Você está na página 1de 27

ECONOMIA NEOCLÁSSICA II

PERÍODO: 2020-1
TURNO: NOTURNO

ESTRUTURAS DE MERCADO:
MONOPÓLIO E DISCRIMINAÇÃO DE PREÇO
PROF. JOÃO GONSALO DE MOURA
DECON – UFMA

1
MONOPÓLIO E DISCRIMINAÇÃO DE PREÇO
• CARACTERÍSTICAS DA FIRMA MONOPOLISTA

 Definição: uma única firma produz / vende um bem que não possui substitutos próximos no mercado.

 A firma monopolista possui poder de mercado, ou seja, tem o poder operar com preço acima do custo
marginal de produção (P > Cmg).

 A firma monopolista opera com lucro econômico positivo, dispondo do poder de fixar o preço acima
do custo médio de produção. Ou seja, a receita média obtida por cada unidade vendida é maior que o
custo médio expendido para produzir cada uma dessas unidades (P > Cme).

 As barreiras à entrada no setor asseguram a permanência do lucro econômico positivo no longo


prazo, já que essas barreiras impedem que outras firmas entrem no mercado.

2
MONOPÓLIO E DISCRIMINAÇÃO DE PREÇO
• CARACTERÍSTICAS DA FIRMA MONOPOLISTA

 Na aula anterior apresentamos a solução para o nível de produção da firma monopolista


utilizando uma configuração tradicional para as curvas de receita e uma configuração simples
para as curvas de custo.

 A curva de custo apresentada na aula anterior foi: 𝐶 = 𝑐𝑄

 A partir de agora trabalharemos com uma configuração de curvas de custo que se adequa ao
modo habitual como são apresentadas nos livros de microeconomia.

3
MONOPÓLIO E DISCRIMINAÇÃO DE PREÇO
• OS CUSTOS DO MONOPOLISTA:

 Suponha então uma configuração de custos tradicional, nos termos propostos habitualmente pela
teoria dos custos de produção de uma firma:

 Custo total: 𝑪 = 𝑸𝟑 − 𝟏𝟐𝑸𝟐 + 𝟔𝟎𝑸

𝐶
 Custo médio: 𝐶𝑚𝑒 = 𝑄 ⇒ 𝑪𝒎𝒆 = 𝑸𝟐 − 𝟏𝟐𝑸 + 𝟔𝟎

𝑑𝐶
 Custo marginal: 𝐶𝑚𝑔 = ⇒ 𝑪𝒎𝒈 = 𝟑𝑸𝟐 − 𝟐𝟒𝑸 + 𝟔𝟎
𝑑𝑄

4
MONOPÓLIO E DISCRIMINAÇÃO DE PREÇO
• REPRESENTAÇÃO GRÁFICA DOS CUSTOS DO MONOPOLISTA:

 Representação gráfica das curvas de custo médio e custo marginal do monopolista:


$
Cmg Cme
• Quando Cmg < Cme → O custo médio é
decrescente
• Quando Cmg > Cme → o custo médio é
⦁ crescente
• Portanto, Cmg = Cme quando este último
atinge o seu nível mínimo.

5
MONOPÓLIO E DISCRIMINAÇÃO DE PREÇO
Nível ótimo de produção Características do ponto ótimo
Rmg = Cmg ⇒ maximização do lucro
• Como o monopolista utiliza a regra Rmg = Cmg, então
$ o nível ótimo de produção ocorre em (Qm , Pm).

a
Cmg • O preço fixado pela firma monopolista é maior que o
Pm custo marginal (Pm > Cmg) em razão do seu poder de
mercado.
Rmg = Cmg ⦁
• Obs. Cuidado para encontrar o preço na curva de
Dm demanda, e não na curva de receita marginal.
0 Qm Q
Rmg

6
MONOPÓLIO E DISCRIMINAÇÃO DE PREÇO
Nível ótimo de produção Lucro do monopolista
Lucro econômico positivo ou negativo? • O monopolista atua com lucro econômico positivo, pois
o preço estabelecido (Pm) supera o custo médio de
produção (Cme).
$

a • Como o preço é a receita média por unidade vendida,


Cmg
Pm então é possível estabelecer que o nível ótimo de
Cme produção permite que a receita média por unidade
Cme supere o custo médio por unidade (Rme > Cme ⇒ lucro
Rmg = Cmg ⦁ econômico positivo).

Dm
• A posição de lucro econômico positivo é assegurada
0 Qm Q tanto no curto prazo como no longo prazo, em razão
Rmg das barreiras à entrada de novas firmas no setor.

