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MANUAL DE ROTINAS DE
GINECOLOGIA E OBSTETRÍCIA
DA MATERNIDADE
CARMELA DUTRA
Volume 1: Obstetrı́cia
CEJP
4a edição
Florianópolis - SC, 2018
2
Qualquer parte desta publicação pode ser reproduzida, desde que seja citada
a fonte.
Editor
Centro de Estudos Dr José de Patta - CEJP
R. Irmã Benwarda, 208. Florianópolis - SC 88015-270
ISBN: 978.
1 Assistência ao pré-natal 1
2 Abortamento 15
2.1 Ameaça de aborto . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 15
2.2 Aborto inevitável . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 16
2.3 Aborto incompleto . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 16
2.4 Aborto completo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 17
2.5 Aborto retido/ gestação anembrionada . . . . . . . . . . . . . . 17
2.6 Aborto infectado . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 18
2.7 Interrupção legal da gestação . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 19
2.8 Aborto de repetição . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 21
3 Gestação ectópica 27
5 Hiperêmese gravı́dica 37
7 Diabetes mellitus 54
7.1 Diabetes na gravidez . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 54
7.2 Diabetes mellitus tipo I . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 59
i
ii
10 Gestação prolongada 74
12 Gestação gemelar 83
16 Trombofilias 110
Assistência ao pré-natal
Cuidados pré-concepcionais
São tão importantes quanto os cuidados durante a gestação pois quando
da primeira consulta do pré-natal, a maior parte da organogênese já ocorreu:
• Suplementação de Ácido Fólico na dose de 0,4 a 0,8 mg/dia. Deve ser ini-
ciado pelo menos 30 dias antes da concepção e mantido nos 3 primeiros meses
de gestação para diminuir o risco de defeitos de tubo neural e de autismo. Em
gestantes obesas, diabéticas, epilépticas, com doenças desabsortivas (doença
de Crohn, celı́aca, pós-cirurgia de ressecção intestinal ou bypass), insuficiência
renal ou hepática e alcoolatras ou com concepto afetado em gestação anterior,
aumentar a dose para 5 mg/dia.
• Peso materno adequado. Gestantes desnutridas têm maior risco de cres-
cimento intrauterino restrito e de parto prematuro enquanto que gestantes
obesas têm maior risco de abortamento e óbito intrauterino, macrossomia
fetal, malformações fetais, diabetes na gravidez, pré-eclâmpsia, fenômenos
tromboembólicos, parto cesáreo, dificuldades anestésicas e complicações pós-
operatórias da parede abdominal em caso de cesariana.
• Estabilização de doenças crônicas que interferem com a evolução nor-
mal da gestação tais como diabetes mellitus, hipertensão, lúpus, cardiopatias,
tireoidopatias, fenilcetonúria, anemia severa e insuficiência renal.
• Troca ou suspensão, quando possı́vel, de medicamentos teratogênicos
1
2 Manual de rotinas da MCD
Primeira consulta
Deve ser realizada preferencialmente no primeiro trimestre.
A confirmação de gestação inicial é feita pela dosagem do β-hCG. O β-hCG
plasmático é detectável após 9 dias da fecundação (antes do atraso menstrual),
apresenta pico de 50.000 a 100.000 mUI/ml por volta da décima semana de
gestação com queda progressiva dos valores e elevação discreta por volta da
trigésima quarta semana. O teste imunológico (TIG) torna-se positivo após 4
a 7 dias de atraso menstrual.
• Realização de anamnese com ênfase à idade, ocupação, estado civil, an-
tecedentes obstétricos (paridade, via de parto, intervalo interpartal e antece-
dentes de parto prematuro, crescimento intrauterino restrito, pré-eclâmpsia,
diabetes, sangramento puerperal, distocia de ombro, perdas fetais, malforma-
ções, déficit neurológico) e ginecológicos (regularidade dos ciclos menstruais,
miomatose e cirurgias uterinas), doenças prévias, antecedentes familiares, evo-
lução da gestação atual e aceitação da gestação além de hábitos nutricionais
e comportamentais (exercı́cio fı́sico, uso drogas, fumo ou álcool) e alergias.
• Realização de exame fı́sico incluindo coloração das mucosas, presença
de varizes de membros inferiores e de vulva e de deformidades esqueléticas,
ausculta cardı́aca, exame especular e coleta da colpocitologia oncótica (coletar
apenas da ectocérvice pelo risco de sangramento após uso da escova endocer-
vical), quando necessária, exame das mamas além do exame obstétrico:
- Peso: a gestante deve ser pesada sem casaco e sem sapato.
- Pressão arterial (PA): a PA deve ser avaliada com a gestante sentada,
com braço ao nı́vel do coração, após pelo menos 5 minutos de repouso.
Assistência ao pré-natal 3
Consultas subsequentes
Nas gestações de baixo risco, é preconizado a realização de pelo menos 6
consultas, com a seguinte distribuição: mensalmente até a trigésima segunda
semana, quinzenalmente entre 32 e 36 semanas e semanalmente da trigésima
sexta semana até o nascimento, na dependência de vaga. Nas gestações de
alto risco, a frequência das consultas dependerá da patologia de base.
Pela Consolidação das Leis Trabalhistas (CLT), toda gestante tem dis-
pensa do horário de trabalho pelo tempo necessário para a realização de, no
mı́nimo, 6 consultas médicas e demais exames complementares (modificado
pela Lei no 9.799, de 26.5.1999).
• Avaliação das queixas da gestante.
4 Manual de rotinas da MCD
Exames
Exames laboratoriais
• Hemograma: solicitar a cada trimestre.
• Tipagem sanguı́nea: solicitar na primeira consulta de pré-natal. Se
Rh (-) e variante Du (-), solicitar Coombs indireto na primeira consulta e
repetir mensalmente após a décima oitava semana.
• Glicemia: solicitar no primeiro trimestre. Normal até 92 mg/dl.
• Curva glicêmica de 3 pontos com 75 g: exame de rastreamento
que deve ser solicitado à toda gestante entre 24 e 28 semanas de gestação. A
glicemia é mensurada em jejum de 8 a 12 horas e após uma e duas hora da
ingestão de 75 g de glicose. Valores normais: jejum: ≤ 92; após 1 hora: ≤
180; 2 h: ≤ 153 mg/dl.
• VDRL/ teste treponêmico: solicitar os 2 exames na primeira con-
sulta. Se negativos, repetir no segundo e terceiro (por volta de 30 a 32 sema-
nas) trimestres.
6 Manual de rotinas da MCD
Cuidados gerais
• Dieta: a nutrição correta é essencial para que a gestação se desenvolva
de modo satisfatório, tanto para a mãe como para seu filho, proporcionando o
crescimento e desenvolvimento adequado do feto e do recém-nascido através da
amamentação. O requerimento básico da mulher é de 1.800 a 2.200 Kcal/dia
(25 a 35 Kcal/peso ideal). A gestante requer um acréscimo de 300 a 500 Kcal/
dia dependendo do peso e da atividade fı́sica.
De modo geral, recomendar ingestão de carnes (preferencialmente sem gor-
dura) e frutos do mar bem cozidos, ovos, miúdos, frutas, verduras, legumes,
grãos, leite e derivados pasteurizados (preferencialmente desnatados) e gela-
tina e reduzir a ingestão de massas, arroz, refrigerantes, doces, chocolates e
sorvetes, pães (dar preferência aos integrais), embutidos, patês e defumados.
Para evitar hipoglicemia, orientar ingestão frequente de alimentos, em pe-
quena quantidade, a cada 3 horas. Quanto aos adoçantes, evitar Sacarina e
Ciclamato (categoria C) e dar preferência para Aspartame (categoria B).
Assistência ao pré-natal 9
alı́vio da dor. Evitar uso de papel higiênico dando preferência a ducha após
as evacuações. Encaminhar ao proctologista em caso de trombose. Regridem
após o parto.
• Rinite e epistaxe: frequente na gestação pelo edema da mucosa.
• Dispneia e palpitação: podem manifestar-se desde o inı́cio da gesta-
ção.
•Varizes de membros inferiores e vulva: são muito frequentes na ges-
tação. Geram queimação nos membros inferiores, principalmente no perı́odo
vespertino, sensação de peso e cansaço que pioram com o aumento da tempe-
ratura e com a posição de pé ou sentada por tempo prolongado. O tratamento
consiste em orientações gerais (deambulação frequente, evitando permanecer
muito tempo em pé ou sentada, repouso com membros inferiores elevados),
uso de meias calças elásticas próprias para gestante. Geralmente diminuem
no puerpério pela melhora do retorno venoso e queda dos nı́veis hormonais.
• Dor lombar e pélvica: queixa frequente que piora com a progressão
da gestação, geralmente sem comprometimento neurológico associado, sendo
mais severa nas gestantes que já apresentavam alterações prévias na coluna.
É causada pelas alterações posturais próprias da gestação consequentes ao au-
mento de peso e do volume abdominal com acentuação da lordose e aumento
da base de sustentação e à frouxidão ligamentar com aumento da mobilidade
pélvica e alargamento da sı́nfise púbica. Aliviam com a fisioterapia e hidro-
ginástica. O uso de cinta própria para gestante pode ajudar em alguns casos
pois dá sustentação ao abdome inferior.
• Dor em região inguinal: causada pela distensão ligamentar.
• Cãimbras: mais frequente a noite, na segunda metade da gestação.
Orientar caminhadas diárias e, eventualmente, uso de Hidróxido de Alumı́nio
e de Magnésio.
• Sı́ndrome do túnel do carpo: causada pelo edema do punho com
compressão nervosa levando ao formigamento, dor e dificuldade de movimento.
Recomenda-se elevar os membros superiores e uso de tala. Eventualmente
pode ser necessário uso de diurético.
• Edema: ocorre principalmente no último trimestre e é exacerbado no
perı́odo vespertino. Se fisiológico, alivia com repouso e elevação do membros
inferiores. Quando importante e generalizado, descartar pré-eclâmpsia.
• Incontinência urinária, noctúria, polaciúria: frequentes no inı́cio
e no final da gestação pela compressão da bexiga pelo útero gravı́dico levando
à diminuição da capacidade vesical.
• Corrimento: ocorre um aumento fisiológico da umidade vaginal, sem
odor ou prurido.
• Contrações uterinas: contrações esporádicas, indolores são frequentes
a partir da segunda metade da gestação.
• Mastalgia: queixa frequente, presente em quase todas as gestantes,
Assistência ao pré-natal 13
Vacinas
• Tétano, difteria, coqueluche, hepatite B, gripe: sem contraindicação
• Raiva, pneumococo, meningococo, hepatite A: pode ser utilizado em
situações especiais
• Sarampo, rubéola, caxumba, varicela: contraindicadas
• Febre amarela: administrar apenas se viagem para zona endêmica
• Tuberculose (BCG): evitar na gestação
• Poliomielite: se necessária, usar a Salk; a Sabin é contraindicada
• HPV: evitar na gestação
Abortamento
15
16 Manual de rotinas da MCD
endovenosa deve ser mantida por 48 horas após o último pico febril, quando se
inicia Doxiciclina 100 mg VO 12/12 hs por 7 dias. A alta hospitalar será dada
após 24 horas do inı́cio do antibiótico oral. Caso não haja melhora do quadro,
solicitar USG pélvico e/ou tomografia computadorizada para descartar outro
foco de infecção. A suspeita de tromboflebite pélvica é feita pela não melhora
do quadro clı́nico apesar do tratamento. Nestes casos iniciar a heparinização
plena. A histerectomia pode ser necessária se não houver melhora do quadro,
evoluir para choque séptico e se houver perfuração uterina.
• Esvaziamento uterino: deve ser realizado o mais precocemente pos-
sı́vel, após pelo menos 2 horas do inı́cio do antibiótico, salvo nos casos de
sangramento profuso. Lembrar que não é aconselhável realizar a curetagem
na vigência de febre.
Complicações da curetagem/AMIU
• Perfuração uterina: suspeitada durante a curetagem. Suspender o
procedimento pelo risco de lesão de órgãos próximos. A conduta é expectante;
raramente há a necessidade de laparotomia exploradora. Realizar USG para
avaliar se o esvaziamento do útero foi completo. Na presença de pequena
quantidade de restos intracavitários, sem sinais de infecção, pode-se adotar
uma conduta expectante e prescrever Metilergometrina 1 comp VO 8/8 hs
por 3 dias ou Misoprostol 800 µg intravaginal em dose única e repetir o USG
de controle em 3 a 7 dias. Por outro lado, se houver grande quantidade de
material intracavitário e/ou sangramento persistente, repetir a curetagem,
preferencialmente guiada por USG.
• Esvaziamento incompleto da cavidade uterina: só há a necessidade
de reintervenção se ainda restar uma grande quantidade de material intraca-
vitário, na presença de sangramento importante ou de infecção intrauterina.
Pode-se prescrever Metilergometrina VO 8/8 hs por 3 dias ou Misoprostol 800
µg intravaginal em dose única e repetir o USG em 3 a 7 dias.
• Endometrite: utilizar o mesmo esquema de antibioticoterapia do aborto
infectado. Realizar USG para descartar a presença de restos.
• Sinéquias uterinas: complicação tardia.
Abortamento 21
AMIU
A aspiração manual intrauterina (AMIU) é preconizada pelo Ministério da
Saúde como sendo método eficaz e de baixo custo para esvaziamento uterino
do primeiro trimestre. Apresenta menor risco de lesão endometrial e falha
semelhante à curetagem tradicional (± 3%).
Técnica:
• Criar vácuo fechando a seringa e tracionando o êmbolo;
• Inserir a cânula de tamanho adequado (geralmente o número da cânula
corresponde à IG) na cavidade uterina;
• Conectar seringa na cânula e liberar o vácuo destravando a seringa;
• Realizar movimentos de vai e vem e rotação da cureta de modo que todo
o interior do útero seja aspirado tomando o cuidado para não exteriorizar a
abertura da cureta para não desfazer o vácuo;
• Fechar e desconectar a seringa da cânula para retirá-la. Caso o compar-
timento da seringa esteja cheio, deve-se fechar e desconectar a seringa para
esvaziá-la, refazer o vácuo e reiniciar a curetagem (fig. 2.1).
• Glicemia. prolactina
• Homocisteina, proteina C e S funcionais, fator V de Leiden, mutação do
gene da protrombina
• Ultrassom transvaginal 3D
• Histerossalpingografia
• Pesquisa de células NK sanguı́neas
Gestação ectópica
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28 Manual de rotinas da MCD
Diagnóstico
A suspeita diagnóstica é feita na maioria das vezes entre a sexta e a décima
segunda semana de gestação.
• Quadro clı́nico: dor abdominal por distensão, compressão ou rotura
da tuba (97% a 99%), atraso menstrual (68%), sangramento irregular devido
a inadequada sustentação hormonal (75% a 79%), dor a mobilização do colo e
a palpação de fundo de saco posterior e anexo, massa anexial palpável (53%),
sinais de irritação peritoneal e/ou de choque hipovolêmico e dor escapular nos
casos de rotura da gestação ectópica.
• Dosagem de β-hCG quantitativo: deve ser realizada em toda paci-
ente que procura a Emergência com queixa de dor pélvica aguda com atraso
menstrual ou irregularidade menstrual. Com nı́veis de β-hCG acima de 2.000
mUI/ml, é obrigatório a identificação de saco gestacional intraútero por meio
de ultrassonografia transvaginal. A dosagem seriada de β-hCG mostra um
aumento inadequado nos seus nı́veis.
• Ultrassonografia (USG) transvaginal: os achados ultrassonográfi-
cos são variáveis: saco gestacional ectópico com vesı́cula vitelı́nica ou embrião
com BCF (único sinal especı́fico); presença de anel tubário; sinal do halo (halo
de 2 a 4 mm, anecoico ao redor do anel tubário devido ao edema da subserosa);
lı́quido livre em fundo de saco posterior e útero vazio; presença de pseudo-
saco gestacional com formato alongado ou oval com margens irregulares na
cavidade endometrial; eco endometrial espessado. No Doppler, o saco ges-
tacional apresenta fluxo periférico. A vascularização uterina está aumentada
na gestação tópica. Diagnóstico diferencial com cisto de corpo lúteo (roto ou
não).
• Culdocentese: a presença de lı́quido sanguinolento não coagulável é
sugestiva de gestação ectópica (diagnóstico diferencial de hemoperitônio). Re-
servado para os casos em que não se dispõe de outros métodos diagnósticos.
Manejo
• Internar no Anexo.
• Medidas gerais: acesso venoso calibroso, solicitar hemograma e reservar
sangue.
• Gestantes com β-hCG abaixo de 2.000 mUI/ml e imagem anexial menor
que 3 cm, sem lı́quido livre em fundo de saco posterior, estáveis hemodinami-
camente, assintomáticas ou com poucos sintomas, adotar conduta expectante.
Coletar novo β-hCG em 24 a 48 horas e repetir a USG até firmar o diagnóstico.
• Tratamento clı́nico:
- Expectante: indicado na suspeita de aborto tubário se massa anexial
menor que 3 cm, sem BCF, β-hCG em declı́nio e abaixo de 1.000 mUI/ml e
trompa ı́ntegra. Acompanhar com β-hCG semanal no Ambulatório de Repro-
dução Humana. Orientar quanto a possibilidade de rotura.
- Medicamentoso: indicado para gestantes hemodinamicamente está-
veis, com trompa uterina ı́ntegra, dosagem de β-hCG abaixo de 5.000 mUI/ml,
massa anexial menor que 4 cm e ausência de BCF, que desejam manter a
trompa e com possibilidade de acompanhamento e de retorno à Maternidade
em caso de rotura. Está contraindicado em paciente que foi ou que será
transfundida, com sensibilidade ao Metotrexate e evidência de lesão hepática
e renal ou de supressão da medula óssea.
Utiliza-se o Metotrexate na dose de 50 mg/m2 de superfı́cie corporal (vide
tabela abaixo) em dose única, IM. Deve-se realizar a dosagem de β-hCG
quantitativo após 4 e 7 dias. Repetir uma segunda dose do fármaco se não
houver queda de pelo menos 15% dos nı́veis de β-hCG do dia 7 em comparação
com o dia 4. Manter a paciente internada pelo menos nos primeiros 7 dias.
Acompanhar com β-hCG semanal até sua negativação no Ambulatório de
Gestação Molar. A USG só deverá ser repetida precocemente se não houver
diminuição dos nı́veis de β-hCG ou na suspeita de rotura pois a imagem
ultrassonográfica leva algumas semanas para desaparecer. Orientar quanto a
possibilidade de rotura tubária e seus sintomas.
O Metotrexate é uma droga antagonista do ácido fólico que atua inibindo
a atividade proliferativa do trofoblasto. Os efeitos colaterais ocorrem em
1% dos casos após dose única e em 4% a 5% dos casos quando empregado
em doses múltiplas e incluem náuseas, vômitos, diarreia, cólicas abdominais,
estomatite, conjuntivite, depressão medular e discreta elevação das enzimas
hepáticas. Pode ocorrer dor pela reabsorção do material e pela formação de
hematoma tubário. Pior resultado quanto maior a dosagem de β-hCG e o
tamanho da massa anexial e se o feto estiver vivo.
Doença trofoblástica
gestacional
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32 Manual de rotinas da MCD
Diagnóstico
A MHC cursa com sangramento vaginal entre a sexta e a 16a semanas
de gestação em 80 a 90% dos casos, podendo ocorrer eliminação de vesı́cu-
las. Com o avanço da gestação podem ser observados volume uterino maior
que o esperado para a idade gestacional, hiperêmese gravı́dica, pré-eclâmpsia
precoce. Pode haver sinais e sintomas de hipertireoidismo, devido aos nı́veis
elevados de beta-hCG.
Na MHP, em mais de 60% dos casos a sintomatologia confunde-se com
aborto incompleto ou retido, sendo o diagnóstico feito apenas pele avaliação
histológica do material de curetagem.
À ultrassonografia, apenas metade das gestações molares de primeiro tri-
mestre têm aparência clássica ao ultrassom. Na MHC, a presença de massa
intracavitária hipervascularizada e multicı́stica é bastante sugestiva. Na MHP
podem ser observadas alterações cı́sticas focais na placenta e alterações no
formato do saco gestacional. A presença de cistos teca-luteı́nicos é outra al-
teração que pode ser encontrada.
Manejo
• Internar no Anexo.
• Solicitar β-hCG quantitativo, hemograma, tipagem sanguı́nea, TSH,
TGO, TGP, Rx tórax, USG abdome (ou TC), USG transvaginal (se necessá-
rio).
• Reservar sangue.
• Esvaziamento uterino: evitar o uso de misoprostol pelo risco de emboli-
zação trofoblástica. O método de escolha é a aspiração intrauterina, manual
Doença trofoblástica gestacional 33
Seguimento pós-molar:
• Dosagem semanal do β-hCG na MCD (mesmo laboratório, mesma me-
todologia) e acompanhamento semanal no ambulatório de DTG.
• Anticoncepção: métodos hormonais estão indicados. DIU e SIU-levonorgestrel
estão contraindicados pelo risco de perfuração uterina nos casos de doença in-
vasora ou coriocarcinoma.
• Na MHP, após 3 exames semanais normais (inferior a 5), a paciente é
liberada, mantendo contracepção por, pelo menos, 6 meses.
• Na MHC, após 3 exames semanais normais, o controle passa a ser mensal,
durante 6 meses.
• β-hCG em plateau (variação menor que 10%) ou ascensão durante 3
semanas consecutivas fecha diagnóstico de doença persistente ou maligna -
NTG
Estadiamento anatômico:
I - Doença restrita ao útero
II - Pelve, vagina, anexos e ligamento largo
III - Pulmões, com ou sem envolvimento genital
IV - Outras metástases
Escore de risco:
Fator de risco 0 1 2 4
Idade < 40 ≥ 40 - -
Gestação anterior Mola Aborto Termo -
Intervalo GA-NTG <4 4-6 7 - 12 > 12
hCG prévio < 103 103 - 104 104 - 105 > 105
Maior tumor (cm) <3 3-4 ≥5 -
Sı́tio metástase Pulmão Baço/rim gastroint. cérebro/fı́gado
No de metástase 0 1-4 4-8 >8
Falha QT - - agente único 2 ou +
Tratamento
1. Baixo risco (escore 0-6):
• Quimioterapia com agente único: metotrexate - 1mg/Kg IM (dias 1-3-5-
7), intercalado com ácido folı́nico 15 mg VO (dias 2-4-6-8). Repetir a cada 2
semanas (6 dias de intervalo sem medicação). Coletar β-hCG antes do inı́cio
de cada ciclo. Deverão ser realizados 2 ou 3 ciclos de consolidação após a
normalização do β-hCG.
• Opção: Actinomicina D
• Histerectomia: indicada em casos selecionados, com doença restrita ao
útero e pacientes com prole constituı́da. Não elimina a necessidade de segui-
mento. Útil em casos de quimiorresistência (TTSP), isolada ou associada a
metastectomia.
• Segunda curetagem: doença restrita ao útero (intracavitária), escore 0 a
4 - controverso.
Hiperêmese gravı́dica
Diagnóstico
É eminentemente clı́nico. Os exames complementares não são especı́ficos
para seu diagnóstico. Eles se prestam para a avaliação das repercussões clı́-
nicas, desequilı́brios hidroeletrolı́ticos e ácido-básico, desnutrição e exclusão
de outras condições clı́nicas. As gestantes referem perda progressiva de peso,
persistência dos vômitos, muitas vezes com sangue, apesar do uso de antie-
méticos orais, fraqueza, desmaio e diminuição do débito urinário. Ao exame
clı́nico, apresentam queda do estado geral, desidratação e sinais de hipovo-
lemia (hipotensão, taquicardia, sudorese). Em fases mais avançadas pode
ocorrer sintomas de psicose e alterações do comportamento associada à perda
de memória e do aprendizado (sı́ndrome de Korsakoff), coma e óbito.
37
38 Manual de rotinas da MCD
Tratamento
• Internar na Unidade de Gestação de Alto Risco.
• Solicitar hemograma, Na+ , K+ e TSH. Dependendo do quadro clı́nico,
pode ser necessário gasometria, Cl, TGO e TGP, bilirrubinas e creatinina.
• Solicitar ultrassonografia para descartar corioma e gestação múltipla.
