012 07:15

Agradeço o empenho em fazer a transmissão, essa primeira parte funcionou muito bem!

Tentei enviar uma questão para o Julio Cabrera (cuja palestra infelizmente não pode ser
disponibilizada em vídeo), mas não deu pra ser lida no debate. Assim, envio-a aqui
novamente - foi formulado um pouco telegraficamente, por ter limites no canal
USTREAM, mas aí vai:

Uma pergunta sobre a tese da inutilidade do diálogo - podemos contestá-la dizendo que
o diálogo é uma forma de ação coerente com a ética negativa - mesmo que não se
objetive a transformação do outro, se disponibiliza para uma transformação de si.

É, em suma, a essência de uma educação negativa.

Complementando: O diálogo é uma discussão (e não uma disputa, como diz Kant na
Crítica do juízo), não se pode disputar a verdade com o outro, mas pode-se ampliar-lhe
a sensibilidade e a compreensão e, mesmo que não chegue a concordar conosco,
aprimora a relação entre seres fadados a um grau de incomunicabilidade como nós.

Por isso o diálogo é uma forma de interação negativa com o outro.

PS: o diálogo é uma marca essencial do amor negativo - [o enlaçamento possível com o
outro terminal, como eu.]

PS2: O aspecto mais otimista do pessimista negativo é disponibilidade para, no diálogo,


tentar criar valor.

Desse modo, argumento a favor da "utilidade negativa" do diálogo.

é isso, como disse, formulado sinteticamente; se interessar, podemos tentar aprofundar e


ampliar a questão.
abraços,

Marcelo

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Marcelo Senna - 2 de maio de 2012 07:20

olá a todos e todas,

agradeço mais uma vez o empenho na realização da transmissão do seminário


Pessimismo e Otimismo Moral, gostei muito de acompanhá-lo e conhecer as
contribuições e críticas de vários sobreviventes, de mim já conhecidos ou ainda não.
Elogio também a perspicácia da moderação virtual, que soube escolher trechos
relevantes do debate virtual que se realizava paralelamente para apresentar como
perguntas. Foi bom ter contato com o Gabriel, de Maceió, através desse debate também.
Também gostei que os vídeos das palestras tenham sido mantidos na página, consegui
assistir às apresentações finais ontem e gostaria de, eventualmente, voltar a assistir
alguns dos vídeos como forma de recuperar pontos importantes de argumentação.

Abaixo seguem duas tentativas de desenvolver alguns pontos que o seminário me deu a
pensar. Envio como forma de retribuição pelas múltiplas ideias e questões oferecidas
pelos vários participantes, esperando quiçá suscitar alguma questão sobre a qual valha o
diálogo. Incluí, além da referência filosófica, duas referências ao cancioneiro brasileiro,
na medida em que aí podemos encontrar também pensamento de dimensão e valor
filosófico (vai aqui a licença de alguma afrociberdelia, conceito de Chico Science).
Tento praticar a filosofia num nível escolar, o que inclui trechos de conversa algo
jornalística, talvez, mas procura não perder de vista as questões essenciais, abordando-
as através desse discurso misto entre teoria e reportagem (quiçá ao modo
antropofágico). Vai ainda no estilo um tanto telegráfico e inacabado, mas parece-se
suficientemente compreensível.
1. Na Crítica de la moral afirmativa (1996), p. 161-162, Cabrera parece entender a
educação como a educação que o progenitor está obrigado moralmente a oferecer a seu
filho; ou, por outro lado, como a educação que o filho tem o direito de demandar ou
exigir do progenitor, pelo fato de ter sido feito nascer [de ter nascido]. Porém a
educação não se deixa pensar apenas na relação entre progenitores e seus filhos. Ela
pode e precisa ser pensada também na relação de sobrevivente a sobrevivente. Essa
educação da sobrevivência não apenas é possível mas pode ser dita até mesmo
necessária. Não é a demanda por essa educação que podemos encontrar nos movimentos
autoeducativos em situações de vulnerabilidade e ameaça radicais, como na
sobrevivência nas periferias conflagradas de cidade e campo ou a sobrevivência nos
campos de concentração? Assim, se queremos pensar a educação negativa, podemos
olhar para experiências de hip hop, entre outras. Referência inicial: Racionais MC’s,
Sobrevivendo no Inferno (1997) http://www.radio.uol.com.br/#/album/racionais-
mcs/sobrevivendo-no-inferno/18501

