Você está na página 1de 23

RISO JULHO

Loteria da Capital Federal


Sabbado 8 de Julho

1oo:ooo$ooo por 8$ooo


Tll V

Sabbado 15 de Julho

5o:ooo$ooo por b$ooo


231 2

Colletes confecionados
com todos os requintes de Pariz
com atacadores na frente
Privilegiado.

Premiado com a medalha de ouro em


varias Exposições.

ATELIER
Rua Senador Dantas, 55
FABRICA MODELO
»€ RIO DE JANEIRO »«
iim-*
Rio de Janeiro, 6 de Julho de 1911

RISO
Semanário artístico e humorístico

RUM. 7 Propriedade: Rebello Braga ANNO I

C H R Q y r i c A. Ha canhões que tem salvado, mas tão so-


mente para o tradicional tiro das nove—utilis-
Não se assustem, nesta Í emana até o mo- simo para a gente pôr em dia os relógios ma-
mento em que escrevo, não ha nada de novo. lucos.
A forttleza de Willegaignon continua na Nas solitárias da ilha das Cobras não ha
ilha de seu nome com a Vovó e com os neti- nenhum pobre diabo a pão e água, nem pen-
nhos sem dar um ar de sua graça para a cas de homens expirando pela asphyxia.
terra. S. Paulo que costuma dar a nota de sem-
pre na semana, parece que
já morreu para o mundo
das tragédias.
* *
A «Gazeta» apregoa para
a primeira quinzena do vin-
douro o nascimento de uma»
creança de feilura toda mo-
derna, e que já se chama «A
Noite».
A futura recém vinda ao
mundo da publicidade não
tem necessidade de estar ar-
ranjando para senhorios car-
tas de fiança de negociantes
matriculados, e rtgistro no
José Mariano, pois que já é
proprietária do seu' château.
* *
Em Portugal também não
ha nenhuma das cousas que
fazem os maricás como eu
pagarem o dobro por uçitai
ceroula. ,. <•<. .v
Nãol ;
Apenas uma penca de rno-
narchistas embarcou em um
navio mercante um milheiro
de cacetes, com os quaes
tinha a pretensão de querer
quebrar a cabeça a todos os
republicanos.
Mas os grandes exércitos
de Theophilo Braga descu-
briram a tramóia, e dahi . .

d o P h a r m a c e u t i c o Silveira Ql*
4 ELIX1R DE NOGUEIRA Cura • •yphllla. fgS
yp yp O RISO

Entornou-se o caldo, e não houve uma CoUSaS feíaS


SÓ cabeça quebrada.
Menina de saia curta
Que sahe toda hora á rua
P'ra mostrar a perna nua:
Nesta cidade,diz a filha do Vovô, «o tran- Não gosto I
sito hocturno é enorme».
Até ahi morreu o Neves ! Sogra de língua de palmo
Mas como a Gazeta não fala do transito Que o dente melte na nora ;
dturno, é quasi que dizer no porUiguez do seu Casadinha que namora:
João do Riso que o numtro das corujas é mui- E' feio !
to mais elevado do que o das araras.
E por fallar em araras eu lembrei-me Curva velhotu, caiada
dessas outras que mesmo á luz do Sol do Pelo emprego do polvilho,
meio dia não vêem os vigaristas e estão sem- Que se aperta de espartilho:
pre cahindo no eterno conto de Sua Reveren- Que horror!
dissima.
Que appareça a collega. Matrona cheia de rugas
Seja bemvinda. Que não quer ser enrugada
Pondo no rosto a pomada;
• * E ' triste !

A noute de S. Pedro esteve uma mara- Ancião de pernas bambas


vilha. Eu dei cá por casa umi espécie de for- Que á força quer tel-as duras
robodó. A mamata, essa modéstia á parte, foi Pelo emprego de ataduras :
bem abundante. A primeira quadrilha eu dsn- E" tolo I
sei com a irmã da Candinha, a Gertrudes com
o Pacifico e a Xandóca com o Gregorio. Sol- Coió de brancos cabcllos
tamos uma penca de balões que apesar de Que as mocinhas todas choca,
ffão levarem as alavancas, os motores a gazo- Cartas mandando á Xandóca :
lina, as traves de aço dos grandes peixes E' louco
aéreos como o «Pátria» por cisa das archi-
bancadas de Longs-champs tendo mesmo Commendadores vencidos
um delles se excedido, trouxe-me de lem- Que julgam ser rapazólas
brança esta quadrinha de uma estreita : De polainas e cartolas :
São nécios!
«Uma estrella nunca erra:
Sois ousados navegantes, Galans tenazes, faminü s
Nos vossos globos brilhantes De toda costella alheia
Meus raios ltvae á terra l Com seus cantos.de sereia :
Não gosto!

Quando o balão que não era dirigivel,


mas que dirigido pela mão da Providencia O Marques da Rocha vae receber a me-
veio cahir no mesmo ponto de onde tinha par- dalha humanitária, por ter salvo a um tempo
tido, com o versículo em um pedaço de ceu dezoito pessoas d a s . . . misérias da vida.
da mais amável das esfrellas, eu ao clarão da
fogueira tirava para a Xandóca esta pouca
vergonha rimada:

Tenho v'sto muita perna, O J.J. anda atrapalhado com a engenharia.


Mas roliça como a tua : Como è esse negocio de rampa de
Nunca vi dentro de casa, 4 7 0 ? Então ahi ha negocio de juros ?
Nem vi no olho da rua '.

Que differença entre as gemmas das es-


©
treitasse a malícia dos sortistas de S. Pedro ! Para onde vaes ?
—Para o Meyer.
—A que horas chegas lá?
- « . M. - Hoje ou amanhã.
ty Ó RÍSO
Era aquella garapa: jantava, sahia, con-
EXPEDIENTE versava no chfé e, ás dez horas, lá estava nos
quentes braços de Alice.
Toda a correspondência para A operação se fazia no escuro e os beijos
« 0 RISO " eram aoafados para que a mulher não desper-
tasse.
Um dia como de habito, e'le veio, abri-
deverá ser rcmettida á sua redacção á ram-lhe a porta c elle cahiu nos braços de
RUfl PA flLFflNPEGfl, 182 Alice.
Notou, poié.n, que cila parecia mais ma-
Telephone 3.803. gra e mais ardente. Não fez caso e, acabando
o encontro; ella sahiu na frente e elle um pou-
Tiragem. 15.000 exemplares. co depois.
Numero avulso... 200 réis Deitou-se em seu quarto, porque o casal
tinha camas e quartos separados e dormiu
como todos os dias, satisfeito com o seu expe-
diente e com sua criada.
ASSIGNATURAS Levantou-se a boa hora, fez a toilette e
ANNO foi ao almoço.
A mulher já lá estava á mesa e elle notou
Capital. 1 que havia uma ponta'de malícia nos seus olhos.
Exterior 12$000 Que diabo l
Quando Alice começou a servir a refei-
ção, ella chamou a criada, tirou do bolso uma
n o a de cinco mil réis e disse:
—Filha, eu hontem te substitui. Está ahi
é\ substituição o dinheiro que devias ganhar.
Hum,
Sua mulher era velha e ciumenta, de
modo que se tornaram necessárias todas as
precauções para poder enganal-a. — Já leste a secção do Mareio, no jor-
O melhor aivhre que elle encontrou, foi nal dos jornaes ?
arranjar uma criadita bonita; c, de noite, — Não tenho reparado!
quando vinha do café, ella o esperava á entra- — Pois é preciso que a leias para apren-
da è então elle tirava seu ventre de miséria. deres o portuguez I
Para que o serviço da criada não fosse — Ah ! agora me lembro, outro dia não
levado a conta de seu salário, elle dava sem- entendendo um artigo deste moço, o João Ri-
pre uma gorgeta em troca dos serviços pres- beiro me disse qne era escripto em Chinez.
tados.
t -\
Assim passaram-
se mezes e a mulher O Figueiredo do Binóculo vae a um al-
parecia muito conten- faiate caro :
te, tanto com o ma- — Preciso de um complet gris.
rido, como com Ali- O alfaiate responde com máu humor :
ce, a criada. — Não faço.
A paz conjugai — Porqne ? Pago,
nãoera perturbada por — Nem que pagues o dobro . Basta bo-
coisa alguma e os ar- tares uma roupa para que ella saia da moda.
dores amorosos do Desmoralisas todos os alfaiates.
joven marido cada
c a
vez mais se* davam por satisfeitos com a
linda creada. Estáindigitado para prefeito do Alto Ju-
A coisa não lhe custava barato, mas a ruá o sargento Poluceno.
mulher era rica e não poupava dinheiro. Bôa nomeação.