• Monitorização dos sinais vitais e da diurese; registro dos episódios de
vômito; verificação do peso a cada 2 dias.
• Suporte psicológico.
Primeiro dia:
• Dieta zero
• Soro Glicosado 5% 500 ml - 2 frascos + Complexo B e C 1 ampola
em cada frasco de Soro Glicosado EV 24 gotas/min. A complementação vi-
tamı́nica é necessária para evitar a sı́ndrome de Wernicke caracterizada por
confusão mental, ataxia e alterações oculares.
• Soro Fisiológico 0,9% 500 ml (total de 2 frascos) EV 24 gotas/min.
• Clorpromazina 25 mg IM 12/12 hs.
• Antiemético endovenoso: Metoclopramida 10 mg ou Dimenidrinato 30
mg + Piridoxina 50 mg ou Ondansetrona 4-8 mg 8/8 hs.
• Ranitidina 50 mg EV 12/12 hs ou Omeprazol 10 mg/dia EV.
• Reposição de K+ , quando necessário. A hipopotassemia leva a fraqueza
muscular, ı́leo paralı́tico, paralisia, insuficiência respiratória e alterações no
ECG. A solução de potássio pode conter até 40 mEq/l. A infusão máxima é
de 10 a 20 mEq/h (máximo de 200 mEq/dia). 1 ampola de KCl tem 10 ml;
1 ampola de KCl 10% contém 1,3 mEq/ml; 1 ampola de KCl 19,1% contém
2,68 mEq/ml.
Segundo dia:
• Persistência dos vômitos: manter mesmo esquema.
• Parada dos vômitos: liberar dieta liquida, gelada, fracionada; retirar
clorpromazina e manter demais medicações.
Terceiro dia: se parada dos vômitos, continuar com dieta lı́quida, gelada
e fracionada e iniciar antiemético oral (Metoclopramida 10 mg 8/8 hs ou
Dimenidrinato 100 mg 6 hs ou Meclizina 25 mg 12/12 hs ou Ondansetrona
4-8 mg a cada 8-12 hs). Caso contrário, reiniciar esquema do primeiro dia.
+
Capı́tulo 6
Hipertensão arterial na
gravidez
40
Hipertensão arterial na gravidez 41
• O manguito deve ser inflado e a PAS aproximada deve ser sentida pelo
desaparecimento do pulso radial.
• O manguito deve ser reinflado até 20 a 30 mmHg acima da PAS deter-
minada pela palpação e desinflado lentamente (2 a 3 mmHg/seg).
• A PAS é considerada a primeira de duas batidas consecutivas ouvidas
(primeiro som de Korotkoff) e a PAD, a última batida (quinto som de Ko-
rotkoff). Caso não haja desaparecimento da batida, considerar como sendo a
PAD, a última batida forte (quarto som de Korotkoff).
• Repetir após 30 segundos.
42 Manual de rotinas da MCD
Prognóstico: quando leve (PAS entre 140 e 159 e PAD entre 90 e 109
mmHg), apresenta prognóstico semelhante ao da gestante normotensa. Quando
severa (PA ≥ 160/110 mmHg) em idade gestacional precoce, ou leve associ-
ada a perda perinatal ou pré-eclâmpsia prévia, idade materna acima de 40
anos, com diabetes mellitus, hipertensão secundária ou com lesão de órgãos-
alvo, apresenta maior risco de desenvolver complicações maternas (encefalo-
patia hipertensiva, AVC, EAP, insuficiência cardı́aca e renal, pré-eclâmpsia
e descolamento prematuro de placenta (DPP)) e perinatais (prematuridade,
crescimento intrauterino restrito (CIUR) e óbito perinatal). A presença de
pré-eclâmpsia sobreposta (20% a 40% dos casos), suspeitada pelo apareci-
mento ou piora da proteinúria, aumento da PA em gestante com pressão
controlada, sinais premonitórios de eclâmpsia, aumento das transaminases e
LDH ou plaquetopenia, piora muito o prognóstico.
Manejo
Pré-natal:
• Dieta hiperproteica e hipossódica.
• Medicação anti-hipertensiva:
- Reavaliar a necessidade do uso de drogas anti-hipertensivas. As hiper-
tensas leves normalmente não as necessitarão, em virtude da redução da re-
sistência periférica causada pelos altos nı́veis de progesterona e do efeito de
shunt arterio-venoso da placenta.
- Manter terapêutica prévia a gestação, quando for necessário, devendo ser
evitado o uso dos inibidores da enzima de conversão, pelas consequências de-
letérias sobre o feto (CIUR, oligoâmnio, óbito fetal e neonatal e insuficiência
Hipertensão arterial na gravidez 43
6.2 PRÉ-ECLÂMPSIA
A incidência de pré-eclâmpsia varia entre 5% e 10%. A pré-eclâmpsia é
não só a mais comum e perigosa complicação obstétrica para a mãe e o feto,
44 Manual de rotinas da MCD
Prevenção: o uso de AAS 100 mg VO a noite deve ser iniciado com 12 sema-
nas de gestação para as gestantes de risco (história prévia de PE, hipertensão,
46 Manual de rotinas da MCD
Quadro clı́nico
Pode ser insidioso com aumento progressivo dos nı́veis tensionais, edema
generalizado e aumento excessivo de peso (> 500 g/semana) ou fulminante
com rápida deterioração clı́nica da mãe e do bem estar fetal. O prognóstico é
pior quanto menor a idade gestacional e quanto mais rápida for a instalação do
quadro, especialmente abaixo de 24 semanas, quando as complicações mater-
nas são extremamente frequentes e o prognóstico fetal reservado. A ausência
de edema está associado a um quadro mais grave. A presença de doenças de
base tais como diabetes mellitus, nefropatia, trombofilia e hipertensão crônica
também influi negativamente na evolução da doença.
O diagnóstico é confirmado pela presença de proteinúria (> 300 mg em
urina de 24 horas ou relação proteı́na/ creatina urinária ≥ 0,3) e/ou de ou-
tras alterações laboratoriais como hemoconcentração ou anemia hemolı́tica,
plaquetopenia, aumento das transamisases e hiperuricemia. A proteinúria de
24 horas deve ser solicitada se houver 2+ de proteina ou mais no parcial de
urina. A primeira urina da manhã deve ser desprezada e a hora anotada.
A partir daı́, toda urina deve ser guardada sendo que a última micção deve
ocorrer exatamente ao término das 24 horas. No parcial de urina, a presença
de 1+ de proteı́na equivale à aproximadamente 300 mg de proteı́na em urina
coletada em 24 horas mas apresenta muitos falsos positivos. Em alguns casos,
mesmo graves, a proteinúria está ausente. Lembrar que a proteinúria pode
estar presente em outras situações tais como pielonefrite e nefropatias prévias
consequentes à hipertensão, diabetes mellitus ou lúpus. O ácido úrico aumen-
tado (> 4,5 mg/dl) e fundo de olho normal ajudam no diagnóstico diferencial
entre pré-eclâmpsia e hipertensão crônica em gestantes com inı́cio do pré-natal
tardio. Os reflexos tendinosos estão geralmente exacerbados.
Toda gestante que interna com aumento dos nı́veis tensionais
e/ou sinais premonitórios de eclâmpsia, deve ser rastreada para
a doença. Solicitar inicialmente hemograma com plaquetas, ácido úrico,
creatinina, TGO, desidrogenase lática, parcial de urina.
Critérios de gravidade:
• PAS ≥ 160 ou PAD ≥ 110 mmHg em 2 ocasiões com diferença de 4 horas
• Plaquetas < 100.000/mm3
• Alteração função hepática (elevação das enzimas hepáticas - 2 vezes o
valor de referência), dor epigástrica ou hipocôndrio direito persistente, não
responsiva ao tratamento
• Insuficiência renal progressiva: creatinina acima de 1,1 mg/dl ou dupli-
cação do valor inicial
• Alterações cerebrais ou visuais (cefaleia, escotomas, visão turva, altera-
ção do nı́vel de consciência) persistentes
• Edema agudo de pulmão
Manejo
A pré-eclâmpsia é uma doença progressiva, de evolução desconhecida. O
tratamento definitivo é a interrupção da gestação. A manutenção da gestação
é benéfica apenas para o feto para diminuir as complicações da prematuridade.
O tratamento da hipertensão não altera o curso da doença mas serve para
proteger a mãe das complicações da hipertensão severa como o AVC, e pode
piorar a perfusão uterina e o bem estar fetal.
Pré-natal:
• Perı́odos de repouso em decúbito lateral esquerdo.
• Dieta hiperproteica e normossódica.
• Não iniciar anti-hipertensivo.
• Controle clı́nico semanal, controle da pressão 2 vezes por semana.
• Controle laboratorial (hemograma, creatinina, TGO, LDH) semanal e
avaliação fetal a cada 2 semanas com cardiotocografia, perfil biofı́sico fetal e
dopplervelocimetria arterial e venosa dependendo da idade gestacional. Re-
avaliação materna e fetal imediata se houver mudança abrupta do quadro
clı́nico.
• Internação hospitalar na Unidade de Gestação de Alto Risco caso a
gestante não consiga fazer repouso adequado ou tenha dificuldade de acompa-
nhamento clı́nico ou laboratorial, a pressão arterial estiver se mantendo acima
de 150/100 mmHg ou aparecerem sinais ou sintomas de gravidade da doença.
48 Manual de rotinas da MCD
Pré-natal:
• Internação hospitalar na Unidade de Gestação de Alto Risco.
• Repouso relativo em decúbito lateral esquerdo.
• Controle rigoroso da PA 4/4 horas em vigı́lia.
• Controle de peso a cada 2 dias.
• Dieta hiperproteica e normossódica.
• Balanço hı́drico.
• Pico hipertensivo (pico hipertensivo de PAD ≥ 110 mmHg e/ou PAS
≥ 160 mmHg): encaminhar a gestante para o Centro Obstétrico para moni-
torização adequada. Administrar 5 mg (2,5 ml) de solução de Hidralazina (1
ampola de 20 mg de Hidralazina diluı́da em 9 ml de água destilada), seguida
de 10 mg (5 ml) EV a cada 20 minutos até que a PAD se encontre abaixo
de 110 mmHg e/ou a PAS abaixo de 160 mmHg ou atinja dose máxima de
30 mg/ dia. Como segunda escolha, pode-se utilizar Nifedipina de liberação
rápida 10 mg VO a cada 30 minutos (dose máxima de 30 mg). Lembrar que
a Hidralazina e a Nifedipina podem causar cefaleia e náuseas. A diminuição
da pressão deve ser lenta. O objetivo é manter a PAS entre 140 e 155 mmHg
e a PAD entre 90 e 105 mmHg.
• Anti-hipertensivo: deverá ser iniciado quando do aparecimento da do-
ença longe do termo em gestantes que apresentam nı́veis pressóricos mantidos
acima de 150/100 mmHg em repouso e/ou que são sintomáticas. Objetiva
manter a PAD entre 80 e 100 mmHg e a PAS abaixo de 150 mmHg para
diminuir os riscos de AVC materno e evitar hipoperfusão fetal. Iniciar com
Metildopa 250 mg, 3 vezes ao dia, podendo elevar-se as doses em até 500
mg/dia a cada 48 horas até a dose máxima de 3 g/dia, associada a Hidrala-
zina 50 mg, 2 vezes ao dia, VO.
• Sulfatação: na presença de sinais premonitórios de eclâmpsia (dor epi-
gástrica ou em hipocôndrio direito, náuseas/ vômitos, cefaleia, distúrbios vi-
suais, confusão mental), de hipertensão de difı́cil controle e de trabalho de
Hipertensão arterial na gravidez 49
nas que persistem com nı́veis elevado da PA (PA ≥ 150/100 mmHg). Utilizar
Nifedipina 10 a 20 mg a cada 6 a 12 horas, máximo de 120 mg/dia ou, na apre-
sentação de liberação prolongada, 20 a 60 mg/dia, máximo de 120 mg/dia.
Em hipertensas crônicas, pode-se utilizar Enalapril 10 a 20 mg/dia, Losartana
50 a 100 mg/dia; ou Anlodipina 5 a 10 mg/dia associado ou não à Hidroclo-
rotiazida 25 a 50 mg/ dia. A medicação deve ser retirada progressivamente a
nı́vel ambulatorial.
No caso de pico hipertensivo, utilizar solução de Hidralazina 5 mg, seguida
de 10 mg EV a cada 20 minutos até que a PAD se encontre abaixo de 110
mmHg e a PAS abaixo de 160 mmHg se puérpera ainda tiver acesso venoso,
ou Nifedipina de liberação rápida 10 a 20 mg VO a cada 30 minutos.
Evitar uso de anti-inflamatórios não-hormonais em puérperas com com-
prometimento renal ou plaquetopenia.
Alta após 5 dias se PA controlada para acompanhamento ambulatorial
com cardiologista.
6.3 ECLÂMPSIA
Ocorrência de convulsões tônico-clônicas numa mulher portadora de pré-
eclâmpsia, que não pode ser atribuı́da à outra causa. Pode ocorrer com qual-
quer nı́vel pressórico, geralmente após sinais premonitórios. Acontece mais
frequentemente durante a gestação, podendo ocorrer também no parto e nos
primeiros dias de puerpério (raro após as primeiras 48 horas).
Manejo
• Internação na Unidade de Cuidados Intensivos/ Intermediários.
• Cuidados na convulsão: proteção da paciente, mantê-la em decúbito
lateral esquerdo, manutenção das vias aéreas (cânula de Guedel), aspiração
de secreções, oxigenioterapia.
• Cuidados gerais: cateterismo vesical, venóclise profunda.
• Hidratação: 1.000 ml de Soro Glicosado 5% + 1.000 de Soro Fisiológico
0, 9%.
• Sulfato de Magnésio (MgSO4 7H2 O)
Esquema intramuscular:
Dose de ataque: 4 g EV lento (solução à 20%: 8 ml de Sulfato de Magnésio
50% diluı́do em 12 ml de água destilada; correr em 5 minutos) + 10 g IM (10
ml de Sulfato de Magnésio a 50% em cada nádega). Total de 14 g.
Doses de manutenção: 5 g IM (10 ml de Sulfato de Magnésio a 50%,
metade em cada nádega), a cada 4 horas.
Esquema endovenoso:
Hipertensão arterial na gravidez 51
Quadro clı́nico
Dor em hipocôndrio direito ou em epigástrio por distensão da cápsula
hepática em razão de focos hemorrágicos resultantes de necrose periportal.
Nos casos mais graves pode ocorrer rotura de hematoma subcapsular hepático.
Frequentemente se acompanha de outros sinais premonitórios de eclâmpsia
(cefaleia, escotomas, vômitos, diplopia, confusão mental, obnubilação) e mal
estar. Pode evoluir para CID.
Laboratório:
• Anemia hemolı́tica microangiopática com presença de esquizócitos no
sangue periférico;
• TGO > 70 UI/L;
• Desidrogenase lática > 600 UI/L;
• Bilirrubinas > 1,2 mg/dl as custas de bilirrubina indireta;
• Plaquetas < 100.000/mm3 .
Manejo
Interrupção da gravidez após estabilização hemodinâmica materna, sultfa-
tação e transfusão de concentrado de plaquetas quando estas estiverem abaixo
de 20.000/ mm3 ou abaixo de 50.000/mm3 nas gestantes que serão submetidas
a cirurgia ou que persistem com sangramento. A via de parto é de indicação
obstétrica.
Pode ocorrer uma piora do quadro no puerpério imediato.
Excepcionalmente, nas gestações menores que 32 semanas, a administra-
ção de Dexametasona na dose de 10 mg, 2 vezes ao dia EV, pode levar a
Hipertensão arterial na gravidez 53
Diabetes mellitus
54
Diabetes mellitus 55
Diagnóstico
• Glicemia de jejum: deve ser solicitado na primeira consulta de pré-
natal.
- Normal: < 92
- Diabetes na gestação: ≥ 92 e ≤ 125 (repetida em 2 ocasiões)
- Diabetes melito prévio: ≥ 126. Também é considerado diabetes prévio
hemoglobina glicada ≥ 6,5 ou glicemia ≥ 200 mg/dl coletada em qualquer
momento.
• curva glicêmica de 3 pontos com 75 g: deve ser solicitado à toda
gestante entre 24 e 28 semanas de gestação. A glicemia é mensurada em jejum
e após uma e duas hora da ingestão de 75 g de glicose, após 8 a 12 horas de
jejum.
- Valores normais: jejum: ≤ 92; após 1 hora: ≤ 180; 2 h: ≤ 153 mg/dl.
56 Manual de rotinas da MCD
Manejo
O manejo adequado visa prevenir ou minimizar as repercussões maternas,
fetais e neonatais causadas pelo DM.
• Dieta: a dieta adequada é de extrema importância no tratamento do
diabetes e deve ser orientada pela nutricionista. A gestante deve receber 5 a
6 refeições ao dia, distribuı́das a cada 3 horas, evitando refeições exageradas
com grandes quantidades de carboidratos simples, rapidamente absorvidos
pelo organismo, para diminuir o aporte rápido de glicose com consequente
hiperinsulinemia e evitar a hipoglicemia entre as refeições, especialmente no
último trimestre. As gestantes em uso de insulina devem se alimentar antes de
deitar pelo risco de hipoglicemia durante a madrugada. Quanto aos adoçantes,
evitar Sacarina e Ciclamato (categoria C) e dar preferência para Aspartame,
Sucralose e Acessulfame-K (categoria B). A Estévia não foi liberada pelo FDA.
A dieta deve ser composta por 40% a 50% de carboidratos, preferenci-
almente complexos (produtos integrais) e ricos em fibra (legumes) que são
absorvidos mais lentamente, 20% de proteı́nas e 30% a 40% de gorduras,
preferencialmente poli-insaturadas. A necessidade calórica é de aproximada-
mente 30 kcal/kg/dia (peso pré-gestacional) + 300 kcal/dia no último trimes-
tre, sendo maior quanto menor ı́ndice de massa corporal (40 Kcal/Kg/dia em
desnutridas e 24 Kcal/Kg/dia em gestante com sobrepeso ou obesa). As ca-
lorias devem ser divididas entre o café da manhã (10%), lanches (15% cada),
almoço e janta (30% cada).
• Exercı́cio fı́sico: caminhadas de 30 a 40 minutos/ dia, preferencial-
mente após as refeições principais.
• Insulinoterapia: indicada quando não se consegue controlar a glice-
mia (2 pontos alterados no perfil glicêmico) apenas com a dieta adequada
e exercı́cio fı́sico ou se obesidade fetal (peso fetal acima do percentil 90 ou
circunferência abdominal acima do percentil 75 para a idade gestacional no
terceiro trimestre) diagnosticada pela ultrassonografia. Iniciar com doses sufi-
cientes para normalizar o perfil glicêmico, dando preferência ao menor número
Diabetes mellitus 57
Manejo
A gestante deve ficar internada no Centro Obstétrico ou nos Cuidados
Intermediários. Em casos de difı́cil controle, encaminhar para um Hospital
Geral.
• Permeabilidade das vias aéreas, oxigenioterapia se saturação capilar pe-
riférica de oxigênio estiver abaixo de 95%, acesso venoso calibroso, sondagem
vesical, controle dos sinais vitais e da diurese, avaliação do bem estar fetal.
• Pesquisa e tratamento de fator desencadeante, quando presente: infec-
ção, vômitos, uso de corticoide ou β-agonistas e não aderência ao tratamento
com controle inadequado do DM.
• Exames laboratoriais: glicemia capilar horária, eletrólitos (potássio, só-
dio, cloro, fósforo, magnésio), hemograma, gasometria, cetonemia, ureia, cre-
atinina, função hepática e parcial de urina.
• Reposição de volume: o déficit de volume é de aproximadamente 100
ml/Kg. Deve-se repor 75% do volume nas primeiras 24 horas. Iniciar Soro
Fisiológico 0,9% 1.000 ml/h nas 2 primeiras horas (ou até corrigir hipoten-
são); 250 a 500 ml/h nas horas seguintes até atingir glicemia abaixo de 200
mg/dl. Se o sódio sérico corrigido estiver normal ou aumentado, trocar por
soro fisiológico 0,45%.
Quando a glicemia atingir 200 mg/dl, trocar por solução glicofisiológica
(500 ml soro glicosado a 5% se glicemia entre 100 e 200 mg/dl e a 10% se a
glicemia abaixo de 100 mg/dl + 22,5 ml cloreto de sódio 20% se desejar soro
Diabetes mellitus 63
Quando glicemia estiver abaixo de 200 mg/dl, reduzir a infusão para 0,02 a
0,05 U/Kg/h (0,2 a 0,5 ml/Kg/h da solução) (ou 1 a 2 U/h) com o objetivo de
manter glicemia entre 150 a 200 mg/dl. Quando a paciente estiver aceitando
a dieta, iniciar insulina subcutânea em múltiplas doses na dose anteriormente
utilizada ou de 0,5 a 0,8 U/Kg, sendo 50% da dose de ação intermediária ou
lenta e 50% de ação rápida ou ultrarrápida. A insulina endovenosa deve ser
suspensa após 2 horas do inı́cio da insulina subcutânea.
• Reposição de Potássio: deve ser iniciada após 2 a 3 horas do inı́cio
do tratamento (ou antes se a potassemia estiver abaixo do normal) e débito
urinário acima de 0,5 ml/Kg/h. Se a potassemia inicial estiver abaixo de 3,3
mEq/l, pelo risco de parada cardiorrespiratória, administrar 20 mEq/h de
cloreto de potássio (20 mEq: 7,5 ml de KCl 19,1% diluı́do em 500 ml de soro)
antes do inı́cio da insulinoterapia até atingir potassemia de 3,3 mEq/l. Se a
potassemia estiver entre 3,3 e 5 mEq/l, repor 20 a 30 mEq (7,5 a 10 ml KCl
19,1%) a cada litro de fluı́do com o objetivo de manter a potassemia entre 4-5
mEq/l.
OBS: a hipopotassemia leva à fraqueza muscular, ı́leo paralı́tico, paralisia,
insuficiência respiratória e alterações no ECG (desnivelamento do segmento
ST, depressão da onda T e elevação da onda U). A solução de potássio pode
conter até 40 mEq/l. A velocidade de infusão deve ser de até 10-20 mEq/h.
A dose máxima diária é de 200 mEq. 1 ampola de KCl tem 10 ml; 1 ampola
de KCl 10% contém 1,3 mEq/ml e 1 de KCl 19,1% contém 2,6 mEq/ml.
• Bicarbonato de sódio: se o pH for menor que 6,9, correr 100 mEq de
bicarbonato e 20 mEq de KCL diluı́dos em 400 ml de água destilada ou soro
glicosado 5% em 2 horas; repetir até atingir pH de 7.
• Interrupção da gestação: durante o episódio agudo, é frequento en-
contrar alterações na cardiotocografia (ausência de variabilidade e de acelera-
ção e presença de desacelerações tardias e variáveis recorrentes) e no doppler
(aumento do ı́ndice de pulsatilidade na artéria umbilical e diminuição na arté-
ria cerebral média). A severidade dessas anormalidades depende da severidade
e duração da cetoacidose e costumam reverter após 4-8 horas da estabilização
materna. Evitar a interrupção da gestação antes da estabilização materna e
da reversão da acidose, exceto se houver piora progressiva do quadro ou não
houver melhora do bem estar fetal apesar do tratamento instituı́do.
Capı́tulo 8
Trabalho de parto
prematuro
65
66 Manual de rotinas da MCD
Prevenção
• Repouso e abstinência sexual em gestantes de risco.
• Progesterona micronizada: indicada nos casos de parto prematuro prévio
ou na presença de colo curto na dose de 100 a 200 mg/dia, entre 16 e 36
semanas de gestação.
• Circlagem: pode ser realizada em casos selecionados se medida do colo
for inferior a 25 mm em USG realizado entre 16 e 24 semanas de gestação,
sem trabalho de parto, em gestante com história de parto prematuro, em
associação com o uso da progesterona. Também pode ser considerada em
gestação gemelar com medida de colo abaixo de 15 mm.
• Tratamento da bacteriúria assintomática.
