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PR-DF-00056671/2021

MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL


PROCURADORIA DA REPÚBLICA - DISTRITO FEDERAL
GABINETE DE PROCURADOR DA REPÚBLICA

Assinado com login e senha por LUCIANA LOUREIRO OLIVEIRA, em 16/06/2021 17:01. Para verificar a autenticidade acesse
Despacho nº 17460/2021
Referência: 1.16.000.000183/2021-81
Assunto: Registrar

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Consoante constou do Despacho 4816/2021, a empresa Precisa Medicamentos,
que representa, no Brasil, o laboratório indiano Bharat Biotech, fabricante da Covaxin, vacina
contra a covid-19, celebrou, com o Ministério da Saúde, o contrato 29/2021 (processo SEI
25000.175250/2020-85) para entrega de 20.000.000 de doses, até 70 dias após a assinatura do
contrato.
Apurou-se (relatórios de pesquisa ASSPA/DF 1441/2021 e 1442/021) que a
empresa tem, entre suas sócias, a GLOBAL Saúde, de sorte que os sócios de ambas são
praticamente coincidentes.
A empresa GLOBAL Saúde, há pouco mais de três anos, entabulou contrato
para venda de medicamentos ao Ministério da Saúde mas não os entregou, causando prejuízos
a centenas de pacientes dependentes de medicamentos de alto custo, e prejuízo de mais de 20
milhões ao erário, ao que consta ainda não ressarcidos. O fato desencadeou uma ação de
improbidade administrativa em face do então Ministro da Saúde (Ricardo Barros) e vários
outros servidores (certidão 4485/2021), estando em curso inquérito policial sobre os mesmos
fatos.
O contrato firmado entre a PRECISA e o Ministério da Saúde, para entrega de
20 milhões de doses da vacina Covaxin tem valor total de 1,6 bilhão de reais (Ofício
1036/2021 MINISTÉRIO DA SAÚDE - PR-DF-00038617/2021), tendo sido a dose
negociada por US$ 15 dólares, preço superior ao da negociação de outras vacinas no mercado
internacional, a exemplo da vacina da Pfizer.
Sucede que, expirados os 70 dias de prazo para a execução escalonada do
contrato, nenhum dos lotes de 4 milhões de doses fora entregue pela contratada PRECISA,
porque a vacina em questão não havia obtido, pelo menos até 05 de junho de 2021,

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autorização emergencial da ANVISA para importação e/ou uso no Brasil.
Todavia, embora se trate a situação de nítida hipótese de descumprimento da
avença, o Ministério da Saúde vem concedendo oportunidades à empresa de sanar as
irregularidades perante a ANVISA, elastecendo os prazos de entrega da vacina, mesmo
sabendo que ainda é incerta a entrega das doses contratadas e, por enquanto, não autorizada
sua distribuição em larga escala (https://agenciabrasil.ebc.com.br/saude/noticia/2021-06/com-
restricoes-anvisa-autoriza-importacao-de-covaxin-e-sputnik-v). Portanto, a finalidade da
celebração do contrato ¿ distribuir, em ampla escala, as doses contratadas dentro do programa

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nacional de imunizações ¿ não tem previsão de ser alcançada, o que deveria reclamar do
gestor público imediata ação corretiva.
A omissão de atitudes corretiva da execução do contrato, somada ao histórico
de irregularidades que pesa sobre os sócios da empresa PRECISA e ao preço elevado pago
pelas doses contratadas, em comparação com as demais, torna a situação carecedora de
apuração aprofundada, sob duplo aspecto ¿ cível e criminal ¿ uma vez que, a princípio, não se

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justifica a temeridade do risco assumido pelo Ministério da Saúde com essa contratação, a
não ser para atender a interesses divorciados do interesse público.
Diante do exposto, determino a remessa deste despacho, acompanhado dos
documentos acima referidos (destacados), ao NUCRIMEX, para distribuição aleatória entre
os ofícios de combate à corrupção e à improbidade administrativa desta unidade, a fim de que
possam adotar as providências cabíveis.

Brasília, 16 de junho de 2021.

LUCIANA LOUREIRO OLIVEIRA


PROCURADORA DA REPÚBLICA

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