do PHARMACEUTICO SILVEIRA
Elixir de Nogueira Grande depuiatívo do sangue.
i$r >f <5 RISO

Uma aventura do Paulo


.Meu amijjii Paulo é representante de uma não conhece nem uma palavra de inglez (a
casa ingleza. Alas não pensem que essa casa não ser uma ou outra como walk-over, good-
é fabricante de cartas ou emprezaria de bis- morning eallrighti fei levar a carta a um tra-
cas de encarte como pode julgar muita nente duclor, seu mr.igo, O Sr. Penpenny, de She-
« o v e r q u e Paulo passa a existência a jogar ffield, annunciava que chegai ia ao Rio de Ja-
toda a sorte de combinações e naipes. neiro quinze dias depois.
Para falar com franqueza não lhes sei No dia marcado, Paulo estava firme no
dizer que demônio fabrica essa famosa casa cács Pharoux. Veslira-se com a maior ele-
representada por Paulo. Em todo o caso é gância.. Isto é, com as minhas botinas de
uni artigo inglez diz elle. Infelizmente essa verniz, uma casaca do traduetor e uma car-
tola, fi ita por medida não sei para quem,
mas que ficava muito bem na cabeça de Paulo
desde que elle a inclinasse um pouco para a
orelha esquerda.
Passaram-se Ires horas, durante nsquaes
Paulo teve trinta vezes oceasião de se dirigir
a pessoúS que desembarcavam c perguntar-
lhes se eram o Sr. Penpenny. Não eram.
A's dez horas da noite Paulo afastou se
tristemente.-
Notou que estava com fome e todos
seus amigos já deviam ler jantado. Notou tam-
bém que estava de casaca e portanto em ex-
cellente toilette para ira um baile. Seguiu e di-
rigiu-se á prirreíra casa cm que h a \ ü um baile
com apparencia de opulento.
hri um easamenio.Logo á entrada, Paulo
foi saudado por um cavalheiro edoso de per-
fil nobre e pela mãi de um dos nubcntis, que
expunha sobre seu physico abundante, enor-
me quantidade de velludo preto, um broche dè
brilhantes e grandes seios, cujo volume impo-
nt.nte devia ser indicio de generosa fecundidade.
Paulo ira mui o comedi, o em salama-
lechs, especialmente com pessoas, que não
conhecia e que contava não tornar a ver,
nuncH mais, como o corvo de Edgard Poe.
Dirigiu se sem apparencia de pressa para o
bnffet.
Fm uma das extremidades de uma mesa
copíosamenie carregada de cousas alimentí-
informação não é sufiiciente para altrahir as cias tomnii um consomée eduas taças de cham-
íreguezas que. em geral, não compram sem pagne. Depois dirigiu-se com calma para a
saber o que estão comprando. outra extremidade da mesa onde bebeu com
Assim, quando se pergunta a Paulo como dignidademais três taças de champagne ec m-
vão os negócios, elle responde que «vão indo» panhadas de sete ou oito sandwiches.
e não sabe bem o que isso quer dizer. Em seguida Paulo penetrou em uma sala
Um. bello dia Paulo recebeu uma carta de onde varies cavalheiros sízudos jogavam e
Sheffield. Essa carta vinha escripta em inglez fumavam com ar grave. S o b r e i s mesas va-
como geralmente todas as que lhe são en- rias caixas de c' arutos abriam-se com a in-
viadas por seus patrões. Ora, como Paulo nocencia das consciências tranquillus. Paulo
.mm^mmm*mw

$- $£ TOSSE
Jucá
CURA
Rrnnrliiteo, asllima, escarro*
sangüíneos, Tuberculose, Hemoptysese Diabetes
VIDRO 21000
L A B O R A T Ó R I O ; Avenida M e m de Sa, 11B
O RISO
examinou vários cha r u<os,que fez estalar entre fino bracelete de ouro com uma-pérola. Ecom
os dedos e que sem duvida não julgou bas- os olhos baixos, os lábios trêmulos, passou o
tante seccos, porque guardou no bolso da no pulso de Paulo, murmurando-:
casaca. E já cansado de escolher apanhou ao — Guarde-o sempre.
acaso um sétimo, que accendcu c foi fumar No dia seguinte, ás onze hora'. Paulo
sentado cm um canapé. veio restituir-me as botinas de verniz.
Seu estado de espirito tinha melhorado Começou por me dizer que tinha perdido
sensivelmente durante aquella ultima meia a noite porque o Sr. Penpenny não tinha che-
hora. Ah!—pensava elle—se o meu amigo gado. Depois contou-me as scenas do baile.
traductor tivesse os hombros um pouco mais — Então a noite não foi tão perdida as-
largos esta vidn seria uma cousa perfeita ! E sim—disse eu—guardaste ao menos desse
com os polegares robustos procurou alargar idyllio uma linda ienibrança.
um pouco as cavas da casaca. — Não guardei —disse Pau'o - Não podia
Terminado o charuto, dirigiu se lenta- guardar. Fui logo de manhã leval-a ao prego.
mente para a sala de baile. — A lembrança da moça ?
A ultima valsa fora longa. Os rapazes — Pois então ? A lembrança era o bra-
enxugavam com os lenços as frontes molha- celete. Ao que parece a pérola é fina. No
das. Quanto ás s.nhoritas, suas adversárias, Alonte de Soccorro*deram sobre-ella 80$000.
tinham voltado a suas cadeiras, sob o olhar Eaindaposso arranjar mais alguma cousa
enternecido das mamas e as azas dos leques .vendendo a cautela.
batiam desesperadamente sobre os corpefes.
Paulo não tinha intenção de se apaixonar
nessa noite. Enlevado por uma digestão feliz
sentia que seu corpo, imponderável, mal to-
cava o solo. Passou diante de um esptlho ;
viu que estava com os olhos brilhantes e a
pelle corada. Sorriu e voltou as costas á sua
imagem.
Entretanto, embora elle não reclamasse,
faltava aquella noite a aventura de amor, o
vulto de mulher bonita que todos nós dese-
jamos encontrar de vez em quando.
Foi uma moça loura, com o vestido verde
que a providencia collocou em seu caminho.
Tinha os hombros claros e mui;o magr» s
e um desses perfis tristes que-Paulo sempre
admirí ra. Naturalmcnie pediu-lhe uma valsa.
Tudo concorreu para o que tinha que
»-contecer. Paulo eslava ligeiramente exul- A viagem do Marechal Hermes á Bahia
tado pilas seis laças de chempagne; a moça vae ser uma coisa nunca vi-la. Vae haver mos-
de verde eslava perturbada pelas emoções da quitos por coida, cobras e lagartos. S. Ex.
musica e pelos volieios choreograplii.os... leva o grande encargo de dar seu prestigio á
talvez um pouco também pelas libações des- candidatura Seabra. Mas, nos intervallos, ha
usadas porque as moças nos bailes SÃO le*a- de regalar-se com vatapás, caruiús, moquecas
das freqüentemente ao buffet pelos rapazes, e outras coisas suceolentas da culinária ba-
que, assim lém um pretexto para tomar a'gu- hiana.
ma cousa. Sabemos que todos os partidos se dispu-
Dansaram duas valsas c não se separa- tam nesse particular. 0 José Marcellino quer
ram. mesmo preparar um zorô com as suas pró-
Foram se sentar juntos em um pequeno prias mãos. File c hábil na coisa, mas o Seye^
salão atravessado por pares raros. Ficaram rino tem uma preta velha, a 1'Jabá, que deixa
ali calados, um junto ao o u t r o . . . os minutes longe o saber do Marcellino. ;
passavam deliciosamente. Mas de todos quem vi.e lavrar o tento é
Quando julgou c< nvenicrle retirar-se, d Seabra. Tem pratinhos inéditos e inespera-
Paulo n.urn urou com \o/. alterada que nunca dos. Organisoü vivorios, foguetorius e até um
mais [oJeria esquecer aqui Ha noite. Lúcia ca èrvlc.
era o nome da m o ç a . . . aríava, com o sangue IV de ei cr que volte com as boas graças
ainda aos sallos pelas deliciosas emoções da- do Marechal, porque iodas essas coisus de
queiles momentos... Quiz dar a Paulo uma lem- política só se arranjam mediante banquetes
brança. . . Hesitou em dar-lhe o lencinho q«e e festas; e os delle vão ser supimpas, originces
tinha enr< lado cnlre o» dedos; mas aquclle e de deixar agente pelo beicinho
objecto de primeira necessidade poderia.fa- ,;! Ah! Fste Seabra é das dúzias J Não é
zer-lhe falta. Então tirou do pulso direito um atoa que elle é o homem do L ó . . . 6 . . . 6 . .-go
O RISO