Manejo
A inibição do trabalho de parto prematura só deve ser realizada quando
o prolongamento da gestação trouxer algum benefı́cio para o feto. Em nosso
serviço, é preconizada sua realização rotineira até 34 semanas incompletas de
gestação desde que a bolsa esteja ı́ntegra. A resposta à inibição é pior quanto
maior a dilatação e o apagamento cervical, na presença de corioamnionite
subclı́nica e de gestação múltipla.
A gestante deve ser internada e encaminhada ao Centro Obstétrico. So-
licitar hemograma, parcial de urina e urocultura com teste de sensibilidade
antibiótica. Coletar cultura para estreptococo β-hemolı́tico caso não tenha
sido realizada nas últimas 5 semanas e investigar infecções genitais (clamı́dia,
gonococo, micoplasma, ureaplasma e vaginose bacteriana). Ultrassonografia,
cardiotocografia e amniocentese podem ser necessárias em alguns casos para
descartar corioamnionite subclı́nica, avaliar a vitalidade fetal e o comprimento
do colo.
Trabalho de parto prematuro 67
70
Ruptura prematura das membranas 71
Diagnóstico
Manejo
• Gestações acima de 34 semanas:
- Interrupção da gestação. Induzir o trabalho de parto sempre que for
necessário. Após 37 semanas de gestação, as contrações iniciam espontanea-
mente nas primeiras 12 horas após a ruptura das bolsas em 79% das gestantes
e nas primeiras 24 horas em 95%.
- Via de parto: indicação obstétrica.
- Solicitar hemograma e controle de temperatura axilar 4/4 hs.
- Profilaxia para estreptococo β-hemolı́tico: iniciar Penicilina cristalina
na dose de 5.000.000 U EV de ataque seguida de 2.500.000 U EV 4/4 hs ou
Ampicilina 2 g EV de ataque e 1 g EV de 4/4 hs de manutenção nas seguintes
situações: bactéria foi isolada na urina, em qualquer concentração, durante a
gestação atual; recém-nascido anterior com infecção pelo estreptococo; cultura
positiva de amostra vaginal e/ou retal coletada durante a gestação atual;
cultura desconhecida ou realizada há mais de 5 semanas com trabalho de parto
prematuro ou bolsa rota há mais de 18 horas (vide capı́tulo 18). Suspender
após o parto.
- Suspeita de corioamnionite: iniciar Penicilina cristalina 5.000.000 U EV a
cada 4 a 6 hs ou Ampicilina 1 a 2 g EV de 6/6 hs e Gentamicina 4,5 mg/Kg/dia
(ou 180 mg se peso ≤ 60 Kg e 240 mg se peso > 60 Kg) EV diluı́da em dose
única diária; se submetida à cesariana, acrescentar Clindamicina 600 mg EV
8/8 hs. Manter por pelo menos 48 horas após o último pico febril.
Gestação prolongada
74
Gestação prolongada 75
Existem outros sinais clı́nicos que podem ser úteis, como o inı́cio da per-
cepção dos movimentos fetais (entre 16 e 18 semanas em multigestas e entre 18
e 20 semanas em primigestas), o inı́cio da ausculta dos batimentos cardı́acos
fetais com o detector fetal com 12 a 14 semanas e com estetoscópio de Pinard
entre 18 e 20 semanas e a medida de altura do fundo uterino (vide capı́tulo
1).
A partir de 41 semanas de gestação (termo tardio), ocorre um aumento da
morbimortalidade perinatal. Pela senescência placentária, presente em 20%
dos casos, a placenta deixa de atender as necessidades fetais criando um am-
biente intrauterino hostil levando à parada de crescimento ou emagrecimento
fetal, oligoâmnio, eliminação de mecônio, compressão do cordão com conse-
quente alteração na cardiotocografia e incremento das taxas de cesariana, de
ı́ndice de Apgar baixo, de sı́ndrome de aspiração de mecônio, de internação
na Unidade de Terapia Intensiva Neonatal e de paralisia cerebral. Por ou-
tro lado, caso a placenta continue suficiente, o aporte de nutrientes continua
eficaz. Nestes casos, os fetos tendem a ser grandes para a idade gestacio-
nal com aumento do risco de trabalho de parto prolongado por desproporção
cefalopélvica, de distocia de ombro e de lesão de plexo braquial.
Pelas limitações dos exames de avaliação da vitalidade fetal atualmente
disponı́veis em assegurar o bem estar fetal neste perı́odo, há uma tendência
em se interromper eletivamente a gestação, quando bem datada, antes de
completar as 42 semanas.
Manejo
• Idade gestacional maior ou igual à 41 semanas (calculada por DUM con-
fiável e/ou por ultrassonografia realizada abaixo de 20 semanas de gestação):
internar para indução de trabalho de parto (vide capı́tulo 23). Por tratar-se de
internação eletiva, caso o Centro Obstétrico esteja lotado ou a gestante tenha
sido atendida no perı́odo vespertino ou noturno, pode-se postergar a indução
para a manhã seguinte desde que o exame cardiotocográfico e o volume de
lı́quido amniótico, quando disponı́vel, esteja(m) normal(is).
• Idade gestacional acima de 41 semanas calculada apenas pela DUM,
sem confirmação com exame ultrassonográfico realizado antes de 20 semanas:
conduta expectante até desencadeamento do trabalho de parto com:
- Mobilograma: diário; não há um consenso do número ou da duração ideal.
A percepção pela gestante de pelo menos 3 movimentos fetais no perı́odo de
30 a 60 minutos, em decúbito lateral esquerdo e preferencialmente após as
refeições (manhã, tarde e noite), de tal maneira que evite hipervalorizar os
perı́odos de baixa atividade do sistema nervoso central fetal, que podem ser
fisiológicos em obediência aos ciclos circadianos, parece ser adequada. Mu-
danças abruptas no padrão de movimentação devem ser investigadas para
76 Manual de rotinas da MCD
Sangramento de segundo e
terceiro trimestres
77
78 Manual de rotinas da MCD
Fatores de risco:
• Má placentação: pré-eclâmpsia, hipertensão crônica, trombofilias, DPP
anterior (risco de recorrência de 5% - 15% se um episódio anterior e de 20%
a 25% se 2 ou mais episódios anteriores), tabagismo, uso de drogas.
• Mecânica: trauma abdominal, esvaziamento súbito da cavidade uterina
(polidrâmnio, gemelar) e brevidade de cordão.
• Outros: multiparidade.
Manejo
A conduta deve ser rápida para minimizar as complicações maternas e
fetais.
• Amniotomia imediata.
• Interrupção da gestação pela via mais rápida.
Em caso de feto vivo, só é permitido o parto normal se houver dilatação
total ou, eventualmente, se o sangramento for discreto, sem repercussões ma-
ternas e fetais, e colo favorável. Nestes casos há a necessidade de controle
rigoroso dos sinais vitais e dos batimentos cardiofetais pois a piora clı́nica
pode ser súbita. Pode ser necessária a condução do trabalho de parto.
Em caso de feto morto, pelo maior risco de CID, só aguardar o parto
normal se o sangramento for leve/ moderado, não houver repercussões hemo-
dinâmicas e o trabalho de parto estiver avançado devendo o parto deve se
ultimar, no máximo, em 4 horas.
• Manter a infusão de 10 U de Ocitocina para cada 500 ml de Soro Fisio-
lógico 0,9% no pós-parto para prevenção de atonia uterina, principalmente na
presença de útero de Couvelair. Eventualmente pode ser necessário realizar
sutura hemostática ou histerectomia para conter o sangramento (capı́tulo 29).
Manejo
• No pré-natal: orientar repouso relativo, evitar relação sexual e exercı́cio
fı́sico. Em caso de sangramento, a gestante deve ir à Maternidade. Realizar
exame ultrassonográfico com 32 semanas de gestação e, se persistir placenta
prévia, repetir por volta de 36 semanas.
• Na vigência de sangramento: o manejo depende da idade gestacional, do
volume de sangramento e do tipo de placenta prévia.
- Internar no Centro Obstétrico.
- Reservar sangue.
- O toque vaginal está proscrito. Quando necessário deve ser feito cuida-
dosamente com centro cirúrgico pronto para cesariana de urgência pelo risco
de descolar a placenta e piorar o sangramento.
- Prescrever corticoide se idade gestacional abaixo de 34 semanas, imuno-
globulina anti-Rh em gestante Rh negativa e Sulfato Ferroso para tratamento
de anemia.
- Alta hospitalar após permanecer 24 a 48 horas sem sangramento, em ges-
tações longe do termo, se a gestante tiver facilidade de retornar à Maternidade
e puder fazer repouso em casa.
- Na vigência do sangramento, interromper a gestação se for à termo,
independentemente do volume de sangramento, ou se o sangramento for im-
portante ou persistente, houver repercussões hemodinâmicas maternas ou al-
teração da vitalidade fetal, independentemente da idade gestacional, por cesa-
riana. Na placenta baixa, em casos selecionados, pode-se permitir a evolução
do parto normal se o colo for favorável, o trabalho de parto for espontâneo,
o feto estiver insinuado, a placenta for anterior e o sangramento leve/ mode-
rado. A amniotomia deve ser precoce para que ocorra a compressão do bordo
placentário pela cabeça fetal.
• Na ausência de sangramento: realizar cesariana eletiva com 37 - 38
semanas.
• Acretismo placentário: a placenta prévia pode estar associada ao acre-
tismo placentário sendo importante orientar a gestante quanto à possibilidade
de histerectomia puerperal (capı́tulo 29). A ultrassonografia e ressonância
magnética podem fornecer dados sobre a extensão da penetração da placenta
no miométrio.
até a sua borda mais próxima para a retirada do feto através das membranas,
sem lesar a placenta. Se não for possı́vel, realizar o parto através da placenta,
de forma rápida. O sangramento é profuso podendo ser necessária a transfusão
sanguı́nea.
Gestação gemelar
Aspectos gerais
Do ponto de vista do tipo de placentação, teremos:
• Gestações dicoriônicas/diamnióticas: 65%
• Gestações monocoriônicas/diamnióticas: 32%
• Gestações monocoriônicas/monoamnióticas: 3%
As duas últimas são monozigóticas, representando em média um terço
das gestações gemelares, onde se observa aumento significativo de anomalias
fetais.
83
84 Manual de rotinas da MCD
Complicações
São mais frequentes do que na gestação única:
• Prematuridade: é a principal complicação das gestações gemelares,
com taxas que variam entre 20% a 75%. O manejo do trabalho de parto
prematuro está associado à maior mortalidade materna, porque as medidas
Gestação gemelar 85
Cuidados no pré-natal
Cuidados no parto
O parto é muitas vezes prematuro. Deve ser realizado preferencialmente
no Centro Cirúrgico com equipe preparada para cesariana de emergência.
Versão interna: introduzir a mão pela parede ventral do útero para apre-
ender o pé anterior (pé bom) que deverá ser tracionado suavemente fazendo
Gestação gemelar 89
Formas clı́nicas:
• Forma aguda: ocorre precocemente, levando ao óbito do feto transfu-
sor, o qual torna-se papiráceo.
90 Manual de rotinas da MCD
Critérios ultrassonográficos:
• Discordância de volume das cavidades amnióticas (oligo/ polidrâmnio)
• Discordância de peso maior que 20% entre os gemelares. Para cálculo
da discrepância de peso utiliza-se a fórmula:
(peso maior - peso menor)/peso maior
• Diferença de calibre entre os 2 cordões umbilicais
• Placenta única, apresentando disparidade na sua espessura e ecogenici-
dade no local da inserção de cada cordão
• Pico de velocidade sistólico da artéria cerebral média acima de 1,5 MoM
(doador) e abaixo de 0,8 MoM (receptor)
• Cardiomegalia no feto transfundido.
OBS: Embora o parâmetro hematológico de STT seja a diferença maior que 5
g% nas hemoglobinas fetais, a sı́ndrome pode ocorrer mesmo na ausência de
discordância significativa da hemoglobina entre os 2 fetos.
Manejo
As medidas terapêuticas para a STT são amplas e em alguns casos con-
troversas:
• Conduta expectante: há regressão da STT em até 40% no estágio
I e 16% no estágio II, porém a mortalidade é superior a 70% nos estágios
superiores. Necessita de reavaliação semanal.
• Terapia com laser: visualização das anastomoses vasculares na super-
fı́cie placentária por fetoscopia e cauterização dos vasos com laser. Tratamento
de escolha, não disponı́vel no serviço, associado com taxas de sobrevida vari-
ando entre 55% a 69% e, principalmente, reduzindo as sequelas neurológicas
para 5% a 11% dos sobreviventes. Pode ser realizado entre 16 e 26 semanas.
• Amniodrenagem: previne ruptura de membranas e parto prematuro
e melhora o desconforto materno, com sobrevida fetal média variando entre
18% e 83% (média de 60% dos casos). Entretanto, 5% a 58% dos sobrevi-
ventes apresentam sequelas neurológicas. Essas punções repetidas de lı́quido
amniótico têm fornecido, por vezes, surpresas satisfatórias. Nenhum prog-
nóstico pode ser fornecido, em razão da instabilidade extrema dos fenômenos
circulatórios.
• Septostomia: é a perfuração intencional da membrana que separa os
fetos, na tentativa de igualar os volumes de lı́quido amniótico entre eles (uma
única perfuração é suficiente). Apesar de as taxas de sobrevida serem iguais
as da amniodrenagem, a septostomia era realizada concomitantemente a ami-
odrenagem para redução de complicações. Atualmente em desuso.
Capı́tulo 13
Doença hemolı́tica
perinatal
Manifestação clı́nica
Os anticorpos maternos atravessam a barreira placentária causando hemó-
lise com consequente anemia de grau variado e suas complicações (fig. 13.1).
Em 50% das vezes o feto estará levemente acometido, com concentrações
de hemoglobina acima de 12 g/dl. Ao nascimento, os nı́veis de hemoglobina
não caem abaixo de 7 a 8 g/dl e a bilirrubina indireta (BI) não excede a 20
mg/dl, não havendo necessidade de tratamento.
Em 25% a 30% das vezes o feto apresenta anemia moderada, porém não
desenvolve hidropsia. Ao nascimento, apresentará icterı́cia elevada, com risco
de Kernicterus (impregnação de bilirrubina no sistema nervoso central levando
a alterações neurológicas), necessitando de exsanguı́neo-transfusão. Não há
risco de Kernicterus intraútero pois a BI é metabolizada pelo fı́gado materno.
92
Doença hemolı́tica perinatal 93
Nos 20% a 25% restantes, a anemia fetal torna-se mais intensa e o feto
torna-se hidrópico, havendo necessidade de tratamento imediato, sendo que
na metade das vezes isto ocorre abaixo das 34 semanas e na outra metade,
acima das 34 semanas.
Rh e fator Du) e pelo teste de Coombs indireto (CI). Gestantes Du (+) são
consideradas Rh (+). Havendo possibilidade de isoimunização materna (ges-
tante Rh (-) e marido Rh (+) ou história prévia de transfusão) realiza-se o
teste de CI no inı́cio da gestação e, quando negativo, repete-se com 18 sema-
nas e, continuando negativo, mensalmente. Positivo o teste de CI, passa-se
ao diagnóstico da condição fetal. Na primeira gestação acometida, os tı́tu-
los de CI se correlacionam com a gravidade do caso, fato que não ocorre em
gestações subsequentes.
• Teste de Kleinhauer: mede o volume de hemácias fetais no sangue ma-
terno.
• Painel de hemácias: avalia qual antı́geno está positivando o teste de
Coombs (lembrar que o CI não é especı́fico para o fator Rh).
• Fenotipagem paterna: avalia o risco de ter novo feto Rh (+). Se o pai
for heterozigoto há uma chance de 50% de ser Rh (+) e 50% de ser Rh (-); se
o pai for homozigoto, todos os fetos serão Rh (+).
valor acima de 1,5 MoM indica anemia moderada a grave, com sensibilidade
de 100% e com taxa de falso positivo de 12%.
Tratamento fetal
Com os dados obtidos através dos diversos recursos semióticos, pode-se
dividir o tratamento fetal em:
• Fetos sem risco de hidropsia (sem antecedentes de isoimunização, CI <
1:16, ACM dentro da normalidade, sangue fetal com Ht > 40% e Hb >13
g/dl): induzir parto entre 38 - 39 semanas (não permitir que ultrapasse a
quadragésima semana).
• Fetos com risco de hidropsia (ACM alterada ou Ht < 30% e Hb < 10
g/dl):
- Abaixo de 34 semanas: transfusão intrauterina (TIU)
- Acima de 34 semanas: com maturidade pulmonar: parto prematuro
terapêutico; sem maturidade pulmonar: TIU
• Fetos hidrópicos: indicação absoluta de TIU.
A transfusão pode ser feita por cateterização da veia umbilical pela cordo-
centese ou intraperitoneal, sendo a primeira a via preferencial. É empregado
concentrado de hemácia O (-), com Ht de 75% a 85%, preferencialmente ir-
radiado. A transfusão intravascular pode ser feita entre 18 e 34 semanas
de gestação. Deve-se colher Ht/Hb antes e após o procedimento. Espera-se
queda de 0,3 g/dl por dia da Hb fetal (importante para estimar a data da
próxima transfusão). As complicações incluem bradicardia fetal, hematoma
do cordão umbilical, complicações hemorrágicas, sobrecarga cardı́aca e óbito
fetal. Ocorrem em ± 9% dos casos, tendo piores resultados quando o feto está
hidrópico.
A transfusão sanguı́nea intrauterina é realizada no Setor de Medicina Fetal,
salvo fetos com viabilidade e com risco acentuado de complicações. Nestes
casos, a transfusão é realizada no Centro Cirúrgico, com equipe preparada
para intervir em caso de necessidade. Após o procedimento, as gestantes são
encaminhadas ao Centro Obstétrico para acompanhamento dos batimentos
cardı́acos fetais, durante um perı́odo de 2 horas.
Prevenção da DHPN
• Administração de sangue compatı́vel.
• Imunização passiva (IgG antiRh) - 300 µg IM:
Doença hemolı́tica perinatal 97
Crescimento intrauterino
restrito
98
Crescimento intrauterino restrito 99
Fatores etiológicos:
• Fetais:
- Cromossomopatias e alterações genéticas: trissomias (13, 18, 21), tri-
ploidias, monossomia X (sı́ndrome de Turner), mosaicismos, defeitos do tubo
neural, acondroplasia, condrodistrofias e osteogênese imperfeita.
- Malformações fetais: cardiovascular, genitourinário, digestivo e esquelé-
tico.
• Maternos:
- Infecções: virais (rubéola, citomegalovı́rus, parvovı́rus, herpes), bacteria-
nas (tuberculose, listeriose), protozoários (toxoplasmose, malária e doença de
Chagas).
- Drogas e substâncias tóxicas: Methotrexate, Difenilhidantoı́na, Heroı́na,
Cocaı́na, Metadona, Trimetadiona, Lı́tio, cumarı́nicos, Tetraciclinas, Propa-
nolol (>120 mg/dia), álcool e fumo.
- Intercorrências clı́nicas: desnutrição, anemias, hipertensão arterial, trom-
bofilias, cardiopatias, diabetes mellitus, pneumopatias crônicas, doença renal
100 Manual de rotinas da MCD
Diagnóstico
A suspeita clı́nica de CIUR deve ser pautada no achado da altura de fundo
uterino (AFU) menor que o esperado para a idade gestacional (IG), em ges-
tações corretamente datadas, utilizando-se curvas-padrão de crescimento, ou
Crescimento intrauterino restrito 101
Distúrbios do lı́quido
amniótico
105
106 Manual de rotinas da MCD
2) Avaliação semiquantitativa:
• Diâmetro do maior bolsão de LA: consiste na medida do diâmetro
vertical do maior bolsão de LA, em uma área livre de cordão umbilical e partes
fetais.
• Índice de lı́quido amniótico (ILA): consiste na divisão da cavidade
uterina em quatro quadrantes, utilizando-se a linha nigra como eixo longitu-
dinal e a cicatriz umbilical como referência para o eixo transversal. Em cada
quadrante é medido o diâmetro vertical do maior bolsão de LA. As quatro
medidas são somadas e o resultado é denominado ı́ndice de lı́quido amniótico
ou ILA.
15.2 Oligoâmnio
É caracterizado quando o volume de LA é inferior a 300 ou 400 ml, maior
bolsão de LA < 2 cm ou ILA ≤ 5 cm ou abaixo do percentil 5 para a idade
gestacional. Sua incidência é estimada entre 0, 5% e 5, 5%. A altura do
fundo uterino encontra-se abaixo do esperado e as partes fetais são facilmente
reconhecidas pela palpação do abdome.
Etiologia:
• Insuficiência placentária: a centralização da circulação fetal promove hi-
pofluxo sanguı́neo nos rins e pulmões, provocando diminuição gradativa do
volume de LA, predispondo à ocorrência de fenômenos de compressão do cor-
dão umbilical com desacelerações da frequência cardı́aca fetal (DIP umbilical).
Pode ser devida à sı́ndromes hipertensivas, colagenoses, diabetes com vascu-
lopatia, entre outras.
• Anomalias fetais: principalmente malformações do sistema urinário e
sistema nervoso central, cardiopatias e anomalias cromossômicas.
• Crescimento intrauterino restrito (CIUR): a associação entre a CIUR e
o oligoâmnio está bem estabelecida. A avaliação do volume de LA deve ser
realizada nos casos suspeitos de CIUR para aumentar os valores de predição
para este diagnóstico.
• Gestações gemelares: nos casos de gestação monocoriônica e diamnió-
tica pode ocorrer, em nı́vel placentário, comunicações vasculares entre os fe-
tos, através das quais ocorre a transfusão de sangue do feto doador para o
receptor. Em consequência disto, o doador se torna anêmico, apresentando
CIUR, podendo desenvolver oligoâmnio, refletindo o seu estado hipoxêmico.
Distúrbios do lı́quido amniótico 107
Manejo:
Importante:
- colher história obstétrica (perda lı́quido vaginal, uso de inibidores de
prostaglandina, antecedentes obstétricos de CIUR, presença de comorbidades)
e realizar exame especular para descartar amniorrexe.
- ultrassonografia obstétrica detalhada com avaliação da função renal e
placentária.
- se amniorrexe prematura é suspeitada e o exame especular for normal
(inclusive com verificação do pH vaginal) pode-se realizar amniocentese com
injeção de corante na cavidade amniótica, individualizando-se cada caso.
- eventualmente, no oligoâmnio severo no segundo trimestre, pode haver
necessidade de amnioinfusão para melhor visualização da anatomia fetal.
15.3 Polidrâmnio
É caracterizado quando o volume de LA é superior a 2.000 ml, maior
bolsão de LA > 8 cm ou ILA ≥ 25 cm ou acima do percentil 95 para a
idade gestacional. Sua incidência é estimada entre 0,4% e 1,5%. Pode se
instalar de forma aguda ou crônica. A altura de fundo uterina está acima do
esperado para a idade gestacional, o abdome materno encontra-se tenso e a
pele distendida e brilhante, edema de membros inferiores e baixo ventre, as
partes fetais são dificilmente reconhecidas e a ausculta dos BCF é difı́cil pela
movimentação intensa.
Etiologia:
• Anomalias fetais: obstruções gastrointestinais, anomalias congênitas es-
queléticas e do sistema nervoso central, arritmias cardı́acas, hidropsia fetal,
infecções (rubéola, sı́filis, toxoplasmose), tumores fetais.
• Patologias maternas: diabetes mellitus, doença hemolı́tica perinatal.
• Patologias placentárias: placenta circunvalada, sı́ndrome transfusor-
transfundido, corioangioma.
Tabela de ILA:
Trombofilias
110
Trombofilias 111
Investigação laboratorial
Trombofilias hereditárias:
• História de trombose associada a fator de risco transitório (fratura, ci-
rurgia, imobilização prolongada)
• Parente de primeiro grau com trombofilia de alto rico ou com história
de evento tromboembólico antes dos 50 anos, na ausência de fatores de risco.
A investigação laboratorial só terá valor diagnóstico quando realizada após
um perı́odo remoto de um evento tromboembólico, na ausência de uso de
anticoagulante e fora do ciclo gravı́dico-puerperal, pois estas condições podem
falsear alguns resultados de exames.
Os exames a serem solicitados são: homocisteinemia, atividade da proteina
C, proteina S funcional, pesquisa da mutação do fator V de Leiden (resistência
proteina C ativada; se alterada, análise DNA), atividade da antitrombina,
pesquisa da mutação protrombina.
