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Noites Quentes de Paixão

RED LETTER NIGHTS


1ª História: Amo-te loucamente
Título Original: LUV U MADLY
Alison Kent

2ª História: Amor em domicílio


Título Original: DELIVER ME
Karen Anders

3ª História: Assinado, selado, seduzido


Título Original: SIGNED, SEALED, SEDUCED
Jeanie London

Convites sensuais para noites românticas!


O Natal é uma época maravilhosa para deliciosas travessuras.

E se elas incluem conquistar três solteiros sexies e arrasadores que


moram em um condomínio ultra chique em Nova Orleans, o Court du Chaud,
então o melhore ser criativa... E criatividade é o que sobra para a impetuosa
Claire, a meiga Chloe e a exuberante Josie. Elas planejam deixar,
sorrateiramente, um convite embaixo da porta de cada um de seus alvos, e
calmamente esperar até que eles voem para seus braços suspirando de
prazer...
Sem compromissos. Sem perguntas, Com muita imaginação. Quem
poderia dizer que cartinhas de papai-noel resultariam em presentes tão
ardentes?

Digitalização: Simone Ribeiro


Revisão: Crysty
1ª História:

AMO-TE LOUCAMENTE
Alison Kent

CAPÍTULO UM

Claire Braden não conseguia se lembrar de um dia tão quente perto do


Natal. Em Nova Orleans, a temperatura era insuportável, não pelo calor, mas
pela umidade. O tipo de ar pesado que faz sonhar em andar nu pela casa e
comer frutas frescas na pia da cozinha.
Ligar o ar-condicionado em dezembro seria perfeito se ele não precisasse
ser consertado. No entanto, detestava ter que gastar dinheiro com isso. Logo
chegaria uma frente fria. Claire acreditava de todo o coração. Além disso, era
época de festas. Papai Noel certamente já teria recebido sua lista de pedidos.
O ar-condicionado. Uma bolsa ameixa da Kooba, por favor. Dez horas a
mais em cada dia. Cinco quilos a menos nos quadris. Ah, conquistar o cara do
prédio na Court du Chaud, cuja varanda dava de frente para o apartamento
dela.
O primeiro pedido era prático, necessário, nem chegava a ser um agrado.
O segundo, uma recompensa, um mimo pessoal, desde que mandara a conta
para seu cliente de consultoria de imagem. O terceiro, uma fantasia vã, e o
quarto, também...
Por outro lado, o quinto a parte que lhe cabia na vida extravagante e
inesperado, ela queria mais do que precisava. Era um alívio para seu coração
de balzaquiana.
Ela destrancou a porta que dava para o pátio e entrou no hall da casa. O
calor de fora era nada se comparado ao que sentia toda vez que via o novo
vizinho.
Claire já morava no Court du Chaud há dois anos, mas conhecia poucos
vizinhos. Firmar o negócio como consultora de imagem de empresas demoraria
ainda mais se ela não tivesse preparado uma carteira de clientes de alto nível,
formada por conta de trabalhos realizados anteriormente.
Conhecera, porém, Perry Brazille, que morava do outro lado do edifício. As
duas sempre tomavam café-da-manhã no Eros, logo na entrada do pátio.

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Bebiam café, comiam tortinhas — que nenhuma das duas precisava — e
comparavam suas desgraças amorosas.
Enquanto estavam no Eros, Claire ficou sabendo dos boatos — a maioria
pela fofoqueira madame Alain — de que seu vizinho daria conta direitinho de
um belo encontro descompromissado.
O tal homem comprara seu sobrado com dinheiro vivo, tinha um carro
importado no valor de quatro anos de faculdade, vestia ternos caros e tinha um
ar de astro do rock que quase fazia as mulheres atirarem as calcinhas, como
em um show.
Sim. Era totalmente fora de propósito ela se deixar levar por essas
armadilhas da aparência quando seu negócio tinha tudo a ver com a imagem.
Sabia muito bem o que podia ser ocultado por uma boa mão de tinta.
Ela mesma caprichava na produção sempre que possível, tentando visuais
diferentes, como se cores e estilo oferecessem respostas a sua frustração
pessoal.
Mas em certas ocasiões, como naquela época de festas, a verdade era que
não queria ficar sozinha — principalmente tendo um vizinho gostoso no prédio
em frente.
Depois de tirar suas sapatilhas Prada e a meia-calça, fez o mesmo com o
blazer azul-marinho e a bolsa, largando-os sobre o sofá que já aglomerara
outras peças. Já na cozinha, serviu-se um copo de chá gelado. Depois, vestindo
apenas uma camiseta e calcinha, pegou a pasta de couro e a correspondência
do dia e subiu as escadas até a varanda do quarto.
O ventilador revolvia o ar pesado. Ela sentou na poltrona perto da mesa de
ferro, pôs os pés em outra e a correspondência em uma terceira. Não demorou
para olhar as cartas.
Folhetos, catálogos, postais e papéis de liquidações, tudo na pilha do lixo.
As contas iam para o arquivo junto com os ingressos para ver o Black Eyed
Peas, em março. Restaram 12 cartões de Natal que deixou para ler por último.
Alguns eram de Windy, Tess e Alexandra, as três mosqueteiras, amigas do
tempo de faculdade. Elas haviam se formado pela Universidade do Texas, ainda
passavam férias juntas e tentavam marcar um encontro a cada ano.
Naquele ano, infelizmente, Claire não tivera tempo para comprar um
mísero cartão de Natal. A correria do trabalho consumia cada vez mais a vida.
Uma pena, pois, apesar de falar com as amigas ao menos uma vez por
semana e trocar e-mails, ler aqueles cartões trouxe-lhe um sorriso ao rosto. Ver
a caligrafia e imaginar onde estariam ao escolher as palavras, pensar nas
manias de cada uma ao escrever... Windy enrolando as pontas dos cabelos,
Tess procurando uma caneta-tinteiro, Alex atenta à tarefa, porém, com um dos
olhos no jogo de computador...

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Claire suspirou. A primeira coisa que faria na manhã seguinte seria
comprar cartões para suas amigas e sua família. Também para os vizinhos que
conhecia: Chloe, a dona do café; Josie, a assistente social que morava no 16;
Perry, que parecia manter o mesmo ritmo louco de Claire.
Hummm. Talvez ela colocasse um, sorrateiramente, embaixo da porta de
seu objeto de desejo. Para lhe dar as boas-vindas ao bairro etc. Convidá-lo para
um drinque durante as festas. Manter as apresentações ternas, simples e...
suadas.
Ao ouvir a porta da varanda dele se abrindo, Claire se esforçou para
manter a atenção ao chá e ao restante da correspondência. Não pensara que o
vizinho a pegaria ali fora, em seu melhor visual. E ultimamente, com o calor...
ela riu. Imaginar o que ele veria se olhasse atentamente encheu-a de
esperança.
Fizera os pés no fim de semana e estava bem depilada até onde estava à
mostra, no alto das coxas. O coque louro já não estava tão preso como pela
manhã. A umidade tivera efeito e algumas mechas estavam soltas ao redor do
rosto, por conta do ventilador.
O corpete era sedoso e a pele colava ao tecido, além de ter um sutiã que
valorizava os seios. Seu visual estava mais para o de uma modelo do que o de
uma consultora de imagem. No entanto, fazia jus à satisfatória missão de um
affaire natalino.
Exibir sensualidade não era particularmente o seu estilo. Pelo menos
tratando-se de algo tão explícito. Ela gostava de sutilezas. Para ela, um pe-
dacinho de pele fazia mais efeito do que a nudez. Ou um colarinho masculino
aberto. Ou um relógio caro em um pulso coberto por pêlos...
Apesar dos pensamentos que passavam por sua cabeça, Claire percebeu o
vizinho a medindo com o olhar. Tirou os pés da cadeira e pegou a pasta. Ao
fazer isso, a blusa abriu um pouco, mas apenas por um segundo. Depois, se
debruçou à frente para juntar os cartões que ainda não lera e colocá-los na
pasta, exibindo propositadamente o decote do corpete.
Feito isso, ela pegou o copo de chá gelado e ficou junto à grade da
varanda, olhando para as luzinhas que piscavam na árvore de Natal do pátio.
Deixou que seus pensamentos vagassem. Claire imaginou o vizinho em pé,
abraçando-a por trás, e sentiu todo calor daquele corpo bem maior que o dela
a envolvê-la. Fantasiou sobre o toque de suas mãos, as palmas grandes
subindo por seus braços nus, a pele se arrepiando.
A reação de seu corpo não a deveria ter surpreendido como aconteceu.
Seus seios se contraíram. O sexo pulsou. Ela bebeu um pouco do chá gelado
para se acalmar.
O líquido do copo correu pela garganta, mas não chegou a refrescar, pois,
ao se virar para entrar... ela cometeu o erro enorme de olhar para a varanda ao
lado.
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A varanda dele.
Ele estava próximo à soleira, com as mãos nos bolsos da calça do terno
escuro, a gravata solta no colarinho da camisa social branca, mangas ar-
regaçadas. O maxilar estava contraído, a têmpora pulsava, dando a impressão
de mal conseguir se conter.
Claire esqueceu de respirar. Naquele instante, sentia-se como se nunca
mais fosse precisar de água, comida ou ar. Só dele. Apenas dele. E, por ser
independente como era — morando sozinha, buscando seus objetivos com o
incentivo das amigas — a idéia de precisar assim de um homem a deixava
hesitante.
Principalmente um homem que não conhecia.

Randy não pretendia permanecer no escritório por tanto tempo. Sim, vinha
trabalhando até tarde, todas as noites, há várias semanas. Por isso, decidiu
que aquela noite seria a noite da mudança. A noite em que teria sua vida de
volta.
A noite de chegar em casa, servir um drinque e ir para a varanda esperar.
Queria ver se ela apareceria novamente, se eles se conectariam como ontem.
A única que quase o deixou de joelhos.
Ela não aparecia todas as noites, mas, ultimamente, o calor e a árvore de
Natal do pátio a faziam sair mais.
Randy só notara as luzes na árvore porque ela as observara. As luzinhas
coloridas que piscavam no pinheiro refletiam nos cabelos louros da moça,
parecendo pedras preciosas. Isso a fazia sorrir com ar distante.
Não aparentava ser tristeza, apenas falta de foco. Como se ela não tivesse
tempo para distrações. Isso o intrigava porque o lembrava dele mesmo.
Ouvira as fofocas sobre o ar-condicionado quebrado. Que chato para ela,
mas bem que gostava de vê-la com calor. Era o tipo de mulher que o fazia
pensar sobre sexo como algo muito mais profundo do que um belo jantar e
direto aos finalmentes.
Aquilo o fazia pesar os prós e contras de ficar com a mulher na casa dele,
ou na dela. Na dele, com lençóis fresquinhos e pele arrepiada. Na dela, nada
além de pele quente sobre pele quente. A resposta não exigia muito raciocínio.
Tudo que ele precisava era uma forma de entrar.
Seu sobrado fora reformado pelo proprietário anterior e tinha a parte de
baixo ampla e um loft no andar de cima. Ele foi até a cozinha e deixou as
correspondências que recolhera sobre o balcão central, pegando depois uma
cerveja na geladeira.

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Ele, então, alcançou o painel principal de controle remoto da sala. Com um
botão acendeu a lâmpada do canto e com outro ligou a grande TV de tela
plana, sintonizando o ESPN antes de dar uma olhada na pilha de cartas.
Com a garrafa a meio caminho da boca, Randy parou. A atenção parou no
envelope vermelho sem selo, nem endereço. Do tamanho de um pequeno
cartão ou convite. Olhou o verso. A aba estava sem cola.
A curiosidade era seu fraco. Ele pousou a cerveja na bancada de mármore
negro, puxou o cartão de dentro do envelope e leu.
Pode ser Natal, mas a sensação é de 4 de julho. Tenho ventiladores e gelo.
Que tal? Vou deixar a porta aberta. Digamos, às 22h? A propósito, prefiro sem
compromisso e sem perguntas.
Com o sangue correndo quente, Randy leu uma segunda vez, depois uma
terceira, depois teve a perspicácia de olhar o relógio.
Oito e meia. Tinha tempo para tomar banho, fazer a barba, mudar de
roupa e escolher uma garrafa de vinho. Sem compromisso e sem perguntas.
Imaginando quais seriam os motivos para tais condições, decidiu concedê-las,
por enquanto.
Mas só por enquanto...

Claire estava na varanda observando a árvore de Natal do pátio.


Eram 21h35 da última vez que olhara o relógio do quarto.
Será que ele vem? Ou não?
Ela escrevera o cartão ainda no estacionamento da loja de presentes onde
parou, a caminho de casa. A idéia era deixar o cartão na caixa de correio antes
de titubear.
O que deveria ter feito era escrever os cartões para as amigas e imaginar
a reação delas lendo. Claire, a segura, prática, enfadonha, previsível.
Em vez disso, ela se deixou balançar por um homem lindo, sabendo muito
bem que estava caindo em uma armadilha. Claro que podia acontecer. Quais
eram as suas chances, porém?
Levando em conta as experiências anteriores, muito poucas. Os homens
gostosos que conhecia sabiam disso e não tinham o menor acanhamento em
se exibir de propósito. Totalmente brochante.
Isso a lembrava exatamente porque deveria fechar os olhos e abrir a
mente, para imaginar como poderia viver sem um namorado.
Aquele processo todo era uma perda de tempo. Ainda pensava nisso
quando ouviu o abrir e fechar da porta da frente.
Ela congelou. O coração batia tão forte que doía no peito.

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Claire usava um leve vestido amarelo e havia tomado um banho com
essências cítricas seguido por uma ducha fria. Porém, agora o tecido fazia a
pele cocar, apertava demais, grudava em todos os lugares errados, fazendo-a
suar. Pelo menos, tentava acreditar, pois sabia que, na verdade, era! tudo
ansiedade.
Quando ouviu Randy entrar na varanda, ela voltou a olhar o pátio. Claire
não se virou, simplesmente ouviu o tilintar dos copos sobre a mesa, o barulho
mais pesado da garrafa.
Mesmo quando ele caminhou atrás dela, e sua pele se arrepiou pela
aproximação e o nervoso, a moça continuou na mesma posição, com os de dos
grudados na grade da varanda. Claire sentiu uma necessidade profunda de se
segurar, pois era! como se estivesse sendo levada, caindo, escorregando, se
perdendo.
Randy foi chegando mais perto. A mulher sentia o calor de seu corpo, a
tensão vibrando no ar. Respirar já não era um luxo, mas um esforço que ela
procurava esconder. Apoiou as mãos nos ombros dela, apertou, chegou mais
perto e sussurrou:
— É isso que quer?
O isso a que ele se referia era o mesmo que Claire precisava?
— Sim — ela acabou respondendo.
O homem deslizou os dedos por seus braços, depois segurou-lhe as mãos,
massageando as palmas.
— Sei que não há compromisso. Mas por que não haver perguntas?
— Porque não quero falar — ela queria conhecê-lo como amante, não
como amigo, e estava fazendo o que os homens faziam há tempos, trans-
formando o sexo oposto em objeto apenas de prazer.
Porém, ela levava em consideração a natureza feminina para julgar os
contatos físicos em uma escala emocional, assim como sua vida atribulada,
que não deixava brechas para envolvimentos tão profundos.
Claire roçou o ombro no pano da camisa dele. O vizinho parecia bem
grande atrás dela, mas isso não representava qualquer ameaça.
Em vez disso, sentia-se estranhamente segura.
— Eu simplesmente não quero falar.
Randy se inclinou à frente, com o hábito fresco a provocar-lhe os lóbulos
das orelhas e perguntou:
— Então, por que está falando?
Boa pergunta. Com uma resposta muito pies...
— Porque não sei por onde começar — respondeu ela, arriscando tudo.

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CAPÍTULO DOIS

A resposta sussurrada acionou todos os alertas vermelhos. Que tipo de


mulher seria Claire Braden — Randy ficou sabendo seu nome ao ouvir sobre o
problema do ar-condicionado — para ser tão ousada com seu convite e ficar
tão nervosa quando ele aceitou?
Entrelaçou os dedos aos dela, passou os braços ao redor de sua cintura,
puxou-a de encontro ao seu corpo e sentiu o perfume suave da moça. Claire
tinha»um cheiro cálido, vivo.
— Podemos começar com uma taça de vinho — Randy sugeriu,
percebendo a necessidade de relaxar e não perder o controle.
— Seria bom — disse ela, tremendo quando o vizinho passou as mãos em
seus seios.
— Ou podemos começar com um beijo... Ela riu daquilo, uma gargalhada
leve, que o deixou ansioso para ouvir mais.
— Isso também seria legal.
Começou a virá-la, querendo conhecer sua boca, a textura dos lábios,
sentir sua língua na dele, mas esperou, pois sabia que seria impossível manter
o encontro impessoal como ela queria.
Claire tinha que entender que isso jamais seria sexo casual. Não com o
calor que havia entre os dois e a forma como ela reagia ao seu toque. Não com
o apetite que Randy tinha por coisas caras e belas.
Ele a queria. Poderia querê-la por mais de uma noite. Fazê-la entender isso
era primordial.
— Acho que realmente devemos começar estipulando um novo conjunto
de regras.
— Ah, é mesmo? — perguntou a moça.
O homem disse que sim com a cabeça, com o rosto encostando
suavemente em seus cabelos.
— Você sabe tanto quanto eu que precisamos falar.
— Imagino que sim — concordou ela, suspirando. — Embora eu esperasse
apenas curtir o momento.
Uma mulher sensual e estonteante. Ela o convidou para ir até seu
apartamento por diversão, e Randy insistia para que falassem! Ora essa! Ele
merecia ter a carteirinha de homem revogada.

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Ele soltou as mãos dela, correu suas palmas das mãos até seus quadris,
subiu com os polegares da espinha ao pescoço. As curvas eram incríveis, se
encaixavam perfeitamente em suas mãos.
E apesar de estar com o corpo retesado, Randy se conteve, testando a si
mesmo. Tinham tempo. Tinham a noite toda. Pelo que entendia, teriam meses
pela frente para continuar o que haviam começado.
Claire gemeu e disse:
— Sim, curtir como agora.
Ele sorriu em silêncio, prendendo-a entre a grade e o corpo. Queria que o
desejo dela acelerasse como o seu. Queria que ela fervesse com a mesma
chama que começava a comê-lo vivo.
Aquela não seria uma transa rápida ou fácil. Ele soube disso na noite
anterior, quando os olhares se prenderam por um instante eterno. E, por conta
disso tinham tempo.
Randy a soltou e se afastou, indo até a mesa para servir um drinque.
Percebeu que ela havia se virado de costas para o pátio e não conseguia
ver seus olhos. A luz do ventilador não chegava tão longe e a que vinha do
quarto estava encoberta pelas cortinas.
Ele ficou onde estava e lhe ofereceu a taça de vinho. Para pegá-la, Claire
teria de chegar mais perto. A moça o fez, porém, vagarosamente, afastando-se
da grade.
O vestido simples, em amarelo-claro, combinava perfeitamente com os
cabelos louros. O tecido fino acarinhava os seios e os quadris.
Ela pegou a taça de vinho, levou aos lábios e deu um gole, sem tirar os
olhos dele.
Minutos antes, Claire parecia incerta. Agora ela não estava nada hesitante.
Era só desafio.
Randy levou a própria taça aos lábios, encarando a vizinha enquanto
bebia. Depois, ignorando as regras básicas que a mulher havia imposto, fez a
pergunta que mais queria vê-la responder.
— Por que eu?
— Posso ser honesta? Ou quer que eu seja legal?
Olhou Claire por um longo período, depois riu. Porém, foi o som que Randy
deixou escapar, um suspiro de satisfação, que fisgou e apertou o coração dela.
Sob uma perspectiva emocional, aquele encontro não seguia o rumo que
Claire pretendia. Culpa da risada dele. Culpa dela pela suscetibilidade.
— Isso significa que a honestidade funciona com você? — perguntou
Claire.

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— Eu não aceitaria de nenhuma outra forma — ele respondeu, erguendo a
taça para um brinde.
Ela sentou na cadeira mais próxima, fingindo relaxar ao cruzar as pernas,
balançando o pé.
— Acho você bonito.
— Bem, isso é bem honesto — respondeu o vizinho, sentando na outra
poltrona, recostando-se, esticando as pernas e cruzando os tornozelos.
— Honesta demais? — disse ela, passando o dedo indicador na borda do
copo. — Prefere que eu seja sutil? Que o aborde em um bar? Ou lhe ofereça um
café no Eros? Poderíamos flertar e conversar amenidades. Você poderia pensar
sobre minhas intenções. Posso fingir que estou pensando em deixá-lo me levar
para casa.
Ele colocou a taça de vinho sobre a mesa, enquanto conversavam, e
depois segurou a base com apenas dois dedos. Claire observou a penugem
escura salpicada sobre o punho e o contorno da mão. Pensou no quanto estava
próximo de estilhaçar o cristal; ele estava totalmente rígido, o corpo imóvel.
— Tudo isso parece muita perda de tempo — ele falou. — Eu concordo.
Era uma brincadeira de gato e rato, um jogo que teria dois vencedores, se
realizado com perfeição. Não haveria arrependimentos nem mágoa.
A próxima jogada era dele.
— Então, Claire, para onde vamos agora?
É claro que ele sabia seu nome. Não parecia o tipo de homem que
desprezasse detalhes, principalmente os que lhe traziam vantagem.
— Já que não tive o prazer...
— Randy — ele se apresentou.
Ela esperava um nome mais aristocrático. Randy era tão americano!
— Você não respondeu à minha pergunta — lembrou o vizinho.
— Estou quase certa de que as regras iniciais deixaram claro que eu não
responderia a nada.
O homem pôs o copo de volta à mesa e lentamente ergueu o olhar até ela.
— Então, a primeira foi uma exceção? Só estava exercendo seu poder
feminino?
— Talvez sim...
— Bom, então vamos deixar de joguinhos agora. Venha até aqui e me
beije.
Ela descruzou as pernas e pousou o copo na borda da sacada, deixando o
sutiã à mostra. Depois, levantou e esticou o braço, tocando Randy.

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O vizinho se recusou ao contato simples, envolvendo o pulso dela no
círculo de seus dedos e polegar, trazendo-a para o espaço entre suas pernas e
a puxando para baixo.
Claire se apoiou levemente sobre sua coxa, mas também não era nada
disso que ele queria. Não. O homem a puxou para mais perto, enlaçando-a.
Com a mão que estava livre, acariciou o rosto, o pescoço e as curvas dos seios
por baixo do tecido de algodão.
A respiração acelerou e os mamilos se enrijeceram. E, embaixo das suas
coxas, ela o sentiu reagir, em uma ereção grossa e rígida.
— Você sabia que tem olhos lindos?
— São lentes de contato — respondeu a moça.
— Não a cor... É o brilho. Seus olhos são... vivos.
— Vivos... Humm. Acho que essa é a melhor cantada que já ouvi.
Ela não pôde deixar de imaginar um monte de loucuras.
— Achei que tivéssemos pulado a fase da cantada — respirou ele.
Randy estava certo. Tinham mesmo. Haviam pulado várias fases. Fases
que ela sempre achara banais.
— Pulamos mesmo. Não sou muito boa com elogios.
— Em aceitá-los ou em acreditar neles?
Oh, Deus! O que ela estava fazendo, ao contar detalhes pessoais?
Ela queria anonimato. Dois corpos fazendo o que dois corpos fazem, nada
além desse prazer.
Puxou-lhe a boca até a sua.
Um gemido veio lá do fundo. Ela o sentia nas coxas, onde ela estava
encostada. Sentia os braços dele, que a envolviam.
Claire também sentia-o de encontro a sua boca, a língua tentando entrar.
Randy tinha o gosto do vinho que haviam bebido.
Ele tomou-lhe a boca por completo, mordiscou, sugou, para brincar. A
moça também brincou com o vizinho, passando os dedos por sua orelha e pelo
pescoço. O ventilador não fazia nada para aliviar o calor que aumentava entre
eles.
Randy se remexeu embaixo dela, encaixando a ereção, escorregando a
mão entre os dois, cobrindo-lhe o seio. O gemido de Claire preencheu Sua boca
e ele a beijou mais forte, acariciando seu mamilo com o polegar.
O corpo dela estava em brasa. A pele ardia. A respiração procurava abrir
caminho pela garganta. E isso foi só um beijo. Ficar nua com aquele homem a
mataria.

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Ela começou a se afastar para dizer aquilo, para perguntar do que acharia
de desistir de tudo, mas o homem foi mais rápido.
— Eu gostaria de outro drinque — disse ele.
— Eu também — Claire começou a afastar e Randy a segurou.
— E estou falando sério quanto às novas regras. A essa altura, ela estava
curiosa o bastante para lançar as convicções ao vento.
— O que tem em mente?
— Antes de ir embora, farei uma pergunta — os olhos dele brilhavam
travessos. — Quando eu vier amanhã à noite, você responderá.
Amanhã à noite. Interessante que eleja estivesse pensando à frente. Mais
interessante ainda era o fato de ela estar caindo no papo.
— Uma garantia?
— Como preferir chamar...
— Acho justo.
— Você acredita que tudo é justo no amor e na guerra?
— Principalmente na guerra — Claire se levantou do colo dele, depois
esperou que Randy se levantasse também. — Fechado?
— Fechado.
Agora só podia torcer para não se arrepender do que estava prestes a
fazer.
— Então, o que quer fazer agora?

Randy não podia acreditar que fora embora sem levá-la para a cama. Não
queria compromisso. No entanto, enxergava os benefícios de uma relação
exclusiva e íntima.
Olhando para a porta aberta de sua geladeira, ele pensou que ter por
perto uma mulher como Claire talvez fizesse a vida transcorrer mais sua-
vemente. Não teria que correr atrás de garotas e encaixar encontros em sua
ocupada rotina.
Claro que poderia freqüentar sozinho as reuniões beneficentes da
fundação, sempre que quisesse. Mas estar de braço dado com uma linda
mulher garantiria mais tempo focado no propósito da noite e menos esforço na
defensiva de abordagens indesejadas.
Se isso soasse presunçoso, que fosse, pensou Randy, fechando a porta da
geladeira, já que o que precisava para saciar o apetite não estava ali dentro,
mas na porta ao lado. E se quisesse algum alívio quanto ao que Claire o
deixara sentindo, ele mesmo teria de providenciar.

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Ele subiu correndo as escadas para o loft tirando a camiseta no caminho,
tirou os sapatos de couro e as calças caqui ao entrar no banheiro. Era tarde.
Precisava dormir. O amanhã seria um longo dia fazendo cálculos.
Tirou a cueca samba-canção, entrou no chuveiro e ligou a água, pegando o
sabonete. Porém, por alguma estranha razão, em vez do pensamento ir na
direção de Claire, ele se viu pensando nos tempos de colégio, em Austin, no
Texas.
Tocava trompete na banda, junto com os quatro melhores amigos, e
nenhum deles fazia idéia de onde ele vinha. A única garota do grupo, Heide
Malone, era também a única que poderia ser condenada.
Já a sua situação, antes da ajuda de Schneider...
Mesmo agora, no banheiro bem decorado Randy tinha dificuldades em
acreditar que já vivera nas ruas.
Que roubava em lojas para se vestir.
Que revirava as lixeiras de restaurantes para comer.
Havia mendigado e poderia ter morrido com um tiro, uma navalha ou um
punho hostil.
Deixou de lado o passado e voltou ao presente, para o vapor do chuveiro
que aliviava o estresse dos músculos e ossos. Agora fazia questão de que não
lhe faltasse nada. Roupas, comida, um teto, o carro na garagem.
Ele não precisava do dinheiro que seu tio Luther lhe pagava para cuidar
das finanças da fundação que administrava bolsas estudantis. Aceitava porque
a vida lhe ensinara a fazê-lo.
Ensinara-o a se deleitar quando quisesse, já que podia agora pagar por
isso.
Deixou as lembranças de lado, sacudiu a água dos cabelos e do corpo. E
pensou na noite que passara na porta ao lado, com Claire em seu colo.
Imaginou os olhos dela; quando disse que eram vivos estava sendo
honesto. Não pensava em outra palavra para descrever a profundidade do que
vira. A moça sabia perfeitamente o que ele esperava quando respondeu ao
cartão que colocara embaixo de sua porta.
O fato de ter voltado para casa depois de pouco além de beijá-la, após
tocá-la o suficiente para querer vê-la nua, surpreendera a ambos, assim como
o consentimento em responderem às perguntas um do outro.
Randy a perguntou se o primeiro homem com quem fizera amor partira
seu coração. O lampejo de dor nos olhos dela fora o suficiente como resposta.
Mas agora ele mal podia esperar para ver se

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Claire seria tão honesta quanto seus olhos. O que a vizinha lhe dissesse
amanhã teria grande significado nos seus planos de sedução, ao persuadi-la a
dar-lhe mais do que apenas diversão na cama.
Entretanto, era a pergunta dela que o infernizava, tornando impossível
ficar calmo. Claire queria saber o que estava escondido por trás de seu carro
esporte caríssimo e dos ternos de marca. Como contaria a ela, se isso seria
admitir uma verdade que ele passara anos fingindo não existir?

CAPÍTULO TRÊS

Se não fosse pelo medo de um ataque do coração, Claire teria passado o


dia seguinte trabalhando em casa.
Tinha um pequeno escritório no segundo andar de um galpão restaurado
na Jackson Square, onde recebia clientes, exceto aqueles que preferiam que
ela fosse até eles. No fim, ela sempre ia. Mas havia algo quanto a ter a
primeira reunião em seu próprio território que lhe dava uma perspectiva
diferente do que estar no local do cliente. Algo parecido com o fato de receber
Randy em sua casa. O terreno era dela, portanto, não permitiria que aquele
homem assumisse o controle.
Mas, bem, agora tinha de voltar ao trabalho. Agendara um encontro com a
Fundação Flatbacker para quinta-feira, no escritório deles. Por isso, passaria a
manhã pesquisando sobre a empresa na internet.
Os três sócios fundadores tinham por volta de 70 anos e haviam aberto a
instituição cinqüenta anos antes. Impressionava a lista de beneficiários de suas
generosas concessões e bolsas de estudo.
O fato de encontrar uma instituição conservadora localizada em um dos
novos prédios do centro de Nova Orleans a surpreendeu. Ela esperava um local
com mais peso histórico e ficou curiosa pela escolha da localização.
A única coisa que lhe fora dita pelo assistente executivo que agendou a
reunião foi que o novo diretor financeiro achava que a imagem da empresa não
refletia o propósito de sua missão. Ela estava lendo exatamente isso quando o
telefone tocou.
Nem desviou o olhar para o identificador de chamada. Apenas atendeu.
— Primeiras Impressões, bom-dia.
— Olhei minha correspondência ontem e não tinha nada seu. Tinha um
cartão da Windy e um de Alex. O que houve?
A consultora deu uma risada com a indignação na voz de Tess Autrey.
— Sou uma amiga tão ruim assim?

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— Eu vou te contar! Da próxima vez que você resolver se mandar para
outro estado, me diga para que eu possa lembrá-la do estrago que fará
naqueles que deixar para trás.
Tess. Sempre a psicóloga.
— E uma porcaria de cartão de Natal, Autrey. Deixe isso para lá.
— Ah, e a insensibilidade continua. Parece que alguém acordou com o pé
esquerdo, hein?
Claire tinha acordado sozinha, esse era o problema.
— Estou de mau humor. Está fazendo algo em torno de mil graus aqui e o
meu ar-condicionado não está funcionando. Você vai ter de encontrar o espírito
natalino em outra freguesia.
— Você é uma rabugenta, isso sim.
— Acredite ou não, estou despachando cartões de Natal hoje — ela
escrevera para as amigas na noite anterior, depois que Randy a deixou indócil,
sem conseguir dormir. — Estão bem aqui, na minha escrivaninha, está vendo?
— Não tenho telefone com visor do lado de cá, desculpe. Agüenta aí — ao
fundo, Tess confirmou uma consulta com a secretária, antes de voltar ao
telefone. — Só estou dando um alô, entre um paciente e outro. Alguma
novidade por aí?
Claire ainda tinha o pensamento no sexy vizinho.
— Quer dizer se há algo novo nos últimos dois dias, depois que falamos?
— É, bem, estamos em época de festas e você não está nem aí para me
socorrer. Sabe da relação que tenho com minha mãe.
A dra. Georgina Autrey era uma renomada feminista, e mãe e filha nunca
concordavam em nada. Isso significava que Tess nunca tinha um Natal
tradicional, exceto quando passava o feriado com Claire.
Só que, naquele ano, a consultora não havia colocado os enfeites, nem
cozinhado, nem sequer conseguira mandar seus cartões. Bem, nenhum cartão
além do de Randy...
— Alegre-se por eu não estar aí. Pelo menos com a distância entre nós
você não pode ver a displicente que me tornei esse ano.
— Posso sim. Tudo que tenho a fazer é olhar minha caixa de correio.
— Está chegando — ela apontou para a pilha de correspondência na mesa.
— Juro, está chegando.
— Então, qual é o nome dele? Claire quase engasgou.
— Nome de quem? Tess, nos falamos há dois dias!
— No dia em que todas nós compramos os cartões para enviar. Você não
mandou. Só pode ser um homem.

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— Não foi. Foi trabalho.
— Mas tem um homem.
— Mais ou menos.
— O que quer dizer?
— É só meu vizinho.
— Quem? A obra prima de Michelangelo? Ele era lindo mesmo, tinha que
reconhecer. A moça se recostou na cadeira.
— O nome dele é Randy. Me perguntou se o primeiro cara com quem
dormi partiu meu coração.
Tess respirou fundo.
— Ui! E o que disse a ele?
— Nada, ainda. Tenho que responder à pergunta essa noite.
— Parece bem excitante... — Tess nem tentou esconder o sarcasmo. — E
terrivelmente romântico!
Claire riu. Não era nada disso, mas explicar o acordo que ela e Randy
haviam feito, os termos do envolvimento, levaria mais tempo do que Tess
dispunha.
Como se as duas estivessem na mesma sintonia, Tess tratou de se
despedir.
— Tenho que ir, querida. Só queria ter certeza de que você não passaria as
festas comendo rabanadas sozinha.
Ah, mas que ótimo! Agora Claire estava ficando toda sentimental.
— Você é uma boa amiga. Independentemente de qualquer coisa ruim que
eu fale a seu respeito.
— Eu sei — disse Tess, e desligou, o que fez com que Claire pensasse nas
amigas que deixara em Houston, ao tomar a decisão de se mudar.
Passou o resto do dia concluindo pequenas tarefas como pôde, limpando a
mesa e abrindo espaço para analisar o material no qual vinha trabalhando,
como parte do projeto Flatbacker, caso assinassem.
Quando terminou de retornar as ligações e atualizar os balanços
financeiros, o arquivo e responder os e-mails, já eram quase sete horas.
Nem conseguiu tirar um intervalo para o almoço. Virou-se com o pacote de
biscoitos que tinha no fundo da bolsa e uma pêra que viera em um cesto,
mimo de um ex-cliente.
Era hora de ir para casa e comer algo que não exigisse o uso do fogão,
para que pudesse recuperar o sono perdido da noite anterior.
Credo, era jovem demais para estar tão cansada assim.

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E foi por isso que, ao entrar pela porta da frente, vinte minutos depois,
com o cabelo suado, tinha pensamentos com Randy que eram impossíveis de
afastar. Teve certeza de estar sonhando, então.
A casa estava bem arejada. E exalava um cheiro maravilhoso, como se
tivesse entrado em um restaurante italiano para jantar.
Como só havia uma explicação lógica, ela nem se preocupou com o súbito
nervoso. Tudo que fez foi tirar os sapatos, jogar a bolsa, a pasta, a meia-calça e
o blazer no sofá, e seguir o nariz. O cheiro de manteiga, alho e queijo
parmesão a deixaram babando. Porém, o derretimento para valer veio quando
Claire entrou na cozinha e deu uma boa olhada no cozinheiro. Nossa!
Que tola babona ela era. Essa foi a única palavra que viera à cabeça.
Randy estava diante da pia, escorrendo macarrão gravatinha, com o vapor
subindo feito uma nuvem diabólica a envolver seu rosto.
Vestia calça social azul-marinho e camisa arregaçada até os cotovelos. O
colarinho estava desabotoado.
Quando a fumaça se dissipou, ele a notou e sorriu.
— Estou indo bem? Não tínhamos ingredientes para fazer marinado.
— Quanta sorte uma garota pode ter? — ela debochou, recostando-se na
porta da cozinha.
— Humpf! — resmungou ele, despejando o macarrão na tigela. — Espere
até que eu a leve para a cama.
Sério? Morreria esperando! Porém, dizer-lhe isso não seria a maneira de
mantê-lo na linha. Estava muito seguro de si.
— Imagino que preciso agradecer pelo jantar? — Claire continuava a
ironizar.
Ele voltou ao fogão e mexeu o macarrão.
— Não precisa...
A moça se afastou da porta, entrando na cozinha. Abriu a geladeira para
pegar ingredientes e fazer uma salada. O mínimo que podia fazer para ajudar.
Encontrou uma travessa grande cheia de verduras já lavadas.
— Não há nada em que você tenha deixado de pensar? — perguntou ela,
fechando a porta da geladeira.
Randy lançou um olhar que deixou claro que sempre pensava em tudo.
O bom senso a fez sair do local. Ela sentou em uma cadeira, na sala de
jantar anexa. Foi então que percebeu: o ar-condicionado fora consertado!
Ele obviamente abrira a garrafa de vinho sobre a mesa, antes de sua
chegada, e antes que pudesse pegá-la já estava servindo sua taça.