V Scena do Balcão
Á MODERNA
— Como ? Pois ainda hontem a senhora Já no cérebro de Aguiar ia se desenvol-
ficou toda commovida porque um cavallo tro- vendo um plano estratégico. Repetiu:
peçou no meio da rua, e despedaça-me o co- «A qualquer hora* e despediu-se, depo-
ração com essa calma ? sitando sobre a mão de Alda um beijo, um só
Assim se lamentava o dr. Aguiar; mas pois que mais não lhe era permettido.
Alda, infinitamente loura, não respondeu, sor-
riu apenas. Estendida no casto leito Luiz. XVI, Alda
- Ora, vamos I Acabe com essa brinca- envolvia o lindo corpo em uma coberta azul
deira cruel que tem feito commigo — conti- celeste. Não conseguia conciliar b somno por
nuou o Aguiar — A senhora já confessou que mais que se voltas e ora para um lado, ora
nada tem a me censurar... que eu não lhe para outro. Por fim deitou-se de costas e es-
desagrado... entretanto só me responde que perou que Morpheu viesse tomal-a em seus
tenha paciência; só me permiite que venha braços. A seu pesar e ainda embora não con-
vel-a de dois em dois d i a s . . . e só das duas fessasse pensava no Aguiar, o pobre Jorge,
ás q u a t r o . . . Nos outros dias apenas posso como dizia ella. Porque demorar mais a solu-
saber noticias soas pelo telephone... e ape- ção daquelle caso. Ella amava-o também, a
nas durante um quarto de hora, que não pude sós, assim, alta noite, podia reconheciel-o ; es-
durar mais de quinze minutos. Ora, vamos ! tava resolvida a acceital-o como marido, en-
Ha mais de um anno que está viuva... o tem- tretanto brincava com elle como um gato com
po passa.. . nós vamos envelhecendo.. . Só um camondongo.
pretende casar de novo aos sessenta annos. De repente resolveu surprehendel-o dois
— Achas-me muito velha ? — vnerc-un- s dias depois dizendo afinal — Sim.
tou ella.
Fal-o-ia soffrer só mais dois dias. E sor-
— Para mim nunca o será. riu. Quantas vezes já tomara essa resolução...
— Então espere com paciência — se me depois quando chegava o momento e ouvia-o
tem amor espere.
falar de seu amor esquecia sua resolução e
— E' exactamente o amor que me torna condemnava-o de novo a esperar.
impaciente.
Que enigma é o coração das mulheres.
— E eu exijo o amor que não discute, Elias próprias não se comprehendem. Pois
que se sjbmette e acceita todas ás provações não tivera ainda Jorge a audácia de tomal-a
— disse com altivez a linda Alda.
nos braços ? Tantas vezes ficava a sós.
E como o dr. Aguiar suspirasse ella Mas Alda comprehendia, o pobre rapaz não
acrescentou
teria nunca semelhante audácia ; amava-a
Emfim... Já que tanto se lamenta, per- tanto ' tinha tanto receio de zangal-a t
mitto, de hoje em diante que me telephone to
dos os dias, quando quizer... a qualquer E, agora, di itada ali, sem somno, Alda
hora. Diga ainda que não sou bôa ! tinha piedade de Aguiar... Ouviu bater hora
Elle repetiu . e meia da madrugada . . Que noite intermi-
— A qualquer hora ?„_ nável
Porfim Alda não pensou em coisa algu-
Ali ! E' claro que ha de me deixar ho- ma e ficou immovel, ouvindo o tic-tac do re-
ras para sahir, para as refeições... lógio.
O RISO
De repente a campainha do telephone, — E eu estou muito mais atrazado que
collocado a seu lado, sobre a meza de cabe- Romeu, apesar de todos os progressos da
ceira retiniu com força. Naturalmente era en- sciencia. Renunciaria de bom gosto ao confor-
gano da telepjhonista; mas no desolador iso- to da cama para vel-a.,. .como é triste estar
lamento da insomnia sorriu a Alda a idéia de unido á senhora apenas por um fio... Estar
trocar algumas palavras com uma creatura reduzido a ter diante dos lábios um micro-
humana. phone em vez de murmurar as palavras de
Apanhou do phone e encostou ao ouvido: meu amor directamente em sua pequenina ore-
— Allô. lha. E a senhora prefere encostar á sua orelha
— E' a Sra. Aldáí - perguntou timida- o receptor do telephone ?
mente a voz de Jorge Aguiar. — Sim respondeu ella altivamentp'
Como? .. pois o Snr. ousa. . a esta — Sim ? Como é má. Oh ! Parece-me
hora !. vela daqui. Vejo-a estendida no leito, com os
— A senhora permittiu a qualquer hora. olhos abertos, sob uma coberta azul celeste.
— Mas nunca pensei que me viesse acor- E como sabe de que còr é a minha co-
dar do somno mais profundo - disse ella berta ? - perguntou Alda com surpresa»
fingindo indignação, mas interiormente encan- — Por intuição. Bem sabe qué o amor
tada por esse incidente ^ue vinha interromper advinha—respondeu elle encantado por ter
o aborrecimento de saa insomnia. — De onde dito certo. Parece-me vel-a e não imagina a
está falando o senhor? impressão de falar-lhe sabendo que está dei-
— De minha casa, onde estou como a tada em seu leito.
senhora. Também Alda sentia uma impressão sin-
— Oh ! essa é boa. Eu não estou habitu- gular ouvindo aquella voz masculina e apai-
ada a conversar com cavalheiros deitados..-. xonada, aquellas pa'avras de amor estando
e não admitto que um homem me venha falar assim deitada. Seu corpo sem a couraça do
quando eu estou no leito. espartilho, do vestido, era mais sensível á vi-
— E' exactamente o que mais me encan- bração das palavras que acariciavam-lhe a
ta neste momento... Só lamento que... pelle, entravam-lhe pjlos ouvidos e iam des-
— Oh Veja lá, não diga inconveniências. pertar os nervos mais sensíveis de sua carne
Vamos ver que é que tinha a dizer tão impor- feminina.
tante, que me faz acordar a esta hora da Jorge falava, embalava-a com palavras
noite. de ternura, supplicava um beijo como si esti-
— Que amo-a — suspirou Jorge no ap- vesse a seu lado.
parelho. E Alda sentindo desfallecer na onda do
— E acorda-me para isso? exclamou desejo que a invadia toda beijou docemente o
Alda em tom de censura. phone.
— Cousas de nosso século, minha que- Jorge ouviu o estalido significativo dos
rida Alda. Antigamente quando Romeu queria lábios, gemeu de angustia por não poder apro-
conversar com Julieta alta noite, subia a seu veitar aquelle beijo que era seu.
balcão e a pobre Julieta tinha que abrir a ja - Mas no dia seguinte, exaltado e encora-
nella, expor-se ao frio, ao passo que agora jado pelo que ouvira, roubou-o dos lábios
dois namorados podem conversar tranquilla- rosados de sua noiva.
mente, no conforto do leito...
— Mas, eu não sou Julieta.
O RISO
parátro. Mus, elle que c mais abalisado cultor
FILIVIS D'ARTE dn nossa lingua, certamente repe!l:ria o ana-
chronismo.
Com uma solicitude paternul ensinaria
como se podem dizer as mais bellas coisas,
enunciando as idéns mais nobres, no mais
puro vernáculo.
Outro não é o exemplo que se colhe dos
seus inimitáveis discursos parlamentares e de s
seus maravilhosos surtos de publicistas.
Ainda não ha muito tempo que saiu co-
berto de glorias, no prelio em que se empe-
rhou.affrontandoas maioressummidades mun-
diaes, no Congresso das nações, vencendo a
todos pelo vigordasua argumentação indes'
tructivel e plantando na Conferência de Haya
o padrão da igualdade de direito .dos povos
soberanos.
Mal repousado da incruenta peleja, eil-o
de novo a desfraldar a bandeira da liberdade,
fazendo a Pátria vibrar n'uma campanha reivin-
cadora de seu direito a decidir livremente dos
seus destinos.
A resistência inquebrantavel de sua enfi-
bratura moral, não diminuiu nem deante do
E'como se o Creador procurasse apre- triumpho da força mancommunada' com a
sentar a synthese dos contrastes numa das fraude
suas creaturas. Pequeno no physico.uma figuri- Firme como sempre elle ainda continua,
nha quasi da altura d'um collegial, que pela quer da tribuna do parlamento, quer das co-
estatura moral ergue ;e ás alturas d'uma di- lumnaà da rmprersa, a verberar os abusos
vindade. dos prepotentes, assumindo a defesa dos oppri-
Quando se o vê a caminhar pelas ruas, midos.
modesto e affavel, a retribuir os cumprimen- E' mais que um cidadão illustre, é l/m
tos que lhe são dirigidos, chega-se até a du-
heróe a Carlyle.
vidar que seja elle mesmo o athleta da palavra,
o gênio que derrama torrentes de luz, aureo- Pulhé d'Encre.
lando a pátria e deslumbrando o mundo pelas
fulgurações de seu saber.
Espirito radicalmente liberal, desde os Dois políticos muito conhe-
bancos da academia vem batendo-se pelas cidos encontram-se na Ave-
idéas generosas, sementando com os seus nida :
conselhos o terreno das conquistas liberaes. — Também vaes a Bahia,
Na inonarchia era a atalaia vigilante, a elevar na comitiva presidencial '.
os ecos du opinião publica até os degráos do — Vontade não me falta;
throno imperial. mas tenho medo do enjôo.
Bateu-se pela abolição do elemento ser- — Hom'essa' Si tens via-
vil com a tenacidade d'um apostolado. jado tanto, e nunca me cons-
Veio a Republica e encontrou-o na van • tou que enjoasses!
guarda, prompto a desbravar-lhe o caminho, — Não é de mim que se
descrevendo um rumo certo e promissor de trata : çu tenho medo é que o marechal enjóe
felicidades. Foi oprimus interparis do governo e aconteça-nós o mesmo qae aconteceu aos
provisório, o architecto máximo do novo edi- passageiros do Satelli/e.
fício traçando èm largos moldes a constituição — Com effeito, a lembrança vem a tempo'
do novo regimen. pelo sim, pelo não, também desisto de pegar
O Sr, Coelho Netto, se tivesse de cum- na chaleira a bordo. Seguro morreu de ve-
primental-o, naquella épcca, chamal-o-ia de lho :