SAF:
Trombofilias 113
Conduta terapêutica
Uma vez firmado o diagnóstico de trombofilia, o tratamento preconizado é
a anticoagulação plena com heparina convencional (20.000 UI/dia), ou prefe-
rencialmente heparina de baixo peso molecular (Enoxiparina 40 a 80 mg/dia),
devido a menores efeitos colaterais quando do uso em longo prazo (trombo-
citopenia e osteoporose) (capı́tulo 20). A duração do tratamento deve se
estender por toda a gravidez e por 6 a 12 semanas de puerpério, dependendo
do tipo de trombofilia e da ocorrência de eventos tromboembólicos durante a
gravidez. O uso de heparina associada a AAS 100 mg/dia está preconizado
nas pacientes portadoras de SAF.
Nos casos de crescimento intrauterino restrito severo e precoce, a asso-
ciação de heparina com um doador de óxido nı́trico pode levar a resultados
perinatais mais favoráveis (capı́tulo 14).
Capı́tulo 17
114
Infecção do trato urinário 115
17.3 PIELONEFRITE
A infecção compromete o sistema coletor e a medula renal, geralmente
decorrente de bacteriúria assintomática não tratada. Tem incidência de 1% e
recorrência de 10% a 25% na gestação. Aproximadamente 15% das gestantes
apresentam bacteremia. Pode evoluir para choque séptico (principal causa
de sepse na gestante), corioamnionite, coagulação intravascular disseminada,
anemia, disfunção pulmonar, insuficiência renal e abcesso renal ou perinéfrico.
116 Manual de rotinas da MCD
Manejo
Toda gestante com pielonefrite deve ser internada na Unidade Gestação de
Alto Risco para receber antibioticoterapia endovenosa. Solicitar hemograma,
parcial de urina, urocultura com teste de sensibilidade ao antibiótico, crea-
tinina e, nos casos mais graves, hemocultura antes do inı́cio do tratamento.
A ultrassonografia do trato urinário deve ser solicitada em caso de recidiva
ou má resposta ao tratamento instituı́do para descartar obstrução do trato
urinário ou abscesso.
• Hidratação endovenosa com Soro Fisiológico 0,9% 1.000 ml EV + Soro
Glicosado 5% 1.000 ml EV.
• Antibioticoterapia: guiada pela urocultura, se disponı́vel. Caso contrá-
rio, iniciar Cefazolina 1 g EV 8/8 hs que deve ser mantido por pelo menos 48
horas após o último pico febril.
Em caso de melhora, a gestante recebe alta após 24 horas com Cefalexina
oral (ou outro antibiótico dependendo do resultado antibiograma) que deve
ser mantida até completar 14 dias de tratamento.
Se não houver melhora clı́nica em 48 horas (ou se pielonefrite de repetição),
mudar o antibiótico para Ceftriaxone 1 g EV 12/12 hs por 48 horas e manter
1 g EV ou IM em dose única diária até completar pelo menos 14 dias. Outras
possibilidades são: Cefoxitina 1 - 2 g EV 8/8 hs, Ampicicina - Sulbactam 3 g
EV 8/8 hs ou Cefotaxima 1 - 2 g EV 8/8 hs. A persistência da febre pode ser
devida à resistência da bactéria ao fármaco empregado, litı́ase renal, malfor-
mações do sistema urinário, abcesso renal ou perinéfrico, anemia e diabetes.
Em caso de complicações, solicitar avaliação do urologista para colocação de
cateter ureteral do tipo duplo J por cistoscopia ou para drenagem de abscesso.
O uso de quinolonas deve ser evitado na gestação devido a possı́veis da-
nos na formação das cartilagens fetais, bem como o de aminiglicosı́deos pela
possibilidade de lesão do VIII par craniano do feto.
Solicitar urocultura de controle após 7 dias do término do tratamento e
repetir a cada 30 dias até o parto. Nos casos de recorrência ou reinfecção
(mais de 2 episódios de qualquer forma clı́nica de infecção urinária durante a
gestação; 2 pielonefrites ou um episódio de infecção urinária grave associado a
Infecção do trato urinário 117
Infecções na gestação
18.1 SÍFILIS
No Brasil, 1,6% das gestantes apresentam sorologia positiva para sı́filis.
A transmissão do Treponema pallidum ocorre por via transplacentária, em
qualquer idade gestacional ou fase da doença:
- 70% a 100% na fase primária e secundária
- 40% na fase latente precoce
- 10% a 30% na fase latente tardia e terciária
Na gestação, está associada à perda fetal (25% a 40% dos casos evoluem
para aborto e óbito fetal e neonatal), prematuridade, crescimento intrauterino
restrito (CIUR), hidropsia e malformação. A placenta é pálida e volumosa e
os anexos, opacos e espessos. O recém-nascido é assintomático em 70% dos
casos em que houve infecção. Nos casos de sı́filis congênita precoce (abaixo
de 2 anos), apresentam baixo peso, coriza serosanguinolenta, alterações res-
piratórias, choro ao manuseio, icterı́cia, hepatoesplenomegalia, anemia, fis-
suras periorificiais, condiloma plano, pênfigo palmoplantar, pseudoparalisia
dos membros, periostite e osteocondrite. Na sı́filis congênita tardia (acima
de 2 anos), as crianças apresentam tı́bia em lâmina de sabre, fronte olı́mpica,
dentes incisivos superiores deformados, nariz em sela, mandı́bula curta, arco
palatino elevado, cegueira, surdez neurológica, dificuldade de aprendizagem,
retardo mental, hidrocefalia e tabes dorsalis.
É considerado caso de sı́filis congênita toda criança, aborto ou natimorto
de mãe com sı́filis (evidência clı́nica ou teste não-treponêmico positivo) na ges-
tação não tratada ou inadequadamente tratada, e toda criança com evidência
clı́nica ou sorológica de sı́filis congênita.
118
Infecções na gestação 119
RPR ou TRUST) e/ou teste treponêmico (teste rápido, FTA-Abs, Elisa/ EIA,
EQL, TPHA) no pré-natal, no mı́nimo no primeiro trimestre e por volta de
28 a 32 semanas e na internação hospitalar para o parto de feto vivo ou morto
e para curetagem por aborto, independentemente de ter sido realizada ou não
a investigação no pré-natal.
O VDRL pode ter falso positivo nos casos de gestação, cirrose hepática,
neoplasias e doenças autoimunes e do tecido conectivo, outras infecções bacte-
rianas, virais e protozoários e uso de Metildopa. Tı́tulos baixo podem indicar
infecção recente ou cicatriz sorológica.
Quadro clı́nico:
Sı́filis recente: menos de 2 anos de duração.
• Sı́filis primária: aparecimento de cancro duro (úlcera indolor, geralmente
única, endurecida, com bordos elevados e fundo liso, com 1 a 2 cm de diâme-
tro), facilmente identificado na genitália externa, podendo passar desaperce-
bido no colo e vagina após 10 a 90 dias do contato e que desaparece em 2 a 6
semanas. Pode ter adenopatia indolor associada.
• Sı́filis secundária: lesões de pele e mucosa. Aparecem 6 semanas a 6
meses após contato e desaparecem após 4 a 12 semanas.
- Roséolas sifilı́ticas: exantema máculopapular disseminado.
120 Manual de rotinas da MCD
cm. Fazer pequena pressão com agulha 13x4 através da gota, paralelamente
a pele. Aguardar 30 minutos e secar.
Teste positivo: pápula, eritema e/ou prurido na área com Penicilina de
maior intensidade do que na de controle.
- Teste intradérmico: injetar 0,01 a 0,02 ml de Penicilina G cristalina
a 1:10.000 UI intradérmica, com agulha 13x4 na face anterior do antebraço e
0,01 a 0,02 ml de SF com distância mı́nima de 2 cm. Aguardar 30 minutos.
Teste positivo: elevação da pápula, eritema e/ou prurido no local da Pe-
nicilina de diâmetro maior do que no controle.
18.2 TOXOPLASMOSE
Infecção causada pelo Toxoplasma gondii, protozoário intracelular. É ad-
quirida pela ingestão de bradizoitos (carne crua ou mal passada) e oocistos
(alimentos mal lavados ou contato com terra, água ou materiais contaminados
por fezes de gato).
Aproximadamente 50% das gestantes são suscetı́veis à infecção. A trans-
missão fetal ocorre por via transplacentária sendo o risco maior quanto maior
a idade gestacional (2% a 6% no primeiro trimestre subindo para 72% no
terceiro trimestre), com média de 50%. No entanto, o risco de lesão severa é
maior quanto mais precoce for a gestação (61% no primeiro, 25% no segundo
e 9% no terceiro trimestre). Está associada à malformação congênita, aborto,
prematuridade e óbito fetal e neonatal.
A transmissão fetal é decorrente da primoinfecção materna ocorrida du-
rante a gestação, sendo praticamente nula na reinfecção e na gestante com
coriorretinite crônica, exceto em imunodeprimidas. A transmissão, quando a
infecção ocorreu no perı́odo periconcepcional, é controversa, sendo conside-
rada nula por muitos pesquisadores, pela ausência da placenta neste perı́odo,
essencial para a transmissão do protozoário para o feto. O rastreamento de
rotina é controverso pela dificuldade em se determinar, em muitos casos, o
diagnóstico de certeza de infecção aguda (exceto nos casos de soroconversão)
e pela não comprovação da eficácia do tratamento na prevenção da transmis-
são e na redução de danos severos no feto especialmente quando o tratamento
foi iniciado após 3 semanas da infecção. No entanto, como o Ministério da
Saúde recomenda o rastreamento universal com a realização de sorologia no
inı́cio da gestação e repetição em cada trimestre nas gestantes suscetı́veis,
incorporamos na rotina do serviço.
poder permanecer positiva por até 2 anos após a infecção. O teste de avidez
da IgG com resultado de baixa avidez sugere que a infecção ocorreu há menos
de 3 ou 4 meses dependendo do laboratório utilizado e, alta avidez, há mais
de 3 ou 4 meses. Índice de avidez intermediária não permite definir o perı́odo
provável da infecção. Portanto, este exame deve ser realizado até 12 semanas
de gestação, pois teste com alta avidez realizado posteriormente não exclui
infecção aguda ocorrida no inı́cio da gestação.
Perfil sorológico inicial:
- IgM (-) / IgG (-) → gestante suscetı́vel. Infecção aguda se ocorrer soro-
conversão.
- IgM (-) / IgG (+) → infecção prévia. Nos casos de reinfecção, ocorre
quadruplicação dos tı́tulos de IgG. Quando este for resultado da primeira
sorologia realizada no terceiro trimestre, a gestante pode ter tido uma infecção
aguda na gestação com positivação e negativação da IgM.
- IgM (+) / IgG (-) → infecção inicial ou IgM falso positivo. Repetir
sorologia em 2 a 3 semanas para avaliar a especificidade da IgM. Se não
houver positivação da IgG, trata-se de IgM falso positivo. No caso de infecção
aguda, ocorre aumento dos nı́veis de IgM, positivação da IgG e da IgA e teste
de avidez de IgG com baixa avidez.
- IgM (+) / IgG (+) → infecção aguda / recente ou IgM residual. Nestes
casos deve-se repetir a dosagem de IgG pelo mesmo método após 3 semanas
e solicitar teste de avidez de IgG o mais precocemente possı́vel para tentar
estimar quando ocorreu a infecção aguda. Em caso de infecção aguda, os
nı́veis de IgG aumentarão e o teste de avidez de IgG dará baixa avidez. Se a
IgG permanecer estável, a infecção ocorreu há mais de 2 meses.
Manejo:
Infecções na gestação 125
18.3 RUBÉOLA
Causada pelo vı́rus da Rubéola. O contágio ocorre uma semana antes do
exantema até uma semana de seu desaparecimento pela inalação de partı́culas
contaminadas. Perı́odo de incubação de 14 a 21 dias. As reinfecções são
raras. Pode ser assintomática ou apresentar exantema máculo-papular que se
inicia em face e tórax e dura 24 a 72 horas, febrı́cula, artralgia e adenopatia
retroauricular, suboccipital e cervical posterior.
Atualmente poucas gestantes são suscetı́veis. O risco de transmissão fe-
tal é de 35% se a infecção ocorreu no primeiro mês de gestação, 25% no
segundo mês, 10% no terceiro mês e de 4% no quarto mês. Está associada a
aborto, prematuridade, CIUR, óbito perinatal e sı́ndrome da rubéola congê-
nita (SRC). As principais malformações encontradas são alterações oculares
126 Manual de rotinas da MCD
18.4 HEPATITE B
Infecção causada pelo vı́rus da Hepatite B. É transmitida por via paren-
teral (contato com sangue e derivados), sexual e vertical. O quadro clı́nico
varia de assintomática até hepatite fulminante. Cursa com náuseas, vômitos,
astenia, mialgia, anorexia, dor no quadrante superior esquerdo do abdome,
febrı́cula, icterı́cia (só ocorre em 30% dos casos) e colúria. Ocorre aumento
das transaminases hepáticas, da fosfatase alcalina e das bilirrubinas. Pode
tornar-se portadora crônica (HbsAg (+) por mais de 6 meses) ou evoluir para
cirrose hepática.
A prevalência de HbsAg (+) em gestantes é de 1,1%. A transmissão para
o feto ocorre principalmente durante o parto, sendo rara na gestação. A taxa
de transmissão depende da replicação viral, e é de:
• HBsAg (+) / HBe Ag (+): 70% a 90%
• HBsAg (+) / HBeAg (-): 5% a 40%
• Carga viral > 200.000 UI/ml: 8% a 32%
• Infecção aguda: média de 60% sendo de 10% a 25% no primeiro trimestre
e de 63% a 83% no terceiro segundo trimestres.
O recém-nascido infectado tem 80% a 90% de risco de ser portador crô-
nico (assintomático ou evolui para cirrose e carcinoma hepatocelular 25% dos
Infecções na gestação 127
Manejo:
• Vacinação das gestantes suscetı́veis (3 doses com intervalo de 0, 1 e 6
meses). Importante avaliar a imunidade pós-vacinal com dosagem do Anti-
HBs.
• Doença ativa (HBsAg e Anti-HBc positivos, TGP elevada (acima de 2
vezes o valor de referência) e carga viral acima de 2.000 UI/ml) ou cirrose he-
pática: encaminhar para hepatologista; considerar tratamento com Tenofovir
300 mg/dia durante toda gestação e puerpério.
• HBeAg positivo ou carga viral acima de 200.000 UI/ml: encaminhar
128 Manual de rotinas da MCD
18.5 CITOMEGALOVÍRUS
Infecção causada pelo Citomegalovirus. A transmissão do vı́rus ocorre
através do contato com secreções infectadas (respiratórias, saliva, urina, san-
gue, secreção genital e leite materno), especialmente de crianças. A infecção
materna é assintomática em 95% dos casos. Quando sintomática, é inespecı́-
fica cursando com febrı́cula, astenia, mialgia, cefaleia, linfadenopatia, odinofa-
gia, tosse, náuseas, diarreia e artralgia e linfócitos atı́picos e trombocitopenia
no hemograma. O vı́rus continua sendo transmitido por meses ou anos após
a infecção aguda e permanece no organismo sob a forma latente pelo resto da
vida. A imunidade não é definitiva podendo ocorrer reativação da infecção
latente e reinfecção por outra cepa.
A transmissão pode ocorrer em qualquer idade gestacional por via trans-
placentária ou ascendente (infecção congênita) e pelo contato com as secreções
do parto e leite materno (infecção perinatal). A taxa de transmissão para o
feto é de 30% após a infecção primária, sendo maior quanto maior a idade
gestacional, caindo para 0,2% a 1,8% após infecção prévia à gestação e re-
ativação da doença. As sequelas fetais são mais frequentes após a infecção
primária e mais severas quanto menor a idade gestacional. A infecção pode
levar ao aborto, prematuridade, malformação e CIUR. É a causa infecciosa
mais prevalente de sequela neurológica congênita grave tais como déficit neu-
ropsicomotor e cognitivo, paralisia cerebral, retardo mental e perda auditiva
e visual.
Os recém-nascidos infectados são assintomáticos em 90% dos casos. Apesar
de apresentarem bom prognóstico, em 10% dos casos, evoluem com sequelas
neurológicas na infância, especialmente surdez. Quando sintomáticos (baixo
peso, hepatoesplenomegalia, trombocitopenia, petéquias, anemia hemolı́tica,
icterı́cia, convulsão, coriorretinite, estrabismo, pneumonia intersticial, dificul-
Infecções na gestação 129
Manejo:
• Contato com vı́rus em suscetı́veis: aplicar Imunoglobulina Antivaricela-
zóster (VZIG): 0,125 ml/Kg IM dentro de 96 horas após a exposição. Eficácia
acima de 80%, com risco zero de SVC. Pode ser necessário repetir se houver
novo contato após 3 semanas.
• Varicela na gestação:
Infecções na gestação 131
18.8 LISTERIOSE
Causada pela Listeria monocytogenes, bacilo Gram positivo. O tempo
médio de incubação é de 30 dias. A transmissão se faz através de contato com
animais infectados ou ingestão de alimentos contaminados (vegetais, carne,
ovos, leite e derivados não pasteurizado e alimentos congelados) e talvez por
transmissão sexual. A infecção se manifesta em imunodeprimidas.
Quadro clı́nico variável podendo manifestar-se como estado gripal, pielo-
nefrite ou evoluir para meningite, endocardite, conjuntivite, faringite ou sepse.
A transmissão para o feto pode ocorrer por via transplacentária, ascendente ou
pelo leite materno. Está associada a aborto de repetição, óbito fetal, trabalho
de parto prematuro, sepse e óbito neonatal (frequente em prematuros em que
132 Manual de rotinas da MCD
18.11 CLAMÍDIA
Infecção muitas vezes assintomática na gestação. Pode estar associada à
gestação ectópica, trabalho de parto prematuro e ruptura prematura de mem-
branas. É causa de conjuntivite e pneumonia neonatal, adquiridas durante o
parto. O risco de infecção neonatal é de 50% se a gestante não foi tratada
caindo para 7% se a gestante recebeu tratamento. Deve ser rastreada em pa-
cientes abaixo de 25 anos e/ou com fatores de risco (múltiplos parceiros, novo
parceiro,...).
18.12 GONORREIA
Na gestação, está associada a aborto séptico, corioamnionite, prematuri-
dade e endometrite pós-parto e oftalmopatia neonatal (pode ter outros focos
de infecção neonatal).
18.14 VULVOVAGINITES
1. Tricomonı́ase: associada na gestação a ruptura prematura das mem-
branas, trabalho de parto prematuro e baixo peso ao nascer.
Tratamento: Metronidazol 2 g VO dose única. Tratar o parceiro.
HIV na gestação
136
HIV na gestação 137
Cuidados na gestação
• Orientar importância do uso da terapia antirretroviral (TARV).
138 Manual de rotinas da MCD
Efeitos colaterais:
- TDF: toxicidade renal (> ureia e creatinina), disfunção tubular proximal
(aumento da β-2 microglobulina urinária, glicosúria, fosfatúria, hipouricemia,
hiperuricosúria, hipofosfatemia, hipocalemia e acidose metabólica), diabetes
insipidus. Estimular hidratação; repetir função renal a cada 3 meses.
- 3TC: dores abdominais, náuseas, diarreia, exantema, pancreatite, neuro-
patia periférica, pancreatite, neutropenia. Suspender medicação.
- RAL: aumento das enzimas hepáticas. Suspender medicação
- AZT (Zidovudina): anemia, neutropenia, náuseas, anorexia, cefaleia,
insônia, dores musculares, astenia. Administrar sintomáticos e orientar ma-
nutenção da medicação; suspender se Hb < 10,0 g/dl e/ou neutrófilos < 1.000
céls/ mm3 .
- ATV + r (Atazanavir/ Ritonavir): náuseas, vômitos, diarreia, exantema,
cefaleia, tontura, icterı́cia (bilirrubina indireta), aumento das transaminases.
Dieta e sintomáticos; avaliar interrupção.
Parto e puerpério
Via de parto: a via de parto depende da CV coletada após 34 semanas.
• Gestantes com CV < 1.000 ou indetectável após 34 semanas,
que utilizaram esquema combinado: indicação obstétrica.
• Gestantes com CV ≥ 1.000 ou desconhecida (não realizada ou rea-
lizada antes de 34 semanas) , ou que não utilizaram TARV na gestação:
cesariana eletiva a partir de 38 semanas (preferencialmente com 39 semanas).
Também estão neste grupo, gestantes multiexperimentadas em TARV em uso
de Enfuvirtida. A cesariana é considerada eletiva se realizada fora do traba-
lho de parto (ou eventualmente se realizada no inı́cio do trabalho de parto,
com até 3 cm de dilatação) e com bolsa ı́ntegra. Parturientes que chegam
em franco trabalho de parto ou com bolsa rota perdem os benefı́cios da cesa-
riana. Nesta situação, a via de parto é de indicação obstétrica, dependendo
da paridade, da fase do trabalho de parto e do tempo presumido até o parto.
HIV na gestação 141
Cuidados gerais:
• A parturiente deve ser internada no inı́cio do trabalho de parto para que
se administre o esquema completo de AZT endovenoso, quando indicado. A
TARV oral utilizada durante a gestação deve ser mantida durante o trabalho
de parto para diminuir o risco de desenvolvimento de resistência aos antire-
trovirais exceto a Estadivudina (d4T) que deve ser suspensa doze horas antes
do inı́cio do AZT endovenoso.
• No trabalho de parto, evitar toques repetidos, amniotomia e procedi-
mentos invasivos. A condução do trabalho de parto, quando indicada, deve
ser realizada para se evitar trabalho de parto arrastado ou bolsa rota por mais
de 4 horas.
• O parto vaginal deve ser realizado preferencialmente sem episiotomia ou
emprego de fórcipe ou de vácuo-extrator.
• Na cesariana, realizar hemostasia cuidadosa e trocar os campos e as
luvas antes da histerotomia para diminuir o contato entre o feto e o sangue
materno. Administrar antibiótico profilático de rotina (manter antibiótico
apenas se doença instalada).
• Sempre que possı́vel, realizar a extração do feto com a bolsa ı́ntegra
(parto empelicado). A ligadura do cordão deve ser precoce, sem ordenha.
• Notificar o caso no momento do parto mesmo que já tenha sido
notificado no pré-natal.
Cuidados no puerpério:
• Manter TARV até avaliação do infectologista. SE CV indetectável, a
associação TDF/3TC + RAL deverá ser substituı́da até 3 meses do parto
(trocar RAL por Dolutegravir (DTG)).
• Enfaixar mamas, colocar bolsa de gelo e prescrever 2 comprimidos de 0,5
mg de Cabergolina para inibir a lactação. Se diagnóstico realizado com apenas
um teste rápido, apenas enfaixar as mamas até a confirmação sorológica.
• Orientar sobre práticas sexuais seguras e uso de preservativo masculino
ou feminino, especialmente durante a amamentação. A orientação contracep-
tiva deve incluir uso de preservativo associado à outro método, exceto uso de
espermicida e diafragma pelo risco de causar microfissuras e de inserção de
DIU enquanto houver imunossupressão.
• Desejo nova gestação: se possı́vel aguardar ter 2 cargas virais negativas,
última realizada há menos de 6 meses.
Em caso de casais sorodiscordante:
- Mulher positiva e parceiro negativo: autoinseminação vaginal progra-
mada durante perı́odo fértil.
- Mulher negativa e parceiro positivo: permitido concepção natural plane-
jada durante perı́odo fértil desde que o parceiro esteja em uso regular de TAR
e com CV indetectável há pelo menos 6 meses e o casal não tenha outras do-
enças sexualmente transmissı́veis; profilaxia pré-exposição sexual (PrEP) com
Tenofovir 300 mg e Emtricitabina 200 mg; ou técnicas de fertilização assistida
com lavagem do esperma.
Em caso de casais soroconcordantes, podem realizar concepção natural
planejada desde estejam em tratamento, sem outra doença sexualmente trans-
missı́vel e com CV indetectável.
