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Resumo
A partir dos estudos de Michel Foucault e de Rudolf Laban, o texto propõe apontar
como o movimento, desde o século XVII, foi estudado e analisado como uma arte de
enclausurar o corpo. O movimento fazia parte de um projeto teológico-político
envolvendo todas as classes sociais. As escolas destinadas a educação formal e as
escolas de dança se constituíram fundamentadas nesse pensamento. Essas
instituições se especializavam em educar o corpo para obter e manter determinados
tipos de comportamentos. Com base nas pesquisas de Laban é possível compreender
porque a sociedade disciplinar, analisada por Foucault, impunha a codificação do
movimento humano, limitava o espaço e cronometrava o tempo. O poder soberano já
havia descoberto que esse era um meio eficaz de anular o potencial do ser humano,
dizimar sua autonomia, criatividade, autoconfiança, comunicação, em fim, minar a sua
elaboração e produção de pensamento. A biopolítica expandiu essas ações, sendo
assim, anula a autonomia enquanto potência de ser e de agir individualmente e
coletivamente, deixando o ser humano exposto mais facilmente, aos mecanismos de
controle social.
Palavras-chave: Movimento, Espaço, Tempo, Biopolítica.
Abstract
Based on studies of Michel Foucault and Rudolf Laban, the paper proposes to point
how the movement, since the XVII century, was studied and analyzed as an art
of locking up the body. The movement was part of a political-theological project
that involved all social classes. The schools for formal education and the dance schools
were formed based on that thought. These institutions became specialize in educate the
body to get and keep certain types of behavior. Based on Laban’s research is possible
to understand why the disciplinary society, analyzed by Foucault, imposed
the codification of human movement, limited the space and controlled the time. The
sovereign power had already discovered that this was an efficient way of nullify the
potential of the human being, to cancel there autonomy, creativity, confidence,
communication, in order to kill their production of thought. Biopolitics expanded these
actions, therefore, cancels the autonomy as potency of to be and to act individually
and collectively, letting humans more easily exposed to the mechanisms of social
control.
Keywords: Movement, Space, Time, Biopolitcs.
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Esse é um dos exemplos citados pelo autor em que é possível perceber como o
movimento humano foi estudado, pelos representantes do poder, no intuito de corrigir e
padronizar gestos e ações, e para isso elaboravam exercícios precisos e eficazes. A
educação do movimento era vista como um modo de correção e adestramento do ser
humano. Exercícios mecanicistas trabalhados detalhadamente no intuito de obter a
eficácia do movimento, a organização interna, as habilidades precisas, gestos rápidos
e iguais em corpos prontos para oferecer respostas adequadas. Os exercícios fisicos
eram estudados para aquisição de um método de controle minucioso das operações do
corpo.
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carteiras enfileiradas, uma atrás da outra, os alunos eram distribuídos em filas e fileiras,
e todos tinham seus lugares marcados hierarquicamente. Não somente o interior da
sala de aula possuía essa demarcação, mas tambem, os corredores, os pátios e por
todo o espaço escolar. Cada um era identificado de acordo com o local que ocupava
obedecendo a uma hierarquia do saber que qualificava entre melhores e piores. A sala
de aula se apresentava como um quadro em que tudo estava no seu lugar. "Na
disciplina, os elementos são intercambiáveis, pois cada um se define pelo lugar que
ocupa na série, e pela distância que o separa dos outros" (FOUCAULT, 1987, p.125).
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O Foucault (1987) advertiu que essa forma de poder impunha uma individualidade
não só analítica e "celular", mas tambem natural e "orgânica" (grigo do autor). O tempo
pedagógico foi imposto pouco a pouco, pormenorizando o tempo de formação e
destacando-o do tempo adulto. O tempo se constituiu em séries, em fases múltiplas e
progressivas. A todos eram dados exercícios iguais, organizados em espaços e tempos
minuciosamente determinados e controlados pelo mestre, competindo a cada um
vencer os desafios impostos com o objetivo de progressão. Entretanto, se os
seres humanos estavam impedidos do gesto autônomo, disseminados de energia e
anulados em sua potência, como seria possível obter uma eficácia na aprendizagem?
Como seres eximidos de sua experiência poderiam se desenvolver cognitivamente?
Como seres padronizados em sua maneira de agir/pensar, em que cada qual agia e
pensava de maneira passiva e igual, poderiam elaborar pensamento? Como o ser
humano poderia se comunicar tolido de sua expressividade?
Mesmo assim, e cada vez mais, o gesto, o espaço e o tempo eram utilizados
como forma de controle e dominação. Com esse entendimento, estendeu-se a visão de
que a máquina-corpo deveria ter seu efeito elevado ao máximo pela articulação
combinada das peças elementares de que ela se compõe. A disciplina além de repartir
os corpos, de extrair e acumular o tempo deveria tambem compor forças para obter um
aparelho/corpo eficiente. O espaço se determinava pelo lugar ocupado, o intervalo e a
validade pelo tempo, obtinha-se a boa ordem segundo as quais opera seus
deslocamentos. O tempo de todos deveria ser ajustado no tempo coagido, as
cronologias individuais deveriam ser extintas. Além disso, articulava-se para que o
tempo fosse ocupado, preenchido, banindo a ociosidade do espaço de ensino.