Sobretudos de casemira forrados


FRIO Só na « C A S A P A R I S >
41, RUA DOS ANDRADAS, 11 —Esquina HOSPÍCIO
26$
M M i t o f O RISO
10 <f> <# s
\l.
O RISO

nus de lilteratices con Xerês de phonetismos,


é\ checada grogues de etymologismos e schnupps de lati-
nismos.
O Brazil, não ha duas opiniões: é um
Estou chegando írexca. Digo fresca por- formigueiro de reformadores. Haja vista no
que, ainda não tive tempo para aprodecur zoilo Medeiros, com o seu africanismo alge-
pelo Rio, onde ha umas lamas cousas i^ue brico, diário, pelas columnas da -A Noticia».
assombram o espirito de gente madura como O nosso Ruy é muito mais assombroso
o dos petizes com as almas do outro r'o que os Gladstone do Cosmos; o nosso
mundo. Clovis —muito mais encyclopedico ao que to-
O Rio tem também novidades— dessas dos os Carrara, o noss > i.aet mais philólo^o
que fariam cahir o queixo á penca dos tou- do que todos os Litiré. Na poesia temos um
riítes de todos os climas. Não e poi- de admi- Bil. c—Catullo; um Emilio —Juvenal e um
rar que, uma pobre de espirito, como eu, com Kaymundo — Gautier
os grandes progressos cariocas, cahia das al- Na aerostatica um Dumont, que já fez
turas de onde cahio o mallogrado Severo do uma visita ao planeta Marte no seu «Montgol-
seu «Pátria». fier». Na caricatura o nosso Calixto, de frack
Pariz nTo é, sem duvida, o maior empó- de azas de barata e de collarinhos mais altos
rio das novidades. Imaginem vocês que, por do que o pescoço do Lopes Trovão.
esta Parizoicp^lis, ha mesmo elephantes tão No theatro os Trègoles estão mais bara-
sábios que escrevem chronicas do theatro por tos do que as laranjas da Sabina.
dentro e por fora 1 Na musica não são poucos os Veidi, mas
Com um tal cunho de progressos, não deixemos os symphonistas cariocas para as
«•erá de causar pasmo, que os rotundos pachi- nossas noutes de Yerona. Esperemos o luar,
dirmes entrem nas chapas para intendentes, e com paciência com que os pescadores espe-
mettam mesmo até as trombas na cathedra ram a melhor maré e melhores ventos, para
presidencial. sulcar com as quilha* dos seus rebitados
barcos o cobalto das águas desta nova Ve-
neza.
Não ha duvida, pelas pairr.eiras da minha
terra ha muitos cachos de cousas bonitas: me-
O RISO II

Os coiós não foram ao meu en barque, tanto frio, que era naturalissimo que estivesse
mas, em compensação, me fizeram uma ma- brigando com a cara metade.
nifestadela dos diabos, desde o cães do Pha- Naturalissimo !
roux até o quartel general do conde de Fron- E eis ahi um motivo que bem justifica o
tin. facto do não comparecimento daquella adorá-
Palavra que o cordão coiódal me fez vel furiazinha, que ha dias quasi me rasga no
affluir o rubor ás faces ! rosto as rendas todas da sombrinha por um
Lembrei me do Pae da Creança com a mal entenda, naquelle cáes marginado de pés
sua penca de garotos caminhando pelas ruas de oiti, onde o Migué da comadre Jacintha teve
da Capital. Eu, com a popularidade do Pae da um desmaio, por julgar que a barca Quinta na
Creança ! Não gosto dos coiós por traz ! Eu sua rápida carreira de Nictheroy pudesse me-
bem sei que por um signal de deferencia elles tel-o a pique quando tomava fresco em um dos
me botaram na frente 1 bancos do jardim do Largo do Paço.
Bem sei ! O Binóculo, esse não veio, mas descul-
* pou-se por carta: não podia vir porque estava
* * com as lentes em concerto. 0 Pacifico que
De vez em quando eu lançava os meus tantas promessas amoriscadas me tem feito
olhos pretos e redondos como as jabuticabas, em alexandrinos de dez syllabas, este não fal-
para os bolinas, a ver se descobria o Bino tou. E' sempre o mesmo velhote espartilhado,
cnlo, a Qertrudes, o Oregorio ou o Pacifico. unctuoso de cosméticos, de pomadas, com
O marido da Qertrudes não estava no cordão. polvilhos, com a sua meia dúzia de ceroulas
Também eu desembarquei em uma noute de para engordar as gambias, mais finas do que
12 \0*
*£ <f tf O RISO f

ti do D. Quixole, e oscilltintes ccmoo paque- sua famosa novella de um «Cadáver morto».