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Feito isso, o chef trouxe a travessa de salada temperada com vinagrete e
outra travessa com o macarrão e o molho. Depois, gesticulou para que Claire
levantasse.
Ela obedeceu, segurando a taça de vinho. Randy se sentou e deu uns
tapinhas no próprio colo.
— Vamos comer.
Ai, meu Deus! Aquela idéia de estar próximo não instigava sua fome por
comida. Ela duvidada ser capaz de comer. Por outro lado, estava faminta.
Porém, Claire acabou não tendo problemas em suspender a saia até as coxas
para sentar no meio das dele. Randy estava rijo sob ela, quando se virou para
pegar seu copo. Ela passou para ele, antes de pegar a salada e o único garfo
que ele havia pego.
Equilibrada com o traseiro nos joelhos dele, ela espetou a salada até
encher o garfo e ofereceu a primeira garfada. Os olhos dele não deixaram os
dela enquanto mastigava.
Claire ficou com o garfo sobre a travessa, observando a forma como ele
movimentava a boca, lembrando da textura, da pressão de seus lábios,
revivendo o beijo, ficando molhada, pensando se ele estaria notando.
A moça não sabia o que fazer. Mas que tolice! Deveria dar-lhe a comida.
Ou comer, pensou, baixando o olhar à travessa, respirando fundo.
E quando Randy pousou a taça sobre a mesa e começou a desabotoar-lhe
a blusa, ela parou completamente de respirar. Já não conseguia mastigar nem
engolir e suas mãos tremiam, segurando o garfo e a travessa.
Ele tinha os dedos habilidosos, não se atrapalha ao passar os pequenos
botões pelos buraquinhos. Viu a combinação que ela vestia, depois pegou a
travessa e o garfo de suas mãos para puxar suas mangas.
Á blusa caiu no chão. Randy prosseguiu e tirou a combinação, deixando-a
só de sutiã. Depois disso, pegou a travessa de macarrão.
— Minha vez — disse ele, espetando um pouco e oferecendo a ela.
— Ah, não — respondeu Claire, antes de comer. — É a minha.
De boca cheia, a moça afrouxou-lhe a gravata, puxando a ponta da peça
de seda e deslizando-a pelas mãos, desviando o pensamento para a diversão
que poderia ter.
Randy lhe deu outra garfada e ela continuou pensando em amarrar seus
punhos na cabeceira da cama. Ou, melhor ainda, nos braços da
espreguiçadeira da sala de estar, prendendo os tornozelos aos pés da cadeira,
os joelhos dele esparramados na poltrona, e os dela abertos sentada sobre
ele...
Ele ergueu a sobrancelha.

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— Não vou poder te dar comida, sabe?
— Na verdade, eu estou satisfeita — Claire conseguiu falar, um milagre, já
que quase não conseguia nem respirar, tamanha a ansiedade.
— Com apenas algumas garfadas de salada e macarrão? — Randy deu
outra garfada, enquanto ela puxou a barra de sua camisa da cintura e abriu a
frente. — A julgar por ontem a noite, achei que você tivesse muito apetite.
— Eu tenho — disse a mulher, aceitando o garfo cheio de macarrão
oferecido por ele.
— Pela comida ou por mim? — perguntou o vizinho.
— Os dois — ela massageou seu peito, deslizou os dedos até os ombros e
apertou. — Deixe-me adivinhar. Faz abdominal em casa? Musculação?
— Na verdade, não. Sou atleta de sofá.
Sua admissão a fez rir.
— Atleta de sofá?
— ESPN, 24 horas, sete dias por semana — brincou ele.
— Percebi... Se bem que meu primeiro palpite seria o canal Bloomberg.
— Isso fica ligado o dia todo no escritório.
Ela riu novamente, balançou a cabeça, gostando das respostas rápidas,
muito mais do que devia.
— Homens são tão previsíveis!
— E as mulheres, não são? Claire franziu a testa.
— De que forma fui previsível? Randy mexeu o garfo no macarrão.
— Seu convite prometia muita ação e suor, mas ainda não vi isso.
— E agora nem vai ver — provocou ela. — Você consertou o ar-
condicionado.
Ele a encarou.
— Posso quebrá-lo de novo.
— Gastando dinheiro como se não fosse nada?
— Não — respondeu, ficando sério. — Como se fosse tudo.
A moça pensou nas roupas e no carro dele, no seu sobrado, em dinheiro.
Depois pensou no vinho da noite anterior, no jantar daquela noite. Nada
disso foi tão alarmante quanto o fato de ele providenciar o conserto de seu ar-
condicionado. Foi gritante,
Havia algo que ela não havia pescado. Algo que tinha certeza que
precisava saber.

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— Você precisa me dar a nota do conserto do ar para que eu possa
reembolsá-lo.
Ele apenas se inclinou à frente e colocou a travessa de comida na mesa.
Passou o braço ao redor do pescoço dela e tomou sua boca.
O beijo veio do nada e ela foi lenta na reação. A mente estava na nota de
conserto; Claire precisava de tempo para recapitular.
Mas quando os dedos de Randy foram até o meio de suas costas e
soltaram o fecho do sutiã, a questão já não era mais essa, e sim acompanhar.
Sua boca era voraz e seus dedos tão hábeis quanto a língua. O sutiã caiu
dos seios e as alças escorregaram pelos braços. Randy a puxou para mais
perto, apertando-a de encontro ao peito.
Ela o abraçou e o deixou conduzir. Oh, Randy dava uma sensação tão boa!
A forma como a segurava, beijava, o jeito como passava a mão no meio das
costas...
Quando ele afastou a boca, Claire se arrepiou, tocada pela intensidade da
sensação dos lábios dele em seu pescoço, seus dentes mordiscando os lóbulos
das orelhas.
Ele desceu mais e colocou um dos mamilos na boca. O homem chupou o
bico, deleitando-se.
Claire fechou os olhos, sumindo daquela esfera. Algo que homem algum a
fizera sentir. E foi uma realização um tanto inesperada.
Muita coisa sobre Randy a surpreendia. A forma como ele assumia o
controle. O modo como nunca pedia permissão. O jeito como haviam
transformado o encontro em uma fantasia de entrega.
Oh, ela precisava tanto daquilo! Alguém forte e habilidoso o bastante, um
homem confiante e atencioso que a fizesse se entregar com emoção, sem
medo.
E Claire se deixou levar, puxando a saia até as coxas, deixando o sutiã cair
no chão, pousando os cotovelos na mesa e debruçando-se para trás.
Randy continuou a beijar seus seios, a barriga, até finalmente cruzar com
seu olhar e ver o brilho da excitação.
Ele deu um sorriso malicioso e a pegou pela cintura.
— Na mesa! — foi tudo que Randy disse antes de erguê-la para sentá-la na
beirada. O homem passou os joelhos dela sobre os braços, abriu bem as pernas
e pegou no meio das coxas para puxar a calcinha.
Randy a acariciou ali e ela se contorceu, contraindo os dedos dos pés. Ele
colocou as duas mãos embaixo da saia, os polegares passando pela parte nua
nas laterais de seu sexo. Claire fechou os olhos e gemeu.
— É bom?

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— Muito... — era por isso o que ela adorava por ser fêmea, essa
expectativa, esse acúmulo, a explosão da sensação por vir.
— E assim? — perguntou ele, debruçando-se à frente, cobrindo-a com a
boca.
Ele passou a língua em todas as suas dobras e a mulher gemia, segurando
nas beiradas da mesa, rezando para não desmoronar no chão junto com o
móvel.
Não importava se era a emoção da situação — de fazer sexo com um
homem que não conhecia, de quem não podia fugir, por morar ao lado — ou
sua habilidade e técnica.
Nunca na vida ela se sentiu como neste momento. O fervor a inquietava,
fazia-a tremer. Porém, havia muito mais que sexo ali. Era a verdade do medo.
Era tudo o que Claire podia fazer para lidar com a situação, com os dedos
de Randy fazendo aquilo, com o lugar onde ele tinha a língua, a forma como
brincava, saboreava e a beijava.
Seu gemido se dissipou com o toque do celular dentro da bolsa. Randy
recuou e ela quis bater nele por deixá-la assim.
— Não vou atender — disse Claire, já sem ar. Ele riu.
— Espero que não.
— Então, ignore a distração e volte ao trabalho — ordenou Claire.
Randy parou de se ajeitar e pegou suas mãos, puxando-a até a beirada da
mesa. O sangue correndo rápido nas veias a deixava tonta; levou alguns
segundos para que ela abrisse os olhos.
Ao fazer isso, percebeu que ele estava ereto e de camisinha, esperando
que ela sentasse em seu colo. Assim, Claire desceu da mesa e enlaçou-o com
as coxas.
Depois, com os olhos nos dele, pôs a mão no meio das pernas e o guiou
exatamente até onde o queria, baixando o corpo pouco a pouco, deixando que
ele entrasse devagar.
Ah, mas era difícil não desviar o olhar, permanecer com tanta intimidade,
quando havia muito mais envolvimento que de seus corpos.
Havia uma ligação mais profunda, a mesma que sentira na noite anterior,
na varanda. Ela sabia disso, mesmo ao querer deixar de lado e desfrutar do
deleite físico.
Agarrou-se aos ombros dele. Ela também se apoiou nos joelhos para se
movimentar, apertando os quadris, em um movimento lento, apertando as
mãos nos músculos de Randy, que se contraíram à medida que ele a segurou
com mais força pela cintura.

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O homem inclinou a cabeça para trás, de olhos fechados. Ele a conduziu
exatamente como a queria, erguendo-a, enquanto Claire deslizava para baixo.
Em êxtase, ela contraiu a boca; o pulso latejando, o suor que se formava,
escorrendo.
A visão de Randy se esforçando para manter o controle a levou a perder o
seu. Ela o agarrou com mais força, depois se soltou, tremendo, morrendo, se
desmanchando.
Ele a seguiu, em um impulso que derrubou a travessa de salada no chão.
Quando Randy gemeu, Claire sentiu toda a vibração onde seus corpos estavam
unidos. E ao terminar, o tremor que o percorreu a fez afrouxar as rédeas do
coração dela.

CAPÍTULO QUATRO

— E então, ele partiu ou não o seu coração?


Randy estava deitado em cima de Claire, na cama, apoiando o peso nos
cotovelos. Ele passou os dedos nas mechas dos cabelos da moça, que estavam
espalhados no travesseiro.
— Por que você está falando nisso outra vez? Não parece a hora de falar
de outro homem — a voz dela era ofegante, os dedos de Claire apertavam suas
costas é puxavam seu corpo mais para dentro do dela.
Ele cerrou os dentes, acomodou-se mais fundo no meio das pernas da
mulher e deixou que seu pensamento flutuasse. A observação dela era
pertinente. Por que insistir naquilo, em vez de relaxar e desfrutar de seu corpo?
O motivo era simples: os dois estavam totalmente envolvidos.
Não estaria ali se ela não tivesse concordado em dar e receber. E ele
precisava fazer o mesmo para mantê-la, como a todos os seus bens.
— Só é preciso um sim ou um não.
— Claro. Se eu fosse homem.
— Realmente... Isso vindo da mesma mulher que não queria laços...
Claire olhou para Randy de modo espantado, o acusando ter perdido a
cabeça.
— Mas isso não significa não ter havido relacionamentos em meu passado.
— Mas, desde quando você deixou de tê-los?
— Estou aqui, não estou?
Sim, ela estava. Mas isso não respondia a pergunta. Ele espalmou a mão
sobre sua barriga.
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— Está e concordou em responder minha pergunta.
Ela bufou e puxou o lençol para cobrir os seios.
— E ainda dizem que as mulheres usam o sexo como estratégia.
— É isso que estou fazendo?
— Como você chama isso? Sobrevivência. Conseguir o que ele" queria. A
mesma coisa que vinha fazendo por mais da metade da vida.
— Estou esperando.
— Pelo quê? — Claire mexeu as pernas, enrascou os pés aos dele.
— Já lhe fiz um convite.
— Ah... Humm...
Após aquele lapso, deixando-lhe a par de sua fraqueza e do quanto ele
estava próximo de perder o controle, Randy ficou em silêncio e imóvel.
— Então, está bem — disse Claire, suspirando. — O nome dele era Wayne.
Estávamos no Ensino Médio. Ele era muita areia para meu caminhão. Mesmo
assim, eu me apaixonei.
Randy sorriu. Adorou o fato de ela achar que lhe devia explicações mais
detalhadas.
— Tudo que eu queria era sim ou não. Claire balançou a cabeça no
travesseiro.
— Não posso resumir esse relacionamento a uma palavra.
Então, ela ainda não superara.
— Por que não?
— Porque foi um marco, me ensinou muita coisa.
— Como o quê?
A moça riu suavemente.
— Não acredito que você queira conversar. Homens não conversam.
— Posso parar.
— Ah, não. Por favor, não pare — ela riu de novo. Foi um som rouco, vindo
da garganta, que revirou suas vísceras. — Eu pensei que a essa altura você já
tivesse recuperado o fôlego.
Ele não tinha certeza se ia recuperar. Ainda estava duro feito pedra. No
entanto, estava ali para algo além de sexo — fato que estava decidido a fazê-la
entender — mesmo que o sexo tivesse sido a intenção inicial do cartão
embaixo de sua porta.
Randy subiu a mão, cobriu e massageou seus seios.
— Temos a noite toda, Claire.
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— Não consigo me acostumar com você dizendo meu nome — falou ela. —
E como se eu o conhecesse, sem conhecer.
— Quer me conhecer?
Claire se agarrou aos pêlos do peito de Randy com uma das mãos e aos
pêlos da barriga com a outra.
— Se tivesse me perguntado ontem, acho que eu não teria dado a mesma
resposta.
— Isso é um sim?
— Sim — respondeu ela, meio nervosa.
— Está com medo que eu machuque seu coração?
— Se fizer isso, será minha própria culpa por não ter mantido o que estava
no convite, nada de compromissos ou perguntas.
Ele passou a mão em seu ombro, recostou-lhe e subiu em cima dela.
— Nós nem falamos de compromissos.
— Você está certo — concordou Claire, abrindo as pernas enquanto Randy
se acomodava ali no meio. — Não falamos. Deveríamos falar?
Ele aproveitou a umidade dela para deslizar para dentro, preenchendo-a.
— Tarde demais.

Claire realmente não conseguia se lembrar da última vez em que dormira


com um homem. Não da última vez que fizera sexo — isso estava bem claro —
mas a última vez em que fechara os olhos e adormecera nos braços de um
homem.
Naquela noite, ela não dormira muito, não mais que duas horas, imaginou,
depois de olhar o relógio quando ela e Randy subiram as escadas da casa.
Depois que caíram na cama, a moça perdeu a noção do tempo.
Porém, mesmo dormindo, não perdera a noção do que haviam discutido
sobre ela. Não podia condená-lo. Jamais teria respondido sem ser forçada.
Era sua hora de também dar um cutucão.
Randy estava deitado aconchegado atrás dela, com um braço sobre sua
cintura. Ela se virou de bruços e chegou mais perto, dando beijinhos em seu
pescoço.
Ele tinha um cheiro quente, de gente saída do banho; tinha um gosto vivo.
Dava a sensação de pertencer aos seus lençóis por mais de uma noite, e aquilo
a deixou balançada, pois era para ser algo sem compromisso.

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Por alguns segundos, Claire ficou imóvel, recuperando o ar que ele roubou,
sentindo a batida forte dos corações. Depois, apoiando-se sobre as mãos e
joelhos, ela engatinhou por cima dele e olhou para baixo.
— Minha vez.
— É minha convidada... — respondeu ele, com as mãos em seus quadris,
acomodando-a em cima. Seu pênis se encaixou entre as coxas dela.
— Eu não estava falando sobre sexo — rebateu a moça. — É hora de falar.
— Nós já conversamos, não?
— Eu falei. Respondi sua pergunta — ela se inclinou à frente e pôs as mãos
em seus ombros.
— Agora, você responde a minha.
— Está bem — Randy concordou, esticando a mão para brincar com as
pontas dos cabelos dela.
— Nada.
— Nada o quê?
— Você me perguntou o que eu estava escondendo por trás do meu carro
e meus ternos. Respondi nada.
Ela não acreditou nele. Conhecia bem disfarces. Afinal, esse era seu
negócio.
Também sabia tudo quanto a se esconder. Não falava sobre isso, mas
sabia.
— O carro não combina. Ele é uma resposta a uma crise de meia-idade,
não um meio de se locomover por aí.
Randy passou a outra mão sobre seus quadris e começou a enrijecer.
— Dá para o gasto.
— Ah, tá bom! — disse Claire, odiando que o sexo a estivesse distraindo.
— Você não acredita?
— Não.
— Tem certeza de que me conhece assim tão bem?
Por mais que parecesse estranho, sim.
— Você é muito metido, hein?
— Não preciso. Deixo que as roupas transpareçam isso por mim.
Ela resmungou.
— Que conversa mole!
— E isso faz com que eu seja o errado — disse Randy, pegando uma de
suas mãos e levando até seu pênis.
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— Eu não estou falando do seu equipamento.
Falo sobre você não responder minha pergunta. Respondi a sua.
— Eu lhe dei uma resposta.
— Foi algo muito vago — rebateu Claire, provocativa. — Eu contei sobre
Wayne.
— Conheci um Wayne quando eu era mais novo. Ele cuidava da
distribuição da fila da sopa, onde comi muitas vezes.
Claire gelou.
— Por que você tomava sopa em filas?
— Porque o casal que me adotou não apenas me levou para casa — o
rosto dele ficou pálido. — Eles fizeram questão que eu entendesse o lugar de
onde eu tinha vindo, e para onde eu voltaria, se não prestasse atenção.
— Prestar atenção em quê? — perguntou Claire, com a voz falhando. Meu
Deus, de onde ele teria vindo?
— Ao fato de que o dinheiro compra felicidade. Não. Ela não caía nessa.
— Você acredita nisso?
— Nunca fui tão feliz em minha vida.
— Mas não por causa do dinheiro.
— Claro. O dinheiro me compra os ternos e o carro esporte.
Ela recolheu as pernas e as cruzou, ao sentar ao seu lado.
— Então, sua felicidade depende do que possui?
Randy hesitou por um momento, colocando as mãos embaixo da cabeça.
— Não tanto por ter, mas pelo fato de não precisar ficar sem.
Não era difícil entender esse sentimento. Ter dinheiro tornava a vida bem
mais fácil. Mas dinheiro comprar felicidade?
Ela começou a pensar que viver sem dinheiro não era o fim do mundo.
Porém parou, porque não sabia nada sobre aquilo.
Nunca ficara sem uma refeição. Sua sobrevivência jamais fora ligada à
generosidade dos outros. A de Randy, obviamente, havia sido.
E ele respondera assegurando que jamais passaria fome novamente.
Claire esticou a mão e o acariciou pelo corpo todo.
— Qual é a coisa que você mais gostaria de comprar e ainda não tem?
— Para alguém que entrou no acordo insistindo em não haver perguntas,
você parece ter mudado bastante de idéia — retrucou ele, com a voz
embargada, a ereção aumentado enquanto a parceira o tocava.

26
Estava certo — e Claire merecia a culpa. Ela só queria uma conquista.
Como poderia saber que Randy seria tão intrigante? Ou que ia querer descobrir
todas as verdades que ele escondia?
Naquele instante, tudo que ela queria era deixar as perguntas de lado.
Parar de falar. Voltar ao motivo pelo qual estava ali.
— Por que não pensa nisso e me responde amanhã? — perguntou,
engatinhando sobre as pernas dele.
Randy abriu mais as pernas.
— Parece um plano e tanto.
Sorrindo, Claire segurou o pênis dele com uma das mãos e o colocou na
boca. O homem gemia de prazer.
Depois, demonstrando ter aproveitado o bastante, afastou-a e colocou
uma camisinha, louco para que ela subisse em cima dele. Nem precisou
esperar muito.
Ela abraçou-lhe com os quadris, pegou seu pênis e o colocou dentro de si.
Randy a preencheu totalmente, de forma perfeita, como se, por um acaso do
destino, Claire tivesse encontrado o homem com o corpo que mais encaixava
ao seu.
Segurando-a pelas coxas, observou-a começar a cavalgar pouco a pouco.
Ela mantinha um ritmo próprio: queria desfrutar da pressão que se formava, da
doce ânsia, quase insuportável, da sensação de Randy, para sempre.
Mesmo dizendo a si mesma para esperar, só foi preciso que ele deslizasse
os dedos de seus quadris até o ponto onde seu corpo recebia o dele.
Randy a acariciava, provocando, passando o dedo em sua umidade,
brincando com seu clitóris. Ela procurava se controlar.
Claire encontrou a liberdade da entrega e se rendeu, gritando ao gozar,
sentindo a explosão de Randy lá no fundo, dentro dela, em seguida.
Tudo aconteceu muito rápido, como uma erupção vulcânica. Foi tudo que
ela pedira, mas ao deitar ao lado de seu corpo grande e quente, embaixo dos
lençóis, ela achou que Papai Noel ainda não lhe dera tudo.

Ainda bem que Claire não embarcara no caso esperando um romance de


verdade. Randy partira ao acordar. Ela tomou banho e se vestiu para ir ao
escritório.
Se ao deixar o trabalho, na noite anterior, e!a soubesse que o ar-
condicionado estava funcionando, teria levado o laptop para trabalhar em
casa. Um dia vestindo moleton seria o céu.

27
No entanto, antes de seguir para o carro, Claire foi até o Eros. Depois da
noite anterior, precisava de uma boa dose de cafeína e açúcar, e ninguém
melhor nisso do que Chloe Matthews.
Na saída do condomínio Court du Chaud, Claire deu de cara — sem
surpresa — com Perry Brazille. Perry usava uma blusa laranja com uma saia de
tule até o tornozelo.
— Mas que piada cruel. Se eu quisesse tomar banho de sol nesse tempo
frio, moraria no inferno.
— Sem brincadeiras — disse Claire. — Espero que o café e os doces de
Chloe me lembrem que o Papai Noel está a caminho.
Perry encostou a mão no braço de Claire.
— Estou contigo, embora estivesse pensando em começar o dia com
chocolate.
Rindo, as duas entraram na cafeteria enfeitada com flores. Elas pegaram
uma mesa forrada com uma toalha vermelha natalina e fizeram o pedido.
— Como está Delia? — perguntou Claire, sabendo que Perry vinha
passando muitas noites com a tia.
Perry sacudiu os ombros.
— Ela não está comendo, mal dorme. Está definhando.
Delia Brazille era uma médium conhecida em Nova Orleans, cujos serviços
eram freqüentemente solicitados pela polícia local. Se por um lado Perry
mantinha os segredos da tia, nem sempre era bem-sucedida em esconder sua
preocupação pelo fardo vindo do dom de Delia.
A garçonete trouxe o pedido e Claire pôs chantilly no café.
— Imaginei que as coisas estivessem complicadas, já que você não tem
estado em casa ultimamente.
Perry permaneceu quieta, bebendo café, antes de abrir um sorriso.
— Titia tem um pretendente. Um detetive. Mas é claro que está sendo
tinhosa com as investidas do cidadão.
— Por quê?
— Quem sabe? Acho que ela tem medo dele. Não de uma forma ruim. Só
medo... de homem.
— Bom, isso é algo com que me identifico inteiramente — Claire fatiou a
tortinha de maçã. — Você já passou pela situação de um homem querer
comprá-la?
— Me comprar? Como? Para dormir com ele? — perguntou Perry.
Não era isso que Claire estava pensando.
— Mais para estar com ele.
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— Sem sexo???
— Não — Claire balançou a cabeça. — Tem sexo, mas também há
conversa, culinária, namoro e conserto de ar-condicionado.
— Para mim, parece a felicidade do lar — ponderou Perry, mordendo uma
fatia de bolo de chocolate.
Caminhava exatamente para isso, quando deveria ser apenas uma
conquista durante as festas. Claire suspirou.
— Só pode ser o calor. Nem mandei meus cartões de Natal. Não parei para
nada. E achei que seria legal passar o fim do ano com um homem...
— Então, você comprou um?
Ela teria feito isso? Comprado Randy com a promessa de sexo?
— Na verdade, não. Coloquei-o em minha lista e Papai Noel o trouxe mais
cedo.
— E agora você acha que pode entrar o Ano-Novo tocando os sinos
nupciais?
— Ah, não, pelo amor de Deus! — passar de um mero caso para o
casamento exigiria muito mais. — Apenas estou sendo forçada a aceitar que
não sou de ter casinhos despretensiosos.
— Bem-vinda ao clube, amiga.
— Como é que os homens conseguem?
— Gosto de fingir que não conseguem. Que agonizam e sofrem como nós
— Perry sorriu ao dar a última mordida no doce. — Mas eles guardam tudo, e
aquilo se torna nocivo, mortal.
— Hmm. Fiquei imaginando o que causava toda aquela gritaria diante da
TV, durante os jogos.
— Aquilo. E tem ainda o cheiro. Claire quase cuspiu o café.
— Certamente há uma vantagem em não ter que se dividir um banheiro.
— Esteja certa.

CAPÍTULO CINCO

Randy olhava pela janela do escritório no quarto andar, vendo as


palmeiras que se perfilavam na calçada embaixo.
O portfolio de marketing estava sobre a mesa, para a empresa de
comunicação que cuidaria da imagem da Fundação Flatbacker.
Primeiras impressões. Proprietária: Claire Braden.
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O discurso que ele dera aos sócios sobre o escritório precisar de uma
reformulação e a fundação de uma imagem corporativa — sem mencionar um
ambiente de trabalho — e manter a missão era um monte de baboseiras.
Ele precisava estar com Claire.
Randy a quisera desde o instante em que a vira na varanda. Estava
decidido a ir com calma, a descobrir o que pudesse sobre ela, antes de dar um
passo. Era a mesma estratégia que usava há anos, quando estava em busca de
um negócio em potencial.
Porém, ele a conhecera, dormira com ela, acabou sabendo mais do que
esperava, e o que fora um plano curto e grosso, fizera-o pensar na causa de
seu sucesso.
Até se mudar para Nova Orleans, em setembro, a pedido de seu tio, ele
morou no Texas, de onde tinha mais lembranças até os 12 anos.
Lembranças de uma vida em um orfanato e meses passados na rua, antes
que Charles e Elizabeth Schneider cruzassem seu caminho de autodestruição e
o salvassem. Os pais adotivos deram uma criação justa, da qual o sentimento
não fazia parte. Em vez disso, ensinaram-lhe o valor da lealdade, a
recompensa galgada com respeito.
Ele chegara aos Schneider com a roupa do corpo, roupas que literalmente
viraram pó e o deixaram com nada além de seu nome, nada além de 12 anos
que queria esquecer.
Sons de sirene e desespero. Visões de luzes piscando e agonia. Cheiros
que vinham em três fragrâncias: azedo, estragado ou mofado.
Randy cerrou os dentes com a emoção brotando em seu peito. Aquelas
lembranças nenhum homem ou mulher poderia remover.
Ou pelo menos assim pensava, até conhecer Claire.
A mulher era desenvolta, confiante, sabia o que queria e ia atrás daquilo.
E parecia querê-lo. Era como se ela fosse uma parte de sua vida que estivesse
faltando.
Claire o perguntara sobre o que mais queria e nunca tivera a chance de
comprar. A resposta era simples: ela.

Não teve notícias de Randy durante todo o dia. Não lhe dissera onde
trabalhava, nem dera seu celular ou o telefone do escritório. Imaginou que,
com todos os seus recursos, não teria qualquer dificuldade de encontrá-la, se
assim quisesse.
Obviamente, não era o caso.
Isso deveria ser um alívio. Se tivesse mudado de idéia quanto a
aprofundar a relação, ela não teria de responder à pergunta que Randy fizera

30
na noite anterior, antes de ir embora. É claro que também não teria qualquer
resposta dele.
Porém, de alguma forma, Claire não conseguia associar suas aquisições
materiais com o fato de ter de escolher entre ser uma mulher bancada e viver
na pobreza sem dizer a ele o motivo.
Jamais passara necessidade, não como ele. Sua família fora de classe
média. Se houve algo de que tivera de abrir mão, foram os amigos que deixava
para trás a cada vez que a família se mudava.
Nesses casos, dinheiro não fez a menor diferença. Recomeçar era um
fardo emocional, não financeiro. No entanto, as mudanças constantes geraram
uma consciência maior quanto ao que tinha de fazer para se encaixar.
Trocar as botas e os jeans por saias e sandálias. Usar franjas e cachos em
um ano, e um corte curto no ano seguinte.
Ela construiu uma carreira a partir da imagem. A parte ruim era nunca ter
tempo para descobrir a si mesma. Mesmo agora, vestia-se para atender às
expectativas do cliente, em vez de estabelecer um visual que simplesmente
dissesse "Claire".
Ao estacionar o carro na garagem, ela logo pensou se Randy já estaria em
casa. Deixara o escritório mais cedo do que o habitual. Teria a primeira reunião
com os sócios da Fundação Flatbacker pela manhã e precisava de uma boa
noite de sono.
Ela andou pela sala de estar até a escada, enquanto tirava os sapatos e a
meia-calça, jogando a bolsa e a pasta no sofá. Depois riu. Esse era um hábito
que definia bem quem era.
Pensando o quanto os clientes acatariam sua consultora como uma
relaxada de marca maior, ela andou do quarto até a varanda para ver a árvore
de Natal, esticando o passo ao ver Randy deitado em uma das
espreguiçadeiras de ferro.
Ao recuperar o fôlego, Claire falou:
— Dois dias e cheguei a duas conclusões importantes sobre você.
— Quais são?
— Você não gosta de perguntas que geram discussões e sabe demais
sobre invasão.
— Sou melhor com números do que com palavras... e melhor ainda para
abrir fechaduras.
Ela foi até o outro canto da varanda e encostou na parede de tijolinhos. A
posição lhe dava um campo de visão com Randy à direita e o pátio à esquerda.
Uma vista para acalmá-la. Outra para desfazer toda aquela calma.

31
— Um homem de habilidades convenientes e negociáveis — respondeu a
moça com um sorriso nervoso.
Randy riu.
— Vou deixar as contas para você. Não sei se os meus dias de delinqüente
inspirariam confiança de patrão.
Seu olhar pousou sobre as mãos dele, paradas na cintura.
— Então, sua habilidade para comprar a felicidade é resultado de
estraçalhar os números?
— Fui operador da bolsa por alguns anos. Saí antes de fazer mal à minha
saúde.
— Alguém lhe fez uma oferta melhor?
— Meu tio — Randy se mexeu na cadeira e esticou as pernas. — Ele e os
sócios estavam quase levando os negócios à falência.
— Nossa! Tenho certeza de que sua obsessão por dinheiro garantirá o
sucesso da firma.
— E você? — perguntou ele, parecendo estar ainda mais à vontade. Claire,
por outro lado, sentia-se tão tensa como se estivesse à espera de um
tratamento de canal.
— O que é que tem?
— Uma vida de pobreza ou de mulher sustentada?
— Vou responder, mas quero que saiba que não é uma pergunta justa.
Randy ergueu as sobrancelhas.
— E "justo" era parte de nosso trato?
— Não, mas esse é o tipo de pergunta que merece uma resposta com mais
de uma ou duas palavras.
— Tudo que quero é uma ou duas palavras.
— Por quê? Ao menos diga por que você não quer qualquer explicação.
— Não preciso. A explicação é inerente à resposta.
Para ela, não era.
— Não é inerente. É complicado.
Ele balançou a cabeça. A mulher não conseguia decifrar se ele estava
sendo consciencioso ou condescendente.
— Você me diria que escolher viver como alguém sustentado lhe daria
meios para ajudar os outros?
Estranho como Randy fora certeiro. Ele a estaria testando? Vendo como se
dariam fora da cama? Se ela compartilhava de seu gosto pelas coisas finas da
vida?
32
— Bom, aí eu escolheria ser sustentada.
— Pelas razões que lhe dei? Que homem impertinente!
— Pensei que você não precisasse de uma explicação.
— Não preciso. Você precisa. A moça quis revirar os olhos.
Equiparar riquezas ao bem-estar emocional não era a mesma coisa. Pelo
menos, não para Claire. As coisas que ela mais queria da vida eram as que não
podiam ser compradas.
Pensou se suas prioridades eram assim, tão distantes. Ou se Randy
simplesmente tinha um prazer perverso em provocá-la. Por algum motivo, ela
apostou na última opção.
— O que preciso é de uma explicação sua.
— Sobre o quê?
Era a vez dela de deixá-lo de saia justa.
— Qual é a coisa que você mais quer na vida e ainda não tem?
Randy nem hesitou:
— Você.

Ele imaginou se Claire responderia. Se escolheria ser nobre e deixar o


barco correr. Que droga, não a teria desafiado se achasse que ela apenas
cederia.
Poderia discutir sobre sua escolha, provado o ponto de vista de que a
felicidade certamente estava à venda — mesmo se tal felicidade parecesse
atrelada aos meios de ajudar outros. Mas ele não o fez. Dera-lhe uma saída
nobre. E Claire recusou.
Ele levantou da cadeira, pegou-a pela cintura e levou para o quarto.
Estava cansado de falar. O sexo que fizeram na noite anterior fora fantástico,
mas com conversa demais nos entremeios.
Aquela noite seria só para fazer amor.
Randy queria conhecê-la, fazer parte dela, de forma que ela não soubesse
onde ele terminava e ela começava.
Não estava intimidado pelo fato de deixar rolar algo com envolvimento
emocional. Não se tratava disso. Não podia ser. Não deixaria que isso
acontecesse.
Junto ao pé da cama, Randy a olhou e desabo-toou a blusa rosa dela.
Claire estava de saia marrom com listras rosa para combinar. Ela trabalhava
por conta própria, não visitava clientes todos os dias, mas se vestia como a
uma advogada de empresa.

33
Levava seu negócio a sério, assim como ele, e isso o agradava. Randy
jamais teria de explicar o fato de ficar preso no trabalho até mais tarde. Não
teria de exigir que ela remarcasse um compromisso que atrapalhasse seus
planos.
Os dois combinavam. Davam certo. Estavam o mais próximo do que ele
conhecia de algo que podia combinar. Exceto pelos pontos de vista
discordantes sobre dinheiro.
E apesar de não estar nem um pouco a fim de falar, o homem não pôde
abandonar o assunto.
— Não sou um cara ruim, Claire. Mas não gosto de ter que justificar minha
vida.
Os olhos dela tinham um azul enevoado.
— Quer falar sobre sua vida enquanto me despe?
— Sim — Randy tirou a blusa dela, puxou da cintura, onde estava presa na
saia. Depois, tirou os cabelos que ficaram presos ao pano. — Agora você faz
parte dela.
— Faço? — perguntou a moça, com os olhos fechando, enquanto o vizinho
passava os dedos nas mechas longas.
— Posso ter muitos defeitos, mas não transo e sumo...
Ela sorriu.
— Você tinha ido embora quando acordei, hoje de manhã.
— Fiquei o máximo que pude — lembrou dela abraçada a ele e abriu seu
zíper. A roupa caiu no chão. — Tinha uma reunião.
— Humm. Estou morrendo de fome — ela estava ali, só de calcinha e
sutiã. A pele estava toda arrepiada. — Quase não comi nos últimos dois dias.
— Café na cama, prometo — Randy abriu o fecho do sutiã, depois encheu
as mãos com os seios. Os mamilos logo se enrijeceram.
— Ovos mexidos e bacon, com torradas amanteigadas e suco de laranja,
por favor — Claire agarrou seus punhos, molhou os lábios com a língua e abriu
os olhos. — Hmm, está me deixando com fome!
Randy não conseguia falar. A garganta se fechara. Tudo que ele fez foi
abrir o cinto, tirar os sapatos e puxar as calças.
Claire se encarregou da camisa e gravata, e não havia mais nada entre
eles além do algodão da cueca samba-canção e o paninho de seda da calcinha
dela. Ele tirou os dois rapidamente. Passou os braços dela ao redor de seu
pescoço e procurou sua boca.
Beijou-a. Deslizando as mãos por suas costas, ele a levou até a cama.
Claire estava quente e receptiva embaixo dele, tornando difícil lembrar que

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isso não tinha a ver com envolvimento, mas com compatibilidade e
companheirismo.
Randy desceu trilhando seu corpo de beijos, passando pelo pescoço,
sentindo-a estremecer quando ele se aninhou ali. Claire tinha um cheiro leve,
de pele limpa. Ele levou a boca aos seios.
— Gosto da forma como você me deseja — disse ela, gemendo.
O homem também gemia junto a ela, passando de um seio ao outro,
sugando, passando a língua no mamilo, antes de continuar descendo a trilha
de beijos.
A pele de sua barriga era doce e macia, assim como a das coxas. Ele
queria mais luz para vê-la mas já havia escurecido lá fora e o quarto se fechou
feito um casulo.
Ele respirou junto ao seu sexo, o calor pulsante, a carne inchada, depois
passou a língua, lambendo o clitóris.
Os gemidos dela ficaram mais altos, e ela pedia mais ao erguer os quadris.
Ele a lambia com força ao redor dos nervos contraídos, a carne pulsante,
circundando a entrada e indo até lá dentro. Ela inalou o ar profundamente e
começou a latejar. O pênis de Randy pulsava. — Randy, por favor!
Em outra ocasião, outro lugar... outra mulher, ele teria esperado. Com
Claire, seu desejo era forte demais.
Apoiado nos joelhos, ele abriu uma camisinha antes de deitar em cima
dela. A ausência de luz no quarto não impedia que os olhos de Claire bri-
lhassem.
Claire pôs a mão no meio dos dois, pegou seu membro, esfregando a
cabeça para dentro e ao redor de seu sexo, finalmente se projetando acima,
para recebê-lo inteiro.
Randy penetrou, maravilhado com a forma como se encaixavam. Como ela
era tão quente e apertada.
Ela se mexia para cima e para baixo, prendendo-lhe com força,
empurrando o corpo contra o seu. O homem trincou os dentes até jurar que ra-
chariam.
E era tarde demais. Não dava mais para segurar. Randy entrou mais forte
e rápido, depois se soltou, descendo a mão até o clitóris dela.
A moça gozou logo a seguir. Os sons que ela fazia, o toque das mãos
quase o despedaçou. Isso, porém, não significava envolvimento emocional.
Não era o caso. Não podia ser.