Capı́tulo 20
Problemas clı́nicos na
gravidez
20.1 CARDIOPATIAS
A gestação acompanhada de uma cardiopatia é um grande desafio, que
se deve ao fato de as alterações fisiológicas da gestação, representadas pelo
aumento da frequência cardı́aca, aumento da volemia, aumento do débito
cardı́aco, anemia, aumento da permeabilidade vascular, edema periférico, e
alterações da coagulação, mimetizarem sintomas cardiológicos. Essas altera-
ções podem precipitar a descompensação de uma cardiopatia que vinha sendo
bem suportada fora da gestação. Por outro lado, muitos recursos diagnósticos
e terapêuticos são proscritos no decurso da gestação pelo seu potencial efeito
deletério sobre o embrião e o feto.
Para estratificar o risco de uma cardiopatia na gestação, devemos ter em
conta a etiologia da cardiopatia, o tipo de lesão anatômica, o grau funcional de
I a IV na classificação da NYHA e a presença de doenças associadas, tais como
desnutrição, anemia, infecção, hipo ou hipertiroidismo, além das repercussões
sobre o coração, como o tamanho do átrio esquerdo, função ventricular e a
presença de arritmias como a fibrilação atrial.
143
144 Manual de rotinas da MCD
pacientes devem ser orientadas para uma dieta hipossódica, restrição impor-
tante aos esforços e repouso em decúbito lateral esquerdo para assegurar uma
melhor perfusão placentária e facilitar o retorno venoso. Os sintomas são can-
saço, dispneia e palpitação. O edema periférico significa comprometimento do
coração direito. O átrio esquerdo acima de 4,5 - 5 cm de diâmetro facilita o
aparecimento de taquiarritmias, das quais a mais temida é a fibrilação atrial,
pelo risco de formação de trombos intra-atriais e embolização e pelo risco
potencial de edema agudo de pulmão. Essa arritmia deve ser prontamente
tratada. A cardioversão elétrica é procedimento seguro na gestação, devendo
ser feita na fase aguda. Após 72 horas do seu inı́cio, sem instabilidade, deve-
mos manter a frequência cardı́aca baixa com o uso de digital (Digoxina 0,25
mg VO, ou Cedilanide 1 ampola EV dia), ou betabloqueador (Propranolol 40
a 80 mg VO, Metoprolol 25 a 50 mg VO dia), ou Verapamil (80 a 240 mg VO
dia). A fibrilação atrial crônica implica a anticoagulação, para proteger-se dos
fenômenos tromboembólicos (abordado separadamente).
O edema agudo de pulmão deve ser tratado com elevação da cabeceira
da paciente. Por via venosa deve-se usar Furosemida 20 mg (uma a 2 ampo-
las EV), procedimento esse repetido de acordo com a necessidade, Cedilanide
(uma ampola EV dia), ou Metoprolol EV, cateter de O2 para suplementa-
ção de oxigênio. Se não houver boa resposta ao tratamento clı́nico, transferir
a paciente para uma unidade de hemodinâmica para proceder a valvoplas-
tia mitral por cateter balão. A presença de trombo em átrio esquerdo é a
contraindicação mais importante para esse procedimento. As pacientes que
apresentarem melhora da congestão pulmonar com o tratamento clı́nico de-
vem ser preparadas eletivamente para a valvoplastia mitral. Na presença de
contraindicação para a valvoplastia, impõe-se a cirurgia de comissurotomia ou
troca da valva mitral. Na era pós valvoplastia, esse procedimento tornou-se
raro na gestação.
20.1.5 Arritmias
A palpitação é frequente na gravidez, associada a arritmias benignas.
As taquicardias supraventriculares paroxı́sticas podem acontecer na ges-
tação, principalmente em paciente com história prévia e substrato anatômico
para elas. Esse tipo de arritmia responde muito bem ao uso de Adenosina
venosa, na dose de 6,0 mg EV em bolus rápido. Se não houver reversão da
arritmia em 1 a 2 minutos, administrar 12 mg EV em bolus rápido. Lavar
o cateter venoso com solução salina logo após o bolus. Antes de administrar
a Adenosina, deve-se proceder a manobra vagal na tentativa de terminar a
arritmia e de sensibilizar para a droga.
A fibrilação atrial é uma arritmia que normalmente está associada a ou-
tras cardiopatias, ou ao hipertireoidismo. O tratamento já foi apresentado
anteriormente.
As arritmias ventriculares mais graves estão associadas com a IC e in-
suficiência coronariana. A droga com melhor ação nesse tipo de arritmia é
a Amiodarona, que é utilizada nas doses de 100 mg por dia a 300 mg por
dia. Pode ter efeito importante sobre o feto, havendo risco de induzir hipo
e hipertireoidismo. O uso desta droga está indicado apenas na falência de
outras drogas menos lesivas. Na falha do tratamento clı́nico com episódios de
taquicardia ventricular (TV), há a indicação para desfibrilador implantável
(CDI).
20.2 PNEUMOPATIAS
As pneumopatias são geralmente mais sérias na gestação pelas alterações
pulmonares impostas pelo aumento do volume abdominal e elevação do dia-
fragma:
• Hiperventilação pelo aumento do volume corrente e da frequência respi-
ratória com consequente alcalose respiratória e hipocapnia para aumentar e
tensão de O2 e facilitar a excreção de CO2 e a absorção de O2 pelo feto.
• Aumento de 20% a 50% na demanda no consumo de O2 necessária para
manter o metabolismo materno e fetal.
• Diminuição da capacidade residual funcional pulmonar em 20% e da com-
placência torácica com diminuição da reserva de O2 causadas pelo aumento
do volume uterino e hipertrofia das mamas.
• A circunferência torácica aumenta em 5 a 7 cm, o ângulo subesternal
aumenta e o diâmetro vertical diminui.
20.2.1 Asma
É a forma mais comum de doença pulmonar. Graus variados de bronco-
constrição, edema de mucosa brônquica e presença de rolhas de muco resultam
em ventilação pulmonar inadequada, que na dependência de sua gravidade
pode resultar em maiores taxas de prematuridade, baixo peso ao nascer e
mortalidade perinatal.
Clinicamente a asma se manifesta por sibilos, dispneia e tosse produtiva.
A evolução da doença na gravidez é imprevisı́vel, cerca de 50% não sofrem
modificação, 25% apresentam alguma melhora e 25% pioram.
20.2.2 Pneumonia
É uma das principais causas de sepse na gestação sendo o quadro clı́nico
mais grave pelas limitações pulmonares impostas pela gestação. Cursa com
queda do estado geral, febre (ou hipotermia), anorexia, fadiga, tosse purulenta
ou seca, dor ventilatória dependente, dispneia / taquipneia, presença de ron-
cos e estertores crepitantes na ausculta pulmonar e diminuição do murmúrio
vesicular nos casos de derrame pleural. A radiografia de tórax, preferencial-
mente com proteção abdominal, deve ser realizada prontamente e apresenta
área de consolidação e de velamento do pulmão nos casos mais graves. A
saturação de O2 pode estar baixa.
20.2.3 Gripe
Após a epidemia de gripe A de 2009, responsável por grande número de
óbitos maternos, o Ministério da Saúde classificou a gestante e a puérpera
(até 2 semanas pós-parto ou aborto) como sendo grupo de risco para sı́ndrome
respiratória aguda grave (SRAG).
Toda gestante e puérpera com sı́ndrome gripal (febre de inı́cio súbito,
mesmo que referida, acompanhada de tosse, odinofagia e pelo menos um dos
sintomas: mialgia, cefaleia ou artralgia), devem ser medicadas com Fosfato de
Oseltamivir 75 mg VO 12/12 hs por 5 dias a nı́vel ambulatorial após realização
de radiografia de tórax e medida de saturação de O2 . Se houver de sinais de
gravidade (SRAG caracterizada por dispneia, desconforto respiratório ou ta-
quipneia, saturação de O2 abaixo de 95%, exacerbação da doença pré-existente
ou hipotensão) ou de piora clı́nica após a instituição do tratamento (persistên-
cia da febre por mais de 3 dias, miosite com CPK ≥ 2-3 vezes o valor, alteração
152 Manual de rotinas da MCD
20.3 NEUROPATIAS
20.3.1 Epilepsia
É a desordem convulsiva mais comum na gravidez com uma prevalência
estimada em 0,3% a 0,5% das gestantes, enquanto a eclâmpsia é a causa
mais comum de convulsão na segunda metade da gravidez e no puerpério,
associada com a hipertensão e proteinúria, e sua incidência varia de 1/100 a
1/3.500 gestações, na dependência do nı́vel de desenvolvimento da população
estudada.
As repercussões da gravidez sobre a epilepsia são contraditórias. O au-
mento do número de crises pode dever-se ao aumento do volume plasmático
e da filtração glomerular, levando a menor biodisponibilidade das drogas te-
rapêuticas, exigindo com muita frequência ajustes de dose. A redução do
número de crises pode dever-se a maior adesão ao tratamento por parte da
gestante.
A epilepsia não tem efeito prejudicial à gravidez, porém, as drogas anticon-
vulsivantes são capazes de provocar malformações fetais, crescimento intrau-
terino restrito e parto pré-termo (vide capı́tulo 31). O recém-nascido pode
apresentar distúrbios hemorrágicos e sı́ndrome de abstinência devido ao uso
materno de drogas anticonvulsivantes.
Tratamento:
154 Manual de rotinas da MCD
ACV isquêmico:
• Terapia fibrinolı́tica: Altepase (ativador recombinante de plasminogê-
nio): 0,9 mg/kg; máximo 90 m; 10% in bolus em 1 minuto
• Não cruza a placenta
• Uso em até 3 - 4,5 horas do ACV isquêmico, após comprovação por
imagem
• Risco de hemorragia no parto, DPP, parto prematuro e morte fetal
• Não usar anticoagulantes ou antiplaquetários
• Uso de AAS 325 mg dentro das 24 - 48 horas está recomendado
• Uso precoce de heparina não está recomendado
• Heparina de baixo peso molecular (HBPM), Heparina não fracionada
(HNF) em dose plena; manter o INR 2 a 3, deverá ser administrado durante
toda a gravidez e por 6 semanas pós parto, num mı́nimo de duração de 6
meses.
AVC hemorrágico:
• Sangramento por rotura de aneurisma ou malformações arteriovenosas
• Ocorrem em: primeiro trimestre 6%, segundo trimestre 31%, terceiro
trimestre 55% e no puerpério 8%
• A abordagem terapêutica é idêntica a das não grávidas: clipagem cirúr-
gica ou embolização endovascular.
• Conduta obstétrica segundo a idade gestacional:
- < 24 semanas: manejo ditado pelas condições clı́nicas da paciente; a
interrupção pode ser considerada se houver indicação de terapia trombolı́tica
- 24 a 32 semanas: corticoide e decisão multidisciplinar visando o pro-
longamento da gravidez até 34 - 39 semanas, sem prejuı́zo do tratamento
materno
- > 36 semanas: substituir HBPM por heparina não fracionada até a in-
terrupção com 39 semanas; a aspirina deverá ser interrompida 1 ou 2 semanas
antes.
• A via de parto poderá ser de indicação obstétrica desde que não haja
esforço materno no perı́odo expulsivo.
Futuro obstétrico:
Problemas clı́nicos na gravidez 155
20.6 TIREOIDOPATIAS
No inı́cio da gestação normal, os nı́veis elevados de hCG estimulam a
produção de T4 livre com consequente queda do TSH que normaliza após a
vigésima semana. Por outro lado, os nı́veis progressivamente aumentados de
estrogênio geram aumento da proteı́na carreadora de tiroxina deixando nı́veis
normais ou pouco diminuı́dos de T3 e T4 livres apesar do aumento dos nı́veis
séricos de T3 e T4 totais.
20.6.1 Hipotireoidismo
A principal etiologia é a autoimune (tireoidite de Hashimoto), seguida de
hipotireoidismo pós-iodo radioativo ou cirúrgico. Nos casos graves, não tra-
tados, está associado ao óbito perinatal e comprometimento cognitivo ou de
crescimento, além de pré-eclâmpsia, prematuridade, aborto e descolamento
prematuro de placenta. Alguns autores recomendam o rastreamento de hipo-
tireoidismo subclı́nico com dosagem de TSH no inı́cio da gestação em gestan-
tes sintomáticas e com tratamento prévio para hipertireoidismo, presença de
bócio, história familiar de doença da tireoide, doenças autoimunes (diabetes
mellitus tipo 1, lúpus, artrite reumatoide), uso de Amiodarona, Lı́tio, Car-
bamazepina, Fenitoı́na e Rifampicina pelo possı́vel risco de comprometimento
cognitivo no recém-nascido.
158 Manual de rotinas da MCD
20.6.2 Hipertireoidismo
As causas mais frequentes são a doença de Graves e a tireotoxicose tran-
sitória gestacional.
A) Doença de Graves: se não tratada é causa de abortamento, parto pré-
termo, hipertensão, insuficiência cardı́aca, crescimento intrauterino restrito,
malformações fetais e hipertireoidismo fetal (bócio e taquicardia fetal, cres-
cimento intrauterino restrito, aceleração da maturação óssea e aumento da
motilidade fetal) e neonatal.
20.8.3 Talassemias
O hemograma apresenta anemia hipocrômica e microcı́tica e hemácias em
alvo. Esplenomegalia pode estar presente. O diagnóstico definitivo é realizado
com a eletroforese de hemoglobina (na β-talassemia há aumento de HbA2). O
tratamento deve ser feito com suplementação de Ácido Fólico (só usar Sulfato
Ferroso se ferritina diminuı́da, principalmente nas β-talassemias) e transfusão
sanguı́nea. Os casos de talassemia minor apresentam evolução normal da
gestação. Na beta-talassemia major e intermedia, a gestação é rara e há um
maior risco de crescimento intrauterino restrito, óbito fetal e prematuridade.
Fetos com que apresentam alteração nos 4 genes α vão a óbito por hidropsia
fetal. São fatores predisponentes para pré-eclâmpsia precoce.
162 Manual de rotinas da MCD
20.8.5 Trombocitopenia
Deve ser acompanhada em conjunto com o hematologista. É causada pela
própria gestação em 75% dos casos (diagnóstico de exclusão com boa evolução,
sem necessidade de intervenção), destruição aumentada de plaquetas secun-
dária a distúrbios imunes (púrpura trombocitopênica idiopática, lúpus, HIV,
e uso de drogas: Ampicilina, penicilinas, Furosemida, Fenitoı́na, Metildopa,
Heparina, AAS, Ácido Valpróico, Ranitidina, Cimetidina, Carbamezepina,
Acetoaminofen, ...) e não imunes (coagulação intravascular disseminada, sı́n-
drome HELLP e hemolı́tica-urêmica, sepse, púrpura trombocitopênica trom-
bótica (quadro grave com alta morbimortalidade materna e perinatal caracte-
rizado por anemia hemolı́tica microangiopática; anormalidades neurológicas
(cefaleia, confusão mental, paresia, convulsão; febre e disfunção renal), he-
matúria, proteinúria e insuficiência renal, sem alteração do TAP ou TTPa),
dilucional e distúrbio de distribuição plaquetária.
Problemas clı́nicos na gravidez 163
Fatores de risco:
• Gerais: obesidade, idade > 30 anos, varizes, TVP prévia, trauma,
imobilização prolongada, tabagismo, anemia / hemorragia, infecção, doenças
crônicas (cardiopatia, HAS).
• Obstétricos: multiparidade, partos complicados (inclusive cesariana),
endometrite, uso de estrogênio para inibição da lactação.
• Patologias hematológicas prévias: trombofilias.
Dose:
• Heparina de baixo peso molecular (HBPM):
- Dose profilática: enoxaparina 40 mg ou delteparina 5.000 U podendo ser
modificada de acordo com o peso:
Tratamento:
1. TVP:
• Internar na Unidade de Gestação de Alto Risco.
• Orientar repouso e elevação dos membros inferiores.
• Heparinização plena com heparina não fracionada: dose de ataque: 80
UI/Kg; manutenção 18 UI/Kg/h EV (solução de heparina: 25.000 UI diluı́da
em 250 ml de soro fisiológico 5% → 1 ml contém 100 UI/ml). Monitorar o
tempo de tromboplastina parcial ativado (TTPa) a cada 6 horas até atingir
nı́vel terapêutico (relação entre TTPa da paciente / TTPa controle entre 1,5-
2,5); depois controlar uma a duas vezes ao dia. Reajustar a dose de heparina
sempre que necessário:
- < 35 segundos ou relação abaixo de 1,2: dar 80 UI/Kg em bolus e
aumentar infusão em 4 UI/Kg/h
- 35-45 segundos ou relação 1,2-1,5: dar 40 UI/Kg em bolus e aumentar
infusão em 2 UI/Kg/h
- 46-70 segundos ou relação 1,5-2,3: manter infusão
- 71-90 segundos ou relação 2,3-3: diminuir infusão em 2 UI/Kg/h
- > 90 segundos ou relação acima de 3: parar a infusão durante uma hora
e reiniciar com dose de 3 UI/Kg/h a menos.
• Heparinização com heparina de baixo peso molecular: se a função renal
estiver normal pode-se administrar heparina de baixo peso molecular, SC, na
dose de: enoxaparina 1 mg/Kg de peso a cada 12 horas ou 1,5 mg/Kg em dose
única diária; ou dalteparina 200 UI/kg em dose única diária ou 100 UI/Kg
a cada 12 horas; ou tinzaparina 175 UI/Kg em dose única diária. Coletar
anti-Xa após 4-6 horas da terceira dose; ajustar dose para manter anti-Xa
entre 0,6 e 1,0 UI/ml.
• Manutenção: mı́nimo de 3 meses; manter durante toda a gestação e por
pelo menos 6 semanas de puerpério.
- Na gestação: após 5 a 10 dias, iniciar heparina de baixo peso molecular
(enoxaparina 40 mg, dalteparina 5.000 UI ou nadroparina 2.850 UI em dose
única diária, SC) ou heparina não fracionada (5.000 a 10.000 U 12/12 horas,
SC).
- No puerpério: reiniciar heparina. Após 3 a 5 dias, associar anticoagulante
oral (warfarina 5 mg); reajustar a dose a cada 3 dias até atingir RNI de 2 a
3. Suspender heparina após manter nı́vel terapêutico do anticoagulante por
pelo menos 24 a 48 horas. Controlar com TAP semanal.
2. Tromboflebite superficial:
• Internar na Unidade de Gestação de Alto Risco.
• Repouso e elevação de membros inferiores.
• Penicilina G cristalina 5.000.000 U EV 4/4 hs por 5 a 7 dias. Quando
houver melhora do quadro ou nos casos leves, Penicilina G Benzatina 1.200.000
Problemas clı́nicos na gravidez 169
3. TEP:
• Internação na Unidade de Tratamento Intermediária. Os casos graves
devem ser encaminhados para hospital geral.
• Heparinização plena (vide acima).
• Elevar cabeceira da cama e instalar cateter de O2 se saturação < 95%.
Solicitar gasometria, RX de tórax, USG de compressão e doppler venoso de
membros inferiores, angiotomografia helicoidal computadorizada ou cintilo-
grafia pulmonar de ventilação-perfusão.
• Fibrinólise (altepase, estreptoquinase e uroquinase): contraindicada no
puerpério imediato ou na hipertensão grave e embolectomia.
4. Tromboflebite pélvica:
• Antibioticoterapia (esquema trı́plice) + heparinização plena por 7 a 10
dias.
20.11 GINECOPATIAS
20.11.4 Miomatose
Na gestação os miomas podem aumentar de tamanho, principalmente no
primeiro trimestre, causando desconforto local; sofrer degeneração vermelha
pela deficiência do suprimento sanguı́neo e consequente infarto hemorrágico
causando dor e hipersensibilidade localizada sobre o mioma, febrı́cula, náuseas
e presença de áreas cı́sticas dentro do mioma na USG ou na ressonância mag-
nética e que responde ao tratamento sintomático; torção de mioma pediculado
ou encarceramento na pelve com necessidade de cirurgia.
Está associada principalmente à placenta prévia, apresentação anômala e
cesariana além de aborto (principalmente se submucoso), trabalho de parto
prematuro e descolamento prematuro de placenta. Pode ser causa de distócia
de trajeto quando subseroso com pedı́culo grande, volumoso ou localizado
próximo ao colo (impede a descida da apresentação), de atonia uterina e de
retenção placentária.
Avaliação da vitalidade
fetal
174
Avaliação da vitalidade fetal 175
21.1 CARDIOTOCOGRAFIA
A contração rı́tmica é uma propriedade inerente ao músculo cardı́aco. As-
sim temos que um coração desnervado apresenta batimento rı́tmico, próprio
de seu marcapasso.
O coração fetal sofre influência do sistema nervoso autônomo simpático e
parassimpático desde as fases mais precoces da gestação, constatando-se inici-
almente um predomı́nio do simpático com um aumento gradual da influência
Avaliação da vitalidade fetal 177
Parâmetros cardiotocográficos:
A) Linha de base / frequência cardı́aca basal (fcb): média apro-
ximada dos valores da frequência cardı́aca fetal formando a linha de base na
qual estão inscritas as variações tocométricas. Deve ser observada em 2 mi-
nutos, não necessariamente consecutivos, em um traçado de pelo menos 10
minutos, excluı́das as acelerações, desacelerações ou variabilidade aumentada.
Apresenta limites normais compreendidos entre 110 e 160 bpm.
• Taquicardia fetal: linha de base com fcb acima de 160 bpm com
mais de 10 minutos de duração, sendo mais importante se acima de 180 bpm.
A simples presença de taquicardia entre 160 - 180 bpm com aceleração, sem
outras alterações, deve ser considerada normal. Isoladamente tem pouco valor
preditivo para acidose, mas pode estar presente nas fases iniciais da resposta
ao estı́mulo hipóxico de instalação não aguda. Pode ser consequente a:
- Febre materna: é a causa mais frequente. Provavelmente ocasionada por
alterações no controle intrı́nseco do coração fetal.
- Hipoxemia crônica: depressão do componente parassimpático com predo-
mı́nio do simpático além da liberação de catecolaminas pelas adrenais fetais.
Geralmente associada à outras alterações.
- Infecção intrauterina: reação fetal frente ao estresse.
- Movimentação fetal: associação de movimentos sucessivos.
- Ansiedade materna: liberação de catecolaminas e vasoconstrição útero-
placentária.
- Drogas: inibidoras do parassimpático (Atropina, Escopolamina) bem
como β-adrenérgicos (Ritodrina, Salbutamol, Terbutalina) e cocaı́na.
- Arritmias: taquicardia atrial paroxı́stica, flutter atrial, taquicardia su-
praventricular. Taquiarritmia com frequência mantida acima de 200 bpm,
constitui-se uma emergência médica.
- Alterações endócrinas maternas: tireotoxicose e diabetes mellitus.
- Anemia fetal.
- Constitucional: predomı́nio do simpático, especialmente em fetos prema-
turos.
• Bradicardia fetal: linha de base com fcb abaixo de 110 bpm com mais
de 10 minutos de duração. A ocorrência de bradicardia leve anteparto (até 100
Avaliação da vitalidade fetal 179
com o toque vaginal), sob ação de depressores do sistema nervoso central (bar-
bitúricos, opiáceos, tranquilizantes, Sulfato de Magnésio) ou de inibidores do
sistema parassimpático e simpático, arritmias fetais (TAP e BAV total), infec-
ção, malformação sistema nervoso central e coração, dano neurológico prévio
e prematuridade extrema (secundária à imaturidade dos mecanismos contro-
ladores cardı́acos, principalmente do parassimpático) (fig. 21.1).
• Variabilidade moderada ou normal: a amplitude encontra-se entre
6 e 25 bpm. É o padrão normal. Quando presente, geralmente indica ausência
de acidose mesmo na presença de desacelerações (fig. 21.2).
Parâmetros do PBF:
1. Frequência cardı́aca fetal: é avaliada através da cardiotocografia
fetal, considerando-se normal a variabilidade moderada com pelo menos 2
acelerações transitórias (AT) em 20 minutos.
