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o f i c i n a d e f a b u l a ç ã o e s p e c u l at i v a

Quando as espécies
se encontram: corpos
e mundos em feitura
Sobre espécies companheiras
No livro “Quando as espécies se encontram” (2007), Donna Haraway nos
convida a pensar sobre como nunca fomos propriamente humanos, já que
levamos a vida em parceria com muitos outros seres e organismos. Essas es-
pécies companheiras com quem nos moldamos são tanto vivos quanto não
vivos: bactérias, animais, máquinas e ferramentas, ou seja, todos esses ou-
tros significativos com quem nos relacionamos na carne, em companheirismo,
responsabilidade, ética e cuidado. Para Haraway, nesse jogo importa prestar
atenção às transformações que esses emaranhamentos, ou parentescos entre
estranhos, põem em jogo. Reconhecimento mútuo, paixão e consideração são
os ingredientes que fazem com que nos comoldemos incessantemente nesses
encontros constitutivos. Nesse jogo, os parceiros não preexistem às relações.
Eles são o que emerge em meio à coreografia ontológica, esse jogo em que os
comensais, nem todos humanos, são a todo o tempo corpos em feitura.

A partir das questões que informam o livro, três perguntas guiam a ofici-
na: 1) quem e o que eu toco quando toco aqueles com quem compartilho a
vida? 2) como o devir-com é uma prática de devir-mundo? 3) que corpos e
mundos emergem quando prestamos atenção aos emaranhamentos que nos
constituem? Essas três questões são os fios condutores da oficina de fabu-
lação especulativa em torno dos encontros entre espécies. Ao longo de três
sessões online, prestaremos atenção às estórias de jogo entre espécies que
nos moldam, e a como esses emaranhamentos constitutivos transformam os
nossos corpos e os mundos em que vivemos. Em companhia, produziremos
experimentos narrativos que jogam com a especulação e a fabulação a fim de
imaginar como, em encontro, fazemos (e podemos refazer) corpos e mundos
de muitos modos.

Sobre fabulação especulativa


Em “Staying with the Trouble: making kin in the Chthulucene” (2016), Haraway
descreve a fabulação especulativa como um modo de atenção, uma teoria da
história e uma prática de fazer mundo. Para ela, a fabulação especulativa, assim
como as demais SFs que proliferam no livro, tais como ficção especulativa,
feminismos situados, figuras de corda e filosofias especulativas, são práticas
vitais tanto na escrita acadêmica quanto na vida corriqueira. Assentada nas
práticas cotidianas de contar histórias, as fabulações especulativas perturbam
os modos de produção de conhecimento instituídos. E, embora sejam fabula-
ções, elas não são incompatíveis com fatos científicos. Muito pelo contrário.
Cultivando os indícios de transformação em uma determinada situação, as
fabulações especulativas maximizam as fricções das narrativas com as expe-
riências a fim de imaginar futuros possíveis para processos de transformação.
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Um modo de contar estórias reais onde atores múltiplos estão envolvidos em
translações parciais e transformações liminares em meio à diferença. Assim,
com Donna Haraway, Vinciane Despret, Didier Debaise, Isabelle Stengers e
Stuart McLean, as fabulações especulativas podem ser definidas como a pro-
dução de ficções antropológicas suficientemente vívidas e intensas para abrir
espaço para a imaginação de futuros transformativos, que sejam capazes de
intervir de modo transformativo na realidade.

datas e horários
A oficina será facilitada por Zoy Anastassakis em três sessões online:

11/02, sábado, de 11h às 15h30 (intervalo de 1 hora);

13/02 e 14/02 segunda e terça-feira, de 18h às 20h30 (intervalo de 10 min).

Não há nenhum pré-requisito para a participação. Para mais informações e


inscrições, humusidades@gmail.com

contribuições sugeridas
Opção 1 | Abundante*
no Brasil: R$270
na Europa: 48€
Opção 2 | Sustentável
no Brasil: R$200
na Europa: 36€
Opção 3 | Solidária
no Brasil: R$130
na Europa: 24€

dados para contribuição

no Brasil na Europa | en Europa


Bradesco Millennium BCP (Banco Comercial Português)
Agência: 3176 Número de conta: 0000045652637363
Conta-corrente: 0448663-3 NIB: 0033 0000 45652637363 05
CPF: 071.194.467-97 IBAN: PT50 0033 0000 4565 2637 3630 5
Titular: Zoy Anastassakis SWIFT: BCOMPTPL
titular: Zoy Anastassakis
(o número do CPF é chave pix) 3 / 5
sobre o programa de estudos independentes
em humusidades
“Somos compostagem, não pós-humanos; habitamos as humusidades, não as
humanidades” (Haraway, 2016: 35, tradução nossa).