te das Mestageries que me levou para novos A sua cartinha era a mais fingida possí-
céus na altura de umas 6<J milhas de costa. vel !
Não veio ao meu encontro, porque é s< -
cio remido do grupo dos promptos.
* * Três das missivas eram escriptas no por-
tuguez da «Ordem do Dia», isto é: de modo
pelo qual as palavras soam no ouvido de um
Além da cartinha que me endereçou o pobre mortal — digo soam para não d zer api-
F. rnão: uma pillula pela posta, recebi mais tam ougritam no diapasão das locomotivas na
quatro na redacção. partida dos expressos.
O Binóculo mentiu allegando o concerto O seu assumpto é velho como o com-
das lentes, porque no dia da minha chegada mendador Anastaco: o amor!
publicava nas cclumnas da «Filha» do «Vô\ô» Todos principiam pt r esta chronica
as experienc a* das mesmas pela artéria da missa:
rroda. A razão era esta : a noute estava fria
como um sor\ete e o bohemio o único capote Estimo que estas mal /rafadas linhas...
quepossuia deixou na proa da barca Quinta,
rara simulando que um pobre diabo setíve^se A ultima é escripla por um bolina da gemma:
atirado ao mar arranjar um assumpto para a é um convite lodo puxado á sustância para um
O RISO 13
gyro na Avenida Beira Mar na hora das som-
brinhas, tendo o cuidado de levar ao pescoço AZUL
uma boà e na mão o numero côr de rosa do
«O Riso».
E, que tal ? . . . Elle tinha
Era muito mais fácil me atirar ao mar da sido surprehen-
praia de Santa Luzia, do que acceder ao pe- didopelo aman-
dido! te no quarto da
Vá s a h i n d o . . . mulher; e como
Até quinta-feira. não queria per-
Xnntlóca. turbar o traba-
lho e as obri-
© gações de sua
cara metade, metteu-se muito apressadamente
MUrçMÚF;iOS debaixo da cama.
O amante não era desses que chegam e
vão logo ás do cabo. Gostava de prelibar o
prazer, de atrazar a satisfação, de forma que
Eu sou a sombra de um triste, os dois, amante e mulher do outro, ficaram a
Nem sei como a dôr resiste conversar, fumando e bebericando vinho de
Este "pobre coração I Malaga.
As nuvens do céu de Agosto O outro lá estava debaixo da cama, cons-
Tenho gravada no rosto, cio da grandeza de seu sacrifício e do heroís-
E dentro d'alma — o vu'cão ! mo de sua attitude.
Elle tinha aquillo na conta de obra meri-
Deixa que soffra e padeça, toria, não só porque deixava a rrulher em
Que a morte de mim se esqueça, completa liberdade, como dahi lhe vinham
Que sopese a minha cruz proveitos extraordinários que, em muito aug-
Sendo um mixto de bondade mentavam os fracos recursos de seu orde-
Não carpiu da humanidade nado.
Tantas ügruras Jesus ?! ComtuJo, aquelle rápido penetrar nos
tposentos da mulher, obrigando-o oceultar-se,
causava lhe prejuisos e desgostos.
No auge do meu tormento, Não que a coisa lhe trouxesse água na
Eu só tenho um pensamento: bocca; não; mas não falaria ao Costa e não
Voar para o seio teu ' decidiria, portanto o negocio do Alves. Com
Ser, meu anjo, o teu poeta esse negocio do Alves, elle ganharia 600$000;
Nas noutes de Julieta compraria um terno; talvez fizesse uma via-
Nos Madrigaes de Romeu ! gem, para deixar a mulher mais em liberdade,
de modo a poder ella ampliar seu negocio.
Si o Morpheu da sepultura, Ainda se a coisa fossse depressa, vá; mas
.Abrir cedo creatura assim demorada, era para desesperar.
As negras azas em mim ! Os dois conversaram ainda um pouco e
Da minha campa esquecida depois deitaram-sc.
Calca a terra revolvida, A cama gemeu demoradamente; lá em
Com o teu pé de setim! baixo o outro, deu graças a Deus. Ah ! Em-
fim. .Houve beijos e . . cutras coisas que o
Nos sete palmos de argilla, pobre diabo ouvia sem reclamar.
A tremer como a Dalila, Por fim os dois conversavam:
Por mim pedirá» a Deus ! — Bemzinho, disse ella, eu preciso que V.
Mostrando na flor do rosto arranje um terno para o Quincas.
As nuvens do céo de Agosto — Pois não. Tens pressa ?
Que viste nos olhos meus ! —Tenho. Elle espera decidir um nesrocio,
mas creio que não arranjará nada. Se V. qui-
E lá no féral cruze : ro, zesse...
No meu leito derradeiro, — Pois não. Passo lá no alkiate e mando
O coração talvez bata ! fazer. De que côr ?
E num amoroso enleio, -^Preto.
Diga ao calor do teu seio : Oh ! Milagre. Do fundo do assoalho, veio
Porque me mataste, ingrata ? ! uma voz mansa que emendou:
— Não; azul.
Olé.
14 O RISO
Guardo em segredo as lagrimas que choro.
cíternum Vale Sigo a tremer os teus menores passos,
«Mas não quero que saibas que eu te adoro !»
i Nos sonhos meus em amoroso enleio,
Macenilha, si em meio do Calvário O corpo teu pareço ter nos braços,
Eu tombar, so.ire as sebes arqucjante, E o coração pulsando no teu seio !
Colla aos meus lábios nesse extremo instante IV
O Christo de marfim do teu rozario.
Ah ! pudesses medir a agonia
Tu me fizeste um triste visionário Tudo que punge, que me vae matando,
Num inferno mais negro que o de Dante, Por esses versos que escrevi, lembrando
Soerguendo uma cruz, negra, infamanie, Uma quadra que a vida nos sorria I
Como é triste, Mulher, o meu fadario !
O nosso amor foi a illusão de um dia,
Tu não tens nem amor, nem piedade, Foi a rosea chimera de um noivado:
A' viva luz do teu olhar felino Em cedo tive o coração sangrado,
Nunca pairou a sombra da Saudade ! A desdita, meu Deus, como cruc a

Uma força me calca nos teus p a s s o s . . . Não te iraldigo, não, pobre insensata,
Ao sombrio burél do rreu destino Que chegue a hora, o desenlace, o termo,
Trago a crucis de jaspe dos teus braços Dessa tenaz agrura que me mata I

II Minh'alma já não vibra d'affeições '


Meu coração é um coração enfermo!
Não ! Nem mesmo sei porque te adoro Que contraste por nossos corações '
E com estos de fogo de estremeço,
Causadira das penas que padeço. V
Urna santj das lagrimas que choro ! Para uns o amor é noute escura '
Para outros manhã d'ethéreas flores
Compaixão —nem um balsamo te peço, Raros são os ditosos nos amores
Nem transido de dôr eu me deploro: Que eu não possa olvidar essa loucura !
Urna santa das lagrimas que choro
Walkyria das pyras que tropeço!
Julguti-tc a gotta refulgénte e pura
Que traz a seiva ao coração das flores,
Vejo-me sempre em aurros pesadellos Senti me escravisado aos teus fulgores,
Acoleado por teus níveos braços Para mim o amor foi noute escura !
Preso ás ondas gracis dos teus cabellos I

Desperto o coração que não tem calma, Não te esqueço cruel, ah quem me dera!
Ouvir parece o frf mito dos passos Volver para os arminhos do teu seio
Pela noute échrando da minh'alma ! Cujo calor, quem, sabe, inda me espera'

JII O coração que a dor tanto maltrata,


Talvez, ainda, num tocante enleio
Basta ! |á me fizeste soffrer tanto ! Venha morrer no coração que o mata !
Basta! Não te apiédam minhas dores |
«Tu disseste de rr.im feios horrores !»
Escarneceste mesmo do meu pranto ! K.
©
Fomos felizes ' Nosso amor foi santo Segundo consta o Minas Geraes e o São
Como o são os primeiros dos amores! Paulo vão ser remettidos ao Museu Nacional,
Muita luz, muito aroma, muitas flores... como symbolo de nossa força e de cossa
Como vae longe esse quartel, no entanto grandeza.
•^•awe^MM

CflSfl PARIS = 50$, 60$ e 70$.