Ele passou a noite lá. Claire não conseguia acreditar. Também não
acreditava que tinha sido a primeira a ir para o chuveiro.

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Teria adorado tomar banho com Randy, passar as mãos em seu corpo,
ensaboá-lo, acarinhá-lo, passar as pernas ao redor de sua cintura, enquanto ele
a encostaria à parede e a penetraria.
Porém, não tinha tempo para tal prazer aquela manhã. Seu compromisso
era às nove.
Estava na cozinha, servindo café, quando Randy chegou atrás dela. Tinha
tomado banho, mas não fizera a barba. E Claire tinha de admitir que gostava
do visual de um dia de barba por fazer.
Porém, não morreu de amores pela sensação pois ele a arranhou ao beijá-
la.
— Se quiser me beijar sempre, a barba vai ter que sair — disse ela,
servindo o café.
— Vou me barbear hoje à noite. Bem, estou atrasado, preciso ir para casa
me trocar.
Dando um gole no café, ela balançou a cabeça, pensando em como podia
se acostumar facilmente com aquela rotina matinal.
— Você ainda me deve um café na cama. O homem sorriu.
— Amanhã. Prometo. Você vai precisar começar bem seu dia.
Sempre misterioso...
— Por quê?
— Tenho uma festa beneficente de gala, coisa de trabalho, amanhã à
noite. É no Bourbon Orleans — Randy parou, o coração bateu uma vez, duas. —
Seria uma honra se você pudesse me acompanhar.
Ele a estava convidando para uma festa importante no último minuto?
— Como sua acompanhante?
— Hum? sim... E vamos de limusine.
Claire revirou os olhos, em um pânico silencioso quanto ao que vestir.
— Nesse caso, eu adoraria.
— Ótimo. Precisamos sair daqui às seis e meia.
— Acho que consigo — respondeu ela, levando a xícara à boca.
Randy foi indo para a porta, mas parou.
— Quer que eu espere por você? Pode me acompanhar até o Centro, se
quiser.
Acompanhá-lo? Até o Centro? Por quê? Morava ali há mais tempo que ele!
— Acho que consigo ir.
— Então, está bem — ele deixou a xícara no balcão e lhe deu um beijo na
bochecha. — Até lá.
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— Até lá? Onde? — perguntou Claire.
— No escritório — disse, piscando o olho e indo embora.
No escritório. Naquele em que ele e o tio "administravam de forma
conservadora", dando bolsas de estudos. Ela desabou no banco.
Estava dormindo com um cliente. Bem, um cliente em prospecção. De
qualquer forma, será que podia ser menos profissional?
Não apenas isso, ela concordara em ser sua acompanhante no
compromisso profissional do dia seguinte. E agora teria de encarar a reunião
fingindo que estava tudo bem em seu mundo totalmente ferrado.
Isso pedia muito além de uma parada no Eros pensou ela, esfregando a
testa. Pedia uma sessão de terapia completa.
Claire achou a bolsa no cantinho do sofá, onde a jogara na noite anterior,
pegou o telefone dentro, e ligou para o número de Tess Autrey.
— Ooh. O código interurbano de Nova Orleans! Só pode ser a fabulosa
Claire Braden —. ironizou Tess, ao atender. — E aí?
— Socorro! — foi tudo o que Claire conseguiu dizer.

CAPÍTULO SEIS

Claire estacionou o carro, viu seu reflexo no espelho, pegou a bolsa e a


pasta de couro e seguiu para o prédio.
Eram 8h55.
Tess estava certa. Não havia nada que Claire pudesse fazer aquela manhã
além de ir para o trabalho da forma mais profissional possível, e lidar com
Randy mais tarde. Infelizmente, lidar com Randy significava lidar com o
coração. E deixar o coração fora da reunião exigiria habilidades que ela não
tinha certeza possuir.
Ela respirou fundo, apertou o botão do elevador, pensando por que estava
passando por isso. Nem por um minuto acreditava que sairia dali com a conta
da Flatbacker. Randy mexera os pauzinhos.
O elevador chegou e ela apertou o botão do quarto andar. Na subida,
Claire se concentrou para se acalmar, arrumou o blazer, ajeitou o colar de ouro
e passou as mãos nos cabelos.
Ao abrir a porta, respirou fundo e entrou na recepção, surpreendendo-se.
Era exatamente corno ela esperava, depois da pesquisa que fizera sobre a
antiga firma endinheirada. Madeira boa, couro caro e tapetes trançados,
pinturas originais em molduras douradas.

37
— Mas como você é desagradável, Randy — murmurou ela, para dentro.
Isso seria uma perda de tempo.
Claire ergueu o queixo, chegou à mesa da recepcionista e sorriu para a
jovem que disse:
— Bom-dia, posso ajudá-la? Ela deu um cartão.
— Claire Braden. Tenho uma reunião às nove, com Luther Andrews.
A recepcionista olhou a tela do monitor e gesticulou para a sala de espera,
pegando o telefone.
— Vou avisar que a senhora está aqui.
— Obrigada — afastando-se, Claire observou o mobiliário pesado, os
arranjos de flores e os abajures à meia-luz, os quadros de cães de caça e
cavaleiros, nas paredes.
Mas que raios ela estava fazendo ali? Ah, espere! Estava ali por causa de
seu amante, que a convidara para uns drinques e fora parar em sua cama,
antes de dar um jeito de conquistá-la à moda antiga, com um caminhão de
dinheiro.
— Srta. Braden...
Forçando um sorriso, que ocultou os pensamentos nada benevolentes, ela
se virou, ao som da voz masculina profunda e estendeu a mão.
— Claire, por favor.
— Eu sou Luther — homem, mais velho, falava com uma entonação de
John Wayne, que combinava com as botas e o terno estilo country que usava. A
mão dele engoliu a da moça. — Vamos dar uma passada na sala de meu
sobrinho, pegar o garoto e começar com isso, já que essa é a idéia.
Gostou da forma como ele foi direto ao assunto Também gostou de ouvi-lo
chamar Randy de garoto. Aquilo pareceu engraçado, apesar da vontade que
sentia de estrangulá-lo.
— Devo admitir que após ver a recepção fiquei me perguntando porque
estou aqui.
Luther riu, uma gargalhada gostosa, de menino.
— A maioria das pessoas nunca tem a chance de ver além do que você
viu. Mas é no resto do local que meu sobrinho quer focar.
Interessante, pensou ela, passando pela porta que Luther abriu, e dava em
um corredor comprido, não menos pomposo que a recepção, em azul-marinho,
vinho e verde-musgo. Os passos caíam silenciosamente no carpete grosso.
O escritório de Randy foi a primeira surpresa Primeiro, porque ele não
estava lá. Depois, porque a saía não podia ser mais básica. Paredes brancas,
carpete cinza, arquivos de metal e mesa combinando.

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Somente o computador e a cadeira ergonômica tinham a ver com o
homem que ela conhecia. Era difícil imaginá-lo trabalhando nessas condições.
Mais difícil era admitir que ela baseara sua opinião sobre ele apenas no
carro que Randy dirigia, nas roupas que vestia, no dinheiro que havia pago pela
casa.
Nem sequer levou em conta a forma como ele a tratara.
Como poderia ter sido tão rasa?
— Randy, meu sobrinho, veio trabalhar conosco em setembro. Esse era o
único escritório vazio. Já que ele é quem dedica mais tempo, nada mais justo
que deixar o garoto ajeitar o local.
Certamente as outras salas não seriam tão... vagas, seria uma boa
palavra. Simples, para ser um elogio. A sala de Randy não era nada além de
horrível. O que mais havia para ser descoberto sobre ele?
— Devemos esperar por ele? Ou gostaria de me mostrar o lugar?
Luther inclinou a cabeça, gesticulou com uma das mãos na direção do fim
do corredor.
— Vamos até a baia mais ou menos. Pelo menos é assim que Randy
chama meu escritório. Quando não chama de celeiro.
Caminhando ao lado de Luther, Claire se esforçava para entender tudo.
Francamente, a última coisa que podia esperar era que o tio de Randy fosse
um velho cowboy. Porém, os últimos três dias haviam sido bem
surpreendentes.
— Randy, levante-se para que eu possa apresentá-lo à srta. Braden —
disse Luther, ao chegar aporta do escritório.
— Claire — retrucou ela, meio sem pensar.
Debruçado à frente para ver o Wall Street Journal ele estava de costas
para a porta, as mãos espalmadas sobre a mesa de Luther, a pulseira prateada
do relógio no punho. Nove horas da manhã e eleja tinha largado o paletó e
arregaçado as mangas da camisa branca.
Mas, oh, como ele era lindo visto de trás, com os ombros largos, os
quadris estreitos. Ela não podia evitar. Pensou nele nu, na forma como cobria
seu corpo, entrando nela o máximo que podia.
O homem se endireitou e foi em sua direção, o coração dela aos pulos. Era
lindo, maravilhoso. Seus olhos, sua boca, a forma como andava. Estava caída
por ele e não sabia o que fazer.
Luther a manteve em posição de não precisar fazer nada além de
estender a mão.
— Claire Braden, meu sobrinho Randy Schneider. Randy, Claire está aqui
para consertar seu mundo.

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Consertar o mundo dele?
Randy pensava, observando Claire segurar o portfolio e uma caneta, já se
preparando para fazer anotações.
— Eu já a vi trabalhando. Não tenho dúvidas de que é isso mesmo que ela
fará.
Um rubor tomou o rosto de Claire. Olhou ao redor do escritório, mexendo
no pedestal colocado no canto que abrigava uma escultura de bronze original
de Frederic Remington.
L Agradeço a oportunidade. E a minha primeira impressão, Luther, é que
você adora o Oeste americano. Os detalhes nas esculturas de Remington
sempre me impressionaram.
— Passei grande parte de minha vida domando cavalos bravos — por trás
de Claire, Luther ergueu o polegar para Randy. — Quando o escritório era no
Texas e eu podia dar uma fugida nos fins de semana para ficar no sítio.
— Então, você não morou sempre em Nova Orleans?
— Não, senhora — ele foi para trás da escrivaninha e se afundou na
poltrona de couro, do tamanho de um mamute.
Ele gesticulou para Randy e Claire para que sentassem nas poltronas de
visita. Claire declinou. Em vez disso, preferiu circular pelo escritório fazendo
anotações.
Luther prosseguiu.
— Viemos há uns anos, quando a esposa de Lionel adoeceu e queria
passar o.resto da vida perto da família ou perto do lago Pontchartrain.
— Lionel Burns é um dos sócios do meu tio — explicou Randy. — O
escritório dele é na próxima porta.
O senhor idoso se recostou na cadeira, colocando um dos pés sobre o
canto da mesa.
— Randy acusa Lionel de trabalhar em um lugar de pescador.
— Como assim? — rabiscando o papel, Claire se voltou a Randy.
— O senso estético de Lionel segue o que ele chama de "tema náutico".
— Entendo — mais anotações, outro sorriso desconcertado. — E o terceiro
sócio?
A cadeira de Luther rangeu, ao se inclinará frente.
— Lester Grant. Ele fica fora a maior parte do tempo.
— Quando está aqui, guarda os chapéus e os macacões no escritório —
acrescentou Randy.

40
— Vá em frente, Randy. Mostre tudo a Claire. Dê uma idéia melhor do que
temos para que ela possa trabalhar — Luther gesticulou em direção à porta e
riu. — Ela pode resolver ir embora e nunca mais voltar.
— Duvido que isso aconteça, mas, está bem. Eu gostaria de dar uma volta
— a moça abraçou a pasta contra o peito, esperando, pacientemente,
enquanto Randy assimilava a idéia de que ela poderia de fato ir embora.
— Então, vamos — acabou ele respondendo.
Randy a guiou pelas salas restantes do andar, explicando o passado de
Lionel na Marinha mercante o de Lester no setor de petróleo, e como os dois
conheceram Luther na Coréia, durante o conflito militar.
Depois da baixa, os três viajaram pegando carona ao redor do mundo, e
encontraram uma parisiense que os convenceu que podiam fazer fortuna se
importassem lingerie francesa para os Estados Unidos.
— Deixa eu entender — interrompeu Claire, sentando-se em uma cadeira
da sala de reunião, após ver tudo. — Seu tio e os sócios começaram a vida
trabalhando com uma prostituta que conheceram em Paris?
Randy puxou uma cadeira, para ficar de frente para a moça.
— Difícil de acreditar, mas, sim, um cowboy, um marinheiro e um
petroleiro fizeram o grosso de sua fortuna com calcinhas e sutiãs.
Claire brincava com a caneta e observava as anotações. Alguns segundos
se passaram antes de ela fechar a pasta.
— Quando foi embora, hoje de manhã, xinguei você de todos os nomes.
Disso, ele não tinha dúvidas. Só ficou imaginando quanto tempo levaria
até que ela puxasse o assunto.
— Tem todos os motivos para isso.
— Achei que isso fosse um artifício. Pensei que tivesse me trazido aqui
para me conhecer não por qualquer preocupação com a imagem da fundação.
— Na verdade, minha preocupação não é tanto com a imagem, e mais
com as condições de trabalho. Você viu o meu escritório.
— Eu sou consultora de imagem, Randy, não uma decoradora.
— Eu sei. Mas você está certa. Eu a trouxe aqui porque queria conhecê-la.
Ela suspirou e jogou a caneta na mesa.
— Estou surpresa que o fato de ter tomado a primeira atitude não tenha
mandado seus planos para o espaço.
Randy entrelaçou as mãos sobre o colo.
— Eu me comprometi com a consultoria. 0 fato de você e eu darmos certo
não tem nada a ver com fazermos negócio.

41
— Então, o que é que estou fazendo aqui agora? Isso é o pagamento pelos
serviços prestados?
O homem descruzou as pernas e se inclinou à frente, apoiando os
cotovelos sobre os joelhos.
— Isso é negócio, Claire. Nada além disso. Você viu nosso espaço, nossas
necessidades. Espero que faça uma proposta e apresente. Como faria com
qualquer cliente.
— Mas você não é qualquer cliente — ela se levantou da cadeira e
caminhou até o outro lado da sala, onde ficou olhando pela janela.
O executivo entendeu que a consultora precisava de espaço. No entanto,
não era o que ele queria lhe dar.
Levantou da cadeira e a seguiu, parando atrás dela, tão perto que podia
sentir o seu perfume, distante o suficiente para não assustá-la.
— Você pode lidar diretamente com os sócios. Eu me retiro de cena — ele
a viu trabalhar. Sendo ou não prioridade, não tinha dúvidas de que ela
conseguiria dar à fundação uma imagem condizente com seu propósito.
Estava muito mais interessado no que Claire podia dar a ele. Apenas ainda
não havia chegado à conclusão do que isso significaria. A essência do que ela
trouxera para sua vida.
— É um acordo mutuamente benéfico. Você fechou um bom negócio. E eu
tenho uma acompanhante para amanhã à noite — Randy não disse nada sobre
dividir a cama dela. Claire suspirou.
— Isso não é sair muito de cena. Sem mencionar que você está achando
que não mudei de idéia quanto a sair com você.
— Mudou?
— Não sei se ficaria à vontade com a idéia de ser seu enfeite.
Ele se aproximou e pousou a mão na nuca da moça, virando-a de frente.
— Isso eu posso conseguir em qualquer lugar. Para mim, você é mais que
isso.
— Então, o que sou? Uma parceira de negócios? Uma vizinha?
— É minha amante — ele começou a se aproximar para beijá-la. — A única
mulher em minha vida.
Randy colocou a língua, antes que Claire pudesse falar. Não podia lhe dar
mais nada, naquele momento. Só um beijo...
Os dois prosseguiram em uma intimidade suave e provocadora que o
arrebatou. A mulher encostou a língua na dele, ergueu as mãos para pegar seu
rosto e segurá-lo, sussurrando palavras ditas baixinho demais para que ele
pudesse ouvir.

42
Não precisava ouvir. Randy sentiu o muro de seu passado desmoronando.
O gelo do coração se derretendo. O que ele sentia era mais que querê-la em
sua cama. Ela era o sabor do regresso ao lar.

— Você não faz idéia do quanto sou grata por isso — Claire girou para a
direita, depois para a esquerda, vendo seu reflexo no espelho do quarto. — O
vestido é perfeito, obrigada, Perry.
— De nada — respondeu a amiga, sentada na cama, de pernas cruzadas.
— É um de meus favoritos e eu nunca tenho a chance de vesti-lo, já que não
costumo ser convidada para essas festas chiques de Natal.
— Não é tão chique.
— Você está brincando? O Bourbon Orleans no Natal? Posso ir junto? Nem
imagino como o lugar deve ser decorado. Deve ser absolutamente lindo.
— Sem dúvida — disse Claire, forçando uma risada. Era sexta-feira, e se
pudesse ter escapado daquela, em um piscar de olhos teria escapado.
Está bem, ela poderia ter feito isso. Não quis...
A chance de se entrosar com gente da sociedade não caía no colo de uma
garota todos os dias. Os contatos que faria seriam inestimáveis.
Além disso, havia o fato de não estar pronta para tirar Randy da cabeça.
Tirando os minutos no escritório de Luther, toda a interação deles havia sido a
sós.
Era hora de ver se ele sabia como se portar publicamente.
Claire passou a mão no vestido aveludado de Perry. Era verde-musgo, com
um sombreado dourado. Um tipo de tom de verde que Claire nunca vestia, mas
tinha de admitir que deu certo. As tiras de rolotê cruzavam nas costas, que
ficavam nuas.
Tudo que vestia por baixo era uma tanga.
— O decote das costas não está muito baixo, está?
— Está — Perry a "tranqüilizou". — E essa é a finalidade. Todo mundo vai
estar tão ocupado em olhar para o fim do decote que só vai notar que o vestido
foi emprestado tarde demais.
Claire revirou os olhos, embora a amiga não estivesse totalmente errada.
Festiva ou não, a noite de gala era para arrecadar fundos.
Apesar de Randy afirmar que a moça era a mulher de sua vida, ele a
queria ao seu lado por razões mais profissionais do que qualquer coisa. Disso
ela estava certa.
Tinha de estar, pois se estivesse errada, jamais se perdoaria. Não havia
como contornar. Ela se sentia como se tivesse sido comprada. Tinha de deixá-
lo.
43
E precisava fazê-lo agora, antes que se apaixonasse mais.

Randy estava a caminho para avisar a Claire que a limusine havia


chegado, quando a porta da frente se abriu. Uma das vizinhas, de cabelos es-
curos e encaracolados, com ar de cigana saiu, passando por ele rumo ao pátio
em frente à árvore de Natal. Será Perry?
Balançou a cabeça, franziu o rosto, ao sorrir como se estivesse guardando
um segredo, depois voltou a atenção ao motivo do negócio. Pelo menos, ele
tentou. Mas quando olhou de volta à casa de Claire, nem conseguia lembrar do
próprio nome.
Ela estava na porta, parecendo um presente esperando para ser
desembrulhado. Os cabelos estavam soltos, os cachos passando dos ombros.
Seu vestido era verde com um brilho dourado que dava um efeito maravilhoso
à pele exposta — e mostrava pele demais.
— Nossa! — exclamou Randy, ao caminhar até ela. Era a única palavra
adequada. — Você está linda!
— Você também não está nada mal — Claire provocou.
Randy ignorou a piada e pediu para ela dar uma voltinha. Não via a moça
desde o dia anterior, quando deram aquele beijo que jamais esqueceria.
— Vire-se. Lembre-me do que perdi ontem, ao dormir sozinho.
Ela rodou, para que ele desse uma olhada rápida.
— Passou a noite sozinho ou naquele quarto de hospital que você chama
de escritório?
— Um pouco de cada. Eu ia aparecer na sua casa, mas era tarde e eu
sabia que você precisava dormir.
Claire ficou brincando com o pingente pendurado no pescoço.
— E se livrou do café na cama pela segunda vez.
— Podemos dar um jeito nisso de manhã — Randy havia reservado um
quarto no hotel onde seria o evento beneficente. Não mencionara isso ainda.
Queria esperar, antes de dizer-lhe o quanto Claire passou a significar para ele
em tão pouco tempo.
Queria beijá-la, tocá-la, e estava sendo difícil, parecia ser o único a ter que
controlar as mãos.
— A limusine está esperando. Está pronta?
— Deixe-me pegar minha bolsa e nós vamos — disse ela, sorrindo.
Não o convidou a entrar, enquanto pegava a bolsa. Apanhou também uma
echarpe, trancou a porta e saiu, sem olhar para trás, para ver se ele a seguia.

44
CAPÍTULO SETE

O barulho era quase ensurdecedor. A banda de jazz ao vivo, a dança e os


aplausos, o riso e tudo mais que acompanhava o champanhe que corria livre.
Claire conheceu mais gente do que podia se lembrar e teve o bumbum
beliscado mais vezes do que pôde contar. Perry que ficasse com aquela
porcaria de vestido.
Randy fora tão atencioso que Claire se esforçava para lidar com a culpa
por tratá-lo secamente. Mais cedo, ela pensou que seria a única forma de
conseguir passar a noite.
No dia anterior, Randy dissera que ela era a única mulher de sua vida,
beijou-a loucamente, e fizera tudo isso momentos antes de instruí-la a enviar a
conta pela consultoria da Flatbacker.
Era um lembrete enorme de como ele havia comprado o ingresso em sua
vida. E, por mais que detestasse admitir, Claire não conseguia se
livrar da sensação de estar ali pela mesma razão. De que ele a comprara
pela noite.
— Olá, srta. Claire. Espero que não se importe se eu roubar o seu cantinho.
Tive menos hematomas sendo jogado por um touro do que brigando com essa
multidão.
Claire olhou acima e viu Luther tomando a cadeira ao lado.
— Cheguei à conclusão de que me sentar seria a melhor forma de
proteger... é... minha retaguarda.
Luther deu uma gargalhada escandalosa. Ele ergueu a taça de champanhe
para um brinde.
— Esse é o melhor vestido que vejo há um montão de anos. Se eu fosse
mais jovem, você poderia apostar que não sentaria só para descansar.
Um rubor cobriu-lhe a face. E mesmo antes de responder, Claire sabia que
já bebera o bastante para ter perdido a compostura.
— Não me diga que a minha idade está me prejudicando.
— Claro que não. O problema é a minha. Já não posso correr tão rápido e
Randy ainda é briguento. Se eu fizer alguma coisa, o garoto me dá uma surra.
Não se você pagar em dinheiro, ela pensou. Claire entregou a taça vazia
ao garçom que passava rumo a cozinha.
— Acho que, a essa altura, Randy deve ter se arrependido de me trazer.
Não estou sendo a companhia mais atenciosa.
— Está brincando? Ele está a noite inteira com olhos de peixe morto. Não

45
está fazendo nenhum negócio. E as festas, para o garoto, são para fechar
negócios. Já era hora de ser fisgado.
— Como assim?
— Fisgado, flechado pelo cupido — disse Luther, tão animado que chegou
a ter dificuldade em engolir o resto do champanhe.
Amor? Impossível. Eles só se conheciam desde terça-feira. Sim, estavam
flertando, olhando pela varanda, há dois meses, desde que ele se mudara. Mas
amor?
A moça olhou para a multidão, em busca do maior aglomerado de
mulheres que pudesse encontrar, pois fora assim a noite inteira. Enquanto ela
recebia tapinhas, Randy, bem, também os recebia.
E pelo fato de estar tão envolvida em mantê-lo à uma distância emocional
segura, não chegou a pensar uma única vez que Randy também poderia estar
detestando toda aquela atenção. Ela, no mínimo, poderia ajudá-lo a fugir à
aquilo.
— Com licença, Luther — desculpou-se ela, levantando-se. — vou
enfrentar a massa e ver se consigo salvar seu sobrinho.
Ao se afastar, ela ouviu Luther rir, um som que a fez sorrir mesmo depois
de esbarrar em alguém. Franzindo o rosto, Claire olhou para trás e deu de cara
com Randy.
Ele estava no meio de uma roda de beldades e o único negócio em
andamento era sexo. Ou, pelo menos assim lhe parecia, ao olhar as mulheres
caindo em cima dele.
Podia não ser seu homem para sempre, e pouco antes ela se perguntava
se sequer chegaria a ser. Mas, dúvidas à parte, a única coisa que importava era
que ele, com certeza, era seu homem aquela noite.
Claire seguiu rumo à roda. Randy a pegou pelo pulso e atravessou a pista
de dança, saindo em um corredor usado pelos empregados do hotel.
— Por que demorou tanto? — perguntou ele, e encostando-a numa parede.
O fogo nos olhos dele era o suficiente para deixá-la em chamas. A moça
soltou um suspiro.
— Você não está usando quase nada! — percebeu Randy.
— E tenho as marcas para provar.
— Estou pensando em desamarrar essas cordinhas a noite inteira — disse
ele, aninhando o rosto nos cabelos dela, os dedos passando pelas tiras que
amarravam o vestido.
Era tão bom senti-lo. Não devia ser tão bom assim. Ela odiava aquela
guerra travada entre o corpo e o coração.
— Achei que estivesse aqui para cuidar de negócios.
46
— Estou. Deveria estar. Está sendo muito difícil ficar concentrado.
— Não é para menos, com a companhia que você anda...
Ele riu, pressionando o corpo junto ao dela.
— Você deve estar cansada. Quero tirá-la daqui, levá-la para um lugar
tranqüilo.
— Eu só gostaria de ir para casa. Não quero deixá-lo falando sozinho,
Randy. É que estou exausta.
— Eu sei. Essa semana tem sido uma loucura. Loucura era apelido.
— Tem sido maravilhoso e estressante, e estou a ponto de arrancar os
cabelos ou dormir três dias seguidos.
O homem ficou quieto, se afastou e sorriu, olhando para baixo.
— Se você prometer só fazer a última coisa, vou até lá fora e peço ao
porteiro para chamar o motorista da limusine.
— Eu prometo — ela o magoou. Não tinha a intenção. E estava com
vontade de chorar, ansiando pelos dias descomplicados, quando não fazia nada
além de paquerá-lo na varanda.

Claire estava pronta para o Ano-Novo. Estava cansada de toda aquela


euforia das festividades, cansada de esperar pelo Natal. E depois do turbilhão
da semana passada, ela estava simplesmente cansada.
Em vez de ir para a cama após o baile de gala
de sexta-feira, a moça havia arrumado a mala e, sábado de manhã, seguiu
para o aeroporto de onde pegou um vôo. Precisava desesperadamente de um
dia ou dois junto com as amigas, para não ficar doida.
Nem Alex, nem Windy estavam na cidade, porém ela podia passar um
tempo em Houston, com Tess. Não que as duas fossem capazes de resolver o
"problema Randy", mas, pelo menos, as margaritas foram boas.
Não fazia sentido negar que ela estava totalmente caída por Randy. A
palavra amor veio à cabeça, assim como um futuro ao seu lado.
Tess a lembrou do que havia acontecido.
— Amor à primeira vista...
Claire mostrou a língua e jogou uma framboesa. Tess, como qualquer
psicóloga que vale o quanto pesa, na mesma hora jogou de volta o que tinha
na colher. Depois disso, começou uma guerra de comida.
Graças a Deus, ela estava na cozinha de Tess, em vez da sua.
Após pagar o motorista de táxi, Claire jogou o casaco no ombro e seguiu
pelo pátio da Court du Chaud. O sol havia se posto e as luzinhas da árvore de
Natal piscavam feito um caleidoscópio elétrico.
47
Um grande engano era bem o que resumia o seu espírito festivo. Mas
quando ela virou a chave na fechadura, foi como ser nocauteada pelo aroma
de biscoitos caseiros assando. Biscoitos de chocolate. Amanteigados...
Algum duende esteve por ali.
O baixinho teria de partir.
A menos que, é claro, o convidasse a ficar. Mas que bobalhona ela era!
Com o coração na boca, Claire jogou a bolsa e o casaco no sofá e seguiu
para a cozinha, onde parou. Afinal, não era nada de duende.
Era um tipo de... Papai Noel.
Randy obviamente estava na cozinha há horas. A pia estava cheia de
tigelas, tinha farinha de trigo no chão. Devia ter umas 12 dúzias de biscoitos
esfriando, em assadeiras. Mas não foram os biscoitos que a deixaram de
queixo caído.
E sim as roupas que ele usava. Ou melhor, que não estava usando.
A moça pôs as mãos na cabeça, para evitar que o cérebro explodisse.
— O que você está fazendo?
Ele nem desviou o olhar, só deu uma olhada no relógio do microondas.
— Esperando por você.
— Você está cozinhando para me expulsar de casa? — se ela comesse
uma fração daquelas delícias, ganharia cinco quilos. — E está fazendo isso nu!
O homem olhou para o avental. A ponta do gorro de Papai Noel caiu para
frente.
— Estou vestido.
O avental lembrava a roupa do Papai Noel, e trazia o bom velhinho de
mãos abertas segurando o saco, que era o bolso da frente que, por acaso,
cobria a virilha de Randy, onde estavam escritas as palavras Cuidado, Criatura
se mexendo. Claire leu e revirou os olhos.
— Posso ver tudo, exceto o que você tem no seu bolso. Então, chamo isso
de nu.
— Não é nu. É... desobstruído!
— Balançando livremente, coisa e tal?
— Não, droga — ele tirou o chapéu e.o arremessou para a mesinha de
café. Caiu em cima de um prato cheio de biscoitos. — Não foi isso que eu quis
dizer.
Ela se aproximou, pegou um biscoito que acabara de sair do forno. O
chocolate derreteu em seus dedos. Claire lambeu e tudo.
— E então?

48
Randy tirou uma assadeira do forno, depois tirou o avental sexy e desligou
o fogo.
— O negócio é o seguinte, Claire. Eu queria vir sem nada...
— Eu estou vendo — respondeu ela, petulante, tentando esconder o misto
de terror e alegria que apertava seu peito.
Ele tentou não encarar.
— Queria lhe mostrar que não preciso do que o dinheiro pode comprar.
Que não preciso de nada além de você. Eu te amo, Claire. Só faz alguns dias.
Sei disso. Ai meu Deus, ai meu Deus!
— Mas também estive esperando você por toda a minha vida.
— Do que está falando? — perguntou a moça, embora duvidasse que ele
tivesse ouvido seu gemido.
O homem chegou mais perto. Era grande e terno, e estava cheirando a
biscoito.
— Estou dizendo que a quero. E simples. Não vou aceitar nada menos que
tudo que você tem a dar.
O resto do biscoito esfarelou na mão dela.
— Não vou ser mulher de patrão.
— Não é isso que quero.
Está certo. Respire, Claire. Respire.
— Não vou ser um troféu.
— Não quero que seja.
O sujeito estava perto demais. Perto demais para agarrá-la.
— Não quero que pense que pode me comprar.
— Isso nunca passou pela minha cabeça! — disse ele.
— Sério? — debochou Claire.
— Está bem. Talvez, uma vez. Por dois segundos. Até perceber que prefiro
trocar minha Mercedez por um Fusca e não vestir nada além de camisetas e
jeans usados a correr o risco de perdê-la.
— Oh, Randy, eu te amo. De verdade — Claire passou os braços ao redor
do pescoço dele e o segurou até os músculos começarem a doer. Foi difícil
largá-lo.
Até que...
— Ah, Randy?
— Claire?
— Sabe aquele aviso no seu avental?

49
— Âham!
— Acho que a criatura está se mexendo,
Ele riu.
E Claire se apaixonou completamente.

2ª História:

AMOR EM DOMICILIO
Karen Anders

CAPÍTULO UM

Quando tratava de seduzir um homem, Chloe Matthews não tinha nada de


medrosa. Na verdade nada a respeito de Chloe Matthews era ao menos
previsível. Ela não tocava o Café Eros de forma tradicional, nem se vestia para
impressionar. Não acordava nem ia dormir em horários comuns.

50
Às dezoito horas ela notou, do Café Eros, o novo morador do número 10 do
Court du Chaud atravessando o pátio e parando diante de sua porta Chloe ficou
empolgada quando ele pegou o envelope vermelho preso à porta, com um
alfinete de Papai Noel. Ele riu bastante.
É claro que, naquela distância, seria impossível que Chloe visse o alfinete.
Sabia qual era o tipo, pois ela mesma espetara-o no envelope.
Como Chloe nunca fazia o previsível, não era exatamente uma carta. Era o
trecho de uma poesia. Poesia que escrevera na noite anterior, após vê-lo diante
de sua porta, iluminado pelo facho de luz que vinha da luminária de ferro.
Ele estava olhando para o céu. De sua varanda no número 9 do Court du
Chaud, sobrado ao lado do dele, a moça vira os olhos escuros e misterio sos,
que capturaram os dela. Das profundezas da alma, como se o homem a
conhecesse há muito tempo. Sua expressão sombria pedia paz, apenas um
pouco de tranqüilidade.
Naquele instante, Chloe perdeu seu coração Seus cabelos negros e fartos,
sob a luz, foram a inspiração para que ela escrevesse. O vizinho vestia uma
camiseta branca que ressaltava os ombros fortes, sob o calor incomum de
dezembro. Uma tatuagem tribal no braço esquerdo dava-lhe um ar durão. Teria
o achado durão, não fosse o olhar suplicante.
Mesmo se achando instável, Chloe possuía uma característica que sempre
permanecia igual. Como ex-enfermeira, sabia tudo a respeito de querer ajudar,
curar, acolher. Porém, a tristeza que vinha com a profissão era demais para
que ela suportasse. Concluiu que administrar um café também lhe possibilitaria
cuidar das pessoas e dormir à noite.
Estava em seu pequeno quintal, enquanto a garçonete, Tally Addison,
circulava entre as mesas arrumando-as para o movimento do jantar. Ela o
observou abrir o envelope, tirar o papel vermelho e desdobrá-lo. O sujeito
inclinou a folha contra a luz, exibindo um perfil magnífico. Apenas uma olhada
naqueles lábios cheios faziam qualquer mulher querer agarrar-lhe e lhe roubar
um beijo.
Chloe ficou com o coração na mão. Ele levou o papel ao nariz e cheirou. Os
ombros se relaxaram. A mulher respirou de maneira entrecortada ao vê-lo
fechar os olhos. Depois, com as mãos grandes e másculas, o homem dobrou o
papel e o colocou novamente no envelope. Não olhou ao redor, mas entrou em
sua casa e fechou a porta.
— Chloe, preciso falar com você.
Ela desviou os olhos do número 10 para olhar madame Alain, uma mulher
meiga que era a fofoqueira do condomínio. Era bem francesa, com um sotaque
encantador, e lecionara francês em uma escola particular até se aposentar, no
ano anterior. Acabara de perder o marido de ataque do coração e Chloe
desconfiava que sua solidão a fazia bisbilhotar a vida de todos.

