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Educação, escola e subjetivação

Psicologia Aplicada à Educação


Para que serve a escola?

O que aprendem as crianças na escola?


Escola e subjetivação

Escolas – territórios de constituição de


indivíduos em sujeitos através das técnicas do
poder disciplinar e tecnologias do eu
Escolas e seus dispositivos de subjetivação:
• Disposição do espaço;
• Formas bem estruturadas de organização da
vida interna da instituição;
• Distribuição de pessoas e de funções.
FORMAS REGULADAS DE COMUNICAÇÃO
(lições, questionários, ordens)
+
CONJUNTO DE PRÁTICAS DE PODER
(clausura, vigilância, recompensa, punição)

CONFORMAM CAMPO DO QUE É POSSÍVEL


PERCEBER, DIZER, JULGAR, PENSAR E FAZER
(internalização de práticas, saberes, atitudes,
crenças, condutas, valores)
“Ao início das lições escritas, a professora costuma dar às crianças várias instruções no sentido de
que mantenham ‘cabeça atrás de cabeça’, ‘os ombros para a frente’, a ‘cabeça erguida’ e as ‘pernas
debaixo da carteira’, enfatizando que a postura em classe não pode ser descuidada, pois ‘não estão
no sofá de suas casas’. Sempre atenta, vai corrigindo cada gesto desviante, cada movimento, como
se colocasse cada criança numa fôrma pré-moldada. Nos momentos de leitura, não cessa de fazer
recomendações como: ‘Leiam com os olhos, os olhos não falam, depois vamos comentar a história’;
‘sente com as pernas para dentro da carteira e apóie o livro na mesa para ler’.” (p.252-253)

Falas de um aluno sobre situações vividas na escola:

“Sua primeira lembrança escolar localiza-se na pré-escola:

‘A professora só mandava a gente ficar fazendo bolinha, eu ficava cheio disso. A gente tinha que ficar
quietinho, se fazia coisa que a professora não tinha mandado, ela arrancava a folha do caderno...
mas eu fazia assim mesmo.’

Quando fala de sua classe e de sua professora atuais, Nailton também revela sua insatisfação:

‘Agora na escola a professora coloca uma menina para marcar as crianças que faz bagunça. Eu já to
cheio; a gente não pode nem jogar papel no lixo, nem pedir nada emprestado que a menina já marca.
Qualquer dia eu acerto essa menina.’
Atores escolares são sujeitados no interior de
conjunto complexo de relações de produção,
significado e poder

• Relações não verticais, mas multidirecionais

• Não ocorre em termos de repressão e tirania

Educar comporta sujeitar indivíduos a técnicas


de vigilância, exame e avaliação que os
objetivam e subjetivam, simultaneamente.
O que aprendem as crianças na escola?
• Conteúdos

• COISAS SOBRE SI E POR SI


– Aprendem que o que são depende de sua
acomodação à normas, condutas, ideias, crenças e
valores praticados por outros.

– Exs.: comportamentos esperados de acordo com o


gênero – aprendidos nas entrelinhas do cotidiano
escolar.
Subjetivação
1) Torna-se sujeito para outros (através de
técnica do poder disciplinar);

2) Torna-se sujeito para si mesmo (pela


consciência e conhecimento de si que
aprendem por regime de verdade-poder
reinante na escola e por tecnologias do eu).
• Intervenção pedagógica contém práticas de
subjetivação e objetivação

• Dá-se de acordo com conjunto de regras e


procedimentos que limitam o que o sujeito
pode fazer ou dizer
“Nas escolas, os indivíduos têm experiências de si que
modificam sua relação com si mesmos numa direção
precisa” (KOHAN, p.150, grifo meu)

TECNOLOGIAS DO EU

5 dimensões: perceptiva, discursiva, moral, cognitiva, de


governo.

Práticas de exame e avaliação – dispositivo de governo


de si pela criação de um DUPLO
Interiorização de um outro eu que é
construído quando me percebo, me digo,
me julgo, me penso, me governo.
• Escola atravessada por discursos –
emaranhados de saber e poder

• Poder sempre se ancora em uma referência de


verdade (diferente de violência)

Adesão dos sujeitos (caráter positivo do poder)


• Discursos traçam dispositivos que produzem
subjetividade.

• São ambíguos e contingentes; só podem ser


compreendidos em contextos micropolíticos e
nas sutilezas de cada prática.

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Psicologia do desenvolvimento e
aprendizagem e subjetivação na escola

• Discurso que traça uma série de dispositivos


de subjetivação na escola

O que é ser criança?

Define modos concretos e normativos de


comportamento e desenvolvimento.
De que infância nos fala a psicologia do
desenvolvimento? – Hillesheim e Guareschi

• Infância como invenção da Modernidade


– nasce com a escola e com preocupações que só
são possíveis por conta de uma série de fatores:
decréscimo da mortalidade infantil, influência
cristianismo, novas formas de produção e de vida
familiar.

– Torna-se objeto discursivo – construção, não


natural.
Há uma essência ou natureza infantil?

Hannah Arendt:
Quem eu sou x O que sou

Identidade x natureza

Práticas de significação
e sistemas simbólicos
• Saberes sobre criança produzem sujeito
infantil diferenciado do adulto
– Identidade construída a partir de relação de
alteridade adulto-criança

• Adulto é aquele que traduz a infância e a


representa
– traduz assimilando, transportando o outro para o
lugar do mesmo

• Representação da infância como menoridade


– Relação de assimetria e desigualdade
Traduções e representações da infância:

- Algo a ser superado (pecado ou irracionalidade)


- Algo a ser preservado (pureza e inocência)

Em ambos os casos, crianças representadas como


necessitando de orientação do adulto
Assim, na Modernidade inaugura-se:
- Educação como tecnologia de governo;
- Sistematização dos saberes-poderes para falar
da infância > Psicologia do Desenvolvimento

descreve, nomeia e explica; produz sujeitos


infantis; classificação e normalização.
• Psicologia do Desenvolvimento colabora com
organização do sistema escolar, buscando
verdade sobre infância;
• Permite que práticas escolares classifiquem e
ordenem crianças por seu desempenho.

Infância – trajetos prescritos e explicitados –


normatizada.

Especialistas – autoridade para estabelecer


regimes de verdade que permitem governo das
crianças
• Infância como construção discursiva – institui
posições para os sujeitos e modos de ser;

Características:
1. Desenvolvimento sequencial rumo a uma
racionalidade;
2. Ideia de progressão, que serve a projeto
emancipatório;
3. Estado de passagem, imperfeito e inacabado;
4. Tempo vazio.
• Aos poucos, dá-se à infância um lugar natural:
ocorre um processo de normalização.
– Lugar difícil de ser problematizado.

• Infância normal privilegia alguns sujeitos:


– Crianças de família nuclear burguesa +
marcadores sociais (sexo, gênero, raça, etnia,
religião, nacionalidade)
– Legitima estado ideal; exclui possibilidades
alternativas de ser criança.
Para desnaturalizar classificações, há que se
problematizar o normal e a normalidade

Questionamentos não servem para dizer que


discursos são falsos, mas para mostrar seu
caráter produtor de realidade e possibilitar
criação de outras formas de compreensão do
mundo e da infância.

Caráter arbitrário e contingente dos dispositivos


de subjetivação dominantes.

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