Ternos sob medida. Tecidos dr pura lã
30$ Ternos de brim I R U A D O S A N D R A D A S , 4 1
sob medida. I — - • E s q u iri á ck F ; Í Í O H < Í F r« o ~
O RISO 15

Um coió sem sorte encontra a Diva nos


A lição de õuarany braços do Simplicio, na caixa d'agua do Pe-
dregulho.
D. Leolinda Daltro estava ha dias dando Hontem o pobre do Jove
ás suas discípulas da Escola Orsina da Fon- A'.sombra d'uma mangueira,
seca uma substanciosa lição de guarany. Encontrara a companheira
Um dos seus bellos caboclos assistia ao lado Jogando o sessenta e nove.
a lição da sabia professora.
Ella dizia: Hoje veio uma cartinha
—Kori bolo many, quer dizer: a água está Denunciando um embrulho
fervendo. Na caixa do Pedregulho,
O caboclo olhou-a um instante e disse Onde encontro a noiva minha:
vagarosamente;
— Tá elàdo. Não é água, é pice. Em flagrante, entregue ao vicio,
D. Leolinda emendou e disse graciosa- Tu me tornas assassino:
mente: Hontem morrera Calino!
— Elle tem razão. A coisa quer dizer: o Morrerás hoje, Simplicio!
peixe está frito.
O caboclo abanou a cabeça e repetiu: C 3
— Tâ eládo Bolo. diz vive.
D. Leolinda, graciosamente, acceitou a
emenda e corrigiu: Na França já se fala no coronel Rondon.
A coisa quer dizer: o peixe vive no Diz-se mesmo que o governo francez pre-
fogo. tende contractar seus serviços, para catechese
O caboclo abanou a cabeça e emendou dos apaches.
ainda uma vez:
— Tá eládo. A coisa qué dizt, pêce vive na-
gua. O João do Rio, quando esteve em Paris,
D. Leolinda não se conteve; zangou-se e foi ao famoso Ritz, para não o conhecer só de
gritou: nome. Vendo-o entrar o criado apressou-se
—Cale a bocca, Tupiny ! Quem é o pro- em perguntar o que queria. João disse com a
fessar: Eu ou você ? maior fleugma: Nada. Estou vendo para escre-
—Você, diz Tupiny; mas você não sabe ver em chronica.
língua.
Houve uma gargalhada geral e D. Leo-
linda pediu transferencia para a cadtira de
trabalhos de agulha.
Pagé. — Eu já não te dei os cincoenta mil réis
desta semana, como queres mais?
c 4 — Meu bem, é verdade ; passa então os
Pede-nos para declarar, o Sr. Pelino Gue- da semana que vem.
des, que não são da sua autoria os versos que
publicamos ha dias passados. Escusara S- Ex. -»-
dar-se a esse incommodo, porquanto ao mon-
senhor Lustosa já se attribuira a autoria dos Consta que o «Satellite» vae ser incorpo-
mesmos. rado á esquadra nacional e o seu comman-
dante vitalício será o capitão Marques da
t 3 Rocha.

O João do Rio anda enthusias-


mado com a candidatura do Rodo'pho
á presidência de S. Paulo.
Disse elle numa roda de amigos :
Se fôr eleito, mudo-me para S.
Paulo.
— Porque?
' • ' * * CS ti-WL —. E' que recomeça a era dos
rodolphismos.
16 yp <f O RISO
E' claro que o prazer que brota do riso
O t^iso vem da duplicata da actividade na prcoecupa-
ção
l.cs moments que l'on passe à tire Lcvêquc, psychologo francez, que estu-
Sont les micux cmploj és de tout dou com aceuro a delicada questão, opina que,
(Regnard Voltaire não tem razão dizendo, que: o riso
Aristóteles na sua Poitica, diz que : o risí- nasce do orgulho.
vel é uma crusa feia que não é nem dolorosa Também não é acciitavel que brote do
nem susceptviel de ser destruída. rgoismo essa escala do prazer.
Esta maneira de definir é justa no fundo,
mas carece na evidencia de provas. E' claro tliivrnnl.
que nos rimos de um erro, de um defeito orgâ-
nico. Eu penso que umas taes cousas não sejam
©
a fonte do riso. Segundo affir-
Em rigor urra deformação, por si mesma, mam os jornaes o
não deve ser risível, salvo, quando em con- marechul Hermes
traste com algu,ma cousa muito bella. tenciena levar com-
Cicero é muito mais faceiro, dizendo que: sigo, a bordo do
«O domínio do risível é o hediondo».
Bahia, uma banda
Kant diz, que: o riso se produz, quando
de musica, para dis-
uma grande esperança se acha por completo
trail-o dos aborreci-
desvanecida.
mentos da viagem
Uma e outra, são imcompletas, mas é fora
e do chaleirismo.
de duvida que, todo o contraste nos faz rir.
Quando a gente espera encontrar algo Porque não le-
de feio, e ao contrario, depara com uma cousa va a banda allemã ?
bella, como que desabolôa em nossa alma a Prestaria S. Ex com
papoula do riso. isso um grande beneficio a população desta
Leon-Dumont, célebre advogado d;i corte ciJade, aliviando-a dum pesadello, e faria ao
de Pariz, deu publicidade uma curiosa bro- mesmo tempo uuui homenagem a seu grande
chura sobre o riso. an igo, o Kaiser.
«O risj nasce de todo o oojecto do qual Aqui fica a lembrança, pela qual não pe-
se pôde affirmar ou negar alguma cousa, ao dmos pagamento.
mesmo tempo».
Façamos uma applicação do facto. ®
Homero apresenta os deuses do Olympo Madame G. encontra-se com o Baldo-
rindo a bandeiras di spregadas ac s olhos de mero mais vermelho do que os camarões nos
Vulcano, que corre coxeando em torno da dias caniculares depois depois de 24 horas.
mesa do festim para offerecer o nectar aos — Bôa tarde, senhor Carcaja ! O se-
deiS:s, que não riram pelo andar o/xeante do nhor anda sempre tão carregado de papeis
esposo de Venus, mas pela mera vaidade de como as andorinhas de moveis do Coimbra !
querer oecupar o logar de üanyméde.' — E' verdade, Exma ! Imagine que todas
Correndo de modo tão célere ao redor estás fitas são para o noticiário do Vovô !
dos divinos convivas, quem poderia suspeitar E' isto? pergunta a dama apontando para
que fosse um coxo o bello, o ágil, o juvenil um rolo de papeis.
copeiro ! — Isto são 999-demissões de funeciona-
Ninguém... rios públicos que não pegaram no bico da
M«s no momeuto em que os olhares se chaleira do Rapadura nas ultimas eleiçõ.s.
detiveram no seu passo arrastado, a bôa im-
pressão foi vencidi pela contraria, que fallava * *
de modo eloqüente a \erdade. E foram assim — Do «Popularissimo» só se aproveita
proferidos dois julgamentos : um de affirma- uma cousa :
liva e outro pela negati\a. — Qual é ?
Dumont diz, que: o riso consiste no du- — L" a secção telegraphica.
plo movimento do espirito, que: affirma e —Porque ?
nega a mesma cousa. I, - Porque vem redigida da Europa. '.,.