51
— Sim, madame Alain. Em que posso ajudá-la?
— Vou fazer uma reunião para as minhas amigas do clube de bridge
amanhã, e adoraria comer pãezinhos doces. Queria uma dúzia.
— A que horas? — Chloe perguntou, repassando a lista enorme de
pedidos, procurando um lugar para encaixar o de madame Alain.
— Nove e meia.
— Vou aprontar para a senhora — prometeu Chloe. Ela teria de abrir mão
da aula de ioga. Mas tudo bem. Madame Alain era uma boa cliente.
— Poderia mandar entregá-los? Merci — ela seguiu o olhar de Chloe, com
um leve sorriso. — Ele é um homem e tanto, oui?
Chloe se delatou ao corar.
— Oui. Vejo que você o notou. Sei tudo sobre ele.
A mulher deixou Chloe sem jeito e o pequeno calafrio de vergonha deu
lugar à curiosidade.
— Madame, tenho uma fornada fresquinha de croissants de chocolate e
amêndoas e café-com-leite.
— Tem mesmo? Ah, que ótimo!
Chloe subiu as escadas com madame Alain. Dava-lhe grande prazer entrar
em sua perfumada cafeteria. Aberta no bairro francês, seu pequeno negócio
deu um salto e logo estava na Jackson Square. O condomínio da moda mal
traduzia o que estava oculto pelos sobrados coloniais franceses, graciosamente
ajardinados. Bem junto à entrada dos portões de ferro, estava o Café Eros, com
suas paredes de tijolinhos, piso de pedras e floreira abrigando lírios e outras
flores. Perto das escadas, azaléias. Para a época natalina, ela cobriu as mesas
com toalhas vermelhas e as distribuiu ao redor do pátio. As cadeiras também
tinham o assento em vermelho, compondo o visual.
O total de assentos internos e externos acomodava, confortavelmente,
umas 24 pessoas e os ambientes eram aconchegantes feito uma sala de estar.
Ela oferecia boa comida, bom atendimento e pães doces que faziam homens
feitos chorarem de deleite.
As paredes, pintadas em tons de ocre, eram cobertas com antigos
pôsteres de jazz e gravuras de casais abraçados, pintadas à mão. Na parede
atrás do caixa, havia um mural de parede inteira de Gabriel Dampier, o pirata
que tornara o local famoso com suas explorações.
As mesas internas eram pequenas e também possuíam toalhas vermelhas.
Grandes ventiladores pendiam do teto e um espelho comprido cobria a parede.
Durante o dia, os clientes desfrutavam da música de Etta James, Dizzy Gillespie
e Louis Armstrong. Durante as festas natalinas, Chloe colocava música ao vivo.
As portas ficavam abertas e as janelas tinham cortinas de renda, permitindo
que os clientes pudessem olhar a rua enquanto jantavam.
52
Para a época de festas, Chloe colocou luzinhas brancas ao redor das
janelas nos fundos do café e montou uma árvore de Natal com enfeites e laços
vermelhos.
Seu café era tudo para ela, que cuidava dele com todo esmero, da mesma
forma que fazia com a comida que preparava. A comida que fazia com que as
pessoas esquecessem de suas preocupações.
Os pãezinhos doces desmanchavam na boca. Os clientes suspiraram,
pensando em manhãs de domingo de café-da-manhã na cama, ao lado de um
bom amante.
Seu café era encorpado, cheiroso, um chamariz que fazia as pessoas
entrarem só pelo aroma.
Gente sozinha que conversava, fazia amizade, contatos.
Nada dava mais prazer a Chloe do que ver os que eram sozinhos voltarem
a ser completos.
O cara do número 10 parecia ser sozinho.
Sua curiosidade ficou mais aguçada ainda, e ela acomodou madame Alain
na mesa junto ao balcão, em caso de algum cliente entrar. Ao servir o croissant
e o café à vizinha, Chloe foi direto ao assunto.
— E então?
— O nome dele é Jean Castille, mas todos o chamam de Jack. Ele tem um
sotaque sexy, sabe? Nasceu e foi criado em Bayou Gravois — contou madame
Alain, em tom de conspiração, mesmo não havendo mais ninguém no café.
— Descobri do garoto que entrega os jornais que ele fez a tatuagem
quando estava no serviço militar — disse Chloe, também sussurrando.
Madame Alain deu uma mordida no croissant, tomou um gole do café e
continuou:
— Laura Sue, da lavanderia, falou que ele é tira. Ele levou uniformes da
polícia de Nova Orleans para serem lavados e passados lá,
Mas ninguém podia lhe dizer o que provocava aquela expressão nos olhos
escuros e profundos.
Isso era missão de Chloe. Bem, uma das missões. A primeira era seduzi-lo
até sua cama, onde poderia descobrir como era a outra metade de seu corpo
magnífico, oculta pelo jeans desbotado e apertado.
Era essa era a razão dos envelopes vermelhos.
Ela deixou madame Alain e foi para trás do balcão, entrando na cozinha
enfumaçada e quente. Ligou o ventilador e mexeu a sopa que estava
cozinhando há uma hora. Em breve, os clientes chegariam para o jantar, junto
com o turno da noite.

53
Voltando ao lado de fora, ela quase morreu de susto. Jack Castille estava
no balcão. Ele havia mudado de roupa, camiseta branca e bermuda de uma
calça jeans cortada, moldando as coxas musculosas.
Chloe olhou para madame Alain, que lhe deu um sorrisinho. Olhou para o
sino acima da porta, depois para ele.
— Desculpe, não ouvi a campainha.
— Sem problemas, não estou esperando há muito tempo.
Por um instante, ela saboreou o sotaque suave da voz, que invocava algo
inquieto dentro dela. Ela sorriu e esticou a mão.
— Chloe Matthews.
Lentamente, o homem se aproximou e pôs a mão na dela.
— Jack Castille.
O contato direto com aquele olhar a enervou. Ela, Chloe Matthews, uma
mulher que não temia nada. Ou quase...
Aquele cara a atraía com um tom hipnótico que ela jamais sentira antes.
Os olhos dele eram absolutamente lindos, de outro mundo.
— Moro aqui há tão pouco tempo e já ouvi falar desse lugar.
— Ouviu?
— Aham. Disseram-me que você faz a melhor sopa gumbo da Louisiana.
— Ela faz, mesmo — intrometeu-se madame
Alain. O homem se virou para a senhora e sorriu.
— Bonjour, madame.
— Bonjour, monsieur Castille.
— Por favor, me chame de Jack.
— Chamarei.
Jack olhou de volta para Chloe e o impacto daqueles olhos foi
impressionante.
— Você não é cajun — ele a olhou de cima a baixo. — E certamente não
parece mon père.
— Seu pai? O que ele tem a ver com o gumbo?
— Em Acádia, cozinhar é coisa de homem. Cozinhar o primeiro gumbo
enquanto os amigos estão jogando bourree, um carteado cajun, bem, é feito
um ritual de passagem.
— Talvez algum dia eu venha a provar sua sopa, sr. Castille.
— Talvez prove — ele sorriu com um charme malicioso. — Pode me chamar
de Jack.

54
— Só se você me chamar de Chloe.
— Chloe... — disse seu nome delicadamente.
Perto dele, a moça pôde perceber o castanho ardente dos olhos de Jack e
a barba por fazer.
Sorriu para ele, que piscou. Ah, o cidadão esperava que ela fosse reagir
como um coelho assustado? Chloe não se assustava com tanta facilidade...
— Sente-se. Vou buscar um prato de gumbo.
Ele agarrou-lhe o punho num movimento rápido. Levou a mão de Chloe
até os lábios e beijou a palma. Por dentro, ela havia virado geléia.
— Vou ficar em uma mesa lá fora.
Jack largou seu pulso e ela ficou ali por um instante, sentindo um
formigamento na boca. Isso só a fez imaginar que prazeres carnais
aguardavam a mulher ousada o bastante para se declarar para ele.
Tudo à sua hora.
Ela acenou a cabeça, virou-se e entrou na cozinha.

Chloe Matthews o provocou, admitia Jack, dando um gole no café. Mas


ficou fascinado por aquela mulher. Pelos olhos verdes sensuais. Pelos cachos
ruivos. Chloe não se intimidara. Ela parecia mais um garoto travesso!
Parecia uma criatura recém-saída de um jardim encantado. Jack estava ali
há apenas duas semanas, mas já a vira em sua pequena horta na varanda, o ar
inebriado pelo cheiro de alecrim e tomilho. Já havia sentido o aroma dos pães,
croissants e doces que Chloe assava bem cedo, antes que ele saísse para o
trabalho. Já vira a forma como a moça tratava a todos no condomínio. Ansiava
pelo toque daquelas mãos habilidosas.
Sentira o cheiro dela ao se aproximar do balcão, tão perto que poderia tê-
la beijado.
Desceu as escadas e escolheu uma mesa próxima às azaléias.
Daquele ponto, ele tinha uma boa visão da Court du Chaud. Seu olhar
recaiu sobre a porta de casa. Passou o dedo no alfinete de Papai Noel que fora
usado para prender o envelope vermelho.
O perfume dela era parecido com o cheiro adocicado impregnado ao papel
que ele tirara do envelope. O cheiro ficou nas pontas dos dedos.
Aquele versinho escrito com tinta prata e uma bela caligrafia disparou a
sua libido, deixando-o excitado.

Gosto de vê-lo
Gosto de te olhar e de pensar em fazer coisas loucas contigo
55
Estou ávida para experimentar novos desejos e fantasias proibidas.

Foi assinado simplesmente como "A Duende Sexy do Papai Noel". Seu
membro remexia e enrijecia só em pensar nos desejos e fantasias proibidas.
Chloe surgiu em sua mesa quase em um passe de mágica. Mas ele sabia
que foram os pensamentos maliciosos que o haviam distraído.
Ela colocou a tigela de gumbo fumegante diante dele. Debruçou à sua
frente para servir um cesto de pãezinhos, encostando-se a Jack para pegar os
talheres que estavam do outro lado da mesa. A mulher sorriu ao lhe passar os
talheres.
— Aproveite, Jack. Depois, me diga o que achou do meu gumbo. Se não for
tão bom quanto o de seu pai, minta.
Jack olhou para seu rosto e viu o coração ali, refletido. Só conseguia
pensar em agarrá-la pela cintura e pô-la no colo. Empurrar sua ereção pulsante
no calor daquele corpo provocante e macio. Absorver um pouco da suavidade
que ansiava para ter nele, no fundo de sua alma.
Desviou o olhar e pegou os talheres, forçando o sorriso charmoso para
esconder o que sentia por dentro.
— Ah, doçura, por você, eu minto.
— Talvez você não precise.
— Tal vez não.
— Aproveite sua refeição e, quando terminar, a sobremesa do dia é creme
brülée. Também ofereço algumas guloseimas que estão no baleiro, sobre o
balcão.
Sua voz rouca o fez pensar em que tipo de guloseimas poderia oferecê-lo.
O calor dela, o sabor de sua pele...
Ela passou a língua nos lábios e Jack a imaginou passando sobre seu
corpo, a lambida molhada provocando uma ereção imediata.
O ronco de uma motocicleta o fez desviar o olhar de Chloe. Um
motoqueiro de botas de couro desceu o descanso da "máquina".
Depois, deu uma olhada para a casa de Jack. Jack o chamou e ele veio em
sua direção. Chloe ficou observando. Ela viu o motoqueiro se aproximando, e
assim que chegou, o homem tirou o capacete. Chloe suspirou, olhando. Era
incrível a semelhança com Jack. O sujeito tinha os mesmos cabelos escuros, só
um pouco mais compridos. Tinha a mesma pinta de durão, mas com um ligeiro
toque de perigo. Também parecia precisar ser confortado. Chloe notou isso.
— Eu atendo — disse Tally, passando rapidamente pela patroa. Chloe
observou a garçonete cumprimentar efusivamente o homem, que só podia ser
irmão de Jack, e indicar a mesa onde estava sentado.

56
Tally entregou o cardápio ao novo cliente e Chloe sentiu as emoções se
remexendo por dentro.
Imaginando de onde teria vindo a sensação, ela olhou as três pessoas à
sua frente. Jack e o irmão conversando e Tally, ocupada, limpando uma mesa
próxima.
Encolhendo os ombros, Chloe voltou à cozinha para preparar o creme
brülée. Assim que a cobertura da sobremesa caramelizou, a moça pegou o
prato e voltou à parte de baixo do café. Ao se aproximar da mesa de Jack,
percebeu que os ombros dele estavam tensos, enquanto falava com o irmão.
— Não gosto disso nem um pingo a mais do que você, Chris. Acho que
seria bom você entregar isso à polícia. Devia saber disso, também já foi
policial.
— Certo. Mas agora sou detetive particular e faço as coisas do meu jeito.
— Eu sei, porém, quando algo está além da sua compreensão, você
deveria admitir.
— Detesto concordar com você, mas acho que está certo.
Colocou o prato diante de Jack.
Virou-se para o irmão e o homem sorriu para ela. Ah, que fantástico, os
mesmos olhos, os mesmos lábios apetitosos. Porém, se Jack parecia ser tão
certinho e cumpridor de regras, Chloe tinha a sensação de que seu irmão
estava pronto para infringi-las.
— Christien Castille.
— Chloe Matthews.
Tally se aproximou e colocou uma tigela de gumbo diante dele.
— Chloe, meu irmão disse que você faz o melhor gumbo da Louisiana.
Ela sorriu para Jack e voltou o olhar para o irmão.
— Por que você não experimenta, Christien? O sujeito mergulhou a colher
e levou a sopa até a boca. Chloe notou Tally babando por ele.
— Mon père não vai gostar disso — suspirou Christien.
— Eu jamais iria querer que mentissem para o pai de vocês, mas, nesse
caso, acho que devem essa.
— Não vou ser eu quem vai contar — disse o recém-chegado, brincando.
— Nem eu — concordou Jack.
— Aproveitem a refeição. Foi um prazer conhecê-lo, Christien.
— Igualmente.
Tally ficou ali parada. Chloe a pegou pelo braço e a levou para longe.

57
— Era para você ter ido embora há vinte minutos. Você não tem um bico
hoje, no The Blue Note?
— Oh, não! Vou me atrasar — desesperou-se ela, olhando no relógio.
— Obrigada, Chloe.
Chloe a seguiu rumo à cozinha.
— Christien é bonito.
— É? Não percebi.
— Tally, você não tirou os olhos do homem desde que entrou.
— A beleza dele não tem nada a ver com o motivo de meu interesse —
respondeu a garçonete.
— Por que está interessada, então?
— Madame Alain me disse que ele é detetive particular.
— E daí?
A garota remexeu o avental até que Chloe segurou suas mãos e desfez o
nó para ela.
— Não tenho notícias do meu irmão há dias.
— Tally, sinto muito.
— Pode não ser nada, mas estou um pouquinho preocupada.
— Provavelmente não é nada. Você sabe que ele está andando com
aquele pessoal de música.
— Eu sei, você provavelmente está certa. Olhe, preciso ir. Até amanhã.
Ela saiu correndo da cozinha e Chloe a seguiu. Do topo da escada,
percebeu como Christien seguiu a linda Tally com o olhar.
O homem estava terminando a sopa quando Chloe voltou à mesa. Eles
estavam puxando as carteiras para pagar a conta.
Jack ergueu a mão.
— E por minha conta. Christien concordou e levantou.
— Eu te vejo mais tarde. Adieu, Chloe.
— O creme brülée estava fantástico — elogiou Jack, enquanto Christien
ligava a moto.
Chloe ficou toda prosa.
— Obrigada...
— Tenha uma boa noite.
O vizinho caminhou até sua casa e sumiu lá dentro. O anoitecer vinha
caindo sobre Court du Chaud. Logo tudo seria tomado pelas luzes de Natal.

58
Chloe veria as luzinhas nas janelas, os galhos de árvore cheios de enfeites. Ela
pegou as tigelas vazias e foi para a cozinha.
A campainha da porta tocou. Chloe pôs a cabeça para fora da cozinha.
— Oi, Anna. Pronta para o turno da noite?
— Claro que estou, você pode ir.
Chloe tirou o avental, juntou os outros que haviam sido postos no armário
ao lado da porta e saiu pela cozinha.
— Chame, se precisar de mim.
— Chamarei, mas vá. Você parece cansada.
Ela sorriu suavemente, notando a preocupação cuidadosa de Anna. Antes
de Chloe deixar o café, ela ligou as luzinhas pisca-pisca para iluminar as
janelas do lado de dentro, a varanda, e o corrimão da escada.
— Não dormi bem ontem à noite — disse a patroa, ao seguir rumo à porta,
esbarrando em Claire Braden, vestida impecavelmente, como sempre.
— Oi, Chloe.
— Oi, Claire. Estava querendo lhe convidar para se juntar a Josie Russel e
eu para ver o desfile do Mardi Gras. Está interessada?
— Sim, agradeço por me chamar.
— De nada. Eu ligo passando os detalhes. Apenas deixe o seu número com
a Anna, no balcão.
Vendo sua vizinha entrar no café, Chloe pensou em como era ótimo que
finalmente Claire tivesse encontrado sua cara-metade. Ao chegar ao pé da
escada, Randy Schneider, grande cavalheiro que era, esperou-a passar antes
de prosseguir.

CAPÍTULO DOIS

— Olá — disse ela.


Randy respondeu, com sua voz melodiosa.
— Boa-noite, Chloe.
Ótima química entre o Randy e a Claire. Tem muito potencial ali, pensou
Chloe. Ela atravessou a praça até o caminho de tijolinhos que fazia parte da
Court du Chaud e parou um instante a fim de admirar a beleza da árvore de
Natal ali no centro. A tradição fazia com que Chloe se sentisse em casa. Seguiu
cantando "Jingle Bells", até chegar em casa.
Já em casa, ela jogou os aventais na máquina de lavar e a ligou.

59
Chloe se trocou e vestiu um short vermelho e um top preto. Fez um rabo-
de-cavalo e entrou no banheiro para encher a banheira. Enquanto isso, foi à
varanda regar as plantas.
Depois de tudo, passou o resto da noite fazendo a contabilidade do café. A
imagem de Jack insistia em surgir, então, desistiu por volta das onze horas e foi
para a cama.
Porém, ficou virando de um lado para o outro, sem conseguir tirar aquele
homem da cabeça. Após desistir, ela saiu da cama e caminhou até a janela do
quarto.
A moça pôde ver seu rosto perfeitamente, sentado no banco em frente à
sua casa, sem camisa, com a tatuagem sobre a pele bronzeada.
Com a lua banhando os cabelos, ele parecia um anjo sombrio, perigoso.
Um perigo que a chamava, tentava. Um perigo que a deixava com água
na boca. O calor serpenteava por seu sangue, correndo rápido pelas veias.
Queria algo além de confortar aquele sujeito. Queria se ligar a ele em um
nível que nem tinha certeza qual seria. De uma forma tão profunda, tão real,
que a deixava assustada.
Ela apertou o rosto no vidro e se forçou a respirar lentamente. Estava
ansiosa.

Jack suspirou quando a brisa fresca soprou sobre a pele e olhou a lua, ao
alto. O café estava escuro e quieto, mas havia um cheiro de canela no ar.
Tivera aquele sonho novamente. Esfregava o rosto para se livrar das imagens
horríveis. Seu único fracasso. Tentara salvar a todos, todas aquelas almas em
sua consciência, o sangue em suas mãos.
Ele se virou e esfregou a parte de trás do pescoço. Culpa e dor surgiram.
Naquela época, Chris fora suspenso da polícia por ter esbofeteado um réu
no tribunal. O réu concordara em não prestar queixa, mas insistiu que Chris se
retratasse publicamente. Ele se recusou. Jack percebeu que Chris havia feito
aquilo por estar desiludido com um sistema que, com muita freqüência, agia a
favor do criminoso. Jack se recusava a sair. Jamais desistira de algo na vida.
Claro que fora obrigado a consultar um psicólogo, porém, ele não deu
todas as respostas certas, mesmo quando suas vísceras se retorceram. As
mortes sempre pesariam na consciência. Seu olhar desviou até a varanda de
Chloe, para as plantas que havia ali. Ele a viu regando-as mais cedo, as mãos
suaves tocando as folhas, enquanto movia a boca.
Jack achava tão encantador o fato de ela conversar com as plantas! Ficou
imaginando o que dizia.
Viu um movimento na janela, a percepção de policial deixando escapar
muito pouco. Então Chloe também não conseguia dormir!
60
Teria ela colocado o envelope embaixo de sua porta? O cheiro era dela.
Que diabos! Por que simplesmente não admitia? Queria que fosse ela.
Não seria inteligente. Uma mulher como aquela iria querer mais do que
ele estava disposto a dar. Soube disso instintivamente. Mas que droga, inte-
ligência não fazia parte da história agora. Inteligência estava o mais distante
possível.
Jack ouviu uma porta se abrir e Chloe saiu de casa. A moça olhou para ele,
que respirou fundo e se recostou no banco.
— Oi! Não conseguiu dormir? — perguntou ela, baixinho.
Ela sorriu. Não havia nada de incerto naquela mulher e ele gostava. Era
tão delicada com seus cabelos ruivos alourados caindo pelo pescoço!
— Não, e você? — respondeu Jack.
— Não.
— Preocupações?
Chloe concordou, observando seu rosto, como se pudesse lê-lo, como a
um livro aberto. O vizinho se virou, preso àquele olhar mágico e terno tão
acolhedor. Ele não revelaria seus segredos tão facilmente assim. Sua carreira
na polícia de Nova Orleans estava tão longe dali, daquele lugar charmoso... Era
para isso que Jack trabalhava todos os dias. Era para protegê-la que ele arrisca-
va a vida.
Uma pontada de culpa, uma mulher caindo, os cabelos escuros espalhados
no asfalto. O rosto se apagando.
— Você está bem?
Ele tentou relaxar, como se isso fosse fácil.
— Muito bem.
— Por um instante, você pareceu estar pensando em algo terrível.
— Deve ter sido ilusão de ótica por causa do luar. Em algum lugar
próximo, ouvia-se a voz de uma mulher que cantava uma melodia adorável.
Chloe acenou a cabeça apontando para o centro da praça.
— É Tally. Às vezes ela canta, quando volta para casa, depois do trabalho.
E cantora no The Blue Note.
— É lindo, calmante.
— Você precisa ser acalmado?
Jack se virou para ela, que estava tão perto que encostou em seu braço.
— Ma mère costumava cantar para que eu dormisse, ou após uma
tempestade, ou um dia ruim.
Ela não mexeu o braço, nem se afastou.

61
— Que tipo de dia ruim?
— Geralmente depois de brigar. Eu sempre estava defendendo Christien
por provocar alguém.
— Então o ofício de policial deixa as coisas quites?
— Como você sabe que sou policial?
— Há poucos segredos aqui na Court du Chaud, sr. Castille. Sei, por
exemplo, que você fez essa tatuagem no Exército.
A ponta do dedo dela roçou sua barba por fazer e ele sentiu o membro
enrijecer, quente e forte. Aconteceu tão rápido que nem estava preparado.
Achou que tinha controle, mas a ânsia o tomou. Não conseguia fugir de Chloe
Matthews.
Ele pegou-lhe a mão e lentamente a levou até seu rosto. Com um tom
desafiador no olhar, beijou a pele suave da palma da mão.
Chloe suspirou baixinho, na noite quieta. Tally continuava cantando sobre
paixão e querer. Jack a puxou para perto dele e a abraçou.
Bem devagar ele começou a embalá-la.
— Esse era um ritual de passagem. Todos os caras do meu batalhão
tinham uma tatuagem.
A moça para ele e ele percebeu que ela queria algo, mas ele não sabia o
que era. Certamente parecia algo muito mais do que ele jamais seria capaz de
dar.
Não era o tipo de homem que transava e fugia, mas o que via nos olhos
ternos de Chloe o fazia querer partir feito um raio. Tinha contato com a
violência quase todos os dias. Era estranho estar tão perto dela. Temia que isso
pudesse contaminá-la.
Eles continuaram se embalando, mesmo depois que Tally parou de cantar.
No escuro, ele notou um vulto atravessar o pátio correndo.
— Chloe, é você?
— Sim, sou eu.
— Tem um minuto? — perguntou Tally, com um tom de desculpas na voz.
— Preciso ir — disse Chloe, baixinho, para
Jack. O vizinho concordou. Ficou observando ela abraçar a amiga.
As duas entraram na casa dela e fecharam a porta. Era hora de dormir um
pouco, ele pensou.

— Chloe, sei que é tarde, mas precisava te contar que meu irmão me ligou
há alguns minutos e está tudo bem.

62
— Que bom! Espero que você tenha pedido que ele ligue com mais
freqüência, para que você saiba o que está acontecendo.
— Pedi. Ele entendeu muito bem o recado.
— Onde ele estava?
— Arranjou um bico fora da cidade, mas é claro que não me disse nada.
Estou aliviada. Ele prometeu vir para o jantar de Natal. Bree e eu vamos
cozinhar.
Tally e Breanne haviam criado sozinhas o irmão. Em vez de ir para a
faculdade como elas queriam, o rapaz caiu na estrada, arranjando trabalho
com qualquer banda que estivesse contratando.
— Isso é ótimo. Sei que você e Bree atravessaram tempos difíceis
ultimamente. Seu irmão não precisa dar mais dor de cabeça.
Tally balançou a cabeça.
—Bem, mas não pude deixar de notar que você e Jack estavam... é... se
conhecendo.
— Ele é um homem muito intrigante.
— Por isso que você estava colocando o envelope na porta dele hoje de
manhã?
— Que flagra!
— Total!
— Estou entrando no espírito natalino e deixo presentinhos para ele. Sou a
"Duende Sexy do Papai Noel."
— Não sei, não, Chloe. Ele parece ser um conquistador. E o irmão também.
— Os dois precisam de carinho.
— Não sou muito de confortar os outros como você, Chloe. Já tenho muito
com que me preocupar. Não preciso do tipo de encrenca que Christien poderia
trazer.
— Talvez. Jack parece muito mais prático e Christien parece mais sensível
do que aparenta.
— Como é que você faz isso? — perguntou Tally, perplexa.
— Faz o quê?
— Decifra as pessoas tão bem?
— Tenho o que minha mãe chamaria de dom.
— Como ler a mente das pessoas?
— Não, exatamente, mas eu tenho "sensações" . Foi assim minha vida
toda, mesmo quando era criança.
— Tome cuidado com aquele homem, Chloe.
63
Agora vou deixá-la dormir.
Chloe levou Tally até a porta.
— Estou feliz por seu irmão. Até amanhã.
No entanto, era difícil se concentrar no sono, quando tudo em que podia
pensar era a sensação do corpo de Jack Castille junto ao seu. De perto, ele era
ainda mais arrebatador, a pele era sedosa, o cheiro inebriante.
Mas ainda eram seus olhos que a fisgavam. Ele fizera uma força imensa
para disfarçar a dor. O sorriso charmoso escondia algum segredo...

Pela manhã, Chloe levantou meio grogue e logo entrou no chuveiro. A


lembrança de Jack junto a ela na noite anterior deu asas à sua imaginação. Em
vez de suas mãos deslizando pelo corpo, eram as dele. E também a boca,
beijando seu pescoço, fazendo com que se sentisse totalmente deleitada. Ela
se contorcia embaixo do jato de água quente, as mãos segurando os seios,
escorregando por entre as pernas, encontrando o clitóris. Ela gritou
suavemente, fechando os olhos diante do prazer que tomava seu corpo ao
pensar nos dedos de Jack tocando-lhe.
Ela se recostou nos azulejos quentes e acariciou o próprio corpo,
massageou os seios, até explodir em um orgasmo forte e atordoante.
Depois que se secou e se vestiu, foi até a escrivaninha e pegou uma folha
de papel vermelho, com o envelope da mesma cor.
Escreveu um verso que acabou tomando duas páginas. Antes de descer e
abrir para o café, ela pegou outro alfinete de Papai Noel e pregou em sua
porta.
Assobiando uma doce melodia, abriu o café e entrou. Ao entrar na
cozinha, ouviu a campainha. Chloe largou os aventais recém-lavados que
trouxera de casa e viu Tally entrar na cozinha.
— Precisa de ajuda com os pãezinhos?
— Sim, mas você não precisava chegar aqui tão cedo.
— Eu Sei, mas não consegui dormir com todos os barulhos estranhos na
minha casa. Achei que podia lhe dar uma mão.
— Você sabia que dizem que sua casa é mal-assombrada?
— Claro que sei. Meu tio Guldry me falou sobre a assombração de
Dampier. Quando Bree e eu herdamos a casa, precisamos fazer uma porção de
obras para transformar dois cômodos na sala de estar, mas valeu a pena. Nós
queríamos morar na casa mal-assombrada mesmo.
— É sério?
— Claro, talvez eu encontre o tesouro e resolva todos os meus problemas.

64
Chloe riu.
— Você não tem medo do fantasma de Gabriel Dampier?
— Não, e se o vir, farei com que me conte onde enterrou todo o tesouro.
Elas riram juntas, enquanto Chloe media a farinha de trigo para os pães
doces do dia. Porém, os pensamentos de Chloe vagaram até Dampier. Pirata,
ladrão, esgrimista, comerciante ou salvador? A lenda de Dampier era muito
conhecida na Court du Chaud. Complexo por natureza, cheio de mistério, com
essa personalidade forte, ele ainda vivia como herói, dois séculos depois.
Foi o título de herói que conquistou para ele a entrada na cidade e seu
lugar em Court du Chaud. Por seu heroísmo na batalha de Nova Orleans,
durante a Guerra de 1812, o general Andrew Jackson cumpriu a promessa de
garantir que Jean Lafitte e seus correligionários, inclusive Gabriel Dampier,
fossem eximidos de todas as acusações criminais. No entanto, quando a so-
ciedade lhe deu as costas, ele empinou o nariz e construiu o que é hoje o Court
du Chaud. A história fazia com que seus moradores cochichassem sobre o
tesouro e as maldições de vodu. Chloe sempre especulou o motivo de sentir
aquela sensação ruim toda vez que passava pela casa de Tally. Talvez o
fantasma de Dampier realmente assombrasse Court du Chaud. Ela se per-
guntava o que o faria descansar.
O dia acabou sendo caótico, e às duas da tarde foi transmitida, ao vivo,
pelo rádio, a notícia de que um assalto estava acontecendo no MLS Bank &
Trust, no centro da cidade, e havia tiros. O locutor informou que a polícia
cercara o local, encurralando os ladrões do lado de dentro.
Chloe parou de mexer o jambalaya que estava cozinhando para o jantar.
Ela sentiu medo, porém teve a sensação de que não era a única.
Conforme a tarde transcorria, entre um cliente e outro, Chloe ouvia
pedaços de notícias, dos flashes que entravam ao vivo. Aparentemente, os
ladrões haviam tomado reféns e feito barricadas dentro do banco. No
momento, havia um impasse. O locutor relatava que um policial negociador
fora chamado.
Ela pensou logo em Jack.
Ao fim do dia, Chloe, exausta, deixou o café e logo notou que o envelope
vermelho ainda estava preso à porta dele. Inquieta com o desenrolar dos
acontecimentos, Chloe foi para casa e tentou se manter ocupada. Por volta de
nove da noite, ela desistiu e ligou no noticiário. Ficou sabendo que não houvera
progresso na negociação.
Quando foi para a cama, a situação ainda era a mesma. Pensou em Jack e
no estresse que ele devia passar em cada dia de trabalho. Não a surpreendia
que ele parecesse tão atormentado. Fez uma oração silenciosa pelo vizinho e
pegou no sono.

65
Pela manhã, antes de ir para o trabalho, ela assistiu ao noticiário e
descobriu que a situação continuara por toda a noite e agora já era o segundo
dia.
Enquanto trabalhava, Chloe ouvia o rádio e não mudou até a noite,
quando seguiu para casa e foi para a cama preocupada com Jack, novamente.

Jack massageava o pescoço ao passar pelo café Eros, o cheiro de sopa de


lagosta ainda pairando no ar, junto com o fermento dos pãezinhos. Seu
estômago rugia de fome. Uma brisa despenteou os cabelos e soprou as
cortinas do quarto de Chloe, que pareciam fantasmagóricas sob o luar. As
costas estavam rijas das horas que passara do lado de fora do banco tentando
negociar com os ladrões apavorados, decididos pela fuga. Ele os manteve
ocupados enquanto, há apenas algumas horas, a SWAT tentava — com êxito —
dominá-los. A adrenalina do resgate ainda pulsava em suas veias. Jack sabia o
quão facilmente as coisas podiam dar errado ao negociar com pessoas
desesperadas.
A vários metros de distância, viu o envelope vermelho pendurado em sua
porta com outro alfinete de Papai Noel. Suas preocupações subitamente
desapareceram e ele pegou o envelope.
Levou o papel ao nariz e cheirou. Dessa vez, não havia dúvida quanto ao
perfume. Era de Chloe.
Ele abriu o envelope, puxou as folhas dobradas e leu.

Fantasia em aquarela
Pensei em você hoje, no chuveiro, onde tive uma fantasia em aquarela.
Foi incontrolável. Minhas mãos ensaboadas deslizavam em vaivém pela minha
pele.
pensei em seus dedos suaves espalhados sobre mim, na beleza de suas
mãos grandes se movendo por lugares onde acariciei — minhas coxas, minha
barriga, meus seios.
Pensei em seu corpo poderoso junto ao meu, sua energia máscula se
fundindo à minha energia feminina.
Pensei em seu peito quente apertado em minhas costas, na boca ágil e
molhada na minha nuca. A sensação era fantástica, maravilhosa.
O calor da fantasia me fez derreter. De olhos fechados para saborear o
prazer, eu disse seu nome morrendo de desejo.
Pensei em seu rosto roçando no meu, sorrindo, gemendo. Lábios meus,
pensei, só meus.

66
Pensei em pegar seus punhos para saborear a pele macia dali. Seguir com
eles pela jornada sobre meu corpo que dá a sensação de ser parte do seu. É
como se fôssemos ligados por um fio que nos atrai um ao outro deforma
irresistível com uma força incontida e explosiva.
A promessa faminta de sua boca na minha me instiga a ir ao encontro dos
seus braços. O fogo ardente em meus mamilos só pode ser saciado pelo
contato com você, com uma satisfação intensa, doce.
Nossos corpos se tocam, minha maciez em sua rigidez- Seu nome sai
novamente de meus lábios em um sussurro doído. Jack.
Onde quer que esteja, você ergue a cabeça e sorri sabendo,
secretamente, de sua própria fantasia em aquarela, que pensei em você hoje,
no chuveiro.
A Duende Sexy do Papai Noel

Jack ficou ali por um instante, olhando as palavras eróticas. Um fogo ardia
em seu corpo e ele, instintivamente, voltou-se para a casa dela. É claro que as
janelas estavam escuras e não havia ninguém à vista. Eram três da manhã e
Jack não comia há 24 horas. Também estava com a mesma
roupa durante todo aquele tempo. Girou a maçaneta e entrou. Tirou toda a
roupa, totalmente excitado. Entrou no banheiro e ligou o chuveiro.
Entrou embaixo d'água, pegou o sabonete e tomou banho rapidamente.
Ele sentia a toalha felpuda passando na pele sensível, incapaz de deter a
energia que faiscava pelo corpo. Jack teve que parar por um momento para
recobrar o fôlego Ele foi para o quarto e vestiu um short cinza.
O corpo vibrava de desejo e ele ignorava aquela voz no fundo de sua
mente, dizendo-lhe que estava agindo como um descompensado. Tinha
certeza de que Chloe Matthews estava em sua casa dormindo, depois de um
longo dia no café. porém, ele não podia esperar até de manhã para vê-la. Não
podia esperar mais nem um minuto.

CAPITULO TRÊS

Ele esfregou o peito, onde havia um bolo de sentimentos alojado. A solidão


se intensificara e era sua própria culpa. Jack havia se distanciado da interação
humana. Fora um processo lento e doloroso.
Expulsando tais pensamentos da cabeça, voltou a atenção para Chloe e os
pedacinhos da charada que ainda tinha de desvendar para concluir sua
imagem sobre ela.

67
Levou alguns instantes para ir até a casa da moça. Ergueu a mão a bateu
na porta.
Alguns minutos após, a porta se abriu e lá estava ela. Toda descabelada,
com um olhar suave e nada surpreso.
Aquele vazio dentro dele doía e martelava forte. Chloe era tão feminina e
graciosa!
Ela não fazia seu tipo. De forma alguma. Geralmente, gostava de mulheres
curvilíneas, despreocupadas e de cérebros descomplicados, mulheres que não
quisessem nada além de uma boa briga nos lençóis. Ele não sabia o que Chloe
queria e, ainda assim, algo nela o atraía. O instinto lhe dizia que sua
curiosidade poderia ser perigosa mas o alerta não era forte o bastante para su-
perar a atração.
Todos os pensamentos voaram da cabeça quando ela tocou em sua nuca.
Sua mão estava macia e quentinha.
— Tem pensado em mim, Jack? — perguntou ela com a voz rouca, cheia de
promessas.
Chloe suspirou ao vê-lo com os cabelos molhados. A malícia surgiu no
rosto dele. Tinha um ar quase pecaminoso.
Vê-lo acendeu uma chama dentro dela, deixando-a faminta pelos lábios
colados aos seus, as mãos lentamente acariciando seu corpo nu, despertando
seu corpo com um toque ardente.
Ele a transportava a outra dimensão, onde as sensações eram fortes,
emocionantes. Jack, um homem rebelde e de aparência ofuscante, a deixava
sem rumo todas as vezes em que a olhava. O homem que escondia segredos
por trás da fachada de galanteador.
Chloe puxou-o para dentro de casa, fechou a porta e se viu contra a
parede, diante de 1,82m e 90 quilos de pura excitação.
A moça sabia que o que precisava era de contato físico. Chloe levou as
mãos aos bíceps e músculos tensos dos ombros.
— Calma, meu querido — disse ela.
— Calma é para depois. O que preciso é para já!
O coração dela bateu forte.
— Tire meu short, Chloe, ponha a mão aqui Ela levou as mãos aos quadris
dele e puxou o tecido macio de algodão. Jack não usava nada por baixo. Chloe
pegou sua ereção dura e acariciou.
O homem gemeu de prazer. Ele deslizou até as alças da camisola e puxou
uma de cada vez de seus ombros. O tecido sedoso escorregou pelo corpo
delicadamente. A mulher apertou os seios contra o peito musculoso de Jack.

