Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
Quando as espécies
se encontram: corpos
e mundos em feitura
Sobre espécies companheiras
No livro “Quando as espécies se encontram” (2007), Donna Haraway nos
convida a pensar sobre como nunca fomos propriamente humanos, já que
levamos a vida em parceria com muitos outros seres e organismos. Essas es-
pécies companheiras com quem nos moldamos são tanto vivos quanto não
vivos: bactérias, animais, máquinas e ferramentas, ou seja, todos esses ou-
tros significativos com quem nos relacionamos na carne, em companheirismo,
responsabilidade, ética e cuidado. Para Haraway, nesse jogo importa prestar
atenção às transformações que esses emaranhamentos, ou parentescos entre
estranhos, põem em jogo. Reconhecimento mútuo, paixão e consideração são
os ingredientes que fazem com que nos comoldemos incessantemente nesses
encontros constitutivos. Nesse jogo, os parceiros não preexistem às relações.
Eles são o que emerge em meio à coreografia ontológica, esse jogo em que os
comensais, nem todos humanos, são a todo o tempo corpos em feitura.
A partir das questões que informam o livro, três perguntas guiam a ofici-
na: 1) quem e o que eu toco quando toco aqueles com quem compartilho a
vida? 2) como o devir-com é uma prática de devir-mundo? 3) que corpos e
mundos emergem quando prestamos atenção aos emaranhamentos que nos
constituem? Essas três questões são os fios condutores da oficina de fabu-
lação especulativa em torno dos encontros entre espécies. Ao longo de três
sessões online, prestaremos atenção às estórias de jogo entre espécies que
nos moldam, e a como esses emaranhamentos constitutivos transformam os
nossos corpos e os mundos em que vivemos. Em companhia, produziremos
experimentos narrativos que jogam com a especulação e a fabulação a fim de
imaginar como, em encontro, fazemos (e podemos refazer) corpos e mundos
de muitos modos.
datas e horários
A oficina será facilitada por Zoy Anastassakis em três sessões online:
contribuições sugeridas
Opção 1 | Abundante*
no Brasil: R$270
na Europa: 48€
Opção 2 | Sustentável
no Brasil: R$200
na Europa: 36€
Opção 3 | Solidária
no Brasil: R$130
na Europa: 24€
“Essa raiz para ‘homo-’, utilizo-a para designar o excepcionalismo humano, uma
espécie de singularidade do humano, fundamentalmente masculino, indepen-
dentemente dos acidentes empíricos das pessoas recolhidas para a categoria.
É fundamentalmente Euro, independentemente das línguas, etnias e cores das
pessoas recolhidas, e basicamente, é um termo colonizador em todas as suas
ressonâncias. Deixo o ‘homo-’ fazer isso. Em contraste, pode-se levar o hu-
mano com a mesma facilidade, e de fato, mais facilmente, para a direcção do
húmus, para o solo, para o trabalho multiespecífico, biótico e abiótico da Terra,
os terrestres, aqueles que estão dentro e da Terra, e para a Terra. O húmus é
o que é feito nos solos e no composto, para aqueles que alimentariam a Terra.
Portanto, quando digo ‘com- post’, é mais do que uma piada, embora também
seja uma piada. É uma recusa a ser tão sério sobre as categorias, e a deixar as
categorias assentarem-se um pouco mais levemente com as complexidades
do mundo. Mas ‘húmus’ é um termo ao qual estou muito ligada, com o qual
fazemos, e tornamo-nos uns com os outros, como no composto. Estamos ver-
dadeiramente com” (Haraway in Franklin, 2017: 02, tradução nossa).
Coordenação
Zoy Anastassakis (1974) é Bacharel em Design (Escola Superior de Desenho
Industrial, Universidade do Estado do Rio de Janeiro, 1999), Mestre e Doutora
em Antropologia (Programa de Pós-Graduação em Antropologia Social, Museu
Nacional, Universidade Federal do Rio de Janeiro, 2007 e 2011). É professora
adjunta e ex-diretora da Escola Superior de Desenho Industrial, Universidade
do Estado do Rio de Janeiro (Esdi/UERJ), onde coordenada do Laboratório de
Design e Antropologia (LaDA), grupo de pesquisa certificado pelo Conselho
Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico. É membro da Research
Network for Design Anthropology. Publicou os livros "Refazendo tudo: confabu-
lações em meio aos cupins na universidade" (Zazie Edições, 2020) e "Triunfos
e Impasses: Lina Bo Bardi, Aloisio Magalhães e o design no Brasil" (Lamparina
Editora, 2014). Desde 2009, atua como professora e pesquisadora, seja na
Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro, na Universidade do Vale do Rio
dos Sinos (Rio Grande do Sul), ou na Universidade do Estado do Rio de Janeiro,
onde, desde 2014, atua com dedicação exclusiva. Entre 2014 e 2015, coorde-
nou projeto de cooperação bilateral entre o LaDA e o Codesign Research Center,
da Royal Danish Academy of Fine Arts, Copenhagen, Dinamarca. Em 2018, foi
pesquisadora visitante no Departamento de Antropologia da Universidade de
Aberdeen, Escócia, onde tomou parte das atividades do projeto "Knowing from
the inside: Anthropology, Architecture, Arts and Design", coordenado pelo an-
4 / 5
tropólogo britânico Tim Ingold. Desde abril de 2019, vive em Lisboa, onde é in-
vestigadora colaboradora no Centro em Rede de Investigação em Antropologia
(CRIA, Universidade Nova de Lisboa). Neste momento, em parceria com Marcos
Martins, prepara um livro a ser publicado pela coleção "Designing in Dark Times",
da Bloomsbury (NY/EUA).
5 / 5