7
MONOPÓLIO E DISCRIMINAÇÃO DE PREÇO
Nível ótimo de produção Eficiência
Qual é o nível de eficiência do monopólio? • O monopolista não atua no ponto de eficiência
máxima, pois o custo médio (Cme) correspondente a
Qm , Pm não coincide com o nível mínimo do custo por
$ unidade.
a
Cmg
Pm • O nível de máxima é eficiência, custo médio mínimo,
Cme ocorre onde a referida curva cruza com o custo
Cme marginal.
Rmg = Cmg ⦁
Dm • A firma em concorrência perfeita produz com custo
médio mínimo. A firma monopolista produz em algum
0 Qm Q ponto anterior, onde o custo médio ainda não atingiu o
Rmg seu menor nível.

8
MONOPÓLIO E DISCRIMINAÇÃO DE PREÇO
Concorrência perfeita Monopólio
(longo prazo) (longo prazo)

• Rmg = Cmg • Rmg = Cmg

• P = Cmg • P > Cmg

• P = Cme ou Rme = Cme • P > Cme ou Rme > Cme

• Q ⇒ Cme = Cmemín • Q ⇒ Cme > Cmemín

• π=0 • π>0

9
MONOPÓLIO E DISCRIMINAÇÃO DE PREÇO
• EQUILÍBRIO DE LONGO PRAZO DE UMA FIRMA MONOPOLISTA:

O gráfico ao lado retrata a solução de


equilíbrio de longo prazo de uma firma
Cmg
monopolista, conforme exposto de
Pm ⦁ Cme forma resumida no slide 9.

Cme ⦁ ⦁
Rmg = Cmg ⦁
D
Qm Rmg Q

10
MONOPÓLIO E DISCRIMINAÇÃO DE PREÇO
• EQUILÍBRIO DE LONGO PRAZO DE UMA FIRMA MONOPOLISTA:

O gráfico ao lado retrata a solução de


equilíbrio de longo prazo de uma firma
Cmg
perfeitamente competitiva, conforme
Cme exposto de forma resumida no slide 9.

Pcp = Cmg ⦁ d
Pcp = Cmg = Rmg = Cmemín

Qcp Q

11
MONOPÓLIO E DISCRIMINAÇÃO DE PREÇO
• OBSERVAÇÕES SOBRE O LUCRO DO MONOPÓLIO

 Um monopólio fundado sob a barreira da concessão pública tende a não operar com lucros
exagerados, em razão da possibilidade de atrair a atenção dos órgãos de vigilância e, assim, correr
o risco de perder a sua concessão.

 Em ambientes excessivamente burocratizados, os monopólios costumam ser obrigados a pagar


propinas para manter as suas concessões, o que significa custos mais elevados. Sendo assim, com
tais custos adicionais (propinas), os lucros tendem a ser menores do que aqueles que seriam
obtidos sob normalidade.

 Outras vezes, um monopólio pode manter lucros não tão robustos para não induzir outras
empresas a desenvolverem tecnologias que venham a eliminar as barreiras existentes.

 Em geral, os monopólios recebem alguma forma de controle externo, como é o caso das empresas
de serviços de utilidade pública. Tais intervenções limitam o seu poder de mercado.

12
MONOPÓLIO E DISCRIMINAÇÃO DE PREÇO
• FORMULAÇÃO MATEMÁTICA DA MAXIMIZAÇÃO DO LUCRO DO MONOPÓLIO

 Vimos que a maximização do lucro requer: 𝑹𝒎𝒈 = 𝑪𝒎𝒈

- Como a receita total é dada por: 𝑹=𝑷∙𝑸

- Como a curva de demanda (linha de preço) é negativamente inclinada, então o preço varia de acordo
com a quantidade. Ou seja: 𝑷 = 𝒉(𝑸)

- Sendo assim, a receita total seria: 𝑹 = 𝒉(𝑸) ∙ 𝑸

𝑑𝑅
- Decorre então que a receita marginal ( ) resulta da aplicação da regra da derivada do produto.
𝑑𝑄

13
MONOPÓLIO E DISCRIMINAÇÃO DE PREÇO
• A RECEITA MARGINAL DO MONOPÓLIO

𝑑𝑅 𝑑𝑄 𝑑ℎ(𝑄) 𝑑𝑄 𝑑𝑃
 𝑅𝑚𝑔 = 𝑑𝑄 ⇒ 𝑅𝑚𝑔 = ℎ 𝑄 ∙ 𝑑𝑄 + 𝑄 ∙ ⇒ 𝑅𝑚𝑔 = 𝑃 ∙ 𝑑𝑄 + 𝑄 ∙ 𝑑𝑄
𝑑𝑄

𝑑𝑃 𝑃
⇒ 𝑅𝑚𝑔 = 𝑃 + 𝑄 ∙ 𝑑𝑄 → Se multiplicarmos o último termo por 𝑃, então:

𝑑𝑃 𝑃
⇒ 𝑅𝑚𝑔 = 𝑃 + 𝑄 ∙ 𝑑𝑄 ∙ 𝑃 → Se colocarmos P em evidência, então:

𝑑𝑃 𝑄
⇒ 𝑅𝑚𝑔 = 𝑃 1 + 𝑑𝑄 ∙ 𝑃 → Observe que o termo mais à direita representa o inverso do
conceito de elasticidade:

14
MONOPÓLIO E DISCRIMINAÇÃO DE PREÇO
• A RECEITA MARGINAL DO MONOPÓLIO

𝑑𝑅 𝑑𝑃 𝑄 1
 𝑅𝑚𝑔 = 𝑑𝑄 ⇒ 𝑅𝑚𝑔 = 𝑃 1 + 𝑑𝑄 ∙ 𝑃 ⇒ 𝑅𝑚𝑔 = 𝑃 1 + Ԑ

𝑑𝑃
 Como o sinal de 𝑑𝑄 é negativo, para que a elasticidade seja representada por seu valor absoluto:

1
 𝑅𝑚𝑔 = 𝑃 1 − Ԑ

 Ou seja, a receita marginal do monopólio mantém uma relação direta com a elasticidade-preço da
demanda

15
MONOPÓLIO E DISCRIMINAÇÃO DE PREÇO
• A RECEITA MARGINAL DO MONOPÓLIO

1
 𝑅𝑚𝑔 = 𝑃 1 − Ԑ

 Se Ԑ < 1 ⇒ Rmg < 0 (verifique como exercício)

 Se Ԑ = 1 ⇒ Rmg = 0 (verifique como exercício)

 Se Ԑ > 1 ⇒ Rmg > 0 (verifique como exercício)

 Conclusão: o monopolista elege o segmento elástico da curva de demanda (Rmg > 0 ⇒ Ԑ > 1).

16
MONOPÓLIO E DISCRIMINAÇÃO DE PREÇO
• OUTRO OLHAR SOBRE A REGRA DE MAXIMIZAÇÃO LUCRO DO MONOPÓLIO

 Retomando a regra de maximização do lucro: 𝑪𝒎𝒈 = 𝑹𝒎𝒈

1 1
 𝐶𝑚𝑔 = 𝑅𝑚𝑔 = 𝑃 1 − Ԑ ⇒ 𝐶𝑚𝑔 = 𝑃 1 − Ԑ

𝑃 𝑃 𝑷−𝑪𝒎𝒈 𝟏
⇒ 𝐶𝑚𝑔 = 𝑃 − Ԑ ⇒ 𝑃 − 𝐶𝑚𝑔 = ⇒ =Ԑ
Ԑ 𝑷

 Conclusão: A diferença entre o preço e o custo marginal (poder de mercado da firma) depende da
elasticidade-preço da demanda. Ou seja, a diferença que a firma consegue imprimir entre preço e custo
marginal de produção varia inversamente com a sensibilidade dos consumidores às variações no preço
do produto que ela (a firma) oferta no mercado.

17
MONOPÓLIO E DISCRIMINAÇÃO DE PREÇO
• PODER DE MERCADO DO MONOPÓLIO

 𝑷 − 𝑪𝒎𝒈 = Markup → diferença entre o preço de um produto e o custo expendido para produzi-lo.

𝑷−𝑪𝒎𝒈
 = Índice de Lerner → mede o poder de mercado de uma firma. Indica a capacidade que a firma
𝑷
possui para estabelecer o preço acima do custo marginal de produção.

18
MONOPÓLIO E DISCRIMINAÇÃO DE PREÇO
• PODER DE MERCADO DO MONOPÓLIO

 Em um mercado de concorrência perfeita, como as firmas adotam a regra P = Cmg, pode-se afirmar que
o poder de mercado dos ofertantes é zero. Isto se deve ao formato horizontal da curva de demanda pelo
produto de cada firma (Ԑ = ∞). Como o produto é homogêneo, se uma firma aumentar o preço perderá
totalmente as suas vendas para as demais, não dispondo assim de nenhum poder para fixar preço.

 A curva de demanda pelo produto do monopolista é negativamente inclinada. Portanto, quando a firma
promove um aumento no preço do seu produto não perde totalmente o mercado, mas apenas uma
pequena parte do mesmo (1 < Ԑ < ∞). Sendo assim, pode-se afirmar que o monopolista conserva um
elevado poder de mercado, ou, em outros termos, detém um poder considerável para escolher o preço
do seu produto. Quanto mais baixa a elasticidade-preço da demanda, maior será o referido poder.