68
As mãos dela ficaram ainda mais ousadas e o olhar de Jack parecia
entorpecido. Rumo ao meio das pernas dela, o homem pôs um dedo dentro de
sua umidade. Chloe se contorceu. Não satisfeito, ele pegou um dos mamilos e
chupou com vontade. As coxas dela pulsavam ávidas enquanto ele colocava e
tirava o dedo de dentro dela.
Ele a mantinha contra a parede, o corpo parecendo fogo. Chloe sentiu a
parede fria nas costas, mas seu foco estava em Jack, na fome que ameaçava
devorar os dois.
Jack se projetava contra seu sexo excitado, com investidas provocadoras
que a deixavam louca.
— Oh, por favor... — ela implorava.
Chloe gemeu alto quando ele a penetrou em uma única estocada.
Abraçou-a, acolhendo os movimentos profundos e suaves de seu corpo dentro
do dela.
Ele entrava e saía. As palavras eram ditas baixinho, em francês.
— Sim, Jack, mais forte.
O homem perdeu completamente o controle e ela notou a mudança nele,
forçando o corpo rijo de encontro ao seu, fazendo mais força a cada
movimento, e ela encurralada. Chloe gemia cada vez mais. As estocadas a
faziam gritar de prazer.
Ela foi sugada por aquele redemoinho feito uma boneca de pano,
entregando-se às sensações. Queria instigá-lo, derrubar os obstáculos e libertar
toda aquela dor contida. Ela olhava para seu rosto, voraz de paixão. De
repente, Jack gozou também, um orgasmo forte, esplêndido.
Por um instante, Chloe teve um vislumbre de seus olhos, repletos de um
prazer tão profundo que ela só pôde ver um instante. Ele mergulhou o rosto em
seu pescoço, aliviado. Chloe tentou erguer a cabeça para olhá-lo novamente,
absorver a intimidade, mas ele se recusava.
Ela o abraçou, sabendo que os sentimentos não eram só dela, e desabou
em lágrimas. As lágrimas não eram de dor, ou mágoa, mas de compaixão, uma
torrente que a purificava. Abraçando mais, ela deixou que o homem lavasse a
alma O sentimento a assustava. Era perigoso querer tanto alguém.
Jack secou uma das lágrimas com o polegar.
— Foi tão intenso! — foi tudo que ela disse. O amante a soltou.
— Lágrimas de mulher não me amedrontam Chloe. Quero descobrir todas
as formas que você tem de expressar a energia que vejo em seus olhos.
— Venha.
A mulher o pegou pela mão e levou para o quarto. Ele a deixou puxá-lo
para o colchão.

69
O policial ficou atrás dela, apertando-a contra o corpo, o máximo que
pôde. Suspirou baixinho, como se estivesse exatamente onde deveria estar,
onde era para estar. Chloe passou as mãos pelas costas dele, dando-lhe
beijinhos nos ombros.
Depois os dois dormiram e, pouco antes, ela acordou sentindo a língua
dele passando por seu pescoço. A boca seguiu rumo aos seios e o desejo a
tomou.
Deixou-se relaxar e desfrutar da deliciosa sensação que Jack provocava.
Aquilo a incapacitava de fazer qualquer coisa além de sentir sua língua no
mamilo, a forma como brincava com os dedos em suas costas.
Jack colocou a boca sobre um dos mamilos e o sugou suavemente,
mordicando de leve, enquanto ela sussurrava baixinho, ardendo em fogo, pela
ligeira dor que era tão excitante. Chloe abraçou sua cabeça de encontro ao
peito, balançando de prazer conforme ele segurava seus seios juntos e
colocava os dois mamilos na boca.
Estava tão sensível ao toque que, quando ele passou a mão por entre suas
coxas, precisou respirar fundo. Quase chegou ao clímax assim. Ela gemeu
profundamente quando ele pôs o dedo dentro dela. O policial murmurou algo
suavemente, e colocou mais um dedo, abrindo-a, deixando-a molhada de
desejo.
Sua mão habilidosa a acariciava com uma destreza suave, afagando-a
incessantemente, até que ela chegou ao ápice e gozou.
O tempo se arrastou e a noite, como um manto de prazer e febre,
transformou-se em amanhecer Chloe não soube quantas vezes ele a fez chegar
ao orgasmo. Jack era insaciável, voraz. Ele a levou mais longe do que jamais
imaginara chegar
O homem a segurava pelos joelhos, puxando suas coxas. Chloe se
projetava para acolhê-lo Com seu corpo maravilhoso e forte, ele a encurralou
embaixo. Os braços pousaram nos dois lados do rosto dela, e ele moveu os
quadris, colocando o pênis rijo e grosso bem no fundo.
Olhando fixamente nos olhos de Chloe, Jack a penetrava devagar,
deixando-a sentir seu tamanho, provocando-a.
Ela arfava, quase sem ar.
Antes que Chloe pudesse se acostumar com o prazer de ser totalmente
tragada, ele começou a se mover, com o corpo se mexendo sobre o dela
aumentando pouco a pouco o ritmo.
Jack deixou escapar um gemido abafado, do fundo da garganta, e tomou-
lhe a boca, beijando-a com uma paixão fora de controle que a pegou
desprevenida. Mergulhava a língua em sua boca, no mesmo ritmo do
movimento rápido e deslizante dos quadris que a penetravam. Chloe se
concentrou naquilo que ele estava lhe dando, na forma como fazia sentir seu
70
corpo tão vivo. A moça desceu os dedos até suas nádegas, apertando os mús-
culos que pulsavam, trazendo-o mais para dentro, e deixando o corpo se
render à entrega.
Os dois chegaram juntos ao orgasmo. Gemendo, ele inclinou a cabeça
para trás, em um movimento forte, o corpo retraído junto ao dela.
— Chloe... — o nome da moça foi dito com os dentes cerrados.
Jack ficou sobre ela alguns minutos antes de deitar ao seu lado. Quando
Chloe recobrou o fôlego, voltou-se para ele. Os cabelos negros estavam em
desalinho e contrastavam com o branco do travesseiro. O rosto estava sombrio.
A mulher se virou de lado, apoiando-se no cotovelo.
Gentilmente, tirou-lhe os cabelos úmidos da fronte e Jack abriu os olhos.
Ele pegou sua mão e a levou até a boca. Seus lábios macios a acarinhavam.
— Você quer que eu vá embora? — perguntou Jack. Chloe sorriu,
percebendo que ele não queria ir.
Notava a batida acelerada de seu coração enquanto esperava pela
resposta.
— Não. Você quer ir?
Ele a trouxe para seu peito musculoso.
— Não, não quero, Duende Sexy.
— Como soube que era eu? — assustou-se ela,
— Seu perfume... — o homem a beijou na testa. — Tenho uma confissão a
fazer.
— E qual seria?
— Eu queria que fosse você.
— Fiquei preocupada porque você não voltava para casa — confessou ela.
— Trabalhei na negociação dos reféns daquele assalto.
A respiração dele acelerou. Chloe logo voltou a se sentir nervosa.
— Estão todos bem?
— Sim.
Ela se virou e colocou as mãos sobre o peito dele, apoiando-se. Parecia
que ia perguntar algo.
— Agora durma. Vou fazer o café amanhã de manhã — disse Jack,
cortando qualquer tentativa dela de falar alguma coisa.
Chloe suspirou. Forçá-lo não o faria se abrir.
Aninhou-se nele e fechou os olhos, mas estava totalmente ciente de que
Jack demorou um bom tempo até pegar no sono.

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CAPÍTULO QUATRO

Jack acordou nos braços de Chloe. Estava toda enroscada nele, seu rosto
terno pressionado contra suas costas. Ele gentilmente mudou de posição até
que pudesse olhá-la. Ela continuava a dormir. Permaneceu olhando, pensando
jamais ter visto uma mulher mais em paz do que Chloe.
A vida ali era quase poética. Vinha de uma região mais caótica de Nova
Orleans, onde era necessário brigar na rua para sobreviver. Levados pela ilusão
de que poderiam tornar o mundo um lugar melhor de se viver, ele e o irmão
ingressaram na polícia. Christien fora um policial e tanto, mas o garoto não
tinha sido capaz de lidar com as regras exigidas pela lei. Se enfurecera com o
sistema, alegando que este ajudava mais os bandidos do que a polícia.
Jack sabia das falhas do sistema, mas ainda assim, era o sistema que
tinham. E detestaria sair.
Christien parecia ter se adaptado a ser detetive particular, mas Jack não
estava convencido de que o irmão estava contente agora que não era mais
policial. Achava que Christien não conseguira se desprender da antiga
profissão. O fato de falar com muitos de seus antigos companheiros do
departamento de polícia para obter as informações necessárias para seu
trabalho o mantinha em contato.
Chloe se mexeu e um cacho de seus cabelos caiu sobre o lindo rosto. Ele
esticou a mão e pegou, sentindo a maciez.
Ela abriu os olhos e sorriu ternamente. Jack se debruçou e beijou-lhe.
— Bom dia, bonitão! — disse a moça, ainda sonolenta.
— Você é uma daquelas que acordam com alegria matinal? — respondeu
ele, em tom de deboche.
— Receio que sim, senhor. Pulo da cama sorrindo e fico assoviando. Falo
também com os pássaros e as criaturinhas da terra...
Jack deu uma gargalhada.
— E contagioso?
— Pode ser. Se você ficar muito por aqui, acabará conversando com os
pássaros, igual a mim.
— Não seria nada mal!
O celular dele tocou e Jack se esticou por cima de Chloe para procurá-lo no
bolso do short.
— Alô? Chris, e aí?
Ele se recostou nas almofadas.

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Chloe saiu da cama totalmente nua e se espreguiçou. Deleitando-se com o
visual, ele correu os olhos pelo corpo dela. Ficou vidrado nas curvas de seus
quadris, a cintura fina, os seios arredondados, os suculentos mamilos rosados.
Ela se curvou e pegou um robe florido no chão. Enquanto o vestia, olhou-o por
cima do ombro e sorriu feito um anjo — uma contradição à pose sedutora.
— Jack? Jack!
— Desculpe, eu me distraí. O que disse? — perguntem ele, passando a
falar em francês.
— A Jolie está tentando ligar para você. Sabe como são irmãs caçulas.
Achei que estaria trabalhando na negociação dos reféns no banco. Você está
bem?
— Estou ótimo.
— Ligue para ela, está preocupada.
— Vou ligar.
— Você vai para o père na noite de Natal, certo?
— Pretendo. Vou levar alguém comigo — respondeu Jack. Ele não esperava
que isso saísse de sua boca, mas queria que Chloe conhecesse seu pai. Tinha
certeza de que Gerard Castille gostaria muito da moça.
— Vai? Teria ela os cabelos avermelhados e os olhos verdes mais belos do
planeta? — a mulher em questão saiu do banheiro. Ela prendeu os cabelos com
um pauzinho japonês, sorriu para Jack e beijou-lhe a testa ao passar pela cama,
deixando seu perfume suave pelo caminho.
— Teria... — respondeu ele, sentindo uma necessidade quase de homem
das cavernas de proteger a jóia que encontrara.
— Não me diga que está interessado, porque chegou tarde demais, irmão.
— Non. Estou de olho naquela linda garçonetezinha.
— Ela deve dar trabalho.
— Espero mesmo. Você deveria convencer Chloe a fazer seu gumbo lá e
père pode decidir se é melhor que o dele — o irmão cobriu o fone e Jack ouviu
uma conversa abafada. — Olhe, preciso ir.
— Está trabalhando?
— Sim, portanto, só o verei na noite de Natal.

— Estarei lã. Cuide-se.


Jack estava na cama de Chloe e levou um choque com o quarto. A roupa
de cama estava forrada com uma colcha verde-limão de seda, com um
cobertor macio de algodão, e lençóis confortáveis por baixo. A cabeceira da
cama de ferro onde estava encostado tinha o entremeado de flores; era

73
puramente Nova Orleans. Na mesinha, havia inúmeros cristais, uma boneca de
vodu de miçangas azuis e velas brancas que haviam queimado quase
totalmente. O aroma de lavanda prevalecia no quarto. Sua Chloe era uma
mulher metafísica. Seria outra faceta de sua personalidade a ser descoberta.
— Ei! Vai me fazer companhia na cozinha? Adoro conversar enquanto
cozinho — gritou a mulher, da porta.
Ele pulou da cama, percebendo os olhos verdes de sua amante acendendo
por dentro, ao ver seu corpo nu.
— Você é lindo.
Jack sorriu e depois gesticulou na direção da mesa.
— Teme maus espíritos?
— Não zombe. Acho que o capitão Dampier anda por aí à noite.
— Dampier? Ele está morto.
— Nem todo mundo ingressa na vida do além
— Chloe, fantasmas não existem.
— Esse existe e está sob uma maldição poderosa.
— Uma praga? Se está sob uma maldição, provavelmente é inofensivo.
— Quando o pressinto, não está sozinho. A sensação que tenho é de que
esse outro é... maligno. Então, tomo precauções.
— Você sente as coisas, tipo como uma médium?
— Percebi que você é cético, mas não pode negar que há energia no que
fizemos ontem à noite. No próprio ar que respiramos agora. Por que não
acreditar que o espírito existe após nossos corpos sucumbirem à morte?
Ele a pegou pela cintura e a sentou em seu colo.
— Não posso negar essa energia, Chloe. Mas maldições vodu?
— Não acredito que você morou no bayou e não acredita em maldições.
— Acho que as pessoas acreditam em tais coisas, porém, vivo no mundo
real e isso já é maldição o bastante.
Os olhos dela se encheram de ternura e Chloe pegou seu rosto.
— Quer falar sobre isso?
Jack sentiu a solidão e as dúvidas presas na garganta. O cheiro daquela
mulher, os olhos verdes mágicos, os cabelos sedosos, faziam-no querer se
libertar de tudo. Ele fechou os olhos para manter o controle. Não traria aquele
mal para dentro do quarto.
— Não é nada além de horror.

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O policial virou a cabeça e viu a pintura em cima da cama. Era uma
aquarela em forma circular. O fundo era azul-turquesa. Cores vibrantes se
misturavam no quadro, em um banquete para os olhos.
— O que é essa pintura? Chloe olhou para cima.
— Não tive mais tempo para pintar desde que abri o café. Ocupada
demais. O mesmo com o potpourri no canto de minha escrivaninha. Eu
costumava fazer a mistura e vender no café, mas agora não tenho tempo.
— Você fez esse quadro?
— Sim.
— Há alguma história por trás dele?
— Você está mudando de assunto, não é? São chacras.
— O quê?
— "Chacras" significa "roda" em sânscrito e corresponde aos sete aspectos
psicofísicos do homem.
— Como assim?
— Lugares no corpo. O terceiro chacra está localizado no plexo solar.
Ela tocou seu peito, delineando os músculos, como se a ponta do dedo
fosse perigosa para a pele.
— Corresponde ao elemento fogo, de cor amarela, e abrange aspectos
importantes como força de vontade, autoconfiança, formação de relacio-
namentos, identificação social e o ímpeto do poder e da realização.
— Como pode saber se esse chacra, em particular, não está funcionando
bem?
— Falta de autoconfiança, baixa auto-estima, descontentamento,
inquietação, emoções reprimidas...
Jack não queria entrar naquele caminho.
— Há um para o sexo?
Chloe riu baixinho.
— Era de se esperar que você se interessasse por esse.
— E então, há um?
— Sim, há. Tanto as mulheres quanto os homens têm um chacra básico,
onde toda a energia está concentrada. Para você, é o chacra um.
Jack ergueu as sobrancelhas.
— Pode apostar que é o número um. Sua mão trilhou até o abdome dele.
— Aqui — disse Chloe, acariciando sua barriga bem em cima dos genitais.
— E aqui.

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Descendo a mão até a sua coluna, ela respirou fundo.
— E aqui. Para mim, esse é o chacra dois, e está associado à água e à cor
vermelha.
O pênis de Jack se enrijeceu.
— Nenhum problema aí — disse ela, suavemente.
— Você já experimentou sexo tântrico?
— Não.
— Quer experimentar?
— Só há uma resposta para uma pergunta como essa.
Ela riu novamente. Levantou de seu colo e sentou no meio da cama. A
moça deu uns tapinhas no espaço à frente.
— Sente aqui e cruze as pernas.
— Vai abusar de mim? Chloe riu outra vez.
— Não, seu bobo — ela tirou o robe. Quando Jack se esticou em sua
direção, a mulher disse:
— Não, sem tocar ainda.
Ela se sentou em uma posição de pernas cruzadas.
— Isso se chama olhar com a alma. Diz-se que uma mulher pode gozar só
disso. Jack, me observe. Os olhos são as janelas da alma e podem transmitir
muita energia sexual.
— Chloe, não tenho certeza se sou a pessoa certa para isso.
— Não precisa ser, Jack. Apenas se abra para novas possibilidades. Olhe
nos meus olhos e deixe-me ver os seus.
— Dentro da minha alma?
— Sim, se você me permite.
Já que estava certo de que aquilo seria algum tipo de jogo sexual, ele
sorriu maliciosamente e concordou.
— Só aquele mmmmmmmm. Estou pronto!
Ela tentou conter uma gargalhada.
— É sério...
Por um instante, Jack a encarou, depois pareceu afundar, como se
estivesse indo nas profundezas de uma piscina esmeralda.
Uma força fluía dela e voltava. A energia dele encontrava a de Chloe e se
misturavam como cores vibrantes se misturam em uma tela, lindo de doer. Seu
corpo pulsava, o prazer corria pela pele, cheia de desejo.
— Chloe... — ele sussurrou, baixinho.
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— Olhe dentro dos meus olhos, Jack. Apenas olhe.
Sua ansiedade ficou ainda maior. Lutava contra a necessidade de tocá-la.
Porém, para honrar sua promessa, ele manteve imóveis as mãos e o corpo.
Olhou fundo e descobriu que ela era uma mulher generosa. Mulher de bela
alma.
As pálpebras de Chloe baixaram, a respiração ficou mais rápida. Ele vinha
em uma fúria implacável.
Os olhos da moça se arregalaram, as pupilas se dilataram. Chloe curvou as
costas, com os mamilos formando pontos rijos. Seu corpo inteiro pulsava com
muita força e Jack sentia todas as vibrações.
Ele fechou os olhos porque não queria gozar. O fato de estar tão perto do
clímax o surpreendeu.
— Droga! — murmurou Jack, buscando pela amante. Quando as mãos
deslizaram pelas coxas dela, Chloe gritou, indo na direção dele. Era uma
tempestade tropical, uma torrente.
Jack a puxou para debaixo de si ê não conseguia parar. Ele a beijava na
boca enquanto a penetrava, incapaz de deter a vontade louca de seu corpo de
satisfazê-la.
Ele se doava, o membro pulsante ia até o fundo dela, no calor molhado.
Um gemido escapou dele, quando o corpo se contorceu. A sensação das mãos
de Chloe em suas costas o fazia mover os quadris mais depressa, a pele estava
inacreditavelmente sensível.
— Chloe... É demais — os temores brotavam nos olhos feito uma luz
cegante que o fizeram cair para o lado.
— Não. Está tudo bem — ela murmurou. — Está tudo bem.
Abalado até o íntimo, ele a abraçou. Seu coração explodia junto ao dela, o
corpo tenso. Os medos se dissiparam. Não havia espaço para eles quando seu
corpo vibrava com sensações muito melhores. Quando ele a levou novamente
ao clímax, saiu da tempestade, glorificado, desesperado para ter mais.
Com o sangue pulsando na cabeça, seu corpo gritava pela explosão, e Jack
se lançava dentro dela impulsionado por sua carência sombria, buscando a
pureza da luz que via nela. Saber que aquela mulher podia curá-lo deixara-o
horrorizado.
Ele a preenchia cada vez mais fundo, mais fundo, levando-a até o ápice
final. Ao sentir Chloe se agitar, com o corpo tremendo, ele enfiou o rosto em
seus cabelos e a seguiu.
O cheiro do café-da-manhã acordou Jack e ele foi até a cozinha.
— Prometi te fazer café — disse ele, segurando-a pela cintura.
— Mas me dá muito mais prazer cozinhar para você.

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— Você não fica enjoada de cozinhar? Trabalhar sete dias por semana
naquele café deve deixá-la cansada.
— Na verdade, abri o café para poder cozinhar o tempo todo.
— Eu entro quando há uma situação crítica há reféns envolvidos. Do
contrário, é só rotina mantendo o posto.
— Não estou perguntando sobre os detalhes específicos do que você faz,
mas de como o faz
— O que quer dizer?
— Você obviamente surgiu em minha porta precisando... ser confortado.
— Eu queria você. Chloe sentou ao lado dele.
— Você acha que sexo não é conforto? É um alívio das tensões, claro.
Temos tensão sexual porém é mais complicado que isso.
— Chloe, tenho um psicólogo no trabalho Não preciso de uma em casa.
— Você fala com seu psicólogo?
— Não preciso. Lido com o que precisar lidar.
Os profundos olhos verdes brilhavam. Jack via dentro deles, percebendo
que Chloe enxergava até sua alma e conhecia cada nuance ali. Imaginou se ela
estaria tendo uma de suas intuições naquele instante. Não fazia diferença. Ele
não falaria sobre o trabalho.
Nada daquela coisa horrível pertencia a Court du Chaud. Fazia o que era
exigido dele.
Ela deu um sorriso pensativo e voltou ao fogo Por alguma razão
inexplicável, Jack se sentiu desolado. O que havia naquela mulher que o fazia
querer mostrar sua alma? Fazer brilhar aquela centelha nos olhos, e fazê-la
olhar para ele com a candura e o carinho da noite anterior, o abrir a porta.
Tornaram-se próximos, em apenas um punhado de horas. Era inquietante!
Ele empurrou sua cadeira para trás e se aproximou dela.
— Chloe, olhe, sinto muito, mas não quero falar sobre isso.
A moça concordou com a cabeça, porém não o olhou, e ele não agüentou.
Jack a virou à força.
— Não falo a respeito porque faz com que se torne real demais.
Principalmente aqui nesse lugar que parece um cartão-postal de Natal, com a
árvore no meio, seu café cheio de luz, o lugar cheio de vida.
A expressão dela era séria.
— As pessoas vivem suas vidas aqui, Jack. Não é fantasia. O que você faz
para viver também é real. Você não pode se esconder da realidade.
— Gosto das minhas ilusões, Chloe. A paz é algo muito difícil de ser
encontrado e eu me mu- dentro dos biscoitos da próxima fornada constariam
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pequenos lembretes com mensagens do tipo "vai ver se estou na esquina" ou
"seu zé mané".

Já era fim de expediente e Chloe saiu da cozinha para fechar a loja.


Vincent estava sentado em uma das mesas observando o mural do capitão
Dampier.
— Vincent, você ainda está aqui?
— Você não me disse que eu podia ir embora.
— Claro que pode. Obrigada pela ajuda — ela percebeu o temor do
rapazinho ao olhar a escuridão pelas janelas. — Você tem algum lugar para
passar a noite, Vincent?
— Posso ir para o abrigo.
— Tenho um quartinho nos fundos. Não é algo fantástico, mas está limpo e
tem uma cama. Eu uso às vezes, para descansar. Tem alguns livros, um abajur
e uma pequena TV. Você terá que usar o banheiro de fora para se lavar, mas
está disponível, se quiser.
— Posso? Obrigada, srta. Matthews.
— Pode me chamar de Chloe. Esqueci de perguntar. Você entregou o
almoço da madame Alain direitinho?
— Sim, ela fala francês.
— Fala sim. Você ficou fora por muito tempo.
— Ela me puxou para dentro da casa e falou até minha orelha cair. Fez
muitas perguntas.
Chloe sorriu.
— Você suportou bem?
— Sim. Ela quer que eu volte novamente, para conversar. É uma senhora
legal.
— Você comeu bem?
— É. Quer dizer, sim...
— Sabe, eu esqueci de embrulhar uns pãezinhos e vão estar duros de
manhã. Por que não os leva com você lá para trás?
— Obrigada, Chloe.
O garoto agarrou o pacote.
— Tem tudo que precisa?
— O abrigo me deu o necessário.
— Bom, até amanhã. Boa noite, Vincent.

79
— Boa noite, Chloe.
Ao passar pelo rapaz, ela teve um pressentimento. Olhou a pintura de
Dampier.
— Está a fim de me assustar? — ela murmurou para o quadro. — Boa
noite, capitão — disse Chloe, trancando a porta.
Na noite de Natal, Chloe dera a Josie sua caixa de biscoitos embrulhados,
ainda rindo pelas mensagens apimentadas que escrevera em cada um deles.
Josie ia matá-la.
Ela fechou mais cedo para se aprontar e encontrar Jack. Sentira sua falta
nos dois últimos dias. O policial fora chamado ao trabalho, mas prometera-lhe
estar de volta em casa a tempo de irem ver os pais e irmãos dele, em Bayou
Gravois.
Os dias ainda não estavam frios, então ela continuou a usar roupas leves.
Vestia uma blusa vermelha justinha e uma saia curta estampada, de um tecido
colante.
Quando estava dando os últimos retoques na maquiagem, ouviu uma
batida na porta. Ela abriu e cumprimentou Jack com um beijo. Eles logo
estavam tão fogosos que não puderam agüentar. As mãos dele agiram rápido
destruindo o penteado cuidadoso.
— Ei, Chloe, é hora de laissez le bon temps rouler.
— Deixar o que é bom rolar. Concordo.
— Você fez gumbo?
— Achei que deveria mostrar a ton père que estou no páreo.
— Ele adora desafios — Jack sorriu, pegando seu queixo com a mão
direita, passando o polegar pelos lábios. — Você está linda, mon couer. Meu
coração. Ele a chamara de "meu coração" Chloe se afastou, empurrando a mão
dele. Tinha que controlar muito a libido quando aquele homem estava por
perto.
— Ah, o que foi, benzinho?
— Pare. Não quero me atrasar e você já me descabelou. Ponha o gumbo
em uma tigela, enquanto arrumo a bagunça que fez.
Ela riu e Jack a beijou no pescoço.
— Vá se arrumar, então. Vou fazer o que você mandou. Mon père vai
querer minha cabeça se me atrasar.
Mais tarde, ao passarem pelo café, Jack perguntou:
— Como vai aquele garoto? Está dando trabalho?
— Não. Ele trabalha duro. Eu o deixei ficar no quarto dos fundos.
— No café, quando não está lá? Essa não é uma idéia muito boa, Chloe.

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Ao sentarem no carro, Chloe explicou.
— Acho que madame Alain está querendo adotar o menino. Está lhe
ensinando até francês! Além disso, todos acolheram. Quebra o galho do
pessoal também.
— O garoto tem um lugar para ir essa noite?
— Ah, existe um coração sepultado sob esse cinismo policial!
— Ele tem? — repetiu Jack. — Se não, podemos levá-lo conosco. Mais um
não será problema.
— Você chegou tarde. Madame Alain convidou Vincent para passar a noite
de Natal com ela, mas é muito gentil de sua parte oferecer.
— Gentil. Sei...
— Então, o que posso esperar essa noite? Espero que tenha dança por lá.
— Você não terá como escapar. Minha família abre o salão, arrasta os
móveis e todos têm que dançar.
Seguiram de carro às margens do Rio Mississippi.
— Há uma lenda que diz que os cajuns costumavam acender fogueiras ao
longo do rio — disse Jack. — Como faróis para guiar as visitas do Papai Noel
que vinha de piroga. E para iluminar o caminho dos fiéis que participavam da
missa de meia-noite.
— O que é uma piroga?
— Uma canoa cajun.
Logo estavam manobrando para estacionar na entrada de uma garagem,
diante de uma bela casa. Já lá dentro, Chloe foi inundada por abraços de gente
que ela não conhecia, mas riu e entrou no clima. Havia música alta tocando,
uma grande árvore de Natal estava armada e o resto da casa tinha uma
decoração esplêndida, com frutas frescas de inverno, guirlandas e folhas de
magnólia.
— A casa de seus pais é magnífica.
— Onde você anda, T-Jack?
Jack se virou ao ouvir a voz da mulher. Ela era maravilhosa. Cabelos e
olhos escuros, rosto bem delineado. Chloe logo ficou enciumada.
— Ah, minha Lili. Como anda, irmãzinha? Chloe relaxou os ombros
retesados.
— Jolie Castille — a mulher estendeu a mão. — Você só pode ser Chloe.
Jack me falou tudo sobre você.
— Espero que não tenha dito tudo — a curiosidade da irmã de Jack
arrebatou os sentidos de Chloe.
— Apenas que você acredita em fantasmas. Isso me assustou, sabe?
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— Fantasma? Que fantasma? — Christien intrometeu, dando um tapa nas
costas do irmão falando com ele em francês.
— Gabriel Dampier — Chloe foi novamente arrebatada pela semelhança
entre os dois irmãos O comportamento "não-tô-nem-aí” que tinham tomava
seus sentidos.
— Aquela velha lenda. Chloe, você deveria se envergonhar — disse
Christien, censurando.
— Por que está ainda com essa flor de garota na porta?
Um homem alto e magro, grisalho, era a cara dos filhos.
— O que tem nas mãos?
— Gumbo! — ele olhou para o filho. — Você fez isso para mostrar ao père,
T-Jack?
Jack sorriu.
— Non, mon père, Chloe que fez.
— É bom, pai — disse Christien.
— Verdade? Melhor que o meu?
— Precisa experimentar — incentivou Jack olhando para Chloe e dando
uma piscadinha.
O pai de Jack conduziu Chloe até a sala de estar. Abaixando a música, ele
anunciou para a sala toda o motivo de estar querendo ofuscá-lo. A sala inteira
caiu na gargalhada. O senhor então a tomou pelo braço e levou até a cozinha,
onde um panelão preto estava sobre o fogão. O cheiro era divino.
Ele pegou a tigela plástica das mãos da moça e jogou o conteúdo dentro
de uma panela, depois acendeu o fogo. Quando estava quente, pegou duas
colheres. Nesse ínterim, a família inteira também apareceu na cozinha. Chloe
estava orgulhosa por ter usado uma farinha escura, misturada com manteiga,
que fora cozida por vinte minutos para uma consistência mais encorpada aos
pratos, chamada de gumbo. Era preciso muita habilidade para se obter o
ponto, mas Chloe se aperfeiçoara com o passar dos anos.
O velho homem provou o dele, depois o da "concorrente". Seus olhos
ficaram arregalados. Experimentou outra vez.
— // est meilleur que le mien. Le secret est dans les roux! Todos riram.
Chloe olhou para Jack.
— O que ele disse?
— É melhor que o meu e...
O patriarca da família deu um tapinha nas costas de Chloe.
— O segredo está na farinha — traduziu o pai de Jack.

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O ambiente ficou tão repleto de alegria que Chloe ficou desorientada. Um
sorriso largo se abriu em seus lábios.
— Bem, pessoal, está na hora de comer, depois dançamos! — convocou o
animado senhor.
Jack se inclinou e cochichou no ouvido de Chloe.
— Parece que você é uma cajun honorária. Ninguém jamais superou meu
pai no gumbo.
Exausta de dançar, com a barriga cheia de comida e cerveja, Chloe sentou
para a tradicional abertura de presentes. Ela orgulhosamente presenteou o pai
de Jack com uma caixa com motivos bem alegres e o incentivou a abrir. Ao
fazê-lo, o homem deu um tapa no próprio joelho, rindo tanto que o rosto ficou
vermelho. Segurou o vidro com a farinha caseira para que todos pudessem ver.
Eram quase nove da noite quando voltaram à casa de Chloe. Já lá dentro,
Chloe voltou do quarto com um embrulhinho.
— Feliz Natal, Jack.
Ele tirou o papel de presente. Era uma pedra retangular amarela e marrom
dourado, com uma cordinha preta — um olho-de-tigre.
— É uma pedra muito poderosa de proteção.
Ela equilibra as emoções e ajuda a limpar a visão. Achei que seria perfeito
para um policial negociador de reféns.
Seu coração revirou no peito. A mulher, a quem conhecera há apenas
alguns dias, tornara-se muito importante. O fato de aceitar o que ele fazia sem
contestar, sem tentar mudá-lo, era um presente precioso. Fez com que o
instinto protetor emergisse dentro dele. Faria tudo que pudesse para proteger
sua inocência e o espírito autêntico.
— Obrigado.
— Diga-me... porque você se tornou policial? Chloe tirou o cordão de
dentro da caixa e pôs o amuleto no pescoço de Jack.
— Quando eu tinha 6 anos, um homem invadiu nossa casa para roubar.
Meu pai foi ferido e minha mãe foi morta.
O homem notou os olhos dela se encherem de água. Sua Chloe, de
coração mole!
— Oh, Jack... — respirando fundo, ela passou os braços ao redor da cintura
dele. — Sinto muito — sussurrou a moça.
Ele puxou sua cabeça com mais força para junto de si e cheirou seus
cabelos perfumados.
— Foi há muito tempo, porém eu queria fazer algo para proteger as
pessoas. Sei que não posso proteger o mundo, mas, pelo menos, faço a minha
parte.
83
— Você não precisa dizer mais nada, Jack. Já entendi tudo.
Como poderia ter tanta sorte a ponto de encontrar uma mulher que o
compreendesse totalmente?
Chloe afastou o rosto, encharcado de lágrimas.
— Agora, onde está o meu presente, sr. Castille?
Jack riu, abraçando-a.
— Em sua varanda.
— Ah, é?
Pegou-a pela mão e a levou pela escada, até o outro andar.
Ele empurrou as portas do quarto para abri-las, revelando o cheiro de terra
das plantas, o banco de madeira entre as folhagens, um mini-oásis dentro de
uma cidade movimentada. Seu presente estava no meio da varanda, com uma
bela vista, para o Rio Mississippi. Era um cavalete com uma tela branca, tintas
novinhas sobre uma mesa de mosaico e uma banqueta de madeira.
A moça se virou para ele, uma princesa de contos de fada sob o luar
branco, os cabelos emanando fogo, os olhos verdes acesos de paixão e prazer.
Talvez fosse a mágica do Natal, talvez fosse seu coração genioso, mas ele
estava em queda livre, sabendo, sem qualquer dúvida, que aquela mulher era
sua. Não sabia de onde vinha o sentimento. Apenas sabia que Chloe era o seu
par perfeito.
Jack a amava.
A força cegante do desejo o fez buscá-la, tirar tudo que vestiam. Os seios
dela eram alvos, com doces mamilos cor-de-rosa a provocá-lo. Os olhos eram
de um verde repleto de carinho.
Ele mergulhou na alma da moça até se afogar.

Chloe estava submergindo nas fontes profundas e escuras daquele


homem malicioso. Ele era alto e musculoso, os cabelos negros caindo sobre a
pele bronzeada. A mágica da noite se espalhava ao redor dos dois, a energia
dos corpos criava uma força implacável. Força sexual, a força do amor.
Ela o amava.
Uma brisa fresca soprou, passando suavemente sobre seu corpo,
empurrando-a para os braços dele. Chloe o levou ao banco e pôs uma colcha
em volta de Jack.
— Chloe... — disse ele, com a voz cheia de volúpia.
— Daqui a pouco, Jack... Ela queria pintá-lo com toda aquela energia e
poder irradiando na noite. Na noite mais mágica do ano, quando o amor
pulsava do céu e as pessoas comemoravam em todos os lugares. Ao olhá-lo, as

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cores se formavam em sua mente e Chloe as colocou na tela, pintando quase
em um estado de transe.
A carência dele parecia pulsar, seu coração batia alto, o desejo carregado
de paixão. Um azul limpo misturado ao prata, demonstrando proteção e
honestidade. A escuridão que ele trazia por dentro, um verde-escuro, que a fez
andar até ele confortá-lo, porém a pintura a consumiu até esgotá-la.
Sem nenhuma palavra, Chloe andou até o banco e subiu em seu colo. Sua
boca se fundiu à dele, quente e molhada. A moça pressionava os seios
ansiosos junto à boca de Jack e gritou quando o sentiu se entrelaçar nela.
Chloe puxou o ar com força, diante da invasão bruta, e ele deu um gemido
longo e baixinho. O homem investia contra ela, o corpo retesado e trêmulo. Ela
agarrou seus ombros e logo pegou o ritmo.
Jack passava a língua nos mamilos, enlouquecidamente. Penetrava-a,
porém, devagar, de maneira provocante.
Chloe agarrou os cabelos dele, abrindo os lábios, querendo mais, e ele
obedeceu. Jack sugava e ela sentia maravilhas. A mulher não conseguia parar
de tremer devido ao desejo que despertara dentro dela, onde Jack a preenchia,
inteiro, pulsante. Ela se movia contra ele, com mais força, mais rápido, e quase
desmoronou com a torrente que levou a um orgasmo intenso.
Jack soltou um gemido de entrega, depois agarrou os quadris dela,
balançando-a para cima, geneticamente, sobre seu membro grosso. Chloe o
abraçava, segurando o mais próximo que podia enquanto o corpo dele
começou a tremer em longos espasmos, profundos e poderosos.
Quando passou, os dois se desmancharam um no outro, braços e pernas
entremeados. Estavam exaustos demais para se mexer. O ritmo louco dos
corações era tudo que Chloe podia sentir. Aquele aparente lapso infinito de
tempo, aquela conexão tão profunda entre os dois era tudo que importava para
ela.

