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participacao-ou-de-controle

Publicado em NOVA ESCOLA Edição 315, 03 de Setembro | 2018

Felipe Bandoni

Nota de participação ou
de controle?
Buscar outros meios de avaliar o aluno é louvável, mas é
preciso ter critérios claros e justos

Participei certa vez de uma reunião em que professores de um 7º ano


apresentaram seus instrumentos de avaliação. “Quais notas compuseram a
média do último bimestre?”, perguntou a coordenadora. Além de citarem as
provas, chamou a atenção o fato de que todos atribuíam uma “nota de
participação”.

Logo ficou claro que a equipe tinha diferentes entendimentos sobre o que
seria essa nota. Alguns contaram que ela se referia à qualidade dos
comentários e perguntas durante as aulas. Outros falaram que era a
pontualidade na entrega das lições de casa. Outros, ainda, mencionaram a
organização dos cadernos. Uma professora, buscando sintetizar as respostas,
disse que a nota “refletia o comportamento geral do aluno”.

Contudo, em algumas disciplinas, a coordenadora notou uma discrepância


muito grande entre as notas da prova e as de participação: a turma ia muito
mal na primeira, mas muito bem na segunda, resultando em aprovação para
a maioria. Em outros casos, alunos que iam muito bem nas provas acabavam
reprovados por serem considerados indisciplinados.
Investigando melhor, a gestora percebeu que, enquanto a nota da prova era
clara e objetiva, a de participação não era. Não havia registros e – o que é
pior – não havia critérios claros. Alguns professores utilizavam apenas sua
memória das aulas. A coordenação, que monitorava apenas as médias, não
detectava essas discrepâncias. Mas elas não passavam despercebidas por
alguns estudantes, que se sentiam perseguidos. A nota de “participação”
parecia um instrumento de punição ou uma maneira de “calibrar” a média
final, o que é claramente injusto.

É legítimo e bem-vindo que um docente proponha avaliações alternativas às


provas. E é possível analisar de maneira bem objetiva a expressão oral, a
qualidade das perguntas feitas e até mesmo o comportamento esperado em
sala de aula. Só que, para isso, é preciso ter critérios claros e informar aos
alunos o que se espera deles em cada situação. Clareza e transparência são
fundamentais para ajudá-los a avançar, inclusive no que está além do
conteúdo.

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