19
MONOPÓLIO E DISCRIMINAÇÃO DE PREÇO
• REGRA BÁSICA PARA A FIXAÇÃO DO PREÇO

1
 Partindo da condição: 𝐶𝑚𝑔 = 𝑃 1 −
Ԑ

𝑪𝒎𝒈
⇒ 𝑷= 𝟏
𝟏−Ԑ

 O preço do monopolista varia diretamente com os custos de produção (Cmg), e negativamente com a sensibilidade
do consumidor (Ԑ).

 Note que o monopolista leva em conta dois aspectos essenciais para a formação do preço de venda: as condições de
produção/oferta (Cmg); e as condições de mercado/demanda (Ԑ).

20
MONOPÓLIO E DISCRIMINAÇÃO DE PREÇO
• DISCRIMINAÇÃO DE PREÇO

 Problema: todos os consumidores em um mercado pagam a mesma quantia por um produto (o preço
estabelecido na etiqueta), embora tenham diferentes disposições para pagar pelo mesmo.

 Motivação: uma firma poderia aumentar o lucro se pudesse cobrar de cada consumidor exatamente
aquele valor que o mesmo se disporia a pagar pelo produto. Muitos consumidores que pagam o preço
estabelecido na prateleira, por diversas razões, continuariam comprando o produto em questão caso o
preço viesse a ser fixado em níveis mais elevados.

 Definição: a discriminação de preços acontece quando uma firma impõe preços diversos a diferentes
clientes, por razões que não dizem respeito a diferenças de custo.

21
MONOPÓLIO E DISCRIMINAÇÃO DE PREÇO
• DISCRIMINAÇÃO DE PREÇO

 Existem alguns pré-requisitos para que uma firma possa adotar tal prática:

i) A curva de demanda pelo seu produto deve ser negativamente inclinada (ter algum poder de
mercado).

ii) A firma deve possuir a capacidade de identificar diferentes perfis de clientes entre aqueles que
compram o seu produto.

iii) A firma deve ser capaz de estabelecer algum mecanismo que impeça o cliente que paga uma quantia
mais barata de revender o produto para o cliente que paga mais caro.

22
MONOPÓLIO E DISCRIMINAÇÃO DE PREÇO
• DISCRIMINAÇÃO DE PREÇO

 Alguns grupos de consumidores que as empresas costumam discriminar:

i) Aposentados e não aposentados.

ii) Consumidores residenciais e consumidores comerciais.

iii) Jovens e idosos.

iv) Estudantes e não estudantes

v) Homens e mulheres

23
MONOPÓLIO E DISCRIMINAÇÃO DE PREÇO
• DISCRIMINAÇÃO DE PREÇO

 Considere o caso da companhia fornecedora de energia elétrica. A empresa identifica dois


grupos de compradores: consumidores residenciais e consumidores comerciais

𝑪𝒎𝒈
 A partir da regra: Rmg = Cmg, vimos que: 𝑷= 𝟏
𝟏−Ԑ

𝑪𝒎𝒈
 No mercado residencial, temos: 𝑷𝒓 = 𝟏
𝟏−Ԑ
𝒓

𝑪𝒎𝒈
 No mercado comercial, temos: 𝑷𝒄 = 𝟏
𝟏−
Ԑ𝒄

24
MONOPÓLIO E DISCRIMINAÇÃO DE PREÇO
• DISCRIMINAÇÃO DE PREÇO

 Dado que não existe diferença no custo, qual seria então a condição para que a empresa
cobrasse preços diferentes desses dois grupos de consumidores?

𝑪𝒎𝒈 𝑪𝒎𝒈
 𝑷𝒓 = 𝟏 ≠ 𝑷𝒄 = 𝟏 ⇒ Ԑr ≠ Ԑc
𝟏−Ԑ 𝟏−Ԑ
𝒓 𝒄

 Conclusão: a razão para discriminar preço entre grupos é que os mesmos possuam diferentes
elasticidades-preço da demanda. Caso seja detectada alguma diferença entre as elasticidades
dos dois grupos, a regra do lucro máximo exige que seja estabelecido um preço diferente.

25
MONOPÓLIO E DISCRIMINAÇÃO DE PREÇO
• REGRA PARA A DISCRIMINAÇÃO DE PREÇO

 O grupo com maior elasticidade-preço da demanda paga um preço menor

 O grupo com menor elasticidade-preço da demanda paga um preço maior

 Obs 1: Embora as empresas não consigam fazer a discriminação perfeita de preços (entre
cada cliente), conseguem pelo menos discriminar preços de forma imperfeita (entre grandes
grupos de consumidores).

 Obs 2: A discriminação de preço adotada por uma firma com poder de mercado não acontece
por motivação pejorativa (aparência, raça, procedência, etc.). A discriminação de preços é
motivada por razões meramente econômicas: aumentar o lucro da empresa.

26
MONOPÓLIO E DISCRIMINAÇÃO DE PREÇO

Obrigado!

27

Você também pode gostar