CAPITULO SEIS

O celular de Jack tocou e Chloe saiu de cima dele, pondo a colcha ao redor
dos ombros. Ela o seguiu até o quarto, onde ele pegou a calça jeans e tirou o
telefone.
— Castille falando — disse Jack. — Já estarei aí — o policial virou-se para
ela e começou a se vestir. — Sinto muito, Chloe, preciso ir. Ligo logo que puder.
Ele beijou-lhe a boca com um ruidoso estalo, e se foi. Chloe caminhou de
volta até a tela, as cores vivas sob o luar. Viu Jack correndo até o carro e ouviu

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o motor sendo ligado, perturbando a noite ainda silenciosa. O luar enfraqueceu
e, ao olhar para cima, notou uma nuvem envolvendo a luz prateada.
Algo perigoso pairava no ar. Chloe se arrepiou.

Algo terrível acontecera. Ela olhou o relógio na mesa de cabeceira e achou


que devia ter dormido umas duas horas. Jogou os cobertores para o lado e logo
sentiu o ar frio. A lua estava totalmente encoberta agora e a temperatura caíra
significativamente. Vestiu-se rápido, no escuro. Tinha que ir até o hospital.
Tinha de ir até lá.
Um caos completo reinava quando Chloe irrompeu pelas portas do pronto-
socorro. Observou os inúmeros rostos. Passou por dois policiais que discutiam
com um homem algemado. Havia bombeiros por toda parte. Chloe procurava
por Jack e finalmente o viu sentado em uma maça, no corredor. Seus olhos
estavam fechados e a cabeça recostada na parede. A moça percebeu que a
manga da camisa dele estava ensangüentada. Seu coração veio à boca.
— Jack! — ela chamou, aproximando-se do homem.
O policial abriu os olhos e pareceu, por um instante, não a reconhecer.
— Como soube que eu estava aqui?
— Eu simplesmente soube. Eu precisava ter certeza de que você estava
bem. O que houve?
— Um cara dispensado do programa de treinamento de bombeiros achou
que, se pegasse alguns bombeiros como reféns, eles poderiam reconsiderar.
Começou um incêndio em um prédio e quando eles apareceram, o sujeito os
pegou.
— O cara algemado?
— Sim. Fui persuadi-lo. Um dos bombeiros entrou em pânico e eu o
empurrei, tirando do caminho. A bala pegou no meu braço.
— E por que ele está no hospital?
— Atraquei-me com o cara no chão e tomei-lhe o revólver. O sujeito ficou
com uns hematomas por causa da briga. Cortou o olho e acharam que tinha
quebrado um braço. Está aguardando para fazer raio-X — ele sorriu, segurando
o braço. — O que você está fazendo aqui?
— Não se mexa. Vou arranjar alguém para lhe dar algo para a dor.
Jack a segurou firme pelo pulso.
— Não, Chloe, vá para casa.
— Não vou para casa com você precisando de mim.
— Não preciso. O médico está ocupado com outros casos mais sérios.
— Não vou embora, Jack. Ele apertou mais seu punho.

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— Esse não é o tipo de ambiente para você, Chloe. Agora ouça: vá para
casa.
O homem algemado passou pelos dois, com ar de ódio. Chloe fechou os
olhos como se pudesse apagar a cena. Mas a realidade era tão horrenda
quanto as palavras do homem, tão terrível quanto as dúvidas que se
acumulavam em Chloe.
— Vou arranjar alguém...
— Não! Que droga, Chloe! Vá embora, agora. Não há nada que você possa
fazer por mim além de atrapalhar.
As lágrimas brotaram no fundo dos olhos dela diante do tom áspero. Jack
estava ali sozinho sem ninguém para ajudar e queria que ela fosse embora.
Como Chloe poderia ir se estava profundamente apaixonada por aquele
homem?
— Por que não me deixa ajudar, Jack?
— Agradeço que se importe, mas não posso deixá-la aqui. Volte para Court
du Chaud. Você não precisa ver isso.
— É disso que você tem medo? Que eu seja exposta a isso? Sou mais forte
do que pareço e não sou do tipo de pessoa que dá as costas para alguém que
precisa.
— Está certo, Chloe. Você é a grande ajudante de todos! A boazinha! Não
pode tirar um tempo para você mesma?
— O que quer dizer com isso?
— Você se doa a todos. Quando vai se dar conta de que isso a desgasta?
— É assim que você passa cada um de seus dias? Desliga suas emoções?
— Não estamos falando de mim.
— Não, vamos falar de você. Você sufoca as emoções e elas te comem
vivo.
— Esqueça esse assunto, Chloe. Você não vai querer saber do lado negro.
— Sim, eu quero. Será que não entende? Eu te amo. Quero saber de tudo.
É tudo ou nada, Jack.
— Então é nada — respondeu ele, desviando o olhar. Chloe ficou ali,
assimilando as palavras.
— Você não pode estar falando sério. Depois de tudo que tivemos... Não
pode estar.
— Não posso falar sobre isso com você nem ninguém. Volte para casa, já
disse.
Chloe saiu correndo do hospital e Jack sentiu como se fosse ter um
colapso. Simplesmente não podia contar nada. Se falasse, seria horrível. Em

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vez disso, ele a protegeria e a faria entender quando chegasse em casa. Faria a
moça ver que seria melhor se ela não fizesse parte daquele mundo.
Chloe se recusou a derramar uma lágrima sequer, a caminho de casa. Ao
chegar lá, resolveu trabalhar em algo que distraísse os pensamentos, como
fazer um potpourri. De repente, percebeu a batida na porta. Viu Jack entrar.
— Chloe, preciso falar com você.
Ela passou pelo homem e saiu, pensando em sair de carro, mas uma
movimentação em seu café chamou-lhe a atenção. Não deveria haver ninguém
ali. Chloe mudou de direção, subiu as escadas e destrancou a porta.
Ao abri-la, viu-se face a face com Vincent. Ele estava diante de seu cofre
arrombado, apontando uma arma para ela com a mão direita e segurando um
maço de notas com a mão esquerda.
— Chloe, você tem que ouvir o que eu...
Jack nem terminou a frase, ao perceber a situação. Ela o sentiu se mover e
quando olhou para trás, viu que ele havia puxado o revólver.
— Vincent, abaixe a arma! — ordenou Jack.
— Não! — gritou Chloe, com o coração disparado.
O moleque estava roubando a loja, depois de tudo que fizera por ele!
Chloe estava cara a cara com seus próprios temores. A quem queria enganar?
— Vincent, pegue tudo e vá embora. Se é isso que quer, vá em frente.
— Chloe!
— Não, Jack —- disse ela, tocando seu braço e fazendo com que ele
baixasse a arma. Virando-se para o garoto, que tinha uma expressão de al-
guém pronto a passar mal, ela repetiu. — Vá, leve! Não vale a pena. Não vale a
pena morrer por isso.
— Desculpe... — disse Vincent, com a voz falhando. — Mas achei que você
ia me mandar embora.
— Por que pensou isso, Vincent?
— Ele. Ouvi quando Jack falou sobre mim. Eu ouvi. Estou cansado de
passar fome. Sou grato pelo que fez por mim, Chloe, mas fiquei com medo de
voltar para a rua novamente.
A moça se afastou de Jack.
— Vincent, eu não ia mandá-lo embora. Jack é policial e é natural que
suspeite de estranhos. Só estava tentando me proteger. Por favor, abaixe a
arma e tudo ficará bem. Não precisamos voltar a falar nisso.
— Chloe, não... — gritou Jack, por trás dela. Ela se aproximou e estendeu a
mão. Naquele momento, tudo que reverberava na sala era medo.

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Chloe andou até Vincent. Milagrosamente, o rapaz colocou a arma na mão
dela.
— Desculpe, Chloe...

Jack ficou ali, enquanto Chloe falava com Vincent, baixinho. O policial
pegara o revólver e descobrira que nem sequer era de verdade. Seu braço
latejava no mesmo ritmo do coração. A adrenalina das últimas seis horas
subitamente o deixara exausto.
Chloe foi até a mesa onde Jack estava sentado.
— Isso foi assalto a mão armada, Chloe. É crime.
— Nem era uma arma de verdade, Jack.
— Não faz diferença. Nós achamos que fosse real.
— E se eu não der queixa?
— Já que roubo é um crime contra o indivíduo, não há muito que eu possa
fazer por você se não der queixa.
— Jack, ele estava assustado. Eu só quero esquecer esse incidente.
Ele concordou.
— Concordo com você e parte disso foi culpa minha. Sinto por ter
amedrontado o garoto. Não parece que Vincent lhe causará mais problemas.
— Obrigada por me deixar lidar com isso.
— Você estava certa. Eu não havia lhe dado crédito suficiente.
— Ajudei minha mãe a criar quatro crianças, Jack. Sei o que significam
sofrimento e dor.
Ele ficou quieto por um instante. Depois, perguntou:
— Você ainda planeja ir ver sua família no Natal?
— Sim. Estarão me esperando ao meio-dia, para um almoço de Natal.
— Ainda quer que eu vá com você?
— Isso depende, Jack.
— De quê?
— De você.
Jack a olhou por um segundo, sabendo o quanto se sentia idiota,
principalmente após o incidente.
— Sinto muito pelo que fiz no hospital. Agora percebo que não posso
protegê-la de tudo e de todos. É difícil admitir isso para mim mesmo. É isso que
estive guardando. Tentei salvar uma mulher e sua família, uma certa vez, e

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falhei. Foi muito duro aceitar aquelas mortes. Acho que cometi uma falha e
causei a tragédia.
— Você só pode fazer o que dá para fazer. Agora também percebo isso.
Quando Vincent estava com aquela arma apontada para mim, pensei que nem
de longe havia feito tudo que queria Abri mão de muita coisa por causa do meu
café as pessoas em Court du Chaud, mas você está certo. Preciso de ajuda.
Esse negócio cresceu de mais. Preciso tirar umas férias. O homem pegou as
mãos dela.
— Eu te amo, Chloe. Vamos começar isso já!
— Sim, vamos.

E os dois se deram uma folga naquela tarde — para beber e brindar,


comer presunto de Natal e todos os petiscos na casa de sua irmã, cercados de
gente que significava tanto para Chloe.
Na noite anterior, enquanto atravessavam a praça rumo à casa de Chloe,
ela riu quando Jack parou de caminhar e sorriu, lentamente.
— Há outro envelope vermelho em minha porta.
— Parece que sim.
— Acha que é da Duende Sexy do Papai Noel?
— Eu não tiraria conclusões precipitadas.
O policial tomou-lhe a mão e foi até a porta. Arrancou o alfinete de Papai
Noel. Cheirou o papel vermelho.
— Tem o perfume da mesma ajudante!
Jack puxou o papel do envelope e leu as palavras silenciosamente, mas
Chloe conhecia o poema de cor.

Amor elementar

Terra: tons de esmeralda, de tranqüilidade.


Renovando a si mesma.
Uma vez tocados pelo amor,
Nós também nos tornamos sólidos como ela.

Água: tons de safira, de flexibilidade.


Há poder na maciez.
A vitória está abrindo caminho.

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A água, como o amor, busca todas as portas.

Fogo: tons escarlate, de fome.


Alterando da avidez ao frenesi.
Até uma paixão reluzente, de coração cheio de calor.
Afago transforma a emoção em amor.

Ar: tons prateados, de enigma.


O amor compartilha o segredo da invisibilidade.
Sussurra a nossa emoção,
O coração torna divino o mistério.

Chloe

Com os olhos ternos e repletos de amor, Jack se aproximou.


— Você pode traduzi-lo em um quadro, para mim?
— Já pintei, vou te mostrar.
Jack apertou a mão dela antes que a moça desse mais um passo.
— Feliz Natal, Chloe.
— Para você também, Jack.
Ele a pegou nos braços e a puxou para bem perto. Assim permaneceram
por um tempo, no ar perfumado. O policial a levou para sua casa.
— Mostre-me depois. Venha, cher, venha para minha cama.
Chloe, cheia de amor, seguiu para a casa de Jack e fechou a porta.

No dia seguinte ao Natal, Chloe deixou que Jack abrisse a loja. Mas, ao
chegar, ela encontrou todos de Court du Chaud já lá dentro. De alguma forma,
já sabiam dos acontecimentos. Madame Alain, sem dúvida. Tally estava atrás
do balcão, os pães doces já estavam assados. Josie Russel pegou Chloe pelo
braço e a fez sentar. Depois, Jack entrou com um ar convencido.
— Foi você! — acusou Chloe.
— Sim. Contei a todos o tesouro que podiam ter perdido ontem.
Ele se acomodou na mesa, enquanto Tally os servia.

91
— Pãezinhos e café para todos, Tally. Por conta da casa — anunciou Chloe.
Ela se aproximou de Jack dando uma mordida no doce, e deu uma piscada para
a garçonete.
— A garota está aprendendo — disse a dona do Café, dando um gole no
café-com-leite. — Acho que poderei fazer minhas aulas de ioga, com mais
freqüência.
Chloe pegou o rosto dele com as duas mãos, sentindo uma onda de amor
tão forte que era quase impossível respirar.
— Eu te amo, Jack Castille. Você e toda a sua família — sussurrou ela,
quase sem voz. — Amo muito!
Acariciando-lhe os cabelos suavemente, ele a olhava, com um sorriso de
parar o coração. Estão, Jack baixou a cabeça e a beijou na frente de todos.
Seus vizinhos, os amigos, a família dela — todos aplaudiram.
— É isso que importa, cher — Jack sussurrou. — Isso que importa...

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3ª História:

ASSINADO, SELADO, SEDUZIDO


Jeanie London

CAPÍTULO UM

Ma chérie,
Você se superou com sua performance sexy ontem à noite. Não consigo
tirá-la da cabeça. A forma como você arrancou o vestido, mostrando esse
corpo lindo... Foi demais. E depois você tirando a meia-calça, suas mãos
deslizando pelas pernas, me provocando... Você me enlouqueceu de desejo.
Vê-la tocando as partes mais íntimas, então, me deixou muito excitado...
Je t'ai regardée. Je t'ai désirée. Maintenant je veux te toucher.

La veille de Noel
Número 16
Court du Chaud

Josie Russel releu a mensagem do cartão de Natal. Acordara cedo e o


encontrara na sua porta. O envelope vermelho tinha seu nome escrito em
letras garrafais na frente, com caligrafia adulta bem cuidada. O cartão era de
bom gosto, do tipo que um homem refinado escolheria.
Um homem — o homem que, por acaso, fora seu vizinho do outro lado do
condomínio. Era a versão já crescida do garoto por quem ela tivera uma queda
na adolescência.

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Ele colocara o cartão na caixa de correio de Josie durante a noite, em
algum horário após suas cortinas se fecharem, depois de mais um strip tease
em frente à janela aberta do quarto.
A da noite anterior não fora a primeira performance de Josie. Havia
semanas que ela fazia aquele jogo de sedução que incitava seu belo
espectador a deixar cartões e presentes em sua porta.
Em uma manhã, ele enviou um CD de músicas eróticas e uma correntinha
para a cintura, com elos de ouro feitos à mão, entremeados de diamantes, com
um pedido para que dançasse. Em outra vez, mandou um conjunto de óleos
perfumados com um abajur Tiffany, e um pedido para que se satisfizesse sob a
luz da penumbra.
Ele se recusava a permanecer no papel de espectador e Josie corria os
olhos sobre a caligrafia forte e familiar, enquanto desfrutava de um certo
prazer proibido nas palavras.
Je t'ai regardée. Je fai désirée. Maintenantie veux te toucher. Eu a
observei. Eu a desejei. Agora eu quero te tocar. Ao menos, era isso que ela
imaginava estar mencionado no cartão. Sem dúvida, o homem também
lembrava do quanto seu francês era horrível. Podia ter deixado a família em
Court du Chaud há mais de dez anos, mas não havia esquecido do esforço que
ela fez para aprender a língua quando não era nada além da irmã caçula de
seu melhor amigo.
Talvez ele pensasse que Josie finalmente havia aprendido a língua. Afinal,
era nascida e criada em Nova Orleans, e dez anos era um tempo e tanto. A
moça crescera bastante durante aqueles anos. Assim como Max LeClerc. O
garoto que ela paquerou por tanto tempo era um pedaço de mau caminho,
com os cabelos louros e os profundos olhos azuis.
Vendo a assinatura, Josie se deixou levar pelo profundo impacto das
palavras, prazer pelo qual se recusava a sentir culpa. Pouco depois, ela co-
meçou a fantasiar sobre Max, assim que tinha idade o bastante para saber o
que era fantasiar.
La veille de Noêl. Noite de Natal.
Max inconscientemente incentivaria sua fantasia ao se render à atração
que surgira inesperadamente entre eles, desde seu regresso para casa. Ele
queria levar o flerte incomum à frente naquela noite — a noite de Natal.
Eu a observei. Eu a desejei. Agora eu quero te tocar. Josie também queria
que ele a tocasse... Ela sempre adorou o Natal, mas desde que aquele
misterioso presenteador a salvara das férias solitárias, quando tinha 16 anos,
Josie nutria uma paixão pelo Papai Noel secreto. Jamais descobrira de quem se
tratava, porém, achava que o destino estaria fazendo Max enviar os cartões e
presentes agora, um Papai Noel não tão secreto assim, o que só podia dizer
que os dois estavam fadados a viver aquela fantasia. E o tempo estava
acabando. Ele dissera a um vizinho que deixaria o local logo após o Natal — ou
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seja, no dia seguinte.
Com tal pensamento, Josie resolveu tomar café. Passou pela cozinha,
seguiu pelo corredor e pegou o casaco e a bolsa. Colocou o convite natalino de
Max dentro do bolso, apanhou a pasta e trancou a casa, com um plano de
ação.
O convite de Max mudara tudo, e Josie tinha preparativos a fazer para
honrar seu pedido com estilo.
Ao sair no clima quente fora de época da manhã de dezembro, a moça
sorriu ao ver a linda vista que a recebeu. Court du Chaud.
Sobrados coloniais cercados por um pátio aconchegante, distante do
movimento do bairro francês de Nova Orleans. Há apenas algumas quadras da
Jackson Square, o Court du Chaud, o condomínio da moda, ligava as pessoas à
cidade movimentada por um portão de ferro forjado e uma viela.
Todos os moradores de lá sabiam das origens daquele pátio histórico. As
lendas corriam soltas por Nova Orleans — principalmente a do capitão Gabriel
Dampier.
Cerca de dois séculos antes, o pirata fanfarrão garantira seu lugar nos
arquivos locais como fornecedor da aristocracia da cidade com produtos não
tão legais, evitando as taxas altíssimas do governo sobre as mercadorias. Ele
construiu a Court para si e sua tripulação, a fim de descansar e se divertir.
Porém, perdeu o crédito junto à alta sociedade por se envolver com uma
donzela.
O capitão, no entanto, deixara para trás o seu legado na Court du Chaud,
que ainda mantinha viva a especulação sobre tesouros ocultos, maldições de
vodu e casas mal-assombradas. Josie nasceu e cresceu ali, mas, naquela
manhã, as conhecidas fachadas de tijolinhos e cercas de ferro margeando os
gramados bem cuidados pareciam repletas de promessas e com mais frescor.
A moça fechou o portão do quintal e seguiu até a viela. Atravessou o pátio
de um café ao ar livre, passando por mesas forradas com toalhas vermelhas
festivas. O Café Eros ligava sua casa ao Quarter. Uma mistura perfeita de dois
mundos, passado e presente, particular e público... não, Josie se corrigiu,
público, não. Acolhedor.
Chloe Matthews, proprietária do café, era uma mulher que se dava bem
com todos e agora Josie precisava da ajuda da amiga no preparo de sua noite
de Natal para seu convidado especial.
Uma campainha anunciou sua entrada. Chloe logo acenou para ela do
balcão. Abrindo caminho por entre as mesas, Josie olhou para o mural do
capitão Dampier na parede, o pirata que mantinha viva a história do local. A
dona do estabelecimento não era apenas uma anfitriã e amiga acolhedora,
mas uma mulher de negócios sagaz.

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As manhãs eram sempre caóticas no Eros. Josie observava os clientes...
um homem de negócios mergulhado na seção de economia do jornal, Claire e
Randy, das casas 12 e 13 com uma bandeja de pães doces... Um dos mais
novos moradores da Court du Chaud estava sozinho em um canto — o homem
moreno, de aparência perigosa, do número 10.
O novo vizinho não parecia notá-la, provavelmente nem notaria uma
parada do Mardi Gras se esta passasse em frente à sua porta e estacionasse
diante do café.
Ele estava ocupado demais olhando para Chloe.
Contendo uma gargalhada, Josie pensou em mexer com a amiga sobre o
cara do
— Biscoitos gostosos, hein?
Chloe pareceu um tanto sem fôlego para convencer Josie de que estava
bem alerta quanto ao homem que a observava.
— Não pode reclamar dos negócios por aqui.
— Eu nunca reclamaria disso. E nunca conheci ninguém tão louca por
Natal como você.
— Como louca? — Josie largou a maleta e se debruçou sobre o balcão para
dar uma boa olhada na vitrine. Mmm. Como sempre, todos os tipos de
guloseimas de alta caloria. — Acontece que o Natal é o meu feriado favorito.
— Essa parte eu já entendi. Você está me fazendo cozinhar desde o Dia de
Ação de Graças.
— Isso parece uma reclamação, mas vou perdoá-la se me der uma xícara
desse café francês aromatizado.
Chloe foi até cafeteira e serviu a amiga. Dando o primeiro gole, Josie
decidiu dar uma folga à amiga. O número 10 claramente a deixava com os
nervos à flor da pele.
— Preciso que você faça mais um trabalhinho — disse ela.
— Oh, meu Deus! O que será hoje? Bolinhos de mel para o seu chefe ou
mais bombas de chocolate e amêndoa para madame Alain? Que, por sinal, está
me enchendo a paciência para saber a identidade de seu "amigo oculto".
— Você não contou nada, não é?
— Claro que não, confidencialidade de cliente.
— Padres, advogados, confeiteiros... Minha nossa! O mundo vai acabar
com tantas confissões!
— Tem certeza de que Nana LeClerc não se importará que você tome o
lugar dela tão depressa?

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— Absolutamente não — Josie era amiga da avó de Max, que foi embora
para fazer faculdade. Ela ficou triste com a morte de Nana, acontecida
recentemente. — Estou continuando a tradição em sua homenagem.
— Nana LeClerc era uma doçura, nunca se metia na vida dos vizinhos,
igual a madame Alain.
— Você sabe que madame Alain é tão doce quanto ela. Só é solitária.
Perdeu o marido, de-o0is o velho Guidry e agora a Nana. É a única idosa que
resta em Court du Chaud. Nana aprovaria, certamente.
— Se está dizendo... — Chloe balançou os ombros. — Então, o que vai
querer? E, por favor, não me diga que quer bengalas doces listradinhas. Dão
muito trabalho e não tenho muito tempo no momento.
— Nada de listrinhas. Trata-se de um pedido especial. Lembra daqueles
biscoitos que costumava fazer para que Nana mandasse ao neto, os
biscoitinhos com as mensagens? Quero daqueles. Só que os meus teriam
mensagens sexies e formatos assim... eróticos.
Chloe ergueu as sobrancelhas.
— E para quem você vai mandar isso?
— Para o cara do 17.
— O neto de Nana?
Josie concordou com a cabeça.
— A última coisa que soube foi que ele havia voltado para cuidar das
coisas dela, após a morte. Parece que você anda me escondendo o jogo, Josie
Russell...
— Parece que o roto está falando do esfarrapado, Chloe Matthews. A
menos que o cidadão ali da mesa esteja disfarçando muito bem.
— Shhh!
Josie deu uma risada que fez o homem de negócios erguer os olhos por
cima do jornal. Chloe fez uma cara feia.
— Parece que precisamos marcar um encontro.
— Tudo bem. Vou colocar na agenda. Depois do Natal, sim? Vamos
convidar Claire também. Ela está toda lânguida ali na mesa. Tem certeza de
que não está colocando afrodisíaco no café?
— Não era você que estava me falando sobre a mágica do Natal?
A mulher riu.
— Ok. Vou esperar por todos os detalhes, mas você precisa me dar algo
para me contentar até lá. O que está havendo?
Dando um gole no café, Josie pensou na melhor forma de responder.

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— Desisti do Max. Não apenas porque ele estava me tratando feito uma
estranha, sendo que fomos praticamente criados juntos, mas porque não veio
em casa se despedir de Nana antes de sua morte.
— Josie, você disse que ele tentou. O homem estava do outro lado do
mundo quando você falou com ele por telefone.
— Quando falei com a secretária dele. Ninguém fala com Max LeClerc hoje
em dia sem passar pela "tropa de choque". Se não fosse por Nana e a seção de
negócios do jornal, eu não saberia nada a respeito dele.
Depois da faculdade, Max caiu no mundo em busca de fortuna. Agora, já
rico, viajava por todo o planeta, com um estilo de vida que estava a anos-luz
da bucólica Court du Chaud. Josie não se importava com isso, mas achava que
devia ter arranjado mais tempo para a mulher que o criara.
A querida Nana falecera aos 92 anos, na santa paz, exceto pelo desgosto
de não ter visto o neto pela última vez. Porém, a raiva de Josie por Max dera
lugar a uma preocupação, ao vê-lo no enterro. Pareceu-lhe tão triste e...
solitário!
Ela disse a si mesma que estava sendo tola. O jovem Max, por quem tivera
uma queda, deixara tudo para trás ao partir para a faculdade. O Max, notícia
freqüente nas colunas de negócios dos jornais, crescera e se tornara um
homem ambicioso.
Aquele Max não seria nada que não quisesse, principalmente triste e
solitário.
Mas Josie também não esperava que aquele Max fosse lidar com os bens
da avó. Esperava que ele repassasse a tarefa aos subalternos, para entrar em
seu jato particular e seguir tranqüilo rumo ao céu azul.
Estava errada. Max a surpreendera ao voltar para casa, um mês após a
morte de Nana. Desde então não partira.
— Você perguntou ao cara o que houve? — perguntou Chloe.
— Não. Ele se enfiou na casa de Nana e tenho passado um inferno para
tirá-lo de lá.
— Então, volto a perguntar, como é que você passou de haver desistido a
mandar biscoitos eróticos no Natal ao cidadão? — ela baixou o tom de voz. —
Está tentando conquistá-lo?
Não estava a ponto de admitir isso no meio do café com clientes de orelha
em pé. Por isso, Josie apenas sorriu, misteriosamente, fazendo com que a
amiga interpretasse como um sim.
— E quanto à desavença entre ele e seu irmão? Josie contara a Chloe a
forma como, tempos antes, Max e seu irmão haviam sido bons amigos.
— Até hoje meu irmão se recusa a falar sobre a briga. O que quer que
tenha acontecido foi entre ele e Max. Não eu. Madame Alain me disse que Max
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vai embora logo após o Natal. Se não fosse por ela, eu não teria a menor idéia
do que está se passando. Já que Lucas não virá aqui por esses dias, não vejo
nenhum problema, não é mesmo?
— Então vai fundo, garota. Você teve uma queda pelo cara a vida inteira.
Parece que o Papai Noel te mandou o presente perfeito. Já era hora de fazer
algo divertido.
— Ah, com certeza! — uma noite com Max seria algo perfeito para se
distrair do trabalho de assistente social e de suas aulas em Tulane. — Posso dar
uma passada por aqui à noite, amanhã, para pegar meus biscoitos?
— Tudo bem. Mas só para esclarecer... você confia mesmo em mim para
bolar as suas mensagens eróticas?
— Pense de forma romântica e com bom gosto. Imagino que tenha dado o
nome de café Eros por um bom motivo.
— Você sabe o porquê — respondeu Chloe. — E não se esqueça da nossa
noitada, quero saber das fofocas.
Dando um último gole no café, Josie lançou um olhar ao homem do canto.
— Eu também.
Havia mágica em Court du Chaud nesse Natal. Ela sentia que sim.

CAPÍTULO DOIS

Número 17 Court du Chaud


Max ficou diante da janela olhando depois que Josie saiu. Mesmo sem a
pasta, o homem sabia que ela ia para o trabalho, a julgar pelas pernas
torneadas cobertas pela meia-calça, além dos elegantes sapatos e do casaco
alinhado. Ela parecia tão profissional e decidida! Um sorriso surgiu em sua
boca, ao tentar conciliar a garota que conhecera um dia com a mulher que
vinha fazendo jogos eróticos com ele.
Desde seu regresso à Court du Chaud, Max descobrira um bocado de
coisas sobre a mulher em que Josie se transformara. O fato de ela se tornar
uma bela moça não o surpreendera. O que surpreendia era uma beldade
daquelas ter a ousadia de ir atrás do que queria.
Ela o surpreendera mais ainda por querê-lo.
Max se lembrou da primeira noite em que olhou para o outro lado da viela
e a viu na janela do quarto. A escuridão do lado de fora o surpreendeu. Ele não
conseguia se lembrar quanto tempo se passara desde que subira as escadas

99
do quarto da avó para pegar seus pertences pessoais. O que achara era
profundamente íntimo. Em sua penteadeira, Max encontrou uma pilha de enve-
lopes amarrados com um laço dourado, o pape! amarelado pelos anos.
Cartas de amor de seu avô. A curiosidade sobre os avós o fez começar a
ler. Ele se perdeu nas vidas dos jovens amantes durante a guerra que os
mantivera separados.
Ficou naquele clima romântico até que uma luz suave surgiu do outro lado
da viela, iluminando Josie, uma visão inesperada de encanto que o arrastou de
volta à realidade.
A moça era apenas um vulto por trás das cortinas. À primeira vista, trazia
à tona uma vida inteira de história sobre fantasmas que assombrava o lugar,
mas aquela silhueta não era de fantasma algum. Ele logo reconheceu Josie, seu
corpo esguio, uma sombra em movimento ao redor do quarto, erguendo os
braços para soltar os cabelos e os sacudindo para trás.
Ele ficou ali sentado. Primeiro, estarrecido, depois deslumbrado pela visão
por trás daquelas cortinas, um tecido fino que não cobria tanto quanto
provocava. Max imaginava os cabelos brilhantes sobre os ombros, o desejo em
seus olhos.
Josie ficou diante de algo que ele supôs ser um espelho, escovando os
cabelos sedosos, prazerosamente, instigando-lhe pensamentos, fazendo com
que imaginasse como seria sentir seus cachos.
Ficou arrebatado pela intensidade de sua reação, pela forma como ela
emanava tanta promessa em um gesto tão simples, a cada escovada uma
jogada sensual de movimento e graça... Quando finalmente soltou a escova e
abriu uma gaveta para pegar uma roupa, ela o fez agarrar as laterais da
cadeira para se manter sentado, resistindo ao ímpeto de ir até a janela.
Depois, as cortinas foram balançadas pela brisa. Max viu Josie por
completo. Josie levantou os braços e tirou uma combinação fina, presenteando-
lhe com uma visão perfeita de seus seios.
Ele não podia ver detalhes a distância, não podia ver se os mamilos se
enrijeciam, mas a imagem o fez ficar parado onde estava, enquanto, a
esperava desligar a luz e concluir o show.
No entanto, Josie desabotoou a saia e começou a tirar as meias. Depois,
vestiu o shortinho sexy, oferecendo uma bela tomada de costas. Até en-
gatinhar na cama e apagar a luz, seu coração pulsava tão forte que Max achou
que fosse explodir. Ele deveria se sentir culpado por invadir a privacidade da
moça, porém tudo que sentia era tesão! Josie foi a salvação daquela noite, sua
salvação quando ele mais precisava. Daquele momento em diante, seus dias
começavam movidos pela expectativa de suas performances noturnas, es-
pantando a realidade do que sua vida se transformara — vazia.

100
Mas ler as cartas dos avós e se envolver com Josie o fizera questionar a
solidão que vinha sentindo há tanto tempo.
Agora ele olhava o condomínio e reconhecia que aquele lugar ainda era
algo seu. Desde que os pais e o avô haviam falecido em um acidente de barco,
quando ele era pequeno, Max foi criado na casa da avó, tornando-se parte da
Court du Chaud, como se tivesse nascido ali.
A família Russell, do 16, a porta ao lado, também o acolhera feito um filho.
Ajudaram a custear seus estudos em colégios particulares e o incluíam nas
férias da família. Haviam se tornado família, e depois de seu desentendimento
com Lucas, ele precisava fazer algo de bom de sua vida para fazer jus ao
valioso apoio e à devoção incondicional da avó.
Ele pôs a empresa e sua carteira de clientes como prioridade na vida.
Depositou mais importância em devolver os empréstimos de Russell para pagar
a faculdade, quitar a hipoteca da casa da avó e cumprir obrigações financeiras
do que continuar próximo às pessoas que se importavam com ele.
Apenas agora, enquanto olhava as lembranças da avó, Max percebera
que, se tivesse escolha, faria de tudo para poder vê-la mais uma vez.
Max cometera muitos erros de julgamento e só enxergava a verdade
naquele momento. As exibições de Josie lhe deram um novo sopro de vida, e
ele começou a questionar as decisões que havia tomado ao longo dos anos.
Pela primeira vez, depois de muitos anos, pensou na empolgação que
sentia nas manhãs de Natal, descendo as escadas correndo para ver se Papai
Noel viera durante a noite. Ele se lembrou das traquinagens com Lucas,
tramando espalhar o boato de que um fantasma pirata estava fadado a
assombrar a Court du Chaud para sempre.
Não queria desperdiçar nem mais um segundo. Já perdera muito tempo.
Queria atravessar a viela agora, mesmo sabendo que dar o próximo passo
significava encarar o passado.
Quando o telefone tocou, Max olhou para o identificador com um misto de
resignação e alívio. Ainda era cedo na Califórnia, mas ele explicara à secretária
sobre a importância do negócio, ontem, ao fazer a ligação.
Respirando fundo, Max se enrijeceu para enfrentar o homem que um dia
tivera como irmão. Tinha que resolver o passado para abrir caminho ao futuro.
Então pegou o fone.
— Lucas, obrigado por retornar minha ligação.

La Veille de Noêl. Notre nuit pour la fantaisie, Noite de Natal. Nossa noite
de fantasia. Essa foi a resposta que Josie mandou pelo convite, então ele
passou o dia planejando a fantasia da noite de Natal. Aquela noite seria a
primeira oficialmente juntos, embora Max ainda achasse irônico que, depois de

101
tantas semanas se correspondendo e brincando, os dois não tivessem se falado
além da troca de condolências durante o velório da avó.
As luzes piscavam na folhagem ao longo da calçada e ele se sentia mais
ansioso do que nunca, uma empolgação que o fez subir dois degraus de cada
vez no terraço. O homem afastou os pensamentos de quando entrava e saía
daquela casa como se fosse a sua.
Já dera o primeiro passo para fazer as pazes com Lucas, que rira ao ouvir
que Max e Josie estavam interessados um no outro.
— Eu nunca disse à minha irmã a razão de nosso desentendimento,
portanto, você lhe deve uma explicação — Lucas falou. — Acerte as coisas com
Josie e as terá resolvido comigo.
Quando a porta foi aberta, Max se viu olhando para o lado de dentro com
uma inesperada sensação de saudade. No entanto, não era a casa que o
tocava tão fundo, mas a mulher que surgiu, o abajur iluminando seu rosto.
Quando ele deixou Court du Chaud, Josie estava em plena transição de
menina para mulher. Ela estava agora muito além de suas expectativas.
Graciosa e esguia, o alto da cabeça batia no queixo dele. Josie, a menina
encantadora que um dia conhecera, tornara-se uma mulher maravilhosa, como
sempre soubera que aconteceria.
Max tinha seu olhar preso a cada detalhe A forma como a luz banhava os
cabelos cor de chocolate, as feições com um brilho que fazia os olhos verdes
parecerem ainda mais belos, a boca suculenta. E mais lindo ainda era seu
sorriso acolhedor.
De repente, toda a intimidade que dividiam as cartas repletas de pedidos
sensuais e as noites de performances eróticas estavam ali entre os dois Eram
adultos que já haviam conquistado muito terreno e estavam ávidos por
conquistar mais.
— Feliz Natal, Josie — o homem levou as mãos dela até seus lábios e
beijou a pele macia
— Feliz Natal, Max.
Seu sorriso cintilava nos olhos. Ela estava divina no vestido rendado
esvoaçante e justo, que deixava notar todas as curvas. Max não largava suas
mãos. Um rubor tomou suas bochechas e ele notou que Josie sentia o momento
tão intensamente quanto ele.
Os dois podiam ter sido amigos um dia, mas agora eram quase estranhos.
— Venha, entre — as palavras nasceram nos lábios como suspiros e suas
mãos se desvencilhavam das dele conforme ela se dirigia ao interior da sala.
Entretanto, esperou que Josie fechasse a porta passasse por ele, incapaz
de tirar os olhos da cena, o homem imaginou as pernas torneadas que vira
nuas, na janela, e fantasiara sobre tirar-lhe as meias, tocar sua pele sedosa.