Parâmetros Normal
biofı́sicos fetais
Movimentos Pelo menos 1 episódio de MRF por, pelo menos,
respiratórios 30 seg em 30 min
Movimentos Pelo menos 3 movimentos lentos ou 1 movimento
corpóreos rápido e amplo
Tônus fetal Pelo menos 1 episódio de extensão ativa e flexão
(tronco ou membro)
Ritmo cardı́aco Pelo menos 2 episódios de acelerações transitórias
de 15 bat/min ou mais com duração de 15 seg
associados com MCFs em 20 min
Volume de LA Maior bolsão > 2 cm ou ILA > 5 cm
21.3 DOPPLERVELOCIMETRIA
A dopplervelocimetria estuda a velocidade de fluxo sanguı́neo nos vasos
durante todo o ciclo cardı́aco. Permite, pelo estudo da circulação materno-
feto-placentária, avaliar as condições hemodinâmicas desta circulação. Assim,
a dopplervelocimetria foi incorporada ao arsenal propedêutico obstétrico, re-
presentando importante método rotineiro para o seguimento de gestações de
alto risco, e propiciando, com isso, um novo dimensionamento na avaliação
fetal.
Figura 21.7: Esq.: Art. uterina normal. Dir.: Art. Uterina com incisura.
Artérias Umbilicais: do total de fluxo sanguı́neo que flui pela aorta fetal,
50% a 60% são destinados para as artérias umbilicais que, na continuidade,
participam do sistema viloso terciário, constituindo uma extensa rede vascular
terminal de baixa resistência, local de processamento das trocas entre mãe e
feto.
As alterações dopplervelocimétricas da artéria umbilical (AU), caracteri-
zadas pela redução progressiva da velocidade do fluxo diastólico, até condições
extremas com a ausência de fluxo diastólico (diástole zero) ou fluxo reverso
(diástole reversa), apontam diretamente para lesão placentária (fig. 21.8 e
21.9). Estudos anatomopatológicos demonstraram que as alterações doppler-
velocimétricas tornavam-se evidentes quando ao menos 60% do leito vascular
placentário está obliterado.
Utiliza-se a AU não só para reconhecer placenta insuficiente, como também
para acompanhar o feto por ela agredido.
Figura 21.8: Esq.: Art. umbilical normal. Dir.: Art umbilical com ↑ resistên-
cia.
Figura 21.9: Esq.: Art. umbilical com diástole zero. Dir.: Art umbilical com
diástole reversa.
Figura 21.10: Esq.: Art. cerebral média normal. Dir.: Art. cerebral média
com centralização.
Figura 21.11: Esq.: Ducto venoso normal. Dir.: Ducto venoso com fluxo
reverso.
Procedimentos invasivos
em obstetrı́cia e terapia
fetal
193
194 Manual de rotinas da MCD
22.1.2 Amniocentese
Envolve a aspiração direta do lı́quido amniótico através de agulha fina gui-
ada pela ultrassonografia. É habitualmente realizada à partir de 16 semanas
de gestação.
Indicações (diagnóstico pré-natal):
- Determinação do cariótipo fetal e diagnóstico do sexo
- Diagnóstico das doenças metabólicas hereditárias
- Diagnóstico de doenças genéticas, mucoviscidose
- Diagnóstico de infecções congênitas (pesquisa do agente pelo método de
PCR)
- Avaliação da maturidade pulmonar fetal
- Isoimunização Rh (espectrofotometria do lı́quido amniótico)
Utilizamos para a avaliação da maturidade pulmonar fetal a contagem de
corpos lamelares no lı́quido amniótico sendo considerado maduro se superior
a 30.000.
22.1.3 Cordocentese
Consiste na aspiração direta do sangue fetal do cordão umbilical, nor-
malmente da veia umbilical preferencialmente na sua inserção placentária.
Permite não só a análise dos cromossomos como também a pesquisa de infec-
ções congênitas, pH, pressão de oxigênio e gás carbônico, tipagem sanguı́nea,
hematócrito, hemoglobina e erros inatos do metabolismo. A cordocentese é
realizada a partir de 22 semanas de gestação.
Indicações (diagnóstico pré-natal):
- Determinação do cariótipo fetal
- Diagnóstico das doenças metabólicas hereditárias
- Diagnóstico de doenças genéticas
- Diagnóstico de infecções congênitas
- Isoimunização Rh
Complicações:
Procedimentos invasivos em obstetrı́cia e terapia fetal 195
22.2.1 Amnioinfusão
É a infusão de Soro Fisiológico ou Ringer Lactato na cavidade amniótica,
em casos selecionados de oligoâmnio:
- Melhorar a acuidade diagnóstica da ultrassonografia, permitindo melhor
avaliação fetal
- Diminuir e/ou prevenir compressão do cordão umbilical e fenômenos
compressivos sobre o feto, evitando risco de deformidades fetais e hipoplasia
torácica ou pulmonar.
- Permitir o diagnóstico de ruptura de membranas, podendo-se utilizar
corante como o Índigo Carmine.
Complicações:
- Ruptura prematura de membranas
- Sobredistensão uterina
- Bradicardia fetal
- Corioamnionite
- Trabalho de parto prematuro
22.2.2 Amniorredução
É a retirada do excesso de lı́quido amniótico por meio de amniocentese,
sendo importante recurso para reduzir os sintomas de dor abdominal e des-
conforto respiratório, e prolongar gestações complicadas pelo polidrâmnio.
Procedimentos invasivos em obstetrı́cia e terapia fetal 197
22.3.1 Polidrâmnio
Utilização de Indometacina, um inibidor da ciclo-oxigenase, que diminui
o fluxo sanguı́neo renal do feto. Pode ser usada até 32 semanas de gestação,
controlando-se o ducto arterioso através do Doppler, pois o seu uso pode levar
ao fechamento precoce deste.
22.3.2 Hipertireoidismo
O controle inadequado da função tireoidiana materna aumenta o risco para
trabalho de parto prematuro, morte fetal intrauterina, insuficiência cardı́aca,
crise tireotóxica fetal, taquicardia fetal persistente, retardo de crescimento
e hipermotilidade. A droga de escolha para tratamento do hipertireoidismo
materno é o Propiltiouracil.
22.3.3 Hipotireoidismo
Pode cursar com retardo do desenvolvimento neuropsicomotor, atraso na
maturação respiratória fetal, alterações do volume de lı́quido amniótico e bócio
fetal. A droga de escolha para tratamento do hipotireoidismo materno é a
Levotiroxina.
Assistência ao trabalho de
parto e parto
200
Assistência ao trabalho de parto e parto 201
Estática fetal
Relações entre o feto e a mãe. Importante para o manejo adequado do
trabalho de parto e parto.
• Atitude: relação entre as partes fetais. Geralmente o feto encontra-se
em flexão completa.
• Situação: relação entre o maior eixo materno e o fetal. Pode ser longi-
tudinal, transversal ou oblı́qua (transitória).
• Posição: relação entre o dorso fetal e o lado direito e esquerdo materno
(ou anterior e posterior na situação transversa).
• Apresentação: parte fetal insinuada. Na situação longitudinal pode ser
a cabeça (cefálica) ou a nádega (pélvica) e, na transversal, o ombro (córmica).
202 Manual de rotinas da MCD
Manobras de Leopold
• Primeira: comprimir o fundo uterino com as mãos encurvadas em con-
cha para determinar qual o polo fetal que o ocupa (o polo cefálico é duro e
forma ângulo fechado entre as mãos enquanto que o pélvico é amolecido e com
ângulo aberto) (fig. 23.2). Na situação transversal, não há polo fetal no fundo
uterino.
• Segunda: deslizar as mãos pela lateral do útero para determinar em
qual lado está o dorso fetal - posição fetal (o lado do dorso apresenta superfı́cie
regular enquanto que o dos membros, apresenta saliências e reentrâncias).
• Terceira: apreender o polo que faz contato com o estreito superior da
bacia e mover lateralmente para avaliar o grau de penetração da apresentação
na pelve (se o feto estiver encaixado, não se consegue movê-lo) e comparar
com o outro polo fetal (cefálico é rı́gido e regular enquanto que o pélvico é
depressı́vel, amolecido e irregular).
• Quarta: insinuar os dedos entre a pelve materna e o polo fetal para
avaliar o grau de insinuação da apresentação fetal (se o feto for rechaçado,
considera-se que ele está flutuando).
Tipos de bacia:
204 Manual de rotinas da MCD
Atendimento inicial
As gestantes em trabalho de parto e as com indicação de interrupção da
gestação deverão ser encaminhadas ao Centro Obstétrico.
• Preenchimento do partograma, da história clı́nica e da prescrição médica.
Importante indagar a paridade, antecedentes obstétricos e avaliar os dados do
pré-natal (número e intervalo das consultas, exames e qualidade do pré-natal).
O idade gestacional deve ser calculada a partir da data da última menstruação
e do primeiro exame ultrassonográfico. No exame fı́sico, é imprescindı́vel
avaliar a pressão arterial, a temperatura axilar, a altura de fundo uterino,
a atividade uterina, os batimentos cardiofetais, o toque vaginal e o exame
especular, quando necessário.
• Fleet enema: não é realizado de forma rotineira, podendo ser realizado
caso a parturiente solicite.
• Tricotomia: não é realizada de rotina. Caso seja necessária realizá-la,
aparar os pelos pubianos e raspar apenas o perı́neo posterior, preferencial-
mente com tricotomizador elétrico. Se a gestante for submetida à cesariana,
206 Manual de rotinas da MCD
Manejo
• Estimular a entrada de um acompanhante no Centro Obstétrico.
• Apresentação da sala de parto para a parturiente e acompanhante,
quando possı́vel.
• Estimular a deambulação ou posição verticalizada / orientar a parturi-
ente para que adote uma posição mais confortável na cama, bola ou cavalinho,
evitando ficar em decúbito dorsal sem elevação da cabeceira (gera hipotensão
com consequente diminuição do fluxo uterino e da efetividade das contrações
uterinas tornando-as mais frequentes e menos intensas).
• Em pacientes de risco habitual, a ingestão dieta sem resı́duos pode ser
oferecida 5 cm de diatação; água e lı́quidos claros estão liberados durante todo
trabalho de parto.
• Ausculta dos batimentos cardiofetais a cada 30 minutos, antes, durante
e após as contrações; cardiotocografia deve ser realizada sempre que houver
alterações na ausculta ou em fetos de alto risco.
• Atividade uterina: realizar a cada hora durante 10 minutos. Em caso de
indução ou condução do trabalho de parto com Ocitocina, repetir a cada 30
minutos até atingir a atividade uterina desejada.
• Toque vaginal: realizar a cada 2 a 4 horas em caso de bolsa ı́ntegra e
a cada 3 a 4 horas se bolsa rota, dependendo das contrações uterinas e fase
do trabalho de parto. Pode ser necessário repetir antes se houver ruptura das
bolsas amnióticas ou presença de puxo materno. No toque, deve-se avaliar a
apresentação fetal, a variedade de posição (se dilatação avançada), a dilatação
e o apagamento cervical, a altura da apresentação (planos de DeLee - medida
a partir da espinha isquiática, em cm; quando negativa (-5 a -1), está acima da
espinha isquiática; quando positiva (+1 a +5), abaixo e; quando 0, na altura
das espinhas) (fig. 23.6), a integridade da bolsa, o aspecto do lı́quido amniótico
Assistência ao trabalho de parto e parto 207
Índice de Bishop:
0 1 2 3
Altura da apresentação -3 -2 -1/0 +1
Dilatação cervical 0 1-2 3-4 >5
Apagamento do colo 0-30% 40-50% 60-70% 80%
Consistência do colo firme médio amolecido
Posição do colo posterior central anterior
Preenchimento do partograma
Adotamos o partograma baseado no do CLAP (Centro Latino-americano
de Perinatologia). O preenchimento deve ser iniciado na internação. Cada
coluna do gráfico do partograma corresponde ao perı́odo de uma hora.
Assistência ao trabalho de parto e parto 211
Manejo
• Controlar os batimentos cardiofetais a cada 15 minutos nas gestações de
baixo risco de evolução para hipóxia e acidose fetal e a cada 5 a 10 minutos
nas de alto risco, especialmente após a contração uterina.
• Evitar toques repetidos, orientação de puxos maternos precoces e mas-
sagem perineal.
• Permitir que a parturiente adote uma posição mais cômoda.
• Corrigir atividade uterina, quando necessário.
Atenção ao parto
O parto é realizado na Sala de Parto com a paciente na posição em que
melhor se acomodar dando preferência às posições verticalizadas.
• Antissepsia das mãos.
• Antissepsia e colocação dos campos.
• Anestesia do pudendo se houver necessidade de realizar a episiotomia
médio lateral direita. A episiotomia não deve ser realizada rotineiramente.
O seu emprego depende da elasticidade do perı́neo, do peso fetal estimado e
da necessidade de apressar o perı́odo expulsivo na presença de sangramento
ou de sofrimento fetal. A proteção do perı́neo e o controle da velocidade do
desprendimento do polo cefálico são fundamentais para evitar as lacerações
perineais.
• Após o nascimento, secar o recém-nascido e, sempre que possı́vel, colocá-
lo em contato pele a pele com a mãe (de termo, estiver respirando esponta-
neamente ou chorando e com tônus normal). O clampeamento do cordão
deverá ser realizado após um a 3 minutos exceto quando houver indicação de
clampeamento precoce do cordão.
• Administração de 10 U de Ocitocina IM logo após o nascimento para
facilitar a dequitação, prevenir atonia uterina e diminuir o volume de san-
gramento. Em puérperas com risco aumentado de atonia uterina (grande
Assistência ao trabalho de parto e parto 213
Intercorrências no trabalho
de parto e parto
24.1 DISTOCIA
A distocia é caracterizada pela evolução lenta do trabalho de parto. Para
que o trabalho de parto progrida normalmente, há a necessidade da interação
adequada entre o trajeto de parto, o objeto (feto) e as forças de expulsão.
Qualquer alteração neste equilı́brio é capaz de interferir negativamente na
evolução esperada do trabalho de parto. São causas de distocia:
1. Distocia de trajeto: obstrução mecânica do trajeto de parto.
• Trajeto duro (vı́cios pélvicos): redução de um ou mais diâmetros da pelve
ou alteração na inclinação da bacia causados por raquitismo, fratura, luxação,
poliomielite, osteomalácia, deformidades da coluna vertebral e tipo de bacia.
Apenas as gestantes com deformidades ósseas importantes não têm condições
de evoluir para o parto normal. Em casos limı́trofes, pode-se permitir a prova
de trabalho de parto.
• Trajeto mole:
∗ Miomas uterinos subserosos com grandes pedı́culos ou de segmento in-
ferior, tumores ovarianos prévios a apresentação fetal.
∗ Anomalias de desenvolvimento do útero.
∗ Distocia cervical:
- Distocia passiva: o colo se apaga mas não se dilata pela resistência do ori-
fı́cio cervical externo decorrente de cicatrizes, malformações, neoplasia, coniza-
ção, circlagem, cervicite crônica. Ocorre inicialmente uma taqui-hiperssistolia
evoluindo para contrações hipoativas ou para hipertonia. O tratamento é a
resolução do parto pela cesariana.
- Distocia ativa: falha de dilatação do orifı́cio cervical interno do colo
216
Intercorrências no trabalho de parto e parto 217
causada pela inversão do gradiente das contrações uterinas e só deve ser di-
agnosticada durante a fase ativa do trabalho de parto. Sua correção pode
propiciar o parto normal.
- Edema de colo: frequente após trauma do colo por toques repetidos ou
tentativa de redução do colo e por esforços expulsivos prematuros ou trabalho
de parto prolongado com apresentação insinuada e dilatação incompleta. Pode
reverter se for evitado a repetição desnecessária do toque vaginal e dos puxos
maternos, administração de Hioscina EV ou realização analgesia de parto.
- Saculação do segmento inferior.
∗ Patologias de vagina: atresia, septos, cistos, estenose, condiloma.
∗ Patologias de vulva: varizes, cistos ou abcesso de glândula de Bartholin.
Figura 24.1: Esq.: Fase ativa prolongada. Dir.: Parada secundária da dilata-
ção.
Via de parto em fetos malformados: a grande maioria dos fetos com mal-
formações podem nascer de parto normal, salvo nos casos onde há distocia de
objeto com obstrução ao parto (fetos acolados, teratoma sacro-cocxı́geno, ma-
crocefalia, tumores cervicais volumosos que impedem a flexão da cabeça fetal,
hidropsia de causa não letal), presença de arritmia fetal com difı́cil controle
dos batimentos cardiofetais e aumento do risco de infecção e/ou de agrava-
mento do quadro pelo parto normal (mielomeningocele, onfalocele gigante com
herniação do fı́gado, osteogênese imperfeita com fratura óssea fetal). No en-
tanto, para maior agilidade, quando o recém-nascido necessita ser submetido
à cirurgia ou tratamento especializado logo após o nascimento (gastrosquise,
onfalocele, cardiopatias, ...), optamos pela realização de cesariana programada
com vaga reservada na UTI do Hospital Infantil Joana de Gusmão.
crociática da pelve materna passando pela face e ventre fetal até alcançar
o braço posterior. A mão deve ser tracionada delicadamente passando pelo
ventre e pela face fetal. Esta manobra transforma o diâmetro biacromial
em axiloacromial, de menor tamanho, e causa a rotação do feto (fig. 24.6).
O auxiliar deve aplicar suave pressão suprapúbica para facilitar o despren-
dimento do ombro anterior. Pode ser necessária a complementação com a
manobra de saca rolha modificada para facilitar a desimpactação do ombro
anterior. Quando realizada em posição de Gaskin, retira-se o ombro que agora
encontra-se em posição anterior. Esta manobra frequentemente fratura os os-
sos do braço, porém raramente provoca lesão nervosa. Apesar de ser mais
complexa, tem a vantagem de não necessitar a tração do polo cefálico.
o ombro anterior preso atrás da sı́nfise púbica (fig. 24.7). Sempre associar a
manobra de McRoberts e suave pressão suprapúbica.
Caso não seja possı́vel acessar o ombro anterior, a mesma manobra pode
ser realizada no ombro posterior quando introduz-se 2 ou 4 dedos da mão pro-
fundamente na escava pélvica atingindo o dorso fetal e girando-o 30o tomando
o cuidado em manter o úmero e o cotovelo junto ao tronco (fig. 24.8). Nes-
tes casos, a pressão suprapúbica deve ser exercida sobre a porção anterior do
ombro anterior do feto para facilitar a rotação e o desprendimento do ombro
anterior.
Após a saı́da dos membros inferiores, o feto deve ser tracionado gentilmente
para baixo pela cintura. Faz-se uma alça de cordão tracionando-o em sua
porção distal. Com o aparecimento das escápulas, o feto tende a girar para a
posição ântero-posterior para restituir o diâmetro biacromial. Posteriormente,
irá girar 90o . Tomar o cuidado em manter o dorso em posição anterior para
facilitar o desprendimento do polo cefálico.
As manobras para a extração dos membros superiores só devem ser empre-
gadas após a exteriorização do ângulo inferior das escápulas e a visualização
da axila. Para facilitar a saı́da da cintura escapular, emprega-se a mano-
bra de Bracht com acentuação do encurvamento dorsal do feto em direção
ao ventre materno, segurando a coxa do feto com os polegares e as nádegas
com os demais dedos, sem tracioná-lo (fig. 24.11). Esta manobra propicia a
saı́da espontânea dos braços necessitando, eventualmente, de um suave auxı́lio
digital.
Para o desprendimento do polo cefálico, a manobra de Bracht é geralmente
exitosa. Importante lembrar que desde o inı́cio do perı́odo expulsivo o auxiliar
deve fazer uma pressão na região suprapúbica materna para evitar a deflexão
da cabeça fetal e consequentemente a cabeça derradeira. Se necessário, para
facilitar sua realização, abaixa-se o corpo do feto para o desprendimento da
nuca.
24.7 MECÔNIO
A presença de mecônio no lı́quido amniótico é sinal de alerta para a inves-
tigação de sofrimento fetal por estar associada a piores resultados perinatais.
A eliminação de mecônio intraútero ocorre em 12% das gestações, geral-
mente após 37 semanas. É rara abaixo de 32 semanas, chegando a 30% em
gestações prolongadas. Sua liberação pode ser devida ao aumento da ativi-
dade gastrointestinal consequente à estimulação do parassimpático por evento
hipóxico (incluindo sofrimento fetal e compressão do polo cefálico ou cordão
umbilical) ou infeccioso em gestações pré-termo e à termo ou à simples matu-
ração do sistema gastrointestinal em gestações prolongadas.
É sugerido que a presença de mecônio no lı́quido amniótico estimula a
vasoconstrição, a necrose dos vasos umbilicais e a formação de trombos que
comprometem a vascularização fetal expondo-o ao risco de lesão cerebral; re-
duz as propriedades antibacterianas do lı́quido amniótico favorecendo a cori-
oamnionite; neutraliza a ação do surfactante; desencadeia o trabalho de parto
prematuro e causa alterações de coagulação fetal e convulsões neonatais.
A sı́ndrome de aspiração de mecônio compromete 5% dos recém-nascidos
que eliminaram mecônio intraútero sendo mais grave quanto mais espesso for
o lı́quido. Leva ao óbito 4% por hipóxia e acidose consequente à obstrução
das vias aéreas superiores e inferiores, infecção e pneumonite quı́mica. A as-
piração ocorre intraútero pelos movimentos de gasping fetal, geralmente após
sofrimento fetal (principalmente crônico) ou após os primeiros movimentos
respiratórios, não sendo prevenı́vel.
24.9 CORIOAMNIONITE
Infecção da cavidade amniótica. Geralmente causada por infecção ascen-
dente da vagina podendo ser secundária a disseminação hematológica ou pós-
procedimento invasivo. Geralmente é polimicrobiana sendo os principais agen-
tes próprios na flora vaginal normal: Mycoplasma homyni, Ureaplasma urealy-
ticum, Provotella bivia, Gardnerella vaginalis, Escherichia colli, bacteróides,
estreptococos anaeróbios e do grupo B, Listeria monocytogenes.
Está relacionado à amniorrexe prematura, parto prematuro, parto disfun-
cional com maior necessidade de condução do trabalho de parto e de cesariana,
hemorragia pós-parto, depressão fetal ao nascimento e necessidade de reani-
mação, ı́ndice de Apgar baixo, sı́ndrome inflamatória fetal (predispõe à bron-
codisplasia pulmonar e paralisia cerebral), desconforto respiratório, hemor-
ragia intraventricular, convulsão e, nos casos sintomáticos, à sepse materna,
fetal e neonatal, endometrite pós-parto, infecção de parede e óbito materno e
perinatal.
São fatores de risco: idade materna e condições socioeconômicas baixas,
nuliparidade, trabalho de parto e tempo de bolsa rota prolongados, toques
repetidos, monitorização fetal interna, vaginose bacteriana, colonização por
estreptococo β hemolı́tico e mecônio, além de infecção materna sistêmica.
Pode ser:
• Histológica: infiltração das membranas e placenta com linfócitos po-
limorfonucleares. Presente em 20% das gestações a termo e em 50% das
pré-termo.
• Subclı́nica: diagnóstico feito pela amniocentese (cultura (+), leucóci-
tos > 30 céls/mm3 , glicose < 14 mg/dl, presença de bactérias pelo Gram) em
gestante assintomática e é suspeitada pela ausência de movimentos respira-
tórios e presença de areia na ultrassonografia transvaginal. Sua frequência é
inversamente proporcional a idade gestacional. Presente em 17% das gestan-
tes em trabalho de parto prematuro e em 49% das gestantes com amniorrexe
prematura pré-termo.
• Clı́nica: caracterizada por febre (1 medida acima de 39o C ou 2 medidas
acima de 38o C com intervalo de 30 minutos) associada a taquicardia fetal,
leucocitose (acima de 15.000/mm3 ) e secreção purulenta saindo pelo orifı́cio
cervical. Ausência de movimentos respiratórios na ultrassonografia (USG)
e/ou presença de areia na USG transvaginal também sugerem o diagnóstico
(capı́tulo 24). O diagnóstico definitivo de infecção é firmado pelo Gram, cul-
tura positiva ou baixa concentração de glicose no lı́quido amniótico obtido por
amniocentese ou pela presença de alterações caracterı́sticas no exame anato-
mopatológico da placenta.
Presente em 1% a 2% das gestações a termo e em 5% a 10% das pré-
termo com bolsa ı́ntegra. Nos casos de amniorrexe, está presente em 40% das
Intercorrências no trabalho de parto e parto 239
Conduta:
• Dar apoio emocional/ psicológico e orientar casal sobre a importância da
investigação da causa do óbito e sobre o protocolo de interrupção da gestação.