[Cd publicado um ano após a Crítica de la moral afirmativa]; em cujo encarte podemos
encontrar a enunciação de duas teses ontológicas: “periferia é periferia (em qualquer
lugar)”; e “aqui quem fala é mais um sobrevivente”. [a desenvolver]]. [considerando a
saudação inicial a São Jorge, pode-se pensar até mesmo em uma religiosidade negativa,
a religiosidade do hip hop]. [uma religião negativa na qual o cultivo da palavra (do
debate, da discussão, das tentativas de comunicação mesmo no meio da
incomunicabilidade, dos obstáculos inarredáveis à comunicação e à comunhão) – para
voltar ao tema da inutilidade dos diálogos e debates filosóficos, ou do amor vivido
neles, da morte através da palavra (...) [toda sobrevivência é uma religião, tese
subsidiária].

(...) 2. Para outro tópico: o não ser não é o vazio, mas o caos. O não ser é o caos. O ser é
tudo o que é o caso? O caso é o caos. O caos é ser e não ser, devir é caos, fonte
originária do aparecer e do desaparecer. Qual o valor do caos? Não é uma opção
estarmos fora do caos, nem mesmo na morte (a morte não é a saída do caos, embora seja
a saída da vida). A ética negativa é, em alguma medida, subjetiva, pois se refere ao ser e
não ser dos sujeitos humanos, das vidas humanas, dos indivíduos humanos. Para ser
uma ética para além da subjetividade, deve caminhar na direção de uma ética imanente,
uma ética do caos, uma ética transsubjetiva, além do sujeito. A diferença entre o caos e
o não ser talvez esteja primordialmente no resíduo de mistério presente no caos e que no
não ser parece estar oculto ou ter sido eliminado. [a reserva de mistério faz com que seja
permitido à ética negativa manter uma espécie de agnosticismo primordial (“Ur-
agnosticismo”...), e aproximar, nesse nível mais radical, a razão e a magia [a
desenvolver, bastante; - uma tentativa: o caso é que aqui nos encontramos no limite da
razão e da moralidade racional, nesse limite em que o pensamento torna-se ação, o
negativo se realiza como positivo evanescente, a razão em fluxo talvez não possa ser
senão magia - esta parte está menos elaborada, reconheço].

Referência aqui é a obra de Jorge Mautner, cuja presença-ausência da morte-vida,


investigação da dialética do sim e do não, consideração do mistério – e do amor
“transsubjetivo”– podem ser encontradas em vários lugares, dos quais indico agora
apenas duas canções: “Morre-se assim” e “Pedra Bruta”.

Podem ser ouvidas na radio UOL: http://www.radio.uol.com.br/#/busca/jorgemautner

Ou ver outras referências em: http://www.jorgemautner.com.br/

Donde, da consideração de educação e caos, ressalta a necessidade de pensar o amor


negativo. (voltar ao Projeto de ética negativa).

Alguém se anima a dobrar ou desdobrar esses pontos?

abraços,

Marcelo

PS: foi divertido ver o tom algo teatral do final do seminário, no qual a inutilidade da
comunicação foi mais uma vez comprovada! E, no entanto, houve comunicação!

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Marcelo Senna - 2 de maio de 2012 07:24

olá,

envio uma suma dos comentários sobre a palestra de Fabiano, produzidos no debate
virtual da palestra e um pouco além. Seguem os comentários:
Achei a apresentação de Fabiano interessante, mas me incomodou um pouco pensar a
ética só individualmente e nao vê-la como um fenômeno social, ela surge em
sociedades, e já surgiu em várias; então, mesmo que as condições biológicas e
psicológicas sejam adversas à ética, ela não deixa de existir, como tarefa heróica ou
impossível, mas existe.