102
Sua noite finalmente chegara.
Ela gesticulou na direção da sala, que estava repleta de flores, rosas
vermelhas.
— Como é que você encheu minha casa com todas essas flores lindas?
Tenho uma chave-extra que guardo lá fora, mas não no mesmo lugar que meus
pais costumavam guardar.
— Vou manter isso em segredo por enquanto, não se importa — Max
contaria sobre sua conversa com Lucas assim que tivessem a chance de
conversar.
— Adoro segredos. E surpresas. Fiquei totalmente surpresa quando
cheguei, após o trabalho. Nunca vi minha casa tão natalina como agora.
Estava mesmo. As decorações de Josie iam muito além da árvore de Natal.
Tinha luzinhas piscantes nas janelas, além de um presépio posto sobre a lareira
e um Papai Noel rindo, com o trenó puxado por renas.
— Gostei do que você fez por aqui — disse ele.
— Meus pais esperavam que eu fosse para a faculdade como Lucas.
Queriam se aposentar e ir para a Flórida, então os convenci a me venderem a
casa. Depois, reformei-a para ficar com a minha cara.
Max observou as paredes e os móveis de rattan com almofadas fofas. Uma
decoração caseira e aconchegante, mas bem extravagante. Bem Josie.
— Você não quis deixar Nova Orleans?
— Não há lugar igual.
— Você viajou muito? — perguntou ele. — Minha avó me disse que você se
manteve perto de casa, com o trabalho e a faculdade.
— Não preciso viajar para saber que Nova Orleans é especial, Max. É meu
lar. Como poderia haver outro lugar como esse?
Não havia nada em seu tom que tornasse suas palavras de censura,
porém a própria culpa que ele sentia as fazia soar dessa forma. Max não teve a
chance de responder.
— Você terá que me contar o que tem em Nova Orleans que supera todos
os lugares incríveis que você visitou. Li sobre como você andou no jet set ao
redor do mundo.
— Leu sobre mim?
— Sim, nas páginas de negócios. Há notinhas sobre você o tempo todo.
Sobre empresas que você está comprando. Que manobras os presidentes das
companhias estão tomando para tentar ficar com sua parte. Esse tipo de coisa.
— Eu não sabia que você se interessava tanto por esse assunto.

103
— Não me interesso. Estou interessada em você — ela o olhou de maneira
sedutora. — Estou surpresa, apesar disso. Li que tudo que faz é trabalhar, mas
agora está em casa há um mês. Como é que alguém ocupado como você
consegue arranjar tempo fora do trabalho?
— Ser dono da empresa ajuda — respondeu ele, secamente, incerto
quanto ao que dizer. — Estou pensando em uma reestruturação nesse
momento. Estou em um processo de decisão quanto a comprar a parte de meu
sócio e diminuir a empresa.
— Mesmo? Não li sobre isso. Você deve estar mantendo segredo da mídia.
— Você é uma das poucas pessoas que sabem sobre esse segredo da
empresa.
— Estou lisonjeada. E mais uma vez surpresa.
— Por quê?
— Reduzir parece incompatível com seu ritmo acelerado.
— Você acredita em tudo que lê a meu respeito no jornal?
— Claro que não, mas Nana sempre dizia que você planejava dominar o
mundo.
O orgulho da avó bateu forte em Max. Isso o fez lembrar que não
compartilhara o sucesso com ela. Dez anos haviam sido uma gota tio oceano
em sua longa vida, porém aqueles foram os anos que poderiam ter passado
juntos. Ele se distanciara ainda mais da família Russell.
Dez anos. E Max passara aquele tempo todo desligado das pessoas que o
amavam.
Aprendera a lição da forma mais difícil.
Tirando um botão de flor do vaso, o empresário entregou a Josie. Quando
ela pegou, Max passou as pétalas por seus dedos, como um lembrete de que a
estivera observando, querendo e agora finalmente estava perto o bastante
para tocá-la.
— Você fez muito para tornar minhas noites mais alegres desde que voltei
para Court du Chaud, Josie. Você me faz muito feliz. Agora é a minha vez.
— Bem-vindo ao lar, Max.
Passando a rosa em sua boca, ele delineou os lábios suculentos. A
promessa de um sexo intenso entre os dois já não era uma fantasia distante,
mas deliciosamente real.
Ela respirou fundo, fazendo inflar o peito. Max percebeu o cordão de prata
pendurado em seu pescoço.
Baixando o olhar na direção dos seios alvos, ele reconheceu o pingente de
anjo aninhado no meio do decote e imaginou se ela teria gostado tanto do
presentinho quando, segundo Lucas, ela nem sabia quem o enviara.
104
— Temos muito a falar — Max notou o sorriso dela se apagando.
Ele pôs a rosa de volta no vaso.
— Sobre o quê?
— Não acha que é por aí que devemos começar?
Inclinando-se na pontinha dos pés, ela chegou bem pertinho.
— Max, nós já começamos...
Aquela voz o percorreu com a força de um furacão. Ele precisou se
controlar para continuar.
— Verdade. Mas precisamos estabelecer nossos rumos, já que estamos
lidando com as coisas de forma bem incomum.
— De trás para frente?
— Não. Nós nos conhecemos por toda a vida. Temos uma história com a
qual temos de lidar. Estamos seguindo em uma direção sem saber o que
queremos um do outro.
— Notre nuit pour la fantaisie — ela disse, passando os dedos
delicadamente no pescoço dele.
Quase se desmanchou quando ele a puxou para perto, até quase se
tocarem.
— Todo o sentido de uma fantasia é o fato de ser apenas uma noite. Sem
passado. Sem família.
— Sem realidade. Só eu e você nesse momento — Josie sussurrou.
Naquele momento, o sangue dele pulsou na zona de perigo, tornando
difícil pensar.
— Você não sabe o que quero de você.
— Sei, sim. Você quer me tocar. Foi o que disse em sua carta.
Isso o fez esquentar e o alertou que havia mais coisa acontecendo ali além
do que ele sabia. Porém, Max não conseguia decifrar o que era, não com
aquelas curvas enlouquecedoras e provocantes.
— Claro que quero você. Não sabe o quanto!
Max queria que ela percebesse o quanto significava o que estava dizendo,
o quanto levava os dois a sério.
— Quero recompensar pelo tempo perdido — admitiu ele. — Quero saber
tudo sobre a bela mulher na qual você se tornou. Quero saber se está de
cabelos soltos porque eu disse que gostava. Quero saber se está vestindo a
lingerie que pedi, por baixo de seu lindo vestido.
Ele ergueu seu queixo e se inclinou à frente, para sussurrar em seu
ouvido.

105
— Quero saber também o quanto me quer... Josie o encarou com ar
atrevido.
— Sim, soltei os cabelos para você, Max, mas não vou dizer o que estou
usando por baixo do vestido. Isso é surpresa.
Ela o deixou com o coração disparado.
— Vamos conversar, se é isso que quer. Posso lhe servir um drinque
primeiro?
— Coloquei uma garrafa de vinho na sua geladeira.
— Obrigada. Ainda nem fui até a cozinha. Estive muito ocupada me
vestindo sensualmente para você...
Ela seguiu em direção à cozinha, requebrando-se. Max tentou se controlar
e segui-la, para pegar taças de vinho do armário.
A moça o encontrou na sala de jantar. O homem abriu a garrafa e serviu
aos dois.
— Um brinde, Josie!
— Ao Natal?
— A nós — batendo a taça na dela, ele fixou o olhar por cima da borda. —
Ao encontro das coisas onde não esperávamos achá-las.
— Fico contente que tenha me achado, Max.
— Eu também.
Levando a taça aos lábios, Josie deu um gole. As possibilidades da noite
por vir transformavam cada gole em uma promessa de lábios molhados,
línguas famintas e sexo. O momento era excitante e tentador. Tudo era novo
entre eles.
— O que a fez se mostrar para mim, naquela primeira noite?
— Vi você do outro lado e, como estava irritada, quis provocar uma
reação.
— Irritada? Por quê?
— Pois você não foi legal. Falei com você no velório de Nana e você deixou
a cidade sem sequer se despedir, e voltou sem dizer um "oi". Ficou entocado
em casa noite e dia. Madame Alain foi a única pessoa com quem você
conversou.
E não foi por Max estar em clima de conversa. Mas para explicar o motivo
de estar escondido em casa significaria ter que explicar o quanto se distanciara
de Court du Chaud desde os anos que partira, e como estava avaliando cada
opção que fizera. Não era hora de confissões.
— Desculpa, Josie. Eu...

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— Não é preciso pedir desculpas — ela interrompeu. — Nós ultrapassamos
a realidade, lembra? Agora temos a fantasia.
Ele pegou a mão da moça para fazer uma trilha de beijos. Josie suspirou.
— É tudo que quer de mim? Uma fantasia?
— Quero que me toque. Foi o que disse querer também. Ou prefere falar?
O que que há, Max? Você só está aqui para uma visita. Acho que essa é a
oportunidade perfeita para explorarmos como nos sentimos.
— E quanto a Lucas?
— O lugar de meu irmão não é na cama conosco.
Max riu.
— Concordo, mas ele está entre nós, dentro ou fora da cama. Prefiro lidar
com ele de forma sincera.
— O que quer que tenha acontecido entre você e Lucas, já passou. Não
estou interessada nisso.
— Você quer manter nosso envolvimento em segredo?
— Se não notou, sou a única que restou em Nova Orleans. Não costumo
ligar para minha família e comunicar sobre cada homem com quem me
envolvo. Aliás, madame Alain me disse que você estaria partindo logo após o
Natal. Respeito o tipo de vida que tem agora, Max. Sei que você sai com altas
executivas poderosas que não estão em busca de compromisso. Não tenho
qualquer problema com isso. Essa noite pode ser nosso desenlace.
— Você lê sobre as pessoas com quem saio na coluna de negócios?
— Não, na coluna social. Eles cobrem todos aqueles eventos. Então,
vamos aproveitar essa noite. Nada de Lucas pais ou relacionamentos. Quando
você estiver indo embora, vou te mandar um beijo e dizer au revoir. Nós dois
teremos desfrutado nosso tempo juntos e guardaremos nossas lembranças.
Levou um instante até que Max registrasse a proposta. Josie achou que
entendesse a forma como ele funcionava.
E entendia... era o homem quem dava a partida.
Ao menos, a forma como ele funcionava até regressar para casa e
começar a pensar sobre a vida.
— Nós dois somos adultos e sabemos as regras. Então, o que diz? Quer
selar o acordo?
Notre nuit pour la fantaisie.
Josie parecia não estar nem um pouco interessada em realidade, o que
significava que Max agora tinha um problema.
Ele queria Josie mais do que já quisera qualquer outra e algo passageiro
não daria certo. Sem mencionar a sua promessa a Lucas de jogar limpo.

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Então, Max não apertou a mão para fechar o acordo. Porém, puxou-a para
mais perto até que ela encostasse suas curvas em seu corpo e fosse forçada a
inclinar a cabeça para trás e encará-lo.
— Na verdade, Josie, estou com vontade é de te dar um beijo.
Max teria de convencê-la de que ela queria mais que uma noite. E tudo
que tinha era uma noite para fazê-lo.

CAPÍTULO TRÊS

A expressão faminta daquele homem pode ter sido igual à imaginada por
Josie, mas quando ele a beijou, já não era uma fantasia. Abriu os lábios
instintivamente e em um movimento que tomou o corpo todo se apertou
contra ele, abraçou-o sentindo cada centímetro do corpo rijo contra o seu.
As mãos de Max também estavam sobre ela os dedos se entrelaçavam
pelos cabelos, segurando a cabeça para colar a boca na dela e aprofundar o
beijo.
As línguas se enrascavam. As respirações ficaram entrecortadas. Mas foi a
intensidade da fome deixou-a sem fôlego.
Ele era paixão... era desejo. Seu beijo não tinha nada da fantasia divertida
que Josie esperava. Havia, sim, uma fome profunda.
Max a beijava como se tivesse esperado uma eternidade pelo privilégio,
como se estivesse determinado esquecer-se de tudo. Josie podia imaginar a
expressão de seu belo rosto, mesmo com os olhos fechados. Ela saboreava a
boca morna, roubava-lhe a respiração e dava a sua em retorno.
Aquele era o homem de suas fantasias, objeto de desejo há tantos anos.
Um pouquinho mais velho, porém muito mais sexy.
Passando os dedos pelos cabelos dele, Josie o trouxe para perto, dando
combustão ao desejo que esperava ansioso para ser saciado.
Ela bebia o gosto da boca junto à sua, de maneira que as línguas se
entrelaçavam famintamente. Sentia-o por toda parte, enquanto Max passava
as mãos pela curva de seu pescoço, contornava os ombros, descia as mãos
pelas costas em total liberdade.
Flexionando o corpo de encontro ao dele, Josie o convidava a explorar
como quisesse, entusiasmada por finalmente darem início à noite e nem notou
a batida na porta até ele gemer. Era um rosnado macho de pura frustração.

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— Jantar... — sussurrou ele, quando a batida se tornou insistente.
O homem estava com a boca colada à sua, até que ela recobrou os
sentidos e o soltou. Então, Max recuou e tudo que ela fez foi olhá-lo enquanto
ele a encarava com ar de macho possessivo.
Ela o observou atender à porta, vendo os ombros largos, o bumbum
bonito. Parecia muito diferente do cara que tinha voltado para casa há pouco
tempo e Josie gostava das mudanças. Seu corte de cabelo combinava com os
ternos bem talhados, mas crescera um pouco durante o tempo em que passou
revendo as coisas de Nana e já fazia uma onda na nuca.
O empresário sobre quem Josie vinha lendo nos jornais estava em um
ritmo acelerado rumo a um ataque do coração. A mulher concluiu que tirar um
tempo para relaxar e se divertir lhe fizera bem.
Uma noite de fantasia faria melhor ainda.
Quando dois garçons do Commodore Pete's, restaurante de frutos do mar,
entraram marchando em sua casa, a moça foi para a sala de estar. Pôs um jazz
para tocar e diminuiu as luzes, deixando só a árvore e os enfeites acesos.
Satisfeita com o efeito, ela sentou na beirada do sofá e escutou Max
dando instruções aos garçons, que começaram a montagem do jantai em sua
sala.
O sujeito não deixara nada escapar para tornar especial a noite que
passariam juntos! Algo dentro de Josie explodia de ansiedade pelo que vinha
pela frente. Ela sorriu ao notar os garçons finalmente passando por ela,
acenando polidamente. Max os levou até a saída e voltou.
— Com fome?
— Faminta. Mas eu não sabia que o Commodore Pete's entregava.
Geralmente, leva semanas até se conseguir reserva nesse lugar.
— É mesmo? Pete é um velho amigo do colégio.
Josie concordou, gostando por ele ter feito
contato com outra pessoa de seu passado, outra ligação com o lar, depois
de tanto tempo longe. Mana também ficaria satisfeita.
— Então escolhi bem? — o homem estendeu a mão e a moça colocou os
dedos na mão dele, deixando-se conduzir até a mesa.
— Certamente. Com à escola e o trabalho, nunca sei o que vou fazer de
um minuto para o outro, muito menos uma reserva no Commodore Pete's. As
únicas vezes que vou é no dia do meu aniversário. Minha chefe Courtney
sempre me oferece um jantar lá. Acho que ela também é amiga de Pete.
— Courtney obviamente sabe o quanto você gosta de frutos do mar.
— Você lembrou?

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Ele assentiu. Os dois se conheciam bem, e isso se traduzia em um nível de
conforto que os permitiu ingressar facilmente nas performances provocativas e
nos presentes eróticos.
Sentaram-se para comer e conversaram sobre coisas triviais. A família
dela. O trabalho dele Nova York, onde a empresa dele era sediada Nova
Orleans e o quanto mudara nos últimos dez anos.
Ele era o Max de quem Josie se lembrava. Sorria com facilidade e a fazia
rir com suas observações secas sobre a vida.
Conversar trouxe de volta muitas lembranças a fez lembrar do motivo por
sempre ter sido tão apaixonada. Segundo os jornais, Max fizera bom uso de seu
charme na vida social e fazia o mesmo agora.
Após as ostras à "Ia Lousiane", e caranguejo "à Ia nouvelle", Josie estava
quase explodindo de desejo. Queria prosseguir com a noite e reivindicar outro
beijo.
O passado estava oficialmente concluído, então podiam se concentrar no
presente.
— Espero que você tenha guardado algum espaço para a sobremesa —-
ela finalmente levantou da mesa e seguiu até a árvore de Natal, onde deixara
um pacote.
Max permaneceu recostado à cadeira, olhando-a com curiosidade.
— Para você — Josie deu a ele uma caixa cheia de laços.
— Obrigado.
Ele tirou a fita, ergueu a caixa e olhou os biscoitos caprichosamente
arrumados.
— Nana sempre fazia esses biscoitos e escrevia dizeres com glacê — disse
Josie. — Não queria que esse fosse seu primeiro Natal sem eles.
Max ergueu as sobrancelhas.
— Frases de amor? Vovó escrevia apenas mensagens neles — brincou o
homem.
— Pode ser, mas agora me dê um biscoitinho.
— Só os quebrados.
Josie riu e ela sentiu uma emoção quando ele a olhou intensamente.
— Reconheço essa caixa. São os mesmos biscoitos que minha avó
mandava, ultimamente — disse Max. — Achei que não era ela quem os es-
tivesse fazendo, mas não quis perguntar.
A moça percebeu como ele ficou mexido e pousou a mão sobre a dele. Por
um bom tempo, era ela quem fazia as encomendas no Eros e postava os
pacotes, a pedido de Nana, desde que se tornara muito difícil e cansativo para

110
ela.
— Espere um segundo... — Max mexeu dentro da caixa. — Esses não são
os mesmos biscoitos. Minha avó nunca me mandou biscoitos em que estivesse
escrito "tire a minha roupa"
Quando ele riu, Josie se atreveu a dar uma espiada dentro da caixa e viu
um biscoito que trazia dois números escritos em glacê vermelho que pareciam
o mesmo visto de cabeça para cima, ou de cabeça para baixo...
— Com prazer... — Max dominou seu olhar com uma expressão ousada e
máscula.
Ela não conseguia saber se deveria beijar ou matar Chloe. Ela fizera um
pedido de biscoitos românticos e de bom gosto, não pornográficos
Mas os pornográficos faziam as coisas evoluírem. E ao perceber, Josie
pensou, quem era ela para discutir com uma mulher que fizera a carreira com
receitas maravilhosas para seus clientes''
— Já que você me deu esse presente, Josie vou aproveitar — ele pegou um
biscoito que tinha escrito: "Dance comigo" — Não confunda com 'Dance para
Mim', que era o que eu gostaria que fizesse essa noite, também. Essa é minha
fantasia.
Josie estava ofegante, uma reação à promessa nas palavras dele.
— Você tem estado ocupado. Entre passar suas noites olhando a janela do
meu quarto, escrever cartas eróticas e comprar esses presentes sensuais,
como arranja tempo para fazer... outras coisas? Chegando a cadeira para trás,
ele a colocou de pé.
— Você se surpreenderia ao saber quanto tempo encontro para fantasiar
com você.
E ao conduzi-la até a sala de jantar, havia algo sobre Max que não deixava
dúvidas quanto ao seu desejo. A moça era sua fantasia e isso tinha um gosto
tão doce quanto os biscoitos de Chloe.
Ele a abraçou, colou o rosto na sua testa, dedos entrelaçados, coxas
encostadas. Seu pênis roçava nela conforme se moviam, um calor provava sua
reação diante da proximidade. Josie soltou um suspiro satisfeito e apertou o
rosto junto a seu ombro. A mulher se deleitava com seu perfume masculino, o
cheiro gostoso da camisa.
Josie se movia suavemente, enquanto balançavam ao som da música, seu
toque a guiando na dança.
— Conte-me sobre seu fascínio pelo Natal — Max a beijou nos cabelos e o
momento tomou um clima de sonho. — Eu sempre soube que ama, porém não
me lembro de ter ouvido a razão.
— Não há um motivo especial. A época é de esperança, promessas,
tradição. Simplesmente adoro a magia disso tudo.
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— Acredita em mágica?
— E claro, você não?
— Já acreditei.
Aquilo resumiu todos os anos distantes de Court du Chaud. De repente, a
vida que estava vivendo não parecia tão veloz ou charmosa quanto a agenda
de negócios queria mostrar. Josie voltou a ser arrebatada pelo sentimento de
solidão que tivera na primeira noite em que surgira no quarto de Nana, e
queria fazê-lo crer que mágica existia.
Queria que Max soubesse que ainda havia alguém que se importava com
ele, sem admitir sua paixão de adolescente. Isso era um segredo do passado e
Josie insistia em manter o passado fora da fantasia dos dois. Aquela seria uma
noite a sós. Sem família, sem nada.
— Talvez você simplesmente tenha se esquecido, Max. Você sempre
esteve longe.
— Você acha que a mágica tem a ver com o fato de morar aqui?
— Court du Chaud é mágica em muitas maneiras, você sabe disso. Não
apenas em termos de histórias, vodus e fantasmas, mas estar cercado de
gente que te ama também é mágico. Você trabalhava tanto que nem tinha
tempo para visitar sua casa.
— Achei que você não acreditasse em tudo que lê nos jornais.
— Acredito no que vejo. A perda de Nana e vê-lo novamente me fez olhar
para a minha vida. Essa foi uma das razões pelas quais resolvi dançar para
você naquela noite. Sabia que não estaria aqui Por muito tempo então não quis
deixar escapar essa oportunidade.
— E estava irritada comigo.
Josie sorriu encostada à camisa dele.
— Isso também.
— Então, no que isso me transforma, Josie? Em um presente de Natal? Ou
em uma resolução de Ano-Novo? Você está virando uma página para passar
mais tempo se divertindo?
Uma nova página? Josie não havia pensado muito na própria vida até que
Max voltou para casa. Ela não tivera tempo.
Sua carreira no serviço social era uma paixão que também tomava seu
tempo livre. Tinha esperanças de assumir o cargo de presidente, assim que o
mandato de Courtney terminasse no Big Budies. Atualmente, era presidente do
Krewe du Chaud e da associação de moradores. Assim que o novo ano
começasse, retornaria ainda às suas pesquisas de doutorado.
Ela estava tão focada no trabalho quanto acusava Max de estar, e
enquanto estava ali, envolvida em seus braços, os corpos se movendo de

112
vagar, todos os seus planos maravilhosos pareciam pertencer a um futuro
incompleto.
Suspirando, ela roçou o rosto em seu ombro lembrando a si mesma que só
tinha uma noite com aquele homem. Poderia virar uma nova página, mas
repassaria suas questões pessoais sozinha, depois que Max partisse.
O relógio estava correndo naquela noite de fantasia.

CAPÍTULO QUATRO

— Josie...
— Shnh! — ela parou, forçando Max a fazer o mesmo. Ficando na ponta
dos pés, a moça ergueu o rosto dele. — Não quero mais falar...
O homem foi compelido a tomar-lhe a boca com um beijo impetuoso. Josie
deu um suspiro e se inclinou na direção dele, incapaz de resistir à forma como
ele a beijava, com uma ternura calma, de uma maneira que a ansiedade dentro
dela se acendeu. Queria senti-lo por toda parte, queria saboreá-lo a cada
segundo da noite que tinham juntos. Apenas os dois.
Sua língua entrava possessivamente para se emaranhar na dela, que era
receptiva a cada investida. Explorando, devorando. Agora que finalmente tinha
a liberdade de tocá-lo, Josie passou os braços ao redor de sua cintura, subiu as
mãos pelas costas, descobriu a força dos músculos e dos ombros largos. O Max
de suas fantasias.
— Aqui está — ele segurou um biscoito. "Dance para mim."
Max deu uma mordida.
Rindo, Josie ficou na ponta dos pés e beijou uma migalha presa aos seus
lábios. Depois, pegou sua mão e o levou de volta até o sofá da sala de estar.
— Sente-se. Vou dançar para você.
O sorriso dele era totalmente másculo. E apesar de sempre ter sido lindo
por causa do visual bronzeado e dos olhos azuis, amadurecer havia fortalecido
suas feições, esculpira ângulos fortes em seu rosto, transformara o bonito em
arrebatador.
Ele se acomodou confortavelmente para o show. A moça estava com o
coração acelerado Virou-se e seguiu para outro lado da sala, nervosa pela
demonstração a seguir.
Não havia como negar que imaginar Max observando era totalmente
diferente da experiência de encará-lo enquanto assistia.

113
Josie notou a expectativa em seu rosto, praticamente sentia a ansiedade
irradiando. Ela respirou fundo para ter coragem e ir em frente. Queria Max
babando de desejo, de tesão.
O amante lhe presenteara com uma lingerie de renda. O cartão que estava
junto expressarão o quanto se alegraria em saber que ela havia vestido as
peças durante um dia de trabalho.
Josie fez o que Max lhe pedira. Desfrutou da sensação da renda macia por
baixo de seu terninho, enquanto pensamentos sensuais a distraíam e levavam
até O número 17,ao longo do dia.
Ela voltou a vestir a lingerie, e lhe daria um exemplo bem de perto do
quanto essas idéias haviam sido excitantes.
Fechando os olhos, ela focou na música, deitando que a melodia tomasse
conta do ambiente. Começou a se mexer devagar, tentando relaxar. Logo
depois, sentiu-se indecente.
Josie desabotoava lentamente o vestido, revelando a combinação que
usava por baixo. A renda acariciava sua pele a cada movimento, provocando-a
sob um toque suave, excitando-a.
O simples fato de deslizar as mangas pelo braço se tornou uma dança
erótica, e ela passou a blusa pelo pescoço, pelos ombros, mostrando a
combinação com meia-taça, o que dispensava o sutiã. O efeito do decote lhe
favorecia bastante. Josie se inclinou à frente para lhe dar uma olhada por entre
as mechas dos cabelos compridos. Arriscou espiar e encontrou a expressão que
imaginara por tantas vezes em suas fantasias — se, rosto forte se enchendo de
desejo.
Je fai regardêe. Je t'ai désirée. Maintenant i veux te toucher.
Todas aquelas mulheres poderosas em sua vida poderiam combinar com o
empresário no qual se transformara, mas agora estava de voltas Court du
Chaud. Ali, viviam a vida conforme outras regras. Os dias eram mais lentos na
Louisiana, tinham um ritmo que significava suportar o calor e saborear o
prazer.
Josie queria que ele "se lembrasse daquela noite, para que, ao regressar à
sua vida corrida, não fosse tão fácil esquecer suas raízes. Não queria que Max
a esquecesse ou da mulher em quem se transformara. Queria um lugar em
suas lembranças somente para ela, queria que se lembrasse dela sempre que
pensasse em seu lar.
Então, deixou que a blusa deslizasse pelos seus dedos, soltando-a sobre o
colo de Max onde um certo volume comprovava que ela estava a caminho de
realizar seu desejo, apesar de sua performance ter apenas começado.
Sua imaginação a tornava ousada, porém, agora, vendo o tamanho do
"documento"... não sabia o quanto achava aquele homem poderoso. O desejo
dele aumentava o seu próprio.
114
Sorrindo, Josie o encarou e pegou a tira que amarrava a cintura dela. Os
olhos de Max cintilavam de expectativa, depois desviaram quando a mulher
movimentou os quadris de um lado para outro, em um balanço sedutor,
virando-se conforme tirava a saia devagar, devagar... até deixa-la cair no chão.
Agora ele sabia o que havia por baixo da saia. A combinação com alças.
Ligas nas coxas. Sem calcinha. Agora, Max descobriu que ela estava sentada
diante dele, durante o jantar, dançara em seus braços, com todas as suas
partes íntimas acariciando o forro macio da saia.
Max gostou do que viu.
passou a mão em suas nádegas quando ela dançou perto, apenas um
toque dos dedos quentes. Passou os dedos no meio de suas coxas e sentia
Josie molhada, um toque provocador que fez seu sexo reagir com uma pulsação
única e forte.
— Você não tem idéia do quanto quero você, Josie. Você inteira.
O desejo estava estampado no rosto de Josie. Sua voz era rouca e sexy.
— E me terá, em breve.
Sentia-se mais indecente do que nunca ali, diante dele, em seus trajes
sensuais, que revelavam muito mais pele do que escondiam.
Uma excitação se acumulava dentro dela, nutrida pelo olhar ávido que
Max demonstrava. Um homem cuja paciência quase chegava ao fim. Seu
esforço para não pular do sofá e agarrá-la era notório.
Com o corpo todo arrepiado, Josie demonstrou sua ansiedade, quando ele
passou as mãos em suas coxas em um toque que despertou uma corrente por
todo o corpo.
Porém, o show deles ainda não havia terminado. Rindo, ela saiu de seu
alcance, girando conforme a batida da música, sentindo-se provocada pela
forma como os mamilos tocavam a renda. Passando a mão na barriga, Josie
girava lentamente diante dele, rebolando, mostrando as nádegas nuas.
Josie o provocava com tudo que podia, agora que ele atravessara a vila
para ingressar em sua fantasia. Ela projetou os seios à frente, os mamilos
duros sob a renda, prontos para serem sugados.
Queria provocá-lo, mas era ela quem ardia por dentro a cada rebolada
jogando os cabelos que batiam na cintura. Quase podia perceber os olhos de
Max queimando de desejo, na penumbra.
A respiração de Max ficou presa na garganta quando Josie passou perto,
com suas curvas, a pele sedosa e graciosa. A moça surgiu à sua frente como
uma mulher esplendorosa e sensual, e antes que ele reagisse, a mulher se
enganchou nele, as meias até os joelhos, passando por suas pernas, as coxas
abertas sobre seu colo.

115
Josie colocou as mãos atrás dele, no sofá, preenchendo-lhe a visão com
seus seios fartos, os cabelos longos e cheios de brilho, brincando com todas
aquelas curvas.
— Ah, Josie...
— Shh, sem falar! — ela deu um beijo. — Sem pensar. Apenas aproveite.
Sem problemas. Max queria sentir cada pedacinho daquela tentação, e
quando Josie começou a se mexer em seu colo, naquela dança vinda de uni
sonho selvagem, ele aproveitou.
O homem a pegou nas costas e seguiu o ritmo, enquanto a temperatura
subia. A moça se esticava sobre ele, que acompanhava cada movimento com o
olhar naquele corpo lindo, os cabelos escuros e sedosos, a pele nua na renda
macia, até que a bainha do tecido era a única coisa que o impedia de jogá-la
no sofá, embaixo dele.
Ele afundou os dedos em suas nádegas gostosas, levantando-a a cada
movimento, apenas o suficiente para ver os pêlos aparados e os segredos no
meio de suas coxas. Ao que Josie se abriu mais para acomodá-lo, subitamente
tudo se encaixou na sua ereção.
— Josie... — ele gemia.
Max levantou os quadris dela para sentir todos os seus lugares macios,
imaginando a sensação de pele com pele. Ela dizia seu nome, suspirando, os
corpos se encontrando de maneira arrebatadora.
Josie tremia, um daqueles arrepios que diziam a ele o que sentia, em toda
parte. Subindo as mãos por suas costas, ele baixou o rosto em seus seios e
mordeu o corpete de renda com os dentes.
Ela estufou o peito e suspirou quando Max arrancou tudo. Seus seios
ficaram à mostra. Tinham um aroma adocicado de baunilha que era só dela.
As mãos do homem se apertaram ao redor da cintura de Josie, conforme
ele absorvia toda aquela visão incrível. A moça balançava os quadris sobre seu
colo em um movimento erótico hipnotizador. Seus seios alvos se lançavam à
frente com os mamilos arrepiados, implorando para que ele os saboreasse.
Max não resistiu. Ele sugou a pontinha, saboreando sua pele morna. Seus
lábios se abriram só um pouquinho, e Josie jogou a cabeça para trás, os
cabelos caindo pelas costas.
O outro mamilo, ele segurou suavemente, sorrindo quando ela deslizou as
mãos por seus ombros, em uma nova onda de arrepio. A visão dela o fez arder.
Max gostou de descobrir o que a deixava excitada, e lambeu seus belos seios
até Josie dizer seu nome gemendo, apertando-se contra ele, tentando evitar
chegar ao orgasmo.
A mulher estava perto de fazer com que ele explodisse.
Então, Max a tocou intimamente, em busca do clitóris dela.
116
— Oh, Max... — exclamou Josie, cheia de desejo.
Percorrendo-lhe com uma intimidade que a deixou com água na boca, ele
a levou ao clímax com investidas provocantes, e a promessa de grandes
prazeres ainda por vir.
Porque era isso que queria de Josie.
Mais uma noite de prazer.

CAPÍTULO CINCO

Josie derretia-se junto a ele, em um abraço repleto de calor. Max


aproveitou o momento, aconchegando-a mais perto, impressionado pela sen-
sação tão boa que ela transmitia.
Conhecia aquela sensação. Nos negócios, isso se traduzia no instante em
que a negociação saía "redonda" e todas as peças estavam no lugar certo.
Agora, ele aprendera o que precisava saber, o que queria para o futuro:
Josie.
Como se ela adivinhasse seus pensamentos, aninhou o rosto em seu
pescoço.
— Vou deixá-lo de joelhos.
— Você vem fazendo isso a cada noite, há semanas. Justiça seja feita. É
minha vez.
A moça riu baixinho.
— Eu havia esquecido como você faz isso.
— O quê?
— Sempre diz a coisa certa.
— Digo?
— Não me leve a mal. Você ainda pode ser terrível, mas isso era
geralmente por causa do Lucas. Quando estava sozinho, sempre era decente.
— Acho que você não anda lendo sobre o quanto sou decente na coluna
de negócios.
— Dificilmente. Segundo a imprensa, você é tão voraz quanto nosso
capitão pirata.
Seria de se admirar que Josie não considerasse que ele poderia lhe
oferecer mais que um mero caso?
A resposta era tão óbvia que doía. Josie o estava julgando a partir do que
Nana dizia e do que lia. Tinha todo direito de achar que Max aproveitaria o
117
tempo que passassem juntos e depois deixaria a cidade sem olhar para trás.
Ele conquistara aquela fama. Ou não?
— Espero que você me dê uma chance de provar que sou mais do que a
imprensa diz, Josie.
— Acha que já não sei disso?
— Não venho para casa há um bom tempo.
— Você ainda é... você, Max.
Algo em sua fisionomia o assegurava de que ela jamais teria se envolvido
naquele jogo de sedução se não acreditasse nisso.
Max gostava de sua honestidade e ousadia. Estava maravilhado com sua
quase nudez e ele passava as mãos por seus braços, dedilhava os mamilos, em
êxtase. Ele pegou o colar entre os seios.
— Não é lindo? — perguntou Josie. — Foi um presente de Natal de muito
tempo atrás.
O empresário já sabia, mas quis ouvir o motivo por ainda usar aquele
anjinho. Precisava saber.
— Quem te deu?
— Foi presente de meu primeiro amigo oculto. Alguém que foi carinhoso
comigo, quando eu precisava de carinho. Sempre valorizei isso, então, uso para
me lembrar.
— É mesmo?
— Todos os anos coordeno a troca de nomes em meu escritório, mas Nana
foi a primeira pessoa com quem brinquei, e por mais tempo.
Josie parecia contente consigo mesma e tinha todo direito de estar. Seu
amor pelo Natal e a crença em sua magia contaminavam todos ao seu redor. A
avó dele sempre soube o quanto Josie era generosa, e apesar de talvez ter
esquecido enquanto esteve longe, Max sentia os efeitos de sua atenção
especial desde que voltara.
— Minha avó nunca me disse que tinha um amigo oculto, mas tenho
certeza de que deve ter gostado muito. Ela amava você.
Houve um instante de silêncio.
— Bem, estamos falando novamente.
— O quê?
— Falando. É minha vez, Max.
— De me deixar de joelhos?
— É — e ao dizer isso ela saiu de seu colo, o anjo prateado balançou entre
os seios.