• Solicitar hemograma com plaquetas, TAP, TTPa, fibrinogênio, antitrom-
bina III e produto de degradação de fibrina para diagnóstico de coagulação
intravascular disseminada (raramente ocorre antes de 4 semanas do óbito).
• Orientar a gestante e familiares de que a resposta à indução é variável.
O parto pode se ultimar em algumas horas ou após alguns dias. Apesar da
demora, insistir no parto normal.
• Em grande número de casos, o inı́cio do trabalho de parto é espontâneo.
Induzir o trabalho de parto conforme rotina. Uso liberal de analgésicos. A
cesariana está indicada apenas nos casos onde há contraindicação ao parto
normal (placenta prévia, cesarianas ou cicatriz uterina prévia, distocia de tra-
jeto,...), descolamento prematuro de placenta, coagulação intravascular disse-
minada instalada ou corioamnionite sem trabalho de parto, falha de indução
após tentativas repetidas.
• Procedimentos para investigação do óbito:
∗ Obter consentimento informado para a coleta do material e necropsia.
∗ Coletar, quando possı́vel, cultura de lı́quido amniótico (10 ml de lı́quido
amniótico, preferencialmente guiado por ultrassonografia, e colocar em frasco
especı́fico de hemocultura).
∗ Coletar secreção vaginal e endocervical:
- Estreptococo do grupo B: coletar do canal vaginal e anal com swab es-
pecı́fico (tampa azul) e colocar no meio de transporte.
Intercorrências no trabalho de parto e parto 241
Parto instrumentalizado e
cesariana
25.1.1 Fórcipe
Indicações: exaustão materna ou analgesia de parto (pode interferir na inten-
sidade dos puxos maternos), patologias maternas que contraindicam esforços
de expulsão valsalva repetidos (cardiopatias ou doenças respiratórias graves,
acidente vascular cerebral, aneurisma, hipertensão severa, varizes esofágicas,
trauma medular, miastenia gravis, retinopatia proliferativa), inércia uterina,
variedades de posição anômalas ou perı́odo expulsivo prolongado, necessidade
de antecipação do parto (alterações dos batimentos cardiofetais, hemorragia)
e correção de atitude da cabeça fetal (assinclitismo, má rotação ou deflexão,
mento-púbica, encravamento da cabeça derradeira). Não utilizar se em vari-
edade de posição transversa com assinclitismo posterior.
Critérios de aplicabilidade:
242
Parto instrumentalizado e cesariana 243
• Dilatação total
• Bolsa rota
• Avaliação adequada da variedade de posição
• Ausência de sinais de desproporção cefalopélvica
• Contrações efetivas
• Altura da apresentação fetal em plano +2 de DeLee ou mais. É consi-
derado de alı́vio quando a apresentação fetal alcança o assoalho pélvico em
variedades OP, OS, OAE, OAD, OPD e OPE e com necessidade de rota-
ção menor que 45o . É considerado fórcipe baixo quando a apresentação fetal
está entre o assoalho pélvico e plano +2 de DeLee com necessidade de graus
variados de rotação e médio quando está entre o plano 0 e +2.
• Ausência de sofrimento fetal
Cuidados iniciais:
• Solicitar ajuda.
• Anestesia pudenda bilateral ou raqueanestesia em sela
• Esvaziamento da bexiga
• Os ramos do fórcipe devem ser articulados em frente ao introito vaginal
na posição exata em que ficarão após sua locação
• Lubrificação das colheres com vaselina.
• Episiotomia (quando necessária, pode ser realizada antes ou após a co-
locação das colheres)
A força deve ser exercida apenas com os braços. O traçado que o fórcipe fará
durante o nascimento é em forma de J. Iniciar, durante a contração uterina,
uma tração horizontal suave com uma das mãos enquanto que outra mão deve
empurrar a haste para baixo (ou tracionar com uma compressa) para trazer
a cabeça fetal para baixo da sı́nfise púbica (fig. 25.3). Tracionar então o feto
para cima para permitir a extensão da cabeça. Desarticular o fórcipe enquanto
a cabeça estiver saindo, iniciando pela colher direita em sentido inverso ao da
colocação.
Complicações:
• Maternas: lacerações de trajeto, lesão de bexiga e reto, prolongamento
da episiotomia.
• Fetais: cefalohematoma, escoriações, paralisia e laceração facial e he-
morragia intracraniana.
25.1.2 Vácuo-extrator
Indicações: exaustão materna em parturiente capaz de fazer algum esforço
de expulsão, patologias maternas que contraindicam esforços maternos expul-
sivos, perı́odo expulsivo prolongado e necessidade de antecipação do parto.
Tipos de vácuo-extrator:
• Rı́gidos
• Maleáveis
Critérios de aplicabilidade:
• Dilatação total
• Bolsa rota
• Ausência de sinais de desproporção cefalopélvica
246 Manual de rotinas da MCD
Cuidados iniciais:
• Anestesia, quando necessária.
• Esvaziamento da bexiga.
• Episiotomia em casos selecionados.
Aplicação:
• Limpeza do couro cabeludo para facilitar a aderência da campânula.
• Inserir a campânula na vagina e aplicar sobre o ponto de flexão da cabeça
fetal.
• Fazer vácuo suave (10-20 U Hg) para manter a campânula na posição e
verificar se nenhum tecido materno ficou preso ao vácuo-extrator.
• Durante a contração, aumentar o vácuo (50 U Hg), orientar o puxo ma-
terno, e realizar tração delicada com uma das mãos seguindo o sentido do
desprendimento do polo cefálico. A outra mão deve ser colocada sobre a cam-
pânula (polegar) e o polo cefálico (demais dedos) para se avaliar a efetividade
Parto instrumentalizado e cesariana 247
Complicações:
• Maternas: lacerações de trajeto.
• Fetais: cefalohematoma, hemorragia intracraniana e subgaleal, escoria-
ções, laceração do escalpe, edema couro cabeludo, distocia de ombro.
25.2 CESARIANA
A cesariana, quando bem indicada, melhora significativamente os resul-
tados perinatais. Apesar de ser considerada por muitos como sendo uma
248 Manual de rotinas da MCD
operação ”banal”, é uma cirurgia de médio porte e, quando mal indicada, au-
menta a morbimortalidade materna, fetal e neonatal. Está associada ao maior
número de complicações maternas tanto imediatas (lacerações acidentais de
bexiga, ureter e intestino, aumento do volume de sangramento, trombose ve-
nosa profunda e tromboembolismo pulmonar, ı́leo paralı́tico, reações indese-
jáveis à anestesia, hematoma de parede, infecções puerperais) como tardias
(aderências, hérnia incisional, endometriose incisional, spotting por formação
de divertı́culo na cicatriz uterina), em gestações futuras (aumenta risco de
placenta prévia e rotura uterina) e complicações neonatais (frequência maior
de sı́ndrome de angústia respiratória e prematuridade iatrogênica, interfere
com o estabelecimento do vı́nculo e instalação da amamentação). A taxa de
mortalidade materna é 5 vezes maior após cesariana do que após parto normal,
dependendo da sua indicação. Além disso, apresenta maior custo hospitalar
e aumenta o tempo de hospitalização. Alguns estudos não demonstraram di-
minuição na mortalidade neonatal, hemorragia intracraniana, lesão de plexo
braquial (salvo em apresentação pélvica) e paralisia cerebral quando indicada
de forma aleatória. Nos casos eletivos, mesmo quando é a via de parto mais
indicada, é importante a presença de contrações uterinas por serem um indica-
dor de época oportuna para o parto evitando uma prematuridade iatrogênica
e ajudam na formação do segmento inferior do útero facilitando a cirurgia e
diminuindo o sangramento da histerotomia.
Cesarianas consideradas eletivas em gestante de risco habitual (como por
exemplo em gestante com cesarianas prévias ou feto em apresentação pélvica
fora do trabalho de parto), devem ser realizadas após 39 semanas de gestação,
dependendo da disponibilidade de vaga no serviço.
Indicações
As indicações de cesariana são diversas sendo algumas absolutas e outras
relativas:
• Estado fetal não-tranquilizador e prolapso de cordão em que a cesariana
for significativamente mais rápida do que o parto vaginal.
• Sangramento de segundo e terceiro trimestres: placenta prévia, descola-
mento prematuro de placenta, rotura de vasa prévia ou uterina.
• Apresentação anômala (córmica, pélvica ou cefálica defletida), algumas
malformações fetais e arritmia cardı́aca fetal (capı́tulo 24).
• Gestação múltipla: gemelar em que o primeiro não é cefálico, se segundo
não-cefálico com peso estimado maior que o primeiro, se 3 ou mais fetos, fetos
acolados.
• Desproporção cefalopélvica real ou distocia de trajeto. A macrossomia
por si só não é indicação de cesariana. Considerar nos casos de peso fetal
estimado acima de 4.500 g e, em gestantes diabéticas, acima de 4.000 g.
Parto instrumentalizado e cesariana 249
Classificação de Robson:
• Grupo 1: nulı́para, com feto único, cefálico, ≥ 37 semanas, em trabalho
de parto espontâneo
• Grupo 2: nulı́para, com feto único, cefálico, ≥ 37 semanas, trabalho de
parto induzido ou cesariana realizada antes do inı́cio do trabalho de parto
• Grupo 3: multı́para sem cesariana prévia, com feto único, cefálico, ≥
37 semanas, em trabalho de parto espontâneo
• Grupo 4: multı́para sem cesariana prévia, com feto único, cefálico, ≥
37 semanas, trabalho de parto induzido ou cesariana realizada antes do inı́cio
do trabalho de parto
• Grupo 5: multı́para com 1 ou mais cesariana(s) prévia(s), com feto
único, cefálico, ≥ 37 semanas
• Grupo 6: nulı́para, com feto único, pélvico
• Grupo 7: multı́para, com feto único, pélvico, com ou sem cesariana
prévia
250 Manual de rotinas da MCD
Técnica operatória
Cuidados pré-operatórios: jejum de 8 horas nos casos eletivos. A sonda-
gem vesical pode ser dispensada se a parturiente não tiver incisões pélvicas
sucessivas. Administração de antibiótico profilático (Cefazolina 1 g ou Cefa-
lotina 2 g EV) antes do inı́cio do procedimento.
Técnica cirúrgica:
• Incisão Pfannenstiel: mais utilizada por apresentar melhores resul-
tados estéticos. Tem a desvantagem de ser mais sangrante e de cortar as
terminações nervosas da pele causando diminuição da sensibilidade local no
pós-operatório. O risco de evisceração e de hérnia incisional é extremamente
baixo sendo a incisão escolhida por alguns nas parturientes obesas.
Técnica: incisão na pele transversal, 2 a 3 cm acima da sı́nfise púbica. O sub-
cutâneo e aponeurose são incisados transversalmente, logo abaixo da incisão
da pele. A musculatura é descolada da fáscia inferiormente até o púbis e su-
periormente por ± 10 cm e divulsionada no sentido longitudinal. O peritônio
parietal pode ser aberto em sentido transversal ou longitudinal. O peritônio
visceral é aberto transversalmente, 2 a 3 cm acima da prega vésico-uterina.
A histerotomia segmentar é realizada no segmento uterino. A incisão é
transversal e arciforme com cavo superior e deve ser demarcada superficial-
mente com bisturi e aprofundada nas extremidades e no meio. A cavidade é
atingida com pinça de Kelly e a abertura é completada pela divulsão da mus-
culatura. A histerotomia longitudinal (clássica ou segmentar) é técnica de
exceção e está indicada em gestações com fetos prematuros extremos, CIUR,
fetos acolados ou transversos, placenta prévia anterior com feto não insinuado,
Parto instrumentalizado e cesariana 251
Intercorrências intraoperatórias
• Extração fetal difı́cil: pode ocorrer em algumas situações:
- Feto não insinuado: pode ser necessária incisão em T invertida ou em
J, locação de ramo de fórcipe ou de vácuo-extrator para auxiliar na extração
fetal ou versão interna.
- Feto encaixado profundamente na pelve: quando não se consegue alcan-
çar o polo cefálico pode-se tentar elevar a apresentação tracionando o ombro.
No insucesso, pode ser necessária a elevação da apresentação por via vaginal
pelo auxiliar para que o obstetra consiga extrair o feto, aumentando o risco
de infecção.
- Macrocefalia: ampliação da histerotomia com incisão em T invertida ou
252 Manual de rotinas da MCD
em J.
- Prematuro extremo com útero grosso: realizar histerotomia longitudinal.
- Feto transverso: versão interna do feto. Introduzir a mão pela parede
ventral do útero para apreender o pé anterior que deverá ser tracionado suave-
mente fazendo um movimento amplo em direção a região ventral do feto para
que ocorra a circundação da coluna fetal com exteriorização do pé pela incisão.
A histerotomia longitudinal permite melhor acesso à cavidade uterina.
• Lesão de bexiga: importante descartar lesão de ureter. A rafia da
bexiga deve ser feita em 2 camadas de sutura contı́nua com Vicryl 00, sem
incluir a mucosa. Manter sondagem vesical e antibiótico VO (Norfloxacina ou
Ciprofloxacina) por 5 a 7 dias. A presença de hematúria pela manipulação
da bexiga no transoperatório geralmente melhora com a hiperhidratação e
manutenção da sondagem vesical. Se não houver melhora, solicitar avaliação
do urologista.
• Lesão de ureter: solicitar auxı́lio do urologista.
• Lesão de intestino / reto: solicitar auxı́lio do cirurgião geral.
• Prolongamento da histerotomia: ocorre principalmente na dilata-
ção total e na placenta prévia pela distensão do segmento e nas gestações
prematuras com segmento pequeno. Maior risco de degola do útero, volume
aumentado de sangramento, diminuição da vascularização uterina por lesão
da artéria uterina e pinçamento do ureter.
Capı́tulo 26
Analgesia e anestesia em
obstetrı́cia
253
254 Manual de rotinas da MCD
parto. Este estudo revelou que em 30% dos casos a dor foi considerada severa e
em 20% extremamente severa. Também revelou que entre as primı́paras 77%
referiram dor insuportável. A percepção da dor por outros é prejudicada.
O mesmo estudo mostrou que mais de metade dos partos de mulheres que
tiveram dor insuportável não foram considerados partos muito dolorosos pela
equipe que as atendeu.
A dor no trabalho de parto implica repercussões em diversos sistemas. A
dor causa hiperventilação (com aumento do consumo de oxigênio e alcalose
respiratória), aumento no nı́vel de catecolaminas (que diminui o fluxo uterino),
aumento no débito cardı́aco, liberação de gastrina e gastroparesia. Além disso,
consequências psicológicas como ansiedade depressão, medo de gravidez futura
e distúrbios de sexualidade podem ocorrer.
A portaria do Ministério da Saúde no 1067 preconiza que devem ser ofe-
recidos à gestante em trabalho de parto métodos não farmacológicos para o
controle da dor. Dentre estes se citam hidroterapia, terapias de relaxamento,
massagens, acupuntura e suporte psicológico da equipe de saúde e de um
acompanhante. A resolução também preconiza o uso de analgesia e anestesia
quando necessários e que a gestante deve ser coparticipante nas tomadas de
decisão.
A prescrição de opioides sistêmicos (Meperidina 25 a 50 mg IM) associados
à Prometazina (25 a 50 mg IM) tem efeito analgésico moderado incluindo
sedação materna, tendo melhor resultado nas fases iniciais do trabalho de
parto. No entanto a depressão neonatal é um efeito colateral importante,
principalmente se o nascimento ocorrer entre a primeira e terceira hora depois
de aplicada a medicação. Naloxona deve ser administrada ao frecém-nascido
para reversão dos sintomas.
Os bloqueios regionais são os métodos mais eficazes para o controle da
dor do trabalho de parto. Muitas variações existem e incluem a técnica uti-
lizada (epidural, subaracnoidea ou combinação) variação de drogas (opioides,
anestésicos locais ou ambos), concentrações, modo de infusão (bolus ou infu-
são contı́nua). Citamos aqui o protocolo de analgesia espinhal de um estudo
realizado no nosso serviço:
Assistência ao recém-
nascido em sala de parto
257
258 Manual de rotinas da MCD
Oxigênio suplementar:
• Idade gestacional ≥ 34 semanas: iniciar VPP com ar ambiente
(21%) e instalar oxı́metro de pulso e monitor elétrico cardı́aco. Nos poucos
casos em que há necessidade de O2 suplementar (se não forem atingidos os
nı́veis desejáveis de SatO2 , após correção da técnica, se necessário), continuar
a VPP, aumentando o oxigênio em 20%, ou seja, para 40% e ajustar a oferta
por meio de blender, de acordo com a SatO2 desejável (ajustar a [O2 ] de 20 em
20%, a cada 30 segundos). Caso o blender não esteja disponı́vel, iniciar a VPP
com ar ambiente, e, se houver indicação de oxigênio suplementar, continuar a
VPP com O2 a 100%.
• Idade gestacional < 34 semanas: Iniciar a VPP com O2 a 30% e
instalar oxı́metro de pulso e monitor elétrico cardı́aco. Se não forem atingidos
os nı́veis desejáveis de SatO2 , após correção da técnica, se necessário, ajustar
a oferta por meio de blender, de acordo com a SatO2 desejável e a FC, ambas
determinadas pela oximetria de pulso (ajustar a [O2 ] de 20 em 20%, a cada
30 segundos). Caso o blender não esteja disponı́vel, iniciar a VPP com ar
ambiente, e, se houver indicação de oxigênio suplementar, continuar a VPP
com O2 a 100%.
Intubação traqueal:
Indicações:
• VPP com balão e máscara inefetiva, após a correção da técnica, FC <
100bpm
• VPP com balão e máscara prolongada: se o RN não retoma a respiração
espontânea
• Necessidade de massagem cardı́aca e/ou de adrenalina
• RN com suspeita de hérnia diafragmática que necessite de VPP
Pontos importantes:
• Cada tentativa de intubação deve durar, no máximo, 30 segundos. Em
caso de insucesso, interromper o procedimento e ventilar o RN com balão e
máscara.
• Fixar a cânula no lábio superior conforme idade gestacional ou, se não
souber a idade gestacional usar a regra ”peso (kg) + 6”, sendo este o número
a fixar.
IG Marca em cm no
lábio superior
34 7,5
35 -37 8,0
38 - 40 8,5
≥ 41 9,0
Massagem cardı́aca:
Indicação: FC < 60 bpm após 30 segundos de VPP com técnica adequada
por meio de cânula traqueal e concentração de O2 60-100%.
Técnicas:
• Polegares sobrepostos: os polegares comprimem o esterno e os demais
dedos envolvem o tórax, dando suporte ao dorso do RN. É a técnica recomen-
dada por ser menos cansativa e mais eficiente, pois gera maior pico de pressão
sistólica e melhor perfusão coronariana.
• Dois dedos: dedo médio e indicador, ou, médio e anular de uma das
mãos comprimem perpendicularmente o esterno. Se o RN não estiver sobre
uma superfı́cie rı́gida, a outra mão deve servir de suporte ao dorso.
Cuidados:
• Lembrar que a VPP, durante a massagem cardı́aca, deve ser realizada
SEMPRE com o RN intubado e com O2 a 100%.
• O profissional que executa a massagem cardı́aca se posiciona atrás da
cabeça do RN, enquanto aquele que ventila se desloca para um dos lados.
• A compressão deve ser realizada sobre o terço inferior do esterno (logo
abaixo da linha intermamilar, mas não sobre o apêndice xifóide), com profun-
didade de um terço do diâmetro ântero-posterior do tórax. Deve-se permitir
a re-expansão plena sem retirar os dedos do tórax.
• A ventilação e a massagem cardı́aca devem ser realizadas de forma sin-
cronizada, na proporção de 3:1 (3 compressões torácicas para 1 ventilação),
ou seja, 90 compressões e 30 ventilações por minuto (exceção: na unidade ne-
onatal, quando a causa da bradicardia ou da parada cardı́aca for de etiologia
cardı́aca, a proporção deve ser de 15:2).
• A FC deve ser reavaliada após 60 segundos de massagem cardı́aca co-
ordenada à ventilação, pois este é o tempo mı́nimo para que a massagem
cardı́aca efetiva possa reestabelecer a pressão de perfusão coronariana.
• O monitor elétrico cardı́aco é útil para avaliar de forma contı́nua, ins-
tantânea e confiável a FC, sem interromper a massagem cardı́aca e a VPP.
A oximetria de pulso não é capaz de detectar um sinal confiável em RNs
bradicárdicos.
• A massagem cardı́aca deve ser interrompida quando a FC estiver > 60
bpm, mantendo a VPP até que a FC esteja > 100 bpm, a SatO2 desejável
Atenção ao recém-nascido 263
Medicações:
1. Adrenalina:
Indicação: FC < 60 bpm após 60 segundos de IOT com O2 100% + mas-
sagem cardı́aca, mesmo após correção de técnicas. Quando indicada manter
massagem cardı́aca e VPP sincronizadas.
Dose: 0,1 - 0,3 ml/kg da solução 1:10.000 (1 ml de adrenalina + 9 ml de SF
0,9%) EV. A dose EV pode ser repetida a cada 3 a 5 minutos. Preparo de
seringas de 1ml.
Atenção: enquanto é providenciado o acesso venoso pode-se administrar uma
única dose de 0,5 - 1,0 ml/kg da solução 1:10.000 endotraqueal (a segurança
e a eficácia não foram estudadas). Preparo de seringa de 5ml.
2. Expansor de volume:
Indicações: evidência de perda sanguı́nea (DPP ou placenta prévia) e/ou
sinais de choque (palidez, má perfusão periférica, pulsos finos e taquicardia
ou bradicardia persistentes); e RN sem aumento da FC apesar da VPP e
massagem cardı́aca e adrenalina.
Tipo: Soro Fisiológico 0,9%.
Dose: 10 ml/kg EV em 5 - 10 minutos, podendo ser repetido, se necessário.
Preparo de 2 seringas de 20 ml.
264 Manual de rotinas da MCD
Observações:
- A via preferencial para a infusão das medicações é a endovenosa.
- O cateter venoso umbilical deve ser inserido apenas 1 a 2 cm após o
ânulo.
Puerpério normal
265
266 Manual de rotinas da MCD
Manejo
Acompanhamento no Alojamento Conjunto:
• Avaliar queixas da puérpera e indagar sobre a amamentação, eliminações
e volume do sangramento.
• Exame fı́sico:
- Sinais vitais.
- Mamas: presença de colostro, fissuras ou ingurgitamento.
- Abdome: avaliar distensão abdominal, sinais de irritação peritoneal e
ruı́dos hidroaéreos, principalmente após cesariana.
- Involução uterina, volume e caracterı́sticas dos lóquios.
- Se parto normal, avaliar episiorrafia e lacerações (observar deiscência,
hematoma, equimose, sinais flogı́sticos). Se cesariana, abrir o curativo após
48 horas (ou antes, se curativo com sangue, dor local ou abaulamento) e avaliar
aspecto da incisão para descartar infecção ou hematoma.
- Membros inferiores: avaliar edema e sinais de trombose venosa profunda.
• Estimular deambulação (reduz a estase venosa e favorece o peristaltismo
intestinal, o esvaziamento vesical e a involução uterina).
• Prescrever imunoglobulina anti-D para toda puérpera Rh (-) com recém-
nascido Rh (+) e com Coombs direto (-) em até 72 horas pós-parto.
• Confirmar se os exames para pesquisa de sı́filis, HIV, hepatite B e C
foram realizados.
• Orientar cuidados com a mama, episiorrafia ou cicatriz cirúrgica.
• Para puérperas que não desejam nova gestação, pode ser oferecido a
inserção do DIU de cobre durante a internação hospitalar Nas primeiras 48
horas), se disponı́vel, após orientação sobre maior taxa de expulsão.
Alta hospitalar:
• A alta é dada em 48 a 72 horas pós-cesariana e 36 a 48 horas pós-parto
normal.
• Suplementação de Sulfato Ferroso 40 mg/dia nos primeiros 30 dias.
• Reforçar cuidados com episiotomia/ laceração ou cicatriz de cesariana e
com as mamas.
• Retirada dos pontos da cesariana após 7 a 10 dias do procedimento no
posto de saúde.
• Orientar consulta de puerpério após 7 (marcada pelo Capital Criança) e
após 30 dias no posto de saúde.