lllM'l*.pillPi*n»l^WM'»i-W^*W»^C»^» • • » ^ ^ M W « » i

Eliiir de Nogueira do Pharmaceutiço SÜueira 0 0 0


o_L&_ © 0JàirajnDÍ£si<ciS-fiii pelle.
O RISO 17
Não sórtí a bocca no mundo,
Entre compadres Que nada me aconteceu :
Nem eu aquebrei as fuça,
Minha cumadre Jacinta Nem meu cumpadre morreu !
Honte fui ao Çumaré,
No burro do meu cumpadre : Essa era a nuvidade
Si vancè vici o Migué ! Que prometi acontá,
Dessa mardita vingi
Quando chèganro no topo Das outra banda do má.
Não 1 eaconto a brincadeira
O macho aprégou dois coici Sarve os vadio da róç.i
Nas tromba do seu Pêrêra.
Que aperguntarem por mim.
Maróca inda tá sorteira ?
Cumadre, era o mesmo macho Eu vou indo ançim, ancim...
Veio, ancim, como vancê,
Que amuntei em Santa Rosa
Quando fuiaMucaguê. Mande dizê cê as galinha
Tem chocado muitos ôvo ;
Lembrança a muié do padre
Quando o burro deu de cara, Sordadis a todo o povo.
E. eu me aprantei no chão :
Bati com as venta na lata Uigué.
«» Do meu cumpadre João !

&i
Cura Tosse! Dura Moléstias de Senhoras
Vende-se em todas as Pharmacias
18 Ô RISO ^
Antoníctta Olga, e outras, foram bem em seus
BASTIDORES papeis, recebendo applausos.
Na parte masculina, foram bem destribui-
dos os papeis, pois, todos calham bem ; os
actores Alfredo Silva, Miranda, Castello Bran-
Souza Bastos co, Franklin fizeram o publico rir á vontade.
N'este canto, onde se fala de cousas ale" Em summa, tem peça para muitas noites,
gres de ribaltas, existe hoje a tristeza, moti- e o publico deve aproveitar quanto antes vfir
vada pelo desapparecimento do antigo escri" o que é uma Mulher Soldado.
ptor Souza Bastos, o que mais trabalhou em No São Pedro, está sendo levada a
prol do theatro portuguez e brasileiro, dei- interessante opereta Babel de Amores, adapta-
xando como herança ás lettras-patrias uma ção de Abílio Margarido.
estupenda collecção de obras theatraes. A peça tem agradado não só pela musica
A' sra. Palmyra Bastos, a impeccavel que é uma bôa miscellanea, e bem assim a in-
rainha da opereta, e esposa do saudoso morto, terpretação correcta.
O Riso envia as suas condolências. O sympathico actor João de Deus, que
dirige a companhia, tem em ensaios a opereta
de Cardoso de Menez, Casei com titia, que é
O succcsso da semana, foi sem duvi- de fazer rir á valer.
da, a estréa da companhia dramática franceza,
dirigida pelo distincto actor Guitry.
E' inegável o valor d'esta companhia; Naa coxias...
tanto que o publico carioca tem sabido cor- Dizem que o ponto do São José, ficou
zangado com a Helena porque ella fez a valer
a scena dos beijos na Mulher Soldado.
. • Segundo telegramma de Lisboa, o
sr. Álvaro Peres, que havia sido preso como
conspirador, foi posto em liberdade; e foi
preso o sr. Fonseca Moreira porque foi encon-
trado fazendo peças.
Os habitues de theatros estlo nncio-
sos para saberem o que o Vivas fez á Emitia
para que ella desprezasse o C. Reis.
-'- Fala-se muito n'um próximo encon-
tro entre o Nogueira e o Pereira da Costa, na
sala da...
As testemunhas são os moços das casas
de rendez-vous.
• . E dizem que por hoje dá o basta o
T. Binhaa.

Gabríela Montani t 4
O Ministério da Agricultura tem prestado
relevantes serviços...á imprensa nacional.
responder ao esforço do emprezario, enchen- Cada dia é um folheto. Não se pode' dizer,
do todas as noites o Municipal, e applaudindo por isso.que elle não plante batatas.
calorosamente os interpretes.
. O Paschoal Segreto organisou uma
companhia nacional para dar espectaculos por
sessões no S. José, inaugurando sabbado ul- Numa offícina em dia de aperto.
timo os seus trabalhos. O chefe notando a falta de um operário
A peça escolhida foi a opereta em 3 actos, espia pelo buraco da fechadura de certa porta
denominada a Mulher Soldado. e vendo o rapaz sentado, com um jornal na
A interpretação foi a melhor possível,pois, mão, pergunta :
a sra. Cinira Polônio, a eterna dama galante, — O que está o senhor fazendo ahi 1
disse e cantou com a graça que lhe é peculiar, — Oh ! senhor, não é preciso mais que
o papel de Clarinha. observar o colorido de minhas faces para
As sras. Laura Godinho, Cecilia Porto, saber o que estou fazendo...