“Essa raiz para ‘homo-’, utilizo-a para designar o excepcionalismo humano, uma
espécie de singularidade do humano, fundamentalmente masculino, indepen-
dentemente dos acidentes empíricos das pessoas recolhidas para a categoria.
É fundamentalmente Euro, independentemente das línguas, etnias e cores das
pessoas recolhidas, e basicamente, é um termo colonizador em todas as suas
ressonâncias. Deixo o ‘homo-’ fazer isso. Em contraste, pode-se levar o hu-
mano com a mesma facilidade, e de fato, mais facilmente, para a direcção do
húmus, para o solo, para o trabalho multiespecífico, biótico e abiótico da Terra,
os terrestres, aqueles que estão dentro e da Terra, e para a Terra. O húmus é
o que é feito nos solos e no composto, para aqueles que alimentariam a Terra.
Portanto, quando digo ‘com- post’, é mais do que uma piada, embora também
seja uma piada. É uma recusa a ser tão sério sobre as categorias, e a deixar as
categorias assentarem-se um pouco mais levemente com as complexidades
do mundo. Mas ‘húmus’ é um termo ao qual estou muito ligada, com o qual
fazemos, e tornamo-nos uns com os outros, como no composto. Estamos ver-
dadeiramente com” (Haraway in Franklin, 2017: 02, tradução nossa).

Coordenação
Zoy Anastassakis (1974) é Bacharel em Design (Escola Superior de Desenho
Industrial, Universidade do Estado do Rio de Janeiro, 1999), Mestre e Doutora
em Antropologia (Programa de Pós-Graduação em Antropologia Social, Museu
Nacional, Universidade Federal do Rio de Janeiro, 2007 e 2011). É professora
adjunta e ex-diretora da Escola Superior de Desenho Industrial, Universidade
do Estado do Rio de Janeiro (Esdi/UERJ), onde coordenada do Laboratório de
Design e Antropologia (LaDA), grupo de pesquisa certificado pelo Conselho
Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico. É membro da Research
Network for Design Anthropology. Publicou os livros "Refazendo tudo: confabu-
lações em meio aos cupins na universidade" (Zazie Edições, 2020) e "Triunfos
e Impasses: Lina Bo Bardi, Aloisio Magalhães e o design no Brasil" (Lamparina
Editora, 2014). Desde 2009, atua como professora e pesquisadora, seja na
Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro, na Universidade do Vale do Rio
dos Sinos (Rio Grande do Sul), ou na Universidade do Estado do Rio de Janeiro,
onde, desde 2014, atua com dedicação exclusiva. Entre 2014 e 2015, coorde-
nou projeto de cooperação bilateral entre o LaDA e o Codesign Research Center,
da Royal Danish Academy of Fine Arts, Copenhagen, Dinamarca. Em 2018, foi
pesquisadora visitante no Departamento de Antropologia da Universidade de
Aberdeen, Escócia, onde tomou parte das atividades do projeto "Knowing from
the inside: Anthropology, Architecture, Arts and Design", coordenado pelo an-
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tropólogo britânico Tim Ingold. Desde abril de 2019, vive em Lisboa, onde é in-
vestigadora colaboradora no Centro em Rede de Investigação em Antropologia
(CRIA, Universidade Nova de Lisboa). Neste momento, em parceria com Marcos
Martins, prepara um livro a ser publicado pela coleção "Designing in Dark Times",
da Bloomsbury (NY/EUA).

Organização e comunicação visual


Ísis Daou é bacharel em Design pela Escola Superior de Desenho Industrial
(UERJ, 2014) e mestranda no Programa de Pós-Graduação em Design da mesma
instituição, onde pesquisa o design gráfico de motivação política e a disputa de
símbolos identitários coletivos. Atualmente trabalha atualmente como designer,
colagista e astróloga tradicional. Escreve sobre a linguagem astrológica e faz
previsões coletivas na Meio do Céu, uma newsletter independente de publicação
semanal. Também está à frente da Alfa Serpente, iniciativa autoral de investiga-
ção entre arte, símbolo e oráculo, usando o conhecimento astrológico, a colagem
como mídia e o design como ferramenta de tradução e experimentação criativa.
Divide seu tempo entre pesquisa, curadoria de imagens, interpretação de mapas
astrológicos e desenvolvimento de narrativas visuais para projetos diversos.

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