• Encaminhar toda puérpera para vacinação contra rubéola, caso não te-
nha sido previamente vacinada.
• Orientar sobre contracepção, inı́cio da atividade sexual, uso de cinta e
repouso relativo pós-cesariana (retorno à atividade normal geralmente após
30 a 45 dias).
A contracepção deve ser iniciada 30 dias pós parto. A puérpera que ama-
menta pode utilizar métodos de barreira, minipı́lulas ou Medroxiprogesterona
de depósito e DIU (pode ser colocado após 4 a 6 semanas de puerpério). A
amamentação exclusiva dá proteção de 98% quando persiste em amenorreia
nos 6 primeiros meses. A diminuição da libido é frequente no puerpério.
• Retornar em caso de dor, febre, sangramento, infecção de parede, dificul-
dade para amamentar, deiscência de episiorrafia ou de cicatriz de cesariana.
AMAMENTAÇÃO
A Maternidade recebeu o tı́tulo de Hospital Amigo da Criança em 1996 e
incentiva o aleitamento materno.
Importância da amamentação:
• Formação do vı́nculo mãe-filho.
• Imunização passiva pela transferência de anticorpos maternos.
• Alimento adequado ao recém-nascido, de fácil digestão, com nutrientes
necessários ao crescimento e desenvolvimento.
Cuidados gerais:
• Ambiente tranquilo, posicionamento adequado recém-nascido.
Puerpério normal 269
Puerpério patológico
Medidas iniciais:
- Importante manter acesso venoso calibroso (abocath 14 à 18), repor
volume (pelo menos 1.000 ml de Ringer Lactato ou de Soro Fisiológico 0,9%
aquecido), monitorar sinais vitais e diurese, administrar oxigênio, aquecer a
paciente, reservar sangue, solicitar exames laboratoriais e avaliar necessidade
de administração de ácido tranexâmico. A reposição de volume e os cuidados
adicionais estão descritos no capı́tulo 30.
- Como a principal causa é a atonia uterina, massagear o útero, administrar
drogas uterotônicas e proceder à sondagem vesical.
- Estabelecer a causa do sangramento: avaliar volume e consistência ute-
rina para descartar hipotonia, verificar se placenta e anexos foram totalmente
expelidos, reavaliar canal de parto para descartar lacerações e inversão ute-
rina, rever anamnese para descartar coagulopatias prévias. Na presença de
colapso cardiovascular sem sangramento ativo abundante, pensar em hema-
toma, especialmente de retroperitônio e de ligamento largo, rotura uterina,
inversão parcial do útero, anafilaxia, embolia do lı́quido amniótico ou trom-
boembolismo pulmonar e infarto agudo do miocárdio.
270
Puerpério patológico 271
29.2.3 Endometrite
Ocorre geralmente entre o terceiro e o sétimo dia de puerpério. O quadro
clı́nico varia de acordo com a extensão da doença. A puérpera apresenta
febre, queda do estado geral, dor a palpação do hipogástrio e a mobilização do
útero, útero involuı́do e amolecido, lóquio fétido ou purulento (lóquios normais
em infecção por estreptococo do grupo A), hemograma com leucocitose com
desvio a esquerda. Em alguns casos a paciente pode apresentar-se séptica ou
com dor a descompressão do abdome. A infecção por estreptococo do grupo A
e B podem causar febre já no primeiro dia de puerpério levando a bacteremia
e choque séptico fulminante. Em infecções tardias, pensar em clamı́dia.
Pode evoluir com anexite, peritonite, abcesso pélvico, insuficiência renal,
tromboflebite séptica e choque séptico.
Conduta: internar no Anexo. Solicitar hemograma e, nos casos em que há
bacteremia, hemocultura (2 amostras). Importante realizar ultrassonografia
para descartar a presença de restos placentários e abcessos pélvicos ou abdo-
minais.
• Antibioticoterapia: os antibióticos de primeira linha são Clindamicina
600 a 900 mg EV de 8/8 hs associada a Gentamicina 4,5 mg/Kg/dia (ou 180
mg se peso ≤ 60 Kg e 240 mg se peso > 60 Kg; máximo de 360 mg/ dia) EV
lenta diluı́da em dose única diária. Nos casos mais graves ou na persistência
de febre após 24 horas da instituição da medicação, associar Ampicilina 1 a
2 g EV 6/6 hs ou Penicilina G cristalina 5 milhões de U EV a cada 4 a 6 hs.
A medicação endovenosa deve ser mantida por 48 horas após o último pico
febril, quando então se inicia Clindamicina 300 mg VO 8/8 hs ou Ampicilina/
Sulbactam 375 mg VO 12/12 hs por 7 dias. A alta hospitalar será dada após
24 horas sem pico febril com medicação oral.
Caso não haja melhora do quadro, solicitar ultrassonografia pélvica e/ou
tomografia computadorizada para descartar outro foco de infecção e subs-
tituir a Clindamicina por Metronidazol 500 mg EV 8/8 hs. Outras opções
terapêuticas em casos de persistência do quadro: Imipenem/ Cilastatina 1 g
EV a cada 6 a 8 horas; ou Piperacilina/ Tazobactam 3.375 mg EV 6/6 hs +
Gentamicina 4,5 mg/Kg EV uma vez ao dia; ou Ampicilina/ Sulbactan 1,5 a
3 g EV a cada 6 a 12 hs + Gentamicina 4,5 mg/Kg EV uma vez ao dia.
280 Manual de rotinas da MCD
29.3.5 Icterı́cia
Uma icterı́cia fisiológica ”exagerada”no terceiro ou quarto dia de vida,
ocorre mais comumente entre crianças amamentadas ao peito. Sendo uma
reação fisiológica, não se deve interromper a amamentação. A verdadeira ic-
terı́cia do leite materno, que é benigna, ocorre geralmente no final da primeira
semana, podendo prolongar-se por semanas. Dois por cento das crianças sa-
dias desenvolvem icterı́cia que é atribuı́da a um componente presente no leite
de algumas mães que inibiria a conjugação da bilirrubina na criança. A criança
deve estar ganhando peso e o nı́vel de bilirrubina conjugada estar normal.
29.3.6 Galactocele
São cistos com conteúdo lácteo formados em consequência à obstrução
ductal. Apresentam-se como tumores na periferia da mama. O diagnóstico e
tratamento é a punção com agulha fina (25 x 7 mm) ou grossa (40 x 12 mm)
após anestesia local, que poderá ser repetida várias vezes.
29.4 OUTROS
• Deiscência de episiotomia: entidade frequente. Causa dor perineal.
O tratamento consiste em orientações de higiene local e emprego de Andolba
ou Rifocina spray. Não ressuturar.
Emergências clı́nicas em
obstetrı́cia
285
286 Manual de rotinas da MCD
Manejo
Manobras de reanimação cardiopulmonar (RCP): a sobrevida depende
da massagem cardı́aca efetiva e da rápida desfibrilação nos casos indicados.
• Suspeitar de PCR em paciente inconsciente, com respiração anormal
(gasping) ou ausente, sem pulso (checar pulso por no máximo em 10 segundos).
• Iniciar massagem cardı́aca. Para ser eficaz, deve ter frequência de ±
100-120/ minuto, com afundamento do esterno de pelo menos 5 cm e com re-
expansão completa antes da próxima massagem, estando a paciente deitada
em superfı́cie firme. As interrupções devem ser evitadas e, quando necessárias,
devem ser rápidas. Trocar de profissional no máximo a cada 2 minutos.
• Liberar vias aéreas. Em caso de obstrução das vias aéreas aéreas altas por
aspiração de corpo estranho, a pressão que deveria ser aplicada no abdome
Emergências clı́nicas em obstetrı́cia 287
deve ser transferida para a metade do esterno para evitar lesões ao útero,
fı́gado e baço.
• Ventilar: enquanto a paciente não estiver intubada, intercalar 30 massa-
gens: 2 ventilações com máscara com balão autoinflável (tempo inspiratório
de 1 segundo; eficaz se houver visualização da expansão do tórax); depois
de intubada, realizar 8 a 10 ventilações/ minuto evitando a hiperventilação.
Confirmar intubação correta com capnografia. Usar O2 a 100%.
• Pegar acesso venoso adequado (nunca em membros inferiores). Infundir
20 ml de Soro Fisiológico 0,9% após cada medicação endovenosa e elevar o
membro superior por 10 a 20 segundos pois o fluxo sanguı́neo é mais lento.
• Determinar ritmo cardı́aco e iniciar protocolo especı́fico de reanimação
(fig. 30.1). Se for impossı́vel, considerar como fibrilação ventricular (FV).
• Verificar ritmo a cada 2 minutos. O pulso só deverá ser checado se ritmo
voltar a ser regular.
• Descartar causas tratáveis: hipovolemia, hipóxia, hipo/hipercalemia,
hiponatremia, overdose/ drogas (dentre elas, Sulfato de Magnésio), tampona-
mento cardı́aco, pneumotórax, trombose coronária e tromboembolismo pul-
monar.
• Após a reanimação, a gestante/puérpera deverá ser encaminhada para
Unidade de Terapia Intensiva (UTI) ou Unidade Coronariana. Manter oxige-
nação e pressão adequadas.
Interrupção da gestação: deve ser programada assim que for feito o diag-
nóstico de PCR caso o útero tenha tamanho suficiente para comprimir a veia
cava inferior (IG ≥ 20 semanas de gestação ou altura uterina acima da cicatriz
umbilical). Pelas dificuldades de reanimação da gestante, corre-se o risco de
perder a mãe e o feto caso a gestação não seja interrompida. O feto deve
nascer em até 5 minutos após o inı́cio da PCR (portanto deve-se ini-
ciar a cesariana com 4 minutos de PCR) se não houver sucesso na reanimação.
Após o parto, há um incremento de 60% a 80% no débito cardı́aco.
Quadro clı́nico: pode variar de apenas sinais cutâneos leves até choque,
parada cardiorrespiratória e até morte. Os sinais cutâneos (vermelhidão, ur-
ticária, edema) são os mais caracterı́sticos, mas podem estar ausentes ou ter
aparecimento tardio. No sistema respiratório a principal manifestação é o
broncoespasmo. Também pode ocorrer edema da glote. As manifestações
cardiovasculares são as mais frequentes e incluem taquicardia, hipotensão e
arritmias. Também podem ocorrer sintomas digestivos e alterações na coagu-
lação.
Manejo
• Chamar ajuda.
Emergências clı́nicas em obstetrı́cia 293
Metas do tratamento:
• PAS ≥ 90 ou PAM ≤ 60 mmHg; FC < 120 bpm; saturação O2 ≥ 95%;
T ≥ 36o C; pH > 7,2; diurese ≥ 30 ml/h (ou 0,5 ml/Kg/h); perfusão periférica
< 2 segundos
• Melhora do nı́vel de consciência
296 Manual de rotinas da MCD
• Hemoglobina > 7,5 g/dl, plaquetas > 50.000, fibrinogênio > 200 mg/dl,
TAP/TTPa < 1,5 vezes o controle
Laboratório:
- ↓ fibrinogênio (< 200 mg/dl)
- ↓ plaquetas (< 100.000 mm3 )
- ↑ TAP (> 14 segundos) e TTPa (> 40 segundos)
- Presença de produtos de degradação de fibrina (PDF) (> 40 mg/dl) e
D-dı́mero (> 500 ηg/ml; não é especı́fico, está aumentado na gestação)
- ↓ antitrombina III
Importante avaliar hemograma (pesquisa de esquisócitos), função hepática
e renal.
Na dificuldade de realizar coagulograma, pode-se ter uma estimativa da
coagubilidade sanguı́nea realizando o Teste de Weiner: colocar 5 a 7 ml de
sangue em tubo seco a 37o C e deixar em repouso. Se os nı́veis de fibrinogênio
estiverem normais, ocorre a formação de coágulo firme em 5 a 10 minutos que
se mantém por 1 hora. Se o coágulo formado se dissolver, for mole ou não se
formar, o fibrinogênio encontra-se abaixo de 150 mg/dl.
Manejo
• Tratamento do fator etiológico.
• Reposição de volume e de hemoderivados conforme descrito acima.
• Encaminhar para UTI.
Definições:
• Sepse: disfunção orgânica potencialmente fatal causada por resposta
imune desregulada do hospedeiro à infecção.
Na suspeita de infecção, as pacientes podem ser rastreados para sepse se
houver 2 ou mais critérios do quickSOFA (qSOFA):
- Frequência respiratória ≥ a 22 mrpm
- Alteração do estado mental (Glasgow <r que 15)
- Pressão sistólica (PAS) ≤ 100 mmHg
Em paciente internada na unidade de tratamento intensivo, a disfunção
orgânica é caracterizada pelo aumento de 2 ou mais pontos no Sequential
Organ Failure Assessment (SOFA) score relacionado à sepse.
0 1 2 3 4
PaO2 /FiO2 ≤400 <400 <300 < 200 SR < 100 SR
Plaquetas ≥150.000 <150.000 <100.000 <50.000 <20.000
Bilirruinas < 1,2 1,2-1,9 2-5,9 6-11,9 > 12
MAP mmHg ≥70 <70 Dopa≤5 Dopa 5,1-15 Dopa>15
Dobuta Epin≤0,1 Epin<0,1
Norep≤0,1 Norep>0,1
Glasgow 15 13-14 10-12 6-9 <6
Creatinina < 1,2 -1,2-1,9 2-3,4 3,5-4,9 ≥5
Débito urin. < 500 ml < 200 ml
Manejo
Para o tratamento adequado é imprescindı́vel a identificação do local da
infecção, além da manutenção da volemia, da oxigenação tecidual e da per-
formance hemodinâmica. Quanto mais rápido for instituı́do o tratamento,
melhor a chance de sobrevida. Os casos de choque séptico devem ser encami-
nhados para Unidade de Terapia Intensiva.
Obs: valores normais da gasometria arterial: pH: 7,35 a 7,45; pO2 : 83 a 108
mmHg; pCO2 : 35 a 45 mmHg; CO2 total: 23 a 27 mmol/l; HCO3 : 21 a 28
mmo/l; BE: -2 a +3 mmol/l; saturação de O2 : 95 a 98%. Lembrar que a
gestante apresenta uma alcalose respiratória fisiológica com aumento do pH e
diminuição da pCO2 (27 a 32 mmHg) e do bicarbonato.
Etiologia: pode ser causada por patologias obstétricas ou por doenças renais
coincidentes com a gestação:
1. Pré-renal: secundária à diminuição da perfusão renal por depleção
volumétrica devido à hiperêmese, hemorragia, sepse, insuficiência cardı́aca,
embolia de lı́quido amniótico. Inicialmente ocorre azotemia pré-renal podendo
evoluir para necrose tubular aguda e, na persistência do insulto, para necrose
cortical.
2. Renal: lesão direta do parênquima renal secundária à pré-eclâmpsia/
sı́ndrome HELLP/ coagulação intravascular disseminada, fı́gado gorduroso da
gestação, embolia de lı́quido amniótico, púrpura trombocitopênica trombótica,
sı́ndrome hemolı́tica urêmica e idiopática pós-parto (capı́tulo 6), isquemia
/ hipoperfusão prolongada, nefrotoxinas (infecção/ sepse), vasculite, nefrite
intersticial aguda (uso de drogas nefrotóxicas, alergia), glomerulonefrite aguda
(pós-estreptocócica, colagenoses).
3. Pós-renal: obstrução do fluxo urinário causada por litı́ase, sobredis-
tensão uterina, hematomas pós-cesariana, principalmente em mulheres com
malformações genitourinárias ou submetidas a cirurgia urológica e ligadura
inadvertida de ureter.
Emergências clı́nicas em obstetrı́cia 303
Manejo:
• Tratamento da causa básica.
• Prevenção de danos maiores: reposição de volume criterioso, uso de
diuréticos (Furosemida), suspender drogas que causam dano renal (aminogli-
cosı́deos, penicilinas, cefalosporinas, Ciprofloxacina, Cimetidina, Rifampicina,
anti-inflamatórios), ajuste dose de medicações de excreção renal (Sulfato de
Magnésio), dieta com restrição de proteı́na, sódio e potássio, correção dos
distúrbios hidroeletrolı́ticos e da acidose metabólica.
• Tratamento dos distúrbios hidroeletrolı́ticos (especialmente hiperpotas-
semia) e ácidos-básicos.
• Solicitar avaliação do nefrologista quanto a necessidade de diálise.
No trauma fechado, a gestante está mais sujeita a ter lesões de baço, fı́-
gado e bexiga e sangramento em retroperitônio. As principais complicações
obstétricas são o descolamento prematuro de placenta, que pode ocorrer em
2% a 4% dos traumas leves e em 30% a 50% dos traumas graves, seguida da
rotura uterina, trabalho de parto prematuro (30%) e amniorrexe, hemorragia
feto-materna (30%) e trauma fetal (raro). A monitorização fetal após 24 se-
manas de gestação com cardiotocografia deve ser iniciada precocemente e deve
ser mantida por 4 horas para descartar trabalho de parto prematuro, desco-
lamento prematuro de placenta e sofrimento fetal. Caso a gestante apresente
mais de uma contração em 10 a 15 minutos, a monitorização fetal intermitente
deve ser estendida por 24 a 48 horas. Lembrar da profilaxia com imunoglo-
bulina anti-Rh nas gestantes Rh negativas pelo risco de isoimunização pela
hemorragia feto-materna.
Nos casos de trauma penetrante, o útero protege a mãe das lesões viscerais
(salvo em lesões de abdome superior, acima do útero) mas favorece o trauma
fetal direto que ocorre em 70% dos casos e o parto prematuro, com taxa de
40% a 70% de óbito perinatal.
Drogas na gravidez
306
Drogas na gravidez 307
Analgésicos e antitérmicos:
• Aspirina (C) - doses altas e uso crônico estão relacionados a altera-
ções hemorrágicas do recém-nascido (RN), crescimento intrauterino retardado
(CIUR), fechamento precoce do ducto arterioso e aumento da mortalidade pe-
rinatal. Doses baixas não parecem oferecer estes riscos.
• Acetaminofem (B) - em doses terapêuticas é aparentemente desprovido
de efeitos adversos. Deve se constituir em droga de primeira escolha.
• Meperidina (B) - não há problemas fetais relatados com o uso terapêu-
tico durante a gestação. O uso durante o trabalho de parto pode levar à
depressão do RN, principalmente se o nascimento ocorrer entre 1 e 3 horas da
sua administração, quando ocorre o pico máximo da droga.
• Pirazolonas (Dipirona, Fenilbutazona) (D) - pode induzir ao fechamento
precoce do ducto arterioso e alteração da agregação plaquetária na mãe e no
RN. Deve ser evitada.
• Propoxifeno (C) - o uso crônico pode levar à sı́ndrome de abstinência
neonatal. Seu uso na gravidez é aceitável.
• Associação com outras drogas - a cafeı́na (B) em quantidade moderada
não parece representar risco ao feto. A associação com Diidroergotamina
(D) está relacionada com aborto e trabalho de parto prematuro, devendo ser
evitada.
Antibióticos:
• Penicilinas (Cristalina, Procaı́na, Benzatina, Ampicilina, Amoxacilina,
Cefalosporinas) (B) - atravessam a barreira placentária rapidamente, sendo
encontradas no sangue fetal e lı́quido amniótico em doses terapêuticas, sem
efeito teratogênico. Devem ser os antibióticos de primeira escolha na gravidez.
• Cloranfenicol (C) - embora aparentemente não seja tóxico para o feto,
seu uso próximo ao termo da gestação pode levar a sı́ndrome cinzenta no RN
(colapso cardiovascular), em razão da sua imaturidade hepática.
• Tetraciclina (X) - alterações da formação óssea, descoloração do esmalte
dentário, prematuridade, óbito intrauterino.
• Sulfas (B/D) - teratogênico em animais de experimentação, pode de-
terminar hiperbilirrubinemia no RN quando utilizada no final da gestação.
Devem ser evitadas no primeiro trimestre e próximo ao termo.
• Aminoglicosı́deos (D) - embora não sejam teratogênicos, são ototóxicos
para o feto. Quando seu uso for indispensável, dar preferência à Gentamicina.
• Macrolı́deos (Nitrofurantoı́na, Espiramicina, Eritromicina) (B) - não
apresentam efeitos nocivos para o feto. O Estearato de Eritromicina é melhor
tolerado pela mãe.
• Metronidazol (X/B) - efeito carcinogênico em animais de laboratório.
Evitar o uso no primeiro trimestre.
• Fluoroquinolonas (Norfloxacino, Levofloxacino e outros) (C) - podem
induzir a artropatias devido a danos na formação das cartilagens. Deve ser
evitado.
Anticoagulantes:
• Heparina (C) - devido ao seu alto peso molecular, a heparina não cruza
a barreira placentária e não causa dano fetal. Seu uso a longo prazo pode
induzir a osteopenia e trombocitopenia materna.
• Cumarı́nicos (D) - quando utilizados no primeiro trimestre causam em-
briopatia (sı́ndrome warfarı́nico fetal) e outros defeitos estruturais. Próximo
ao parto causa hemorragia materna e neonatal. Evitar seu uso antes de 13 e
após 33 semanas de gravidez.
Anticonvulsivantes:
• Fenobarbital, Difenil-hidantoı́na (D) - levam à deficiência de ácido fólico
que possivelmente é a causa do efeito teratogênico (fenda palatina e lábio
leporino). Quando do seu uso, deve-se suplementar ácido fólico.
• Ácido Valpróico (D) - induz a meningocele, microcefalia, lábio leporino,
pálato em ogiva e tetralogia de Fallot entre outras.
• Carbamazepina (C) - ainda é questão em aberto os efeitos teratogênicos
da Carbamazepina. Até o momento tem sido recomendada como droga de
primeira escolha na epilepsia.
Drogas na gravidez 309
Drogas cardiovasculares:
• Digitálicos (C) - não é teratogênica; há toxicidade fetal quando ocorre
intoxicação materna.
• Dopamina (C) - não há estudos controlados.
• Procainamida (C) - não há estudos controlados.
• Quinidina (C) - não é teratogênica, efeito ocitócico em doses elevadas.
• Amiodarona (D) - a grande quantidade de iodo na fórmula pode afetar
a função da tireoide fetal. CIUR em animais de laboratório.
• Metildopa (B) - não há relatos de malformações fetais.Crianças acom-
panhadas até os 7 anos de idade não apresentaram qualquer alteração. Deve
ser a droga anti-hipertensiva de primeira escolha.
• Betabloqueadores (C) - podem causar CIUR, bradicardia e hipoglicemia
neonatal. Pindolol tem menos efeitos adversos.
• Bloqueadores dos canais de cálcio (C) - podem reduzir o fluxo útero-
placentário. A Nifedipina é a mais utilizada, sem relatos de malformações
fetais.
• Inibidores da enzima conversora da angiotensina (D) - CIUR, oligúria
fetal resultando em oligodrâmnio e hipoplasia pulmonar, persistência do ducto
arterioso. Deve ser evitado na gravidez.
Antidepressivos e tranquilizantes:
• Tricı́clicos (Imipramina, Clorpropamina e Amitriptilina) (D) - são associ-
ados de forma não consistente com malformações principalmente de membros.
Amitriptilina deve ser a escolha.
• Fluoxetina e derivados (C) - não existem dados de efeitos teratogênicos.
• Diazepı́nicos (D) - está associado com a ocorrência de malformações
cardiovasculares, lábio leporino, fenda palatina, estenose de piloro e CIUR.
Anti-helmı́nticos:
• Mebendazol, Tiabendazol (C) - embriotóxico e teratogênico em animais
de laboratório; nada referido no humano. Evitar no primeiro trimestre.
Hipoglicemiantes:
310 Manual de rotinas da MCD
Corticoides:
• Cortisona (D), Betametasona e Dexametasona (C), Prednisona(B) - em-
bora nenhuma evidência de malformações no ser humano possa ser atribuı́da
aos corticoides, deve ser lembrada a possibilidade de supressão da suprarrenal
materna e do RN. Dar preferência para o uso da Prednisona.
Antieméticos;
• Dimenidrinato, Metoclopramida, Ondansetrona (B) - não existem relatos
de aumento do risco de malformações fetais com o uso dessas drogas.
Antiulcerosos:
• Cimetidina, Ranitidina, Pantoprazol (B), Omeprazol (C)- não existem
relatos de malformações fetais.