do P H A R M A C E U T I C O S I L V E I R A

Elixir de Nogueira - nico q u e c u r a a syphilie e s u a s •


a a •
o
a terríveis r n n s e a u e n c i a s ,
OJUSÒ 19

J?S Jlventuras do 7{ei pausolo


IROT^AISTCÍIE J O V I A L
Livro primeiro — Na terra da nudez feminina
CAPITULO Vil
Taxis relata a Pausolo os r contecimentos
Cuidadosamente levantou-se afim de que Approximou-se de uma janella que esta-
eHa não acordasse. Não queria despedir-se va aberta e começou a contar o que se tinha
de Diana. passado.
Momentos depois estava deitado em uma — Hontem pela manhã, cerca de quatro
água perfumada ouvindo as noticias dos jor- hor/s, Sua Alteza a Princeza Alina, comple-
naes. tamente vestida, sentou- se sobre o parapeito
Em virtude do artigo primeiro do código d'esta janella. Levantou as pernas, fez um mo-
{Não incommodarás teu visinho) era prohi- vimento de rotação da direita para a esquer-
bido aos jornaes a publicação de factos es- da e galgou uma altura seguramente de se-
candalosos e artigos difamatórios. Também tenta centímetros. Pelos vestígios encontra-
não era peraiittido fazer referencias á branca dos posso affirmar que Sua Alteza fugiu in-
Alina; porém, si a leitora encontrava alguma teiramente só.
d'essas coisas não lia para que o Rei não sou- Depois d'essa revelação, Taxis cruzou
besse. os braços sobre o magro ventre e descançou
Emquanto isso Pausolo permanecia inac- um pouco.
cessível. Depois de fazer a toilette e tomar a
primeira refeição, fumou dois cigarros e diri- — Hontem á tarde, continuou elle, a
giu-se para o quarto que era habitado pela Princeza preparava-se para passar a noite
filha. em um albergue chamado «Hotel do Gallo»,
Tudo estava desorganisado. O aposento situado a três kilometros da capital. S. A.
mostrava que alguém se tinha vestido e sa- chege u ás três horas e quarenta minutos,
bido precipitadamente. Um exemplar de «Te- trazendo em sua companhia um rapaz cujos
lemaco» fluctuava sobre a água calma da ba- signaes já tenho em meu poder, porém total-
nheira. mente desconhecido no lugar.
Pausolo vagava melancolicamente p?los — Que edade tem elle? perguntou Pausolo.
quartos examinando as miudezas que encon- — E' muito moço. Dezesete annos, no
trava ; depois, chamando o criado, ordenou-o máximo.
que fosse basear o sr. marechal do palácio. — Está bem, replicou o Rei.
— Si Vossa Magestade tivesse permit-
Taxis entrou. tido, desde hontem o seduetor estaria preso e
— Senhor, disse Pausclo, aprecio muito a Princeza já teria voltado para o palácio.
vosso zelo e vosso methodo resolvendo — Conduzidos pela policia, não é?
questões que certamente me- dariam muito — Ou por enviados especiaes.
trabalho. Mas vossa syndicancia de hontem, — Quaes 1 ette é um assumpto muito
foi além dos limites da razão, sobretudo si delicado, não se pôde agir como se tratasse
considerarmos o lugar que me procurastes de uma pessoa qualquer.
para dar-me conhecirtento. Já vos tinha pre-
venido que das cinco horas da tarde até o dia Não insisto. Vossa Magestade tem
seguinte ás duas horas não trataria de assum- razão. Cumpri vossas ordens e a vigilância
pto algum. Ultrapassastes vossas attribuições foi suspensa honlem á noite D'ahi para cá
tomando a iniciativa de um facto em que vossa tenho me conservado em espectativa.
competência é falha e pedindo ordens sem que — E' preciso saber si convém proseguir
eu vos tivesse incumbido de alguma coisa. ou suspender a vigilância. Quem é esse su-
O Rei sentou-se, accendeu um cigarro, jeito desconhecido que veio -raptar minha
poz o cotovello direito sobre o braço da ca- filha em nossas barbas, sem ao menos se dar
deira, inclinou a cabeça, cruzou as pernas e ao trabalho de ter vindo buscal-a 'I Elle espe-
fez um gesto ao mesmo tempo ordenando rou-n e ella foi ao seu encontro ! Alina que
que continuasse em sua narrativa. nunca deixara as alamedas do parque, agora
— Senhor, disse Taxis, minha narrativa já caminha por longas estrada?, está em um al-
se compõe de doas partes, porém acho con- bergue de cyclistás, entregue a uma criança de
dezesete annos que nunca a viu antes de se
veotMfte reíemil-a.
ío yp Ó RISO
lhe atirar aos braços I E' extraordinário' Não — Eu vou pensar sobre isso. Vosso re-
posso comprehender !.. . Ha algum indicio / latório é instruetivo, porém não impede qu»
Tavis, sorrindo, respondeu : pense sobre as hypotheses que delle podem
— Ante-hontcm uma troupe de dançarinas suggerir. Amanha já eu terei tomado uma re-
francezas deu duas representações na Corte, solução. Acalmai-vos e esperai.
diante de SS. MM. do Harém. A Princeza Levantou-se e continuou*:
Alina presenciava o espectaculo sentada den- Até lá eu poderei pensar em outra coisa.
tro de sua banheira. Durante os bailados ma- Essa preoecupação me acabrunha. Si continu-
nifestou o mais vivo interesse e notava-se que ar acabo por ficar doente.
sua emoção augmentava cada vez que via Taxis abaixou os olhos e suspirou. Aquel-
dançar uma... mulher chamada Mirabella. 1c tom meigo do Rei fel-o tomar aoimo. E
Taxis descançou um pouco c continuou : viu que o momento era opportuno para conse-
— Depois do espectaculo a Princeza guir uma coisa que lhe dizia respeito.
mandou que lhe levassem um bilhete —soba — Vou chamar a attenção de V. M. so-
fórrra de letra bancaria, dentro de um enve- bre minha humilde pessoa. Si meus serviços,
loppe fechado - Peço que V. M preste bas- ou pelo menos meu esforços merecem a au-
tante attenção ao que digo. A rreu vêr ha re- gusta recompensa de quem é o único compe-
lação entre este facto c a desgraçada fuga de tente para julgar, espero que V. M. saiba pro-
vossa filha. ceder de accordo com todos os princípios de
Houve um pequeno silencio. justiça.
O Rei continuava a fumar. — Que significa isso ? perguntou Pauso»
Taxis proseguiu : Io. Explicai-vos melhor. Não precisais fazer
— Accuso a bailarina chamada Mirabel- tantos preâmbulos.
la como a responsável pela fuga da Prin- —Eu sou apenas commendador da Ordem
ceza. Accuso essa marafona como conniven- das Pombas. Não tenho mais ambições pes-
te no crime perpetrado ! O nome do raptor soaes; porém minha velha mãe, que vive iso-
saberemos mais tarde ; não importa; mas que lada n'uma aldeia do Jura, ficaria muitíssimo
elle conhece Mirabella e que ella compromet- satisfeita se soubesse que eu era grande' of-
teu-se de lhe arranjar tudo, não resta a me- ficial... Agradeço immensamente o alto car-
nor duvida. Si V. M. não tivesse posto obstá- go com que V. M. me distinguiu na hierarchia
culo ás minhas tenções, tudo já estaria de- palaciana. Falo como chefe da casa civil e
mon.-trado e terminado. como autoridade. Meu pedido é completamen-
Pausolo levantou os braços. te desinteressado.
— Não sahiremos ! disse elle descorçoa- — Veremos, disse Pausolo. Mais tarde.
do. Isso se complica cada vez mais. E onde Continuai a relatar os factos.
estão estas dançarinas ! — A Princeza...
— Partiram no mesmo dia. — Ainda 1 Não ha outra cousa mais re-
— Estais vendo ! não sahiremos ! E' um cente?
negocio muito intrincado. — Ha, mais eu não me achava com cora-
— Perdão. Dois culpados : duas infor- gem d e . . .
mações, Um está em França, telegraphamos — Falai 1 dou plena liberdade.
para a Place Vendôme e depois das firmalida- — Senhor, trata-se de um attentado in-
des necessárias conseguiremos a extradição. jurioso e execrável, porém de caracter gro-
Por este lado não ha embaraços. Quanto ao tesco.
outro culpado, não ha duvida, elle está ahi. — Quem é o delinqüente ?
Espero vossas ordens. — E'um pagem, do qual'varias vezes
Pausolo olhou para Taxis qce ainda se me tenho queixado a V. M. Commetteu a
conservava de pé. maior das faltas que podia commetter. Tenho
— Sois um homem perigoso, senhor mais vergonha de contar do que elle teve
Grande Eunuçcho.-Útil, porém perigoso."Si de praticar.
o acaso o tivesse feito Rei da Tryphemia, — Emfim, que fez elle ?
este povo nunca teria um -dia de felicidade.
Tendes instinetos ferozes, pareceis descendente
de Caim.
O Rei com um gesto calmo sacudiu a (Continua).
cinza do cigarro.
i***»*1* f *••*••*•••*•• «*•«*•.«•»»*•,

UNIFORMES - E- F C. B,
{£ C c r r e í o G e r a l e Alfândega $fc
Só na CASA PARIS — RUA DOS ANDRADAS, 41 50$






BRASILIANA DIGITAL

ORIENTAÇÕES PARA O USO

Esta é uma cópia digital de um documento (ou parte dele) que


pertence a um dos acervos que participam do projeto BRASILIANA
USP. Trata‐se de uma referência, a mais fiel possível, a um
documento original. Neste sentido, procuramos manter a
integridade e a autenticidade da fonte, não realizando alterações no
ambiente digital – com exceção de ajustes de cor, contraste e
definição.

1. Você apenas deve utilizar esta obra para fins não comerciais.
Os livros, textos e imagens que publicamos na Brasiliana Digital são
todos de domínio público, no entanto, é proibido o uso comercial
das nossas imagens.

2. Atribuição. Quando utilizar este documento em outro contexto,


você deve dar crédito ao autor (ou autores), à Brasiliana Digital e ao
acervo original, da forma como aparece na ficha catalográfica
(metadados) do repositório digital. Pedimos que você não
republique este conteúdo na rede mundial de computadores
(internet) sem a nossa expressa autorização.

3. Direitos do autor. No Brasil, os direitos do autor são regulados


pela Lei n.º 9.610, de 19 de Fevereiro de 1998. Os direitos do autor
estão também respaldados na Convenção de Berna, de 1971.
Sabemos das dificuldades existentes para a verificação se um obra
realmente encontra‐se em domínio público. Neste sentido, se você
acreditar que algum documento publicado na Brasiliana Digital
esteja violando direitos autorais de tradução, versão, exibição,
reprodução ou quaisquer outros, solicitamos que nos informe
imediatamente (brasiliana@usp.br).

Você também pode gostar