118
Rindo, Josie pegou a caixa de biscoitos na mesa e seguiu rumo à escada,
deixando Max olhando, com uma ereção tão forte que quase nem podia se
mexer. Missão cumprida.
Max, sinceramente, não conseguia se lembrar quanto tempo fazia que fora
atingido por um desejo tão ardente. Desde a faculdade, pelo menos. Mas ao
pressionar o pênis para verificar o seu estado, ele soube que nunca mais se
contentaria com nada menos que... Josie.
Ele a encontrou no andar de cima, sob o brilho glorioso do abajur Tiffany, a
pele banhada de luz, adorável. Max estendeu a mão e a moça a pegou e o
levou até a janela.
— Venha ver a vista.
O homem foi até a janela. Josie mergulhou em seus braços, como se
tivesse esperado uma eternidade para estar ali. Seu lindo corpo se alinhava
suavemente com o dele, de forma perfeita.
— Quis atravessar essa viela desde a primeira vez que a vi.
— Podia me ver? Fiquei imaginando.
— Só na primeira noite, quando você estava de luz acesa. Mas eu sempre
achava que você estava olhando. Às vezes, o vento soprava as cortinas de
encontro às suas pernas, e eu via sua silhueta na escuridão. Era muito
provocador.
Ela parecia ávida e Max tentava decifrar sua expressão enquanto Josie
olhava pela janela.
— Está com pena de ver nosso jogo erótico acabar?
— Sim e não. Eu não trocaria nem um segundo de nosso tempo juntos. Foi
maravilhoso para mim, mas sempre soube que você partiria.
E aquilo era exatamente o que Max queria ouvir. A moça não havia
considerado mais noites juntos porque não estava convencida de que ele
estaria ali, não necessariamente por ela não querer mais. Era um passo na
direção certa.
— Nem eu trocaria.
Josie estava prestes a descobrir que Max não a deixaria tão facilmente.

Em um movimento rápido, ele a pegou nos braços.


— Max! — a mulher segurou firme e o empresário a levou para a cama.
Josie se esticou, mostrando as curvas e a pele nua. Ele recuou e admirou
cada centímetro da visão que ela compunha sobre o edredom natalino, cercada
de almofadas vermelhas e verdes.
— Você não poderia ser mais linda!

119
— Está fazendo de novo.
— O quê?
— Dizendo todas as coisas certas — a moça foi até ele e o puxou pelo
cinto. — Agora, é minha vez. Estou cansada de ser a única pelada por aqui.
— Você só está parcialmente nua, Josie. — pegando seu pulso, ele a
deteve. — Quem vai tirar a roupa, agora, sou eu. E você olhar...
— Como quiser, meu bem. Você vai dançar?
— Você foi imbatível na performance. Eu nem teria esperanças de
competir.
— Nada de dança?
— Só um strip tease comum.
— Não há nada de comum em você, Max.
Ele gostava de sua forma de não fazer rodeios sobre como se sentia, uma
honestidade que tornava Josie única.
Seu toque o eletrificou e demorou um minuto para que ele percebesse que
se a deixasse assumir o controle, Max não o teria de volta. Então, puxou-a e ela
o deixou manuseá-la junto ao seu corpo, em uma posição em que ficaram
colados um ao outro. Lado a lado. Ele colocou o rosto entre as pernas dela.
—Consegue adivinhar que biscoito é esse? — perguntou Max, lambendo
lentamente as coxas dela.
Josie se esticou e pegou o biscoito, colocando sobre a barriga, com o glacê
virado para cima. 69. Ele encontrou seu olhar e viu o lindo corpo.
— Eu esperei muito tempo por você.
— Eu também, Max. Eu também.

Cada toque de sua boca sobre a pele, e cada carícia de suas mãos, parecia
irreal. Mesmo nas mais ousadas fantasias, Josie não podia imaginar Max em
sua cama, a forma como os olhos reluziam quando aquele homem baixou o
rosto no meio de suas pernas...
A primeira a fez estremecer, uma reação de expectativa e surpresa. Ele se
acomodou ousadamente entre suas coxas, aninhou-se em uma posição
confortável, como se pretendesse ficar por muito tempo.
Max mergulhou novamente, mas, daquela vez, ele passou a língua por
entre sua fenda úmida. Parecia sintonizado a cada reação dela, sabia quando
provocar e quando deixá-la recobrar o fôlego.
Ao enfiar a língua inteira até o fundo, viu-a fincando os dedos no edredom.
Max a satisfazia com toda a habilidade. Ele ali lambendo, chupando seu sexo
com aquela boca gostosa...

120
Josie passou as mãos nas pernas dele, nos pêlos sedosos, as coxas rijas
roçando. Max se arrepiou todo.
Embora conhecesse aquele homem a vida inteira, havia muitas coisas
sobre Max que eram totalmente misteriosas. Ela jamais sentira essa falta mais
que agora, com seus dedos explorando os dele, seus lábios encostados à coxa
dele, trilhando beijos pela pele.
Ele tinha pernas lindas, não excessivamente musculosas, mas Josie não se
lembrava de tê-las notado antes. Agora o admirava sob o prisma feminino,
passando pela experiência de ter reações de fêmea.
A mulher gemeu quando Max prendeu o clitóris dela na boca. Josie agarrou
suas pernas e se deleitou com ele a fazendo arder de paixão.
Só quando a ereção dele esbarrou em sua bochecha que Josie se lembrou
da oportunidade que estava sendo perdida ali, e, rapidamente, abocanhou o
membro.
Puxando suavemente, ela assumiu o controle. Explorava a rigidez tão bela
quanto o resto do corpo.
Ele soltou um gemido e seu corpo inteiro se contorceu. Josie adorou vê-lo
reagir ao seu toque. Depois, Max redobrou seu empenho fazendo com que ela
também se dobrasse de desejo.
A moça sugava com vontade seu pênis. Aquela noite tinha tudo para ser
memorável.
Ela usou as mãos para ajudar a cada lambida, provocando-o com a língua.
Josie brincava com seus testículos aveludados na palma da mão, explorando
seus lugares mais íntimos com dedos curiosos. Max balançou os quadris, prova
de que o estava deixando louco, tirando o seu controle, fazendo com que fosse
até o limite.
Mas Josie devia saber que Max daria o melhor que tinha. Ele mergulhou
um dedo dentro dela e os dois começaram em um ritmo que era como fazer
amor, os joelhos dela colados à cabeça dele, os quadris dele se impulsionando
lentamente.
A fome se acumulava, o calor corria por ela, as fantasias se
transformavam em uma realidade surpreendente, mais inacreditável que podia
imaginar. Um prazer de anestesiar a mente, seu sexo se impulsionava em
golpes, como se Josie cavalgasse em sua boca.
E Max também sabia o que fazer. Projetava a língua bem no fundo,
passando o dedo, levando-a mais adiante, com a pressão exata, o toque certo,
lambendo...
Então, Josie se desmanchou em espasmos que minavam um líquido
quente por dentro, desabando no prazer, sem parar, pois Max simplesmente
não parava.

121
CAPÍTULO SEIS

Josie não se lembrava de quando havia soltado o pênis dele, mas, quando
o coração finalmente se acalmou e ela pôde abrir os olhos, descansou o rosto
confortavelmente sobre aquela extensão rija e pulsante.
— Achei que fosse minha vez — a moça conseguiu dizer.
Max espiou por entre as coxas dela com um sorriso satisfeito.
— Eu disse que o que é justo é justo. Você me deixou de joelhos por
semanas. Ainda tenho uma forra.
Josie não estava de joelhos, mas de barriga para cima, como permaneceria
até que aquele torpor passasse. Porém, isso exigia energia demais para ser
explicado, então, ela apenas suspirou e fechou os olhos novamente.
O homem se soltou dela e deu a volta até que pudesse colocar uma
camisinha. Depois, foi até Josie.
Foram necessárias algumas manobras, no entanto, ela, enfim, se deitou
sobre ele, o envolvendo, seu cabelo os ocultava, feito um cobertor. Por mais
que gostasse de ficar aconchegada, a moça só tinha energia para beijar seu
pescoço.
— Você me matou — disse ela, vendo que não fazia sentido negar o óbvio.
— E você é muito gostosa, Josie — para provar seu ponto de vista, ele a
pegou pelas nádegas e a invadiu com seu membro ávido.
Miraculosamente, o sexo dela reagiu em um pulsar úmido.
— Acho que sim... — respondeu a mulher, de maneira provocante.
— Eu não disse? — ele sussurrou no seu ouvido e houve outra reação
daquele corpo que não sabia se começava um novo galope ou se virava para o
lado e se fingia de morto. Josie não tinha muito tempo para decidir. O relógio
corria e mesmo sabendo que Max partiria em breve rumo ao seu mundo de
negócios, agora, de alguma forma, ela se ressentia por todas as chances que
perderia de chegar ao clímax várias vezes.
Tantas possibilidades... Aconchegada na noite de Ano-Novo, enquanto os
fogos explodiam no céu... No dia dos namorados, vestindo uma lingerie
vermelha que ele a tivesse presenteado... No meio da noite... Ao amanhecer...
Max não lhe dera tempo para lidar com aquela mudança de clima. Dando
um sorriso de pura promessa, o homem mergulhou em Josie e a preencheu até
ela poder suspirar.

122
Josie pensou que ele a aniquilara com aquele último orgasmo, mas estava
errada. Só foi preciso que seu corpo estivesse sob o dela, todo o seu membro
lá dentro, e ele não apenas provou que ela estava viva, mas em chamas.
Então, Max começou a se mover.
Ele entrara e saía em investidas sensacionais. Dessa vez, a moça gemia.
Enfiando a língua em sua boca, ele repetia o movimento dos quadris até que
todos os pensamentos se esvaíssem. Josie não sabia de mais nada além da
sensação daquele homem embaixo dela, dentro dela.
Max começou em um ritmo tentador, com golpes rápidos, trazendo-a de
volta à vida. Ela lhe deu um abraço forte, beijando-o com desejo.
Aqueles outros orgasmos haviam sido preliminares comparados ao que
estava a caminho agora. E Josie embarcou naquela onda de prazer, os seios de
encontro ao peito dele, balançando.
Ela finalmente cravou os dedos nos ombros de Max, maravilhada com sua
reação a ele, a avidez que brotava do seu íntimo.
Cada movimento era delicioso, os corpos se encaixavam como se
tivessem esperado eternamente por aquele privilégio. E talvez tivessem
esperado. Ela cobiçara Max por tanto tempo... e o provocara sem piedade. Não
era de se admirar que tivessem se encontrado naquele momento, como se
fossem feitos um para o outro.
Max a bombardeava de sensações, passando as mãos por suas costas,
seus seios. Ele tocou nos mamilos de Josie e apertou forte. A moça gemeu,
explodindo de prazer. Josie apertou as coxas com força, usou seu peso para
rolar para o lado.
O homem a pegou pela cintura antes de escorregar para fora. Ele se
lançou para dentro novamente, com força suficiente para tirar o ar de seus
pulmões, em um movimento ritmado.
Subitamente, ele estava em cima, com os ombros largos bloqueando a
visão do mundo. Josie conseguia enxergar seu rosto lindo, memorizar cada
detalhe, a fome em suas feições, o prazer que fazia com que seu olhar a
acariciasse.
Uma lembrança para durar uma vida.
Esse pensamento a pôs em ação. Flexionando os quadris à frente, ela o
recebeu mais fundo e cravou os dedos em suas nádegas para que o mo-
vimento fosse mais rápido.
Max soltou um gemido abafado e a agarrou por baixo para aumentar o
ritmo. Ele afundou o rosto em seus cabelos e, por alguns instantes atordoantes,
os dois só conseguiam se agarrar um ao outro, enquanto gozavam juntos, em
um prazer tão intenso que não podiam parar de se mover.
Então, Josie ficou deitada em seus braços, tentando recobrar o fôlego,

123
enquanto a lua de Natal subia mais alto, sobre a viela, e a moça desejou que
essa noite nunca terminasse. Ela queria aquele homem para o resto da vida.

Max tentou se fazer de gostoso, como se seu clímax, uma explosão de


cada nervo de seu corpo, não tivesse sido monumental. Josie pensou se tratar
de um caso de uma noite só, mas seu coração pulsara tão forte, suas pernas
vibraram com tanta fúria!
Ele apenas a abraçou apertado, mergulhou o rosto em seus cabelos e
disse a si mesmo para se recompor. Nunca teria uma chance nos próximos
cinco minutos, caso afugentasse Josie.
— Vamos lá para baixo abrir os presentes — disse ela, bocejando.
Incapaz de resistir, Max correu os dedos por seu rosto, traçando seus
lábios, vermelhos de tanto beijar.
— Não está cansada?
— Vou fazer café. Eu me recuso a desperdiçar um segundo de nossa noite
juntos dormindo — Josie saiu de seus braços e puxou o cobertor. — Venha. Você
não quer dormir, quer?
— Não, não quero dormir — não até ter certeza de que não seria
dispensado de manhã. Ele saiu da cama, segurando o cobertor. — Sou todo
seu.
Assim que Max a enrolou no cobertor, a mulher saiu pela porta e o deixou
ali em pé, de pernas fracas, de tanto fazer amor.
— Pegue os travesseiros, vou pegar mais cobertores — ela falou, antes de
sumir pelo corredor.
O empresário não sabia como interpretar aquela impetuosidade.
Josie tinha todo o direito de agir assim. Max não fizera nada nos últimos
dez anos para fazer com que a moça, ou qualquer pessoa, pensasse que ele
poderia mudar de opinião.
Não deixou ninguém saber que ainda tinha um coração.
Max não tinha respostas fáceis, mas podia ter esperança. E usaria todos os
meios para fazê-la falar com ele. Infelizmente, Josie não queria falar.
Ao chegar na sala, a mulher já havia preparado um ninho para os dois
embaixo da árvore de Natal. Ele largou os travesseiros ali no meio e a con-
venceu a trocar o café por chocolate, como sua avó costumava fazer.
Agora Max só tinha algumas cartas na manga, e o passado dos dois
encabeçava a lista. O sexo estava bem perto, em segundo.
Ele usaria ambos para obter o que queria: Josie.

124
Quando o empresário voltou da cozinha com duas canecas enfumaçadas,
ela aceitou a sua sorrindo.
— Você lembrou que gosto de chantilly.
— Difícil esquecer, já que você colocava a bisnaga inteira.
— Ah, fala sério! — disse ela, mas Max pôde vê-la sorrindo, contente pelo
homem ter lembrado. — Eu nunca fiz isso!
Os dois riram juntos.
Ele pousou a caneca em uma mesinha próxima e se abaixou ao seu lado,
no chão, gostando da forma como Josie estava adorável com aquele cobertor
enrolado nos braços, os ombros nus sob as luzinhas da árvore de Natal.
A moça trocou o CD de jazz por um de canções natalinas. Uma versão de
"Noite Feliz" tocava baixinho ao fundo, enquanto Josie pegava um embrulho. O
presente estava envolvido em um bonito papel e tinha um belo laço. Max
sentiu uma pontada de prazer há muito tempo esquecida, quando ela lhe
entregou o pacote.
— Feliz Natal, Max.
Josie já lhe dera muito mais do que poderia imaginar, mas agora não era
hora de compartilhar isso. Então, ele aceitou o presente e desembrulhou.
De joelhos, sentada sobre os pés, a mulher o observava, mal contendo a
empolgação. Ele olhou para a caixa e encontrou um enfeite de ouro, em
formato de estrela.
A fotografia do meio trazia Josie, Lucas e os pais deles, junto com Max e
sua avó, em frente à uma árvore de Natal enorme; era a árvore de Court du
Chaud. O pinheirinho ainda estava no pátio.
Era uma tradição do lugar.
A cada fim de semana após o Dia de Ação de Graças, os moradores
decoravam a árvore. Os homens subiam em escadas para colocar os fios de
luz. As mulheres preparavam um banquete de guloseimas e supervisionavam a
festa, que acabava durando o fim de semana inteiro. Eles repetiam todo o
ritual depois, no Ano-Novo, para desmontar a árvore.
Max também reconheceu o ano — foi o Natal anterior à ida de Lucas para
a faculdade. Os dois vinham se inscrevendo no vestibular para as faculdades,
em pleno vapor do último ano do ensino médio, cheios de planos para o futuro,
após a formatura. Naquela época, todos eles formavam uma grande família
feliz. Alguns anos depois, ele e Lucas se depararam com percalços e a vida de
todos mudou.
Ele olhou a imagem da avó. Sempre a conheceu como idosa, mas, ao
remexer seus pertences, encontrou fotografias de sua juventude. Mal re-
conheceu a bela mulher que fora um dia, uma estranha arrebatadora que
vivera e amara e lhe dedicara tantos anos.
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Os pais de Josie tinham ainda a mesma aparência de sempre, enquanto
ele e Lucas estavam cheios de si, com ar despreocupado. Max não deixou de
sentir ressentimento pela proximidade perdida. Porém, ele havia falado com
Lucas e tudo começava a se resolver.
E havia Josie... Ele olhou seu rosto jovem, tão familiar, apesar do cabelão e
do aparelho reluzindo nos dentes.
Max, incrivelmente, tinha mais familiaridade com aquele rosto jovem do
que com a linda mulher que o encarava, com os mesmos olhos verdes. Aquela
mulher que o cativara quando ele menos esperava, quando nem percebia o
quanto precisava voltar a ser o que era.
— Uma lembrança de uma época feliz... — ele entendeu o que Josie estava
querendo. O gesto era típico de Josie. Sua ternura não mudara depois que ela
havia crescido. — Você não quer que eu vá embora novamente e esqueça.
—- Só quero que saiba que você sempre terá gente que te ama, Max.
Mesmo o Lucas. Ele é outro que vem se afogando em trabalho — ela deu uma
risada. — Não sei o que aconteceu entre vocês todos aqueles anos atrás e isso
já não é importante. Eu só sei que, quando seu nome surge, sempre que vemos
uma fotografia de vocês juntos, o Lucas fica triste. Ele não precisa dizer nada.
Vejo e isso parte meu coração.
Max viu a chance de esclarecer o passado, porém Josie o cortou ao lhe dar
um beijo na boca.
— Talvez, se tiver um enfeite para lembrá-lo, você me mandará um cartão
de Natal. Então, não precisarei ler nos jornais para saber o que você anda
fazendo. Não tenho mais a Nana para me contar.
As palavras dela o envergonharam de uma forma que ele nem sabia que
podia se envergonhar. Josie achou que ele faria amor com ela e iria embora. O
que mais doía era que até seu regresso a Court du Chaud, até ela o seduzir
dançando na varanda, ela estava certa.
— Bom, agora é minha vez — anunciou ele, tentando abafar aquele clima.
— Pendurando o enfeite na árvore, ele pegou um dos presentes que trouxera
para Josie
A moça logo desembrulhou a caixa e o empresário viu seu entusiasmo ao
tirar uma pilha de cartas de amor amareladas, amarradas por um laço dourado.
— O que são, Max?
— Cartas de amor verdadeiras. Eu as li na primeira noite em que a vi pela
janela.
— São de Nana?
— Sim.
— Ela me contou muita coisa sobre a paixão por seu avô. Os dois pareciam
um casal e tanto. Sempre lamentei não tê-los conhecido juntos.
126
— Eu também.
O sorriso dela ficou saudoso.
— Tem certeza de que quer que eu fique com elas?
— Sim, e minha avó também ia querer que você as tivesse. Vovó te
adorava. Mesmo não visitando sempre, eu estava sempre em contato com ela.
Nem posso dizer quantas vezes eu quis trazer alguém para ajudá-la, um
acompanhante, alguém para ficar de olho e fazer tudo que ela não pudesse. Eu
não gostava que ela morasse sozinha.
— Tenho certeza de que Nana não ia querer nada disso.
— Nem brinque. Vovó me disse que, se eu contratasse alguém, ela
simplesmente não deixaria entrar. Tinha você na porta ao lado e era tudo que
queria. — Max colocou a mão sobre a dela, entrelaçou os dedos. — Obrigado
por tanta dedicação e por estar com ela, quando eu não estive.
Josie se debulhou em lágrimas.
— Ela sempre soube o quanto você a amava, Max. Nem questione isso.
Ele passou a boca pelos dedos de Josie, grato por um consolo que não
merecia.
— Eu gostaria que ela soubesse que tenho pensado muito sobre as minhas
escolhas.
— Tem?
— Percebi muita coisa desde que voltei para casa, sobre o rumo que
minha vida andava tomando e onde eu gostaria de ir.
— Tenho certeza que sim.
Uma lágrima rolou pelo rosto de Josie e Max tirou, com o polegar,
abraçando a moça.
Ela se desmanchou, sentindo que eram ligados pela tristeza da falta da
mulher que significara tanto na vida dos dois.
Quando Josie ergueu a boca até a dele, o gosto de lágrimas no beijo, Max
abriu o cobertor que ela vestia, expondo sua pele branca às luzes de Natal.
Tocou-a quase com reverência, confortando-lhe da única forma que podia —
através da mágica que faziam nos braços um do outro.

CAPÍTULO SETE

A campainha do telefone despertou Josie e ela abriu os olhos, olhando em


volta, sonolenta e desorientada. Estava deitada enroscada com Max, no chão
da sala de estar, o joelho dele aconchegado entre os dela, seu braço
127
possessivo ao redor de sua cintura. A luz que entrava pelas frestas da cortina
revelava que a noite que tiveram juntos finalmente terminara.
Só podiam ter adormecido após fazerem amor, mas Josie não teve tempo
de se sentir decepcionada pelo amanhecer desperdiçado quando o telefone
tocou novamente. Max se mexeu dormindo ao seu lado, tentou puxá-la para
mais perto, porém a moça escapou, correndo para pegar o telefone.
Pegando uma manta no sofá, ela se embrulhou e olhou o identificador.
— Feliz Natal, Lucas!
— Feliz Natal, querida! Você deveria estar aqui conosco. Como sempre, a
mamãe fez panquecas de framboesa para alimentar um batalhão e ela espera
que eu coma as minhas e as suas.
Josie deu uma gargalhada. As panquecas eram uma tradição dos Russell
no Natal. Alternavam entre a casa dela, em Nova Orleans, a de seus pais, na
Flórida, e a de Lucas, na Costa Oeste. Ela também pretendia ir para a casa dos
pais aquele ano, mas arranjara uma desculpa de última hora para passar o
Natal com Max.
— Eu gostaria de estar aí, mas não deu para ir — está certo, uma
mentirinha. Ao olhar o homem esticado ali no chão, o cobertor caindo e re-
velando as belas coxas e a barriga malhada, Josie percebeu que não quis ir. —
Sabe como é, às vezes não dá.
Houve um rápido silêncio do outro lado da linha.
— Ah, eu sei. Realmente sei — ironizou o irmão logo depois.
Havia algo em sua voz... algo que soava suspeito. Mas Josie não teve a
chance de pensar no que Lucas poderia estar escondendo dela, pois Max
escolheu logo aquele instante para rolar em sua direção, em uma exibição de
tirar o fôlego, com músculos, pele bronzeada etc.
Apertando seu quadril, ela gesticulou para que ficasse quieto. A última
coisa que precisava naquele momento era que Lucas ouvisse a voz de um
homem.
— Meus presentes chegaram? — ela tentou soar natural enquanto Max
enroscava a língua em seu dedo, depois chupava-o inteiro, de forma sugestiva.
O sujeito mostrou um sorriso malandro e seu corpo todo se derreteu.
Impressionante como ele conseguia afetá-la, mesmo ainda se sentindo sa-
tisfeita por todo o sexo da noite anterior.
— Desculpe, Lucas. O que acabou de dizer?
— Eu disse que seus presentes chegaram. Está tudo bem? Você parece
distraída.
— Não, não, está tudo bem. Você gostou do jogo de computador?

128
— Mal posso esperar para jogar, mas quero saber onde você achou um
jogo de computador sobre o capitão Dampier e seus piratas. É de uma empresa
local? Não reconheci o nome.
E Lucas saberia, Como proprietário de um império de softwares que fazia
programas para agências do país inteiro, ele reconheceria a indústria.
— Na verdade, a Thibault Enterprises é coisa de um homem só. John
Thibault é um nerd que conheço da época de escola. Pedi que ele fizesse o
programa.
Lucas riu.
— Só você mesmo. Acho que quis me lembrar que lhe devo uma visita no
Mardi Gras esse ano.
— É claro. Sou presidente da Krewe du Chaud e já convoquei todo mundo
para o passeio náutico. Estamos construindo o barco do capitão. Espere até vê-
lo. É absolutamente lindo.
— Eu não perderia. Agora a mamãe está aqui querendo falar com você.
Mas antes de passar, deixe-me falar com Max.
— O... quê?
— Max — repetiu Lucas. — Há algo que preciso dizer a ele, antes que a
mamãe te pegue no telefone. Depois não terei mais chance. Ele está aí, não
está?
— Como você sabe?
Houve outro momento de silêncio.
— Max não lhe disse?
— Disse o quê? Você falou com ele? — Josie olhava para Max que olhava
de volta, sem arrependimento.
A mulher não sabia se lhe passava o telefone ou se batia nele. E claro que
não diria a Lucas sobre a noite de loucuras.
— Coloque-o na linha. Eu quero lhe dar um presente de Natal. Depois você
liga para a mamãe e o papai.
Ela cobriu o fone.
— O Lucas lhe disse onde guardo a minha chave-reserva?
Max concordou e, de cara feia, a moça passou o telefone, pressentindo
uma armação gigantesca.
Encolhida no sofá, Josie tentava entender a história.
—- Eu pretendo dizer a ela — disse Max. — Mas queria dar o presente de
Natal dela antes. Você ligou antes que eu chegasse lá.
O que quer que Lucas tenha dito gerou uma onda de emoção no rosto de
Max. Ela foi forçada a sentar ali e olhar, queimando de curiosidade, enquanto
129
Max segurava o telefone com força.
— Não, eu não fazia idéia — disse ele, finalmente. — Sinto que você tenha
pensado que eu sabia. Mas, bem, tudo faz sentido agora.
O que significava tudo? Josie queria perguntar, principalmente quando ele
se voltou para olhá-la. A transformação foi impressionante. Em um segundo, a
tensão em seu rosto se transformou em um sorriso. Um sorriso muito satisfeito.
— Desculpas aceitas. Quanto tempo você disse, mesmo? — dizia Max. —
Tudo isso? — ele deu uma risada. — Chame isso de fervor da juventude. Sim,
às vezes as coisas mudam.
Josie desviou o olhar e tentou deter as lágrimas que ameaçavam cair.
Ouvi-lo conversando com Lucas era um presente de Natal inesperado. Embora
não soubesse o que Lucas lhe dissera, qualquer coisa que os aproximasse tinha
de ser considerada boa.
Max finalmente terminou a ligação e ela sentiu a mão sobre seu ombro,
apertando levemente.
— Você está bem? — perguntou ele.
A moça se voltou para ele, recuperando o controle. E como poderia deixar
de estar, com Max e Lucas armando seus truques novamente contra ela? Josie
não era mais a irmã irritante de ninguém e Max teria de reconhecer isso.
— Estou bem — ela falou. — Mas quero algumas respostas. O que está
havendo? O que quer me dizer? Quando falou com Lucas? Você não disse nada
a respeito do que está havendo entre nós, disse?
Max se ajoelhou diante dela e pegou sua mão.
— Respire fundo e eu explico.
— Apenas me diga.
— Liguei para o Lucas depois que você aceitou meu convite para a noite
de Natal. E não, não disse nada a respeito de nós, exceto que queríamos
retomar nossa amizade.
— Pensei que tivéssemos concordado em manter o passado e a família
fora disso.
— Você surgiu com essa regra quando cheguei aqui, ontem à noite. Não
concordei com nada. Não podia, porque já havia falado com Lucas.
— Você não mencionou isso. Ele sorriu.
— Teria arruinado a surpresa.
— Que surpresa? — Josie fez uma cara mais feia ainda. — Por favor,
explique o que está acontecendo porque não entendo o que você está fazendo.
Ele apertou suas mãos com um pouco mais de força.

130
— Não estou interessado em apenas uma noite com você, Josie.
Encontramos algo especial e, se estiver interessada, eu gostaria de ver onde
isso vai dar.
— Mas... Ver onde o quê vai dar? Você mora em Nova York e eu moro aqui!
— Sou dono da empresa. Faço minha base de moradia onde quiser. E estar
novamente em casa me fez olhar para todas as razões pelas quais fiquei longe.
Já não parecem bons motivos.
— Essas são algumas das decisões que mencionou ontem à noite? Está
pensando em se mudar?
Ele concordou.
Josie só conseguiu olhá-lo, sem saber ao certo como agir diante daquele
revés dos acontecimentos. Não havia levado em conta mais de uma noite com
ele, não se atrevera.
— O que o Lucas queria que você me contasse? — perguntou ela,
precisando de tempo para analisar a questão.
— O motivo de nossa briga.
— Agora? Depois de todos esses anos?
— Você precisa saber. Fiz algo que achei ter sido uma boa coisa, mas
Lucas não concordou. Agora entendo por quê.
Erguendo o anjo pendurado em seu colar, ele deu um sorriso estranho.
Havia algo tão melancólico em sua expressão pensativa... foi quando
bateu.
— Você era meu amigo oculto!
Ele concordou, encontrando seu olhar com uma avalanche de emoção, e
Josie lembrou nitidamente daquele Natal. Um ano marcante de lembranças que
ela preferia esquecer.
Exceto por seu amigo oculto.
O colégio sediou um baile anual. Foi um evento festivo e muito aguardado
e como Josie adorava o Natal, a moça liderou a equipe responsável pela
decoração. Arranjou uma imensa árvore de Natal, aprovada pela diretoria.
Durante meses, todos trabalharam com todo o coração para organizar o
evento, e chegou a convencer a prefeitura a emprestar algumas decorações do
Mardi Gras.
Josie tinha 16 anos e estava explodindo de emoção com o baile. Também
era a única de seu círculo que não tinha um acompanhante.
Lembrando do tempo que queria esquecer, ela honestamente não podia
condenar seus colegas de classe por não a terem convidado. Josie era o que
Nana chamava de "desabrochar tardio", e ainda se encolhia ao ver fotos
daquele ano horroroso.
131
Aparelho nos dentes, lentes de contato e um dermatologista competente
amenizaram a maioria dos problemas, mas a lembrança daquele feriado
solitário...
— Por que foi meu amigo oculto, Max? Você me mandou um presente a
cada dia, durante 12 dias antes do Natal. E eram presentes tão bem bolados...
Ele olhou para o anjo de prata.
— Eu a vi na noite do baile Yule. Você estava na esquina, toda arrumada,
papeando e fumando cigarros com uma porção de vagabundos.
Outro de seus momentos estelares. Ela havia jurado ir ao seu baile
sozinha, mas recuou ao ver o hall de entrada do antigo Jackson Building
transformado em um mundo iluminado de uma época passada. A moça se
sentiu horrenda e patética diante de um salão repleto de casais que dançavam
noite adentro.
Em vez disso, ela seguiu à cidade, comprou uns maços de cigarro e fez
amizade com alguns mendigos que circulavam pela rua, entre a rue de Royale
e a rue de Chartres.
— Você estava lá quando voltei para casa, Max. Sabia que menti para
meus pais falando o quanto havia me divertido?
O homem acenou a cabeça dizendo que sim.
— Mas qual era o problema de Lucas quanto a você ser o meu amigo
oculto? Aquela foi a única coisa decente que me aconteceu naquele Natal. Ele
deveria ter ficado contente com o que você fez.
Max posou o anjo no pescoço dela, recostou e encontrou o seu olhar.
— Eu não disse a Lucas porque não queria que me achasse um idiota. Ele
sempre me achava um tolo em relação a você.
— Mas você foi legal.
— Aparentemente Lucas não achou. Quando descobriu, ele ficou maluco.
Ficou zangadíssimo.
— Zangado com quê?
— Ele disse que eu tinha passado dos limites. Fez parecer que eu estava
tentando tirar vantagem de você, que eu tinha más intenções ao mandar
aqueles presentes. Não acreditei que ele pensasse assim, quando eu só queria
fazê-la se sentir melhor.
Max sacudiu os ombros, em um gesto casual que Josie analisou bem. Dez
anos depois e ele ainda estava magoado.
— Max...
— Quer dizer, pense bem, Josie, você tinha 16 anos e eu já estava
deixando a faculdade. Minha cabeça certamente não estava ali, mas Lucas não
acreditava em mim. Eu me senti como se tivesse feito algo horrível,
132
decepcionando a todos — minha avó, seus pais, todos que acreditavam em
mim — e senti que precisava provar que era bom. Levei um tempo, mas
finalmente percebi que só precisava provar a mim mesmo. Não tinha a ver com
a briga com Lucas ou o fato de ser seu amigo oculto. Eu me senti como se não
merecesse tudo que sua família me dera ao longo dos anos, tudo que minha
avó havia sacrificado para me criar. Mas, naquela época...
— Oh, Max... — Josie não tinha mais palavras.
Indo até embaixo da árvore, ele pegou o último presente e deu à moça.
— Está tudo aí, abra.
Com o coração doendo, Josie desfez o laço e desembrulhou outra caixa de
cartas. Essas não estavam amareladas pelo tempo. Os envelopes estavam
novos e a pilha estava amarrada com um laço verde e vermelho, com as datas
escritas na caligrafia forte de Max.
Josie abriu a que estava em cima, com a data da primeira noite em que
ela dançara para ele. Ma chérie, começava a carta...
— Está em francês.
— É a língua do romance — ele sorriu. — Eu lhe disse que estava
pensando em mais de uma notre nuit pour la fantaisie.
As palavras saíam de seus lábios com a mesma facilidade de sempre,
porém ela olhava a página, se esforçando para entender seu francês fluente. A
mulher reconheceu apenas o suficiente para saber que a carta explicava sua
reação à sua performance, após apagar as luzes. Max escrevia sobre a
surpresa que teve, sua excitação, e como o fato de querê-la o fazia pensar no
passado.
— Eu queria que você entendesse tudo que descobri enquanto estive em
casa sozinho, tudo que passou a significar para mim. Quero uma chance de
experimentar mais o que temos juntos, Josie. Não quero dizer au revoir depois
da noite incrível que passamos.
Aquela sensação louca continuava a crescer até ela quase não conseguir
respirar.
— Então, o que quer dizer? Está interessado em ver o que podemos ter
juntos?
Josie adorava surpresas e aquela surpresa inesperada de Natal foi melhor
do que qualquer outra coisa que já ganhara. Passou os braços em volta dele e
o segurou juntinho.
— Sim.
Uma palavra simples, pois não havia nada mais a dizer.
Ela jamais levara em conta mais do que uma noite com Max, pois não
acreditava ser possível, e se recusava a uma armadilha própria para se de-

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cepcionar. Mas ter a chance de voltar a conhecê-lo e explorar toda aquela
excitação louca e sentimentos que caíam tão bem...
Seus lábios cobriram os dela, com um beijo que representava tudo que ela
descobrira na noite anterior, um beijo que a fez querer.
No entanto, uma idéia lhe ocorreu e ela se afastou.
— Você ainda não me disse por que Lucas achou que você estava tirando
vantagem de mim. Ele não é burro, então não acredito que ele pensasse que
você estivesse com más intenções comigo.
— Eu gostaria de ter sido assim, tão esperto.
— Ah, Max, francamente. Eu era horrível aos 16 anos. Usava aparelho e
tinha uma pele horrível...
— Ainda era você, Josie.
Mais palavras doces, mais palavras certas, que revelavam tanto sobre
aquele homem, sobre o quanto ele se importava, sempre se importara. Podia
ter deixado a Court du Chaud e se perdido no caminho, mas ainda era o Max.
— Foi para dizer isso que Lucas me ligou — Max explicou. —
Aparentemente, ele não estava preocupado comigo. Pelo que me disse ao
telefone, estava preocupado com a sua reação, ao saber que eu estava
mandando os presentes.
Oh, não!
Josie sabia o que vinha pela frente e apertou os olhos. Nada bom. Max era
mais forte, mais engenhoso. Segurando as mãos da moça, ele as levou até os
lábios.
— O que eu não sabia era que você tinha uma queda imensa por mim,
quando resolvi ser seu amigo oculto. Lucas pensou que eu soubesse como você
se sentia. Achou que se descobrisse que eu estava mandando os presentes
pensaria que estivesse interessado e se magoaria.
Ela abriu os olhos e o viu encarando e sorrindo.
— Não era para você descobrir isso nunca.
— Bem, eu não tinha a menor idéia, até ele acabar de me contar, no
telefone. Seu pedido de desculpas foi o meu presente de Natal — ele riu
baixinho. — Seu irmão está cada vez mais doido.
— Oh, Max. Sei que agora parece tolice. Quero dizer, faz tanto tempo e
nós aproveitamos tanto nessas últimas semanas!
Ele a abraçou e Josie sentiu toda a sua rigidez e a promessa dos dias por
vir.
— Gostei quando soube que você me queria naquela época e adorei saber
que me quer agora.

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— Quero e mal posso esperar para ler todas as minhas cartas de amor. As
suas e as de Nana. Mas você sabe que precisarei de ajuda para traduzir as
suas.
— Estou ansioso por isso — Max beijou-lhe suavemente no rosto. — Vamos
nos divertir, Josie, prometo.

Acreditava nele, e quando viu a caixa branca de biscoitos na ponta da


mesa, ela se debruçou para vê-los, até achar um que queria.
Desembrulhe-me.
Obrigada, Chloe!
Ela lhe deu o biscoito e disse:
— O Natal está ficando bom por aqui, Max. Acho que está na hora de você
abrir outro presente.
— Também acho. E será o melhor presente de todos.
Josie suspirou. Ele sempre dizia e fazia a coisa certa. O homem a
desembrulhou do cobertor com desenvoltura.
— Feliz Natal, Max.
— Feliz Natal, Josie.
Então suas mãos a enlaçaram e, ao tomar os lábios de Josie em um
ardente beijo, ela soube que estava certa... A magia estava presente na Court
du Chaud naquele Natal.

FIM

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