Tanto a moral como uma norma social que envolve valor; quanto a ética como reflexão
filosófica - existem ambas!

É nas relações sociais onde se cria o valor; a ética não patina no vazio, mas cria seu
próprio chão, cria a si mesma na sua relação com os outros; antes de patinar no vazio,
ela navega sobre ondas, ou surfa no caos. De fato, pode-se problematizar o conceito de
vazio com o conceito de caos, ou não?

Acho que o Fabiano apresentou argumentos que fortalecem a tese da inabilitação moral,
mas não impede que a ética exista como constituição de si, cuidado de si - afirmativa ou
negativamente. - a ética não é natureza, mas é segunda natureza...

A educação é justamente o trabalho de produzir o "humano", moldar as forças


instintivas numa forma de ser.

Acho que a ética está na tensão entre o governo de si e dos outros, constituir a si sempre
se dá na refrega – a refrega entre afetos meus e doutros, a luta e o jogo onde se criam os
valores.

Então a ética talvez seja uma vertigem por ser apenas um dos lances do jogo de afetos e
poder... será?

Você acha que o jogo de forças se dá no nível do ser? Nós nos constituimos nesse jogo,
com vertigens éticas? O que seria a ética, se não uma vertigem? (não um fundamento,
mas um efeito).

Uma vida pós-moral deve ser algo assim, como o cuidado de si que sabe de seu vazio,
um cuidado negativo de si; e que também se sabe cuidado do outro, governo de si e
governo de outro. Uma ética imanente, uma ética dos afetos, como a de Spinoza, pode
ser uma matriz para isso, ainda que seja preciso fazer uma discussão negativa da ética
de Spinoza.
abraços,

Marcelo

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Marcelo Senna - 6 de maio de 2012 09:46

ética arrodeia corguinho. [polêmica provocativa underground n. 5]

a propósito das cifras de Cesar e Alessandro:

caba não mundão http://www.youtube.com/watch?v=jUE1G_vVRkc&feature=related

pulei o corguinho http://www.youtube.com/watch?v=tPqn0fd0ewA

sertaneja otimismo pensa o ser como além de não ser, kaos e mulher. O ser é mulher:
“caba não mundão, caba não que é bão, quanto mais mulher bonita a gente bebe e acha
bão”. O otimista é, como já observado no seminário, heteroteleológico. A mulher, o ser,
o infinito é a quem me entrego como finito, não ser, homem. Além de hetero, o otimista
é o ponto de vista do macho, entregue à fêmea do ser, ao ser como fêmea. O ser é
feminino: a ser. É na mudança do artigo em preposição que se revela a diferença entre
bom e bão: bão é desfruto enquanto bom se usufruto. E o bem então? É feminina, a ser:
a bem. O curso do rio, currículo, é a corguinho, córrego corrência errância da ser líquida
(“mulher bonita a gente bebe”), a ser bela e boa, a bem. Pular o corguinho é pular a
ética; a ética é o arrodeio do corguinho, o percorrer os limites do seguir e pular – ética
imanente dos afetos. A morte é o corguinho que já nasceu pulado. A lâmina da ser, a fio
cortante, a morte, a corguinho. Será um otimismo negativo a consciência da corguinho,
entrega da vida a mistério e kaos na forma fêmea da ser? Como herákleitos, na beira do
rio logos: ethos anthropos daimon. De uma tradução impossível a um novo fragmento.
[incompleto como sempre, mas nunca deixando de tender à constelação ressignificadora
(...)].

O otimista afirmativo é sertanejo, o otimista negativo é punk. Mas há um punk


sertanejo, devidamente transtornado: http://www.youtube.com/watch?v=X-
wsEjfAIQU&feature=related

Para Conde e Dracula, bom domingo.

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