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AÇÃO RESULTANTE
Adestrar corpos vigorosos Imperativo de saúde
Obter oficiais competentes Imperativo de qualificação
Formar oficiais obedientes Imperativo político
Prevenir a devassidão e a Imperativo de moralidade
homossexualidade
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Foucault (1984) relata que foi por meio do estudo do espaço que conseguiu
descobrir o que no fundo procurava que foram as relações existentes entre poder e
saber. Ele explica que o processo pelo qual o saber funciona como um poder e
reproduz os seus efeitos se dá na análise do saber em termos de região, de domínio,
de deslocamento, de transferência. Através das metáforas espaciais é possível decifrar
a análise dos discursos percebendo precisamente os pontos pelos quais os discursos
se transformam em, através de, e a partir das relações de poder.
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Em virtude do que percebia, o autor afirmava que o movimento humano tinha que
ser cuidado para não se adentrar em um automatismo uníssono e robótico. A
linguagem do movimento, que é inerente a todos os seres humanos, deve ser dada a
conhecer propiciando momentos de experimentações, tanto no desenvolvimento da
infância e adolescência, quanto na vida adulta. Para ele a experiência em movimento
permite ao ser encontrar suas próprias raízes e, assim, descobrir suas potencialidades.
Em suas pesquisas enfatizou que o movimento humano deve buscar a expressividade
e não ser um espelho do movimento do outro. Com esse pensamento, dizia que o
movimento deveria ser experienciado e não simplesmente copiado e repetido como era
proposto na sociedade disciplinar. Greiner (aula do dia 02/09/2011) elucida que o
movimento coligido e em ações repetitivas limita a visão de quem o executa.
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esse conhecimento o que motivou a propor toda essa estrutura, ou seja, uma
tecnologia que disciplina e regula, mecanizando ações e comportamentos e que
permanece ativa até nos dias atuais. Essa situação pode ser observada em vários
momentos da história e pode ser exemplificado como maior expressão dessa ação no
holocausto, no qual vários seres humanos assentiam pacificamente aos fazeres
políticos-econômicos-culturais concordando em total estado de alienação.
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1 Teoria do Esforço. Alguns estudiosos não apreciam a tradução em português por não ter o mesmo
significado da língua de origem.
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Fatores do Movimento que se estabelece por quatro elementos - Espaço, Peso, Tempo
e Fluência. De acordo com Laban (1978) são esses elementos que fazem com que o
ser humano adote uma atitude definida, produzindo assim o significado da sua
expressão pessoal. Em cada ação pode ser identificada uma acentuação em um
desses elementos e conforme o modo de se combinarem produz o significado da ação.
Para Laban (1978) quando o ser humano aprende a se relacionar com o Fator
Espaço – Direto e Flexível - consegue desenvolver a sua atitude de atenção. O foco do
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movimento informa sobre o onde e qual o lugar. Assim, observa-se o objeto da ação e a
situação na qual será executada, que pode ser com uma atenção diretamente
concentrada, ou de modo mais superficial. Ou talvez, ainda, com uma flexível
circunspeção.
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novo. Assim, torna-se menos rígido consigo e com os outros. Aprende a ter maior
mobilidade e aceitação em relação às frustrações. A solidariedade torna-se presente
nas ações. Esse fator pode revelar por meio da experiência do movimento a
singularidade de cada um.
Toda ação de decisão pode ser adotada inesperadamente ou pode haver uma
reação de espera, a sensatez pode estar presente nas duas ações, isso vai depender
de cada pessoa e sua similaridade com o Fator Tempo. Um mesmo movimento pode
trazer conotações diferentes se tiver variações no desenvolvimento temporal como, por
exemplo, o simples ato de respirar rápido ou ofegante, pode demonstrar que a pessoa
está agitada ou nervosa. O respirar lento ou pausado, pode aparentar um excesso de
calma ou uma dificuldade em relação à saúde.
Da mesma maneira como pode ser observado em relação ao espaço, nesse outro
elemento do movimento, o tempo não vivenciado em termos de experiência corporal,
pode gerar impedimentos ao ser humano. O tempo imposto, cronometrado, simétrico
pode produzir um ser humano com dificuldades de tomar decisões. No exercício da
biopolítica, o detentor do poder, mesmo que momentâneo, pode se aproveitar dessa
situação para tomar decisões por um ou por todos.
Como já foi dito, em relação à qualidade, o Fator Tempo pode ser sustentado ou
lento, e, súbito ou rápido. De acordo com Rangel (2003) Laban tinha como preferência
usar sustentado e súbito que requerem uma atitude interna de sustentação do Tempo
ou de aceleração do Tempo, gerando deste modo, aspectos qualitativos. Essas
qualidades, sustentado ou súbito, tem relação com o Tempo pessoal, de cada um.
Assim, por muitas vezes, o que parece ser súbito para alguém é sustentado para o
outro.
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Referências
_____________. Ditos & Escritos III: Estética: Literatura e Pintura, Música e Cinema.
Rio de Janeiro. Forense Universitária, 2009.
_____________. Ditos & Escritos IV: Estratégia Poder-Saber. Rio de Janeiro: Forense
Universitária, 2010a.
_____________. Ditos & Escritos VI: Repensar a Política. Rio de Janeiro: Forense
Universitária, 2010b.
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KATZ, H. Um, Dois, Três. A dança é o pensamento do corpo. Belo Horizonte: FID
editorial, 2005.
Filme
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